Entre Memórias e Palavras Per...

By StelleNero

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Entre sonhos e uma densa floresta, uma casa que está sempre a queimar. Entre as trevas e o medo do coração de... More

BookTrailer e Playlist
Um pequeno planeta
Parte I
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI

Capítulo V

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By StelleNero

A LOUCA

Sophia não conseguia entender as palavras de Beatriz, elas chegaram claras, mas ela não conseguia atribuir um sentindo igualmente claro para aquela frase, "seu nome deve ser Sophia", sim, ela pensava enquanto a olhava fixamente, mas você já sabe disso. Era difícil reconhecer Beatriz também, parecia olhar para Aestas como se fosse a primeira vez ali, sua postura era a mesma de uma pessoa frágil e temerosa, e totalmente depende de Balthazar.

-Sim... -Ela respondeu após alguns segundos que pareceram incomodar Balthazar, mas ela o ignora ao deixar sair mais algumas palavras. -Mas Beatriz, não somos completas estranhas.

-Oh! Me desculpe So...

-Não Beatriz -Começou Balthazar. -Não precisa se desculpar, não são estranhas como ela disse, lembra-se do que lhe falei durante o caminho? Sophia é apenas alguém que você visitava quando precisava de trabalhos de costura mais urgentes, não é Sophia?

-Sim, claro, apenas trabalhos mais urgentes, só isso.

-Além disso, -Começou Balthazar -Ela apenas ajudava o pai dela, ele era quem costurava. -Seu tom voz desdenhava de Sophia, seus olhos se mostravam magoados e sua postura caiu um pouco, apesar de notar, Beatriz ignorou e se manteve em silêncio.

-Meu pai não costurou até o último suspiro Balthazar, o vestido que ela veste agora é um dos que fiz, quando ele já era velho demais para isso.

-Não importa. -Ele voltou a dizer. - Um único fino em anos? Mas Beatriz, não se preocupe querida, para agora os serviços dela bastarão.

-Por que a trata assim? -Disse enquanto recusava segurar a mão que ele estendia para ela, não parecia certo tratar alguém daquela forma, Sophia estava visivelmente ofendida.

Ele fitou seus olhos castanhos sem entender, não sabia o que responder e buscava ali as palavras. Mas seus olhos estavam praticamente vazios, traziam apenas um leve ar de irritação, e em seu íntimo, Balthazar, sentiu-se envergonhado, um sentimento que não que não experimentava a anos, havia se esquecido de como tentou tantas vezes não receber aquele olhar vazio, que trazia escondido, nos pequenos detalhes da pupila, a decepção e a raiva. Havia se esquecido de como Beatriz conseguia despertar sentimentos e pensamentos que nunca conseguiu compreender, que sempre se esforçou para esconder de todos, exceto ela. Seus olhos azuis brilharam por segundos, havia um sentimento que nunca conseguiu matar, e a possibilidade de o ter materializado para si quase o fez sorrir.

-Tudo bem Beatriz, -Começou Sophia -não me importo com o que ele diz, mas entrem, não faz sentindo ficarmos aqui fora. Tenho que tirar novas medidas suas.

Balthazar pegou uma das mãos de Beatriz, que por um curto segundo pensou em se recusar, e a colocou em seu braço para conduzi-la, quando a curta resistência cessou, o olhar de Sophia não foi rápido o bastante para perceber sua sutil recusa, estranhando então, a forma em que Beatriz havia aceitado ser conduzida, mas acabou por permanecer calada ao abrir a porta e deixar que entrassem. Ela sabia que havia algo errado, e que Balthazar não estaria nem um pouco interessado em a arrumar, não se estiver ganhando algo com isso, pensou antes de fechar a porta atrás de si, e com certeza está...

O interior da casa surpreendeu Beatriz, mesmo mal iluminada a sala possuía um brilho dourado quase mágico, seus olhos percorreram lentamente cada pedaço e objeto iluminado, havia uma diversidade de tecidos e cores em uma estante, e tudo emanava um ar de paz e tranquilidade, ao fitar brevemente os olhos de Sophia sentiu como se eles também jorrassem para o mundo a mesma paz e tranquilidade. Pela primeira vez desde que abriu os olhos na floresta, ela se sentia confortável, sensações boas percorriam seu corpo, mas ao encontrar a sua figura pálida no reflexo do grande espelho fixado na parede ao seu lado, a breve tranquilidade se esvaiu de seu corpo, ela e Balthazar destoavam do tom alegre da casa, como uma gota de tinta negra em um quadro colorido com as cores mais vibrantes e felizes.

Enquanto ela deixava o seu olhar se perder pela sala e pelo próprio reflexo, Sophia e Balthazar pareciam discutir o que exatamente seria feito e como seria feito, mas nada daquela conversa de forma e cores interessava Beatriz agora. Havia muito mais do que sensações agradáveis, havia o sentimento de familiaridade, e diferente de sua própria casa, a certeza que já esteve ali, o sentimento que pertencia aquele lugar preenchia seu ser, tentava se convencer que eram sentimentos falsos, fabricados pelo calor da luz dourada que iluminava a sala, mas não havia nenhum argumento dentro de si para desfazer aquela sensação. Quando Sophia lhe pediu que retirasse a capa por cima do vestido se viu fazendo aquilo outras vezes, em vários dias diferentes, mãos frias tocaram seus braços nus a tirando de seu transe, era Balthazar, ela manteve o olhar fixo no espelho enquanto o rosto dele aproximava-se do seu, ela sentiu o peito dele encostar em suas costas e o hálito quente chegou à seus ouvidos em uma frase curta sussurrada.

-Louca, não demore com seu trabalho. -Gritou ele para Sophia após se afastar um pouco de Beatriz. -Logo retornarei, não podemos ficar até o anoitecer.

-Não se preocupe com isso, só irei tirar as medidas dela hoje, quando voltar já terei terminado.

Sophia permaneceu em silêncio por poucos segundos, estava observando Beatriz enquanto fingia procurar pela fita de medidas, como se a tivesse perdido, e a cada segundo ela tinha cada vez mais certeza que havia algo de muito errado com ela, pensou que logo que Balthazar deixasse a casa ela falaria alguma coisa, mas ela permaneceu em silêncio, olhando para si mesma no espelho, como se mal pudesse reconhecer o próprio reflexo, ela estava agindo como se fosse uma estranha para si mesma, como se não houvesse nenhum pequeno resquício de lembrança.

-Talvez tenha esquecido realmente. -Sussurrou para si mesma.

-Perdão, não consegui ouvir.

-Ah! Não é nada, ás vezes falo sozinha, por isso e tantas outras coisas me chamam de louca, mas você não pareceu surpresa enquanto a isso.

-Ele me disse antes... todos te chamam assim, mas não se preocupe, prefiro o seu nome de verdade, é menos assustador. -Havia um pequeno sorriso em seus lábios, um sorriso nervoso, quase medroso.

Sophia se aproximou com a fita, um pequeno caderno e o que deveria ser o resto de um lápis, gentilmente ajudou Beatriz a retirar o vestido, deixando-a apenas com um fino vestido branco que não marcava seu corpo.

-Preciso das suas medidas reais. -Explicou ela. -Mas não se preocupe, não creio que ele voltará antes que já tenha se vestido novamente.

Não creio que faria diferença, Beatriz pensou ao se lembrar que estava nua quando ele a encontrou na floresta, e no fundo não entendia o que motivaria a preocupação em não deixar que alguém a visse assim, apenas um corpo, ela refletia com as palavras de Sophia, o que haveria de tão errado em corpo despido?

-Do que consegue se lembrar Beatriz?

-Nada... -Levou uma de suas mãos até a cabeça, tentar lembrar apenas a fazia ter dores latejantes.

-Nem do que lhe fez tantas feridas assim? São bem recentes.

-Uma noite atrás, é a única lembrança que tenho, embora não acredito que devesse chamar de lembrança. Estava na floresta, sozinha... Apenas acordei lá na última noite. -Seus olhos ficaram distantes por alguns segundos antes de continuar, não tinha certeza do que poderia contar para ela, mas também não havia nada de relevante em vagar pela floresta a noite. -Comecei a andar, não sei o que procurava, apenas ia seguindo, alguma coisa parecia falar dentro de mim para seguir...

-E então as árvores resolveram se revoltar e te atacaram? -Ela tentou brincar, o rosto de Beatriz estava sério demais.

-Não... -Ela sorriu um pouco. -Ouvi um barulho estranho, um corvo eu acho, não sei explicar, mas aquilo me apavorou, eu sei que parece sem sentindo, mas qual o sentido de acordar nua na floresta a noite? Apenas sai correndo, e os galhos mais baixos e os arbustos me arranharam, até que caí, não tinha mais som algum, até que ouvi passos, era ele. O que alguém faz sozinho na floresta a noite Sophia?

-Não sei... bem, você viu a casa... Ah Beatriz, não se incomode com isso... com o tempo as respostas e lembranças aparecem, queria poder ajudar, mas é com ele disse, sou apenas alguém que costura ás vezes para você. -A insegurança do que falar tomou conta de Sophia, o quanto poderia revelar agora sem ter problemas mais graves com Balthazar? Ela precisava de tempo para compreender o que estava acontecendo e se reaproximar de Beatriz, e uma pequena guerra com ele dificultaria um pouco mais a tarefa.

O nervosismo na voz de Sophia era facilmente notado por Beatriz, havia feito uma pergunta simples, e Balthazar sozinho a noite na floresta realmente parecia estranho para ela, havia tão pouco sentindo em acordar sem memória na floresta, quanto em vagar por ela sozinho a noite, sem nenhum tipo de arma, apenas um pequeno candeeiro. Mas encontrava menos sentindo ainda na forma que Sophia fugiu do assunto sem mal conseguir disfarçar.

-O que ele lhe sussurrou antes de sair? -A voz dela chegou cheia de curiosidade aos ouvidos de Beatriz, que mudou a postura, havia levado um susto com a pergunta.

-Não acredito que seja de seu interesse. -Sua voz soava altiva. -Caso fosse, seria dito em voz alta.

-Peço perdão.

O silêncio absoluto caiu sobre a sala, mesmo entendendo a situação de Beatriz, Sophia estava magoada, aquela atitude e palavras não correspondiam com a sua personalidade verdadeira, e lhe parecia difícil crer que a falta de memórias pudesse corromper o caráter de alguém. Então ela apenas seguiu seu trabalho, de forma cuidadosa e lenta, a ajudando a se vestir novamente por fim.

Sophia não queria tentar novamente uma conversa, haviam perguntas que não poderiam ser feitas, pelo menos não ainda, assim como nem todas as de Beatriz poderiam ser respondidas. Ela queria contar sobre Balthazar, o que fazia na floresta a noite, mas não haviam certezas, ela não poderia simplesmente implantar incertezas maiores em sua cabeça, ela já parecia desconfiada de tudo e todos para qualquer tentativa. Decidindo então que por hora não faria nada, deixaria que ela descobrisse a maior parte das coisas por conta própria. Como Balthazar demorava a retornar, não havia mais nada a fazer do que pedir que Beatriz sentasse no sofá daquela sala e esperasse por ele, mas ela não parecia incomodada com a ideia de ficar ali, em momento algum Sophia percebeu desconforto nela.

-Se sente bem aqui?

Antes que ela pudesse falar como tudo ali lhe era familiar, como viu a si mesma em tantos dias diferentes naquele lugar, naquela sala, naquele mesmo sofá, a sensação de conforto logo assim que entrou, uma pequena figura desajeitada abriu a porta do interior da casa e chamou a atenção das duas. Era Demétrius, limpo e com roupas novas, o cabelo estava molhado e bagunçado, sua postura, percebeu Sophia, estava diferente, quase confiante, apesar de não ter se visto em nenhum espelho, sentia-se irreconhecível, poderia sair na rua que não teria medo de ser atacado por outras crianças, que provavelmente o confundiria com uma criança com família.

Os olhos do garoto passaram de Sophia para Beatriz, onde se fixaram por longos segundos, havia algo no rosto dela que o encantava, havia algo quase familiar ali, os olhos castanhos de ambos brilharam rapidamente quando se encontraram, o pequeno Demétrius não entendia o que sentia, mas era bem maior que a gratidão que sentia por Sophia, um sentimento quente e confortável, ele desejou poder abraça-la, mas algo prendia seus pés, que se recusavam a caminhar em sua direção.

-Seu filho? -Ela perguntou para Sophia.

Ela sorriu para ele antes de responder.

-Apenas se ele quiser.

Ei leitores!

Queria agradecer os feedbacks lindos que estou recebendo! Vocês são incríveis!

Enquanto o próximo capítulo não chega, vamos conversar um pouquinho. O que será que Balthazar estava fazendo na floresta a noite? O que aconteceu com a Beatriz?

Até o próximo capítulo!
Abraços estelares!✨

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