"We're only humana, maybe we don't need no reason"
— Perfect Strangers, Jonas Blue
Decepcionada.
Lara Méndiz não queria acreditar no resultado daquele jogo, seu amado time estava perdendo para o maior rival, Celta de Vigo, por 4 a 1. O péssimo resultado não custaria apenas uma queda na tabela, o jogo estava próximo de acabar e Lara sabia exatamente o que aquilo significava, ela teria que pagar a aposta feita dias atrás com Emre Mor.
– Preparada para ter um encontro com o baixinho? – Sanna Dahlström, esposa do atacante John Guidetti, divertia-se com a cara emburrada da amiga – Veja pelo lado bom, você não vai precisar nem colocar salto para sair com ele.
– Você é uma péssima amiga, sabia?
– Sabia, minha querida.
Sanna era oito anos mais velha e o fato de Lara ter apenas vinte anos nunca foi um problema para amizade delas, pelo contrário, a sintonia entre elas era perfeita.
– Ele está esperando por esse encontro desde o dia que vocês se conheceram – a loira comentou animada – E eu também.
– Se eu pudesse voltar no tempo não teria ido falar com ele.
Foi durante uma festa dada pela amiga que Lara conheceu Emre Mor, ambos sentiam-se deslocados, ele tinha chegado a poucos dias e quase não tinha amigos na cidade e ela mesmo depois de anos continuava desacostumada com aquelas festas. Naquela noite após beberem alguns drinks eles se transformaram em companhia perfeita um para outro, e o cheiro do perfume do rapaz preso nos lençóis da cama de Lara jamais diriam o contrário.
– Por favor, Lara – Sanna permitiu-se rir mais alto – Eu te conheço muito bem, você também está ansiosa por esse encontro, se não quisesse mesmo sair com ele nem teria entrado nessa aposta.
A garota pensou em protestar e dar mil motivos para Sanna entender porque ela não queria sair com Mor, mas antes que pudesse abrir a boca, a atenção de ambas retornaram para o campo. Após receber a bola perfeita de Jozabed, Emre pode correr para comemorar o quinto gol do Celta de Vigo, e antes dos demais companheiros chegarem para abraçá-lo, o mesmo aproximou-se da câmera que transmitia o jogo para os telões do estádio e ergueu a camisa do clube, revelando uma outra por baixo com uma pequena frase escrita à mão.
"Vejo você às 21h, L.M"
O rosto da espanhola ficou completamente vermelho, ela precisou olhar de novo para ter certeza do que estava vendo antes de escondê-lo com as mãos, Sanna ainda encarava o telão surpresa com a comemoração do jogador.
– Lara, essa noite nada de calcinha bege, por favor – a loira chamou a atenção da amiga que encarou-a incrédula – Porque acho que hoje alguém vai ter o melhor primeiro encontro da vida.
***
A pontualidade de Emre impressionou a garota que ainda calçava os sapatos quando escutou a campainha tocar, Lara apressou-se para colocá-los e antes de deixar o quarto retocou seu batom. Ao abrir a porta ela sorriu satisfeita ao encontrar o garoto vestido com roupas neutras, nada de bermudas laranjas e bonés horríveis.
– Parece que alguém finalmente aprendeu a se vestir, muito bem, estou orgulhosa – brincou.
– Se isso foi um elogio, agradeço – ele sorriu tímido e aproveitou a falta de palavras para observá-la rapidamente de cima a baixo também – Você está linda.
– Obrigada – a morena agradeceu retribuindo o sorriso.
– Podemos ir?
– Esqueci uma coisa, só um minuto – Lara fez o movimento de fechar a porta, mas apenas encostou para ter acesso ao porta casaco e abriu a mesma já tentando disfarçar o riso – Estou pronta.
– Vamos ent... – Mor parou de falar no momento que bateu os olhos no casaco – Lara, eu não acredito!
– Que foi? – ela o encarou fazendo-se de desentendida.
Nas mãos a garota segurava o casaco oficial do La Coruña, seu time desde pequena, ela não o usaria naquela noite, mas jamais perderia a oportunidade de provocar o jogador do Celta.
– Nada, esquece – ele rolou os olhos fazendo-a rir – Vamos logo, não quero perder nossa reserva.
– E onde nós vamos?
– Surpresa.
Quando Emre estacionou em frente ao Room Museum, Lara arrependeu-se de ter escolhido um vestido mais simples, o restaurante era conhecido por receber clientes da mais alta classe de Vigo e das cidades vizinhas.
– Mor, você poderia ter me avisado que íamos jantar aqui.
– Porquê?
– Eu teria escolhido uma roupa melhor – disse como se fosse óbvio.
– Não se preocupe com isso – com cautela, o jogador repousou o braço nos ombros da garota e a mesma só percebeu quando ele deslizou a mão até sua cintura.
O manobrista rapidamente se aproximou para levar o carro até o estacionamento, lado a lado, os dois caminharam até a entrada do local e Mor adiantou-se chamando o maître para levá-los até a mesa reservada.
– Boa noite, reserva no nome de Emre Mor de uma mesa para duas pessoas – informou animado.
– Só um instante, por favor – enquanto o maître buscava pelo nome do jogador, os dois comentavam sobre a decoração magnífica do restaurante, mas o sorriso de Mor começou a diminuir quando notou a demora e como o homem revisava a lista diversas vezes – Desculpe, o senhor pode repetir seu nome?
– Emre Mor – repetiu ligeiramente preocupado – Algum problema com a reserva?
– Não estou a encontrando, peço desculpas – novamente ele conferiu a lista – O senhor confirmou a reserva pelo seu e-mail pessoal ou empresarial?
– Era obrigatório? – questionou envergonhado.
– Sim, senhor.
Qualquer acompanhante teria ficado decepcionada e até mesmo com vergonha, mas Lara só conseguia achar graça da situação, com dificuldade ela esforçava-se para não rir na frente do rapaz e do maître.
– E não existe a possibilidade de você nos conseguir uma mesa?
– Infelizmente não, só trabalhos com reservas confirmadas – explicou – E como o senhor não realizou a confirmação a mesa foi encaminhada para outro casal, sinto muito.
Visivelmente frustrado Emre virou-se para Lara em busca de uma solução, ele não tinha pensado em um plano B, toda sua noite estava minuciosamente preparada e o mesmo não permitiu-se dar espaço para erros e imprevistos.
– Sem problemas, faremos novas reservas para outro dia – a garota adiantou-se e agradeceu a atenção dada pelo homem – Tenha uma boa noite e bom trabalho.
– Será um prazer recebê-los em outra data – respondeu gentilmente – Muito obrigado, espero que o casal tenha uma boa noite também.
Puxando o jogador pela mão Lara deixou a entrada do restaurante e pediu ao manobrista que trouxesse o carro.
– Aff, aposto que se fosse o Cristiano Ronaldo ou o Messi ele arrumaria uma mesa rapidinho – comentou fazendo-o rir.
– Ainda estou morrendo de vergonha – disse sincero.
– Normalmente eu te xingaria e faria questão de espalhar essa história para todos seus amigos de vestiário, mas como estamos em um encontro apenas falarei que está tudo bem.
– Eu sei que essa história vai chegar na Sanna, ela provavelmente vai contar para o marido e ele terá o prazer de espalhá-la para todo mundo – concluiu descontraído e Lara não discordou – Então tudo bem também.
– Não queria experimentar a comida do melhor restaurante da cidade mesmo – a morena deu de ombros e jogou a chave que o rapaz havia lhe entregado para Mor – Se você não tiver um plano B eu conheço um lugar maravilhoso, mas precisamos ir rápido porque tenho certeza que vai chover daqui a pouco e lá não é coberto.
– Estou a sua disposição, minha querida.
***
Emre Mor jamais conseguiria prever que o lugar não coberto que Lara estava se referindo seria a praça central da cidade, onde a noite acontecia um festival de food truck, quando o GPS informou que eles tinham chegado ao destino Mor achou que era mais uma brincadeira da garota, mas ela estava falando totalmente sério.
– Acho que aqui eles vão deixar a gente entrar – a morena brincou – Preparado para conhecer os melhores lanches da cidade?
– Não era bem o que eu estava imaginando jantar hoje, mas estou disposto a encarar o desafio.
– Ótimo, então vamos!
Ao redor de toda praça era possível enxergar os food trucks, um diferente do outro, com diversas nacionalidades, veículos charmosos e coloridos, e cada qual com seu cardápio específico, era um festival para satisfazer o gosto de qualquer pessoa.
Emre já tinha visitado a praça algumas vezes durante o dia, mas a noite o local tornava-se mais bonito graças aos pisca-piscas espalhados. Ele estava completamente encantado, recebendo um salário de jogador profissional e acostumado a lugares luxuosos, já tinha esquecido como era enxergar a beleza na simplicidade.
Eles não gastaram muito tempo para chegar em um comum acordo sobre qual food truck visitariam, os lanches mexicanos chamaram atenção no mesmo instante que desceram do carro, e claro que o tempero caliente foi só a primeira parada daquela noite. Em duas horas, pulando de veículo em veículo, eles realizaram uma viagem pelo mundo através da culinária oferecida ali.
– Chega, eu não aguento comer mais nada – Lara respirou fundo e descansou a cabeça nos ombros de Mor após a última garfada de sua salada mediterrânea de massa fusilli – Acho que eu nunca comi tanto na minha vida.
– Vou mandar embrulhar o resto para levar pra casa, pode ser? – ele sugeriu.
– Pode – um silêncio se formou pela primeira vez naquela noite e os pensamentos de Lara voaram para longe – Sabe o que eu estava pensando? Essa é a primeira vez que conversamos sóbrios por mais de vinte minutos.
Aquele era o primeiro encontro oficial deles, mas Mor e Lara frequentemente esbarravam-se em festas na casa de John e passavam a noite bebendo juntos, e o resultado de manhã sempre era o mesmo: Lara acordava na cama de Mor ou Mor acordava na cama de Lara. Ambos perderam as contas de quantas vezes as duas situações se repetiram, os colegas mais próximos já rotulavam o relacionamento deles como amizade com benefícios.
– E está sendo bom? – ele sussurrou próximo dos lábios da garota e sorriu ao notar que ela fechou os olhos e prendeu a respiração automaticamente – Porque eu estou adorando cada minuto.
– Está sendo uma experiência interessante – Lara se aproximou e sussurrou da mesma forma antes de afastar seu corpo do dele ao levantar da cadeira – Tem espaço para um sorvete?
– Com certeza – Mor sorriu de lado, ainda levemente desnorteado, colocou-se de pé ao lado dela e arriscou entrelaçar suas mãos – E você?
– Sem dúvidas – respondeu ajeitando sua mão para que encaixasse corretamente com a dele.
A sorveteria mais próxima ficava a duas quadras de distância e Lara o convenceu a ir andando utilizando o argumento que eles precisavam gastar as milhares de calorias ingeridas. A caminhada até o local foi tranquila e cada grama de sorvete foi aproveitada, mas como previsto mais cedo pela garota, durante o percurso de volta a chuva resolveu cair e para a "sorte" deles, o que começou como uma garoa fina na metade do caminho tornou-se uma chuva forte deixando-os completamente molhados.
– Corre mais rápido, Lara – ele puxava-a pela mão na tentativa de chegar logo no carro.
– Você acha que é fácil correr de salto, idiota – Lara a cada passo sentia suas pernas mais fracas e suas crises de risos enquanto corria não a ajudava muito – Merda! Meu sapato, Mor.
– Continua correndo que eu pego, vai! – Emre colocou-a na frente e voltou para pegar o salto quebrado.
Ofegantes, com as roupas encharcadas e rindo do estado deplorável que se encontravam, os dois abriram as portas do carro e pularam literalmente dentro do mesmo, Lara não pensou duas vezes e sequer importou-se com a presença de Mor, antes de tirar o vestido e trocá-lo pelo casaco do La Coruña. O jogador seguiu os mesmos passos e colocando o ar condicionado no quente, sentiu-se motivado a permanecer apenas com sua cueca preta. O silêncio dominou o ambiente por incontáveis segundos antes dos dois caíram na risada juntos.
– Nada de bege, né? Dizem que isso é um sinal – Emre referiu-se a lingerie.
– É, um sinal de que gosto de vermelho – ela sorriu inocentemente – Você está frio?
– Um pouco, mas o ar logo esquenta e faz isso aqui parecer um forno.
Repetindo em sua cabeça incansavelmente Lara se convenceu de que não tinha segundas intenções ao abrir o casaco e oferecer parte dele para Mor proteger-se do frio.
– Esse provavelmente foi o seu pior primeiro encontro – ele comentou rindo, mas ela rapidamente discordou.
– Talvez seria se tivéssemos ficado naquele restaurante – sincera, ela disse com um sorriso tímido nos lábios ao encarar os olhos dele – Mas aqui e agora, acho que foi o melhor e mais divertido encontro que já tive em toda minha vida.
– Você tirou as palavras da minha boca – sem aviso, ele se aproximou e segurando-a carinhosamente pela cintura, acabou com qualquer distância que existia entre os dois – E quer saber de uma coisa, vermelho também é minha cor favorita.
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Nota especial:
Lara,
Sei que é um presente simples, mas foi feito de coração. De novo, um feliz aniversário e espero que tenha gostado. Desculpa ter te enrolado tanto hahaha Te amo, bebê ❤️