Never Be Alone [Camren]

By shwolvrs

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"Você está dizendo que eu estou morto, em uma dimensão singular, tenho uma dívida, a qual eu não faço ideia d... More

01 | Leaving On A Jet Plane
02 | Knocking On Heaven's Door
03 | Hotel California
04 | In The Stars
05 | Lost Boy
07 | All I Want
08 | Landslide
09 | Keep Myself Alive
10 | Dancing With Your Ghost
11 | This Town
12 | Everyone At This Party

06 | In My Life

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By shwolvrs

E aí, família!

Cheguei com mais um capítulo! Eu ia postar esse só na quinta, mas fica como um presente pela desgraça que aconteceu KKKK

Espero que o Natal de vocês tenha sido ótimo! Ah, e já aproveito pra desejar um feliz Ano Novo também, já que não sei se volto amanhã pra isso.

Hoje não tem muito o que falar, então vamos logo! Só peço desculpas pelos erros e coisas do gênero, porque não tive tempo de revisar esse. Mais tarde vejo se faço isso! Boa leitura, qualquer erro vocês já sabem o esquema ;).

_________________________

All these places had their moments
With lovers and friends
I still can recall
Some are dead, and some are living
In my life, I've loved them all
— The Beatles

Shawn estava em frente à sua residência, durante a noite silenciosa, com o relógio marcando duas e meia da manhã. As estrelas cintilavam no céu noturno, iluminando seu caminho. Ele estava imerso em pensamentos, refletindo sobre a jornada espiritual que havia começado.

A fachada da casa parecia normal, mas sabia que, do lado de dentro, tudo havia mudado. O espírito hesitou antes de entrar, consciente de que as coisas não seriam mais as mesmas. Ele tinha consciência de que precisava estar presente para sua família, mesmo que fosse de uma maneira diferente. Com um suspiro, finalmente cruzou o limiar da porta e entrou em sua residência.

A atmosfera era pesada, permeada por sua ausência. Shawn observou a sala, que parecia mais escura e vazia do que nunca. A única fonte de luz era a televisão, que estava ligada, embora ninguém estivesse assistindo. Ele se aproximou do aparelho e o desligou, mergulhando o cômodo em um silêncio profundo. Olhou ao redor, vendo móveis e objetos familiares que evocavam lembranças de sua vida anterior. Cada item tinha uma história, um significado, e ele sabia que essas memórias o acompanhariam onde quer que fosse. Por um momento, sentiu como se estivesse suspenso entre dois mundos, incapaz de pertencer inteiramente a um, ou a outro.

Aproximou-se silenciosamente do corredor e notou a porta do quarto de Mateo entreaberta, com uma tênue luz escapando por ela. Uma sensação de nostalgia percorreu sua alma, lembrando-o de quantas vezes entrava naquele quarto para ver seu filho dormir ou contar histórias antes de seu sono.

Cautelosamente, tocou a porta, criando uma abertura suficiente para espiar para dentro. O quarto estava reluzente pelo fulgor noturno, revelando a figura de Mateo deitada em sua cama, com os olhos semiabertos. Mendes percebeu que seu filho não estava dormindo profundamente naquela noite. Ele viu o rosto do menino, iluminado por uma expressão pensativa e, talvez, melancólica, perdido em pensamentos, seus olhos fixos no teto.

Sentindo-se impulsionado pelo desejo de estar mais próximo de seu filho, empurrou a madeira da entrada do quarto com cuidado, abrindo-a silenciosamente para não assustar Mateo, afinal, ele não o veria. Shawn suspirou ao fim daquela conclusão, lamentando internamente. Antes que perdesse culminar qualquer outro pensamento, ele percebeu que os olhos cor de mel se voltaram em sua direção, e seu filho olhou surpreso para a entrada do quarto. A meia-luz, podia discernir os olhos se arregalando à medida que ele notava a porta aberta, como se pudesse sentir a presença de seu pai. Shawn prendeu a respiração, evitando se mexer e aturdir o garoto.

Papi?

Mendes soltou o ar em choque quando ouviu aquilo. O olhar de Mateo se encontrou diretamente com o seu, e o impacto do revelação o atingiu profundamente.

O que? — Ele se perguntou, confuso.

Os olhos de Shawn se encheram de lágrimas quando o jovem correu em sua direção e pulou em seu colo. O momento em que seu descendente tocou seu corpo foi uma experiência além do transcendental, onde a linha entre o real e o espiritual se desvanecia. Mateo, em seus pequenos braços, emanava uma energia peculiar, algo que escapava à compreensão racional. O pequeno, em sua simplicidade infantil, era a ponte entre dois mundos.

Enquanto Shawn tentava processar a complexidade da situação, uma sensação de inquietação se instalava em seu peito. Mesmo ausente fisicamente, estava ali, presente nos olhos de seu filho. Mendes, paralisado, mal conseguia acreditar no que estava testemunhando. O coração batia descompassado, enquanto ele processava a ideia de que seu filho estava vendo além do véu da realidade.

Mateo, você está me vendo? — Perguntou, retoricamente, com a voz embargada.

No instante em que o menino assentiu, Shawn, finalmente, o envolveu em seus membros superiores, uma onda de emoções intensas percorrendo o ambiente. O aperto firme revelava uma carga de sentimentos que palavras não poderiam capturar. Cada milímetro do abraço era impregnado com a intensidade de uma conexão que ultrapassava as limitações do plano terreno. Era como se, naquele momento, o tempo se curvasse diante da eternidade.

O olhar da alma, embargado pela emoção contida, refletia um turbilhão de memórias e anseios. O brilho nos olhos, um testemunho silencioso da alegria em reencontrar seu filho, ecoava pelo quarto. A presença espiritual de Shawn, agora manifestada no abraço, envolvia Mateo como um manto caloroso.

A respiração do mais velho, cadenciada pelo peso do momento, misturava-se ao silêncio reverente que pairava no ar. O toque dos seus dedos nas costas de Mateo transmitia uma ternura que transporia as barreiras entre o visível e o invisível.

O garoto, por sua vez, absorvia cada sensação, como se pudesse sentir não apenas o toque físico, mas a essência do espírito de seu pai. Seu corpo miúdo estava imerso na força reconfortante daquele abraço, como se fosse um portal para uma dimensão onde a presença de Shawn era eterna, esse que não podia evitar sorrir entre as lágrimas. Ele segurava Mateo perto de seu coração, como se nunca quisesse deixá-lo ir. Nesse instante, eles eram apenas um pai e seu filho, juntos novamente, onde a morte não podia separá-los.

Os beijos que Mendes deixava no mais novo eram gentis e repletos de emoção. Ele tocava os lábios na testa do garoto, mostrando o quanto era especial. Selava a boca nas bochechas, como se pudesse recuperar todos os beijos que tinha perdido e ainda iria perder, e na cabecinha de Mateo, enchendo-o de amor e aconchego.

— A mami disse que você não ia voltar mais, que tinha virado uma estrelinha — Mateo disse, quando Shawn sentou com ele no colo.

Estava confuso, afinal, Camila havia explicado há pouco tempo que seu pai se tornara uma estrelinha no céu e não voltaria mais. E, agora, ali estava ele, segurando-o nos braços, beijando seu rosto. Ele olhava para o rosto de seu pai com olhos grandes e cheios de perguntas.

Como isso poderia acontecer?

Shawn fitava seu filho com amor, sabendo que precisava encontrar uma maneira de explicar essa situação complicada. Ele acariciou a bochecha com delicadeza e sussurrou com voz suave:

Pequeno, às vezes, as coisas são tão difíceis de entender que parecem mágicas. Você lembra quando brincamos de faz de conta? — Ele assentiu. — Então, às vezes, a vida é como brincar de faz de conta!

Mateo piscou, tentando compreender. Shawn continuou:

Sabe as estrelas cadentes? Que vêm de lá do céu e caem aqui? — O garoto assentiu. — Pense no papai como uma dessas.

O pequeno processou as palavras com uma expressão séria, tentando assimilar essa nova maneira de pensar. Por um momento, ele permaneceu quieto, e então, seus olhos se iluminaram com uma compreensão parcial. Ele acenou com a cabeça.

— Então você não foi embora para sempre? — As lágrimas começaram a cintilar em seus olhos.

Shawn sorriu com ternura.

Não, meu amor, eu nunca vou embora para sempre. Em alguns momentos, você pode não me ver, mas eu vou estar sempre aqui. Não vai se livrar de arrumar seu quarto tão fácil — brincou, apertando seu nariz.

Mateo abraçou seu pai com força, como se pudesse prendê-lo e nunca liberá-lo outra vez. O choro começou a escorrer de seu rostinho, pois ele tinha medo de nunca mais ver o homem, e aquilo foi mágico para o pequeno.

— Eu queria te ver sempre — fungou.

Eu sei, pequeno, mas eu sempre vou voltar! — Bagunçou seu cabelo. — Da maneira que for.

— Você promete?

Prometo — beijou sua testa, ainda o sentindo inseguro. — Eu já quebrei uma promessa com você?

— Não.

Então! Sempre vou voltar para que possa me ver, mesmo se for em sonho. E até quando não conseguir me enxergar, você vai sentir e saber que o papai está aqui.

À medida que continuava a compartilhar suas palavras tranquilizadoras, um véu calmo passou a encobrir o mais novo. Seus ombros tensos, que carregavam o peso da incompreensão, relaxaram gradualmente. A expressão de inquietação em seu rosto deu lugar a uma serenidade que se espalhava como um suave raio de lua, dissipando as nuvens de confusão.

A descoberta de uma nova realidade fez os olhinhos de Mateo brilharem com uma excitação genuína. A chama de entusiasmo acendeu-se em seu peito à medida que ele compreendia a extraordinária presença de seu pai ali, mesmo que de uma forma diferente.

Com um sorriso radiante, Mateo saltou do colo, ansioso para levar a notícia a sua mãe. Ele se contorceu nos braços firmes de Shawn, prestes a correr para chamar Camila.

— Vou chamar a mamãe pra te ver!

O mais velho arregalou os olhos, o conhecimento de que sua presença poderia desencadear uma tempestade de emoções era um peso esmagador, uma carga que ameaçava seu dever. Um desespero angustiante tomou conta dele ao assimilar a delicadeza da situação. Ele segurou Mateo de forma suave, mas firme, o impedindo de sair dali e prosseguir com aquilo.

Espere, meu amor! Isso é nosso segredo. Não vamos contar a ninguém, está bem?

— Mas a mamãe também quer te ver, papi — lamentou. — Ela também e. estava chorando mais cedo por isso.

O espírito respirou pesado, imerso na tristeza que emanava da impossibilidade de comunicar sua presença a Camila. Cada suspiro era uma lamúria silenciosa, uma expressão de dor que ecoava nas paredes. Seu desejo inalcançável pulsava como um eco contínuo em seu ser, uma melodia triste que ressoava no cômodo que antes era palco de um momento feliz e único. A incapacidade de sussurrar nos ouvidos de sua esposa que ele estava ali, tão próximo e ao mesmo tempo tão distante, sem poder compartilhar seu amor, sua presença invisível, era como uma ferida aberta em sua alma.

Eu também quero muito ver a mamãe — limpou a garganta, engolindo o nó que ali se formou. — Mas nós estamos em uma missão super secreta!

Os olhos de Mateo se iluminaram com entusiasmo, enquanto ele perguntava:

— Uma missão? Que tipo de missão?

Shawn, com um olhar cúmplice, apenas disse:

A missão é tão secreta que eu não posso te contar agora. Mas eu preciso da sua ajuda, porque você é e garoto mais corajoso e inteligente que eu conheço. Quando eu precisar, você estará pronto para ser meu agente secreto?

— Sim! — Estendeu os bracinhos no alto. — O que eu tenho que fazer?

— Vão acontecer muitas coisas estranhas agora e eu preciso que você ajude a sua mãe a ser forte, tudo bem? Ela não está na nossa missão e pode ficar muito confusa. Consegue fazer isso? — Ele franziu o cenho.

— Eu acho que sim. Por isso não podemos contar pra mamãe?

— Sim, se não ela deixa de ser secreta, entende? — Ele assentiu sorrindo e Shawn suspirou aliviado ao perceber que sua narrativa estava dando certo. — Se você quiser se tornar um grande militar, como o papai, precisa aprender a guardar segredo. 

— Está bem! — O brilho em seus olhos cada vez mais bonitos.

— Segredo de Tentente e Soldado?

Shawn estendeu seu dedo mindinho, para a famosa promessa de dedinho. Ele logo sorriu e olhou dentro dos olhos de Mateo forma intensa.

— Segredo de Tenente e Soldado! — Enlaçou seu dedo com de seu pai.

Após mais alguns minutos de conversa, Shawn deitou-se ao lado de Mateo, envolvendo-o em um abraço acolhedor. Com carinho, ele começou a contar uma história mágica e encantadora, fruto de sua própria imaginação. Cada palavra era como um feitiço, envolvendo o pequeno em um mundo de aventuras e sonhos.

À medida que a crônica avançava, os olhinhos castanhos pesavam, e a respiração de Mateo se tornava mais tranquila. Aos poucos, o menino adormeceu, embalado pelas sílabas carinhosas de seu pai, que ficou ali por boas horas, apenas observando seu pequeno adormecido.

Quando saiu do quarto de seu filho, foi até o que já foi o seu, junto de Camila, com um aperto no coração. Para sua surpresa, não a encontrou lá. Franziu o cenho, sem entender. Sabendo que ela não estaria na sala, ou na cozinha, muito menos ao lado de fora, visto que teria visto a latina passar pelo corredor, pois o quarto de Mateo era o primeiro dos três existentes na casa, foi para o único local possível; o quarto de hóspedes.

A cena que se desenrolou diante de seus olhos pesou como chumbo em seu peito. Ela estava deitada na cama, o rosto inchado, indicando um choro quase perpétuo. O travesseiro estava encharcado pelas lágrimas, agora secas, que escorreram por suas bochechas. A imagem que mais doeu foi a de uma foto deles, sorrindo em seu casamento, apertada entre seus braços, enquanto Camila dormia.

Ele se aproximou silenciosamente, contemplando a mulher que ainda amava profundamente, mesmo do além. Os fios de cabelo dela grudavam-se ao rosto levemente molhado, os lábios entreabertos soltando suspiros de sofrimento até mesmo nos sonhos. Aquela imagem triste era como uma flecha cravada em seu peito. Shawn sentou-se na beira da cama, seus dedos escorrendo sobre o rosto de Camila, como se tentasse enxugar a água que ali estivera.

Ele desejou poder alcançá-la, abraçá-la e confortá-la, mas estava preso entre os mundos, uma sombra impotente. Shawn sabia que tinha que encontrar uma maneira de ajudar Camila a superar sua dor, mas não sabia por onde começar.

Foi então que ele observou o celular da mulher tocando com insistência na cabeceira. Seus olhos se fixaram na tela e, quando viu o nome "Lauren Jauregui" piscando, uma ideia surgiu em sua mente, como uma luz no fim do túnel.

Lauren! — Ele disse pra si mesmo.

Com um último olhar para Camila, levantou-se do colchão, determinado a encontrar uma maneira de trazer um pouco de paz, apoio e conforto para a mulher que amava. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para ajudá-la a encontrar a luz no meio da escuridão que havia se instalado em seu coração.

[...]

O Kia Cerato na cor preta estacionou na porta da garagem e logo a morena de olhos verdes, agora cobertos pelas lentes escuros, saiu de dentro do veículo. Ela ajeitou seus cabelos, jogando de um lado para o outro, fazendo com que eles caíssem perfeitamente sobre seus ombros.

Sua beleza destacava-se, evidenciada por escolhas cuidadosas. Vestia um elegante vestido preto casual, que fluía com graciosidade, ressaltando sua sofisticação natural. Os coturnos, embora robustos, adicionavam um toque de ousadia à sua aparência, equilibrando a delicadeza do vestido.

A luz do sol dançava sobre seus cabelos, realçando tons variados em sua cascata de fios. O par de óculos de sol adornava seu rosto, conferindo-lhe um ar de mistério enquanto protegia suas pupilas do brilho intenso. Cada detalhe da sua indumentária era um reflexo de seu estilo único, uma mistura de sofisticação e despojamento.

Logo atrás, Zayn desembarcou, o som suave de metal trazendo consigo a confirmação do automóvel, agora, trancado. Vestia uma camisa branca despretensiosa, adornada por uma jaqueta marrom que acrescentava um toque de casualidade refinada. Sua escolha para a parte inferior era uma calça jeans escura, um contraste sutil que conferia uma aura descontraída.

Ao seu lado, Kaleb caminhava, uma explosão jovial de cores. Sua blusa cinza proporcionava um equilíbrio fresco, com as mangas compridas, dobradas em despojamento até o cotovelo conferindo um toque de estilo despreocupado. Completando o visual, uma bermuda preta proporcionava conforto e um toque contemporâneo.

Droga!

O resmungo chamou a atenção dos dois adultos, que encontraram um Kaleb irritado, enquanto balançava um de seus pés com desespero.

— Pisei na merda de cavalo — bufou explicando, ao perceber que seus pais o encarava com confusão.

Malik soltou uma gargalhada robusta ao perceber que seu filho havia inadvertidamente marchado em algo indesejado. A cena cômica aos olhos do britânico provocou uma explosão de risos sinceros que ecoaram no campo. ? Enquanto o som alegre de Zayn enchia o ar, Kaleb, visivelmente contrariado, expressava sua irritação com um revirar de olhos.

— Mãe! — Chamou, indignado com o deboche de seu progenitor.

Lauren, notando o desconforto do pré-adolescente após o incidente inesperado, segurou o riso, evitando qualquer gesto que pudesse pravacar ainda mais seu filho.

Habib, pare de rir dele.

Percebendo a expressão mais séria de sua esposa, fez um esforço consciente para conter as gargalhadas. Ele recebeu a mensagem silenciosa dela e, aos poucos, diminuiu a intensidade de suas risadas, respeitando o desejo da mulher de não prolongar a situação. Lauren, com um sorriso contido, acariciou o ombro de Kaleb, transmitindo-lhe um apoio silencioso.

— E não diga "merda", estamos na casa de seus avós — repreendeu.

— Como se eles não xingassem — rebateu, recebendo um olhar sério de sua mãe. — Tá bom, tá bom, não tá mais aqui quem falou.

O trio, então, seguiu adiante, em direção à porta da casa. Kaleb mantinha-se visivelmente estressado, seus passos mais apressados denunciavam a frustração causada pela ocorrência anterior. Zayn ainda segurava o riso de forma cada vez mais precária, um sutil tremor nos lábios denunciava a batalha interna com a vontade de rir. Lauren, ao observar os dois, negava com a cabeça, encontrando graça na situação.

Ao chegarem mais perto da moradia, uma sensação de nostalgia e acolhimento a envolveu. A fachada mantinha a mesma madeira de sempre, com detalhes em verde que denotavam uma atmosfera tranquila. O jardim diante do acesso estava meticulosamente cuidado, refletindo o carinho dos pais pelos detalhes. O som reconfortante dos passos no caminho de pedras ecoava enquanto eles se aproximavam da porta.

Subiram os degraus, observando a moldura adornada por vasos de flores coloridas. Lauren hesitou por um momento antes de bater, sentindo um nó na garganta. As emoções acumuladas durante os últimos tempos pareciam prestes a transbordar. Com um suspiro profundo, aguardou ansiosamente pelo reencontro com a segurança e apoio que sua casa paterna representava.

Ao que a porta se abriu, revelou-se o rosto acolhedor de sua antiga babá, que expressou uma mistura de alegria e curiosidade ao vê-la.

— Beth! — A de olhos verdes chamou, abraçando a senhora.

— Laur, quanto tempo! — respondeu a mulher, aparentemente emocionada. 

Ela se soltou do abraço, beijando a face da outra e a segurando pelas bochechas, enquanto fazia uma análise do rosto, agora, levemente corado devido ao calor.

— Oi, tia Beth — Kaleb cumprimentou.

Elizabeth abriu um grande sorriso, puxando o mais novo para um envolver de braços apertado. O garoto tentava retribuir a mesma altura, mas a mulher o apertava contra seu corpo de uma maneira inumana. Ele sentia o ar sendo comprimido em seus pulmões.

— Assim você vai matar meu filho sufocado, Dona Beth — Zayn brincou.

Apesar da descontração inerente à sua frase, falava sério. Ele conhecia seu filho o suficiente para discernir quando algo o deixava desconfortável, especialmente quando se tratava do toque excessivo. Kaleb, notoriamente avesso a demonstrações efusivas de afeto físico, não escondia sua relutância diante de contatos mais intensos.

A expressão no rosto de Zayn, embora sutil, revelava uma compreensão profunda da personalidade do garoto. Era um pai atento aos detalhes, capaz de captar as nuances e respeitar as preferências individuais de seu filho. O tom sério em sua voz contrastava com a leveza da situação, indicando que, por trás da brincadeira, havia uma consideração genuína pelas sensibilidades do jovem.

— Desculpe, mas há tanto tempo que não o vejo — a mulher disse. — Oh, meu Deus, Kaleb, isso é um bigode? Não acredito!

Os olhos do menino se arregalaram ao perceber que a mulher estava se aproximando novamente. Salvo pelo gongo, sua mãe fingiu um esbarrão nele, o empurrando para frente e quebrando qualquer tipo de contato físico que estava por vir.

Mama e papa estão em casa? — Perguntou, antes que a situação pudesse continuar por aquele caminho.

Shawn, como um espectador invisível, observava a interação entre eles com um misto de admiração e nostalgia. Ele sorriu ao ouví-la usar os apelidos, lembrando automaticamente de seu filho, já que ele chamava tanto a ele, quanto Camila, com aquele sobpronome, devido a latina, que o ensinou assim desde suas primeiras palavras. Estava ali pois havia decidido observar mais Lauren, tentar conhecê-la além do trabalho.

— Sim, estão sim. Sua mãe está na sala, vendo televisão, e seu pai está lá em cima junto com o Owen. Acho que foram jogar xadrez, ou damas, algo assim — Lauren assentiu, ainda sorrindo. — Entrem, eles vão amar a surpresa!

A doméstica, com um sorriso acolhedor, guiou os três para dentro, e acústica dos passos descalços ecoou pelo corredor. O interior da casa exalava o conhecido aroma de comida caseira, um conforto olfativo que remetia a muitas lembranças felizes da infância. Ao chegarem a sala, encontravam Clara tricotando, enquanto Irmãos a Obra passava na TV.

— Lauren! — Exclamou a mulher, avançando na direção da filha com os braços estendidos.

Seus olhos brilharam de felicidade ao ver a amada de volta ao lar. A empregada se retirou, permitindo que a família desfrutasse desse momento íntimo. Lauren, entre lágrimas e sorrisos, abraçou seus pais com ternura, absorvendo a sensação familiar e reconfortante de estar em casa. As palavras se tornavam desnecessárias naquele instante, pois os gestos expressivos falavam por si só.

Abuela! — Kaleb chamou animado e ansioso.

Clara não resistiu à oportunidade de passar os braços ao redor de seu querido neto, a falta que ele fazia era evidente em sua expressão. Ele, ao contrário de suas reservas habituais, não se sentiu desconfortável. Havia entre eles uma conexão extraordinária, um laço que transcendia as barreiras de bloqueio.

O abraço da matriarca era acolhedor, emanando afeto e carinho, e o garoto respondia a essa demonstração de ternura com uma naturalidade rara. Ele se acomodou nos braços da avó como se estivesse em seu lugar mais seguro, desfrutando da sensação de pertencimento que aquele gesto transmitia.

A relação especial entre avó e neto era notável. Ela representava uma das poucas exceções ao usual desconforto dele com demonstrações físicas de carinho. Talvez fosse a sabedoria inerente ou a aura acolhedora que emanava, mas a verdade era que Kaleb se sentia à vontade e amado nos braços dela.

— Você está tão lindo, meu amor — ela disse, investigando o rosto do garoto. — Senti muitas saudades. Como está na escola? E a banda? Ah, e aquela namoradinha?

— Vó! — Ele repreendeu, nervoso.

Namoradinha? — Lauren franziu o cenho.

Não lembrava dele ter comentado sobre nenhuma menina.

— Seu avô comprou algo para você — desconversou —, e pra você tambem.

— Pra mim? — Zayn questionou ao ver o dedo apontado em sua direção.

— Uhum — sorriu. — Está lá na sala de jogos.

Os olhos de Kaleb brilharam, já imaginando o que era.

— Vem, pai! — Gritou, puxando o homem pelas mãos em direção ao comodo indicado.

Malik se desculpou com sua sogra, antes de se deixar ser guiado.

— Ele está enorme — ela disse, observando a cena com um sorriso.

— Que namoradinha? — Lauren questionou.

Ainda não havia processado aquela informação.

— Não importa — Clara segurou o riso. — Vem, vamos! Comprei uma cafeteira nova, você vai amar.

Lauren permitiu-se ser conduzida, imersa em pensamentos, processando a revelação de que seu filho poderia ter uma namoradinha. A ideia pairava em sua mente, desencadeando uma mistura de emoções, desde a surpresa, até a reflexão sobre como seu filho estava crescendo.

"Rápido demais", pensou.

A percepção de que Kaleb poderia estar envolvido em seus próprios relacionamentos despertava uma sensação única em Lauren. Era como se o tempo estivesse avançando rapidamente, e seu menino estivesse trilhando os caminhos da vida, inclusive aqueles que envolviam os mistérios e encantos do primeiro amor.

Jausegui, entre sentimentos de curiosidade e melo, questionava-se sobre essa etapa que se desenhava no horizonte de seu filho.

Como seria essa experiência para ele? Será que o menina era decente? Ele sairia machucado, ou teria a história parecida com a dela a de seu pai? Ele deixaria de passar os Natais em casa? Ou pior, se mudaria para longe e não teriam mais a noite de jogos de domingo?

Eram tantos perguntas não respondidas. O ciúme, muitas vezes inevitável quando se trata do desenvolvimento dos filhos, era notavel em seus questionamentos. O instinto protetor de mãe, que por tanto tempo esteve presente, agora manifestava-se de uma maneira peculiar diante da perspectiva de seu filho explorar novos vínculos afetivos.

— Desculpe não ter ido te ver logo que chegou... — Clara pediu, retirando sua filha de seus pensamentos. — Estava tudo certo para irmos, mas... você sabe.

— Sei, mama. Tá tudo bem — Lauren sorriu de forma doce, afastando qualquer outra reflexão.

— Me conte, como foi lá?

— Horrível — suspirou tristemente. — Foi pior do que esperava. Bem pior. Perdi um amigo dessa vez.

Oh, Deus... — lamentou.

Seus olhos refletiam a dor compartilhada, uma compreensão inata de que o luto atravessava as fronteiras da guerra, alcançando os corações daqueles que ficavam para trás. A compaixão não era apenas um gesto de consolo, mas uma conexão emocional que transcendia as palavras. Ela reconhecia que, por trás da bravura exterior de Lauren, havia uma alma ferida pela perda de alguém querido. Em seu olhar materno, havia a ternura de quem entendia que as cicatrizes invisíveis eram tão significativas quanto as manifestas.

— Não quero dizer que perder outras pessoas é fácil, mas Shawn era realmente um amigo. Trabalhei diretamente com ele por dois anos, conheci sua esposa e seu filho, a família é linda — suspirou. — Agora eles dois estão sozinhos, por culpa minha...

A major, com os olhos marejados, deixou uma lágrima solitária escorrer por sua face, uma expressão silenciosa da dor que carregava em seu coração. Ao compartilhar com sua mãe a sensação avassaladora de culpa pela perda do homem, ela enfrentou um momento angustiante. Clara, ao perceber a autoreprovação na voz da filha, moveu-se com empatia. Com mãos gentis em seu rosto, ela repreendeu a ideia de que deveria carregar o ônus da responsabilidade pela tragédia.

— Querida, você não pode se culpar por algo que está além do seu controle. O peso da guerra não pode ser carregado individualmente.

A sala estava impregnada de uma atmosfera pesada, permeada pela tristeza e pela culpa que a de olhos claros sentia. A mãe, no entanto, buscava confortar não apenas com palavras, mas com o abraço materno que conhecia desde o nascimento. Ela a envolveu em seus braços, oferecendo um refúgio onde a culpa pudesse se afugentar.

— Tenho certeza que fez tudo o que podia — insistiu, buscando dissipar as sombras do remorso que assombravam a mente da outra.

A mais nova deixou escapar um riso triste, uma mistura peculiar de dor e aceitação, uma resposta amarga ao conforto materno.

"Fez tudo o que podia" — repetiu em ironia. — Não fiz, mãe.

A lembrança daquela noite a assombrou, como sombras que persistem na luz mais brilhante.

— Claro que fez, meu amor, voc- — foi interrompida.

— Eu não fiz nada — confessou ela em um sussurro, enquanto as lágrimas finalmente encontravam liberdade em suas bochechas. — Ele me pediu para não fazer nada.

Clara apertou o abraço, compreendendo, finalmente, a complexidade da angústia de sua filha. Os braços envolveram Lauren com uma força acolhedora, como se pudesse conter não apenas o corpo, mas também a dor e a angústia que a mulher carregava consigo. Cada aperto era uma expressão silenciosa de apoio, uma promessa de que, mesmo diante das tormentas emocionais, havia um refúgio nos braços da mãe.

Lauren permitiu-se render àquela carícia, deixando-se absorver pelo carinho materno. Seu corpo tenso começou a relaxar, e as lágrimas, antes tímidas, agora fluíam livremente. O soluço abafado de quem contém o choro por muito tempo encontrou liberdade naquele espaço de afeto.

— Às vezes, o maior ato de compaixão é respeitar a vontade do outro, mesmo que isso signifique abrir mão dele.

Lauren olhou nos olhos da mais velha, buscando algum conforto para o fardo que carregava.

— Mas eu poderia ter feito mais... poderia ter lutado mais, insistido mais...

A resposta de Clara veio com serenidade:

— Você fez o que achou certo naquele momento, hija. Aceitar o pedido dele foi um ato de compreensão.

Ela soltou-se suavemente do abraço de Clara, seu olhar perdido vagava pela sala, enquanto as palavras pesadas pairavam no ar.

— Ele provavelmente ficaria tetraplégico — murmurou, como se pronunciar aquelas palavras a fizesse sentir dor.

A lembrança do pedido de Shawn, a escolha difícil que ele fez, pesava em sua consciência como uma sombra constante.

"— Isso é pior do que morrer, Lauren, por favor — seus soluços ecoavam pelo local."

— Mas vivo.

O cômodo parecia carregar um vórtice¹ de emoções cruas e não ditas. A mãe, segurando ainda as mãos de Lauren, procurou confortar sua filha com palavras sábias e compreensivas. Seus olhos expressavam não apenas amor, mas também uma sabedoria adquirida ao longo dos anos.

— Filha, você precisa entender que a vida nos coloca diante de escolhas impossíveis. O que aconteceu com Shawn não foi culpa sua — começou, sua voz carregada de gentileza e sabedoria acumulada ao longo dos anos. — Deixar ele ir foi, de certa forma, um feito de amor. Ajudá-lo a seguir seu desejo foi a melhor forma de respeitar e honrar o que ele queria para si mesmo.

Os olhos verdes refletiam um turbilhão de emoções enquanto processavam as palavras de sua mãe. Era um consolo ouvir a mulher dizer aquilo, mas a dor ainda estava presente, uma ferida emocional que precisava de tempo para cicatrizar.

— Ele tem um filho pequeno, mãe... — argumentou.

— Não quero parecer indelicada, ou insensível, mas imagine a dificuldade da esposa dele em cuidar dos dois — Clara disse. — De uma criança pequena e dele. Como você se sentiria se Zayn precisasse estar 24 horas por dia ao seu lado, ou gastando dinheiro com alguém para fazer isso, tendo mais você de obrigação, além do Kaleb.

— Mal...

— Exatamente. Se ele pediu o que pediu, é pelo mesmo motivo, mija — acariciou seu rosto. — A dor do luto é difícil, muito difícil, mas, acredite, é bem mais fácil do que uma esposa ver seu marido morrendo aos poucos. Definhando, deixando de ser a pessoa que ele era. Se tornando apenas um-

As palavras sábias de Clara foram interrompidas por um soluço alto. Lauren abraçou-a com força, como se pudesse, de alguma forma, compartilhar o peso do sofrimento que ambas carregavam.

As lágrimas uniam-se ao lamento silencioso da sala, tornando-a carregada de uma tristeza compartilhada. Seus prantos eram um eco da dor que havia se instalado em seus corações, uma melodia melancólica que se misturava aos choros, que ecoava não apenas pela perda de Shawn, mas também pela dolorosa realidade de Michael que enfrentava uma batalha contra o Alzheimer. A trajetória cruel da doença se desdobrava diante delas, um fardo emocional que se somava à já intensa tristeza pela morte de um amigo.

As lembranças que um dia dançaram vívidas em sua mente agora se dispersavam como pétalas ao vento. Ele não era mais o Michael que todos conheciam, mas uma sombra daquele homem vibrante que um dia foi.

O avanço implacável da doença transformava cada gesto familiar, cada olhar e palavra, em fragmentos de uma identidade que se esvaía aos poucos. O brilho nos olhos que antes refletiam histórias vividas agora se apagara, substituído por uma neblina desconcertante.

Lauren e Clara, dia após dia, testemunhavam a metamorfose dolorosa de um ente querido. O homem que ensinou tantas palavras aos filhos agora lutava para recordar seu próprio nome. As risadas que ecoavam pelos corredores da casa agora eram sussurros frágeis, perdidos em um labirinto mental.

Era como se estivessem vendo um eclipse em câmera lenta, onde a luz gradualmente dava lugar à escuridão. Cada sorriso perdido de Mike, cada momento de confusão em seus olhos, era um golpe no coração delas. A presença física estava ali, mas a essência, a chama da personalidade que sempre as envolveu, desvanecia-se. Era uma experiência angustiante, assistir à desintegração daquele que fora o alicerce emocional da família.

Assim, Lauren e Clara enfrentavam um duplo pesar: a perda de Shawn, que partira antes do que deveria, e a despedida gradual de Michael, cuja luz se apagava aos poucos. O tempo era o maior inimigo, invisível e silencioso, que devorava as memórias e deixava marcas indeléveis na alma das pessoas que o amavam.

[...]

Após a intensa sessão de choros e consolos, Lauren e Clara decidiram buscar um refúgio na rotina diária. Chamaram Zayn e Kaleb para um momento mais leve à mesa. As emoções intensas, que haviam preenchido o ambiente, deram lugar a um convite para um lanche compartilhado, buscando um respiro e um retorno à normalidade. Pediram à doméstica que solicitasse ao enfermeiro da casa que trouxesse Michael para compartilhar aquele momento familiar.

— Como estão os meninos, querido? — Clara perguntou ao seu neto.

— Bem — ele respirou fundo. — Nossa tutora vai embora da cidade, estamos um pouco tensos.

— A Lana? — Ele assentiu. — Por quê? Ela está bem?

— Não sei exatamente, pra ser sincero — coçou a nuca, sem graça. — Ela não parece bem, mas tenta agir normal.

— Deve ser difícil se mudar assim.

— Sim — lamentou. — A parte boa é que ela tem levado a namorada dela até a garagem, e Carol é muito legal.

— Não sabia que ela era lésbica — Zayn disse, mordendo um pedaço de sua maçã.

— Ela não é, eu acho — o mais velho franziu o cenho. — Mãe, como fala quando a menina gosta de meninas, mas de meninos também?

— Bissexual? — Ele negou. — Sáfica?

— Isso! Acho que é sáfica — Zayn ergueu as sobrancelhas, finalmente entendendo. — Ela tem um amigo, o Sean, e Peter disse que viu eles se beijando. Então deve ser sáfica.

— Não dá para confiar muito em Peter, não é, amor? — Lauren disse, tomando seu café.

— Eu sei, mas por via das dúvidas... — deu de ombros.

Kaleb ia continuar dizendo algo, mas o enfermeiro delicadamente chegou com seu avô na sala de jantar, o calando. Lauren sentiu um aperto no peito à medida que seu pai se aproximava. Ela não percebeu, mas Zayn ajeitou-se na cadeira, tocando sua coxa carinhosamente, e seu filho segurou a respiração, com medo do que seguiria. A doença havia criado uma barreira que envolvia o homem, uma barreira que não apenas afetava as lembranças, mas também a capacidade de reconhecimento.

— Oi, papa...

O coração da militar acelerou com a incerteza de ser identificada por aqueles olhos que, em outros tempos, irradiavam amor e compreensão. Ela se perguntava se seu pai, mesmo que momentaneamente, poderia enxergar além da névoa do Alzheimer e reconhecê-la como sua filha.

A tensão que a envolvia desvaneceu gradualmente à medida que ela observava o rosto de Michael se iluminar com um sorriso, em meio à neblina. Era como se, por um breve momento, as memórias compartilhadas e a conexão emocional entre pai e filha se sobressaíssem sobre os estragos causados pela doença.

Mija! — O homem, da melhor maneira que pôde, foi até a menina, dando-lhe um abraço apertado. — Que saudades!

Lauren sentira um alívio profundo ao ver que, mesmo que fosse por instantes, seu pai a reconhecera. Aquelas brechas nos muros da patologia a permitiam ter um vislumbre do homem que costumava ser, uma figura carinhosa e presente em sua vida. Jauregui sentia como se tivesse recuperado um pedaço precioso de seu progenitor, mesmo que momentaneamente, e isso trouxe uma sensação de consolo em meio às dificuldades que enfrentavam.

Kaleb e Zayn compartilharam um suspiro de alívio ao testemunharem o momento em que Mike a identificou. Lembravam claramente da primeira vez em que ele não a reconhecera e como havia sido doloroso para a mulher de olhos verdes. Os ombros tensos relaxaram, e a atmosfera ganhou uma nota de leveza que contrastava com a ansiedade que pairava anteriormente, era como se um peso invisível tivesse sido retirado.

— Oi, Kaká! — O homem disse, andando em direção ao seu neto, que se pôs rapidamente de pé.

Kaleb envolveu seu avô em um abraço firme, permitindo-se afundar naquela demonstração de carinho. A sensação reconfortante dos braços do idoso ao seu redor era preciosa, especialmente considerando os momentos em que o Alzheimer roubava a clareza do reconhecimento e que ele tinha que ouvir seu avô dizendo que não o conhecia e que não era para ele se aproximar.

Naquele gesto simples, o mais novo encontrava um refúgio temporário da cruel realidade que o afetava, permitiu-se sentir a proximidade do homem que, em alguns momentos, poderia não recordar quem ele era.

— Viu, Senhor Jauregui? Eu disse que era por uma boa causa — o enfermeiro disse brincalhão, atrás dos dois.

O sorriso de Michael, agora dirigido ao rapaz, ecoava um momento leve em meio às complexidades da doença.

— Desculpe, Owen. Você sabe que não gosto que interrompam meu xadrez — sorriu sem graça. — Zayn.

Michael o cumprimentou com um simples aceno de cabeça, uma saudação contida que revelava a tensão subjacente entre os dois. As palavras não eram necessárias; o olhar e o gesto transmitiam a complexidade de uma relação que não florescia com facilidade. Era uma coreografia silenciosa de desentendimentos passados. No entanto, naquele momento, eles compartilhavam um espaço, mesmo que marcado por uma frieza que persistia. O aceno era um reconhecimento, mas não uma extensão de calor humano.

Zayn, apesar de não nutrir ressentimentos em relação a Michael, reconhecia a percepção que o sogro tinha dele. O idoso, por sua vez, carregava uma desconfiança enraizada, enxergando o homem como alguém irresponsável e excessivamente destemido, um, suas próprias palavras, porra louca. As opiniões formadas por Michael sobre Zayn eram baseadas em divergências de personalidade e em uma interpretação do comportamento do genro, que entendia completamente a inimizade por parte do homem.

— Sua avó te mostrou seu presente? — Ele questionou, recebendo a ajuda de seu enfermeiro para sentar-se na ponta da mesa.

— Sim! — Kaleb respondeu, animado. — Eu amei, vovô, obrigado!

— O que era, afinal? — Lauren perguntou, curiosa.

Era a única ali que não sabia do que se tratava, e estava, definitivamente, curiosa.

— Ele comprou um PS5! — Disse animado, fitando sua mãe. — E vários jogos, tem até o novo do Homem-Aranha. Inclusive, meu pai é péssimo.

— Ei? — Malik indignou-se. — Foi a primeira vez que eu joguei, deixe de ser chato.

— Foi a primeira vez que eu joguei também — rebateu.

Zayn, pronto para retrucar a provocação descontraída de seu filho, teve a sua resposta interrompida pela chegada da doméstica com uma bandeja repleta de pães de queijo recém-saídos do forno. O aroma delicioso pairou no ar, conquistando sua atenção imediata, que abandonou momentaneamente sua postura desafiadora.

— Céus, como eu senti falta do seu pão de queijo, Annabeth! — Lauren declarou, pegando um deles. — Isso aqui é de outro mundo, não é possível!

— Você pode vir comê-lo quando quiser, menina — a mais velha respondeu sorrindo. — Sua presença anima os dias de Dona Clara e de Seu Michael, não é?

— Sim! Com toda certeza — a mãe respondeu. — Eu e seu pai amamos quando você vem aqui! E seus irmãos também! Não fazem ideia de quanto sentimos falta de vocês três correndo pela casa.

— Até as brigas pela televisão da sala fazem falta! — O homem declarou, fazendo todos sorrir — Da próxima vez que vocês três vierem aqui, faremos um churrasco Bom que estreamos a caixa de som nova.

— Com certeza, pai! Pode até escolher a música!

— Oh, não faça isso, eu suplico! — Kaleb proferiu. — Vovô tem um gosto musical péssimo. 

Lauren soltou uma gargalhada gostosa.

— Não posso discordar!

— Então, melhor deixar isso comigo e com meu pai! — O tom convencido em sua voz fez com que todos rissem.

— Pode deixar, meu amor, deixaremos seus ouvidos intactos! — Clara respondeu e todos riram ainda mais.

— Mas então... — Lauren limpou a garganta — Como estão as reuniões, mãe?

— Estão ótimas! Todos estamos progredindo lá, principalmente eu. Inclusive, ganhei outro broche, ano que vem o ganho do de quinze! — Disse orgulhosa de si mesma.

— Que bom, mama! Fico muito feliz sabendo disso! — sorriram.

— Você não faz ideia de como essas reuniões me fazem bem. De certa forma, eu posso desabafar lá, sem medo de ser julgada. Ah, e os lanches são cada dia melhores!

— Está trocando o meu lanche, Dona Clara? — Beth perguntou, fingindo uma indignação.

Abuela, como ousa trocar esses pães de queijo maravilhosos por um lanchinho qualquer? — Perguntou em um tom brincalhão.

— Nenhum lanche supera os seus, Beth, fique tranquila!

— Ah, bom! — Ela e Kaleb responderam juntos, arrancando mais risos de todos.

— Papai, o senhor tomou seus remédios? — A morena perguntou de repente, fazendo o homem arregalar os olhos.

— Ainda bem que você me lembrou, se não eu ia esquecer! — Ameaçou se levantar, mas o homem vestido de branco ao seu lado o impediu.

— Tomou sim, Dona Lauren.

— Claro que não tomei! — Disse evidentemente bravo, fazendo todos levarem o olharem para ele, em silêncio

— Claro que tomou, Seu Michael. — permaneceu com o tom de voz calmo. — Foi um pouco antes de subirmos, não se lembra? 

Fitou Lauren novamente, claramente pedindo ajuda. A de olhos claros respirou fundo, forçando um sorriso. Era doloroso ver seu pai daquela maneira.

— Tudo bem, papa, daqui a pouco o senhor toma. Beth, pode me trazer mais pão de queijo, por favor? — Desviou o assunto ao ouvir suspiro derrota do homem.

— Claro! Só um instante —  falou se levantando.

— Eu nem joguei meu xadrez hoje! — Mime declarou aéreo, como se tivesse esquecido o assunto anterior, levando a xícara com café até a boca — Ah, filha, o que você acha de trazer Noah para um churrasco da próxima vez? Eu e sua mãe estávamos pensando em comprar uma caixa de som nova, podemos usá-la.

Oh, não... — Kaleb murmurou, encontrando o olhar desesperado de seu pai.

Um simples comentário sem maldade foi suficiente para fazer com que o corpo de Lauren se enrijecesse. As palavras ecoaram como uma melodia desafinada, perturbando a atmosfera antes descontraída.

Um vazio profundo se instalou em seu peito, como se uma parte de si mesma tivesse sido arrancada. O olhar de Lauren vagueava, mas seus pensamentos mergulhavam em um mar de memórias desconcertantes. Uma culpa avassaladora a envolveu, como se estivesse sendo arrastada para um passado que preferia esquecer.

As palavras do pai ressoavam, repetindo-se em sua mente como um eco insistente. Cada sílaba era um soco emocional, despertando lembranças que ela tentava manter adormecidas. Aquele vazio parecia insaciável, sugando a energia vital de Lauren e deixando-a em um estado de agonia interna.

Era como se as paredes da sala se aproximassem, comprimindo-a em um espaço sufocante. Jauregui buscava desesperadamente escapar da lembrança que a assombrava, mas ela persistia, implacável. Era como reviver um pesadelo, um filme incessante que ela não podia interromper.

A culpa, como uma sombra sinistra, pairava sobre Lauren. Cada detalhe daquela memória dolorosa a fazia questionar suas próprias decisões, como se estivesse sendo julgada por um tribunal interior. O desconforto se manifestava fisicamente, transformando-se em tensão palpável que se irradiava por todo o seu ser. Ela se sentia mal consigo mesma, como se o peso do passado fosse insuportável.

O silêncio na sala era ensurdecedor, marcado apenas pelos ruídos sutis do ambiente. O vazio, agora, não era apenas físico, mas uma lacuna emocional que clamava por respostas que Lauren talvez não estivesse pronta para enfrentar. Era como se o tempo tivesse congelado, e o ar ficado impregnado com uma atmosfera carregada de desconforto.

Clara parecia sentir o peso do ambiente tenso, seus olhos refletindo a preocupação enquanto buscava por palavras que pudessem aliviar a situação, mas nada saía. Seu semblante antes alegre agora estava marcado por uma expressão de apreensão, como se ela pudesse sentir a gravidade do momento

Zayn mantinha-se em silêncio, mas seu olhar atento revelava a tensão que se manifestava em seus pensamentos. Cada músculo de seu rosto denunciava a preocupação contida, e seus olhos se moviam rapidamente pela mulher em busca de alguma forma de dissipar a atmosfera opressiva.

Kaleb mostrava-se inquieto em sua postura. Seu rosto, normalmente expressivo, agora exibia um misto de confusão e desconforto. Ele não conseguia evitar sentir a energia pesada que pairava no ar, e sua juventude não o protegia da intensidade emocional que fluía naquele cômodo.

Os empregados, habituados à rotina da casa, também não conseguiam disfarçar a surpresa diante da reviravolta na atmosfera. Suas expressões, geralmente neutras, traíam a tensão que se espalhava pelo ambiente, criando um contraste gritante com a habitual tranquilidade da residência.

O silêncio era ensurdecedor, apenas quebrado pelos suspiros contidos e olhares nervosos que se cruzavam furtivamente. Cada um ali sentia o impacto do acontecimento recente, e o peso emocional parecia aumentar a cada instante.

Ninguém ousava quebrar o silêncio, temendo intensificar ainda mais a atmosfera carregada. A comunicação não verbal era a única linguagem compartilhada naquele momento, revelando a complexidade das emoções que se entrelaçavam naquele cenário de inquietação.

Uma lágrima escorreu pelo rosto pálido de Lauren, mas ela tratou de limpá-la e disfarçar com um pequeno sorriso, por mais que seu olhar estivesse claramente triste. Zayn levou os dedos até a coxa da garota novamente e fez um carinho ali, dando-lhe suporte. A de olhos verdes segurou a mão do pai por cima da mesa que deu um sorriso como resposta.

— Quando quiser, papa, eu acho uma ótima ideia — deixou um beijo ali.

— Mãe... — Kaleb chamou cuidadoso, ao observar a mulher levantar da mesa com cuidado.

— Está tudo bem, meu amor, vou apenas ao banheiro — tentou tranquilizar.

Kaleb respirou fundo, preocupado com a evidência de que não estava bem, apesar dos esforços dela em transmitir o contrário. Seus olhos, reflexo da inquietação que tomava conta dele, seguiram os passos de Lauren, buscando entender o que se desenrolava naquele instante.

A respiração profunda do garoto era uma tentativa de acalmar os próprios nervos diante da incerteza que pairava no ar. O desejo de compreender e apoiar sua mãe tornava-se uma força motriz, impulsionando-o a agir diante da vulnerabilidade que vislumbrava.

Cauteloso, ele permanecia onde estava, em um estado de alerta silencioso, consciente de que sua mãe poderia precisar de um espaço para processar suas emoções. Contudo, a inquietação em seus gestos e expressões denotava o desejo genuíno de estar presente e oferecer apoio à mulher que sempre fora seu pilar de força.

— Eu vou... — Zayn disse, ameaçando se levantar.

— Deixa que eu vou — o mais novo disse.

Inquieto e preocupado, seguiu sua mãe em direção ao banheiro. Cauteloso ao se aproximar, notou que a porta já estava fechada quando chegou. Seu coração batia mais rápido, refletindo a apreensão que sentia diante de algo não estar bem com Lauren.

O adolescente hesitou por um momento, consciente de que o espaço pessoal de sua mãe deveria ser respeitado. Ainda assim, a preocupação falou mais alto, e ele bateu suavemente na porta, buscando uma forma discreta de oferecer apoio sem invadir demais a privacidade dela.

— Está tudo bem, mãe? — Praticamente sussurrou, sua voz carregada de ansiedade e cuidado.

Ele aguardou uma resposta do outro lado da porta, sabendo que, por vezes, as palavras podiam ser um bálsamo em meio à turbulência emocional. A ausência da voz imediata de sua mãe o deixou ainda mais inquieto.

Percebendo que ela talvez precisasse de um momento para si mesma, Kaleb optou por recuar, encostando na parede, permanecendo atento a qualquer sinal de que sua mãe desejasse compartilhar o que estava sentindo. Seus suspiros refletiam a angústia de quem desejava oferecer apoio, mas se via diante da dificuldade de decifrar o que se passava por trás da porta fechada.

Dentro do toalete, Lauren se encontrava envolta por um mar de lágrimas silenciosas que escorriam incessantemente. Cada gota salgada era uma expressão do tormento que a assolava naquele momento de fragilidade. O eco do choro, abafado pelos azulejos, ressoava como um lamento contido, um desabafo que não encontrava palavras.

A culpa se entrelaçava em seus pensamentos, apertando seu peito com uma força avassaladora. O peso da inutilidade a sufocava, como se ela tivesse falhado em proteger algo precioso que se desvanecia entre seus dedos.

Cada soluço era um eco da dor interna, um grito silencioso que ecoava na solitude das quatro paredes. A sensação de desamparo a envolvia, formando uma tempestade emocional que obscurecia qualquer vislumbre de clareza. Seus olhos, antes tão cheios de vida, agora refletiam a angústia profunda que se instalara em seu íntimo.

A tristeza pulsava como uma ferida aberta, e Lauren se via aprisionada em um ciclo de tormento que se alimentava das próprias lágrimas. A escuridão da culpa nublava qualquer visão de esperança, transformando o banheiro em um refúgio de desespero.

Os minutos se desdobravam em uma eternidade, enquanto Lauren se debatia com seus sentimentos, perdida em um labirinto de emoções intensas. A melodia solitária de seus soluços ecoava contra as paredes frias, como uma trilha sonora da tristeza que permeava o ar.

À medida que as lágrimas caíam, Jauregui se afundava cada vez mais no abismo emocional. Sentia-se pequena diante da vastidão do sofrimento, como se estivesse afundando em um oceano de mágoas. Sua vulnerabilidade tornava-se palpável na penumbra do banheiro, onde a dor se manifestava sem reservas.

Shawn observava com um coração angustiado enquanto Lauren se afogava nas águas que saíam de seus próprios olhos. Impotente diante da barreira entre os mundos, ele desejava ardentemente poder secar cada lágrima que rolava pelo rosto dela. Seu espírito pairava no silêncio, uma presença invisível tentando acalmar a tormenta que assolava Lauren, mesmo sabendo que ela não podia vê-lo ou senti-lo.

Cada soluço dela ecoava em sua consciência, formando um vínculo invisível que transcendia as fronteiras entre a vida e a morte. Shawn tentava enviar pensamentos de conforto, como uma brisa suave que acaricia a alma, mas suas palavras eram apenas suspiros perdidos no éter.

Ele se aproximava dela com a delicadeza de uma memória, cercando-a com uma energia que buscava aliviar sua dor. O olhar de Shawn, repleto de compaixão, seguia cada movimento de Lauren, como se a presença espiritual dele fosse uma âncora invisível tentando evitar que ela fosse levada pelas correntezas da tristeza.

Mesmo sem palavras, Shawn tentava transmitir amor e apoio. Sua presença, embora etérea, carregava a promessa de que ela não estava sozinha em sua jornada de dor. Nos recantos do plano espiritual, Shawn desejava ser o consolo que ela não podia ver, o abraço que ela não podia sentir.

A sala de banho transformava-se em um cenário onde as dimensões se entrelaçavam. A espiritualidade de Shawn dançava no espaço entre as lágrimas de Lauren, numa tentativa silenciosa de ser a força que ela precisava naquele momento de fragilidade. A conexão entre eles, ainda que invisível aos olhos humanos, era uma teia sutil de energia que transcendia as limitações da existência material.

Enquanto Lauren se confrontava com suas emoções tumultuadas, Shawn permanecia ao seu lado, assistindo ao espetáculo da tristeza humana. Seu espírito vibrava em sintonia com os soluços dela, como se suas essências estivessem entrelaçadas por fios invisíveis de compaixão.

No reino espiritual, Shawn persistia como um guardião etéreo, desejando ardentemente ter o poder de tocar o coração de Lauren e acalmar a tempestade que rugia dentro dela. O amor que transcende a barreira da morte manifestava-se na forma de uma presença invisível, uma testemunha eterna que permanecia ao lado dela, mesmo nos momentos mais sombrios da jornada humana.

[...]

Kaleb testemunhou a porta do banheiro se entreabrir, revelando sua mãe, que emergia daquele santuário silencioso de lágrimas. Sem hesitar, ele avançou, seus braços envolvendo-a em um abraço firme, como se pudesse, de alguma forma, conter a tormenta emocional que a assolava.

O abraço de Kaleb era uma âncora, uma expressão de apoio silencioso diante da angústia materna. Ele procurava oferecer conforto da única maneira que conseguia, com a força de seus braços e a proximidade que só um filho compreende.

— Eu sinto muito... — ele sussurrou.

Lauren, envolvida nos braços do filho, sentia a pressão amorosa dele como uma dádiva. Kaleb, mesmo sem palavras, tentava ser o refúgio seguro onde ela poderia desaguar todas as dores contidas. O abraço era mais do que um gesto físico; era uma declaração de que, não importasse o que acontecesse, mãe e filho enfrentariam juntos as tormentas da vida.

A medida que Kaleb segurava Lauren, havia um eco de compreensão entre os dois, uma comunicação silenciosa que transcendia as palavras. Os abraços, por vezes, carregam um poder que vai além da linguagem verbal, e o de Kaleb era um lembrete palpável de que ele estava ali, presente e disposto a compartilhar o peso das preocupações de sua mãe.

— Ele não fez por mal — Kaleb pontuou, sem soltar sua mãe por nem um segundo.

— Eu sei, meu amor, está tudo bem — beijou a cabeça do garoto.

— Sei que não está — afastou-se minimamente, para olhar nos olhos da mais vella. — E tá tudo bem não estar bem, você sempre diz isso.

Lauren sorriu, assentindo, e seus olhos marejeram. Lauren, envolvida pelo abraço reconfortante de Kaleb, sentiu uma onda de emoção transbordar em lágrimas silenciosas. Eram lágrimas de gratidão, de pura admiração diante do filho maravilhoso que ela tinha. Cada gota salgada era uma expressão sincera de como o amor materno podia se manifestar em momentos simples e profundos como esse.

As lágrimas de Lauren eram como gotas de agradecimento, um tributo silencioso à grandeza do vínculo que compartilhava com Kaleb. Naquele abraço, ela encontrava um refúgio, não apenas da tristeza recente, mas também um momento para refletir sobre a bênção de ter um filho tão compassivo ao seu lado.

O choro de Lauren era uma sinfonia de emoções, uma melodia que misturava a dor das lembranças recentes com a gratidão pelo presente. Kaleb, ao perceber as lágrimas da mãe, apertou o abraço, como se quisesse absorver qualquer resquício de tristeza que ainda pudesse existir.

As palavras, nesse momento, eram dispensáveis. A linguagem emocional se expressava através da linguagem universal das lágrimas. Era um entendimento mútuo entre mãe e filho, uma comunicação que ultrapassava as fronteiras do discurso verbal. Kaleb, ao proporcionar esse momento de alívio para Lauren, mostrava que a conexão entre eles era algo profundamente especial.

Naquele abraço, Lauren chorava não apenas por aquilo que perdera, mas também por tudo que ganhara ao ter Kaleb como seu filho. As lágrimas, como um rio de gratidão, eram uma resposta ao presente precioso que a vida lhe oferecera na forma desse jovem que a envolvia com tanto carinho.

E assim, entre lágrimas e abraços, mãe e filho compartilhavam um momento que transcendia o tempo e as circunstâncias. Naquele gesto singelo, Lauren encontrava um oásis de conforto, e Kaleb, mesmo sem entender completamente a magnitude desse momento, sabia intuitivamente que seu abraço era uma expressão de amor que alcançava o mais profundo do coração de sua mãe.

O toque estridente de um telefone interrompeu o momento e fez com que Lauren saísse e fosse até o quintal, que ficava na parte de trás, para atendê-lo.

— Lauren Jauregui — disse ao atender. — Desculpe, quem?

A mulher arregalou seus olhos e logo um semblante preocupado tomar conta de seu rosto.

 — A mãe de Juan?

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