~ Amber ~
- Vocês vão sair de novo? Estão brincando, né? Estão parecendo quase dois adolescentes. Pelo amor de Deus, só faz duas semanas que saíram desde a última vez! - Revirei os olhos, indignada. - Não conseguem passar uma semana inteira sem inventar qualquer fuga?
E lá estavam eles, com suas roupas sociais e uma desculpa totalmente esfarrapada para me deixar em casa sozinha. Agora com o pretexto de sua prima está aqui. Por mais que as vezes eu prefira sim essa ausência dos dois, eles conseguiram tornar tudo muito pior. Só queria ficar em casa, sozinha, comendo, ouvindo música e fazer qualquer outra coisa. Ao invés disso, estou ocupando a vaga de uma garota de doze anos, que mal terminou de ver todos os filmes da Barbie.
Meus pais tem o péssimo dom de transformar tudo em um belo inferno. Já não bastava fazerem isso antes, agora eles contratam alguém justamente para fazer o mesmo, ou até pior. Não sei quanto tempo mais vou sobreviver à isso, mas infelizmente estou sendo obrigada a lidar. Minha cabeça está doendo só de lembrar que ele vem hoje, e que eu vou me trancar o resto do dia no quarto para não lidar com o peixe. Estou mais que farta disso.
- Ao invés de ficar perturbando - Minha mãe disse conforme arrumava a gravata do meu pai. - Por que não arruma suas coisas para o ano novo? Falta pouco e é bom que você ocupa a sua mente ao invés de encher a nossa.
Respirei fundo, mordendo o lábio em irritação. Só pode ser brincadeira.
- Não estou gostando nada do seu comportamento ultimamente. - Meu pai se intrometeu. - Você anda pior do que o normal.
Ao ouvir isso, minha mãe pareceu ter caído na real, pois se virou pra mim com as sobrancelhas franzidas e cruzou os braços, na altura do decote em formato de coração bordado perfeitamente em seu vestido turquesa.
- Agora que o James reparou, eu também concordo. O que houve? Aconteceu algo, e você não quer nos contar.
Estou há duas semanas sem ver o Sebastian, a namoradinha dele faz questão de colocar várias coisas no status dos dois todos os dias, Jéssica e Max tem saído mais do que o normal e vocês dois fingem que não tem filha.
- Eu não aguento mais o Dener! Vocês ficam arrumando ideia de sair sempre, e eu que aturo as consequências?
- Primeiro que você não vê ele faz mais de uma semana, então deixa de ser dramática. Depois, não somos nós "arrumando ideia" - Fez aspas. - Você que arrumou, nós te castigamos e estamos tirando vantagem disso. - Ela deu um sorriso vitorioso, virando para o meu pai em seguida. - Amor, pode pegar minha bolsa? Eu esqueci ela dentro do closet.
Ele concordou, arrumando seu relógio antes de virar as costas e subir as escadas. Os olhos verdes dela me miraram outra vez.
- Amber, vou te dizer pela última vez, okay? Se comporte, e sugiro que mude esse seu jeito rebelde. Se continuar dessa forma, tomaremos medidas extremamente drásticas. Se isso acontecer, não vai ser você e suas birras que vão nos fazer voltar atrás. Repense nas coisas que você está fazendo, e espero não ouvir reclamações suas. - Seu olhar estava severo, e sua voz firme. Por um segundo, achei que Diana estava mesmo falando sério, até me lembrar que escuto essas coisas desde os quatorze anos.
- Ta, eu vou me comportar. - Ergui o rosto. - Se ele se comportar também.
Parecendo de saco cheio do assunto, ela revirou os olhos e suspirou. Ignorando o que eu acabei de dizer, Diana se aproximou do começo da escada e chamou meu pai, já se cansando de esperar.
- Estou falando sério, da pra me ouvir? - Falei de forma exigente, cerrando os olhos.
Ela se virou pra mim, sem qualquer vontade de me ouvir.
- Amber, já chega. Essas suas reclamações já estão mais do que manjadas! - Disse com desdém.
- Mãe, me escuta só dessa vez. O Dener é um mala, troca ele por qualquer outra pessoa pra me vigiar, ou sei lá. Contrata um segurança. Dois, talvez. Não tenho ideia. Apenas demita ele.
- James, vamos logo! - Diana deu o último grito, antes de se virar pra mim. Ela já está quase explodindo. - Ele e a mãe dele estão passando por dificuldades, e ele precisa desse emprego. Não vou demitir o Dener, ele é um ótimo garoto.
A mesma olhou para o relógio perto do quadro e bateu com o salto algumas vezes no chão, respirando fundo e olhando para o começo da escada de forma impaciente.
- "Ótimo garoto"? - Fiz cara de nojo. - Ele é um porre.
- Se está te incomodando, é porque está fazendo o trabalho direito.
- Não sei que trabalho. - Murmurei.
- Não seja ridícula, Amber.
Meu pai desceu as escadas com certa rapidez, segurando uma bolsa de mão prata. Entregou-a para minha mãe, que enroscou o braço em volta do dele, fazendo os dois trocarem um sorriso afetuoso. Vontade de vomitar.
- Ele já está vindo. Qualquer coisa é só...
- Apertar o botão vermelho. Já sei, já sei.
- Divirta-se. - James falou, antes de abrir a porta e cruzar ela com minha mãe.
Subi as escadas indo diretamente para o meu quarto, onde Lúcia mexia de forma atenta no computador com o fone no ouvido. Peguei minha mala roxa em baixo da cama e coloquei em cima da mesma, abrindo logo em seguida. Fui até meu guarda-roupa e tirei dois maiôs e um biquíni. O biquíni era laranja, com flores vermelhas. Um dos maiôs era preto, com mini âncoras, e o outro rosa bebê, com pequenos babadinhos. Fiquei encarando as três peças de roupa.
- O que está fazendo? - Lúcia girou a cadeira na minha direção, tirando o fone de um dos lados.
- Escolhendo a roupa de banho que vou usar na casa dos nossos avós. Não sei qual deles. - Disse pensativa.
- Por mim você não usa nenhum desses ai. Cadê aquele biquíni com um pouco de bojo? Ele é todo roxo, sem desenho.
Parei pra pensar um pouco. Não tinha lembrado dessa possibilidade.
- Ah, deve estar no closet. - Estalei o dedo ao ouvir isso, e fui até o mesmo.
Olhei pelas gavetas e em todo lugar, mas não o encontrei.
- Como que se perde um biquíni? - Perguntei pondo ambas as mãos na cintura.
- Olha, tem muitas maneiras de perder um biquíni, mas dentro de casa é novidade.
- Vou olhar pra ver se está na corda.
Desci as escadas rapidamente e fui até a parte da piscina. Tenho a péssima mania de quando a roupa já está no meu armário há um tempo, eu coloco pra lavar. Fiquei receosa de ter feito mesmo isso, mas minha memória não é uma das melhores, então eu não me surpreenderia tanto. Olhei em tudo por ali, em todas as cordas, até finalmente achar o maldito tecido roxo. Retirei da corda e encarei, lembrando da última vez que tinha usado.
Mais de três meses? Sim, exatamente isso. O pessoal da escola se juntou para irmos a praia, e sinceramente eu nunca me diverti tanto. Foi um dos melhores momentos que tive, e nisso quero dizer que eu fiquei com Sebastian nesse dia também. Não de uma forma normal. Foi a primeira vez que fiz sexo ao ar livre, mesmo que ninguém tivesse visto. Me arrepio só de lembrar das sensações que ele me causou, mesmo que da maneira mais errada possível. Julie estava há poucos metros de nós dois.
As palavras de Lúcia circulam na minha mente. Desejo não é amor. Isso vem me torturando desde o dia em que ficamos, e agora pareço estar caindo de um penhasco enorme, sem prestar atenção na queda. Meu coração pulsa mais rápido só de pensar na possibilidade de ter me enganado por tanto tempo. Decidindo não pensar mais no assunto, apenas aperto o biquíni nas minhas mãos e respiro fundo, saindo de perto da piscina. Subi as escadas correndo olhando para os meus pés, tentando mudar o rumo dos meus próprios pensamentos.
Parecendo um flash, bem no último degrau, bato de frente com alguém, fazendo meu corpo inclinar para cair em direção oposta. Mexi meus braços no ar, os balançando de forma desesperada para não tombar pra trás. O biquíni caiu da minha mão sem eu nem me dar conta, e meus pés foram se levantando mais frente, colocando peso na ponta de trás. Quando achei que ia cair totalmente, o ar me faltou e um calor me invadiu.
Senti minha cintura aquecida por cima do babydoll branco, e sem pensar duas vezes agarrei a alça de sua camisa, me puxando pra frente. Ergui o rosto, e estava a três dedos de distância da boca de Dener, com seu braço em volta da minha cintura, e sua mão segurando a minha, que estava parada no ar. Respirei de forma pesada, sobressaindo sua respiração pesada também. Seus olhos azuis penetravam os meus castanhos, e meu estômago se revirou pela aproximação.
Encarei sua boca, já ofegante. Meu corpo estava formigando, e meu peito descia e subia de forma desesperada. Não sei se pela - quase - queda, ou pela maneira que ele me segurou, e como estou à um passo de quebrar essa porra de distância, fazendo a coisa mais impulsiva e desesperada que eu poderia fazer: possuir esses lábios.
Dener entreabriu os mesmos, deixando sair um suspiro quente e nervoso. Meus olhos já estavam pesando, querendo se fechar.
- O que vocês estão fazendo?
A voz de Lúcia me trouxe de volta a realidade, mas mesmo assim permaneci intacta. Enquanto isso, ao ver que eu já estava bem equilibrada, Dener deu três passos pra trás, encarando o chão e forçando a garganta. Forçou os olhos, apertando os mesmo. Reprimi meus lábios, sentindo minhas bochechas corarem.
Como é possível ser tão ferrada de natureza?
- Nada, eu só... - Tomei coragem pra dizer, com a voz ainda trêmula e falha. - Eu ia cair e o Dener... O Dener... Ele...
Okay, isso é ridículo.
Agachei e peguei o biquíni do chão.
- Achei o biquíni. Estava na corda.
- Só vim perguntar se vocês iam querer comer pizza. Por mais que eu tenha perdido a fome, quer dizer... - Coçou a nuca, bufando pela própria enrolação. - Vou encomendar.
Sem nem olhar pra minha cara, Dener me contornou e desceu as escadas com mais rapidez do que eu quando subi as mesmas. Não posso acreditar no que quase aconteceu. Eu me proíbo tanto de fazer isso.
Ergui o rosto e Lúcia me encarava com a sobrancelha franzida, parecendo que estava tentando decifrar a situação. Não falei nada, apenas fui até meu quarto e coloquei o biquíni na mala. Peguei algumas roupas sem nem olha-las e fui colocando na mesma de maneira nervosa. Meu corpo continua quente pelo que aconteceu, e não posso nem imaginar se eu... Se ele... Se tivéssemos... Puta merda, eu estou tão fodida.
- Ei... - A voz dela me fez olha-la. Minha prima fechou a porta atrás de si. - Desculpa por ter interrompido, eu só fiquei surpresa. Quero dizer, ele é sua... Seu... Enfim, seu babá.
- Tudo bem, Lu. Seria um grande erro também. A última coisa que preciso é do Dener em cima de mim. Ambas as formas. - Falei encarando as roupas da mala.
Lúcia se aproximou, sentando perto de onde eu estava. Sua aproximação me fez relaxar.
- Eu acho ele um gato. - Deu de ombros.
- Pra mim tanto faz. Eu só não posso... - Me reprimi ao tentar dizer. - Eu e Dener? Ah, nem pensar. Isso não pode acontecer.
Ela riu, negando a cabeça.
- Não sei qual seria o problema. Os seus pais gostam dele, vocês passam todo o tempo do mundo sozinhos... - Revirei os olhos. Essa conversa já está me deixando tensa novamente. - Vai, Amber. Vai me dizer que não daria nem uns pegas?
Meu rosto corou, me fazendo morder os lábios. Isso quase aconteceu.
- Lúcia, faça-me o favor! - Disse com desdém. - To fora, okay? Vamos mudar de assunto.
A mesma riu de forma histérica.
- Eu sabia! - Dei dedo do meio pra ela. - Okay, okay. Ao invés disso, vamos falar do porquê você colocou três casacos dentro dessa mala, se vamos para uma casa de praia.
Fiquei tão aérea que só saí colocando as coisas ali dentro, sem nem me importar. Que grande inteligência, Amber.
- Ta perdidinha, né?
- Não fode, Lúcia. - Virei de costas, me sentando na cadeira do computador, enquanto a pior prima do mundo ria da situação.
(....)
A pizza chegou, fazendo ele nos gritar lá de baixo. Reuni o pouco de dignidade que ainda me restava e desci, bem receosa. Não acredito que estou agindo dessa forma por causa de uma coisa que faço quase todo dia, que palhaçada. Enchi meu peito de ar e soltei logo em seguida, tentando - e querendo - agir normal, não igual uma idiota. Não tem nem motivos para agir como uma idiota.
Lúcia desceu logo ao meu lado, vendo duas caixas de pizza e dois refrigerantes na mesinha de centro. Ela esfregou as mãos umas nas outras, e foi rapidamente até uma das caixas. Enquanto isso, Dener estava no sofá vendo televisão já com uma fatia em mãos, e o copo no porta-copos.
- Comprou de que? - Perguntei.
- Macarrão.
Franzi o cenho. Ele nem se quer olhou pra minha cara quando respondeu.
Entrei na frente da televisão de braços cruzados, olhando fixamente para seus olhos azuis, que estavam mais escuros do que há quase uma hora. Senti vontade de desviar, mas me contive.
- Isso é sério? Mais de vinte sabores, e você escolheu justo esse?
O mesmo me encarou, erguendo uma sobrancelha e terminando de mastigar. Ao ver que eu não ia desistir - ser irritante é um dom -, revirou os olhos de maneira impaciente.
- Se você ao menos olhar para o que sua prima está devorando, e nem estou falando da caixa - Respirei fundo pra não rir. - Vai ver qual o sabor.
Vi que Lúcia estava comendo uma de frango com catupiry, e em outro prato tinha uma de calabresa. Olhei para Dener com cara de tédio, enquanto ele bancava a egípcia.
- Você é um idiota.
- Obrigado, eu nem me esforço. - Deu uma pisca, enquanto bebia seu refrigerante. Sua covinha falhada apareceu brevemente.
Me agachei, pegando um pedaço de pizza que mal consegui comer. A presença dele estava me deixando nervosa e tensa.
Sinceramente, não sei como estou me sentindo. É uma mistura de nervoso e excitação. Aquele momento foi tenso, e climático. Nem nos meus momentos mais íntimos isso aconteceu, não daquela forma. Pelo menos percebi pelo jeito dele que as coisas não vão ficar tão estranhas, mas, até quando? E se esse momento acontecer novamente, só que pior?
Como vou passar duas semanas presa com ele e alguns adolescentes dentro de uma casa que é o dobro da minha de tão grande? Isso vai ser uma grande tortura, e eu estou com medo do que pode acontecer.
As coisas não podem e não vão fugir do controle, não é?
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