~ Amber ~
Após ir para o meu quarto eu fiquei mexendo no celular e adormeci. Depois de sei lá quanto tempo, acordei no susto com meu toque, e uma vibração enorme no meio dos lençóis. Sentei na cama totalmente sonolenta e fui passando a mão para encontrar a fonte do barulho, quando finalmente achei, vi que era minha mãe me ligando. Deslizei para o lado e coloquei na orelha.
Ligação On~
- Alô? - Falei seguido de um bocejo.
Diana: Filha, como estão as coisas por aí?
- Sinceramente eu não sei, mãe. Desfiz a mala e só acordei agora.
Diana: Pode ver como está todo mundo? Estou preocupada. - Revirei os olhos.
- Okay, espera ai.
Fui descendo as escadas e ouvi risos e vozes, junto com barulho de água. Ao chegar na sala, vi pelas grandes paredes de vidro o pessoal na piscina e na borda da mesma, rindo e brincando. Deve ser final da tarde, já que o céu está começando a ficar laranja.
- Eles estão bem. Está todo mundo na piscina.
Diana: Ah, que ótimo. Qualquer problema me liga, Amber. Eu te amo muito.
- Também te amo muito, mãe. Beijos.
Diana: Beijos.
Ligação Off~
(....)
Desliguei, pondo o celular em cima da mesinha de centro. Fiquei observando eles por mais alguns minutos e meu estômago roncou, me fazendo ir para a cozinha. Vi várias coisas enlatadas em cima da ilha, e franzi o cenho. Me aproximei do armário, retirando um saco de biscoito de lá. Justo o meu favorito.
Fui até a sala novamente e peguei o controle da televisão. Amo o fato dos meus avós investirem em coisas matérias. Essa televisão é o triplo do meu tamanho, e o fato dela ficar presa na parede só deixa com um toque mais moderno. Coloquei o quarto filme de Harry Potter e abri o pacote, levando alguns pedaços à boca.
Fui me entretendo com o filme, até começar a ficar com sono novamente.
- Mal acordou e já vai dormir? - A voz dele me fez piscar os olhos repetidas vezes.
Dener estava saindo da cozinha com uma blusa cinza e uma bermuda preta. Seu cabelo bem bagunçado, e com uma latinha de cerveja em mãos.
- Achei que não bebia. - Falei desviando meu olhar, e prestando atenção na televisão novamente.
O garoto deu um gole na bebida, passou na frente da televisão e sentou do outro lado do mesmo sofá que eu.
- Só porque eu sou responsável, não significa que não sei curtir a vida. - Ele virou o rosto para me olhar, fiz o mesmo. - Esqueceu que tenho uma moto?
Dei um risada, voltando a olhar para frente. Por mais que eu quisesse simplesmente o expulsar daqui, me sinto estranha em sua presença, como se fosse necessidade ficar perto do mesmo. Isso é tão estranho.
- Me responde uma coisa, Amber... - Ele chegou um pouco mais perto, olhando diretamente pra mim.
- Achei que ainda estava com raiva pelo que fiz com seu celular. - Ergui uma sobrancelha.
- É, eu fiquei. Mas me diz, qual o nome daquele garoto lá, que namora a pessoa mais grudenta que já vi?
Ri pela sua forma de dizer.
- Sebastian.
- Okay, e por que ele é o mesmo garoto que saiu do seu quarto naquela festa que você fez?
Meu sorriso sumiu. Ele quer mesmo falar disso?
- Olha Dener, tivemos um momento, ta? Isso acontece, é normal. - Dei de ombros sem encara-lo.
- Amber, olha pra mim. - Respirei fundo, mas apenas fiz. - Eu sei como isso termina, e te digo que você consegue coisa melhor.
Dei uma risada forçada, me recusando a acreditar que estamos mesmo tendo essa conversa.
- E por que acha que sabe o que é melhor pra mim? Eu sei me cuidar! Fora que, ele só está com ela por pressão dos pais. É complicado.
Não sei porque ainda estou tentando explicar. Esse idiota jamais vai ser capaz de entender.
- Pressão dos pais? - Ergueu uma sobrancelha, negando com a cabeça. - É a desculpa mais idiota que já ouvi.
- Escuta aqui, para de dar palpites sobre minha vida, okay? Eu não te pedi conselho algum!
- Eu já passei por isso, Amber. Já vi meus amigos passando. Não vai acabar bem, e você vai se magoar no final.
Franzi as sobrancelhas em sua direção.
- Dener, eu não vou me magoar. Sei que ele quer ficar comigo, e é isso que importa.
- Ficar com você? - Cruzou os braços, encostando as costas no sofá. - Me responde umas coisas então... - Revirei os olhos. - Ele sempre fica com você quando ela não está perto, ou quando estão brigando?
- Para... - Falei baixo, sentindo meu corpo esquentar.
- Não conta para ninguém sobre os dois, porquê diz que é para o seu próprio bem?
- Dener...
- Inventa mil coisas com você para o futuro?
- Dener, já chega.
- E o principal, o único lugar que ele é capaz de demonstrar qualquer tipo de afeto, é na cama?
- Eu mandei parar! - Gritei, sentindo ódio se alastrando pelo meu corpo. - Você não tem o direito de dizer nada sobre isso!
- Acorda, Amber. Eles sempre fazem isso. Está te enganando, e você está caindo igual uma idiota!
Ri de maneira sarcástica, me levantando em seguida.
- Não quero mais ouvir isso.
- Você tem que ouvir. Quem sabe assim para de ser a porra de uma amante de quinta!
Parei e o encarei, sentindo meu corpo afundar lentamente no abismo. Meus pés ficaram travados no chão, e eu só notei que tinha parado de respirar quando soltei o ar e meus olhos se encheram d'água. Meu estômago apertou, e eu nunca senti tanta vontade de quebrar as coisas em cima de alguém.
Por mais que meu sangue estivesse fervendo e minha vontade de arrebentar essa cara fosse grande, as palavras realmente me detonaram. Sei que sou uma amante, sei que o que estou fazendo é totalmente errado, sei que não mereço isso, porém, não vejo outra forma de lidar com a situação. Eu confio no Sebastian, sinto algo forte por ele e a ideia de aceitar a situação ao invés de questionar e saber no que me meti, é mais fácil, e menos doloroso.
A maneira que Dener me disse isso, me quebrou por dentro.
- Faz um favor pra mim, e para de querer entrar na minha vida. Me esquece de uma vez! - Falei com a voz embargada, e não me atrevi a olha-lo.
Virei as costas com o coração batendo forte, e sentindo meu rosto molhado com as lágrimas já escorrendo. Subi as escadas correndo e ao passar pela porta, bati a mesma com toda força e tranquei. Me aproximei da cama e sentei na ponta, pondo ambas as mãos no rosto. Simplesmente desabei.
~ Dener ~
Ouvir a voz dela carregada de mágoa e tristeza, e sua forma rápida de querer sair de perto de mim, fez a minha raiva crescer mais. Ela não entende que só quero avisar? Vejo isso sempre, e não quero que a mesma se machuque. A Amber é tão cabeça dura que me deixa louco. Como ela consegue ser tão cega e ingênua? Inacreditável.
Levantei, respirei fundo e puxei a porta de correr de vidro, indo para perto da piscina. Todos pareciam conversar normalmente e rir também, como se não tivessem escutado nada. Me sinto mais relaxado assim. Me aproximei de Andy, que estava conversando com a melhor amiga da Amber dentro da piscina.
- Andy, posso falar com você?
Eles pararam de conversar e me olharam.
- Eu já volto, Jess. - Avisou para a garota. - Vamos. - Falou assim que saiu da piscina, sinalizando o canto do enorme quintal.
Fomos andando lado a lado até nos sentamos em duas cadeiras de praias, em baixo de um guarda-sol preso à mesa. Ele sentou do meu lado, e eu suspirei.
- O que houve? É a Milla?
Neguei com a cabeça. Antes fosse.
- Discuti com a Amber, e acho que peguei pesado. Posso ter feito isso, mas cara, eu só quis proteger ela. Não é minha culpa se é a garota mais ingênua que conheço. - Me encostei na cadeira com as sobrancelhas franzidas.
- Diz exatamente o que houve.
Contei tudo. Desde a festa que ela fez em casa, e do Sebastian saindo do seu quarto até nossa briga de agora. Falei cada detalhe, e Andy só me encarava com as sobrancelhas erguidas, totalmente surpreso por cada palavra. Quando acabei, meu amigo colocou a mão no rosto, escondendo a boca.
- Não faz essa cara. Eu preciso da sua opinião.
- Olha, você foi um babaca.
Levei ambas as mãos no rosto e esfreguei, descendo com as mesmas pelo queixo e respirando fundo.
- Sei que só quis proteger ela, mas não se faz isso chamando uma garota de "amante de quinta" - Mordi o lábio, sentindo o arrependimento bater com força. - Pegou mais do que pesado.
- A Amber precisa ouvir a verdade de vez em quando, sabe disso.
- Dener, presta atenção... - Ele se inclinou para frente. - O problema não foi o que você falou, foi como falou. Fora que além de não ser um problema seu, só bastava ouvir e conversar, não sair falando um monte de coisa e achando que ela ia ficar tranquila te deixando falar o que quisesse.
- E de que outro jeito ela ia entender?
- Talvez ela não queira entender.
- Então eu só tenho que deixar? Isso é patético!
- Isso não é responsabilidade sua, Dener. A vida é dela. Mas é responsabilidade sua a forma de se expressar. Não da para sair jogando as coisas na mesa de qualquer jeito e esperar que tenha um bom resultado.
Umedeci os lábios, encarando o chão.
- Cara, vai por mim, fala com ela. Para a Amber está se rebaixando à isso, é porque realmente está apaixonada.
- E se ela não quiser falar comigo?
- Acredite, ela vai.
Por mais que seja horrível admitir, sei que ele está certo. Andy sempre foi o meu amigo mais sincero, e vi a forma que ela saiu. Foi muito tenso para dizer que está tudo bem.
- É, eu exagerei mesmo. Vou fazer isso.
- Não demore muito. - Me deu um sorriso de lado antes de sair dali, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Depois de um bom tempo, todo mundo saiu da piscina e foi se secar. Fiquei um tempo ali sozinho, pensando em como vou fazer para falar com a Amber. Além de extremamente orgulhosa, ela parece ser bem impossível de voltar atrás.
Por que tive que abrir essa boca?
Minha vontade é de simplesmente subir lá, entrar no quarto e falar com ela, mas sei que não é uma boa ideia. Amber vai me colocar para fora na base da porrada, e eu daria total razão à ela. Estou tão desestruturado sobre esse assunto que quanto mais eu penso, mais me deprime.
Decidindo pelo menos comer alguma coisa antes de falar com ela, saí da cadeira de praia e passei pela porta de vidro, indo para a sala. Todos estavam lá com cobertas e travesseiros assistindo um filme qualquer na televisão. Olhei para a cara do Sebastian, vendo o mesmo abraçado com sua namorada. Senti raiva pela forma que esse desgraçado brinca com as garotas assim. Mal vejo a hora de alguém finalmente o desmascarar.
Suspirei e dei as costas. Fui para a cozinha, pegando um pacote de biscoito doce no armário.
- Você está bem?
Me virei para ver a dona da voz, e acabei dando de cara com a loira.
- Oi, Lúcia. Estou. - Voltei a olhar para o pacote. - E você?
- Normal. - Deu de ombros. - Está com fome? Colocamos algumas pizzas no forno. Jéssica é ótima na cozinha. - Ela sorriu, e eu retribui de forma fraca.
Lúcia passou direto e foi para o forno, colocando o pano de prato em uma das mãos. Abriu o mesmo e retirou o tabuleiro, revelando a pizza coberta por queijo. Meu estômago roncou.
- Para de comer biscoito e vem comer pizza.
Concordei, respirando fundo.
- É, acho que vou acabar morrendo mais rápido se ficar me enchendo de biscoito de chocolate. - A mesma riu, mas eu fiquei pensativo. - Posso te fazer uma pergunta?
Ela já tinha colocado quatro pizzas em cima da ilha da cozinha, onde eu estava sentado.
- Claro - Ergueu o rosto para me encarar. - O que foi?
- O que a Amber sente por aquele canalha que está lá na sala?
Ela pareceu ter travado, pois só me olhou com dúvida e surpresa. Encarou a porta da cozinha, se certificando que ninguém ia entrar. Voltou a olhar para a pizza, dando de ombros.
- Vai, Lúcia. Sei que não devia ter perguntado, mas eu falei o que não devia para ela.
Ainda ressentida, a garota suspirou e sentou perto de mim.
- O que sabe sobre isso?
- Que no dia da festa de vocês, ela transou com esse garoto, e agora ele está aqui com uma menina dizendo que é namorada dele. - Falei com desdém. - Não sou otário, sei que a Amber se enfiou no meio disso.
- É, você está certo. Pena que não possamos fazer nada.
Cocei a nuca, levemente constrangido.
- Eu queria ter descoberto isso antes de falar algumas coisas...
- Vocês brigaram, é? - Ergueu uma sobrancelha em minha direção, seguido de uma risada. - Típico. Olha, não sei muito sobre esse assunto, mas se ela está se envolvendo no meio disso, é porque está desafiando os próprios limites. Com isso posso te confirmar que ela sente algo forte por ele o suficiente para ter feito isso.
As lembranças vieram a tona. Por isso ela fugiu na primeira vez para o parque de diversões. Tem que estar muito cega para se assujeitar à esse tipo de "relacionamento", e o estúpido aqui foi lá e se meteu nisso. Se eu ao menos tivesse dito de forma mais simples, menos explosiva e ridícula como fiz, ela ainda estivesse tranquila no meio de todo mundo.
Preciso resolver isso.
- Lúcia, será que pode me fazer um favor? Eu quero conversar com ela, mas sem que ninguém fique em cima me vigiando. Você pode, por favor...
- Deixa comigo. - Piscou antes que eu pudesse terminar. Dei um sorriso sincero, e agradeci.
(....)
Depois de comer, fui tomar um banho. Escovei os dentes e deixei o cabelo de qualquer forma. Coloquei uma blusa branca e uma bermuda azul marinho. Fiquei descalço, e saí do banheiro na esperança de ir no quarto dela e me desculpar. Estou realmente arrependido, e não queria ter sido tão grosso como fui. Espero que ela não seja tão difícil ao ponto de não me ouvir, e não me desculpar. O pior é que se a mesma fizer isso, eu vou acabar lhe dando a razão pelo simples fato de ter começado isso tudo.
Fui para o corredor e tive que ir me controlando para não desistir. Estou muito receoso de que isso pode funcionar. Ao chegar na porta do seu quarto, bati duas vezes. Sem resposta.
- Amber? Eu quero falar com você. - Bati mais uma vez. - Me da só uma chance de concertar isso. Amber?
Bati mais umas três vezes e aproximei meu ouvido da porta na intenção de ter certeza que a mesma está aí dentro. Não ouvi nada, e não tive resposta alguma. Decidido, girei a maçaneta e fui empurrando a mesma devagar, dando de cara com o quarto totalmente vazio, e um cabide, umas duas peças de roupa em cima da cama. Franzi as sobrancelhas, totalmente confuso.
Fechei a porta novamente e desci as escadas, vendo todos juntos assistindo outro filme que nem me importei em perguntar qual era.
- Vocês viram a Amber?
- Ela foi para a piscina. Não quis nem saber de papo. - A melhor amiga dela disse, me encarando.
- Ela quer atenção, isso sim. - A namorada do Sebastian disse com desdém. Ergui uma sobrancelha em sua direção.
- Você é quem mesmo? - Perguntei.
- Julie.
Dei uma risada, negando com a cabeça.
- Se você soubesse quem realmente quer atenção ia ficar surpresa.
Sebastian olhou para minha cara sem entender, porém, tenho certeza que o atingi de alguma forma. Babaca.
- Vou atrás dela. - Falei já virando as costas.
- Aproveitando que você vai sair, vou fechar essa cortina. Está me dando nervoso ver essas plantas balançando lá no quintal. - Lúcia disse já ficando de pé.
Me aproximei da porta de correr de vidro, e ela me mandou outra piscada antes de puxar o pano, tampando totalmente a vista para a piscina.
Gostei dessa garota.
Parei na porta, quando vi Amber sentada na borda da piscina olhando para seu reflexo na água, enquanto balança seus pés calmamente dentro da mesma. Ela está usando um biquíni roxo na parte de cima, e um short preto e curto na parte de baixo. A luz da piscina está ligada, refletindo o tom azul no rosto da garota.
Estou encrencado.
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