Quando cai a última folha ✓

By Carolmtana

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"O destino é inalterável, o rumo é certeiro. Por outro lado, temos o livre arbítrio para alterar o modo como... More

Sobre Folhas e Playlists
Capas e Concursos
Dedicatória
00. Prólogo
01. Vazio
02. Glacial
03. Guardião
04. Poder de Escolha
05. Perdão
06. Presente
08. Taiga
09. Ivaar e Valquíria
10. Reencontro
11. Os Planos
12. Família
13. Ressignificar
14. Luzes do Norte
15. Equinócio
Epílogo
Obrigada!
Quando a Última Palavra é Dita - Epígrafe
Sobre Últimas Palavras
Prólogo
01. Surpresas
02. Despedida
03. Pedido
04. Conversa
Epílogo
Notas Finais
De volta à ativa!

07. Ajuda

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By Carolmtana

ʜᴀᴢᴀʀᴅ

ᴅᴇᴍᴏʀᴏᴜ ʜᴏʀᴀs para Snow finalmente abrir os olhos. Eu usei toda a força que restou dos meus poderes.

Estávamos na sala do nosso chalé em um lugar protegido da floresta. Ela estava nos meus braços e Flake adormecido ao nosso lado, com traços de lágrimas em suas bochechas.

Quando Snow se remexeu de leve, eu faltei expressar todo o desespero instalado em meu peito. Sacudi Flake e ele despertou agitado assim que ouviu sua gêmea resmungar, como se ela estivesse simplesmente acordando de um cochilo.

— Snow! — pegando-a pelos ombros, Flake a sacudiu.

— O que foi, Flake? — Snow levantou a cabeça, esfregando os olhos apenas para se arregalarem e ela se virar para mim — Haz! A Primavera! Ela...

— Eu sei, Snow, eu sei. — a abracei, mais para me acalmar do que qualquer coisa. Flake começou a chorar de alívio e eu o puxei para o abraço também.

Respirei fundo, sentindo meu coração retumbar. Minha irmã estava salva e meu irmão ileso. Relaxei na mesma hora. Eles não entenderiam se eu demonstrasse alívio demais, ou se chorasse, já que não se lembravam do nosso parentesco. Nem nossos pais se lembravam.

Quis socar alguma coisa com o pensamento. Até quando aquilo iria continuar?

— Flake, cuide da sua irmã por um tempo. Eu vou fazer uma pequena patrulha para ter certeza de que está tudo seguro. Snow, não se esforce, descanse. Eu já volto.

Os dois assentiram e o espírito do vento me acompanhou até o quarto, onde coloquei Snow em sua cama. Reforcei para os dois que, caso acontecesse alguma coisa, era para eles gritarem que eu viria correndo e, até eu chegar, para ficarem no porão.

Quando coloquei os pés do lado de fora, deixei que as lágrimas escorressem. Eu já sabia que Primavera não estava por perto, ao menos não ali, então usufruí da oportunidade para me recompor. O guarda-costas não poderia chorar em frente aos seus protegidos.

Mais um descuido que não pude evitar. Eu havia deixado os gêmeos praticando magia na parte de trás do chalé enquanto "resolvia algumas coisas", que implicava em eu apagar por mais ou menos duas horas.

Desde a maldição de Primavera, que levou embora minha família e minha força, meus poderes ficavam mais fracos a cada dia. Sentia minha energia sumir ao ponto da exaustão.

E o que era o Guardião sem seus poderes? Nada, tanto que me tornei uma lenda sem espaço no mundo dos espíritos. As luzes nem mais apareciam no céu.

Inclusive, fazia uma semana que eu não mais conseguia ouvir as almas que chegavam até a Aurora Boreal e nem conseguia manter aquilo funcionando. A paz deles era a minha paz e vice-versa, mas nem isso eu poderia proporcionar a eles agora.

Também tinha o detalhe de que eu não fazia ideia do que aconteceria caso eu fosse deteriorado pela maldição. Para onde as almas iriam? Eu não queria pensar muito, mas era inevitável, estava num beco sem saída.

Ou eu não queria enxergar a saída. Pois, quando Ruan Heather chegou às Luzes do Norte eu soube que, com ele, algo mudaria em minha vida. Era somente uma daquelas coisas que um espírito sabe sobre o futuro, e eu não estava errado.

Estranhamente, depois de conhecer a alma dele, meus poderes começaram a vibrar pelos arredores, como se tivessem encontrado uma nova fonte. Demorei mais do que o esperado para perceber do que se tratava.

Kaira. Filha de Ruan.

Eu já estava sentindo a presença de alguém havia alguns dias, até que fui checar o que era. Deveria ter percebido do que se tratava assim que notei que ela podia me ver.

Ela era uma nova chance de quebrar a maldição, e eu sabia que mais cedo ou mais tarde, Primavera viria atrás dela. Poderia ter sido Kaira naquele ataque. Snow saiu sem sequelas porque era um espírito, mas Kai teria.. Teria sucumbido.

Ela estaria viva, mas não seria a mesma.

E a ideia daquilo sequer poder acontecer me sufocava. Eu não sabia quando começou, mas eu passei a nunca querer vê-la envolvida demais, para que não se machucasse. No entanto, meus irmãos não sabiam disso, e continuavam contando mais sobre nosso mundo.

E mesmo com essa mentalidade, quando meus pais vieram e eu não pude ficar com eles pois obviamente ainda não se recordavam de nada, eu fui atrás dela. Kaira parecia me acalmar e tudo que eu mais precisava era disso naquele momento, eu já não aguentava mais.

Porém, Kai já sabia até do Guardião. Como diria que eu era quem ela procurava? Que meus poderes provavelmente não funcionariam porque eu estava amaldiçoado? Por fim, acabamos discutindo, e ao menos disso eu tirei uma coisa boa.

Eu pude aproveitar de sua raiva no momento que encontrei Snow enroscada nos cipós. Eu precisava mandar Kaira embora de alguma forma, e ser frio pareceu uma ótima escolha. Estávamos indo longe demais. Se ela descobrisse sobre a árvore, não teria muito o que fazer.

O pensamento me fez parar.

— Ah, droga. — resmunguei, já acelerando o passo e seguindo em direção à árvore de prata. Ela era o símbolo do meu aprisionamento, ao mesmo tempo que era a chave para minha salvação.

Todo esse paradoxo me fazia não gostar muito de visitá-la, mas naquele momento era necessário. Quando cheguei, não precisei de absorver muito dos arredores para saber que Kaira estivera ali, duas vezes.

A partir do momento que ela encontrasse a árvore, ela seria chamada pela energia do lugar. Inclusive, a presença dela ainda estava fresca demais, o que significa...

— Que ela se encontrou comigo antes de sua pequena irmãzinha receber o presente. — virei-me para a presença já conhecida, quase rosnando. Ela sorria debochadamente. — Você é um ótimo investigador, Glacier.

Quis atingi-la. O único ser que se lembrava do meu verdadeiro nome era Primavera. Até isso ela quis mudar da memória dos meus entes queridos e me renomeou de "perigo", e mesmo que eu contasse minha verdadeira identidade, a pessoa me escutava falar "Hazard", de qualquer forma. Eu já havia tentado várias vezes.

A única coisa que Primavera não tirou de mim foi a capacidade de me transformar em minha forma animal. Só porque ela não podia. É um livre arbítrio dos espíritos circular na forma animal ou humana, e Primavera não tinha o poder do Universo para mexer com meu livre arbítrio.

— Cala a boca, Primavera.

— Não me afronte assim, meu bem. — ela semicerrou os olhos e, com um único movimento de sua mão, uma das folhas de âmbar da árvore caíram e se espatifaram no chão. A dor ecoou em mim e eu caí de joelhos.

Ergui o olhar apenas o suficiente para ver Primavera caminhar em minha direção, com flores brotando do chão onde pisava. Uma víbora como essa não merecia o poder encantador que tinha.

— Você sabe o que fez hoje, Glacy? — ela segurou meu queixo, erguendo-o e me obrigando a encará-la diretamente — Você mandou embora sua última chance e acabou de me fazer vitoriosa.

— Você iria machucá-la. É melhor que ela fique longe da floresta. Eu vou dar um jeito, essa maldição nunca fez sentido mesmo.

Primavera sorriu de um jeito estranho. Não gostei nem um pouco daquilo.

— Ela realmente seria minha próxima vítima. No entanto, Kaira está indo embora até da casa, Glacy. — arregalei os olhos. Aquilo doeu mais do que eu esperava. — Não estava preparado para essa, não é? Agora suas esperanças acabaram.

— Eu já disse que darei um jeito.

— Você sabe que não. — o sorriso dela se alargou.

Grunhi com o sangue fervendo. Tombei a cabeça para trás para tomar impulso e cuspi no rosto de Primavera. Era o melhor que eu podia fazer no momento para ocultar o medo, pois eu sabia que ela estava certa.

No entanto, eu não queria deixar um humano sofrer com a imaturidade de um dos espíritos. Eu ainda queria achar outro modo de reverter a maldição, mesmo que aquilo soasse distante. Por hora, manteria a postura.

— Você é a pior encarnação que já existiu do espírito da primavera. Eu aposto que quando chegar sua hora, você reencarnará diretamente como um verme na próxima vida. — trinquei os dentes — E acredite em mim, eu ainda estarei aqui para ver tudo isso acontecer.

Ela gargalhou, limpando a saliva da sua bochecha. Sacudindo a cabeça, Primavera estalou os dedos e mais duas folhas de âmbar caíram. Eu caí também.

— Pereça, Glacier. PEREÇA!

Primavera desapareceu em um segundo, como se nunca tivesse estado ali. E eu queria que realmente não estivesse, mas as flores no chão me lembravam da realidade.

Suspirei, deixando que as informações daquela conversa chegassem a mim. Kaira estava realmente indo embora. Eu não queria que ela partisse de verdade, só que deixasse de vir à floresta, não olhasse mais na minha cara, me ignorasse. Pois, ainda assim, eu a teria perto de alguma forma.

Mas o que eu estava pensando? Claro que ela iria querer ficar o mais longe possível depois da forma que eu a tratei.

Olhei para a árvore atrás de mim, com cada vez menos folhas. Quando a última folha caísse, não haveria mais volta.

Depois de muito tempo, eu senti o real peso daquela maldição. Se eu não a quebrasse, meus irmãos passariam o resto de suas vidas como crianças e todas as almas que dependiam de mim ficariam perdidas. A Aurora Boreal não reapareceria até que o próximo Guardião fosse escolhido pelo Universo.

Eu não podia negar que Kaira era um presente do Universo para solucionar aquilo. Mesmo que eu não soubesse efetivamente como resolver. No entanto, e se ela fosse como uma pista?

Percebi que havia subestimado Kaira, e que se eu simplesmente tivesse dialogado e explicando a situação, eu teria recebido sua ajuda.

Mas agora ela estava indo embora, e eu tinha o novo objetivo de concertar aquilo. Levantei-me, decidido. Os gêmeos estariam seguros no chalé, Primavera era incapaz de chegar até lá, já que o lugar era protegido pela magia da nossa mãe.

Mais despreocupado, me transformei em raposa e comecei a correr em direção à casa de Kaira. Quando cheguei lá, as luzes estavam apagadas. Todas, nem a da varanda estava acesa. O carro de Ivaar também não estava lá fora.

Preocupado, me destransformei e entrei na casa, usando o pouco de poder que conseguia para destrancar a porta. Vasculhei tudo, mas não encontrei ninguém. Mas de todos os lugares, eu não achei aquele com a parede de vidro, e Kai sempre estava por lá.

Foi aí que vi uma cordinha pendurada, que se puxada parecia dar acesso a uma passagem. Então, aquilo era no sótão?

Puxei a corda e uma escada surgiu, a qual eu subi desesperado. Chegando lá, não vi nada além de telas iluminadas pela luz da lua. Suspirei, já pronto para descer, quando percebi algo laranja no canto do meu olho.

Fui conferir. Era um quadro. Meus sentidos dispararam quando vi do que se tratava.

O laranja eram as folhas da árvore de metal da maldição de Primavera, bem no centro da pintura. Do lado esquerdo, havia minha versão animal. Do direito, a minha versão humana. E tudo isso circundado de neve caindo.

O traço de Kaira era lindo, e ela sabia bem o que estava fazendo. Sendo sincero, era como se eu estivesse encarando uma foto minha. Embaixo, estava a assinatura dela, "Kaira Heather", com o título da obra do lado. Senti o ar me faltar quando li.

Glacial.

Aí, a ficha caiu. Kaira havia pintado um quadro no inverno e cumprido a promessa. Mais importante, ela havia pintado um quadro sobre mim. Eu daria tudo para encher a paciência dela sobre isso, apenas para vê-la ficar envergonhada, me xingar, e depois rir.

Passei as mãos no cabelo, atordoado com o peso repentino da ausência de Kai. Enfim, uma percepção me atingiu.

Até aquele ponto eu tinha achado que conseguiria resolver tudo sozinho, mas foi um dos meus maiores erros. Kaira teria me auxiliado.

Eu tinha que trazer aquela garota de volta. Eu precisava da sua ajuda.

E esse foi o capítulo! O que acharam? Vocês esperavam que o Haz fosse o Guardião? E irmão dos gêmeos? Eu estava esperando por essa revelação XD

O próximo capítulo se chama "Taiga", e isso me faz perceber que já estamos basicamente na metade da história, o que me deixa triste e feliz ao mesmo tempo.

Bom, até sexta! ^.^

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