- Oi... - Louis diz - se sentindo acanhado pela primeira vez em muito tempo, se sentindo com uma criança - ao todas as risadas param de uma única vez e os quatro pares de olhos queimam sua pele com a curiosidade.
Há um silêncio constrangedor e estranho por alguns segundos. Mas entendam um garoto loiro quebra o gelo com um sorriso simpático e caloroso.
- Erm, olá Louis! Eu sou o Niall, esses são Liam, Zayn e Harry. - Ele aponta para cada um ao dizer nomes e os outros três acenam. - E você vai morar aqui com a gente pelo tempo que precisar.
Harry.
Seu interior borbulha.
Os olhos azuis encaram os verdes intensamente por alguns segundos, mas então se desviam para o garoto de cabelo raspado que começa a falar.
- Seja bem vindo, parceiro. Espero que goste daqui tanto quanto nós gostamos.
- Obrigado... Liam? - Agradece, um pouco em dúvida quanto ao nome (seu cérebro não está funcionando corretamente com um certo garoto bonito bem ali na sua frente), e sorri ao vê-lo concordar.
- Certo! - O moreno de topete exclama. - Louis, você vai ficar na beliche de cima. Se você achar alguma coisa jogada lá é minha e eu provavelmente devo ter esquecido de pegar, só me avisa ou deixa em cima do sofá que eu guardo depois.
- Oh! - Louis pisca, finalmente acordando de seu estado abobalhado. - Eu estou te tirando da sua cama? Não era minha intenção, me desculpa. Eu posso dormir no sofá.
- Relaxa, cara. Eu vou dividir a cama de casal dos fundos com o Harry. Tenho certeza que ele não vai se importar, né irmãozinho? - Sorri para o melhor amigo e passa o braço pelos ombros dele. Styles o encara por alguns segundos e encolhe os ombros como se dissesse "eu realmente não me importo". - Mas se você quiser trocar com alguém, é só dizer.
Quero trocar com você.
Quê?
Céus Louis, se recomponha.
- Tudo bem. Obrigado. - Louis sorri, embora não deixe de sentir uma pontada de ciúmes.
Ele realmente precisa por seus pensamentos no lugar.
- Você já tomou café da manhã? Já foi apresentado para o resto do pessoal? - Niall volta a falar e o escritor balança a cabeça positivamente para as duas perguntas que lhe são feitas. - Bem, você está livre para ir se acomodando e arrumando suas coisas, aqui agora é sua casa também. - Louis sorri, agradecido pela simpatia que o faz se sentir acolhido. - Nós vamos lá comer alguma coisa antes que Simon apareça por aqui e nos mate por atrasamos a viagem... De novo. - Murmura baixo a última parte.
Os quatro saem pela porta pela qual Louis entrada há menos de cinco minutos, deixando-o sozinho e perdido no enorme trailer.
Tomlinson observa os seus arredores, preso em seus pensamentos.
O primeiro deles é que fazer parte de um circo não parece ser nada ruim, como algumas pessoas, que nem mesmo conhecem essa realidade, fazem parecer. O lugar é espaçoso e aconchegante.
O segundo é que talvez, pela primeira vez desde que resolveu se aventurar pelo mundo, ele teria dificuldades de se inserir. Não o leve a mal. Pelo pouco que já viu, Louis pode perceber que as pessoas daqui parecem ser gentis e legais, mas eles são uma família. Todos eles têm anos de história juntos. Uma conexão que não se expanse facilmente para um estranho forasteiro. Além do mais, Louis dividiria um trailer com quatro garotos que parecem ser muito unidos. Novamente, não há espaço pra ele.
O terceiro, último e não menos importante - talvez o mais - é que o garoto misterioso, Harry, além de ser ainda mais bonito de perto, o lembra um gatinho. Assustado, quieto, arisco, principalmente perto de quem ele não conhece, e com grandes olhos verdes curiosos, mas acanhados.
Antes de Louis chegar, o garoto parecia estar se divertindo com os amigos. Mas sua presença o fez ficar extremamente tímido e calado.
Seria ele assim? Ou seria eu o problema? Louis pensou, começando a desfazer suas malas.
-
- Por que vocês estão sempre atrasados? - Simon esbraveja, as mãos na cintura e a testa enrugada, fazendo os quatro se encolherem em seus lugares. - Vocês não podem chegar no horário ao menos uma vez?
- Desculpa aí, chefe. A gente se atrasou porque estávamos desocupando a cama e dando uma geral no trailer para o Louis. E depois ele chegou e nós nos atrasamos ainda mais, porque estávamos dando-lhe as boas vindas e nos apresentando. - Zayn explica, sempre assumindo papel de líder do grupo e aproveitando todas as oportunidades para peitar Cowell.
- A gente promete que a partir de hoje vai tentar chegar no horário. - Niall acrescenta.
- Tentar? - Pergunta, o rosto vermelho e enraivecido intimidando os rapazes.
Acho que ele vai explodir. Harry pensa, rindo mentalmente.
- Dá um desconto para eles, Simon. São só crianças e, além disso, eles tiveram um motivo justo dessa vez. - Anne se aproxima, falando com o amigo com uma voz calma, disfarçadamente firme e autoritária. É aquele velho dizer: por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. O homem poderia até ser o dono do circo, mas a Anne Twist tinha sempre a palavra final. Ela conhecia Simon há anos. Fora ele que abrigara ela e seus dois filhos pequenos quando fugira de seu marido abusivo, Des, e foi ele que a apresentou a Robin, seu atual marido e a pessoa que fora pai para Gemma e Harry. Anne era considerada uma mãe para todos os circenses, sempre cuidadosa e protetora, e era, também, uma das principais atrações do Viramundo, com seu show de cavalos. - Bom dia, meninos. Comam alguma coisa rápido para podermos viajar sem mais atrasos, ok? - Sorri docemente, deixando um beijo na bochecha de cada um e bagunçando os cachos do filho.
- Você mima eles demais, Anne. - Simon resmunga, com os braços cruzados, enquanto assiste à cena.
- E você é inflexível demais, Simon. - Ela revira os olhos, embora tenha um sorriso nos lábios.
- Obrigado, tia! Você é a melhor! - Zayn, Niall e Liam sorriem e beijam a bochecha da mulher de volta, antes de correrem em direção à mesa de comida.
- Não vou perdoar da próxima! -Ela grita e ri, embora eles já estejam longe e muito distraídos com o café da manhã.
Harry não sente vontade de comer, porque sua preguiça é maior. Ele sempre demora muito para fazer tal ação, porque seus lábios têm um limite de abertura e a mastigação demora, o que parece uma eternidade, devido à pouca movimentação dos seus músculos mastigatórios, que não trabalham como deveriam. O circense suspira, observandos seus amigos comerem e conversarem animados. Ultimamente ele anda tão cansado de ser daquele jeito. Apenas queria ser normal.
- O que foi, pequeno raio de sol? - Anne pergunta ao filho e ele apenas deita a cabeça no ombro dele, deixando um suspiro cansado escapar. Sempre silencioso. A mãe faz um carinho nos cachos macios, sentindo seu coração murchar um pouco por ver o garoto daquela forma. Ele nem precisava dizer para ela saber do que se tratava. Mães sempre têm uma estranha conexão com os filhos. - Um dia, H, tudo vai mudar e você não vai precisar mais ficar triste por conta disso, ok? Eu te prometo, confia em mim, filho. Tudo vai ficar bem. Eu te amo muito.
- Eu também te amo.
- Já que você não quer comer, toma pelo menos um suco, por favor. Você não pode ficar sem se alimentar ou vai acabar doente.
O garoto apenas assente, obediente, e se junta aos amigos.
Algumas horas depois e cada um já está acomodado em seu respectivo trailer, seguindo viagem rumo a Liverpool. No trailer dos quatro, agora cinco, garotos, Louis está jogado em sua cama com seu caderno de couro entre as mãos enquanto escreve algumas anotações a respeito do que vira até então e não queria esquecer. Vez ou outra, ele parava para olhar Niall, Liam e Zayn rindo escandalosamente enquanto jogavam Imagem&Ação.
Harry dormia nos fundos alheio a tudo que acontecia ao seu redor.
- No espetáculo de ontem, Gems quase me deixou cair e eu achei que iri- Quem peidou? - Malik faz uma careta, se interrompendo ao que um odor desagradável se espalha, e tudo fica em silêncio por alguns segundos.
- Oh meu Deus, Niall! - Liam grita alto, encarando o garoto na sua frente.
- O quê? Você está me acusando? Não fui eu! Eu sempre admito quando faço isso! - Reage com falsa indignação enquanto está, claramente, segurando uma risada, mordendo em seus lábios.
- Céus! Você está podre! - Grita novamente e, dessa vez, o garoto não consegue segurar, explodindo em uma risada.
Em seguida, um barulho é ouvido e um Harry, com cachos bagunçados e revoltos, sai através das cortinas de miçangas com seus olhos alarmados varrendo por todo o local, procurando o motivo da gritaria.
- Vocês acordaram o Harry, seus idiotas! E assustaram ele. - Zayn rugi e se levanta para ir até Harry e abraçá-lo, como uma mamãe urso protegendo seus filhote. O moreno é sempre assim com os amigos, mas com Harry é ainda mais. Ele tende a achar que o mais novo é precioso e ingênuo demais para o mundo em que vivem e pode se quebrar ao menor toque. - Está tudo bem, H.
O garoto olha para o amigo com um olhar de que-porra-está-acontecendo-aqui.
- Niall peidou. - Explica, com um sorriso divertido nos lábios, - Foi realmente uma explosão fedida.
Louis precisa segurar a risada com isso, pois ele acha que os garotos se esqueceram de sua presença e ele não quer estragar o momento.
O cacheado dá a Horan um olhar feio e se aproxima, lhe dando um tapa na nuca antes de se virar novamente e voltar para a cama como se nada tivesse acontecido.
- Aw Harreh, volta aqui, me desculpa! - O loiro corre na direção do mais novo e pula em suas costas, o assustando com a ação e o fazendo começar a se debater. - Vamos, eu vou te contar uma história para voltar a dormir. Eu sou o melhor contador de histórias, você sabe.
Eles somem atrás da cortina e só o que os outros ouvem é a risada escandalosa de Niall.
- Esse irlandês não toma jeito mesmo.
Zayn e Liam voltam para o jogo e se distraem rapidamente por alguns minutos. Até ouvirem uma voz baixa, da qual haviam se esquecido momentaneamente, soar.
- Zayn... - Louis o chama com um olhar curioso e tímido. A voz da mesma forma.
- Meu nome. - Sorri suavemente, se virando para olhar o escritor.
- O que há com Harry? Ele está sempre calado e na dele, mas ao mesmo parece ser tão solto e divertido com vocês... Como um filhote de gato. - Ele e sente suas bochechas corarem imediatamente ao perceber que deixou a última parte escapar, pensando um pouco alto demais.
Maldição.
Zayn o encara por alguns segundos e, então, vira o olhar para o fundo do trailer rapidamente antes de encarar Louis mais uma vez, agora com uma expressão pensativa. Como se estivesse se debatendo por responder ou não o que lhe fora perguntado. Ou, talvez, se debatendo sobre como responder.
- Harry tem paralisia nas cordas vocais e em alguns dos músculos da boca e dos músculos mastigatórios, embora não seja paralisia completa, o movimento é muito limitado. Ou seja, ele não consegue falar... Nem sorrir. Embora possa comer, com alguma dificuldade e desconforto, e possa mover os lábios minimamente. - Malik conta, um suspiro longo deixando-o, e observa o mais velho com olhos atentos, esperando por sua reação.
Mas Louis não demonstra nada além de compreensão. Um rosto passível. Absorvendo as informações que lhe foram dadas.
- E como vocês fazem para se comunicar com ele?
- Nós, os pais e a irmã sabemos a linguagem de sinais. Mas a maioria das pessoas do circo conversam por mensagem de texto ou pedindo a ele para escrever num papel. Até mesmo nós fazemos isso às vezes, porque ele trabalha com as mãos, então elas costumam doer se ele ficar muito tempo em uma conversa gesticulando. Falando nisso... Haz vem cá! - Zayn grita pelo amigo e se passa algum tempo, mas o garoto não aparece. Ele revira os olhos, - Niall solta o Harry!
Não demora muito para que os dois saiam de trás da cortina e o loiro está rindo.
- Como você sabe que eu estava prendendo ele?
- Niall, eu te conheço desde que éramos bebês melequentos de fraldas. - Revira os olhos, antes de se virar para o mais novo - Como estão suas mãos, babe?
Harry olha para as mãos, em seguida para Louis e depois para Zayn. O os olhos verdes cheios de insegurança e... Medo?
- Relaxa, H. Eu já contei para ele sobre você e ele não vai te julgar ou machucar, nem nada do tipo, ok? - O moreno diz com calma, fazendo Harry olhar em seus olhos em busca de sinceridade e em seguida respirar aliviado.
As pessoas realmente faziam coisas do tipo só por Harry ser diferente? O coração de Louis pesa em seu peito com um sentimento que ele desconhece.
- Está um pouco inchada, mas não dói tanto quanto antes. E eu não acho que elas estejam assim por causa da linguagem de sinais. - Suspira.
- Nós vamos falar com o Simon assim que chegarmos em Liverpool. Puxar cordas pesadas, mover holofotes enormes e correr por todo lado enquanto faz tudo ao mesmo tempo é muito trabalho para uma única pessoa. Isso está te machucando, Harry, e o Simon vai ter que entender isso. Deveríamos contar para sua mãe, você sabe que ela faria algo a respeito.
- Zayn... Não faça ele se irritar ainda mais conosco e não preocupe a minha mãe por nada.
- Harry, isso é para o seu bem. Ele não pode ficar irritado, se ele ficar a gente manda ele se foder. E sua mãe... Ela merece saber e poder ajudar.
- Tudo bem. Apenas... Vamos fazer isso então. Posso voltar a dormir agora? Eu realmente estou cansado.
- Claro. Vai dormir. Mas bebe um remédio antes, pelo menos para a dor.
Harry assente e antes de voltar para a cama, encara Louis por alguns breves segundos. Seu olhar diz um pequeno e tímido obrigado e, apesar de achar que o escritor não vai entender, ele entende.
Louis acena a cabeça em sua direção e sorri.
- Hey, vocês sabem que existe um tratamento, não é?
- Sim. - Liam murmura - Mas Harry não sabe, então se puder não comentar esse assunto com ele...
- Vocês estão loucos? Privar o garoto de ter uma vida diferente? Porque está estampado na cara dele, que ele está cansado da doença. Por que não contar?
- Você não entende, Louis. Não haja como se soubesse, ok? Nós somos circences, apesar de ganharmos um dinheiro bom, não temos o suficiente para pagar um tratamento caro como esse. Sem contar que ja fazem três anos que colocamos Harry na lista de espera. Três fodidos anos e nós não recebemos nenhuma boa notícia sobre isso. Não há muitas pessoas com essa doença, então eles não saem dando tratamentos assim. Então não haja como se soubesse, porque não é fácil. Não queremos dar falsas esperanças para alguém que já tem muito com o que lidar. Ele não merece isso. - Zayn resmunga entredentes, um pouco irritado com a petulância do escritor. Louis não havia dito por mal, mas eles estavam tão cansados de não poderem fazer nada e não precisavam de alguém lhes mostrando isso.
- Zayn... - Chama cuidadosamente pelo moreno.
- Sim, Louis? - Suspira.
- Você pode me ensinar a linguagem dos sinais? - Pergunta, atraindo três pares de olhos surpresos para si.
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OI!!! CONFIRAM AS DUAS TRADUÇÕES QUE ESTOU POSTANDO <3