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By JiKook_S36

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JIMIN¡BOTTOM| JIMIN¡UKE Lorde Park Jimin é muito diferente dos debutantes de sua idade. Enquanto a maioria de... More

Cast 📷
Prologue
Chapter Two
Chapter Three
Chapter Four
Chapter Five
Chapter Six
Chapter Seven
Chapter Eight
Chapter Nine
Chapter Ten
Chapter Eleven
Chapter Twelve
Chapter Thirteen
Chapter Fourteen
Chapter Fifteen
Chapter Sixteen
Chapter Seventeen
Chapter Eighteen
Chapter Nineteen
Chapter Twenty
Chapter Twenty-one
Chapter Twenty-Three
Chapter Twenty-four
Chapter Twenty-Five
Chapter Twenty-Six
Chapter Twenty-Seven
Chapter Twenty-Eight
Epilogue

Chapter One

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By JiKook_S36

[🍑]

Seul, 1876

Dois dias antes...

Lorde Park Jimin estava entediado.
Profundamente entediado.
Entediado até de estar entediado.

E a temporada social de Seul mal havia começado. Ele ainda teria que suportar quatro meses de bailes, soirées, concertos e jantares até que o Parlamento encerrasse os trabalhos e as famílias da nobreza pudessem retornar a suas propriedades no campo. Haveria pelo menos sessenta jantares, cinquenta bailes e só Deus sabia quantas soirées. Jamais sobreviveria.

Jimin curvou os ombros, recostou-se na cadeira e observou o salão de baile lotado. Havia cavalheiros em trajes de gala preto e branco, oficiais das Forças Armadas de uniforme e botas elegantes, jovens envoltos em seda e damas em tule. Por que estavam todos ali? O que poderiam ter para conversar que já não houvesse sido dito no último baile?

O pior tipo de solidão, pensou Jimin, irritado, era ser a única pessoa que não estava se divertindo em meio a uma multidão. Em algum lugar na massa rodopiante de casais valsando, seu irmão gêmeo girava graciosamente nos braços de um pretendente esperançoso. Até ali, Kihyun estava achando a temporada social quase tão entediante e decepcionante quanto Jimin, mas demonstrava mais disposição de entrar no jogo.

ㅡ Não prefere andar pelo salão e conversar com as pessoas, em vez de ficar parado em um canto? ㅡ havia perguntado Kihyun ao irmão, mais cedo naquela noite.

ㅡ Não. Pelo menos sentado aqui posso pensar em coisas interessantes. Não sei como você aguenta a companhia de pessoas tão cansativas por tantas horas.

ㅡ Nem todas são cansativas ㅡ protestou Kihyun. Jimin o encarou com uma expressão cética.

ㅡ De todos os cavalheiros que conheceu até agora, teria vontade de rever ao menos um?

ㅡ Ainda não ㅡ admitiu Kihyun. ㅡ Mas não desistirei até conhecer todos.

ㅡ Quando se conhece um, já se conheceu todos ㅡ comentou Jimin, mal-humorado. Kihyun deu de ombros.

ㅡ Conversar faz a noite passar mais rápido. Você deveria tentar. ㅡ Infelizmente, Jimin era péssimo em conversas superficiais. Achava impossível fingir interesse quando algum grosseirão pomposo começava a se vangloriar de seus feitos, gabando-se de como os amigos gostavam dele e de quantas outras pessoas o admiravam. Ele não conseguia ter paciência com um nobre em idade de declínio que queria um noivo jovem para lhe servir de companhia e de enfermeiro, ou com um viúvo que obviamente procurava um procriador. A ideia de ser tocado por qualquer um daqueles homens, mesmo que com as mãos enluvadas, provocava arrepios de horror em Jimin. Só a ideia de conversar com eles fez renascer seu tédio.

Ele baixou os olhos para o piso de parquê encerado e tentou pensar em quantas palavras poderia extrair das letras de "entediado". Nada... dada... tia... ente...

ㅡ Jimin ㅡ chamou a voz irritada de sua acompanhante. ㅡ Por que está sentado no canto de novo? Deixe-me ver seu carnê de danças. ㅡ Jimin levantou os olhos para Lalisa, a Lady Manoban, e estendeu, com relutância, o pequeno cartão em formato de leque. A condessa, uma mulher alta, com uma presença majestosa e a coluna ereta, abriu a capa de madrepérola do carnê de danças de Jimin e examinou com atenção as folhas muito finas. Todas em branco.

Os lábios de Lady Manoban se apertaram como se houvessem sido costurados. ㅡ A esta altura, este carnê já deveria estar cheio.

ㅡ Torci o tornozelo ㅡ alegou Jimin, sem fazer contato visual com a condessa. Fingir um pequeno desconforto físico era a única maneira de conseguir permanecer sentado, a salvo, em um canto e evitar cometer uma gafe grave.

De acordo com as regras de etiqueta, depois que um jovem se recusava a dançar por fadiga ou por algum mal-estar físico, não podia aceitar nenhum outro convite pelo resto da noite.

ㅡ É assim que você retribui a generosidade de lorde Park? ㅡ perguntou Lady Manoban, o tom frio e reprovador. ㅡ Todos os seus ternos e acessórios novos... Por que permitiu que ele os comprasse se já havia planejado não aproveitar a temporada social?

Na verdade, Jimin realmente se sentia mal àquele respeito. Seu primo Hoseok, lorde Park, assumirá o condado no ano anterior, após a morte do irmão de Jimin, e havia sido imensamente gentil com ele e Kihyun. Não apenas pagará para que estivessem bem vestidos na temporada social, como também lhes dera dotes substanciais, a fim de garantir o interesse de um bom partido solteiro. Certamente os pais deles, que haviam falecido vários anos antes, teriam sido bem menos generosos.

ㅡ Eu não planejei não aproveitar minha temporada social ㅡ resmungou Jimin. ㅡ Só não me dei conta de como seria difícil.

Principalmente dançar.

Certas danças, como a grande marcha e a quadrilha, eram toleráveis. Ele conseguia até mesmo seguir com o galope, desde que o parceiro não o girasse rápido demais. Mas a valsa apresentava perigos a cada volta... Jimin perdia o equilíbrio sempre que fazia um círculo completo. Aliás, ele também se desequilibrava na escuridão, quando não podia confiar na visão para se orientar. Lady Manoban não tinha ciência desse problema ㅡ por orgulho e constrangimento, Jimin nunca lhe contara. Apenas Kihyun sabia do segredo e da história por trás dele, e havia ajudado o irmão a escondê-lo por anos.

ㅡ Só é difícil porque você torna difícil ㅡ retrucou Lady Manoban, em tom severo.

ㅡ Não vejo por que fazer tanto esforço para agarrar um marido que nunca vai gostar de mim.

ㅡ Se seu marido vai gostar ou não de você é o que menos importa. Casamento não tem nada a ver com sentimentos. É uma união de interesses.

Embora discordasse, Jimin mordeu a língua para não responder.

Aproximadamente um ano antes, seu irmão mais velho, Seokjin, havia se casado com o Sr. Kim Namjoon, um plebeu galês, e os dois eram absurdamente felizes. Assim como seu primo Hoseok e o esposo, Taehyung. Casamentos em que havia amor podiam ser raros, mas certamente não eram impossíveis.

Mesmo assim, Jimin não era capaz de imaginar aquele tipo de futuro para si. Ao contrário de Kihyun, que era um romântico, ele nunca sonhara em se casar e ter filhos. Não queria pertencer a ninguém e, principalmente, não queria que ninguém pertencesse a ele. Por mais que tentasse querer o que deveria querer, sabia que nunca seria feliz com uma vida convencional.

Lady Manoban suspirou e se sentou ao lado de Jimin, a coluna muito ereta, paralela ao encosto da cadeira. ㅡ O mês de maio acabou de começar. Você se lembra do que eu lhe disse a respeito deste mês?

ㅡ É o mais importante da temporada, quando acontecem todos os grandes eventos.

ㅡ Correto. ㅡ Lady Manoban devolveu-lhe o carnê de dança. ㅡ Depois desta noite, espero que você faça um esforço. Deve isso a lorde Park e seu esposo, e a si mesmo. E digo mais: deve isso a mim também, depois de tudo o que fiz para aprimorá-lo.

ㅡ A senhora está certa ㅡ disse Jimin, baixinho. ㅡ E lamento muito, sinceramente, pelos problemas que lhe causei. Mas está claro para mim que não nasci para nada disso. Não quero me casar. Fiz planos para me sustentar e viver de forma independente. Com alguma sorte, serei bem-sucedido e ninguém terá que se preocupar mais comigo.

ㅡ Está se referindo àquela tolice de criar um jogo? ㅡ perguntou a condessa, a voz carregada de desdém.

ㅡ Não é tolice. É sério. Acabo de conseguir uma patente. Pergunte ao Sr. Kim.

No ano anterior, Jimin, que sempre amara brinquedos e diversões de salão, havia criado um jogo de tabuleiro. Com o apoio do Sr. Kim, ele solicitará uma patente e agora pretendia produzir e vender o jogo. O Sr. Kim era dono da maior loja de departamentos do mundo e já concordara em encomendar quinhentas unidades. Jimin tinha certeza de que seria um sucesso, mesmo que a única razão para isso fosse o fato de haver pouquíssima concorrência. Graças aos esforços da empresa de Milton Bradley, a indústria de jogos de tabuleiro estava florescendo na América, mas na Coréia ainda era incipiente. Jimin já desenvolverá mais dois jogos e estava para solicitar patentes para eles também. Um dia, ele ganharia dinheiro o bastante para abrir seu próprio caminho no mundo.

ㅡ Por mais que aprecie o Sr. Kim ㅡ comentou Lady Manoban, com severidade ㅡ, eu o culpo por encorajá-lo nessa bobagem.

ㅡ Ele acha que tenho tudo para ser um excelente homem de negócios.

O rosto da condessa se contraiu como se ela tivesse sido picada por uma vespa. ㅡ Jimin, você é filho de um conde. Já seria bastante lamentável se acabasse se casando com um comerciante, ou com um industrial, mas você mesmo se tornar comerciante é inimaginável. Não seria recebido em lugar nenhum. Viveria no ostracismo.

ㅡ Por que essas pessoas ㅡ Jimin olhou de relance para os homens e mulheres que enchiam o salão de baile ㅡ se importariam com o que escolho fazer?

ㅡ Porque você é uma delas. Um fato que, com certeza, as agrada tanto quanto a você. ㅡ A condessa balançou a cabeça. ㅡ Não posso fingir que o compreendo, meu jovem. Seu cérebro sempre me pareceu um daqueles fogos de artifício... Como se chamam aqueles que giram loucamente?

ㅡ Rodas de Catarina.

ㅡ Sim. Girando e brilhando, muita luz e muito barulho. Você julga sem se preocupar em descobrir os detalhes. É bom ser inteligente, mas inteligência em excesso costuma ter o mesmo resultado que a ignorância. Acha que pode desprezar deliberadamente a opinião do mundo? Espera que as pessoas o admirem por ser diferente?

ㅡ É claro que não. ㅡ Jimin abria e fechava o carnê de danças repetidamente. ㅡ Mas elas poderiam ao menos tentar ser tolerantes.

ㅡ Tolice, menino rebelde. Por que deveriam? A rebeldia não é nada além de egocentrismo disfarçado. ㅡ Embora obviamente a condessa quisesse passar um sermão completo ali mesmo, acabou se calando e se levantando. ㅡ Continuaremos esta discussão mais tarde.

Lady Manoban deu as costas a Jimin e seguiu em direção a um grupo de matronas amargas e de olhos atentos reunidas na lateral do salão.

Jimin começou a ouvir o som metálico no ouvido esquerdo, como a vibração de um fio de cobre, que costumava acontecer quando estava aborrecido. Para seu horror, sentiu a pressão de lágrimas de frustração ameaçando cair. Ah, Deus, aquela seria a humilhação máxima: Jimin, o excêntrico, estabanado e rejeitado, chorando em um canto do salão de baile. Não. Aquilo não iria acontecer. Ele se levantou com tanta pressa que a cadeira quase caiu para trás.

ㅡ Jimin ㅡ chamou com urgência alguém perto dele. ㅡ Preciso que me ajude. ㅡ Ele se virou, perplexo, bem no momento em que Dahyun, lady Sook, o alcançava. Uma jovem vivaz e de cabelos escuros, Dahyun era a mais nova das duas filhas de Lady Manoban. As famílias de Dahyun e Jimin haviam se tornado muito próximas depois que Lady Manoban tomará para si a tarefa de ensinar etiqueta e bom comportamento a Jimin e Kihyun. Dahyun era bonita e querida por todos, e fora gentil com Jimin quando outros jovens haviam o tratado com indiferença e desdém. No ano anterior, na temporada social em que Dahyun debutara, a jovem fora a sensação de Seul, com uma multidão de solteiros cercando-a em cada evento a que comparecia. Dahyun se casara havia pouco com Hyun, lorde Sook, que era cerca de vinte anos mais velho do que ela, mas tinha a vantagem de possuir uma fortuna de tamanho considerável, além de um título de marquês em seu futuro.

ㅡ O que houve? ㅡ perguntou Jimin, preocupado.

ㅡ Primeiro prometa-me que não vai contar à mamãe.

Jimin deu um sorriso irônico.
ㅡ Você sabe que eu jamais conto nada a ela se puder evitar. O que aconteceu?

ㅡ Perdi um brinco.

ㅡ Ah, que desagradável ㅡ comentou Jimin, solidário. ㅡ Ora, mas isso poderia acontecer com qualquer pessoa. Eu vivo perdendo coisas.

ㅡ Não, você não compreende. Lorde Sook tirou do cofre os brincos de safira da mãe dele para que eu usasse esta noite. ㅡ A jovem virou a cabeça para mostrar a pesada jóia de safira e diamantes que pendia de uma de suas orelhas. ㅡ O problema não é só eu ter perdido um deles ㅡ continuou ela, arrasada. ㅡ É onde eu o perdi. Saí da casa por alguns minutos com um dos meus antigos pretendentes, o Sr. Lee. Lorde Sook vai ficar furioso se descobrir.

Jimin arregalou os olhos.
ㅡ Por que você fez isso?

ㅡ Ora, o Sr. Lee sempre foi meu pretendente favorito. O pobre rapaz ainda está com o coração partido por eu ter me casado com lorde Sook e insiste em me perseguir. Assim, para aplacá-lo, tive que concordar com um rendez-vous. Fomos para o caramanchão que fica depois dos terraços dos fundos. Devo ter perdido o brinco quando estávamos sentados no banco. ㅡ As lágrimas prestes a rolar cintilavam nos olhos da jovem. ㅡ Não posso voltar lá para procurar. Já fiquei ausente por tempo demais. E se meu marido der falta do brinco... Não quero nem pensar no que pode acontecer.

Seguiu-se um momento de silêncio tenso. Jimin virou-se para olhar pelas janelas do salão de baile, os vidros cintilando com o reflexo fulgurante das luzes internas. Estava escuro lá fora. Sentiu um arrepio desconfortável na espinha. Não gostava de ir a lugar algum à noite, muito menos sozinho. Mas Dahyun parecia desesperada e fora tão gentil com Jimin no passado que não havia como não oferecer ajuda.

ㅡ Quer que eu vá procurá-lo para você? ㅡ disse Jimin, com relutância.

ㅡ Faria isso? Você poderia ir até o caramanchão, resgatar o brinco e voltar em um instante. É fácil encontrar. Basta seguir o caminho de cascalho que atravessa o gramado. Por favor, por favor, querido Jimin. Serei eternamente grata.

ㅡ Não há necessidade de implorar ㅡ falou Jimin, perturbado, mas ainda bem-humorado. ㅡ Farei o possível para encontrar o brinco. Mas, Dahyun, agora que está casada, acho que não deveria ter mais nenhum rendez-vous com o Sr. Lee. Acredito que ele não valha o risco que você corre.

Dahyun encarou Jimin com uma expressão de culpa.

ㅡ Tenho carinho por lorde Sook, mas nunca o amarei como amo o Sr. Lee.

ㅡ Por que se casou, então?

ㅡ O Sr. Lee é um terceiro filho, jamais terá um título.

ㅡ Mas se você o ama...

ㅡ Não seja tolo, Jimin. Amor é para jovens da classe média. ㅡ O olhar de Dahyun varreu o salão com ansiedade. ㅡ Ninguém está olhando. Você pode escapulir agora, se for rápido.

Ah, ele seria rápido como um cavalo enlouquecido. Não passaria mais do que o tempo absolutamente necessário do lado de fora à noite. Se ao menos tivesse recrutado Kihyun, sempre disposto a ser seu cúmplice, para acompanhá-lo... Mas era melhor que Kihyun continuasse a dançar, pois isso prenderia a atenção de Lady Manoban.

Jimin seguiu pela lateral do salão casualmente, passando pelos grupos que conversavam sobre a ópera, sobre o parque, sobre a última "novidade". Quando passou por trás de Lady Manoban, quase esperou que a mulher se virasse e se jogasse em cima dele como uma águia-pescadora que acaba de ver um salmão. Felizmente, Lady Manoban continuou a observar os casais que dançavam, girando pelo salão em uma sequência rápida de saias coloridas e calças masculinas.

Ao que parecia, sua saída passará despercebida. Ele desceu correndo a grande escadaria, atravessou o enorme salão com varanda e chegou à galeria iluminada que seguia ao longo de toda a extensão da casa. As paredes da galeria eram cobertas por retratos, gerações de aristocratas carrancudos fitando-o com severidade enquanto ele meio andava, meio corria pelo piso decorado.

Encontrou uma porta que se abria para o terraço dos fundos, parou no umbral e ficou olhando, como alguém na amurada de um navio em alto-mar. A noite estava escura, densa e fria. Ele odiava a ideia de deixar a segurança da casa, mas se tranquilizou ao ver a sequência de tochas acesas no jardim ㅡ na verdade, as tochas consistiam em lamparinas de cobre pousadas sobre estacas de ferro altas que ladeavam o caminho através do amplo gramado.

Concentrado em sua missão, Jimin se apressou em cruzar o terraço dos fundos, na direção do gramado. Uma alameda de abetos escoceses dava ao ar da noite um aroma agradavelmente pungente, ajudando assim a disfarçar o cheiro do Tâmisa, que corria túrgido no limite da propriedade.

Vozes masculinas ásperas e o som distante de marteladas vinham da direção do rio, onde trabalhadores reforçavam as estruturas preparadas para a exibição de fogos de artifício. No fim da noite, os convidados se reuniriam no terraço dos fundos e nas varandas do andar de cima para assistir ao show pirotécnico.

O caminho de cascalho circundava uma estátua gigantesca do Pai Tâmisa, antiga divindade dos rios de Seul. De barba longa e constituição robusta, a figura sólida estava reclinada sobre uma enorme base de pedra, segurando negligentemente um tridente. Ele estava inteiramente nu, a não ser por uma capa, e Jimin achou que isso o fazia parecer bem tolo.

Au naturel em público? ㅡ perguntou ele, debochado, ao passar pela estátua. ㅡ Poderíamos esperar isso de uma estátua grega clássica, mas o senhor não tem desculpa.

Jimin seguiu em direção ao caramanchão, que era em parte protegido por um arbusto grande e por uma profusão de rosas. A construção era aberta nas laterais, com paredes apaineladas que subiam até metade das colunas, e havia sido erguida sobre uma fundação de alvenaria. O refúgio era decorado com painéis de vidro colorido e iluminado apenas por uma minúscula lanterna marroquina que pendia do teto.

Ele subiu hesitante os dois degraus de madeira e entrou. A única mobília era um banco, que parecia ter sido aparafusado às duas colunas mais próximas.

Enquanto procurava o brinco perdido, Jimin tentava evitar que as laterais do terno elegante arrastasse nos lugares empoeirado. Estava usando sua melhor roupa, um terno de baile feito de seda furta-cor, que de um ângulo parecia negro e de outro, roxo escuro. O modelo tinha a frente simples, com peitoral liso e justo e um pequeno decote no pescoço, ocasionado pelos botões dourados abertos da camisa branca que usava por baixo. Uma calça de baixo formada por seda, que a cada movimento seu uma cascata cintilante de cores podia ser vista.

Depois de olhar entre as almofadas soltas, Jimin subiu no banco para espiar no espaço entre o móvel e a parede curva. Um sorriso satisfeito se abriu em seu rosto quando ele viu uma cintilação no canto.

Agora, a questão era como resgatar o brinco. Se ele se ajoelhasse no chão, voltaria ao salão de baile sujo como um limpador de chaminés.

A parte de trás do encosto do banco era entalhada em um padrão de flores e arabescos decorativos. Daria para ele enfiar o braço por ali. Jimin descalçou as luvas e enfiou-as em um bolso oculto do terno. Então, corajosamente, ergueu as calça e as mangas do terno, ajoelhou-se no banco e enfiou o braço por um dos espaços, até o cotovelo. Seus dedos não conseguiam tocar direito o chão.

Ele se inclinou mais para a frente, enfiou a cabeça no espaço atrás do banco, sentiu um puxão na lateral do pescoço, seguido pelo barulho de um botão caindo. ㅡ Maldição ㅡ murmurou.

Jimin ajeitou o corpo, torcendo-o para conseguir encaixar o tronco na abertura, e tateou até seus dedos alcançarem o brinco. Quando tentou puxá-lo, porém, deparou com uma dificuldade inesperada: a madeira entalhada do encosto parecia ter se fechado ao redor dele como os dentes de um tubarão. Quando tentou puxar o corpo com um pouco mais de força, sentiu o terno prender em alguma coisa e ouviu alguns pontos da costura se rompendo. Ficou imóvel. Não seria nada bom voltar ao salão de baile com um rasgo no terno.

Jimin se esticou e tentou tocar as costas do terno, mas parou de novo ao ouvir a seda frágil começando a rasgar. Talvez, se deslizasse um pouco o corpo para a frente e tentasse recuar em um ângulo diferente... mas a manobra só fez com que ficasse mais preso, e as bordas serrilhadas da madeira entalhada se cravaram em sua pele. Depois de um minuto se debatendo e se contorcendo, Jimin ficou imóvel de novo, a não ser pelos arquejos ansiosos.

ㅡ Não estou preso aqui ㅡ murmurou. ㅡ Não posso estar. ㅡ Ele voltou a se contorcer, sem sucesso. ㅡ Ah, meu Deus, estou preso, sim. Maldição. Maldição.

Se fosse encontrado daquele jeito, seria ridicularizado pelo resto da vida. Jimin até poderia conviver com isso, mas o vexame se refletiria em sua família e acabaria arruinando a temporada social de Kihyun, o que era inaceitável. Desesperado e frustrado, Jimin tentou pensar na pior palavra que conhecia.

ㅡ Bosta.

No instante seguinte, gelou ao ouvir um homem pigarrear. Seria um criado? Um jardineiro? Por favor, querido Deus, por favor, que não seja um dos convidados.

Ouviu passos, como se o homem estivesse entrando no caramanchão.

ㅡ Parece que o senhor está tendo dificuldades com esse banco ㅡ comentou o estranho. ㅡ Como regra básica, não recomendo essa abordagem de cabeça, pois costuma complicar o processo de se sentar.

A voz dele tinha um tom denso e sereno que provou uma reação agradável nos nervos de Jimin. Ele ficou arrepiado.

ㅡ Imagino que esteja se divertindo ㅡ falou Jimin, com cuidado. Ele se esticou para ver o homem pela madeira entalhada. Ele usava roupas de noite formais. Definitivamente, um convidado.

ㅡ De forma alguma. Por que eu acharia divertido ver um jovem posando de cabeça para baixo em uma peça de mobília?

ㅡ Não estou posando. Meu terno se prendeu no banco. E eu ficaria muito grato se o senhor me ajudasse a sair!

ㅡ Do terno ou do banco? ㅡ perguntou o estranho, parecendo interessado.

ㅡ Do banco ㅡ respondeu Jimin, irritado. ㅡ Estou todo enrolado nessas... ㅡ ele hesitou, sem saber bem como descrever as curvas e arabescos na madeira ㅡ ... tortuosices.

ㅡ Entalhes de folhas de Acanto ㅡ completou o homem ao mesmo tempo que ele. Um segundo se passou antes que ele perguntasse, confuso: ㅡ Do que os chamou?

ㅡ Não importa ㅡ respondeu Jimin, constrangido. ㅡ Tenho o mau hábito de inventar palavras, e não devo dizê-las em público.

ㅡ Por que não?

ㅡ Podem pensar que sou excêntrico.

A risada baixa dele despertou uma sensação estranha no estômago de Jimin. ㅡ No momento, meu amor, palavras inventadas são o menor dos seus problemas.

Jimin se espantou com o tratamento informal e ficou tenso quando o homem se sentou ao lado dele. Ele estava perto o bastante para que ele sentisse seu perfume, um aroma que lembrava âmbar, ou talvez cedro, com um frescor terroso. O homem cheirava a floresta.

ㅡ Vai me ajudar? ㅡ perguntou ele.

ㅡ Talvez. Mas só se antes me disser o que está fazendo nesse banco.

ㅡ É mesmo necessário?

ㅡ É ㅡ garantiu ele.

Jimin se irritou.

ㅡ Estava pegando uma coisa.

Um braço longo se estendeu pelo encosto do banco.

ㅡ Temo que terá de ser mais específico.

O homem não estava sendo muito cavalheiro, pensou Jimin, irritado.

ㅡ Um brinco.

ㅡ Como perdeu o brinco?

ㅡ É de uma amiga, e tenho que devolvê-lo logo.

ㅡ Uma amiga ㅡ repetiu ele, duvidando. ㅡ Qual o nome dela?

ㅡ Não posso dizer.

ㅡ Uma pena. Bem, boa sorte. ㅡ Ele fez menção de se levantar.

ㅡ Espere. ㅡ Jimin se remexeu e logo ouviu mais pontos de costura se rompendo. Ele parou e bufou, exasperado. ㅡ O brinco é de lady Sook.

ㅡ Ah. Imagino que ela tenha estado aqui com Lee.

ㅡ Como sabe disso?

ㅡ Todo mundo sabe, inclusive lorde Sook. Acredito que ele não vá se importar muito com os casos de Dahyun mais para a frente, mas agora é cedo demais. Ela ainda não deu ao marido um filho legítimo.

Nenhum cavalheiro jamais falara de forma tão franca com Jimin, e ele estava chocado. Mas também era a primeira conversa realmente interessante que já tivera com qualquer um em um baile.

ㅡ Ela não está tendo um caso ㅡ disse Jimin. ㅡ Foi apenas um rendez-vous.

ㅡ E o senhor sabe o que é um rendez-vous?

ㅡ É claro que sei ㅡ retrucou ele, com muita pose. ㅡ Tive aulas de francês. Significa ter um encontro.

ㅡ No contexto em questão ㅡ disse o homem, em tom irônico ㅡ, significa muito mais do que isso.

Jimin se contorceu, agoniado.

ㅡ Não dou a menor importância para o que Dahyun e o Sr. Lee estavam fazendo neste banco, só quero sair dele. Vai me ajudar agora?

ㅡ Suponho que deva. A novidade de conversar com um traseiro desconhecido está começando a se tornar cansativa.

Jimin enrijeceu o corpo, o coração disparando ao sentir que o homem se inclinava sobre ele.

ㅡ Não se preocupe. Não vou abusar do senhor. Não sou chegado a garotos muito jovens.

ㅡ Tenho 21 anos ㅡ informou Jimin, indignado.

ㅡ É mesmo?

ㅡ Sim, por que parece não acreditar?

ㅡ Eu não teria imaginado encontrar um jovem da sua idade em um apuro desses.

ㅡ Estou quase sempre metido em algum apuro.

Jimin se sobressaltou ao sentir uma pressão suave nas costas.

ㅡ Fique parado. O senhor prendeu seu terno em três pontos diferentes do entalhe de folhas. ㅡ Ele estava puxando com jeito as laterais de seda. ㅡ Como conseguiu se espremer em um espaço tão pequeno?

ㅡ Entrar foi fácil. Mas não me dei conta de que todas essas tortuosi... quer dizer, que essas folhas tinham a ponta virada para trás.

ㅡ Já soltei seu terno. Tente sair agora.

Jimin começou a recuar, mas deu um grito quando uma reentrância da madeira machucou sua pele. ㅡ Ainda não consigo. Ah, maldição...

ㅡ Não entre em pânico. Gire os ombros para a... não, não para esse lado, para o outro. Espere. ㅡ O estranho parecia estar se divertindo mesmo sem querer. ㅡ Isso é como tentar abrir uma caixa de segredos japonesa.

ㅡ O que é isso?

ㅡ É uma caixa de madeira feita de partes interligadas. Só pode ser aberta se a pessoa conhecer a série de movimentos exigida para destravá-la.

Jimin sentiu a mão quente do homem pousar em seu ombro e incliná-lo com delicadeza. O toque dele fez com que um estranho arrepio o percorresse. Jimin respirou fundo, o ar frio acalmando seus pulmões, que pareciam arder.

ㅡ Relaxe ㅡ disse ele ㅡ, e eu o libertarei em um instante.

A voz de Jimin saiu em um tom mais agudo do que o normal: ㅡ Não consigo relaxar com sua mão aí.

ㅡ Se o senhor cooperar, tudo terminará mais rápido.

ㅡ Estou tentando, mas essa posição é muito constrangedora.

ㅡ Foi o senhor que se colocou nessa posição, não eu ㅡ lembrou o homem a ele. ㅡ Sim, mas... Ai.

A ponta de uma folha arranhou o braço dele. A situação estava se tornando intolerável. Movida pelo início de um desespero, Jimin se agitou para passar entre os entalhes na madeira. ㅡ Ah, isso é horrorendo.

ㅡ Acalme-se. Deixe-me guiar sua cabeça.

Os dois ficaram paralisados quando um grito rouco soou do lado de fora do caramanchão.

ㅡ Que diabo está acontecendo aqui?

O homem inclinado por cima de Jimin praguejou baixinho. O jovem não estava certo do que significava o xingamento, mas parecia pior até do que "bosta".

O homem enraivecido lá fora continuou: ㅡ Patife! Eu não esperaria isso nem de você. Forçando suas atenções a um jovem indefeso e abusando da minha hospitalidade durante um baile beneficente!

ㅡ Milorde ㅡ falou o acompanhante de Jimin no banco, em um tom brusco ㅡ, acho que compreendeu errado a situação.

ㅡ Estou certo de que compreendi tudo muito bem. Solte-o agora mesmo.

ㅡ Mas ainda estou preso ㅡ disse Jimin, em tom de súplica.

ㅡ Que vergonha. ㅡ O homem rabugento lá fora parecia falar com uma quarta pessoa quando continuou: ㅡ Pego no ato, ao que parece.

Desnorteado, Jimin sentiu o estranho puxar o rosto dele da lateral do banco, uma das mãos protegendo-o para que não se arranhasse. O toque dele era gentil, mas terrivelmente inquietante, e fez subir uma onda de calor por todo o corpo do jovem. Assim que se viu livre do banco, Jimin se levantou rápido demais. Ficou zonzo, depois de ter passado tempo demais abaixado, e perdeu o equilíbrio. Em um gesto instintivo, o estranho puxou-o para si. Jimin teve um contato breve e impactante com o peito sólido e os músculos firmes antes de ele soltá-lo. Os cabelos dele haviam se bagunçado do penteado e caíram por cima de sua testa quando ele baixou os olhos para verificar o estado em que se encontrava. Sua calça estava suja e amassada. Havia marcas vermelhas em seu pescoço.

ㅡ Maldição ㅡ murmurou o homem que o encarava. ㅡ Quem é o senhor?

ㅡ Lorde Park Jimin. Direi a eles...

A voz de Jimin falhou quando ele se viu olhando para um deus de aparência arrogante, alto e de ombros largos, exalando graça felina. A minúscula lanterna no teto fazia reflexos dourados brincarem nos cabelos escuros dele, cheios e bem-cortados. Os olhos do homem eram de um negro frio, as maçãs do rosto altas, a linha do maxilar parecendo ter sido cinzelada em mármore. A curva cheia e sensual dos lábios emprestava um toque erótico que destoava do resto das feições, tão clássicas. Um único olhar para aquele homem foi o bastante para fazer Jimin se sentir como se tentasse respirar no ar rarefeito. Que efeito provocaria no caráter de um homem ser belo daquela forma quase inumana? Não poderia ser bom.

Abalado, Jimin enfiou a mão no bolso oculto do terno e guardou o brinco.

ㅡ Direi a eles que nada aconteceu. É a verdade, afinal de contas.

ㅡ A verdade não vai importar ㅡ foi a resposta brusca dele. O homem gesticulou para que ele saísse do caramanchão na sua frente, e os dois foram imediatamente confrontados por lorde Choi, o anfitrião do baile e dono da propriedade. Como era amigo dos Manoban's, lorde Choi era uma das últimas pessoas que Jimin desejaria que o houvesse flagrado em uma situação tão comprometedora. Lorde Choi estava acompanhado por um homem de cabelos escuros que Jimin nunca vira antes.

Choi era baixo e atarracado, como uma maçã apoiada em dois palitinhos de espetar azeitonas. Uma nuvem de costeletas e barba brancas oscilou em um movimento tenso quando ele falou: ㅡ O conde e eu estávamos caminhando até a beira do rio para checar a preparação para os fogos de artifício, quando ouvimos por acaso os gritos de um jovem pedindo ajuda.

ㅡ Não gritei ㅡ protestou Jimin.

ㅡ Eu já havia ido até lá embaixo para falar com o encarregado ㅡ informou o homem ao lado de Jimin. ㅡ Quando estava voltando para a casa, reparei que lorde Jimin estava em dificuldades; parte do terno dele havia ficado preso no entalhe do banco. Só estava tentando ajudá-lo.

Os tufos muito brancos que eram as sobrancelhas de Choi se ergueram quase até encostar nos cabelos quando ele se voltou para Jimin. ㅡ Isso é verdade?

ㅡ É, sim, milorde.

ㅡ Ora, antes de mais nada, o que o senhor estava fazendo aqui?

Jimin hesitou, pois não queria incriminar Dahyun.

ㅡ Saí para tomar um pouco de ar fresco. Estava... entediado lá dentro.

ㅡ Entediado? ㅡ repetiu Choi, ultrajado. ㅡ Com uma orquestra de vinte instrumentos e um salão de baile cheio de bons partidos com quem dançar?

ㅡ Não fui convidado para dançar ㅡ resmungou Jimin.

ㅡ Talvez tivesse sido, se não estivesse aqui fora dando liberdades a um notório patife!

ㅡ Choi ㅡ interrompeu em voz baixa o homem de cabelos escuros ao lado do anfitrião ㅡ, se me permite uma palavra.

O homem tinha um vigor atraente, feições fortes e bem marcadas e a pele bronzeada de quem passava muito tempo ao ar livre. Embora não fosse jovem ㅡ os cachos negros já deixavam ver muitos fios grisalhos e o tempo acentuará as marcas ao redor dos olhos, do nariz e da boca ㅡ, ele certamente não poderia ser chamado de velho. Não com aquele ar robusto de saúde e a postura que denotava considerável autoridade.

ㅡ Conheço esse rapaz desde o dia em que nasceu ㅡ continuou o homem, a voz profunda e um tanto rouca. ㅡ Como sabe, o pai dele e eu somos amigos próximos. Darei meu aval pessoal ao caráter e à palavra dele. Pelo bem do jovem, sugiro que guardemos silêncio e sejamos discretos.

ㅡ Também tenho boa relação com o pai dele ㅡ retrucou, irritado, lorde Choi ㅡ, que colheu mais do que a cota devida de jovens flores em sua época. Obviamente, o filho está seguindo os passos do pai. Não, Huang, não permanecerei em silêncio... Ele deve assumir a responsabilidade por seus atos.

Huang? Jimin voltou-se para o homem com interesse. Ouvira falar do conde Huang, que, depois do duque de Jeju, era dono do título de nobreza mais antigo e respeitado na Coréia. Sua vasta propriedade em Gangwon, Yeongwol County, era famosa pelas pescarias e pelas caçadas.

Lorde Huang encontrou o olhar dele e não parecia nem chocado, nem condenatório.

ㅡ Seu pai era lorde Park Honjin? ㅡ perguntou.

ㅡ Sim, milorde.

ㅡ Éramos conhecidos. Ele costumava caçar na minha propriedade. ㅡ O conde fez uma pausa. ㅡ Eu o convidava a levar a família junto, mas ele sempre preferiu ir sozinho.

Aquilo dificilmente seria uma surpresa para Jimin. Lorde Park sempre vira os três filhos como parasitas. E, por isso, seu outro pai também não tivera grande interesse neles. Como resultado, Jimin, Kihyun e Seokjin às vezes passavam meses sem ver os pais. A surpresa foi aquela lembrança ainda ter o poder de magoá-lo.

ㅡ Meu pai fazia de tudo para ter o mínimo contato possível com os filhos ㅡ disse Jimin, sem rodeios. ㅡ Ele nos considerava um aborrecimento. ㅡ Ele abaixou a cabeça e murmurou: ㅡ Como veem, provei que estava certo.

ㅡ Eu não diria isso. ㅡ Um toque de simpatia e bom humor aqueceu a voz do conde. ㅡ Meus próprios filhos já me asseguraram mais de uma vez que qualquer jovem bem intencionado e de personalidade forte pode se ver em apuros de vez em quando.

Lorde Choi interrompeu a conversa:
ㅡ Este "apuro" em particular deve ser resolvido. Vou devolver lorde Jimin. ㅡ Ele se virou para o homem ao lado de Jimin ㅡ Sugiro que se dirija imediatamente à casa Park, para falar com a família dele e fazer os arranjos apropriados.

ㅡ Que arranjos? ㅡ perguntou Jimin.

ㅡ Ele está falando de casamento ㅡ esclareceu o rapaz de olhos frios, em uma voz também fria.

Um arrepio de alarme percorreu o corpo de Jimin.

ㅡ O quê? Não. Não, eu não me casaria com o senhor de forma alguma. ㅡ Ao perceber que ele poderia encarar aquilo como uma ofensa, Jimin acrescentou, em um tom mais conciliador: ㅡ Não tem nada a ver com o senhor, é só que não pretendo me casar.

Lorde Choi o interrompeu, presunçoso: ㅡ Acredito que suas objeções serão apaziguadas quando souber que o homem parado a sua frente é Jeongguk, lorde Jeon... herdeiro de um ducado.

Jimin balançou a cabeça. ㅡ Eu preferiria ser um criado a ser esposo de um nobre.

O olhar frio de lorde Jeon se fixou na lateral do pescoço arranhado dele, depois em seu terno rasgado e voltou lentamente a se concentrar no rosto tenso do jovem.

ㅡ Fato é ㅡ disse ele, em voz baixa ㅡ que o senhor ficou ausente do salão de baile tempo o bastante para que as pessoas percebessem.

Nesse momento, Jimin começou a se dar conta de que estava realmente encrencado. O tipo de encrenca que não poderia ser resolvida com explicações fáceis, com dinheiro, ou mesmo com a influência da família.

Ele sentiu o sangue latejar nos ouvidos. ㅡ Não se me deixarem voltar imediatamente para o salão. Ninguém nunca percebe se estou presente ou não.

ㅡ Acho impossível acreditar nisso. O modo como ele falou soou como um elogio.

ㅡ É verdade ㅡ disse Jimin, desesperado, falando rápido e pensando mais rápido ainda. ㅡ Sempre fico isolado em um canto. Só concordei em participar da temporada social para fazer companhia a meu irmão, Kihyun. Ele é o gêmeo mais gentil e mais bonito de nós dois, e o senhor é o tipo de marido que Kihyun deseja. Se me deixar chamá-lo, poderá cortejá-lo, e então eu estarei livre dessa enrascada. ㅡ Ao ver que o rapaz não estava entendendo nada, Jimin explicou: ㅡ Certamente ninguém esperaria que o senhor se casasse com nós dois.

ㅡ Lamento dizer que jamais arruíno a reputação de mais de um jovem em uma mesma noite. ㅡ O tom dele era brincalhão porém educado. ㅡ Um homem precisa ter limites.

Jimin decidiu tentar outra abordagem: ㅡ O senhor não quer se casar comigo, milorde. Eu seria o pior esposo possível. Sou esquecido e teimoso, e não consigo ficar sentado por mais de cinco minutos. Estou sempre fazendo o que não devo. Escuto as conversas dos outros, grito e corro em público, e sou desajeitado na dança. E comprometi meu caráter com uma grande quantidade de leituras não recomendadas. ㅡ Ele parou para respirar e percebeu que lorde Jeon não parecia devidamente impressionado com sua lista de defeitos. ㅡ Além disso, tenho pernas finas. Como uma cegonha.

À menção indecente de partes do corpo, lorde Choi arquejou audivelmente, enquanto lorde Huang pareceu desenvolver um súbito interesse pelas rosas de cem pétalas próximas dele.

A boca de lorde Jeon tremeu brevemente, como se ele estivesse se controlando para não rir. ㅡ Aprecio sua sinceridade ㅡ disse ele, após um instante. Então fitou lorde Choi com um olhar gelado. ㅡ No entanto, à luz da extrema insistência de lorde Choi, não tenho escolha a não ser discutir a situação com sua família.

ㅡ Quando? ㅡ perguntou Jimin, ansioso.

ㅡ Esta noite. ㅡ Lorde Jeon se aproximou dele e abaixou a cabeça para encará-lo. ㅡ Vá com Choi. Diga a sua acompanhante que estou indo agora à casa Park. E, pelo amor de Deus, tente não ser visto. Eu odiaria que pensassem que fui tão incompetente ao molestar alguém. ㅡ Depois de uma pausa, ele acrescentou, mais baixo: ㅡ Ainda precisa devolver o brinco de Dahyun. Peça a um criado que o entregue.

Jimin cometeu o erro de levantar os olhos. Nenhum jovem teria permanecido incólume diante daquele rosto de arcanjo. Até então, os rapazes privilegiados que conhecera durante a temporada social lhe pareceram empenhados em alcançar certo ideal de aparência, uma espécie de autoconfiança aristocrática fria, mas nenhum deles chegava nem perto daquele estranho estonteante que sem dúvida fora mimado e admirado a vida toda.

ㅡ Não posso me casar com o senhor ㅡ disse Jimin, ainda que entorpecido. ㅡ Eu perderia tudo.

Ele se virou, deu o braço a Choi e o acompanhou de volta à casa, enquanto os outros dois homens ficavam para trás, para conversar em particular.

Choi ria sozinho, com uma satisfação enervante. ㅡ Por Deus, anseio por ver a reação de Lady Manoban quando eu contar a ela a novidade.

ㅡ Ela me matará na mesma hora ㅡ conseguiu dizer Jimin, quase engasgando de infelicidade e desespero.

ㅡ Por quê? ㅡ perguntou o homem ao lado dele, incrédulo.

ㅡ Por ter me deixado comprometer.

Choi deu uma gargalhada.

ㅡ Caro menino, ficarei surpreso se ela não se levantar dançando. Acabei de conseguir o casamento do ano para você!

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