Apreciados A Ascendência do T...

By autormatheusramos

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Morrer não é uma alternativa. Em um futuro distópico seis pessoas completamente distintas e desconhecidas aco... More

NOTA
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
SEM SURPRESAS
SOB NENHUM FINAL
TODAS AS LUZES
HISTÓRIAS DE TERROR
AS NOSSAS DECISÕES
A HUMANIDADE QUE NOS RESTA
A BRISA DA ESPERANÇA
O COMEÇO DOS JOGOS
A ASCENDÊNCIA DO TRAIDOR
O DIA DE AMANHÃ
OS NOSSOS MEDOS
QUEM NÓS SOMOS
A VERDADE
DEPOIS DA MANSÃO
ELE
TODOS NÓS TEMOS QUE ESTAR MORTOS
A COBRA DO ADÃO E EVA
NÃO VEREMOS O SOL NASCER DE NOVO
MARIANA
OS OUTROS
SER HUMANO
AGRADECIMENTO

BARRINHA DE CEREAL

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By autormatheusramos

A ESPERA É AMARGA, cansativa, devastadora e brutal. O silêncio, a culpa, o medo e a falta de ar é nocivo. A Mansão, as paredes, os corredores, as imagens pintadas e os cômodos tempestuosos é a pior coisa já imaginável.

José não falou com ninguém por muito tempo, assim como não saiu da cama. Thaís caminhava com medo e evitava ao máximo esbarrar com alguma das meninas. A culpa pesou seu coração. Katarina e Mariana continuaram juntas explorando a mansão, elas acharam enormes e profundas marcas de arranhões nas paredes perto da piscina e no pilar vinho que está no centro do salão hexagonal. Juntamos essa informação com a gosma que encontramos anteriormente e agora não nos resta dúvidas de que um animal enorme e nojento estava à solta pelos corredores. Mas onde ele estaria agora? Espero que bem longe. Às vezes eu penso no nosso último objetivo: encontrar uma bendita chave que vai abrir o portão e nos tirar daqui. Parece ser fácil e tranquilo tudo isso na teoria, mas só de pensar no tamanho dessa gigantesca mansão é aceitável desistir; é impossível encontrar esse objeto minúsculo aqui dentro.

Estou a um bom tempo no quarto com Thaís, ela está parada e pensativa, assim como eu, isso é a única coisa que nós resta aqui dentro. Mas é complicado viver desse jeito, nossos pensamentos talvez nos mate. E ele está fazendo isso, a cada segundo que passamos aqui dentro, confinados, é como se estivéssemos nós sentenciando.

Olho para ela e ela me devolve um sorrisinho forçado.

José entra no quarto, em silêncio, ele parece estar bem, seu olhar transmite isso. Ele inspira bem forte e de alguma forma eu sinto verdade na ação dele.

–Eu preciso conversar com você! – ele começa. –Eu te ajudei quando você estava ferida e ali eu senti algo genuíno. É difícil culpar você, chegar a uma conclusão sozinho... por isso eu preciso que você me explique o que aconteceu.

Ele me olha como se quisesse falar algo e eu entendo sem precisar que uma palavra seja dita.

–Eu vou deixar vocês sozinhos! – falo e aceno com a cabeça para ela. Outro sorriso sem graça é me dado.

Saio do quarto, fecho a porta atrás de mim e finjo seguir o corredor direto, mas na verdade eu me encosto na parede ao lado da porta e tento escutar toda a conversa. Nunca que eu vou deixar Thaís sozinha falando sobre algo tão delicado que é a morte de Nícolas com José.

Ela explica toda a história, desde que encontramos o corpo dele baleado no chão, até guardar o corpo do Nícolas na dispensa como forma de proteção. Ela conta tudo com riqueza de detalhes e do ponto de vista dela. Ele não a interrompe nenhuma vez e parece ouvir com atenção tudo o que Thaís tem a dizer.

–Eu estava ajudando você a ficar melhor e não achei justo termos tantos recursos e não podermos usá-lo nos dois. Eu sei que corria o risco de Nícolas ser o traidor, ter atirado em você e provavelmente me matar, mas na hora eu não pensei em nada disso, eu fui cega em tentar ajudá-lo. – ela dá uma pausa. –Esse foi o erro que eu vou carregar pelo resto da vida.

–O que aconteceu lá dentro? – é a primeira vez que ele fala e sua voz parece não variar de timbre.

Thaís parece estar incomodada com a situação e penso em entrar lá e interromper tudo, mas não faço isso, ela precisa aprender a se defender sozinha aqui dentro. Entretanto nunca vou abandoná-la.

–Foi tudo muito rápido! – ela conta. –Mesmo machucado ele me atacou quando me aproximei, ele me levou no papo e eu ingênua, caí. Eu tentei fugir dos braços dele, mas ainda assim ele era muito forte, me virei e tentei bater nele como forma de defesa. Ele pegou minha arma, tentei impedir, mas um disparo foi efetuado quando estávamos agarrados e ele caiu no chão sangrando...

–Ele não deveria ter te atacado dessa forma!

–Acho que ele não teve escolha, estava sentenciado a morte de qualquer jeito, ele queria algo pra se defender!

–As pessoas acham que foi proposital e que você é o traidor e ainda assim você o defende? – a pergunta não saí como forma de ataque, mas de forma gentil e curiosa.

–No final das contas, ele era um homem inocente. Espero que você acredite em mim, tem tudo para não acreditar, mas todo esse acontecimento é verídico e eu não sou ameaça para ninguém aqui dentro. – sinto orgulho das palavras dela e como está se saindo com aquela conversa.

Mais um momento de silêncio. Acho que a conversa acabou e José vai sair a quaisquer instantes, então saio de onde estou quando ouço ele voltar a falar.

–Você salvou minha vida, não sei como, mas salvou. Tirou aquelas balas de dentro de mim o que me proporcionou essa conversa agora. Eu sou extremamente grato a você por isso e é algo que vou me lembrar pelo o resto da vida!

–Não foi nada... – é quase inaudível.

–Mas eu me questiono isso a todo momento, como você conseguiu fazer os pontos tão perfeitos? A ferida está quase se cicatrizando, isso é um mágico! – José diz.

Ela se pergunta isso inúmeras vezes ao dia, como pode ter agido tão profissionalmente? Isso deve se associar com a incrível mutação que provavelmente temos. Sabemos milagrosamente atirar e pelo o que parece Thaís tem dons medicinais. Estar vivo e estar aqui dentro só aumenta nossas duvidas e questionamentos. Espero que no final disso tudo tenhamos todas as respostas.

–Nada que uma agulha, linhas e álcool não resolva. – Thaís brinca, sem resposta concreta.

–Você é especial! – ele diz e ela fica sem jeito.

–Eu queria poder tirar todas as nossas dúvidas...

Estamos agora em um imenso silêncio.


¨¨


As milhares e centenas de horas que se passaram foram decisivas. O medo e a raiva nos separaram de forma clara. Não recebemos mais nenhuma mensagem nas televisões, não ouvimos mais os aterrorizantes e agonizantes grasno dos corvos. Katarina e Mariana não saiam mais para explorar a mansão e viviam presas dentro do quarto fazendo apenas uma refeição por dia. Mariana evitava olhar nos meus olhos e falar comigo, ela não ficava muito tempo no mesmo cômodo que eu e nem trocava se quer uma palavra. Por outro lado, já tinha observado de forma discreta o quanto ela me consumia com os olhos quando eu supostamente estava distraído. Não sei o que se passa na cabeça dela e o que ela acha de verdade sobre o que aconteceu entre a gente no apagão e sobre nossa conversa na cozinha. Eu estou aqui para ser amigo dela se precisar, mas ela vive me afastando. Talvez desconfie de mim, talvez queira minha cabeça, talvez esteja confusa sobre o que fazer ou como fazer, talvez ela queira transar de novo, assim como eu quero, mas ela é apenas uma pessoa distante agora. Me lembro do rosto borrado da Anellie!


¨¨


–Quando eu vou conseguir colocar isso na sua cabeça? – Katarina fala impaciente andando de um para o lado na sala de jogos. –Temos que eliminar e acabar de uma vez por todas com essa dúvida, vamos colocar os dois contra a parede.

–Eu não quero fazer isso! – Mariana responde, ela está sentada numa poltrona velha e empoeirada com um troféu com água em mãos, bebericando como se fosse uma bebida cara e importada.

–Como não quer? Thaís matou Nícolas propositalmente para termos menos um aliado contra ela, mentiu sobre estar na cozinha quando o apagão aconteceu sendo que eu estava lá e não vi nada. Ela já errou duas vezes, está cavando a própria cova, junto com o amiguinho imprestável dela. – Katarina despeja todo o ódio.

–Calma! Não coloca o Davi no meio disso tudo só porque ele está do lado dela. Eles estão juntos desde o começo, é como tentar me convencer de que você é o traidor e quer matar todos nós.

–É simples resolver isso! Ninguém tem motivos para desconfiar de mim, ela já tem dois, sendo um deles um assassinato, para mim está claro. Ele não quer ver o quão ruim ela é só porque finge ser uma garota triste e inofensiva. Mas Thaís não me engana.

–Olha, e se ela for? O que vamos fazer? Chegar lá no quarto agora e atirar nela ou prender ela na dispensa sem motivos claros?! – ela se levanta agora também impaciente. –Não podemos errar de novo, temos que ser certeiras dessa vez, pegar um problema mais óbvio... e tentar trazer Davi para o nosso lado!

–Você confia mesmo nele? – Katarina encara Mariana e encontra a resposta no fundo dos seus olhos.


¨¨


–De quem vocês estão desconfiando? – estamos na cozinha fazendo um lanche, estou sentado na mesa pequena junto com Thaís, e José está andando entre a bancada e a pia procurando algo que eu  não seio que é ainda.

–Para ser sincero com vocês, acho que é a Katarina. Se não tivesse a Mariana aqui ela estaria flutuando, ela está se escorando numa personalidade mais forte para se proteger! – José responde se abaixando para pegar as últimas bananas no armário.

–Jura?! Eu também penso a mesma coisa, Mariana vai defender ela até o final... – olho a situação com seriedade e um pouco de incômodo.

–Eu não quero falar sobre isso. Não acho que esse lugar seja um jogo que vamos eliminar um jogador e passar por algumas provas. Estamos falando da vida de alguém, a vida de alguém está sendo discutida aqui de forma normal. Se for realmente a Katarina, quem vai dar o tiro final? Você?! – pergunto para José e ele não esboça reação. –E você?! – dessa vez é para Thaís. –Eu tenho minhas conclusões, mas eu só vou dá-las quando realmente for necessário! – penso que fui um pouco grosso e rude, me sinto mal por isso, mas não peço desculpas.

Thaís encara a mesa em silêncio e fica desenhando alguma coisa nela com a unha e José continua comendo e bebendo água da torneira enquanto cantarola mais uma música sem letra, com apenas sons.

Ele está apoiado na bancada, quando sem previsão, seu corpo fica ereto em um sobressalto. Ele mostra para nós o que carrega em suas mãos com os olhos arregalados de admiração e surpresa. A princípio só enxergo a embalagem transparente da barrinha de cereal com ela dentro, intacta. Não entendo o que ele vê demais naquilo e porque está abrindo-a tão rapidamente. Depois que ele amassa a comida retangular nas mãos, fazendo jorrar farelo por todo lugar, e estendê-la para nós é que nos damos conta da nossa imensa sorte. A chave está deitada na mão dele, ela estava enterrada na barra de cereal esse tempo todo.

Como iríamos achá-la desse jeito?

Nada é previsível nesse lugar, e isso não seria diferente!

Corro para olhar o objeto mais de perto, retiro da mão dele e coloco contra a luz da lâmpada sem acreditar que é real. Thaís também recolhe ela da minha mão e saúda-a como se fosse algum objeto místico, e realmente é. É o objeto místico que nos levará para fora dessa mansão horripilante e que provavelmente nos dará respostas. Fico emocionado e animado só de pensar!

Demoro para encontrar Mariana e Katarina, e demoro mais ainda para conseguir convencê-las à descerem comigo para ver o que achamos. Queria guardar segredo e fazer uma boa surpresa! Mariana cede primeiro e então levo-as para a cozinha.

A reação delas é como eu imaginava, agitação, felicidade, êxtase e eu quase ouvi gritinhos. É bom ver Mariana sorrir, esse simples objeto revigorou nossa alma, lavou nossa esperança e nos deu vontade de viver novamente. Estávamos os cinco no meio da velha cozinha – onde na dispensa já estivera um cadáver –, posicionados em círculo, com nossos olhos brilhando e sorrisos abertos apreciando a chave, apreciando nossa chance de escapar desse lugar.

Sem pensar duas vezes corremos para testá-la. Voltamos a percorrer o caminho que tínhamos evitado desde a última vez que fomos lá – ele transmite algo que não queríamos sentir antes–, mas que agora, queremos nós esbaldar com ele. Com a orientação do local sendo marcado pelos cilindros luminosos azuis não demoramos uma eternidade para chegar como da primeira vez. Atravessamos o chão de barro, melando a sola dos nossos sapatos e passamos pelas tochas que misteriosamente ainda se mantem acessas. Paramos de frente ao focinho geométrico do veado usando uma máscara de gás – que provavelmente é o símbolo da empresa que nos mantém presos aqui – e começamos a torcer para que essa chave seja a certa.

Quem faz as honras é Mariana, ela se aproxima do gigantesco e largo portão de ferro, encaixa a chave e a gira devagar como se quisesse fazer um suspense em cima de tudo aquilo. Ouvimos um estalo e todos nós congelamos e prendemos a respiração, ela leva sua mão até a maçaneta, que também é de ferro, e puxa para baixo fazendo o enorme portão ranger e se desprender da parede.

Atrás dele se encontra um buraco mediano, que conduz para um longo túnel de pedra, como se estivéssemos dentro de uma caverna grotesca. Assim que abrimos, ele expele um som alto e um cheiro horrível, mas depois se amansa como se olhasse para nós de volta e estivesse pedindo para todos adentrá-lo. Ele é extremamente escuro e não conseguimos nem ver o final, é assustador, mas libertador.

Katarina se ajeita para começar a travessia, mas Mariana a impede.

–Não sabemos se vamos voltar. Achei algumas mochilas no segundo andar, vamos juntar tudo de útil que temos e encontramos para assim ir! – ela sugere e é claro que todos nós concordamos. Tão inteligente... suspiro.

Nos dividimos e juntamos tudo o que tínhamos. Não restava mais bananas, mas as barrinhas de cereais parecem ser suficientes. Mariana aparece com cantis de água, enche-os e guarda. Guardamos também os cilindros incandescentes que com certeza serão útil, munições, pedaços de corda, lençóis velhos e rasgados, alguns remédios, e fitas para curativos. Entramos em um consenso e decidimos deixar a arma que era de Nícolas para trás, assim não causaria problemas futuros.

Katarina e José ficam encarregados de levar as mochilas. Demos finalmente adeus para aquele lugar que nos torturou, condenou e nos confinou da maneira mais terrível e devastadora possível. Não restaria saudades, mas sim uma forte cede por justiça, que com certeza cobraremos, e voltamos a ficar frente a frente com o túnel apavorante.

Não é momento para sentir medo ou querer desistir, temos que dar um final a isso tudo. Mas se o que a mensagem na televisão disse for verdade e Nícolas morreu sendo inocente o traidor acompanhará a gente para depois desse buraco nas rochas. O túnel é um lugar apertado e parece ser uma ótima armadilha, mas não posso fazer essa ideia virar um caos aos demais, não posso lembrá-los disso agora!

Agito o cilindro de vidro que libera uma forte luz azul e sou o primeiro a atravessar o portão de ferro.


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