SÉCULOS - jikook. (FINALIZADA)

By byprincelevi

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Em 1945 após sobreviver à II Guerra Mundial, Jeon Jungkook, um médico militar ômega, resolve passar sua segun... More

01. Inverness
02. Craigh Na Dun
04. Castelo Leoch
05. Sassenach
06. Renegar a origem
07. Era uma vez, há duzentos anos
08. O grande encontro
09. Tynchal
10. Fort William
11. Capitão Yoon
12. Park
13. Núpcias
14. Sangue
15. Os dois lados
16. Fantasmas na janela
17. Um belo dia
18. Noite sem estrelas
19. Um conselho
20. Insubordinação
21. Promessas não cumpridas
22. Une Mauvais Quart D'heure
23. Punições segundo os costumes
24. Acerto de contas
25. Algumas verdades
26. O que existe entre mim e ele
27. A igreja das trevas
28. Mau agouro
29. Histórias de amor
30. Rituais para a mãe natureza
31. O gosto da morte
32. O duelo
33. Bruxos
34. Ailee Hozuki
35. Não permitirás que nenhum bruxo viva
36. A marca do diabo
37. De volta às origens
38. Para casa
39. A volta do senhor das terras
40. O homem da minha vida
41. Beijos e ceroulas
42. Histórias de sinceridade
43. Pesadelos secretos
44. Dia do Trimestre - Parte I
45. Dia do Trimestre - Parte II
46. A patrulha
47. Entre traidores e profetas
48. A mensagem de Kwan
49. Prisão de Wentworth
50. 13 de Outubro
51. Fortaleza incendiada
52. Mosteiro de Ste. Anne de Beaupré
53. Condições para pecar
54. Caça e caçador
55. Xingamentos para um escocês
56. Séculos.
57. Explicações breves.
a volta dos que nunca se foram :D
SÉCULOS REESCRITA.

03. Luceo Non Uro

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By byprincelevi

Luceo non uro - eu brilho, não queimo.

Havia uma cabana de pedras em meio as árvores da floresta.

Jungkook havia sido colocado contra a vontade sobre um cavalo, e tentara lutar com o seu raptor, arrependendo-se de ter decidido segui-lo.

Aquele alpha cheirava a terra e a esterco.

Mas ele não conseguiu fugir, tendo sua cabeça agredida com algo pesado, fazendo-o desacordar.

E, agora que abria os olhos, via-se rodeado por braços fortes e o mal cheiro estava impregnado em seu nariz.

A cabana, uma das primeiras coisas que conseguiu distinguir dentre a escuridão da noite, estava com as janelas fechadas, com apenas alguns fios de luz passando pelas brechas.

Jungkook percebeu que suas mãos estava amarradas com força por um pano, no arção da sela do cavalo.

Não sabia por quanto tempo ficara inconsciente, mas deu graças ao constatar que não havia sido muito por não possuir sinais de concussão ou outros efeitos colaterais da pancada.

Precisava dar um jeito de se localizar naquela floresta, voltando para Inverness o mais rápido possível.

Pensou em tentar se libertar (ou até mesmo gritar por ajuda), mas o escocês ruivo que o segurava tinha demonstrado ser mais forte do que aparentava sua pequena estatura.

Então, de repente, o cavalo parou em frente à cabana, e o homem desamarrou suas mãos do arção, segurando seu braço para que não escapasse, e pulou da sela.

- Venha. - disse ele, já no chão.

Jungkook constatou que ele não era muito do tipo que conversava e agradeceu por isso.

Seria um pouco estranho.

Jogou as pernas para o lado e pulou da sela do cavalo, caindo com graciosidade, sem fazer qualquer barulho.

O alpha puxou seus braços para perto, como precaução.

- Onde está me levando? - Jungkook perguntou, olhando seriamente para a cabana.

Podia ouvir o som de vozes masculinas vindas lá de dentro.

Ele não lhe respondeu e começou a andar até a construção arcaica, segurando-o com força.

Assim que abriu a porta de madeira da frente, uma luz amarela vinda dos lampiões antigos espalhados pelo lugar cegou Jungkook por alguns instantes.

Após isso, ele percebeu que havia uma lareira acesa e que as vozes masculinas tinham se calado.

Ali dentro, um número considerado de homens e mulheres (que Jungkook teve o assombro de constatar serem todos alphas), encontravam-se espalhados, sentados em cadeiras velhas ou de pé enquanto bebiam cervejas em canecas de metal.

Todos usavam kilt. Até as mulheres.

- Ora, vejam. - disse um homem de cabelos brancos, pondo-se à frente dos outros. - O que você trouxe aí, Yoongi?

Ele era tão alto que chegava a quase bater a cabeça no teto da cabana.

Pegou o braço de Jungkook com uma das mãos e o levou para perto da lareira, querendo vê-lo melhor.

- Um vagabundo sassenach, Kwan, pelo modo de falar.

Jungkook ficou tentado a xingá-lo, mas achou melhor não fazer isso visto que se encontrava em uma clara desvantagem.

Podia sentir os olhares dos outros sobre si e tinha total consciência do estado de suas roupas.

Sentiu-se extremamente desconfortável e exposto.

O homem de cabelos longos e brancos também cheirava terrivelmente mal, com a camisa imunda e o kilt sujo de terra.

Ele o fitou nos olhos e Jungkook percebeu que haviam linhas vermelhas que saíam de seus olhos e percorriam suas bochechas.

Uma máscara de batalha escocesa.

Vira isso num dos livros de História de Jeonghan.

Uma voz feminina soou pela cabana:

- Ei, até que ele é bonito. Sassenach ou não. - seu tom de voz era de graça.

Os alphas ali presentes riram, menos o da sua frente.

Jungkook não tirou seus olhos dos dele, em visível desafio.

- Como se chama, ômega? - ele perguntou, sério.

Não respondeu.

Não iria responder.

O homem apertou seu braço com força e, então, algo estranho aconteceu quando ele voltou a abrir a boca:

Um rosnado saiu.

Alto e grosso, fazendo o sangue de Jungkook gelar.

E ele conseguiu perceber as palavras ditas pelo alpha:

- Eu perguntei o seu nome, ômega.

A voz de comando.

Ela havia sido proibida desde a I Guerra Mundial, onde um genocídio aconteceu em Paris, com um exército de alphas alemães usando a voz de comando para mandar betas e ômegas cometerem suicídio.

A respiração de Jungkook se alterou e ele sentiu medo.

Porém, ainda mantendo a postura, não desviou o olhar quando respondeu:

- Jeon Jungkook.

Resolveu usar o seu nome de solteiro.

Não sabia onde estava e não pretendia deixar quaisquer pistas de onde esses homens poderiam encontrá-lo quando conseguisse fugir.

- Jeon? - as sobrancelhas grossas dele se levantaram. - É um nome francês, não é?

Ele o havia pronunciado de maneira correta, em um sotaque francês quase impecável, algo que poucas pessoas conseguiam fazer.

Jungkook não gostou daquilo.

- Sim. - disse, sério. - Isso mesmo.

- Onde encontrou esse moço? - indagou Kwan, virando-se para Yoongi, que se colocara perto da mesa de centro, bebendo de um frasco de couro.

Yoongi deu de ombros.

- Perto de Craigh na Dun. Estava discutindo com um certo maldito capitão dos dragões ingleses que eu, por acaso, conhecia. - sorriu de lado quando prosseguiu: - Parecia haver uma dúvida se o cavalheiro era ou não um prostituto.

Kwan analisou Jungkook dos pés à cabeça.

- Sei. - disse. - E qual era a posição do cavalheiro nessa discussão?

Ele estava sendo irônico, Jungkook percebeu com desgosto.

- Eu não sou. - cuspiu, com raiva.

Mas Kwan o ignorou totalmente, voltando-se para Yoongi como se o outro não estivesse ali.

- Ele disse que não era. - falou o sujeito ruivo. - O próprio capitão parecia não ter certeza e estava disposto a fazer um teste.

- Poderíamos fazer o mesmo, falando nisso. - disse a mesma mulher de antes, aproximando-se dele.

Era musculosa e possuía cabelos rosa escuros presos em tranças.

- Chega, Tayuya. - Kwan cortou, olhando para Jungkook de maneira preocupada. - Não admito estupros aqui. E, de qualquer forma, não temos tempo.

Jungkook fitou-a com repugnância, não conseguindo acreditar que estivera pensando nisso.

- O que acha, Yoongi? - Kwan se voltou para o sujeito baixinho novamente. - Ao menos, ele não parece gostar da Tayuya.

Yoongi bebeu um longo gole de seu frasco de couro antes de responder:

- Isso não prova nada. Ela não lhe ofereceu nenhum dinheiro. Não pode esperar que um ômega aceite alguém como a Tayuya sem um pagamento substancial antecipado.

Os alphas ali presentes riram alto e até mesmo Tayuya se juntou a eles, afastando-se de Jungkook e indo até a mesa para pegar mais bebida.

Kwan, no entanto, fez um gesto brusco com as mãos e todos, de repente, se calaram.

Ele indicou a porta com a cabeça e um alpha careca assentiu, caminhando até lá e passando por ela.

Yoongi, que não se juntara as risadas, continuou:

- Apesar disso, não. Não faço a menor ideia de quem seja, mas o meu palpite é de que ele não é um prostituto.

- Bem, você deve saber, não é, Yoongi. - disse Tayuya, às suas costas. - Conhece muitos.

Antes que mais uma onda de gargalhadas viesse, Kwan a interrompeu bruscamente com outro movimento de mão.

- Resolvam isso depois. - falou, asperamente. - Temos uma longa distância a percorrer nessa noite e precisamos fazer alguma coisa com o Jimin. Ele não pode viajar assim.

Todos os olhares de voltaram para uma figura que antes havia se passado despercebida para Jungkook.

Ele estava sentado bem ao fundo da cabana, em um banco.

Segurava seu ombro com cuidado e seu cabelo loiro caia sobre seu rosto, sujo com grama e terra.

Mal erguera o olhar quando Jungkook entrara, apenas mexendo-se para frente e para trás como se isso pudesse aliviar a provável dor que sentia.

Kwan andou até ele e os alphas em seu caminho lhe deram passagem.

Jungkook olhou de esguelha para a porta, mas o sujeito careca de antes estava lá, trancando sua passagem.

Merda.

Voltou-se para o jovem loiro no banco, vendo Kwan se pôr ao seu lado e segurar o xale quadriculado que ele usava para cobrir seu corpo.

Retirou-o, revelando uma camisa machada de sangue, e entregou o xale para uma mulher ao seu lado.

- Como está se sentindo? - Kwan perguntou.

Jungkook viu um sorriso surgir dos lábios do outro.

- Desconjuntado. - foi o que ele respondeu.

Bem nesse momento, um homem pequeno e de bigode se aproximou por de trás do rapaz com uma faca e, segurando a camisa pelo colarinho, cortou-a ao longo da manga, de modo que ela caiu do ombro ferido e revelou uma parte de seu peito.

Jungkook prendeu a respiração ao ver o estrago ali, ouvindo alguns homens ao seu redor arfarem.

Em seu ombro, havia um sulco profundo, dilacerado na parte superior e com o sangue escorrendo livremente pelo peito do rapaz.

Porém, o que realmente incomodava aos olhos alheiros era a própria junta do osso.

Deslocada, formando um calombo, erguendo-se na articulação e com o braço pendurado em um ângulo que deveria ser impossível.

Kwan grunhiu.

- Realmente. - disse. - Desconjuntado, pobre coitado.

O jovem ergueu os olhos pela primeira vez e, embora contorcido de dor e com o cabelo loiro caindo sobre seu rosto, suas feições eram fortes e bem-humoradas.

- Atiraram em mim com uma bala de mosquete enquanto eu estava em cima de uma árvore, e eu caí no chão de mal jeito, com todo o peso do corpo sobre a mão.

- Desconjuntou mesmo. - o homem de bigode falou, examinando seu ombro. - O ferimento não é o problema. A bala atravessou direto. Mas eu não sei bem o que fazer com um deslocamento. Precisamos de um cirurgião para o colocar de volta no lugar, ou você acha que pode cavalgar assim, Jimin?

Bala de mosquete?

O rapaz balançou a cabeça, tornando-se pálido de repente.

- Já dói muito sentado aqui. Não poderia conduzir um cavalo. - ele apertou os olhos então, e mordeu com força o lábio inferior.

Yoongi falou com impaciência:

- Bem, não podemos deixá-lo para trás, podemos? Os soldados ingleses não são grande coisa quando se trata de rastrear no escuro, mas vão encontrar esse lugar cedo ou tarde. E Jimin não consegue se passar por um camponês inocente com esse enorme ferimento.

- Não se preocupe. - Kwan o interrompeu. - Não pretendo deixá-lo para trás.

O homem com o bigode suspirou, afastando-se.

- Nesse caso, não há outro jeito. Vamos ter que recolocar o braço no lugar. Yoongi, você e Tayuya o segurem firme; eu vou tentar.

Jungkook ficou observando o jovem enquanto Yoongi e a mulher alpha se colocavam às suas costas, segurando seus ombros. O homem de bigode pegou seu braço, com uma das mãos em seu pulso e a outra em seu cotovelo.

Ele tentou forçá-lo para cima, mas o ângulo estava totalmente errado.

Aquilo devia estar doendo demais.

O suor escorria por seu rosto bronzeado, mas o rapaz não emitiu nenhum som além de um grunhido baixo.

Então, quando o homem de bigode desistiu, soltando-o, Jimin caiu para frente, com a respiração descontrolada e as mãos de Yoongi e Tayuya o mantendo sentado no banco.

Um dos outros homens que acompanhava a cena se aproximou e abriu um frasco de couro, pressionando-o contra os lábios do rapaz.

O cheiro do álcool da bebida chegou até onde Jungkook estava.

Jimin tossiu e se engasgou, mas assim mesmo engoliu, deixando o líquido cor de âmbar escorrer de sua boca para o que restava de sua camisa.

- Pronto para outra tentativa, rapaz? - perguntou o homem de bigode assim que o outro se afastou. - Ou talvez Tayuya queira tentar dessa vez. - sugeriu.

A mulher, assim convidada, pôs-se ao lado do braço ferido de Jimin e flexionou as mãos como se fosse praticar arremesso de dardo.

Pegou em seu pulso, obviamente pretendendo colocar a junta no lugar pela força bruta.

Uma operação capaz de arrancar o braço do garoto como se fosse um mero cabo de vassoura.

E Jungkook, como sendo um médico treinado para a guerra, não conseguiu evitar de sentir a indignação profissional pela tão falta de preparo daqueles homens.

- Não se atreva a fazer isso! - exclamou, aproximando-se.

Todos os seus prováveis planos de fuga foram jogados pela janela quando resolveu se intrometer.

Correu até eles e segurou o braço do jovem, impedindo que Tayuya prosseguisse.

Sentiu os olhares de reprovação dos alphas ao seu redor.

- O que foi que disse? - falou alguém, distante.

- Quero dizer que vai quebrar o braço dele se fizer desse modo. - retrucou. - Saiam do caminho.

Afastou Tayuya com o cotovelo e ele mesmo segurou o pulso do paciente.

O rapaz pareceu surpreso ao vê-lo ali e, quando Jungkook encarou seu rosto preste a ditar seu discurso médico de sempre, as palavras simplesmente lhe fugiram da mente.

Os olhos dele eram de um azul vibrante.

E Jungkook podia jurar que já os havia visto antes.

Porém, logo balançou a cabeça com rapidez, repetindo para si mesmo que olhos azuis era coisas muito comuns de se ver por aí.

A pele de Jimin estava quente, mas não febril, e Jungkook segurou seu braço com um pouco de força.

- É preciso colocar o osso da parte superior no ângulo certo antes de encaixá-lo na junta outra vez. - falou, grunhindo enquanto puxava o pulso para cima e tentava manter o cotovelo para dentro.

O rapaz não era muito alto ou forte, mas seu braço pesava como chumbo.

- Essa é a pior parte. - Jungkook avisou.

Encaixou sua mão em seu cotovelo e estava pronto para forçá-lo contra a junta.

A boca de Jimin se contorceu no que se pareceu um sorriso.

- Não pode doer muito mais do que já dói. Vá em frente.

A essa altura, o suor já escorria pelas laterais do rosto de Jungkook.

Recolocar um ombro no lugar é uma tarefa árdua mesmo nas melhores condições. Principalmente num homem que já passara horas com o deslocamento. Os músculos, agora, estavam inchados e cobrindo a junta.

A tarefa iria exigir boa parte da força de Jungkook.

Respirou fundo e, assim, empurrou o braço contra seu ombro.

De repente, fez-se um barulho suave e a articulação voltou ao lugar.

Jimin ficou admirado e colocou a mão sobre o ombro.

- Não dói mais! - um amplo sorriso de alívio e satisfação se espalhou por seu rosto e os alphas da cabana irromperam em exclamações de admiração e aplausos.

Jungkook sentiu seu ego inflar.

- Vai doer. - falou, olhando-o com atenção. - Ficará dolorido por mais algum tempo. Você não deve, de jeito nenhum, estender a junta nos próximos dois ou três dias. E, quando voltar a usar o braço, comece bem devagar. Pare imediatamente que começar a doer e use compressas quentes diariamente.

Jimin o olhava com admiração e Jungkook, mais uma vez, sentiu que já vira aqueles olhos azuis antes.

- Como você sabe disso? - perguntou Kwan, colocando-se ao lado do rapaz.

- Sou médico.

Kwan e Tayuya pareceram fascinados com essa revelação e trocaram alguns olhares sugestivos que Jungkook não gostou.

- Que assim seja. - falou ele, voltando-se para Jungkook. - Para um ômega, você parece ter uma boa habilidade de cura. Pode estancar o ferimento do rapaz o suficiente para ele montar um cavalo?

- Quem disse que eu quero ajudá-lo?

Mas sua resposta foi ignorada enquanto Kwan se virava e falava com uma mulher sentada em uma cadeira ao canto, em uma língua que Jungkook reconheceu como sendo gaélico.

Ela se vestia de maneira estranha, apenas com vestes simples, e não usava kilt como Tayuya.

Assim que terminaram de conversar, a mulher fez uma breve mensura e correu até um baú de madeira, retirando de lá uma pilha de trapos e andando até Jungkook.

Ele finalmente entendeu o que estava acontecendo.

- Isso não serve. - disse, mas pegou um dos panos que ela segurava mesmo assim. - Primeiro, o ferimento precisa ser desinfetado e, depois, coberto com um pano limpo se não houver ataduras esterilizadas.

Os alphas ao seu redor que ainda prestavam atenção ao que diziam, levantaram as sobrancelhas.

- Desinfetado? - perguntou Jimin, ainda sentado no banco ao seu lado.

- Sim. - Jungkook voltou a olhá-lo. - Toda a sujeira tem que ser removida do ferimento. Ele tem que ser tratado com um composto que desencoraje a proliferação de germes e promova a cura.

As sobrancelhas de Jimin se ergueram mais ainda.

- Como o quê, por exemplo?

- Como iodo.

Jungkook se virou para os homens ao seu redor, mas nenhum deles pareceu tê-lo entendido.

- Metiolate? - tentou mais uma vez. - Ácido carbólico diluído? - diante de mais olhares confusos, Jungkook suspirou. - Ou talvez apenas álcool?

Yoongi enfiou um frasco de couro em suas mãos e ele não conseguiu acreditar.

Não era desse álcool que estava falando.

- Olha. - Jungkook disse, olhando para ele. - Por que não o levam até à cidade? Não deve ficar muito longe e tenho certeza que haverá equipamentos melhores para cuidar disso.

A mulher vestida de maneira simples de antes o fitou, franzindo o cenho.

- Que cidade?

Kwan observava a noite lá fora por uma brecha entre as cortinas das janelas.

Um homem surgiu pela porta, vestindo um kilt sujo de sangue (que, Jungkook constatou, provavelmente não era seu).

- Nada por perto, senhor. - ele falou. - Tudo ainda está seguro.

Kwan passou os olhos pelo interior da cabana e estes se encontraram com os de Jungkook, que ainda se via tentando encontrar uma maneira de realizar um curativo sem provocar doenças futuras.

- Ele virá conosco. - Kwan falou, acenando com a cabeça em sua direção.

Jungkook olhou para o ferimento no ombro de Jimin, fingindo não ouvi-los conversando.

O rapaz tinha um cheiro curioso, mas ele não sabia dizer o que era propriamente seu em meio àquela mistura de grama, terra, sangue, e bebida alcoólica.

- Por que não podemos deixá-lo aqui? - perguntou uma voz feminina.

Mas não foi Kwan que a respondeu. Foi Yoongi:

- Onde quer que os soldados ingleses estejam, chegarão aqui ao amanhecer. Se este ômega for um espião inglês, não podemos nos arriscar a deixá-lo aqui para lhes dizer para onde fomos. E, se ele não estiver em bons termos com eles... - houve uma pausa. Jungkook ouviu risadas.

- Certamente não podemos deixar um ômega sozinho com suas roupas de baixo. - falou outro alguém, logo depois. - Ele deve valer um bocado para resgate. Mesmo usando pouca roupa, é coisa fina.

- Além do mais, - completou Kwan. - Ele pode ser útil no caminho. Parece saber bastante sobre cuidados médicos.

Jungkook sentiu quando ele se aproximou, às suas costas.

- Receio que você não poderá ser "desinfetado", Jimin. - disse, dando um tapa de leve do ombro do rapaz. - Pode cavalgar com uma das mãos?

Jungkook viu quando Jimin assentiu, puxando seu cabelo para trás, tirando-o os olhos.

Foi, então, que ele se lembrou.

Tinha visto um rosto parecido com o de Jimin naquela noite chuvosa, há alguns dias atrás.

Ou, pelo menos, pensava ter visto.

Mas havia algo de diferente entre eles.

Estreitou os olhos ao mesmo momento em que o jovem dizia que sim, poderia cavalgar com apenas uma das mãos.

Porém, não pode terminar seu raciocínio.

Kwan jogou um pano em sua direção e ele bateu em seu rosto.

- Enfaixe o ferimento dele. Depressa. - falou, virando-se e voltando a andar pela cabana. - Vamos partir imediatamente.

Jungkook pegou o pano que ele jogara com cuidado.

- Não posso usar isso. - disse. - Está imundo.

Mas ele foi novamente ignorado.

Jungkook saiu pela porta seguido lentamente por Jimin, que ainda estava pálido e se via tendo de andar apoiado em um de seus companheiros.

Agora que o enxergava melhor, constatou que ele não era tão alto assim.

Tayuya, a alpha de cabelos rosa escuros, e Yoongi, seguravam seis cavalos do lado de fora, sussurrando-lhes palavras carinhosas em gaélico, no escuro.

Não conseguia ver totalmente, mas as tachas de metal das selas dos cavalos brilhavam sob as luzes das estrelas.

Então, Jungkook finalmente entendeu que, sem uma cidade nas proximidades, as estrelas dominavam o céu noturno sem concorrência.

Ele parou de andar, sentindo-se mais gelado do que deveria se sentir por ser uma noite de verão.

Nenhuma luz urbana.

"Que cidade?", a mulher tinha perguntado.

Acostumado aos blecautes e aos ataques aéreos dos anos de guerra, Jungkook não se sentiu incomodado com a falta de luz desde que saíra de Craigh na Dun no início daquela noite.

Entretanto, eles estavam em tempos de paz e as luzes de Inverness deveriam estar visíveis por vários quilômetros.

Um certo pânico se apossou dele e Jungkook pensou em se esgueirar por entre as árvores, camuflando-se em meio à mata.

Mas Kwan, aparentemente adivinhando seus pensamentos, segurou-o firmemente pelo braço quando se colocou ao seu lado.

- Jimin, monte. - ordenou ele. - O ômega vai cavalgar com você. - então, ele se aproximou de Jungkook, fazendo-o sentir sua respiração forte contra o ouvido. - Caso Jimin precise, ajude-o com as rédeas, mas nada de se afastar do grupo. E se tentar qualquer outra coisa, cortarei sua garganta. Compreendeu?

Os feromônios de Jungkook se agitaram e ele se forçou para os manter sob controle.

Sentiu o forte cheiro de poder exalando de Kwan.

E, com isso, uma onda de pavor o percorreu dos pés à cabeça quando o outro rosnou em seu ouvido, com a voz de comando:

- Você compreendeu?

- Sim. - viu-se respondendo antes que conseguisse se controlar.

- Ótimo. - e ele se afastou, caminhando pela grama. - Vamos, pessoal! Não temos a noite inteira!

Jungkook seguiu Jimin, que estava sendo levado para até um dos cavalos que Yoongi segurava.

Os alphas o ajudaram a se colocar na sela e o rapaz parecia sorrir, achando graça da situação, assim que já estava lá no alto.

Quando um deles se ofereceu para lhe ajudar, Jungkook simplesmente subiu sozinho, sentando-se em frente ao outro.

Jimin passou os braços ao seu redor com um pouco de dificuldade por se ver machucado e segurou as rédeas com a mão boa.

Não falaram mais nada depois disso.

Jungkook tentava pensar em todas as coisas que vinham à sua mente, mas tudo parecia ser absurdo demais.

E, quando começaram a cavalgar, seguindo os outros, seu corpo batia contra o peito do rapaz às suas costas.

Jimin era confortável e chegar nessa conclusão, considerando que nem ao menos se conheciam, era estranho.

Não trocavam palavras. Nenhum dos dois parecia estar disposto a conversar e Jungkook agradecia por isso.

Não se sentia relativamente são da cabeça para conseguir conversar sobre algo.

Principalmente com alguém que poderia jurar já ter visto na janela de seu quarto de hotel.

Um certo tempo se passou até o grupo resolver parar.

Kwan desceu de seu cavalo e ficou conversando aos sussurros com uma outra mulher alpha qualquer.

Jimin largou as rédeas sobre o pescoço do cavalo, deixando o animal livre para decidir aonde gostaria de ir.

Então, ele começou a se remexer atrás de Jungkook.

- O que está fazendo? - era a primeira conversa que tinham desde a cabana. - Você não pode se mexer assim ou a sua atadura sairá.

- Estou tentando soltar meu xale para cobri-lo. - respondeu. - Você está tremendo de frio. Mas eu não consigo fazer isso só com uma das mãos. Pode alcançar o prendedor do meu broche pra mim?

Jungkook não havia percebido que tremia.

Virou-se, passando os braços por seus ombros e tentando fazer o que ele havia pedido.

Após alguns minutos desajeitados, conseguiram soltar o xale.

Com uma destreza surpreendente, ele fez o tecido xadrez girar e cair sobre seus corpos, como uma manta, cobrindo-os em torno dos ombros.

- Pronto. - Jimin disse, com a voz um pouco rouca. - Não queremos que congele antes de chegarmos lá.

- Obrigado. - Jungkook se viu obrigado a agradecer. - Para onde estamos indo?

Não conseguia ver seu rosto às suas costas, mas Jimin fez uma pausa antes de responder, com uma pequena risada:

- Para lhe dizer a verdade, senhor, eu não sei. Acho que vamos descobrir quando chegarmos, não é?

Por alguma razão, algo parecia familiar para Jungkook naquela região rural pela qual atravessavam.

Andavam em fila indiana e já deviam ser duas da madrugada.

Ali, não haviam muitas árvores e a luz do céu noturno era mais forte.

Olhou ao redor, procurando por qualquer coisa que o ajudasse a entender porque achava que já estivera ali antes.

Foi quando, então, um enorme paredão de pedra surgiu à sua frente e ele deve certeza de onde estavam.

- Cocknammon Rock. - murmurou para si mesmo, feliz por finalmente poder se localizar naquela floresta.

- Sim, eu acho que é sim. - disse Jimin, pouco interessado naquela conversa.

Jungkook já estivera naquele lugar com Jeonghan, num de seus primeiros dias da segunda lua de mel.

Lembrava-se vagamente de ouvir seu marido falando coisas sobre...

- Os ingleses não usavam a Cocknammon Rock para fazer emboscadas? - perguntou.

Arrependeu-se de ter dito aquelas palavras quando elas saíram de sua boca.

Afinal, se houvesse uma patrulha inglesa na região, seria bom que Kwan e seu bando não soubessem para que conseguisse ser salvo.

Porém, Jungkook estava junto de um guerreiro escocês, com os dois cobertos pelo mesmo xale.

Não iriam saber diferenciá-los caso acontecesse um confronto.

E havia um grande risco de Jungkook acabar se encontrando com Jonathan Yoon novamente. Uma das coisas que ele realmente não queria que viesse a acontecer.

Na verdade, nada daquilo fazia sentido.

Tudo ao seu redor apontava para a ideia irracional de que o homem que vira na floresta era mesmo o antepassado de seu marido.

Entretanto, isso não poderia ser verdade porque simplesmente não tinha nexo.

Tudo ainda poderia ser um sonho, mas a pancada que ganhara na cabeça vinda de Yoongi e o cheiro forte de sangue, suor e bebida alcoólica do homem às suas costas, fazia-o duvidar disso.

Jimin, de repente, estalou a língua para tocar o cavalo e eles começaram a ultrapassar todos os outros membros do grupo.

Pararam ao lado de Kwan, que estava bem à frente, e os dois embarcaram em uma conversa em gaélico em um tom sombrio que fez Jungkook estremecer, olhando para os lados.

Ao lado do muro de rochas, havia um pequeno bosque repleto de árvores antigas e firmes.

Jeonghan dissera, quando foram até lá, que os ingleses se escondiam sobre as árvores e, assim que os grupos de ladrões passam por debaixo delas, eles saltavam, atirando com mosquetes e cortando suas gargantas com espadas.

Kwan fez um sinal com a mão e, assim, os cavalos reduziram a marcha.

Merda.

Jimin havia contado.

Jungkook ficou tenso ao sentir o aroma amargo de alphas disputando por território.

A floresta pareceu mergulhar em um silêncio pesado conforme se aproximavam das árvores e do muro de rochas.

Então, Jimin puxou as rédeas, parando o cavalo no meio da estrada de terra. E Yoongi e uma alpha baixinha o imitaram.

Kwan, que continuava a cavalgar, levantou o braço.

- Luceo non Uro! - gritou.

E os outros cavalos começaram a correr.

- Luceo non Uro! - gritaram os outros homens.

No exato momento em que passaram pelas árvores, o lampejo do disparo de um mosquete brilhou lá do alto do muro de pedras.

Os soldados ingleses saltaram das árvores.

E o caos se fez.

Jungkook escutou o som do cavalo de Yoongi relinchar alto, como se houvesse sido ferido, e não teve tempo de pensar antes de se ver galopando em direção ao campo de batalha.

Podia sentir os batimentos acelerados do rapaz às suas costas.

Mas eles não chegaram a entrar em combate.

Jimin virou o cavalo de súbito para a direita e, quando Jungkook segurou no arção da sela para não cair, ele passou o braço bom por sua cintura, agarrando-o.

E assim, sem nenhuma cerimônia, empurrou-o para fora do cavalo.

Jungkook se chocou contra o chão com força.

Não teve tempo de se recuperar do choque quando os galopes soaram próximos de seu ouvido e ele se encolheu, temendo ser pisoteado.

Porém, isso não aconteceu e ele escutou o cavalo voltar para a estrada de barro, onde tiros soavam e alphas gritavam coisas em gaélico e em um inglês forte.

Abriu os olhos e se levantou com pressa.

Viu o cavalo onde estivera montado, quase desaparecendo em meio à escuridão.

Mas ele estava com a sela vazia.

Jimin havia descido também.

Então, agora que sabia onde estava, Jungkook fez a única sabia ser a certa: ele se virou e correu para longe daquela confusão.

Estava voltando à Craigh na Dun. À Inverness.

Olhou para a estrada e tentou se manter em sua linha, desviando de árvores e tropeçando em pequenos troncos no chão.

Acabou perdendo um sapato em meio à confusão e seus músculos doíam.

Entretanto, ele continuou correndo.

Porque Jungkook Jeon não iria se deixar vencer por um tornozelo torcido.

E, enquanto corria e escutava o som da batalha sendo deixada para trás, foi inevitável pensar no que estava acontecendo.

Tudo indicava que ele havia ido parar em um lugar onde os costumes e a política do final do século XVIII ainda vigoravam.

Poderia ser um filme, mas como explicar os ferimentos daquele a quem chamavam de Jimin?

Talvez fosse um enclave isolado do resto do mundo, onde os aldeões reencenavam parte de sua história periodicamente. Coisas assim haviam na Alemanha, mas Jungkook nunca ouvira falar da Escócia.

Mas... atores atiravam de verdade uns nos outros durante essas encenações?

- Não. Claro que não. - murmurou para si mesmo, quando dera uma pausa para descansar.

Lambeu um arranhão que fizera em sua mão ao cair do cavalo.

Virou-se pela floresta nem tão vasta assim, e abraçou o seu corpo para se proteger do vento gelado que balançava as folhas das árvores.

- Merda, cadê você? - murmurou.

As luzes de Inverness não estavam lá, onde deveriam estar.

Lembrava-se perfeitamente de Jeonghan apontando para a pequena cidade quando foram até Cocknammon Rock, proferindo mais um de seus discursos históricos.

Balançou a cabeça com irritação.

Uma pequena parte de sua mente sussurrava que ele, de alguma forma desconhecida e completamente sem sentido, havia voltado ao passado.

Porém, ele sabia que aquilo não era verdade porque era impossível algo assim acontecer.

Foi quando, interrompendo seus pensamentos, ele ouviu um rosnado.

Seu coração parou de bater e Jungkook gelou dos pés à cabeça.

E não precisou se virar para vê-lo. O lobo surgiu ao seu lado, passando por entre os arbustos e sendo iluminado pela luz das estrelas.

Jungkook percebeu, com assombro, que era o mesmo lobo que encontrara pendurado na árvore.

Era grande, agora que o via mais de perto.

Seu pelo dourado brilhava, embora estivesse sujo de vermelho sangue, e seus olhos azuis reluziam, chamativos.

Um belo lobo. Mas ainda assim um animal selvagem.

Jungkook pensou em se virar e correr, porém iria ser pego alguma hora. E não haviam onde se esconder, o lobo conseguia subir em árvores.

Estava encurralado.

Então, ficou lá, sem se mover, esperando o lobo partir para cima de si em um ataque fatal.

Entretanto, isso não aconteceu.

Eles apenas ficaram lá, encarando-se e em total silêncio.

E o lobo, de repente, sentou-se no chão.

Se Jungkook antes não duvidava de sua sanidade mental, duvidava agora.

Pensou mais uma vez em se virar e correr.

Porém, as coisas simplesmente aconteceram diante de seus olhos.

O lobo rosnou mais uma vez, exibindo os dentes e franzindo o focinho claro. Contorceu-se, ainda sentado, e Jungkook viu quando ele começou a se transformar.

Seus pelos dourados diminuíram de tamanho e o animal pareceu encolher, ganhando a forma de um homem.

Era Jimin.

E ele estava totalmente nu, com o corpo repleto de sangue.

Jungkook não conseguiu raciocinar pelos próximos minutos que se seguiram, ficando paralisado, em choque.

O rapaz riu nervosamente, levantando-se do chão. Corou e colocou ambas as mãos em frente às suas partes íntimas, mesmo sabendo que ele já as tinha visto.

- Olá, senhor. - disse.

Naquele momento, Jungkook entendeu o porquê de sentir que havia alguma coisa de diferente entre o rosto do jovem à sua frente e o rosto que havia visto na janela do quarto da pousada.

O rosto do fantasma possuía cicatrizes nas bochechas. Fundas. Evidentes.

Já Jimin, não tinha cicatriz alguma.

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