INVERNO ARDENTE | Bucky Barne...

De DixBarchester

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Guerra. Hidra. Assassinatos. Pronto para obedecer... O mundo de James Buchanan Barnes estava congelado em vio... Mai multe

✎ INTRO
▶ MÍDIA
❝EPÍGRAFE❞
01. SOZINHO
02. SAVANNAH
03. JAMES
04. VIZINHOS
05. SAM
06. CELULAR
07. STEVE
08. ALPINE
09. ABBY
10. QUEBRA-CABEÇAS
11. GUS
12. SOLDIER'S
13. MÚSICA
14. VERDADES
15. AMIGOS
16. JOALHERIA
17. PESADELO
18. MUDANÇAS
19. CONVERSAS
20. ADEUS
21. RECONCILIAÇÃO
22. AMOR
23. IMPREVISTO
24. LUCIA
26. PRISIONEIROS
27. FOGO
28. ARDENTE
29. TREINAMENTO
30. HERÓIS
31. PEDIDO
32. COMPENSAÇÃO
33. FIM

25. BEVERLY

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De DixBarchester

ALERTA DE GATILHO: Esse capitulo trata de temas como abuso/violência doméstica, embora as descrições sejam leves e subentendidas, ainda é um tema delicado. Leia com responsabilidade. E por favor, se você ou alguém da sua convivência estiver passando por uma situação parecida, denuncie, é importante não se manter calada. 

E aqui estou eu... Quem acompanha meus avisos aqui ou no tt, sabe que eu perdi alguém da família recentemente, por esse motivo todas as minhas histórias estão sem atualizações. Mesmo assim eu queria trazer um mimo de dia dos namorados, porque vocês merecem e porque os comentários de vocês foram uma das poucas coisas que realmente me colocaram um sorriso no rosto por esses dias, então muito obrigada. (tô atrasada pro dia dos namorados, eu sei, mas explico o motivo lá embaixo...)

Boa leitura!

O Departamento de Polícia do Brooklyn era um prédio cinzento e movimentado, naquela tarde as pessoas iam e vinham, entravam e saiam, e os policiais estavam por toda a parte. Do outro lado da rua, uma figura feminina tinha os olhos assustados e o coração disparado, não era a primeira vez que parava ali, mas talvez fosse a primeira em que ela tinha tanta certeza que devia atravessar a rua.

Beverly Porter respirou fundo e apertou os dedos de Mike entre os seus. Estava ali por ele, por seu filho, e por isso sabia que não podia voltar atrás.

Pensou que as coisas realmente dariam certo daquela vez, pensou que Ryan tomaria jeito, afinal ele tinha prometido, ficado de joelhos e implorado por perdão, dito que não podia viver sem a família e que seria um homem melhor daquela vez, porque os amava demais... E Beverly acreditou.

Talvez esse fosse seu erro, acreditar sempre, desejar ver o melhor nele, mesmo quando não havia nada de melhor ali.

Passou os dedos nos lábios cortados pelo último safanão que levara horas antes. Tudo estava bem e então não estava mais... Começou com os sumiços repentinos e com as saídas levando Mike, que cada vez demoravam mais, Beverly desconfiou disso e a verdade lhe chocou, mas não lhe surpreendeu realmente.

Ryan estava usando o menino em suas negociações escusas... Ela devia saber, claro que devia, o marido nunca deixaria de lado o fato de Mike ser neto de quem era, o fato de que ela era filha de quem era.

Quando o confrontou a violência veio, Beverly estava acostumada com isso, com a dor e os tabefes, com ser subjugada e manipulada. Ryan batia, porque sabia que a ludibriaria depois... Mas não naquele dia, não daquela vez.

Porque daquela vez Ryan tinha envolvido Mike em um meio no qual Beverly nunca o quis. Aquilo já tinha ido longe demais. Ela soube naquele momento que se não se posicionasse logo o filho acabaria seguindo os passos do avô e estaria em um caminho sem volta, que só acabava de dois jeitos morte ou prisão.

E Beverly podia ser muito negligente quando se tratava de si mesma, porém quando era sobre Mike ela não poupava esforços para fazer o que fosse melhor para o filho, e o melhor naquele momento era afastá-lo de Ryan permanentemente, mesmo que ele fosse o pai do garoto.

Apertou a mão do pequeno e atravessou a rua, munida de uma coragem que nunca teve realmente, mas que brotava em seu peito graças a Mike. Era mãe e como tal tinha que fazer o certo por ele.

Sabia que não seria fácil, desde pequena nunca teve boas experiências com a polícia, e seu pai também não teve, talvez esse tivesse sido um fator chave na marginalização precoce dele... Mas isso justificava as atrocidades posteriores que aquele homem tinha cometido?

Beverly respirou fundo e deixou esse questionamento de lado, não estava ali por causa do pai afinal, estava ali por Mike e tinha que se manter firme nisso...

Alguns olhos se voltaram em sua direção quando adentrou a delegacia, ignorou isso, assim como ignorou o frio na barriga e o medo latente no coração. De uma forma ou de outra era ótima em ignorar coisas afinal... Ignorava a dor cada vez que a mão pesada de Ryan lhe atingia, ignorava a vergonha das mentiras que tinha que contar para os conhecidos, ignorava o pavor diário de que da próxima vez pudesse ser mais que alguns tabefes, chutes e objetos atirados em sua direção...

Sua vida era um ciclo infinito de ignorar a verdade e se apegar a uma mentira, dizia a si mesmo que tudo melhoraria, mas nunca melhorava de fato. Talvez fosse hora de parar de ignorar.

Um policial lhe atendeu; homem branco, meia idade. Não gostou do olhar dele, não gostou do sorriso escondido nos lábios enquanto ela começava o relato e gostou menos ainda quando ele teclou coisas no computador e parou de repente. Ele tinha descoberto quem ela era.

Aquele era um dos motivos pelos quais ela nunca se prestava a ir até a delegacia, não era só o descaso da policia quando o assunto era violência domestica contra uma mulher pobre e preta, era também a hora que olhavam no sistema e viam o nome de seu pai estampado ali. Então era como se a própria Beverly se tornasse uma criminosa, alguém julgada por pecados que não eram seus, privada de quaisquer direitos básicos. Um compilado de discriminações que culminavam na certeza que de ir até a delegacia era sempre um erro.

Se arrependeu, queria ter pensado em tudo aquilo antes de sair de casa, mas estava tão abalada e sozinha que por um segundo pensou que procurar as autoridades fosse mesmo ser a solução de seus problemas.

Não foi solução alguma, no entanto, apenas uma grande perda de tempo, uma hora depois Beverly ainda estava sentada no mesmo lugar e sequer tinha terminado o Boletim de Ocorrência ainda, o policial a todo momento achava algo mais importante para fazer...

A impaciência de Beverly chegou ao limite máximo, o homem tinha sumido de vista e ela continuava ali sentada, provavelmente ele estava comendo rosquinhas, demorando de propósito para puni-la por ser filha de quem era.

Pensou no pai por um segundo... Às vezes parecia mais fácil ceder ao legado que lhe perseguia, sabia que precisaria apenas de uma palavra para que o pai mandasse alguém aparecer e resolver as coisas. Mas não era isso que queria, não era como seu pai.

Jordan Stryke era um homem inteligente e manipulador, sua vida de crime começou cedo, com pequenos delitos e golpes que ele praticava com seu irmão mais velho, os dois foram pegos diversas vezes o que foi apenas piorando suas índoles com o passar do tempo. Começou a traficar, aprendeu a fabricar as próprias drogas com seus conhecimentos de química e sua inteligência aguçada para aprender novas coisas... Foi nessa época que a mãe de Beverly ficou gravida.

Todavia Jordan sequer viu o nascimento da filha, já que acabou sendo preso com o irmão outra vez. Foi quando o verdadeiro problema começou. Para ver a filha, Stryke bolou um plano de fuga junto com o irmão e um companheiro de cela, uma parceria que do ponto de vista criminoso deu muito certo, eles mataram pelo menos cinco policiais naquele dia.

Jordan assumiu o sobrenome Dixon, e com seus parceiros montou um grupo, ocultados por sobrenomes e uniformes com máscaras, eles podiam continuar seu trabalho discretamente, se mantendo longe do radar da polícia. Assim nasceu a Sociedade da Serpente, Jordan era o líder, conhecido como "O Víbora", seu irmão se tornou o "Enguia", e seu parceiro de cela, agora amigo próximo, que ficou conhecido como "Cobra".*

Conforme Beverly crescia, Jordan se tornava cada vez mais poderoso no submundo, ele descobriu que podia fazer mais do que usar seus conhecimentos para fabricar drogas, produziu um veneno que se tornou sua marca registrada, algo que usava implacavelmente contra seus inimigos.

Enquanto ele se tornava uma figura respeitada na comunidade criminosa, a polícia o caçava dia e noite e Beverly começava a ter ciência do meio em que vivia... O controle do pai era algo sufocante, ele mandava seus capangas flertarem com ela, apenas para que pudesse supervisionar com quem ela saia e dizia estar fazendo isso para "mantê-la segura", porque os inimigos estavam por toda parte.

Foi nessa época que ela conheceu Ryan; ele parecia perfeito, quase como a salvação encarnada, alguém que não seguia as ordens de seu pai, apenas um traficante pequeno que queria mais que tudo sair daquela vida. E Beverly queria exatamente isso também.

Jordan não aprovou aquele namoro de forma alguma, ele jurou Ryan de morte e Beverly, no fim da adolescência na época, achou que estava protegendo seu amor quando entregou o próprio pai para a polícia... Uma péssima decisão.

Quando os oficiais chegaram muita gente fugiu, mas seu tio foi emboscado na linha de frente e baleado, morrendo na hora, seu pai foi capturado ao tentar voltar para salvar o irmão e assim a família se desfez.

Sua mãe lhe renegou, ela dizia que Jordan era um bom pai e um bom marido, mas na época Beverly só conseguia se perguntar: como o líder de toda uma operação criminosa podia ser bom em alguma coisa?

Talvez ele fosse bom mesmo, ou talvez sua mãe só estivesse se recusando a ver a verdade, assim como a própria Beverly passou a fazer um ou dois anos depois, quando as agressões começaram.

Ela e Ryan tiveram que se esconder por muito tempo, os homens fieis ao Víbora os caçaram e teriam continuado nessa missão, caso o próprio Jordan não tivesse ordenado o contrário; Beverly engravidou e, por algum motivo, o homem não permitiu mais que ninguém a incomodasse ou ameaçasse.

Beverly ganhou o direito de viver em paz e nunca mais teve noticias diretas do pai depois disso, sua mãe faleceu antes que Mike completasse três anos, e ela sequer compareceu ao enterro. Também não aceitava qualquer ajuda financeira ou contato com seu progenitor...

Mas por algum motivo ela sabia, com toda a certeza de seu coração, que seu pai ainda controlava as coisas mesmo de dentro da prisão, e ele lidaria com Ryan se ela pedisse, mesmo que cobrasse um preço por isso depois.

Ele provavelmente diria "eu te avisei", apenas para começar...

Mas Beverly não queria nada disso, não queria o legado pesado que vinha no seu sangue, assim como não desejava nada disso perto de Mike, o ciclo de crimes naquela família tinha que acabar.

Porém, pelo visto, não era ali naquela delegacia que nada seria resolvido. Teria que encontrar outro jeito de se afastar de Ryan, um que não envolvesse Jordan Stryke e também não precisasse da ajuda da polícia...

Pegou Mike pela mão e se levantou, o garoto estava inquieto, mas não tinha feito perguntas e Beverly agradecia por isso, porque não saberia o que responder. Odiava que ele tivesse que presenciar as brigas, odiava que tivesse que manda-lo para o quarto todas as vezes, com medo do que aconteceria com ele. Ryan nunca levantou a mão para o filho, mas ela não sabia se era por amor ou por medo do que Jordan podia fazer se soubesse.

Porque Beverly se calava, escondia, mentia, mas Mike era um garoto falante que tinha o carinho de muita gente na escolinha, se Ryan o machucasse alguém descobriria, mesmo que através de um comentário inocente do garoto. E depois disso, seria apenas uma questão de tempo até que O Víbora ficasse sabendo também...

Sempre desconfiou que Mike entendesse mais do que demonstrava, era um garoto perceptivo afinal, mas nunca imaginou a extensão do entendimento dele até aquela tarde, depois da briga, quando ela chorava discretamente e ele se aproximou para abraça-la.

Ryan quis bancar o bonzinho, como fazia sempre que o menino estava por perto, ele agia como se a culpa fosse sempre de Beverly, como se ele fosse um inocente que fazia um grande gesto ao perdoá-la...

Ele disse a Mike que tudo ficaria bem, porque eles eram uma família; "você sabe que eu amo você é a sua mãe, não sabe, campeão?" ele tinha dito com a maior cara de inocente do mundo.

"Então porque você bate nela?" Mike tinha perguntado, e Beverly engoliu o choro, vendo que por trás da pergunta inocente havia uma dose grande e letal de raiva.

Foi quando decidiu que tudo aquilo tinha que acabar definitivamente... Ryan não respondeu, é claro, apenas desconversou e saiu, encarando-a como se Beverly fosse a culpada daquele comportamento. Assim que ele fechou a porta ela se moveu, certa de que era hora de tomar uma atitude.

Mesmo que tudo que quisesse naquele momento fosse sentar e chorar compulsivamente, de dor, de medo, de arrependimento e de solidão... Onde é que tinha enfiado sua vida?

Contudo, tinha sido tola em acreditar que caminhar até a delegacia resolveria tudo, estava indo embora naquele instante, ainda sem saber o que faria a seguir ou como lidaria com seus problemas. Gostaria de ter encontrado Savy mais cedo, porque talvez ela pudesse ter um bom conselho em um momento como aquele — porque ela era a única pessoa que conhecera em todo aquele tempo que não havia lhe abandonado ou lhe virado as costas uma só vez — mas a vizinha tinha saído, não estava nem em seu próprio apartamento nem no do namorado.

Ao menos Beverly tinha quase certeza que eram namorados.

Não que fosse da sua conta, é claro, Mike tinha mencionado coisas sobre o "Soldado Invernal", Beverly conhecia o nome da televisão, assim como conhecia a história de Bucky Barnes do museu, afinal costumava levar o filho lá ao menos duas vezes por mês.

Preferia não opinar sobre Savy se envolver com aquele homem — quem seria ela para julgar a escolha de outra pessoa? — achava perigoso, é verdade, mas ao menos ele era um herói e, por tudo que Beverly sabia sobre o Capitão América graças ao Mike, ela tinha certeza que o senhor Rogers não seria amigo de Barnes senão o achasse confiável.

Além disso, já vira Savannah ao lado do vizinho algumas vezes e ele olhava para ela como se Savy fosse o próprio Sol... Não que desse pra confiar no olhar de um homem, mas enfim...

Não era só porque ela própria tinha um dedo podre para homem que Savannah também teria.

Beverly parou na saída da delegacia e encarou Mike por alguns segundos, ele segurava a mão dela e sorria, alheio a tudo enquanto girava um finger spinner nos dedos livres. O brinquedo tinha, é claro, as cores do escudo do Capitão América.

Pelo menos ele admirava um bom exemplo de mascarado, seria péssimo se se inspirasse no avô...

— Hey... — Ouviu um chamado desconhecido e virou o rosto para encarar o policial que tinha acabado de parar o carro na frente da delegacia. — É Beverly, não é?

Ela reconheceu o homem, era um latino com um cavanhaque bem cortado e uma postura alinhada. Era o oficial que havia prendido Ryan por tráfico uma vez e que volta e meia estava nos arredores do prédio.

Dominique Castillo, Beverly não se lembrava do nome, mas ele estava ali bem visível em uma plaquinha na camisa azul.

— Tudo bem? — Ele perguntou, analisando o rosto dela discretamente. Diferente de sempre, Beverly não tinha coberto seus ferimentos com maquiagem. Ela assentiu mecanicamente, acostumava com o gesto falso que sempre acompanhava aquela pergunta. — Já falaram com você?

Castillo alternou o olhar entre ela e a delegacia, enquanto Beverly se limitava a dar uma risadinha irônica e contrariada.

— Já falaram o bastante... — Moveu um dos ombros e se preparou para continuar andando.

— E solucionariam o seu problema? — O policial se colocou em seu caminho, impedindo-a de prosseguir.

Beverly se calou, ensaiou um movimento afirmativo, mas no fim tudo que esboçou foi um suspiro pesado. Será mesmo que existia uma solução para seu problema?

Castillo suspirou também, alternou o olhar entre ela e Mike, comprimindo os lábios de um jeito compassivo, quase como se soubesse exatamente tudo que tinha acontecido.

— Por que não volta lá pra dentro comigo e me deixa te ajudar? — Ele perguntou em um tom solicito, os incentivando com um gesto de mãos.

Beverly pensou em negar, achou que o único motivo para que aquele homem quisesse ajudar fosse a vontade de prender Ryan outra vez, mas isso podia ser positivo no momento, por isso ela deu meia volta.

Começou a ficar tensa quando foi levada para uma sala típica de interrogatório, ficar sozinha com aquele policial não lhe inspirava confiança, se bem que ficar sozinha com qualquer homem não inspirava confiança...

Ele pediu que ela se sentasse e saiu, Beverly engoliu em seco, pensando em todas as coisas terríveis que podiam acontecer com ela e Mike ali dentro, ninguém sabia onde estavam.

Seu coração já estava aos saltos, estava demorando muito outra vez. Medo e raiva se misturavam em seu peito de forma opressiva, até que a porta se abriu, cerca de quinze ou vinte minutos depois.

Castillo entrou com uma xicara fumegante em mãos, e não estava sozinho. Beverly franziu as sobrancelhas quando o viu entrar com outro alguém que também usava o uniforme da polícia.

— Desculpe a demora. — Ele disse educadamente. — Essa é a oficial Stone, perita em crimes contra a mulher, ela vai conduzir seu depoimento e abrir o boletim de ocorrência. Demorou um pouco, porque tive que pedir que ela viesse do 98º DP.

Beverly quase sorriu; Castillo não tinha apenas trazido uma mulher, ele tinha trazido uma mulher negra. Ela sabia que não era coincidência.

— Obrigada. — Agradeceu, sentindo o coração bater nos eixos de novo.

— Aqui... — Ele colou a xícara fumegante sobre a mesa e Beverly notou que estava cheia do que parecia chã, pelo cheiro era de camomila.

Em seguida ele se virou para Mike e baixou para ficar da altura do garoto.

— Hey, amigo, sabia que atrás daquele vidro tem uma sala e que de lá podemos ver tudo que acontece aqui? — Ele apontou, atraindo a atenção do pequeno para si. — Eu também tenho uns jogos bem legais no meu celular que ficou por lá, quer ir dar uma olhada?

Beverly entendeu que ele estava tentando levar Mike, para que o pequeno não ouvisse tudo e para lhe dar um pouco mais de privacidade com a oficial Stone, mesmo que ainda tivesse deixado claro que estaria ali do lado vendo tudo.

— Tem jogos do Capitão América no seu celular? — Mike perguntou curioso e Beverly percebeu que Castillo reprimiu uma careta imediata.

— Não tem... Mas tenho alguns outros bem legais. — Ele respondeu, voltando a abrir ou sorriso. — Ou podemos baixar algum outro...

Castillo ganhou Mike ali, mas primeiro ele procurou os olhos da mãe em um pedido de permissão muda. Beverly assentiu e logo os dois estavam saindo da sala.

— Acho que Dom é a única pessoa no mundo que não gosta do Capitão América... ou de qualquer outro herói na verdade. — A policial Stone riu, claramente querendo quebrar o gelo e então se sentou na frente de Beverly.

Ambas respiraram fundo, trocando um olhar cúmplice, pois sabiam que o que veria a seguir não seria nada fácil...

Beverly falou por mais de uma hora, foi ouvida com atenção e questionada, depois foi examinada por uma médica legista e todas as provas foram colhidas. Foi doloroso, cada parte do processo parecia arrancar a casca de um ferimento que nunca tinha cicatrizado totalmente. Só quando tudo acabou, quando Stone disse que o material seria encaminhado e que logo sairia um mandado de prisão, já que Ryan tinha passagem e estava de condicional, foi que Beverly realmente se deu conta de uma coisa importante:

Os ferimentos nunca tinham cicatrizado, porque por baixo de cada camada de pele ainda havia sujeira. Naquele momento ela sangrava, ardia e doía mais que nunca, porém, pela primeira vez, ela se sentia completamente limpa...

Estava acabando. Finalmente estava acabando. E dessa vez ela não aceitaria Ryan de volta, mesmo que pra conseguir esse direito tivesse que fugir dele da mesma forma que havia fugido de seu pai.

Já tinha passado da hora de parar de deixar homens tóxicos controlarem sua vida.

— Eu só tenho que ser forte pra continuar pensando assim amanhã, depois e depois... — Murmurou para si mesma, enquanto saía da sala depois de se despedir de Stone, porque a policial ainda teria que lidar com muita burocracia para que todos os tramites relativos a Ryan fossem encaminhados.

Beverly não era burra, ela sabia que a parte mais difícil seria o depois; depois que as marcas sumissem, depois que a dor sarasse, depois que o tempo passasse e ela se sentisse sozinha; depois, quando o cérebro esquecesse o ruim, mas selecionasse pequenos fragmentos do bom para guardar; depois, quando Ryan voltasse chorando, pedindo perdão e prometendo o mundo... Era nesse momento que teria que ser forte.

E daquela vez ela prometeu a si mesma que seria, por Mike, para que ele nunca mais tivesse que se perguntar como era possível alguém amar outra pessoa e ainda assim bater nela, para que ele soubesse que aquilo não era amor e para que ele entendesse que família também podia ferir e quando isso acontecia, tudo bem se afastar...

Respirou fundo e parou em frente a porta da outra sala, mas sequer precisou bater antes que fosse aberta, Dominique Castillo lhe deu um sorriso compassivo e Beverly percebeu os fones de ouvido sobre a mesa de aparelhagem na frente do vidro espelhado, assim como notou que Mike estava absolutamente entretido em um aparelho celular.

— Obrigado por ficar com ele. — Agradeceu, acenando para o filho que sequer pareceu lhe notar ali.

— É um garoto bonzinho, não deu trabalho nenhum. — Castillo respondeu e a analisou por alguns segundos. — O que você vai fazer agora?

— Voltar pra casa. — Beverly respondeu de forma simples, movendo os ombros como se fosse nada demais. Afinal o que poderia fazer além disso?

— Isso não é uma boa ideia... — O policial ponderou, alternando o olhar entre ela e Mike por alguns instantes. — Ryan tem passagem, então vão espedir um mandado de prisão e provavelmente uma ordem de restrição, mas por enquanto não é aconselhável que fique sozinha.

Beverly suspirou, claro que não acabaria tão fácil assim...

— Eu vou ficar bem... — Ela declarou, tanto para Dominique Castillo quando para si mesma.

Ele não pareceu muito convencido, no entanto.

— Não tem ninguém para quem você possa ligar que te leve pra outro lugar? — Questionou e seu tom preocupado fez Beverly ficar um tanto tensa.

Não estava com medo de voltar para casa sozinha antes, mas o olhar do policial parecia um mau-agouro, como se ele já tivesse visto a mesma situação várias vezes e soubesse que ela não acabava bem...

— Vamos fazer assim, eu tenho um amigo, o trabalho dele é basicamente ajudar as pessoas, geralmente ele lida com jovens, mas acho que vai ter um lugar seguro para vocês. — Castillo decidiu, tomando o silêncio de Beverly como resposta.

— Melhor não. Vamos ficar bem. — Ela retrucou de imediato.

Não se sentia confortável envolvendo ainda mais gente no meio daquele problema, além disso aceitar ajuda de um estranho estava fora de cogitação.

Suas experiências de vida tinham feito com que não confiasse facilmente em ninguém.

— Olha... — Dominique usou um tom conciliador. — Sei que tudo isso é desconfortável. Aceitar ajuda de quem a gente não conhecesse é muito estranho, mas é o trabalho desse cara e, apesar de não gostar dos amigos famosos dele, eu sei que ele é alguém de confiança total e sei que não vai deixar nada acontecer com vocês.

Beverly franziu minimamente as sobrancelhas, mas não deu o braço a torcer. Castillo, no entanto, também não desistiu:

— Da forma que eu vejo, você pode arriscar encontrar com o seu marido justo agora, ou pode se afastar uns dias, ficar em segurança de verdade com o seu garoto.

Ela suspirou frustrada, queria acabar logo com aquela história e estava muito perto, "arriscar" parecia uma palavra perigosa demais naquele momento...

— Eu sei quem você é e de quem você é filha. — O policial declarou em um tom neutro. — E sei que o seu marido não está envolvido com gente boa, portanto ele pode querer usar você e o menino como vantagem quando perceber que a polícia está na cola. E você sabe que seu pai ainda tem gente aqui fora. Se você e seu garoto não estiveram envolvidos isso é apenas uma prisão, mas talvez se vocês estiveram ao alcance de Ryan isso possa se tornar uma guerra de gangues com a polícia no meio.

Beverly absorveu aquela verdade devagar, odiava admitir, mas Castillo estava certo, Ryan consideraria aquela denuncia uma grande traição e só Deus sabia como ele reagiria...

Ela tinha certeza de que Ryan era capaz de coisas terríveis. Será que estava disposta a pagar para ver o quão longe ele iria?

— Eu sei que você não quer seu filho envolvido em nada disso... Então pra quê contar com a sorte? — Dominique deu um sorriso compassivo. — Me deixa ligar para o meu amigo?

— Eu posso ouvir que tipo de ajuda ele pretende oferecer... — Beverly finalmente deu o braço a torcer.

Se era sobre a segurança de Mike, "arriscar" não valia a pena.

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

As estradas eram cada vez mais sinuosas e o ar cada vez mais gelado, Savannah Devenport não fazia ideia que o interior de Nova York podia ter um clima como aquele, tampouco tantas montanhas...

Na verdade, estava há tanto tempo na estrada que talvez já tivesse deixado o estado e entrado na Pensilvânia, não saberia ao certo.

Seus olhos alternavam entre as curvas e o celular fixo no painel da moto, o ponto que localizava James ainda se movia. Ou seja, a Hidra ainda não havia se preocupado com o celular dele.

Savannah havia descumprido o que disse aos amigos e se aproximado o bastante para ver o carro algumas milhas atrás. Uma grande imprudência estúpida, mas ela precisava ver se James estavam bem.

Passou bem perto dos dois carros e, por causa dos vidros escuros, foi bem difícil enxergar, mesmo assim notou o vulto de James no banco traseiro, a cabeça apoiada no colo de uma mulher de cabelos negros...

O ódio dentro de si foi tão grande e visceral que teve que usar todo o autocontrole para não fazer uma besteira.

Teve que deixar os veículos se afastarem então, afinal permanecer tão perto por tempo demais podia levantar suspeitas, parou em um posto e aproveitou para abastecer e mandar mensagem para os amigos.

Eles não haviam encontrado Sam ainda, estavam procurando por Terry para, quem sabe, conseguir um número de telefone, mas ele ainda não havia aberto o bar. Mesmo assim Savannah não perdeu o otimismo, sabia que seus amigos contactariam Sam e sabia que ele vira ao resgate de James.

Tudo que precisava era de tempo.

Por isso continuava a seguir os carros, torcendo para que demorassem muito mais para atingir seu destino e para que não encontrassem o celular de James na hora errada.

No entanto talvez tenha pensado isso cedo demais...

Estava no meio da serra quando o sinal desapareceu, marcou o lugar exato em que tinha acontecido e acelerou a moto ao máximo, tentando encontrar o carro da Ministra. Quilômetros depois, Savannah percebeu que eles não podiam ter seguido por ali, isso porque ela estava rápido o bastante para alcançá-los e, mesmo que não estivesse, no meio das curvas havia um engarrafamento, um carro com problemas no motor e uma dezena de outros ali atrás esperando para passar pela estrada estreita, ladeada por montanhas que não permitiram um desvio.

Voltou então, para o lugar em que tinha visto o sinal por último. Era uma parte da estrada cercada por árvores de um lado e um desfiladeiro do outro, com um olhar mais atento Savannah notou um aparelho celular destroçado no acostamento no meio da grama crescida. Foi assim que percebeu as marcas de pneu que seguiam para dentro da mata por uma pequena estrada já coberta por vegetação.

Savannah não pensou muito antes de pegar essa direção, o coração aos saltos por todo caminho e o capacete lhe tirando todo o ar. No entanto, quilômetros depois, bem no centro da mata, o rastro apenas desaparecia sem qualquer explicação. O último sinal de pneus era uma clareira cercada por montanhas, era quase como se o veículo tivesse sido engolido pelo chão ou simplesmente saído voando...

Deixou a moto oculta entre as árvores e desceu para procurar por pistas, mesmo que a luz de fim de tarde já estivesse no fim.

Tudo que tinha ali era... nada. Apenas uma cadeia de montanhas, um monte de árvores e mato.

Tinha realmente perdido o rastro de James.

Talvez a Hidra tivesse carros que voavam ou qualquer merda dessas...

Pegou o celular para ligar para TJ e contar de seu fracasso vergonhoso, sua frustração fazia com que os pulmões quisessem falhar, o medo se espalhando por suas veias e a esperança se esvaindo conforme o pânico vinha.

E se nunca mais visse James?

E se nunca pudesse dizer que o amava também?

Seus dedos tremiam contra a tela do celular, seus olhos enchendo de lágrimas e o coração batendo tão assustado no peito que era como se os sons ao redor fossem totalmente abafados.

Por favor, TJ, tenha uma ideia... Era tudo que conseguia pensar enquanto procurava o contato. Queria ser forte e corajosa, queria ter uma solução milagrosa, mas estava assustada demais com a possibilidade de ter perdido James para sempre.

Se algo acontecesse com ele...

— Eu ficar com isso. — A voz masculina carregada de sotaque soviético a fez dar um pulo de susto e logo o celular não estava mais em suas mãos.

Se virou para o homem atrás de si e sentiu o sangue parar de circular em seu corpo. Era um dos capangas que vira no carro da Ministra...

Era enorme, tanto em altura, quando em músculos, talvez tivesse o tamanho de um urso, o cabelo totalmente raspado e tatuagens nos braços. Savannah devia sentir medo, era o prudente a se fazer, mas ao invés disso ela sorriu.

Não tinha perdido o rastro de James.

— Nossa você me assustou. — Ela sorriu o mais inocente que podia. — Me perdi, sabe? Será que podia apontar o caminho da estrada?

— Você mentir mal. — O homem declarou e era bem claro que não falava o idioma muito bem. — E ser muita pequena. Achar que Vingadores só ter grandes heróis. Você tão pequena que eu conseguir esmagar com minha bota...

Ele apertou o aparelho celular entre os dedos e o objeto virou nada além de pedaços.

— Cara, não faço ideia do que você está falando... — Savannah tentou manter o papel, convencendo a si mesma que tudo que precisava era de tempo. Sam chegaria. Ele tinha que chegar. — E esse era meu celular, isso foi rude.

— Não me enganar com olhos de gato. Saber que estar seguindo nós, fazer tempo. — Ele declarou e Savannah viu que estava encrencada de verdade. — Vingadores gostar pouco do Soldado, mandar Menina Migalha pra ajudar.

Ele riu, e sua risada pareceu fazer as árvores tremerem. Savannah tentou pensar rápido, provavelmente estava morta, mas pelo menos ainda tinha celular de Gus guardado no bolso. Se fosse levada para o esconderijo da Ministra, Sam poderia rastrear sua localização.

— Isso mesmo, seu brutamontes! — Ela apoiou os punhos na cintura em sua melhor pose poderosa. — Eu sou uma Vingadora e se tentar me matar você vai morrer também, esse é meu super poder.

O homem franziu as sobrancelhas, quase como se estivesse lutando para entender tudo que Savannah havia dito.

— Se eu morrer, você morre. — Ela reforçou, achando uma desculpa ridícula, mas torcendo para o homem ser idiota o bastante para acreditar nisso.

— Não receber ordens para matar a Menina Migalha. — Ele disse de forma simples. — Madame Von Bardas querer ver você.

Isso é bom. Perigoso e arriscado, mas bom. Savannah pensou, tentando controlar os próprios batimentos.

Foi empurrada sem nenhum tato e quase desmontou só com isso, mas seguiu de bom grado, caminharam em direção as montanhas e só então Savannah percebeu o óbvio, era ali dentro o esconderijo.

Uma porta metálica se abriu, revelando toda uma instalação dentro da montanha, com certeza havia um estacionamento subterrâneo, por isso o rastro do carro acabava na metade da clareira.

Savannah pensou rápido, sabia que não poderia ficar com o celular, porque certamente seria revistada, então antes de colocar o pé para dentro fingiu tropeçar na grama e caiu, deixando que o aparelho escorregasse para o mato discretamente. Sam saberia o que fazer.

— Menina Migalha ter dois pés esquerdos. — O grandão lhe ergueu pelo braço, como se Savannah não pesasse nada. — Servir nem para mascote do Cerberus.

Ela foi arrastada para dentro, a porta metálica se fechando e o celular permanecendo do lado de fora.

Ainda havia uma esperança.

Contudo, enquanto Sam não aparecia, Savannah teria que ficar cara a cara com a Ministra Von Bardas...

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

Estava em uma das salas da delegacia aguardando o amigo de Castillo chegar, parecia um local de descanso dos próprios policiais a julgar pelos sofás confortáveis espalhados por ali, além da cafeteira e televisão sintonizada em um programa qualquer.

Mike dormia confortavelmente, como se nada no mundo pudesse realmente afetá-lo e Beverly tinha ainda mais certeza que precisava proteger aquela inocência infantil a todo custo...

Se fosse honesta não estava muito confiante de que o tal amigo de Dominique Castillo fosse mesmo prover qualquer ajuda útil. Sequer sabia se confiaria no cara.

Confiar em homens já tinha se provado a decisão errada...

— Mas que fique claro que eu te chamei aqui como agente social, não como o outro você. — Ouviu a voz de Castillo do lado de fora da sala.

— Não tem outro eu, Dom. — A risada masculina lhe pareceu muito familiar. — Ainda sou o mesmo de sempre.

Beverly franziu as sobrancelhas, o reconhecimento estava ali na ponta de sua língua, mas ela não conseguia visualizar realmente.

— Diga-me com quem andas e te direi quem tu és. — Ouviu Castillo em um tom de repreensão, então a porta foi aberta e o policial entrou acompanhado de outro homem. — Beverly, esse aqui é o...

— Samuel... — Ela completou assim que seus olhos pousaram na figura conhecida.

Era o amigo de seu vizinho, o homem por quem Mike andava um tanto obcecado naqueles últimos tempos. Beverly sabia exatamente quem ele era.

— Oi. — Samuel sorriu abertamente, como se aquele fosse um encontro casual e não um que estava acontecendo dentro de uma delegacia.

— Vocês se conhecem? — Castillo alternou o olhar entre os dois e então soltou o ar pelo nariz. — Ah é claro que se conhecem, aquele um mora lá no prédio dela.

— O nome dele é Bucky. — Wilson devolveu com om revirar de olhos e um menear de cabeça, quase como se estivesse totalmente acostumado com a postura do policial. — E ele é de boas, Dom.

— Eu não vou discutir essas coisas com você, sabe minha opinião sobre todas essas pessoas. — O outro retrucou de forma simples. — Só te chamei aqui porque sei que é de confiança por causa de quem você sempre foi antes, não por quem é agora.

Samuel respirou fundo e ergueu as duas mãos, com um sorriso divertido no canto dos lábios. Será que ele nunca se irritava?

— Existem leis por uma razão e seus novos amigos não entendem isso. — Castillo prosseguiu, como se aquela fosse uma verdade entalada em sua garganta há muito tempo.

Beverly tinha acabado de se colocar de pé, não ficava muito confortável com dois homens lhe observando de cima...

O policial pousou os olhos nela e pareceu se lembrar finalmente de qual era o propósito daquele encontro.

— Mas não se preocupe, não estou falando de criminosos, só de "heróis", Sam tem amizades ilustres só isso. — Ele declarou em tom de desculpas, parecendo um tanto constrangido. — Vou deixar vocês conversarem.

Então saiu, antes que Beverly pudesse dizer alguma coisa, fechando a porta atrás de si.

Ela cruzou os braços, estranhamente afetada pela presença masculina, mesmo que estivessem a metros de distância um do outro. Aquela sala parecia pequena demais para os dois. Beverly pensou em acordar Mike "por acidente", porque algo no olhar de Samuel Wilson fazia o ar ao seu redor ficar rarefeito.

Okay, aquilo era bobagem, um homem não devia lhe afetar tanto daquela forma. Mesmo que fosse um homem bonito... Muito bonito.

Sim, Beverly havia notado aquilo, tinha notado desde o primeiro dia, porque afinal apenas uma pessoa cega não veria o óbvio. Porém também era óbvio que jamais diria algo assim em voz alta, não só porque era uma mulher casada e levaria uma bofetada, mas também porque jamais daria uma liberdade daquelas para homem algum.

Tinha dado liberdade assim para Ryan e veja só onde isso a levou.

— Não sabia que era pra você que ele ia ligar. — Apontou a porta recém fechada, preenchendo o silêncio entre eles antes que aquilo se tornasse estranho.

— Somos amigos de longa data e o Dom é meu contato aqui na delegacia. — Samuel deu de ombros, e puxou uma cadeira da mesa que ficava no canto esquerdo da sala. — Mas você podia ter ligado, te dei meu número, lembra?

— Eu não guardei. — Beverly moveu o ombro, sendo mais arisca que o necessário.

Não era realmente de propósito, tinha aprendido a se manter fria com os homens, para a própria segurança. Se Ryan a visse de risadinhas com qualquer um, isso podia geral um hematoma que levaria dias para sumir totalmente.

— Então, quer me contar o que aconteceu? — Samuel perguntou casualmente.

— O oficial Castillo já não contou? — Ela devolveu e disse a si mesma que precisava de verdade pegar mais leve. Era difícil abaixar um pouco as barreiras e abrir mão de velhos hábitos de sobrevivência...

— Eu perguntei se você quer me contar, não disse que não sei de nada. — Ele respondeu, abrindo aquele sorriso leve que tinha.

Beverly respirou fundo e se sentou no sofá em que seu filho ainda dormia. Não queria contar seus dramas e vergonhas outra vez...

Encarou Samuel Wilson por alguns instantes — o Falcão, segundo Mike — quando pensava em heróis não imaginava que eles perderiam tempo ajudando mulheres idiotas em delegacias...

Chegou a desconfiar da certeza de seu filho, mas ele estava certo sobre o vizinho, isso tinha ficado inegável depois que o homem cortou o cabelo; era idêntico as imagens expostas no museu... Então era de se esperar que Mike estivesse certo também sobre Wilson.

— Por que Castillo não gosta de heróis? — Questionou, mudando totalmente de assunto e fazendo com que o homem na sua frente franzisse as sobrancelhas de forma confusa.

— Tem certeza que é sobre isso que quer falar? — Samuel questionou e Beverly moveu os ombros.

— No momento eu não tenho muita certeza se quero mesmo falar sobre alguma coisa com você... — Respondeu, sendo honesta. — Eu mal te conheço.

Estava confusa, ainda não sabia se podia ou não confiar naquele homem, mesmo que ele fosse um herói, então talvez saber os motivos de Castillo lhe ajudasse a tomar uma decisão.

Ou talvez estivesse apenas analisando cada pequena reação de Wilson, tentando encontrar algo de suspeito... Algo que fosse um indicativo que não devia confiar nele.

Mas a quem queria enganar afinal? Ryan tinha dado todos os sinais suspeito ao longo dos anos e ela nunca havia se posicionado contra isso.

Porém não tinha que cometer o mesmo erro duas vezes, certo?

— Ele acha que os heróis, os Vingadores mais precisamente, são desleixados, presunçosos e incapazes de seguir regras. Ele acha que eles são um risco, o tipo de gente que destrói o mundo para salvá-lo, e que depois não se importam com a bagunça que criaram. — Samuel declarou, tão natural como se falasse do tempo, nem parecia que tecia críticas tão firmes sobre o próprio grupo. — Dom acha que bombeiros, policiais e paramédicos deviam receber mais crédito, já que são eles que ficam dias e dias caçando pessoas nos escombros depois que as batalhas acabam.

— É um posicionamento bem especifico. Sabe por que ele pensa assim? — Beverly questionou, apenas para que o silêncio fosse preenchido e não porque realmente estava preocupada com o assunto.

Aquela coisa toda de "heróis" parecia um mundo todo a parte, se não fosse o interesse de Mike, ela sequer saberia quem eram de nome. Ouvir sobre os Vingadores seria quase como acompanhar celebridades fúteis; um desperdício de tempo.

— Dom veio como imigrante, levou muito tempo pra conseguir o visto e mais ainda pra trazer a família. Uma esposa e uma filha... — Sam revelou com um suspiro profundo, quase como se a história pesasse em seu coração. — Eu estava no Afeganistão quando a batalha de Nova York aconteceu, mas pelo que eu soube depois, um dos Vingadores derrubou um daqueles monstros em um prédio. O apartamento do Dom foi atingido, a família dele ficou três dias soterrada. Elas foram socorridas, mas a filha não sobreviveu, o pulmão estava danificado demais, morreu a caminho do Hospital.

Beverly colocou uma das mãos sobre os lábios enquanto tentava processar o choque que aquela revelação lhe causou. Aquilo era uma tragédia... Quando perdeu Mike para o estalo pensou que nunca mais conseguiria ser feliz outra vez, entendia totalmente aquela dor.

— Os médicos disseram que ela teria sobrevivido se a tivessem tirado de lá mais cedo, e Dom acredita que, se os Vingadores tivessem se responsabilizado um pouco mais, se tivessem ficado e lidado com a bagunça que eles ajudaram a criar, ao invés de ir embora como se o dia já estivesse salvo, eles podiam ter conseguido tirar as duas a tempo. — Samuel prosseguiu e era explícito em sua postura o quanto ele sentia muito sobre tudo aquilo.

Não era de se espantar que Dominique Castillo odiasse qualquer herói...

— Essa história é terrível. — Beverly lamentou, negando algumas vezes e pousando os olhos sobre Mike que dormia ali do lado. Apenas a lembrança de perdê-lo já era capaz de assombrá-la mais do que qualquer outra coisa. — E como a mulher dele ficou depois de tudo?

— Ela se recuperou, mas não conseguiu superar a perda, ela se jogou do mesmo prédio meses depois, assim que as obras de restauração foram concluídas. — A resposta veio em um tom pesado, constrito, Wilson apoiou o cotovelo na mesa e passou a mesma mão no rosto. — Por isso, quando Dom fala mal dos meus amigos, ou do tipo de vida que eu escolhi levar, eu relevo. Ele é um bom cara, um dos melhores, e se pra seguir a vida ele precisa encontrar alguém pra culpar... Acho que não é uma coisa tão terrível assim.

Moveu os ombros de forma compassiva, aquilo explicava muito sobre o policial, é claro, mas também dizia bastante sobre Sam Wilson, afinal a forma como ele não levava a postura de Castillo como uma ofensa pessoal dizia que ele entendia a dor do amigo muito mais do que palavras poderiam expressar.

— Ele tentou responsabilizar os Vingadores, mas claro que não funcionou. — Continuou contando. — Agora ele tem um arquivo nem-tão-secreto sobre cada herói conhecido, acho até que tem um sobre mim... — Riu de canto, mesmo que não houvesse humor em seu tom. — Mas isso é bom. Quando se tem tanto poder em mãos, é importante que alguém comum se levante e diga "estou de olho, não abuse, faça as coisas direito". Sabe como é?

Beverly suspirou, entendia a postura arisca de Castillo muito bem, afinal como confiar em heróis depois do que tinha acontecido? Seria o mesmo que ela confiar em qualquer homem que cruzasse seu caminho.

Pessoas feridas sempre seriam defensivas e, algumas vezes, essa postura podia ser mais rude e crítica do que pretendiam realmente... Mas isso não fazia de ninguém uma pessoa ruim.

— Não entendo muito, eu não sou o tipo de pessoa com "tanto poder" e muito menos alguém que se levanta para dizer alguma coisa... — Ela deu de ombros de forma neutra.

— Discordo. Você está se levantando agora, não é? — Samuel revidou e deu outro daqueles sorrisos. Por que ele sorria tanto? — Pode não estar se levantando contra o Thor ou o Hulk, mas ainda assim está se levantando contra alguém mais forte que você.

— É claro... — Beverly concordou sarcástica. — E com isso acabei enrolada na delegacia, porque o policial acha que eu e meu filho vamos nos ferrar no meio de uma guerra de gangues.

Wilson franziu minimamente as sobrancelhas e ela percebeu que seja lá o que Castillo havia contado, isso não incluía os crimes do Víbora.

— Eu sou filha do que vocês chamariam de "supervilão" — Ela riu da palavra, mas no fundo queria que Samuel se assustasse com a verdade e parasse de ser legal.

Ele desistiria daquela ideia boba de ajudá-la se soubesse logo a história toda. Isso evitaria muitas decepções futuras, além de fazer aquele homem parar de ser tão legal daquele jeito...

— Entendi... — Ele moveu a cabeça devagar, mas voltou a sorrir logo em seguira. — Mesmo assim, ninguém vai machucar vocês, Beverly, eu garanto. Além disso eu disse que você tinha que se levantar sozinha, não é?

Certo, ele não tinha simplesmente virado as costas e ido embora, aquilo era de fato uma surpresa... Por que ele não estava indo embora? Por que ele continuava sendo tão legal?

Não eram coisas com as quis Beverly estava acostumada. Ninguém era legal com ela a menos que quisesse algo... Além disso, sempre que qualquer pessoa sabia quem ela era de verdade, a olhavam como se tivesse uma dezena de crimes nas costas.

Ryan sempre dizia que ninguém jamais gostaria dela quando soubessem o sangue que corria em suas veias.

Sequer vai perguntar quem é meu pai? — Questionou, vendo que Samuel tinha apenas desconsiderado aquele assunto e sendo incapaz de entender aquele homem.

— Você não é seu pai. — Ele moveu os ombros como se fosse a coisa mais simples de todas. — Além disso, seja lá quem ele for, se você compactuasse com as ações e métodos dele, estaria resolvendo seu problema de outra forma. Não aqui na delegacia. Às vezes a família é um ponto positivo em nossa vida, as vezes não, mas ainda assim temos o direito de sermos julgados e conhecidos apenas por nossas próprias ações. Sangue e sobrenome não deviam contar na nossa reputação.

Beverly com certeza não esperava ouvir aquelas palavras, tampouco esperava sentir honestidade nelas. Sempre existiu uma vozinha em sua mente dizendo que era menos digna por ser quem era e provavelmente era a primeira vez na vida que ouvia algo contrário disso.

Talvez pudesse confiar um pouquinho em Samuel Wilson...

— E o que você vai fazer? Vestir seu uniforme estranho e ir atrás do meu marido? — Perguntou, tentando não soar tão arisca como sempre.

Não estava muito segura de que aceitar ajuda era a decisão certa, principalmente de um homem. Parte de suas defesas ainda acusavam que ele cobraria aquele favor cedo ou tarde, de uma forma que Beverly não gostaria de pagar, mas ela lutou contra sua própria mente nesse ponto e preferiu acreditar que Sam não era esse tipo de pessoa.

— Não... — Ele negou algumas vezes, franzindo o nariz. — Acho que se eu fizesse algo assim Dom me prenderia por obstrução à justiça, acho até que atiraria em mim... Pior, acho que ele ficaria feliz por atirar. — A risada descontraída fez com que Beverly reprimisse um sorriso. — Além disso não estou aqui como o Falcão, estou aqui apenas como o Sam.

— E o que o Sam vai fazer? — Perguntou, notando que era natural para ele ser aberto e simpático.

Ele provavelmente agia assim com todo mundo, não era algo exclusivo de sua interação com ela...

E talvez fosse exatamente isso que inspirava confiança em Sam Wilson, ele era quem era, não precisava se moldar para adequar-se a quem estava ao seu redor.

— Vou levar vocês dois pra um lugar seguro até que o Dom faça a parte dele e pegue seu ex-marido. — A ênfase na palavra fez com que Beverly focasse os olhos nele.

Sim, ex, aquela denúncia era o ponto final do casamento dos dois, mesmo que os tramites legais ainda não tivessem em processo...

Beverly não tinha pensado nisso de forma prática ainda, quase como se a ficha não tivesse caído de verdade. Estava abrindo mão de um casamento de anos, era isso que queria?

Imaginou como seria a vida sem Ryan; tinha amado aquele homem por mais de uma década, o mais próximo que conheceu de amor ao menos, no entanto de todas as coisas que notou que perderia, de todas as dificuldades que sabia que enfrentaria, Beverly se deu conta, pela primeira vez, que viver sem Ryan Porter também significaria viver sem medo... Não ficaria mais tensa ao interagir com alguém casualmente em qualquer ambiente, temendo que o marido pudesse ver e surtar; não ficaria com o coração aos saltos por chegar atrasada em casa depois do serviço por causa da demora do ônibus; não haveria a incerteza diária de "hoje vai ser um bom dia ou ele vai explodir e me deixar marcada por semanas?"; não teria pânico do que enfrentaria a noite quando deitasse na cama...

Seria livre.

Suspirou, sentindo o peso da própria existência parar de pressionar seus ombros. Sim, queria isso, por mais que uma separação fosse doer, por mais que criar o filho sozinha, sem uma figura paterna, fosse se tornar um desafio... Queria ser livre.

Queria parar de viver com medo.

— Que lugar? — Questionou, tentando focar no que precisava fazer para alcançar aquele objetivo.

— Na verdade ainda não sei... — Sam gesticulou de forma casual, então se colocou de pé. — Mas vou achar um lugar, nem que tenha que ser na minha própria casa. Vamos?

— Você dá abrigo na sua própria casa pra todas as pessoas que ajuda? — Beverly se colocou de pé também, sem conseguir reprimir suas defesas de falarem mais alto que sua gratidão.

— Só pra algumas pessoas na verdade... — Ele deu de ombros como se fosse nada. — Para o Capitão América e pra Viúva Negra por exemplo. Eu os conheci em um dia e um tempinho depois estavam os dois na minha porta, duplamente ferrados.

— Isso é sério? — Ela estreitou os olhos para a naturalidade com a qual a história foi contada.

Tentou acordar Mike enquanto isso, mas o garoto não dormia, ele hibernava, e depois de um dia cansativo física e emocionalmente como aquele era óbvio que sequer abriria os olhos.

Sam se colocou na frente dela e apontou o pequeno em um movimento simples, pedindo permissão sem precisar de palavras. Beverly, ainda incerta sobre isso, assentiu.

— Seríssimo. — Ele respondeu simples, enquanto pegava Mike no colo com toda a delicadeza do mundo e o aninhava em seus braços.

Merda, ele era fofo. Beverly tentou não sorrir com a visão adorável e reprimiu seus pensamentos no mesmo instante. Aquilo não era nada demais...

— Melhor dia da minha vida. — Sam continuou falando daquele jeito descontraído, enquanto ela abria a porta e eles deixavam a sala. — E pior também, porque eu quase fui assassinado por um Super Soldado controlado por uma organização nazista.

Ele riu quando disse isso, mas Beverly lhe encarou assustada.

— Sua vida é sempre tão agitada assim? — Perguntou, notando o quão fácil era conversar com ele.

Ryan e ela nunca conversavam, suas interações viravam brigas na maior parte do tempo.

— Não, às vezes eu só vou no mercado comprar frutas. — Ele riu da referência interna que obviamente Beverly entendeu muito bem.

Se despediram de Castillo antes de deixar a delegacia, lá fora a noite já havia caído e um vento gelado castigava a cidade, provavelmente choveria em breve.

Sam colocou Mike deitado no branco traseiro e foi atencioso o bastante para pegar uma coberta no porta-malas e cobrir o garoto.

— Por que tem esse tipo de coisa no seu carro? — Beverly perguntou curiosa.

— Eu recolho todo tipo de doações, a maior parte levo para o centro comunitário, mas gosto de manter um cobertor ou outro sempre a mão, porque nunca se sabe quem vamos encontrar na rua. — Ele disse de forma casual, provando que aquilo lhe era natural.

Aquele homem realmente existia?

Sam fechou a porta de trás com calma, tendo cuidado para que o barulho não assustasse Mike. Os olhos de Beverly mediram o carro por alguns instantes então, enquanto ela esfregava os braços por causa do vento...

Não entendia o bastante para saber que marca ou modelo era, mas era um carro antigo, isso ficava claro, tinha um tom de azul claro, um design um tanto quadrado e estava bastante desbotado. Muitos diriam que era uma coisinha feia e velha, comparado aos carros modernos que iam e vinham por toda a parte, mas na verdade Beverly achou que havia um certo charme nele.

Samuel deu dois passos em sua direção, enquanto tirava o casaco que usava e o estendia para ela.

— Aqui, veste. Está esfriando. — Disse de forma simples e Beverly o encarou por alguns segundos, totalmente sem reação.

Pensou em negar, mas o choque para a atitude repentina e atenciosa lhe pegou tão de surpresa que o reflexo lhe fez erguer a mão antes de realmente pensar sobre isso.

Droga, o que ele pensaria dela por agir daquela forma?

— Olha... — Tentou devolver a peça e usar um tom neutro e educado, que não o ofendesse, afinal ele estava sendo muito gentil. — Você é legal e eu agradeço de verdade a ajuda, mas se vamos fazer isso, você tem que parar de flertar comigo, Samuel.

Ele riu daquele jeito descontraído e leve que tinha. Pegou o casaco de volta, para então dar mais um passo na direção dela e colocar a peça sobre seus ombros.

Beverly engoliu em seco, os olhos presos nos dele, quase como se o homem, de alguma forma clichê e idiota, fosse magnético. Devia ter se afastado no mesmo instante, mas suas pernas não obedeceram ao comando daquela parte arisca de seu cérebro.

Deus, ele era cheiroso. Algo leve, um tanto cítrico, muito urbano. Beverly tentou a todo custo apagar essas impressões de sua mente e fazer uma expressão brava que o afastasse de si.

— Eu não estou flertando, Beverly. Só estou cuidando de você. E me certificando de que vai ficar segura de todas as formas. — Sam disse com a mesma naturalidade de sempre, então focou os olhos nela também. — Quando eu estiver flertando, você vai saber.

Se afastou então, deixando-a com o casaco sobre os ombros, sem prolongar a proximidade nenhum segundo a mais que o necessário.

Espera, ele tinha acabado de dizer "quando"? Beverly se esforçou para que sua mente não divagasse sobre isso, era só modo de falar.

Wilson abriu a porta do passageiro e ela entrou no carro, recriminando as próprias pernas por tremerem tanto por causa de uma interação boba. Era o frio, apenas isso.

— Ah, e é Sam, apenas Sam. — Ele disse casualmente, quando se sentou no banco do motorista. — Só minha mãe me chama de Samuel... Isso quando ela está brava comigo.

Beverly pensou em retrucar que não se conheciam o bastante, mas isso seria falta de educação. Além disso Wilson estava sendo gentil e prestativo, fazendo-lhe um grande favor ao lhe ajudar daquela forma. Não custava nada.

— Certo, Sam, apenas Sam. — Ela concordou enquanto colocava o cinto. — Nesse caso você pode me chamar de Bev, apenas Bev.

— Eu posso me acostumar com isso. — Ele assentiu, deixando que seu rosto se iluminasse com um sorriso satisfeito e dando a partida no carro. — Na verdade, acho que esse é um bom começo de amizade, Bev, apenas Bev.

Beverly acabou rindo da forma como Samuel disse aquilo, era contagiante interagir com alguém como ele... havia uma leveza na forma como ele falava, e ela não conhecia nenhum homem daquela forma, com o humor sempre em alta e aquela disposição em ajudar as pessoas.

No fundo ainda achava que cedo ou tarde tudo aquilo sumiria diante de seus olhos.

Mas naquele instante ela se limitou a agradecer a Deus por colocar alguém daquele jeito em seu caminho. Vinha rezando por ajuda afinal, mas nunca imaginou que a ajuda viria daquela forma...

Estavam parados em um semáforo na Quinta Avenida, quando o celular de Sam tocou no painel. Ele esticou o pescoço para observar o visor e franziu as sobrancelhas.

— Estranho, não conheço esse número... — Comentou para si mesmo, então pousou os olhos nela. — Se importa se eu atender no viva-voz, não gosto de segurar o celular enquanto dirijo?

Ele era responsável... Beverly sorriu de canto, percebendo que não estava surpresa com isso, então assentiu.

— Alô? — Ele atendeu, deixando o celular no painel.

— Sam Wilson? — A voz feminina do outro lado da linha perguntou e o tom urgente atraiu a atenção de Beverly. Parecia importante.

— Isso... — Ele respondeu, franzindo as sobrancelhas.

— Graças a Deus! — Várias vozes fizeram eco.

— Olha, não sei como conseguiu esse número, mas se for algum tipo de brincadeira eu vou... — Ele começou e Beverly imaginou que, por ser quem era, devia receber muitos trotes.

— Espera! Espera! — As várias vozes pareceram tão desesperadas que era quase como se tivesse um incêndio acontecendo em algum lugar.

— Me dá isso aqui... — Uma voz masculina e jovem foi ouvida ao longe, quase como se brigasse com alguém do outro lado, mas logo se tornou bem mais próxima. — Me desculpa, senhor Wilson. Meu nome é TJ, o assunto é sério.

— Pode falar então...? — Sam declarou, ainda com as sobrancelhas franzidas, porém parecendo mais preocupado.

— Conseguimos seu telefone com o Terry do Soldiers, eu sou amigo da Savannah... — O garoto declarou, acalmando a voz aos poucos.

Beverly encarou o telefone de forma desconfiada, sentido que era mesmo urgente.

— Espera, a Savannah do Bucky? — Sam perguntou de repente e encostou o carro em uma vaga na calçada.

— Isso. — O rapaz confirmou. — É sobre o Bucky. Ele está encrencado...

Sam respirou bem fundo, mas não parecia realmente abalado quando pegou o telefone e o tirou do viva-voz.

— Até que demorou... — Soltou o comentário bem-humorado e deu um sorriso para Beverly, quase como se quisesse acalmá-la, então colocou o aparelho no ouvido. — Vamos lá, me conta tudo...

É, pelo visto a vida de Sam Wilson era mesmo agitada.



*Jordan Stryke/Dixon é um personagem canon das HQs Marvel, ele foi o primeiro personagem a usar o nome e o traje de Víbora (ele não tem uma filha, no entanto) a Sociedade da Serpente também é um grupo canon, assim como seus integrantes.

Saverly é amor demais, só isso ❤
(mentira, óbvio que não é só isso kkkkk)

Beverly podia facilmente sustentar uma história solo de tão perfeita que ela é, tenho muito orgulho dela ❤❤❤ Mas antes que perguntem, não, a escolha dela no centro desse capitulo não tem a ver com o movimento BLM/VPI, o capitulo dela já estava planejado para ser o 25, e sendo escrito, então tive o óbito na família e ficou pausado aqui, daí veio todo o movimento (muito necessário a propósito). No entanto, me sinto muito honrada de poder dar visibilidade pra ela justo nesse momento, aprendo demais com a maioria dos meus personagens, já que tenho que fazer pesquisa pra escrevê-los e a Beverly é uma grande lição. 

Deixando a estrela do capítulo de lado um pouquinho, tivemos uma outra surpresa neh? Dom, que todo mundo tinha escolhido como personagem número 1 para odiar, tem um história trágica e no fim não tem birra com o Bucky especificamente (só com todos eles no geral mas quem podem culpar neh?), não me matem agora, mas eu adoro ele kkkkkk

E claro, teve o Sam sendo perfeito, mas isso não é novidade na rodinha kkkkk

Agora a dona Savannah acabou bem encrencada... (Nada que a gente já não desconfiasse) E gente, eu tenho que falar: eu amo o Nik, ele é demais, não consigo não rir dele chamando a coitada de "Menina Migalha"

Agora, antes de ir embora (caramba isso tá ficando grande) o motivo de eu der postado hoje foi, como eu disse ali em cima, o dia dos namorados, afinal Inverno Ardente tem meu casal preferido. No entanto, eu demorei porque na verdade a surpresa não é o capitulo em si, e sim um vídeo que eu fiz pra Savky, que é meu casalzinho xodó. Ele vai ficar aqui em baixo.

É isso, eu volto assim que possível.
Beijos e até!

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