O Garoto Que Foi Esquecido •...

By artmalfoy

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Um desejo feito por Harry Potter faz com que todos esqueçam da existência de Draco Malfoy, e apenas Harry pod... More

Após a Guerra
A Floresta
Armário de Vassouras
O Dormitório
Mãe Natureza
Poções e Cavalheirismo
Sonhos, Sexo e Medo
Entre o Céu e a Terra
Magia Antiga e Ganância
Sobre Filosofia e Desespero
Toque e Insegurança
Poder e Consequência
Quando o Verde se perde no Azul.
O início do Fim
Beijos, Feitiços e Quadribol
Cansado de Fugir
Danças, Paixão e Outras Coisas
Apenas essa Noite.
AVISO
Primeira e Última Vez.
O FIM?
Medo da Morte
Esquecer É Uma Forma De Se Lembrar
A Teoria Multiversal do Amor
Epílogo.
MINHA NOVA FANFIC

Um passo para frente e dois para trás

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By artmalfoy

— Quando uma porta não é uma porta? — A voz perguntou.

Harry estava sentado em uma cadeira alta e sentia seus pés descalços serem envolvidos pela brisa gélida. Poderia até se sentir mal por ser tão baixinho a ponto de não conseguir encostar os pés no chão, mas haviam muitas coisas no ambiente chamando sua atenção para que focasse em algo tão inútil quanto sua estatura.

Por algum motivo, estava posicionado bem no centro da floresta, abaixo da lua, o que o tornava brilhante em meio a completa escuridão. Sua pele pálida tinha um tom prateado característico, como se ele estivesse refletindo a toda a luz do ambiente e deixando que ela se expandisse dentro de si. Arrepios correram por sua espinha, o medo sendo uma companhia esmagadoramente presente, apertando seus pulmões um contra o outro. Nunca se acostumaria com o cenário fantasmagórico daqueles sonhos, principalmente por não saber sobre o que eles se tratavam. A floresta proibida não era nem de perto seu lugar favorito no mundo.

— Como assim? — Harry respondeu, entre sussurros. Sua voz parecia estranha. Quase como se não fosse exatamente dele. Mas ao mesmo tempo era.

— É uma charada. — A voz tinha um tom de riso e circulava em todas as direções. — É muito estranho para mim sentir você assim.

— Me sentir? Me sentir como?

— Tem uma...coisa. Uma sensação que está corrompendo a sua cabeça. Você está diferente. Está mais diferente de mim que nunca.

Aquela frase era como uma pedra descendo pela garganta de Harry, e ele não entendeu o peso dela em seu estômago.

— E o que nós dois temos em comum?

— Não muita coisa. — Meu Deus, como era familiar. Harry teve a impressão de por um momento saber com quem estava conversando, mas a sensação logo foi embora. — Mas quando se é adolescente, uma pessoa se torna uma mistura estranha de todo mundo e de ninguém. Acho que você só vai ter uma personalidade exata aos...vinte, se tiver sorte.

— Se eu chegar aos vinte. — Harry pensou em voz alta, apertando os braços da cadeira na qual estava sentado.

— Algo me diz que você vai. — Pausou. — Se olhar por onde pisa e limpar os seus óculos.

— Eu não tenho um histórico muito bom para afirmar que terei uma vida longa.

A voz riu. E a risada parecia ser tão antiga quanto o pergaminho de um livro da biblioteca e tão nova quantos as penas que Harry comprava para seu tinteiro. Essa dualidade, essa forma como tudo parecia já conhecido por si e ao mesmo templo inexplorado, era demais para o Potter.

— A questão não é o quanto se vive, Harry. — O céu foi ficando escuro, como se a lua estivesse sendo coberta por uma nuvem bem grossa. Mas Potter ainda se sentia brilhante. — A questão é se você viveu. Se você se sentiu vivo, nem que uma vez, então valeu a pena.

Silêncio. Harry teve a súbita necessidade de se aproximar de quem quer que fosse. Se sentia tão frio e solitário, mesmo que a voz conversasse com ele.

— Você me lembra Dumbledore. Sabe, o jeito de falar. — Comentou.

— Professor Dumbledore, que Merlin o tenha. — A voz suspirou, pesarosa. — Fico feliz de saber que me pareço com ele, de alguma maneira. Obrigado, Harry.

— Por nada, eu acho. — Pigarreou. — Na verdade, você se parece com várias pessoas ao mesmo tempo.

As folhas ao redor de Harry estalaram, mas ele não via nada que não fossem sombras assustadoras.

— Como eu te disse antes, nós somos a mistura de muita gente e de ninguém. Eu sou o emaranhado das pessoas que eu mais admirei na vida. Mas ao mesmo tempo eu não sou elas, sou eu. A mudança é sútil, porque ao mesmo tempo em que você tem uma teoria de quem eu seja, você também não faz a mínima ideia.

— Você deve se divertir com isso.

— Para ser sincero, eu me divirto. Você é uma pessoa até engraçada, Harry, eu não me lembrava de ser assim.

— Assim como? Um adolescente catarrento que vive se fodendo? — Harry perguntou, falando sério. Mas a voz riu mesmo assim.

— Essa parte, também. Mas estou falando que você é uma pessoa intensa. Isso te faz parecer um pouco burro, de vez em quando, mas também é bom. Existem poucas coisas realmente boas na sua vida, ultimamente.

Mais silêncio ainda. Harry queria perguntar muitas coisas, principalmente sobre o fato de ele estar sentado em uma cadeira no meio da floresta, mas algo o impulsionou a fazer a conversa continuar da maneira que havia começado.

— Você estava dizendo que estou diferente. — Era horrível chamar a voz de "Você", como se não fosse nada. Mas a pessoa com quem Harry falava não tinha um nome, ou não queria dizê-lo, então não haviam muitas opções.

— Veja bem, você está sentindo algo que eu nunca senti antes. Então, quando entro em sua mente, eu me perco. Existem as emoções básicas, como o medo e a raiva, que todos os seres humanos já sentiram alguma vez e que é sentido pelas pessoas mais ou menos da mesma maneira. Então, quando entro em sua mente, consigo entender esses seus sentimentos, pois eu já os vivenciei. — Suspirou. — Mas existem os sentimentos complexos. Como a inveja, o ódio e o amor. Esses podem ser vividos por sete bilhões de pessoas, e cada uma os sentirá de uma maneira diferente. Se esse é seu caso, não vou saber interpretar. Porque é algo unicamente seu. Por isso não consigo identificar o seu problema.

— Problema? Eu tenho um problema? — Harry tentou parecer ofendido, mas não conseguiu. Passou a mão pelos cabelos.

— Eu diria que você é o problema.

— Que gentileza.

— Disponha.

— Então você é uma voz que aparece em meus sonhos me falando frases desconexas como se estivéssemos brincando de decifrar enigmas, sabe o que se passa dentro da minha cabeça e o problema ainda sou eu? — A ironia estava estampada em seu rosto naquele momento. Chegava a ser ridículo como sua vida não se encaixava de uma hora para a outra. Estava tudo tão confuso, e aquela voz que dizia tanto querer ajudá-lo, só piorava tudo.

— Harry, eu queria tanto poder te dizer a verdade agora.

— Então diga.— Harry se encheu de esperança. Precisava de respostas, de qualquer coisa. Mas sua resposta não veio, sendo substituída por um silêncio eufórico.

Harry achou que a voz havia o abandonado quando ela voltou a falar.

— O que eu posso te dizer é que, ironicamente, mesmo comigo fazendo tudo isso, o problema ainda é você.

— Há alguma forma de resolver esse tal problema? — Harry perguntou, cheio de raiva.

— É por isso que estamos aqui. A cadeira é para que você não caia durante o processo.

— Processo...?

— Vamos fazer um teste. — A voz começou. — Eu posso ver sua mente, suas memórias. É tudo bem embaçado e difuso, as lembranças não aparecem de maneira linear, então pode não dar em nada, mas temos de tentar. Talvez eu não possa entender seus sentimentos, mas saber o que os traz a tona. Os sentimentos são como parte da pele. Estamos envoltos nele o tempo todo e, as vezes, eles nos sufocam ou criam tantas camadas ao redor de nossos corpos que nos tornamos pessoas difíceis de lidar.

Harry percebeu que todas as pessoas no mundo eram difíceis de lidar e se perguntou quantas camadas de sentimento elas teriam em volta de si mesmas.

— Eu não estou entendendo muita coisa, para ser sincero. Você fala muito mas não diz nada.

— Talvez você apenas não esteja ouvindo.

Harry explodiu.
— Não estou ouvindo, cara? Vai se foder!

A voz não pareceu aborrecida com o xingamento, parecia até mesmo se divertir com a irritação de Harry. Era compreensível, já que o menino só queria respostas que não poderia receber.

— Calado, estou tentando me concentrar. Expandir a sua cabeça até que eu possa ver o que você sente e você possa também. E aí deciframos...como você disse, mesmo? Esse enigma. Deciframos esse enigma.

— Como nós podemos ver os sentimentos?

— Nós não vemos os sentimentos. nós vemos o que o que os causa.

— Prossiga.

— Como você conjura o patrono, Harry? — A voz perguntou como se estivesse explicando para uma criança um problema simples de matemática.

— Penso em uma lembrança feliz.

— Exatamente. você pensa na felicidade em si ou no que traz ela até você?

— No que traz ela...— Harry compreendeu. — As lembranças.

— É isso o que vamos fazer. Entrar em sua cabeça, assistir as suas memórias e ver sua reação a cada uma. Talvez a gente possa entender o que você está sentindo. Ligar o sentimento a uma lembrança específica.

Harry não estava gostando nada da ideia de ter alguém vasculhando sua mente como se ela fosse uma gaveta de meias. Mas suspirou, pensando que havia um propósito para aquilo e, se ele quisesse entender todas as coisas que estavam acontecendo, teria que entrar naquele jogo.

— Vá logo com isso. — Concluiu.

— Certo. Feche os olhos. — Harry os fechou. A princípio não sentiu nada, mas logo um fio de dor se estendeu desde sua nuca até suas orelhas, que irradiou em seu pescoço. Não chegava a ser doloroso, era como uma leve dor de cabeça, o que não tornava a situação menos assustadora. Como se uma mão enorme de garras pontudas estivesse adentrando sua mente e tudo o que ele era. — Você vai sentir um pouco de desconforto.

— Um pouco? — Harry disse com dificuldade. — Vou te mostrar o que é um pouco!

— Cale a boca, cacete. Estou chegando a algum lugar. — A voz disse, autoritária. Harry finalmente fez silêncio e se concentrou na própria respiração.

Primeiro viu o corredor da escola. O mármore do chão, as pilastras enormes e o sol em contraste com a construção faziam sombras frias e confortáveis para se sentar. As pessoas olhavam para ele enquanto passava e Harry se sentia...ele se sentia muito mal. Os alunos cochichavam enquanto se afastavam dele em passos rápidos e nada discretos e ele não conseguia focalizar direito seus rostos. Estava tudo embaçado mas ele ainda sentia os olhares penetrantes sobre si. Era mais baixo, talvez uns bons vinte centímetros. Ele não sabia se o mundo era muito grande ou ele simplesmente muito pequeno.

— Que memória é essa, Harry? — A voz perguntou, dentro de sua cabeça.

— Foi no segundo ano. — Respondeu rapidamente. — As pessoas achavam que eu era o herdeiro de Slytherin e estava tentando matá-los.

— Parece ter sido horrível.

— E foi. — Pigarreou. — Consegue identificar o sentimento dessa memória?

— Raiva. Vergonha. — A voz tinha um tom triste. — Mas você era bom. Mesmo que as pessoas fizessem isso, você não sentia ódio. Não se deixou ser corrompido por essa raiva.

— Vamos para a próxima. — Harry pediu. Não gostava de assistir sua própria vida como se estivesse avaliando um filme.

A cena rapidamente mudou. Ele estava sentado em uma mesa de madeira gasta e ouvia risadas e vozes felizes de pessoas ao seu redor. Havia música vinda de um rádio velho e...cheiro de bolo de cenoura com chocolate. Várias cabeças laranjas ao seu redor e as cores do ambiente indicaram para ele que aquela só podia ser a família Weasley.

— Foi o primeiro natal que passei n'A Toca. — Comentou com um sorriso. — Foi...

— Incrível. — A voz completou. Havia uma lembrança de sorriso em seu tom. — Isso é felicidade e tranquilidade. Você se sentia seguro quando estava ao redor deles.

— Ainda me sinto.

Tudo ficou escuro, de repente. Um barulho alto de vento soprava nos ouvidos de Harry, como se estivesse voando. Ele estava jogando quadribol e mãos o empurravam. Ele ouviu uma risada característica e se sentiu irritado, empurrando a pessoa de volta. Mas ele não conseguia ver quem era. A lembrança foi cortada pela metade e ele agora via a janela de seu dormitório. Uma samambaia com pontinhos vermelhos dentro de um vaso decorava o local. E ele viu o céu azul e o sol quente e sentiu a grama fazendo cócegas em suas costas. Sentiu um cheiro bom de shampoo. E mãos esfregando seus cabelos para limpá-los. E um calor estranho atrás das orelhas depois disso.

Todas essas cenas passavam com uma velocidade impressionantemente rápida dentro de si, flashbacks distorcidos que ele não compreendia. Quando parecia estar chegando a uma conclusão, outra memória rápida e sem sentido aparecia e ele só se confundia mais.

Agora, ele via flores azuis. E um oceano sem fim de possibilidades em sua frente. O mesmo lugar de seus sonhos. Alguém o abraçava por trás, braços firmes o mantendo seguro. Mas ele se desequilibrou em cima da pedra e caiu, caiu e caiu até bater com força no chão de Hogwarts novamente. Estava cheio de sangue. Ele sentiu o mesmo medo de quando estava levando uma surra de Crabbe e Goyle. Havia um peso estranho sobre si.

E mesmo com a visão focada no chão ensanguentado ele ainda ouvia uma voz rindo dentro de sua cabeça, o contando histórias com a mesma fascinação que um cientista descreve a criação do mundo. Ele via cabelos claros fazendo cócegas em seu nariz e sabia que tudo ficaria bem. Porque existia o azul. Um calor estranho tomou conta de seu peito, seus pulmões apertaram e ele estava prestes a explodir com tudo aquilo quando simplesmente parou.

Ele puxou o ar com tanta força que teve medo de se afogar com ele. Seu coração batia em um ritmo alucinado, e as juntas dos dedos estavam muito brancas devido a força com a qual segurava a cadeira. Queria ir embora. Queria respostas. Não queria nenhum dos dois, Não sabia o que exatamente queria.

— Puta merda. — Foi o que conseguiu dizer.

— Achamos, Harry. — A voz parecia esquisita. Chocada, confusa. Talvez ambos. Mas não tinha a mesma confiança de sempre. — Só pode ser isso.

— Isso o quê?

— O problema.

Harry encarou os próprios pés.
— Não sei o que significa.

— Sabe, sim. — A voz replicou.

— Não sei. — Insistiu

— Que inferno.Você precisa parar de ignorar as coisas que estão bem na sua frente! — A voz explodiu. Era a primeira vez desde que começara a sonhar com ela que a ouviu irritada daquela maneira. Algo não estava certo.

— Eu não estou ignorando nada. — Potter só queria sair dali. — Quero acordar.

— Mas...

— Já disse que quero acordar!

A voz se calou por um segundo.

— Tudo bem.






— Não queria acordar você. — Rony disse assim que Harry abriu os olhos. O ruivo estava sentado em uma cadeira de visitas em frente a cama, com o semblante levemente preocupado. O Weasley estava cada vez parecendo mais velho e atento, e Harry se perguntava se isso era por conta do relacionamento com Hermione. As vezes, estar com alguém é a melhor maneira de amadurecer.

Potter piscou três vezes, tentando colocar a cabeça em ordem. Ele não conseguia se mexer muito, principalmente com Draco respirando pesadamente ao seu lado com as cobertas chegando até o nariz. O garoto loiro parecia imperturbável. Estavam tão próximos que Harry ficou envergonhado por um momento, logo relembrando que Rony era incapaz de enxergar o Malfoy.

— Não acordou. Eu estava tendo um...

— Pesadelo? — Rony completou.

— Não. Só um sonho. — Um sonho que havia deixado seu estômago embrulhado e as mãos tremendo levemente.

— Não sabia que você tinha parado de ter pesadelos. — Rony comentou, cruzando os braços. Apesar do tom casual, a forma como olhava para Harry era quase acusativa. Como se soubesse de algo que o Potter havia feito de errado e estivesse esperando por uma confissão.

— Eu...eu também não sabia.

Os amigos se encararam. Draco se remexeu levemente e seus cabelos caíram sobre a testa.

— Está melhor? — Rony perguntou.

— Estou bem. Pronto pra um segundo round. — Riu.

— Nem brinque com isso. — Mas Rony deu um leve sorriso. — Quando eu tiver a oportunidade de encostar um dedo naqueles desgraçados...

— Hagrid achou eles?

— Achou. Na verdade, estavam com as malas prontas esperando por ele. Você tinha de ver a cena. Escoltados para fora com todos olhando. Nem o pessoal da Sonserina parecia simpatizar. — Suspirou. — A ideia de que eles ainda tem a mesma visão deturpada da guerra deixou aqueles putos com o cabelo em pé. A Professora McGonagall disse que os dois não seriam bem-vindos em Hogwarts enquanto ela ainda fosse a diretora, e a Mione deu um chute nas bolas do Goyle quando ele olhou para ela na saída. Senti um orgulho tão grande que quis me casar com ela ali mesmo!

Harry se segurou para não explodir em gargalhadas ao imaginar a cena. A única vez que viu Hermione bater em alguém foi no terceiro ano, quando ela deu um soco no rosto de Draco Malfoy. O mesmo que agora dormia ao lado de Harry como um anjinho.

— Sabia que não foi a única vez que vimos a Hermione batendo em alguém?

— Não brinca! — Rony pareceu chocado. — Quando isso?

— Terceiro ano. Ela deu um soco no rosto do Malfoy.

— Não me lembro.

— Faz sentido você não se lembrar. — Coçou a cabeça. — É meio que a minha culpa você não se lembrar. Por que ela não veio com você?

— Ah! Ela teve um problema com dois alunos da Corvinal usando a sala precisa para assuntos particulares. Pediu para que eu mandasse beijos para você. — As orelhas de Rony ficaram tão vermelhas quanto os cabelos.

— Assuntos particulares? — Harry franziu o cenho.

— É...você sabe...— Rony gaguejou horrivelmente naquele momento.

— Estavam transando?

— Sim. — Rony passou as mãos por debaixo das próprias pernas e se acomodou melhor na cadeira. — Achamos eles lá...

— Vocês acharam? — Harry estava começando a entender a situação, e queria muito dar risada.

— É...você sabe...estávamos checando. Somos monitores.

— Checando, sei. — Harry deu um sorriso. — Parece que alguém chegou antes de vocês para checar.

Cale essa boca, quatro olhos. — Rony mordeu o lábio em nervosismo.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo.

— Você ama ela demais, né? — Harry perguntou, falando de Hermione.

— Amo. — Rony sorriu, mudando o tópico da conversa logo em sequência. — Enfim, me impressionei com os Sonserinos. Aqueles nojentos provaram ter alguma decência, mínima, mas ainda é decência.

— Acho que todos só queremos paz. — O Potter comentou vagamente.

— Eu já encontrei a minha.

— Você fica ainda mais idiota estando apaixonado, sabia?

— Desculpe, Harry. Mas é muito bom amar a Hermione. Era torturante esconder esse sentimento por seis anos. Eu quase enlouqueci. — O moreno quis responder para Rony que ele nunca tinha conseguido esconder direito a paixão por Hermione, que na verdade era bem óbvio. Mas apenas assentiu.

— Onde ele está? — Rony perguntou. A mudança repentina de assunto deixou Harry atordoado, e a própria expressão no rosto do ruivo em sua frente ficou mais fria e reservada.

— Quem? — Ele sabia quem.

— O fulaninho. Alguma coisa Malfoy. O Comensal. — Rony respondeu com desgosto. O peito de Harry ardeu levemente.

— O nome dele é Draco.

— Sei lá. Onde ele está?

— Hm...ele está...é....— O que Harry falaria? Que Draco estava dormindo praticamente abraçado a ele? Que os dois haviam caído no sono juntos? — Dormindo.

— Dormindo. — Rony repetiu. — Por que seu braço está nessa posição estranha? — O garoto apontou um dedo longo e fino na direção do braço de Potter, que estava em cima do travesseiro de maneira que não encostasse na cabeça loira do Malfoy.

— Rony...

— Ele está dormindo aí? — O garoto ruivo falou alto, chocando-se.

— Fala baixo, cacete! — Harry cerrou os dentes. — Você vai acordar ele!

— Eu estou pouco me fodendo para o sono dele, Harry! — Rony levantou da cadeira em um baque surdo. — Desde quando...você confia em sonserinos? Dorme com eles? Espera...você não...vocês não...— O ruivo se atrapalhou todo, passando as mãos nervosas e grandes pelos cabelos.

Harry enrubesceu e se sentiu muito exposto.
— Quê? Não! Nunca! Por Merlin....

— Então por que ele está na bosta da sua cama?

— Eu estava com muita dor e ele me ajudou a dormir.

— Que admirável. Pra' enfiar uma faca nas suas costas durante a noite.

— Não estou vendo faca nenhuma. Você está?— O rosto de Harry se fechou e ele sentiu uma coisa o dominando. Um instinto protetor, uma coisa abominável dentro dele. Como poderia sentir aquilo em relação a Rony?

O ruivo amenizou a voz na tentativa de fazer Harry escutá-lo.
— Harry, entendo que você esteja se sentindo culpado pelo feitiço e quer resolver...mas você não precisa ser legal com ele, sabe. Não é a sua obrigação. Você pode ser quem realmente é.

— Quem eu realmente sou? — Harry repetiu, furioso. — Eu não estou me sentindo obrigado a fazer nada.

— Não é possível.

— O que não é possível?

— Você sendo amigo de um sonserino cretino. Abaixando a guarda. Depois de tudo o que passamos!

— Quer saber? — Harry se se sentou levemente na cama. Apesar da raiva, não queria acordar Draco, não queria que o garoto ouvisse aquilo. — Parece que a única pessoa neste quarto que não sabe quem eu realmente sou é você.

Silêncio chocado se irradiou pelos poros dos dois grifinórios.

— Ele já fez coisas abomináveis. — Rony tentou argumentar.

— A gente também.

— Não justifica! Não tentamos acabar com um mundo bruxo inteiro!

— Ele foi um efeito colateral dos ideais dos pais.

— Besteira. Se ele quisesse mudar de lado, simplesmente mudava. Sirius nasceu em uma família horrível que acreditava em hierarquia de sangue e mesmo assim foi um homem bom.

Harry abriu a boca em completa descrença da falta de empatia vinda do melhor amigo.

— Por Merlin, Sirius teve boas amizades em Hogwarts! Ele teve o meu pai, e o Professor Lupin! Ele teve alguém para ensiná-lo, guiá-lo! Draco sempre esteve sozinho e ao invés de ajudá-lo apenas o condenamos ainda mais!

Rony se afastou bons três passos, como se Harry tivesse uma doença contagiosa.

— Por que isso agora?

— Que?

— Por que o cuidado com ele? Malfoy não pareceu ser muito delicado com a gente pelas histórias que vocês dois nos contaram aquele dia na biblioteca.

— Talvez a gente não mereça a delicadeza.

— Ele é um Comensal.

— Você é muito mais ingênuo do que eu pensei se acredita que o mundo é dividido entre pessoas boas e comensais da morte. — Potter tinha ouvido aquela frase há anos, mas só agora, naquele momento em que todos os seus conceitos estavam revirados, ele a compreendia. — Existem trevas dentro de todos nós.

— Como você sabe? É sério, como sabe que ele mudou? — Rony andava de um lado para o outro em frente a cama de Harry. — Me diz o motivo e eu aceito essa amizade de vocês dois, ou seja lá o que esteja rolando. — Rony parou, fixando seus olhos em Harry. — Me dá uma boa razão.

Harry quis responder que não devia explicação nenhuma ao amigo, que ele não tinha de aceitar nada. Mas era mentira. Ele devia muitas coisas a Rony. Devia a vida de Fred, devia anos da vida escolar do ruivo que poderiam ser tranquilos se ele não fosse seu amigo. Harry havia complicado a vida dos Weasley consideravelmente. E a real resposta para aquela pergunta, é que ele não tinha uma.

— Eu apenas sinto, Rony. — Foi sincero.

— Já vi esse seu olhar antes.

— Qual olhar?

— O tipo de olhar que você dá quando já se decidiu sobre alguma coisa. — O ruivo fechou as mãos em punhos.

— Não me decidi em nada.

— Decidiu sim. Você está escolhendo a verdade dele ao invés da nossa! — Cuspiu as palavras.

A chama de raiva no peito de Harry já era um incêndio inteiro.
— Você está louco? Isso não é uma competição.

— Sempre vai ser uma competição, Harry. Sempre será nós contra eles.

— Então você ainda é a mesma pessoa da guerra. Pensei que havia amadurecido.

Se Rony se sentiu ofendido, não demonstrou. Apontou para o lado vazio da cama, que na verdade tinha Draco.

— Esse sonserino infeliz está enfiando merdas na sua cabeça para te manipular e se vingar pela derrota feia na batalha de Hogwarts.

Aquilo foi o máximo que Harry poderia ouvir antes que quebrasse a cara de Rony com um soco, e ele realmente não gostaria de agredir o amigo. Apontou para a saída.

— Saia.

— Quê? — Rony olhou para Harry, totalmente chocado.

— Falei para sair.

— Eu sou seu amigo. — Rony tinha uma expressão indecifrável no rosto. Parecia que havia levado uma facada.

O fato de que o ruivo estava se vitimizando enquanto Draco, que tinha todo o direito de reclamar, nunca culpava Harry ou tentava fazê-lo se sentir mal por conta do feitiço, só fez com que Potter se decidisse ainda mais sobre que lado defender.

Rony tinha razão, ele já havia se decidido sobre algumas coisas.

— Ele também. Ele é o meu amigo. — Engoliu em seco. Queria chorar. — Enquanto você não entender isso, não te quero por perto. Vá, Rony.

O ruivo não se moveu, esperando sem sucesso que Harry mudasse de ideia. Após longos segundos de hesitação numa defensiva chocada e angustiante, ele andou até a porta de saída da ala hospitalar. O grifinório se virou uma última vez para encarar Potter, dizendo:

— Quando ele mentir, esconder coisas de você e mostrar que ele ainda é o mesmo, você pode me procurar. Eu sou seu amigo, Harry. Pra' valer. E direi que te avisei.

— Espere sentado por isso.

Rony suspirou, saindo em passos decididos para fora da ala hospitalar.


Foram precisos apenas dois minutos para Potter perceber que estava sendo observado. E pelo frio que passou por sua espinha, ele tinha a absoluta certeza de que eram os olhos azuis congelantes do garoto deitado ao seu lado.

— Quanto você ouviu? — Perguntou.

— O suficiente. — Draco encarava a nuca de Harry, talvez se ele se concentrasse o suficiente poderia entender o que estava se passando na mente do grifinório. Mas não havia nada ali, apenas uma parede sólida entre dois meninos machucados por coisas que estavam além de seus controles.

— Desculpe pelo o que ele disse.

— Você não precisa se desculpar. — Draco continuava deitado. Queria manter uma distância segura de Harry. Sabia que a tremedeira que tomava conta do grifinório era por pura raiva. Ele só não sabia se era de Rony ou dele mesmo. — Ele tem as razões dele para pensar do jeito que pensa.

— Você não está furioso com Rony?— Harry perguntou, incrédulo. Mas se recusava a encarar Draco de volta ainda. — Não está querendo bater nele por tudo o que ele disse?

— Estranhamente, não. Não estou.

Por que isso, do nada?

Porque eu percebi que ele te ama, Harry. Que ele quer seu bem. Que ele é um verdadeiro amigo que só está preocupado com você perto de mim. E, sinceramente, talvez eu seja mesmo um perigo para você. Talvez ele esteja até certo.

— Ele...— Draco queria muito verbalizar seus pensamentos, mas era difícil. Guardava muita coisa para si. A diferença entre o que era pensado e o realmente dito era enorme. — Ele só está preocupado com você.

— Eu não sou alguém que precise de proteção.

— É claro que não. Mas isso não faz os seus amigos pararem de se importar com você. Você poderia ser a porra do Robin Hood e a Granger e o Weasley ainda te dariam beijos na testa e tapinhas no ombro de boa sorte. Eles sabem que você dá conta, mas não podem parar de se preocupar. Vai contra o...carinho, eu acho, que eles sentem por você.

Harry quis brigar com Draco por um instante, mas se conteve. Talvez o loiro estivesse até certo. Rony e Hermione se preocupavam com ele e seria injusto negar algo assim sobre os amigos. Eles eram o tipo de pessoas que iriam até o inferno por Harry.

— Você sabe mais que eu sobre as minhas amizades.

— Eu não entendo quase nada disso. Nunca tive amigos que se importassem com algo além de dinheiro e status. É apenas...bem óbvio.

Os dois suspiraram ao mesmo tempo.

— Ainda não acho justo o que ele disse sobre você. Ele não te conhece.

— E você me conhece, Harry? — Draco não tinha um tom ruim em sua voz, era uma pergunta sincera. — Acabei de ver a maior dupla de Hogwarts brigar por minha causa. E eu não valho tanto a pena assim. Definitivamente não. Você não pode arriscar uma amizade tão boa assim por uma pessoa que nem eu. — Fechou os olhos. — Ele está certo. Você não tem a obrigação de ser legal porque sente que tem uma dívida comigo.

— Cacete, eu já disse que não estou fazendo nada contra a minha vontade!

— Você não o respondeu, mas talvez me responda. O que te dá a segurança de que eu não irei tentar enfiar uma faca nas suas costas no meio da noite ou...ou mentir para você? O que te dá essa segurança? O que você viu de verdadeiro em mim?

Harry se virou abruptamente e encarou Draco deitado sobre os travesseiros. O que o dava aquela segurança? O que o fez confiar em Draco?

— Você me mostrou partes de você que eram desconhecidas até por você mesmo. Me ajudou com o trabalho de poções e levou porrada por mim. Isso não é uma coisa que um sonserino nojento faria. Ou um traidor. Mas um amigo, uma pessoa confiável, sim. Eu estou começando a confiar em você.

— Mas não deveria.

— Por que eu não deveria?

— Eu não sou quem você pensa que sou.

— Você mudou.

— Não mudei. Eu sempre serei a pessoa que...que o Weasley disse que eu sou. Você deveria ter acreditado nele. — A garganta do loiro se fechou.

— O que te faz dizer isso?

As palavras de Rony se infiltravam pelos ouvidos de Draco como uma doença. Ele queria chorar de raiva de si mesmo. Ele fazia mal a Harry.

— Você disse que eu não mentiria para você. Mas eu menti.

Harry sentiu como se tivesse acabado de levar um soco fortíssimo no estômago.

— Do que você está falando, Draco?

— Disso. — Draco tirou sua mão esquerda, ou o que sobrou dela, de dentro das cobertas. Seu cotovelo estava quase desaparecendo. Era muito estranho o fato de Harry não ter percebido aquilo antes, a situação estava crítica. — Eu estou sumindo.

Harry não disse nada. Ele apenas encarou Draco nos olhos e ficou em um silêncio que era muito pior para o sonserino. Ele preferiria que o Potter gritasse com ele ou demonstrasse alguma reação.

As orbes do moreno apenas ficavam indo dos olhos azuis até a mão desaparecendo, e apenas sua cabeça se movia, enquanto o corpo todo estava petrificado.

— Desde quando? — O grifinório falou, impassível.

— Faz alguns dias. Talvez uma semana. Mais. Estou perdendo a noção do tempo.

— Quando pretendia me contar?

— Eu tinha a esperança que fôssemos resolver tudo antes que isso se tornasse um problema. Além disso...

— Além disso? — Harry incentivou. Estava tão calmo que Draco teve medo.

— No começo, achei que você não se importasse. Aí você passou a se importar, e foi bem pior. Porque eu tive medo de você se preocupar demais. Já temos muitas coisas na cabeça. — Draco sentia o corpo todo tremer. — Eu menti para você. O Weasley estava certo, eu não sou confiável. Eu escondi isso de você e, sério, quem garante que eu não possa esconder mais coisas?

Draco secou os olhos úmidos rapidamente com as mãos. Os olhos verdes brilhantes de Harry se tornaram distantes e o menino não dizia nada. Draco quis dar um soco no rosto dele, gritar, chorar.

— Você não vai dizer nada?

— Estou pensando.

— Pensando?

— É, pensando. Como acha que eu reagiria a isso? Daria risada ao ver a sua mão fantasma? Sério mesmo? — Harry suspirou.

Draco se afastou, fisicamente, mentalmente. Se haviam feito algum progresso na noite passada, estava tudo acabado novamente. Sempre dariam um passo para a frente e dois para trás. Seu coração doeu com a visão de Harry tão neutro em sua frente, tão distante.

Esse era o grande problema da falta de comunicação entre os dois. Porque se Draco perguntasse a Harry se ele estava bravo, ele poderia ser sincero e dizer que não. Ele poderia ser sincero ao dizer que entendia o motivo do Malfoy ter escondido aquilo. Ele poderia dizer que, não importava o que acontecesse, resolveriam aquilo juntos. Ele precisava de mais um minuto para mudar tudo, fazer Draco perceber que ele não era um problema, ele não era um insulto para Harry. Ele era alguém com quem o grifinório se importava verdadeiramente.

Mas Draco estava tão acostumado com o gosto da culpa que ele atribuiu ela a si mesmo. Esse minuto que Harry levou para mostrar que não estava bravo foi o minuto que Draco levou para entender completamente o oposto. Que o moreno o odiava. Que o queria longe. Que estava decepcionado. E o problema da vida de um era o outro como num ciclo vicioso sem fim de mágoas e palavras mal interpretadas.

Foi nesse minuto de hesitação de Potter em dizer qualquer coisa que Draco se levantou e saiu correndo da ala hospitalar sem olhar para trás. Deixando que Harry ficasse encarando o corredor vazio.

Quando uma porta não era uma porta? Quando estava entreaberta.






o capítulo seguinte sai amanhã no mesmo horário.
estejam preparades.
amo vocês.
até o próximo capítulo.

off: quem pegou as referências de teen wolf?
off2: esse foi o pior capítulo que eu escrevi até agora mas vou recompensar!

espero que vocês tenham consciência de que o próximo capítulo abalará vidas e pessoas cardíacas precisam tomar cuidado com a leitura. risos. morram de ansiedade KKKKKKK brincadeira, se cuidem e esperem o capítulo.

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