~ Amber ~
Eu nem vi quem apareceu do nada e falou isso. Sinceramente, fiquei tão anestesiada com a ideia de ter sido flagrada que não me atrevi a olhar, apenas fechei os olhos e respirei fundo, tentando não pensar em matar minha curiosidade. O momento estava tão bom, e eu queria que tivesse durado mais alguns minutos. Fala sério, isso não vai mesmo acontecer de novo. De fato, não podemos, e Dener sabe disso. Não sei que nuvem escura nos rodeou, mas não vai acontecer novamente, nunca mais.
- Gente, eu sabia que vocês iam se pegar, mas uau, em. - Falou de maneira atrevida e maliciosa.
Ergui o rosto abrindo os olhos, ainda com ambas as mãos no corpo de Dener, que olhava para cima. Fiquei um tempo encarando o garoto na minha frente, com o cabelo pingando e o corpo molhado. Apenas do peito para cima estava quase seco, com pequenas gotas escorrendo. Seu rosto ainda refletia a luz da piscina, e seus olhos azuis brilhavam feito estrelas. Tive que me esforçar para não encarar, porquê é realmente uma bela vista.
- Você é um idiota mesmo. - Dener se afastou de mim, apoiando na borda da piscina e saindo da mesma.
Fiquei ali e olhei para a pessoa, dando de cara com Andy. O mesmo estava com os braços cruzados e um sorrisinho no rosto. Revirei os olhos. Dai-me paciência. Abaixei um pouco na água, cobrindo os seios com os braços sobre. Que vergonha alheia. Tentei caçar o biquíni, mas já não está mais ao meu lado.
- E você, Amber? Não vai dizer nada ou o Dener comeu sua língua?
Corei instantaneamente, colocando uma mão no rosto e respirando fundo. Vontade de cavar um buraco e me enfiar dentro.
- Você é patético. - Dener falou com ar de desprezo, mas ficou nítido como ele estava nervoso.
Mordisquei o lábio, abaixando a cabeça. Ai meu Deus, essas coisas só acontecem comigo.
- Okay, okay. Vou deixar vocês dois sozinhos. - Ergueu a mão, em sinal de defesa. - Até mais. - Deu uma piscada para o amigo, antes de nos deixar sozinhos novamente.
Então o clima pesado ficou instabilizado de vez. Ainda olhando para a água, ouvi Dener respirar fundo, como se estivesse tentando raciocinar tudo isso e mais um pouco. Eu até tentaria respirar fundo, mas prefiro acreditar que foi tudo fruto da minha cabeça. Não pode mesmo ter sido real.
A vergonha que estou sentindo é gigantesca, e o pior é que ainda estou sentindo o corpo dele no meu. Sua pele quente me desestabilizou do mundo, e agora me sinto planando por aí, sem saber aonde estou. Isso é normal? Não deveria ser. Meu corpo está arrepiado, e meus sentidos aéreos.
- Am, me desculpa por isso... - Dener forçou a garganta. O encarei, e não aguentei, desviando depois de uns três segundos. - Então... Você... Quero dizer... Vai querer ajuda para sair daí?
Sério que ele não está vendo o meu biquíni roxo boiando por aí?
- Para sair da piscina não, mas para outra coisa sim. - Ele franziu as sobrancelhas, sem entender.
Ergui uma sobrancelha, apontando o dedo para o tecido roxo que agora já estava na metade da piscina, indo para o outro lado. Dener arregalou os olhos, parecendo se ligar na situação. Boa, gênio.
- A-Ah, claro...
O garoto mergulhou na água, fazendo espirrar um pouco em mim. Suspirei. O mesmo pegou o biquíni, e veio se aproximando, até me entregar.
- Prefere que eu...? - Concordei, virando de costas.
Coloquei o tecido por cima dos meus seios, pegando meu cabelo e colocando para o lado. O garoto amarrou ambos os laços, com seus dedos arrastando de leve contra minha pele. Como se estivesse queimando, fechei os olhos. Não demorou muito e eu já estava com a parte de cima coberta. Me virei, engolindo a seco.
- Obrigada por... Você sabe. - Ele deu um sorriso de lado, entendendo o que quis dizer.
- Não tem problema.
Ficamos nos encarando por um tempo, estudando um ao outro. Procuramos vestígios de arrependimento, vergonha, desejo e até medo. Não sei ele, mas não consegui lê-lo, me deixando mais tensa ainda. Dener virou o rosto, forçando a garganta novamente. Pisquei repetidas vezes, reprimindo os lábios.
- Eu acho que já vou... - Falei, me virando e dando impulso. Saí da piscina, segurando ambos os braços pelo frio que me rodeou. Dei uma última olhada para ele, que parecia tão perdido quanto eu. - Então, tchau. - Falei por fim antes de sair correndo para dentro.
Atravessei a porta de vidro, dando de cara com a sala totalmente vazia. Subi correndo para cima, indo direto para o banheiro. Minhas pernas estão bem trêmulas, e meu interior... Fervendo? Oh, não. Coração, você nem se atreva.
(....)
Acordei com a luz do sol invadindo o quarto. Dei umas reviradas na cama, quando finalmente decidi levantar. Desci com meu babydoll azul, um pouco largo ao corpo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo de qualquer jeito, descendo descalça para o andar de baixo.
Na sala não tinha ninguém, mas encontrei todos na cozinha tomando café na mesa. Eles riam e conversavam, mas ao me notarem ali, pararam de falar e me olharam.
- Bom dia, bela adormecida. Está melhor? - Max perguntou, bebendo algo em uma xícara.
- Ah, acho que sim. São que horas?
- Onze e meia. - Jéssica disse. - Certeza que está bem? Ontem você parecia bem estressada.
Então um flashback veio, fazendo meu corpo voltar a tensão de antes. Não era um sonho, não é? Eu fiquei mesmo com o Dener. Muita informação para esse horário. Não consigo pensar em nada sem antes digerir alguma coisa. Meu corpo pede arrego.
Me aproximei da mesa, sentando ao lado de Lúcia que parecia mais entretida comendo um pedaço de torrada.
- Estou sim, não se preocupem.
- Não se preocupe, Jess. Agora tenho certeza que ela está bem melhor. - Andy disse com um sorrisinho irônico nos lábios.
Lancei um olhar mortífero para o mesmo, que mordeu uma maça.
Peguei um pedaço de bolo de chocolate, e coloquei um pouco de café em uma xícara decorada com flores. Comecei a comer devagar.
- Então, Amber... - Sebastian chamou minha atenção, fazendo meu peito esquentar só por ouvir sua voz. - O que podemos fazer por aqui?
- É, quero dar uma volta. Não tem graça ficar o dia todo aqui dentro de casa. - Ouvi a voz enjoada de Julie. Revirei os olhos quase que automaticamente.
Terminei de mastigar.
- Bom, tem praias. - Dei de ombros.
- Só isso? - Julie disse com o cenho franzido.
- A porta é ali, se quiser ir embora. - Falei sem encara-la, prestando mais atenção em assoprar meu café.
- Ai, garotas. Não briguem. - Sebastian falou antes que sua namorada pudesse abrir a boca outra vez.
- Aqui é um lugar ótimo para passeios noturnos. Com certeza o forte são as praias, elas são belíssimas. - Lúcia disse, passando a mão uma na outra, se livrando das migalhas. - Podemos dar uma volta por lá.
- O que acham de um luau? Vai ser divertido. - Max falou, nos encarando.
A maioria olhou em volta, esperando uma decisão final. Pareceram concordar com a ideia.
- Seus avós tem coisas de acampamento? - Andy perguntou para a Lúcia.
- Acho que sim - A mesma deu de ombros. - Amber, já acampamos com eles, não é?
- Sim, uma vez ou duas. Minha avó não gostava muito, mas meu avô sempre foi louco por acampamento. Com certeza ele deve ter as coisas em algum lugar por aqui.
- Então está decidido. - Julie disse, após acabar o que estava em seu copo. - Vou arrumar as coisas. Amor, me ajuda?
Sebastian não pensou duas vezes antes de levantar e a seguir para fora da cozinha. Respirei fundo, sentindo aquela merda de sensação horrível que aparece sempre que sou obrigada a presenciar essas cenas, até que outra voz me trás de volta a realidade.
- Bom dia. Perdi muita coisa? - O loiro perguntou, indo até a mesa e pegando uma maça da fruteira.
Permaneci de cabeça baixa, fingindo que era nossa primeira noite ali, e eu não tinha enfiado a língua em sua garganta como fiz antes de nos encontrarmos aqui novamente. Meu corpo ficou paralisado.
Eu invejo tanto os avestruzes.
- Gosta de luau, Den? - Lúcia perguntou, erguendo uma sobrancelha em sua direção.
Ele sentou perto de Andy, felizmente longe de onde eu estou. Apesar disso, sua presença ainda parece impossível de ignorar.
- Sim. Eu fazia com o pessoal do colégio na época do ensino médio.
- Ótimo. Vamos fazer um essa noite. - Lúcia falou com um sorriso largo. - Topa?
- Óbvio.
O encarei, mas Dener fingiu que eu nem existia ali. Fiquei apreensiva de imediato. Será que fiz alguma coisa errada? Ele não está nem olhando para minha cara.
Larguei as coisas ali, dizendo que ia arrumar tudo para o luau. Apenas uma desculpa esfarrapada para sair da cozinha. Fui com Max e Andy para o porão em busca das coisas básicas. Descemos as escadas com dificuldade pela escuridão, até que acendi a luz. Procuramos algumas coisas, até acharmos sacos de dormir.
- Precisamos de mais alguma coisa? - Perguntei, olhando em volta.
- Será que sua avó tem alguns travesseiros ou almofadas velhas? - Max colocou os sacos de dormir no canto.
- Pode ver ali. - Apontei para uma caixa enorme, com cobertores antigos.
Enquanto o garoto de cabelo grande foi até lá, permaneci perto da escada, forçando o pensamento para trazer à tona lembranças necessárias que vão ajudar para levar o essencial.
- Pensando em ontem, Amber?
Olhei para o meu lado, vendo Andy ali. Ergui uma sobrancelha, virando o rosto.
- Se você der com a língua nos dentes, eu juro que te mato.
Ele riu, negando com a cabeça.
- Não vou dizer nada, fica tranquila. Só quero entender a situação.
- Não tem nada para entender.
- Jura? - Perguntou, sem acreditar.
- Estávamos lá no calor do momento e rolou, só isso. Não vai acontecer de novo. - Falei decidida.
Andy riu mais ainda, totalmente descrente. Eu vou espancar esse garoto.
- Boa sorte, Amber. Eu já vi esse filme e sei como ele termina. Alerta de spoiler: vocês não vão parar nem se quisessem.
Agora foi minha vez de dar risada, cruzando os braços e me virando para encara-lo.
- Acha mesmo que sou tão carne fraca assim? - Ergui uma sobrancelha, com uma sorriso desafiador. - Vê se não fica no meu pé.
- Eu? - Colocou a mão no próprio peito, dramatizando. - Não falei absolutamente nada. Só não diga que não avisei.
Neguei com a cabeça, decidindo o ignorar.
- Olhem o que achei! - Max falou, se aproximando com um violão que reconheci ser do meu avô. - Será que podemos levar?
- Depende. Alguém toca?
- Acho que sim. - Deu de ombros. - Quero dizer, eu sei um pouco. Acho que vai ser legal.
- Decidido então. - Falei. - Achou os travesseiros?
- Sim, estão naquela caixa. - Apontou. - Demorei, mas encontrei.
Andy pegou os sacos de dormir, eu peguei a caixa e Max subiu com o violão. Colocamos tudo na sala, quando decidi ir para a cozinha após ouvir um barulho lá. Jéssica e Lúcia estavam na mesma, ambas conversando e cozinhando. Me aproximei, sentando na mesa.
- Decidiram fazer o almoço, é?
- Sim.- Lúcia falou, enquanto mexia o que estava dentro da panela no fogão. - Na próxima os garotos fazem a comida.
Isso se eles não matarem a gente de indigestão.
- Sou péssima na cozinha. - Jéssica disse com irritação, antes de se virar pra mim. - Pode ir cortando os tomates?
- Não tem nada para fazer mesmo. - Dei de ombros, sem animação.
(....)
- Amber, vamos logo. Já está todo mundo esperando! - Jéssica bateu na porta, me avisando.
- Já vou!
Eu coloquei um short de pano preto, e uma blusa cigana vermelha. Pus um chinelo preto também, com o cabelo solto.
Fechei o zíper da minha mochila, colocando a mesma no ombro. Separei algumas coisas básicas para levar, e todos já separaram também. Abri a porta do quarto, fechando a mesma em seguida. Ao me virar, dei de cara com Dener cruzando o corredor. Eu ia fazer um comentário sarcástico só para descontrair, mas o garoto - mais uma vez - passou por mim como se eu fosse uma parede e desceu as escadas, me deixando com cara de retardada sozinha ali.
Okay, sei que pelo certo não devíamos ter feito aquilo, mas isso não é motivo para agir feito um babaca. Fala sério, o garoto está ignorando completamente minha existência. De algum jeito isso está me deixando bem desconfortável, como se eu tivesse necessidade de mudar a situação, porém, não vou. Se ele está com raiva por algo que fiz, então ao menos me diga antes de virar as costas dessa maneira. Não vou ficar implorando por atenção, então ele que segure as pontas para lá. Já não estou com paciência para aturar mais essas coisas.
Depois de dar uma grande respirada, ajeitei a mochila e desci calmamente. Todos já estavam de prontidão na sala, com tudo no meio para carregarmos.
- Finalmente! - Andy ergueu as mãos para o céu. Dei dedo do meio para o mesmo. - Vamos levar isso logo antes que amanheça.
- Que drama. Não são nem sete horas, Andy. - Lúcia revirou os olhos. - Max, pode levar as bebidas?
- Claro. - O mesmo pegou o cooler, colocando em cima do ombro.
Fomos para a parte de fora, quando eu tranquei a porta. Íamos ir andando, até Dener pegar sua moto. Olhamos sem entender nada para o mesmo.
- O que está fazendo? - Julie perguntou, confusa.
- Não podemos ir para um lugar quase desconhecido, no meio da madrugada sem pelo menos um veículo. Se der algum problema, temos pelo menos a moto. - Deu de ombros, colocando o capacete.
- Acho até melhor. A praia é perto, mas nunca se sabe. - Lúcia disse. - Bom, vamos então.
- Espera - Max chamou nossa atenção. - Tem espaço para mais alguém na moto. Alguém quer ir?
Jéssica colocou o braço apoiado no meu ombro, me usando como apoio.
- A Amber já foi. Por que não vai de novo?
Tirei o braço da mesma de mim.
- Não mesmo, obrigada. Dispenso totalmente. - Falei já sem paciência. - Deixa ele se virar sozinho. Vamos!
- Calma... - Julie se virou para Sebastian. - Amor, tem algum problema caso eu vá com o Dener?
Ah, não. Não mesmo.
- Por mim não. - Seu namorado deu de ombros, sem dar importância.
- Dener, posso? - Ela sorriu para o mesmo.
NÃO!
- Claro, sobe ai.
Puta que pariu.
Julie foi quase saltitando para o lado do mesmo, colocando o capacete e subindo na garupa em seguida. Meu sangue ferveu, e eu senti vontade de quebrar todos os dentes brancos daquele garoto.
- Segura ai. - Dener disse, abaixando a viseira.
Arrancou com a moto, passando bem ao meu lado. Meu cabelo balançou de forma agitada, me deixando morrendo de ódio por dentro.
Não falei mais nada, apenas fui pisando firme à caminho da praia. Os outros estavam conversando e rindo, enquanto eu queria quebrar aquela moto em pedaços. Como ele pôde fazer isso? Tantas garotas e justo ela! Dener fez isso só para me irritar, tenho certeza. Ainda por cima nem olha na minha cara. Quem ele pensa que é? Só pode ser brincadeira.
- Vai matar alguém agora ou depois? - Pisquei os olhos repetidas vezes, voltando à tona.
Olhei para Sebastian, que agora estava ao meu lado me observando.
- Está tão nítido assim que estou com raiva? - Ergui uma sobrancelha em sua direção.
- Acredite, está sim. - Demos uma risada. - Tudo bem? Ontem você parecia... Não você.
Neguei com a cabeça, querendo apagar essa memória.
- Ah, nem me lembre. Conseguiram me tirar do sério.
- Quer falar sobre?
- Não. Definitivamente não.
Ficamos naquele mesmo silêncio perturbador por uns minutos. Como odeio esse silêncio.
- E, Amber...
- Hum? - Me virei para olha-lo.
- Me desculpe por não estar te dando atenção. Sabe que devo manter as aparências, principalmente para a Julie.
Só esse nome me da repulsa. A visão dela na garupa do Dener fez meu sangue ferver novamente. Apertei as unhas contra a pele, agradecendo pelas mesmas não serem tão grandes ao ponto de me machucar.
- Não tem problema. Já me acostumei. - Falei sem interesse.
- Não fica assim... - Segurou minha mão. Sua pele estava fria, mas o calor no meu peito foi notável. - Já estou prestes a conseguir um emprego, sei disso.
- Espero que consiga logo. Não aguento mais ficar desa forma.
- Relaxa. Isso já vai acabar. - Me deu um sorriso.
Concordei com a cabeça, sorrindo também.
- O que acha de nos encontrarmos no seu quarto depois desse luau? Já vão estar todos cansados mesmo. - Deu de ombros. - Podemos matar a saudades.
Meu peito ardeu.
- Vou adorar. - Meu sorriso ficou maior.
Antes que pudéssemos dizer mais, já estávamos na praia.
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