Estação Azul

By LyvianOhara

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[Segunda história da série Uma Luta Por Dia] Após um grave acidente, John precisa seguir sua vida sem a garot... More

1 - Carta 1
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6 - Carta 2
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8 - Carta 3
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11 - Carta 4
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20 - A última carta
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By LyvianOhara


               Nós ficamos umas duas horas sentados conversando, a Kate relaxada era bem mais legal do que eu esperava. Nós descobrimos que ela era agnóstica e gostava de ler, o que rendeu um pouco de conversa entre ela e Chris (quando eu digo um pouco é com ele falando bem pouco mesmo, mas já era mais do que ele normalmente falava). Depois de horas, que mais pareceram minutos, Kate começou a juntar suas coisas e disse que precisava ir, tinha que passar em casa antes de ir pro serviço, Chris se ofereceu para acompanhá-la, já que ele também precisava passar na casa dele antes de ir pro serviço. Eu e Owen até iríamos junto, se Owen não tivesse tomando seu terceiro copo de suco.

        - Te vejo amanhã? - ela me perguntou.

        - Claro, que horas? - eu quase tinha me esquecido da festa.

        - Não sei, que horas fica bom pra vc?

        - Não tenho absolutamente nada planejado pra amanhã, então qualquer horário fica bom.

        - Tá... - ela pensou um pouco - Pode ser umas nove?

        - Pode sim, a gente se encontra onde? Porque eu não faço a mínima ideia de onde é.

        - Pode ser na frente da faculdade, é caminho pra mim.

       - Marcado, então.

       - Certo... eu vou indo. - disse meio sem jeito - Tchau, gente.

       Kate pegou suas coisas e se afastou, Chris se despediu e foi atrás. Quando olhei novamente pra Owen, ele me encarava como quem esperava explicação pra alguma coisa.

        - O que foi? - perguntei, confuso.

        - "Te vejo amanhã"? Amanhã é sábado, o que é que eu não to sabendo?

        - Ah, ela me convidou pra ir numa festa da atlética com ela. Eu não tinha muito que fazer, então aceitei.

        - Entendi... - disse balançando o copo em sua mão - Então você vai na festa da atlética com ela... não sabia que estavam tão próximos...

        - Qual o problema? - ele estava agindo estranho.

        - Nenhum... só vocês dois... - Owen abriu um sorriso largo.

        - Ela disse pra chamar vocês, mas vocês vão viajar. - eu não tava acreditando que ele estava me provocando por aquilo.

        - Você sabe o que acontece nessas festas, né?

        - Não me desanima ainda mais de ir, já acho que vai ser estranho o suficiente.

        Owen deu uma gargalhada como sempre fazia, e como sempre eu acabei rindo junto.

        - Por que acha que vai ser estranho?

        - Eu mal conheço a Kate, provavelmente vai ficar mó climão e sem assunto.

        - Qual é, a gente ficou umas duas horas sentados aqui conversando, sabemos até o nome do animal de estimação que ela tinha quando tinha dez anos.

        - Mesmo assim, sei lá.

        - Nem toda amizade é sobre tempo, John.

        - É, eu acho que você e o Chris tão de prova disso na minha vida.

        - Por favor, nos ame menos. - ele sorriu de novo, seu celular vibrou na mesa e o que Owen viu na tela tirou o sorriso de seu rosto.

        - O que foi? - perguntei, preocupado.

        - Não foi nada. - respondeu colocando o celular de volta na mesa.

        - O que eu menos vejo é você não sorrindo. Tem certeza que não foi nada?

        - Tenho. - o rosto dele dizia outra coisa.

        - Owen?

        - São só uns idiotas que aparecem de vez em quando, é normal, tá tudo bem.

        - Como assim?

        Owen pegou o celular e entregou na minha mão, havia uma notificação de comentário na foto que ele tinha postado com a gente mais cedo. Era uma conta com um nome totalmente falso, estava escrito "Olha só, e não é que o viadinho tem amigos? Aposto que paga pra eles fazerem companhia hahaha". Eu fiquei encarando aquele comentário, lendo de novo e de novo, qual era o propósito daquilo?

        - Isso acontece sempre? - perguntei devolvendo o celular, eu me sentia tão mal pelo que tinha lido que ficou até difícil de me expressar.

        Owen balançou os ombros e tomou um gole de suco.

        - Antes acontecia mais, agora pelo menos é só pela internet. - eu não sabia dizer o que havia em seus olhos, era como se ele se esforçasse para não se importar, mas aquilo ainda o machucava.

        - Diziam essas coisas pra você?

        Ele olhou pra mim, cerrou os olhos e sorriu de lado.

        - Você não conhece muitas pessoas homossexuais, né? - me perguntou.

        - Pra ser sincero, eu sou bem de fora dessa realidade. Você é a primeira pessoa próxima a mim que é.

        - As pessoas falam coisas ofensivas na sua cara sem motivo algum, elas te tratam como um alienígena e se vêem no direito de te agredir como bem quiserem. - Owen encarava o copo como se ali dentro estivesse a coisa mais incrível que já tinha visto - Pra ser bem sincero, eu dei sorte. Na época da escola eu era capitão do time de basquete, então as pessoas até que me respeitavam, aí eu só tinha que lidar com isso fora da escola. Depois que comecei a namorar o Chris as agressões e ofensas na minha cara pararam, ninguém quer se meter com o "Christian". Então eu só tenho que lidar com essas mensagens e comentários anônimos. Mas não é todo mundo que tem esses privilégios, sabe? Ainda tem muitos dos nossos que morrem por aí por simplesmente serem quem são, ainda tem muita gente que tem medo de sair na rua com a pessoa que ama ou até mesmo de sair pra se divertir com alguém e outra pessoa de fora resolver bater neles... toda vez que eu penso nisso eu me sinto impotente e pequeno. Eu faço o que posso pra mudar esse cenário, mas sou só um.

        - Se... tiver algo que eu possa fazer, é só me falar.

        Owen voltou a olhar pra mim e sorriu.

        - Eu acredito na conversa, só de se conscientizar e passar pra frente a conversa você já vai estar ajudando bastante.

        - De certa forma, é engraçado como existem tantas realidades diferentes daquela que a gente tá acostumado.

        - Pois é... - Owen colocou o copo vazio na mesa e se ajeitou no banco - Desculpa pelo elefante que coloquei em cima da gente.

        - Tudo bem. É bom falar sobre esse tipo de coisa. Também é bom pra me puxar mais pra realidade e ver minha vida por um outro ângulo.

        - Está falando da Jessie?

        - Também. É só que... tudo poderia ser mais difícil e eu fico aqui me lamentando e tornando minha vida complicada por conta própria.

        - Tá tudo bem lamentar por sua dor, não é só porque a dos outros parece pior que você não possa sofrer com a sua ou que elas sejam realmente pior. Só a gente sabe o que sente.

        - Uau. - olhei para Owen meio surpreso, com as sobrancelhas arqueadas, eu esperava algo assim do Chris, mas dele esperava um tapa de realidade.

        - Acho que passo muito tempo com o Chris. - ele riu - Bem, momento "Chris" passou. Você já resolveu o que vai responder pra ela?

        - Eu acho que vou só agradecer pela mensagem... não tenho o que dizer... e eu não quero que essa mensagem se torne uma conversa.

        - Então não vai tentar falar com ela, mesmo sabendo que você tinha se enganado?

        - Não... eu já me martirizei demais por ela, quero reencontrar uma parte minha que sumiu faz um bom tempo.

        Owen riu de novo.

        - Eu diria que esse é um papo muito viajado, mas eu te entendo. Uma vez o Chris me disse que eu não poderia amar alguém se não me amasse antes, na hora eu achei meio ridículo, mas hoje eu sei que é verdade. Então vai atrás de se conhecer e se amar, depois quem sabe ela vem... ou outra garota, vai saber.

        - Você tá muito Christian hoje.

        - Também to achando, ele é uma péssima influência pra mim! - disse brincando e riu - Eu acho que já faz muito tempo que estamos aqui.

        - To achando o mesmo.

        - Então vamos, eu ainda tenho que arrumar minhas coisas pra levar na viagem amanhã.

        - Vamo.

        Nos levantamos e saímos, o lugar já começava a encher com pessoas que chegavam para o almoço.

        - Então... festa com a Kate. - Owen disse provocativo, com um sorriso no rosto.

        - Me deixa em paz.

        Nós dois rimos e então um silêncio caiu entre a gente, eu queria poder ajudar Owen, queria poder fazer com que todas aquelas ofensas parassem. Ele seguia em silêncio, seu rosto parecia neutro, estava difícil de ler. Tentei puxar um assunto qualquer.

        - É estranho Heiwa ter uma faculdade tão conhecida e ser tão pequena.

       - Muita gente vai embora depois que termina a faculdade, outras têm medo de cidades circundadas de florestas.

        - Não faz sentido nenhum.

        - Existem boatos de seres não-humanos em várias florestas do país.

        - Você acredita nisso?

        - Pra mim é conto de sereia.

        - Conto de sereia? - quê?

        - Não dizem isso em Tenshi no Machi?

        - Não, pelo menos nunca ouvi dizerem.

        - A gente diz que é conto de sereia quando acha que é algo inventado.

        - Então você acredita nas Deusas do Tempo, mas não acredita em seres não-humanos?

        - A linha é tênue, mas são coisas diferentes. - ele parecia estar se divertindo com a conversa.

         - Eu acho que seria interessante se esses seres existissem.

         - E você acha que a existência deles já não seria comprovada? Será que eles conseguiriam se esconder entre a gente por tanto tempo?

        - Não sei... vai que conseguem.

        - É uma possibilidade, mas eu ainda acho que é conto de sereia.

        - E se eu te contasse que já tive contato com algo que a única coisa que explicaria o que foi seria a existência de seres não-humanos, você diria que é conto de sereia?

        - Totalmente. - ele respondeu no mesmo instante, fiquei em silêncio só pra deixar minha fala incomodando ele - Você teve? - perguntou alguns segundos depois.

        - Não. - ri e ele riu junto, depois me chamou de idiota.

        Nesse ponto já tínhamos nos aproximado do prédio que era os aposentos da faculdade. Me despedi de Owen na porta do meu quarto, no fundo uma parte de mim não queria entrar, eu sabia que quando entrasse eu ia sentir o peso de novo, eu sabia que a dor e os pensamentos voltariam. Mas aquele dia foi diferente. Eu entrei no meu quarto e encostei na porta, olhei em volta, tudo em silêncio, eu estava sozinho. Respirei fundo. Estava sozinho e a dor que veio foi pequena, a tristeza foi pequena, a solidão foi pequena. Um sorriso leve apareceu no meu rosto.

o/\o

'It's just a spark but it's enough to keep me going'

- Paramore

Uma saudação de Wakanda, um beijo e até a próxima ;)

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