𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀

Por agtpro

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Se o restante da sua vida se resumisse apenas a um dia, você estaria salvo ou condenado? ... Más

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Por agtpro

ARABELLA BLANCHARD

Abro meus olhos com cuidado, uma forte dor na cabeça aparece e eu olho ao redor. Meu peito grita de medo enquanto me levanto depressa e recolho minhas pernas para junto do peito. Está tudo escuro ao meu redor, é tudo lindo e amplo. Uma grande varanda em vidro está bem a minha frente mostrando a noite estrelada, o sofá é escuro e confortável. Tento me recordar do que aconteceu e apenas consigo me lembrar de Hunter.

Merda, eu apaguei, de novo.

Olho ao redor vislumbrando bem o lugar onde ele mora e fico confusa. É arrumado, elegante e cheira a limpeza. Há uma pequena luz acesa afastada da sala, me levanto em silêncio e observo ao meu redor. Uma sala razoável de paredes claras e móveis escuros, há uma elevação na mesa de jantar para quatro pessoas, um piano preto de cauda se encontra entre a sala de jantar e a sala de estar, a cozinha é aberta, separando os cômodos apenas com uma ilha de mármore grande e as portas metálicas do elevador. A luz vem de um corredor ao lado da cozinha e eu fico curiosa. Arrumo meus cabelos e sinto meu coração a mil por hora, eu não deveria estar aqui. E se ele fez alguma coisa comigo?

Meus pés tocam levemente no piso frio e percebo que nada ali é pessoal, é apenas um grande apartamento elegante que se parece muito com um decorado para vendas. Vou em direção a luz e encontro um corredor com quatro portas, a primeira a esquerda está com aberta e vejo um pequeno lavabo, caminho adiante e vejo duas portas do lado direito e uma no final do corredor. A primeira porta do lado direito está fechada e a segunda entre-aberta, caminho com a minha curiosidade e olho dentro do cômodo encontrando uma mesa de vidro com vários papéis, uma cadeira de couro branco e um notebook de última geração, o pequeno escritório possuí uma aparência confortável e acolhedora. Continuo caminhando até a última porta e sinto minhas mãos começarem a suar, levanto meu punho para bater mas ela é aberta rapidamente.

– Porra, que susto – Hunter possuí sua voz mais rouca que o normal enquanto fecha os olhos e abre a porta por completo. Ele está com uma calça de moletom cinza e sem blusa, observo uma tatuagem incomum no seu peito esquerdo, uma palma humana aberta, marcando todos os dedos e digitais, os cabelos estão molhados e ele cheira perfeitamente bem. Deus, estou no paraíso.

– Desculpa – tento desviar meus olhos para baixo, mas só piora quando observo pequenas marcas de musculação no final do seu abdômen e uma cicatriz diagonal que possuí embaixo uma tatuagem escrito "recomeço".

– Eu já ia ver se você tinha acordado – ele volta para dentro do quarto e pega em uma blusa branca em cima da sua cama, antes posso reparar que ele tem outra tatuagem enorme em suas costas, me parece um Leão, mas não consigo ver bem. Me deixo observar rapidamente o seu quarto, uma cama enorme com lençóis de linho preto e travesseiros vermelhos, alguns armários grandes, uma janela de vidro atrás da cama e uma porta do lado esquerdo do quarto.

– Eu acabei de acordar e já vim te procurar – ele termina de vestir a sua blusa e dou um passo atrás quando ele sai do quarto e fecha a porta logo atrás de si. Ele passa a mão em seus cabelos molhados e observo bem seus braços fartos e definidos, tento não olhar mas é difícil, ele é realmente impecável.

– Bom, você ficou apagada um tempão, pensei que não iria acordar nunca mais – ele ri e passa por mim, o sigo indo para a sala e ele começa a acender todas as luzes e fico maravilhada. O apartamento já se parecia elegante, com as luzes acesa ele ganha vida.

– Quanto tempo eu apaguei?

– Umas quatro, cinco horas praticamente – ele vai até a cozinha e eu o sigo, apoio na ilha enquanto ele abre a geladeira e pega em uma garrafa de água, ele a abre e deixa na minha frente.

– Merda – sussurro baixinho e começo a me sentir agitada. Noah deve estar morto de raiva e preocupação nesse momento. Tomo a água e fico com raiva de mim mesma por ter simplesmente apagado.

– Pode ficar tranquila, avisei o seu irmão mais ou menos uma hora atrás que estava tudo bem, ele não parava de ligar – olho para Hunter confusa e miro seus olhos azuis, ele se parece calmo enquanto se apoia na ilha bem a minha frente e deixa seus braços cruzados, me encarando com desdém.

– Espera, e por que ele não veio me buscar? – fico reta novamente e começo a andar de um lado para o outro, não me importando se pareço estar deixando a ansiedade me controlar ou se estou sendo louca.

– Digamos que ele quis, mas eu desliguei na cara dele – ele lança um sorriso charmoso e eu definitivamente entro em pânico.

– Puta merda, eles vão me matar – saio andando da cozinha até a sala e procura a minha bolsa junto com o celular, olho ao redor e percebo que Hunter está me olhando rindo. Ele está achando graça do meu desespero.

– Para uma garota que era tão livre, você está parecendo um pouco presa agora – interrompo a minha busca para o encarar.

– O que você quer dizer? – fico de frente para ele e observo seu rosto definido e bem cuidado, ele cruza os braços e joga os ombros com um belo sorriso.

– Por mais que você sempre se precavia para a mídia não ver quem você realmente era ainda assim tinha um site ou revista que falava sobre as suas aventuras, por estar em festas, viagens de última hora, assuntos polêmicos e outras coisas, – ele faz uma pausa enquanto caminha mais perto de mim – Mas agora eu estou vendo uma garotinha que precisa dar satisfação para os outros, como se estivesse presa.

– Um dia pode mudar a vida de uma pessoa – engulo em seco com a sua proximidade.

– Não acredito que um dia pode definir o rumo da nossa vida – ele se afasta de mim enquanto caminha até a mesa de jantar e retira minha bolsa da cadeira. Ele me entrega e eu suspiro aliviada.

– Obrigada – agradeço baixo enquanto disco o número de Noah e espero silenciosamente meu irmão surtar comigo.

– Arabella? Onde você está, porra!

– Eu estou bem, calma!

– Você sumiu por cinco horas e quer que eu acredite que está bem? O que esse desgraçado fez com você?

– Ele não fez absolutamente nada, nós saímos e eu apaguei, foi isso.

– Você saiu? Você está de brincadeira comigo! Me fale onde você está e eu vou te buscar, agora!

– Não preciso que venha me buscar, eu estou bem e logo estou em casa.

– Arabella, que merda ...

E eu finalizo a ligação antes de ouvi-lo terminar a frase. Não sei bem porque fiz isso, mas apenas senti a necessidade de provar para Hunter e para mim mesma que parte da antiga eu está aqui, pronta para ser libertada.

– Acho que eu te devo um jantar – olho para Hunter que está me fitando curiosamente, seus olhos rodeiam meu semblante e meu corpo, ele descruza os braços e coloca as mãos no bolso do seu moletom.

– Você sabe ao menos cozinhar? – sua voz esconde um pouco de humor e eu sorrio, me sinto eu mesma por poucos segundos.

– Claro que não! Mas por isso que existe delivery – meu sorriso cresce um pouco mais e minhas bochechas queimam levemente. Por que diabos eu estou com vergonha?

– Comida indiana? – ele caminha até a cozinha e eu riu com a sua afirmação.

– Acho que hambúrguer e batata frita é mais meu estilo – o sigo até a cozinha e vejo-o retirar um folheto de dentro de uma das gavetas.

– Pensei que garotas como você só comiam coisas verdes e tomavam suco detox – ele me entrega o cardápio e eu riu, não me sinto desconfortável por ele me chamar de garota, mesmo eu tendo 21 anos.

– Mesmo se eu fosse esse tipo de garota, eu poderia muito bem comer e vomitar depois, sem culpa – sorrio ironicamente e vejo um semblante levemente preocupada em seus olhos. Merda, eu sempre estrago tudo.

– Sabe, você é leve demais para a sua idade, te carreguei no colo como se fosse uma almofada – desvio meus olhos dos seus e ajeito meu cabelo para trás dos meus ombros. Ai se vai a Arabella de antigamente. Me escondo atrás do medo novamente e sinto a velha sensação me engolir aos poucos.

– Eu disse brincando, o efeito da minha perda de peso são os remédios – para tentar desviar do assunto eu aponto qual o lanche que eu quero e ele apenas continua me olhando, com o mesmo semblante. Qual é a dele? Nos conhecemos faz um dia!

Ele apenas pega em seu celular e disca o número da hamburgueria, saio andando até a varanda e resolvo observar o céu estrelado. Abro as portas de vidro e caminho até perto das grades, ele realmente mora em um andar muito alto, perto do vigésimo, eu deduzo. Sinto uma brisa gélida atravessar meu corpo, minha blusa de manga comprida não é o suficiente para me aquecer, mas mesmo assim continuo observando o céu. Como um dia tão frio consegue ser tão lindo?

– Pronto, daqui a pouco eles já irão entregar – Hunter se junta a mim na sua varanda e observa o céu como eu.

– Por que você me trouxe para o seu apartamento? Por que simplesmente não deixou Noah vir me buscar? – pergunto sem olhar para ele e o ouço suspirar.

– Sabe, eu me senti culpado, se eu soubesse que você iria desmaiar por eu te elogiar eu não teria feito – sua voz soa com sarcasmo e eu apenas me viro dando uma leve empurrada em seu ombro.

– Canalha! Você sabe que eu não apaguei por causa disso – eu começo a rir com as minhas bochechas pegando fogo e me lembro de ele ter me chamado de linda. – Eu tomei um comprimido de calmante e bom, uma dose de bourbon. – reviro meus olhos lembrando de como fui incrivelmente sem noção em misturar os dois. 

– Eu sei, mas foi bom me iludir pensando isso – ele se vira para mim com um sorriso de tirar o fôlego. Todo o frio que estava sentindo foi embora.

– Por que você aceitou sair comigo? Eu sou uma completa estranha para você – tento deixar meus cabelos ajeitados com o vento e cruzo meus braços.

– Caramba, você sempre faz tantas perguntas assim? – ele mexe em seus cabelos os jogando para trás – Não é como se eu não conhecesse você, eu sou amigo do seu irmão a anos, e meu pai sempre falou de você e Noah, você não é uma desconhecida total, só nunca tivemos a chance de nos falarmos.

Fico por um momento encarando seu semblante e tento não me deixar afundar aos poucos. A Arabella de dois meses atrás se jogaria em cima dele, passaria a noite em sua casa e no começo da manhã sairia de fininho e jamais o veria novamente. Uma parte minha tem vontade de simplesmente o beijá-lo por ser lindo e não ter me forçado a falar sobre os meus demônios internos, mas a outra parte fica se reprimindo, falando que por algum motivo eu não devo fazer isso, que eu devo continuar quieta e não o deixar se aproximar de mim.

– Hmm... entendi – me viro novamente de frente para o imenso céu e um calafrio atravessa o meu corpo.

– Anda, vamos entrar, está frio – ele toca levemente em meu braço e se afasta de mim andando novamente para dentro do seu apartamento quentinho. – Vamos organizar a mesa.

Seu corpo forte caminha para longe de mim e me sinto menor do que eu sou, ele possui essa incrível capacidade de me fazer sentir uma criança ao mesmo tempo que me desafia a ser quem eu era. O sigo até a mesa de jantar, ele coloca um jogo preto de tecido em forma de quadrado um de frente para o outro, me dá dois pratos brancos e lisos, duas taças e por fim uma garrafa de vinho.

– Sério? – balanço a garra de vinho na minha mão. Olho o seu rótulo e vejo que é de uma grande vinícola, mas não entendo absolutamente nada de vinhos.

– Muito melhor que aquela droga de whisky que você bebe – vejo um pequeno revirar de olhos e me sinto levemente ofendida.

– E o que você entende de whisky, Chermont?

– Muito mais que você, pequena Blanchard – ele lança uma leve piscadinha enquanto pega a garrafa da minha mão e abre a rolha com um abridor apropriado.

– Você então nunca tomou um bom Bourbon envelhecido – o desafio enquanto ele coloca um pouco de vinho na taça para ambos. Eu odeio vinho.

– Só por você falar uma coisa dessas eu já sei que você nunca tomou um bom whisky – ele ri enquanto dá a taça em minha mão – Whisky americano é uma verdadeira merda, o escocês é mil vezes melhor.

– Não gosto de vinho – reviro meus olhos e me sinto levemente frustrada por não saber como o rebater adequadamente.

– Primeiro experimente e depois julgue – ele leve a taça até seus lábios rosados e eu fico observando esse gesto nada vulgar, mas que me instiga.

Levo a taça até perto do meu nariz e cheiro levemente, é forte e peculiar, o líquido é grosso em um roxo vivo que beira o vermelho, tomo um gole e sinto o álcool me inebriar, é seco, refrescante e doce, meus lábios ficam levemente molhados, mas o álcool evapora rapidamente me fazendo querer beber mais.

– Menininha, você ainda tem muito o que aprender comigo sobre bebidas – ele ri ao observar a minha expressão, fico levemente corada e deixo a taça em cima da mesa.

– Menininha, sério? – eu riu ironicamente e ele dá de ombros – O que aconteceu com o, pequena Blanchard?

– Menininha se encaixa melhor com você, com esses olhos tão inocentes – ele se aproxima de mim e meu corpo praticamente me força a dar um passo atrás, mas eu me recuso e fico no mesmo lugar desfrutando da sua proximidade, desfrutando do seu perfume inebriante.

– Antes eu fosse inocente, não teria conhecido a maldade que habita o mundo – meu maxilar trava com a resposta e me sinto mais arisca que o normal.

– Você ter conhecido os demônios que rondam o mundo não quer dizer que te deixe menos inocente – ele lambe os lábios com calma e eu fico fissurada em seu semblante. – A sua inocência começa no momento em que você decidiu ficar aqui, comigo, na minha casa, sendo que eu sou um completo desconhecido para você.

– Você não é um completo desconhecido, ouvi histórias sobre você, meu irmão andava com você, meus pais te conhecem, não é como se você fosse um completo desconhecido – imito a sua resposta e ele joga a sua cabeça para trás em uma risada gostosa de se ouvir. Ele se afasta de mim e eu consigo respirar com mais facilidade.

Ouço um telefone tocar na cozinha e Hunter caminha até o barulho, atende e troca poucas palavras com a pessoa do outro lado. Ele me avisa que a encomenda está subindo e então ficamos esperando pacientemente, ele anda até um novo cômodo em que eu não havia percebido – julgo ser a lavanderia – ele abre uma nova porta que dá para um pequeno hall com um apartamento do outro lado e conversa com um homem, ele volta com uma embalagem na mão e um sorriso acolhedor, nos sentamos na mesa e nos servimos. O silêncio permanece entre nós por poucos minutos enquanto nos acomodamos e nos servimos.

– O que te fez realmente ter ficado aqui comigo? – ele pergunta direto enquanto me encara com os olhos azuis. Eu suspiro.

– Tenho vivido um inferno nos últimos dois meses, e você é a primeira pessoa fora da minha casa em quem eu consigo conversar e não me sentir uma problemática – admito com o coração a mil por hora.

– Talvez seja porque eu entendo um pouco do que você está passando – ele abocanha seu lanche com ferocidade e eu riu.

– O que de tão ruim você passou que julga me entender tanto? – o desafio e ele apenas nega com a cabeça bem humorado.

– Quando você conseguir falar sobre esse tal dia que mudou a sua vida inteira, eu falo do meu e te provo como um dia não pode mudar a vida de ninguém – seus olhos parecem sérios e fico me questionando se esse dia tem haver com a sua cicatriz.

– O trauma funciona diferente em cada pessoa – digo na defensiva e começo a me achar dramática demais de repente.

– Menininha, as coisas só podem te controlar se você as deixar, do contrário quem dá o limite é você, essa é a infeliz verdade.

– Então você acha que uma pessoa esquizofrênica apenas não sabe se controlar?

– Não estamos falando sobre transtornos e psicoses, você sabe bem o que eu estou me referindo – ele bebe um gole do vinho e fico o encarando.

Ficamos em silêncio por um instante e eu me senti furiosa.

Ele está julgando o seu evento traumático em cima do meu, como se fosse fácil superar toda a merda que eu passei. Ele acha mesmo que eu gosto de ter apagões, de não conseguir dormir ou ter que tomar remédios? Termino de comer o meu lanche sentindo mil pensamentos batucarem na minha mente, começo a me sentir com raiva e mais descontrolada.

– Olha, não estou falando que esse dia não vai influenciar sobre sua vida, só estou falando que você não precisa deixar ele te controlar – ele me encara firmemente e quase posso ver uma pontada de dor em seu semblante – Por experiência própria, quanto antes você conseguir falar sobre ele, menos ele irá te consumir.

E pronto, minha raiva desaparece.

– Não é tão fácil assim, como você mesmo disse, há muitas pessoas que ficam me lembrando sem parar sobre aquele dia – me encosto na cadeira e termino de beber a taça de vinho.

– Mande todas se foderem, menininha – ele me serve mais um pouco de vinho.

– Meus problemas não vão se resolver com isso – lhe mostro um ligeiro sorriso e o observo me encarar.

– Concordo – ele sorri – Mas pelo menos você vai deixar eles saberem como você se sente.

Vejo que ele terminou de comer assim como eu. Continuo calada apenas desfrutando de seu bonito semblante, ele é de tirar o fôlego. Levo a taça de vinho até a boca e bebo todo o líquido de uma vez, sentindo algo se apertar em meu peito, tento empurrar goela abaixo junto com o líquido, mas é difícil.

– Você realmente tem um sério problema com bebidas – ele me olha surpreso e eu apenas reviro os olhos.

– Me ajuda dormir melhor – falo ironicamente e ele apenas balança a cabeça rindo.

– Acho que é melhor eu te levar agora, antes que você fique bêbada e me conte seus segredos mais sujos – ele sussurra brincalhão e eu gargalho.

– Eu tenho uma tolerância alta à álcool – MENTIROSA, meu cérebro grita para mim e eu apenas dou de ombros.

– Claro, com certeza – ele se levanta recolhendo meu prato e o dele, eu pego a sacola onde vem os lanches, recolho toda a sujeira de cima da mesa, pego as duas taças e caminho até a cozinha. Observo seu corpo de costas, costas largas como a de um nadador. Como seria tocá-lo?

Terminamos de arrumar as coisas em silêncio, ficamos apenas lado a lado limpando e deixando tudo em ordem novamente. Me pego olhando em volta novamente, tudo é tão arrumado e bonito, não se parece um apartamento de homem. Eu imaginaria mais bagunçado, mais escuro. Talvez ele seja um maníaco por limpeza? Não, ele comeu hambúrguer com as mãos. Quem sabe um pouco controlador? Dou de ombros sozinha e o vejo-o me observar de lado, seus olhos queimam em cima de mim. Sinto meu corpo esquentar gradativamente, minhas bochechas e nariz se tornam quentes, sinto meus olhos pesarem e tenho certeza absoluta que estou levemente bêbada. Puta merda, Arabella, não teria como você ser mais burra e previsível. Me sinto desconfortável novamente e um flashback passa pela a minha mente e tento o empurrar de volta ao seu lugar, a cena não irá se repetir, se mantenha calma.

– Pronto, vamos.

Hunter caminha de volta da lavanderia com um tênis branco e pega a chave do seu carro, recolho minha pequena bolsa e coloco meu sapato. Ele chama o elevador e entramos em silêncio, minhas bochechas continuam pegando fogo e começo a sentir calor. Pego meus cabelos em um rabo de cavalo alto e depois o enrolo fazendo um coque, ele me observa de lado e vejo seu corpo se tornar um pouco mais tenso, ele estufa o peito para frente e mexe em seus cabelos. Assim que as portas se abrem me sinto menos sufocada e ele sai na minha frente caminhando na garagem, o sigo e logo chegamos ao seu carro, uma Mercedes GLA preta. Deslumbrante e impecável, no que ele trabalha?

– Você trabalha com o que? – pergunto entrando no carro e o vejo rindo.

– Eu trabalho no Consulado Parisiense, ainda estou pensando se quero ser diplomata como meu pai – ele liga o carro e dá partida. Me aconchego mais nos bancos e dou um ligeiro sorriso, cheira a colônia de Hunter.

– Bom, eu pretendia trabalhar com diplomacia – digo manhosa e ele me encara levemente. Sinto um frio na barriga por lembrar que eu deveria voltar para a faculdade e terminar a minha graduação. Isso se parece tão distante agora.

– O que mudou? – ele volta a olhar para a estrada.

– Eu, eu mudei – dou de ombros e olho pela a janela. Ficamos em silêncio por pouco tempo até uma música agitada tocar, é agitada, mas um uma letra melancólica. Eu conheço. – Você gosta de Cage The Elephant?

– Com certeza – ele sorri enquanto balança a cabeça no ritmo da música, me identifico em alguns versos da música Sweetie Little Jean.

Hunter se inclina para o meu lado e alcança o compartilhamento a minha frente, ele retira algo que não consigo ver e fecha, vejo um charuto ser colocado entre seus lábios, ele pega em um isqueiro dentro do bolso e o acende com facilidade, como se fizesse isso sempre. Ele inala profundamente e solta a fumaça densa enquanto abre o vidro do carro, sinto um vento gelado entrar, mas não sinto frio nenhum, ao contrário, meu corpo pega fogo. Observo o homem ao meu lado, ele leva mais uma vez o charuto ao seus lábios, ele se parece mais bonito com a lua o iluminando.

Hunter Chermont, Cage The Elephant e charutos não são uma boa combinação para o meu estado embriagado.

Minhas mãos atrevidas são rápidas quando pego o charuto de seus lábios e rodo meus dedos pequenos no tabaco de formato grande e grosso, o levo até os meus lábios e puxo com força sentindo o gosto de tabaco mais apurado, totalmente encorpado. Hunter me encara com os olhos brilhando, deixo a fumaça sair lentamente da minha boca e ele continua me encarando agora ao som de Ain't No Rest For The Wicked.

– Não sei se devo te chamar de linda de novo – ele fala baixo e eu me sinto mais quente, o que está acontecendo comigo? – Nunca se sabe se você vai engasgar com a fumaça ou apagar – ele ri de mim e volta a olhar para frente.

Entrego novamente o charuto para ele que o leva até os lábios com força, vejo que estamos chegando perto da minha casa. A paisagem começa a ficar mais deserta, poucas casas se encontram ao redor, curto a música e sinto meu corpo levemente dormente. Assim que me dou conta estou passando os enormes portões da minha casa, alguns guardas me reconhecem dentro do carro e nos deixam passar. Hunter se aproxima da entrada e para em frente as enormes escadas até a porta principal, ele se vira para mim e eu o olho.

– Obrigada por hoje – agradeço com as bochechas vermelhas e seus olhos azuis se parecem mais azuis e bonitos do que nunca. – Você também é muito bonito.

Puta merda, eu acabei de falar isso em voz alta.

– Acho que isso é a bebida falando, mas agradeço – ele pisca para mim e posso sentir meu corpo se incendiar, como ele consegue ser tão sexy? Me aproximo um pouco mais de seu corpo e ficamos com os rostos bem perto, sei que não devo, mas quero o beijar.

– Podemos repetir isso mais vezes? – falo baixo e com calma, ele olha para cima, deixa os lábios entre abertos e finge que está pensando.

– Como eu disse, eu preciso de mais alguns dias para conseguir te analisar direito – sua voz se parece mais grossa e sedutora – Podemos repetir, menininha.

– Claro, fico no aguardo – mordo meu lábio inferior e ele apenas continua me encarando, avanço mais um pouco e deixo um beijo em sua bochecha, meus lábios são quentes contra a sua pele fria, sinto alguns pelos da sua barba rasparem em meu queixo e apenas me afasto recolhendo a minha bolsa, ele não se move do lugar. – Obrigada pela a carona, até.

Abro a porta do carro não deixando espaço para que ele me responda, saio me sentindo vitoriosa, me sentindo completamente orgulhosa de mim. Consegui sobreviver a uma noite com um homem que eu não conheço, consegui não deixar que aquele dia me controlasse, que o medo não me consumisse. Caminho firmemente e me sentindo ótima pela a primeira vez em muito tempo, ouço o carro dele sair da minha residência e assim que chego a porta principal a abro com felicidade.

Assim que adentro a minha casa sou invadida por um silêncio matador e profundo, passo pela a sala de estar, caminho pelo o corredor até chegar a sala de jantar e meu coração grita, se aperta e se afoga ao observar meu pai sentado com uma garrafa de whisky vazia e um copo cheio, ele tem os cabelos bagunçados, um terno amassado e a gravata frouxa em pescoço, ele se vira ao perceber minha presença e meu corpo trava completamente com o medo. Seus olhos estão vermelhos pelo o excesso de bebida, seu semblante é severo e enraivecido, ele aperta os lábios um contra o outro e se levanta da cadeira indo em minha direção com a garrafa vazia na mão. Sinto meu corpo congelar enquanto observo o homem ameaçador vir cambaleando bêbado ao meu encontro.

O inferno queima em meus pés. 


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NOTAS DA AUTORA: caaaaracaaaaa eu só tenho a agradecer a todos os comentários, eu morro de rir com vocês e tenho um carinho fora do normal por cada um de vocês <3 muito obrigada de verdade, já somos 3.6 Mil lidos! 

ps.: eu vou responder o máximo de comentários que eu conseguir gente!! me desculpem ter sumido um pouquinho e demorado para publicar, minhas aulas na faculdade voltaram e e fiquei toda perdida hihihi 

me digam o que estão achando da história!! Vocês estão tão apaixonadas pelo o Hunter como eu? 

com amor, agatha.

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