O Despertar (Em Desenvolvimen...

By TathaCarolina

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Prólogo
Dois - Pertencimento
Três - Especial Ragok
Quatro - Convocação de ajuntamento
Cinco - Especial Pili
Seis - Especial Chirevo
Sete - Samiot pertence a Floresta
Oito - Especial Pili
Nove - Dolorosa verdade
Dez - Especial Nigde
Onze - Especial Arva
Doze - Especial Ragok
Treze - Especial Dihdre
Quatorze - O que é preciso ouvir
Quinze - Nossa Escolha
Dezesseis - Especial Pili
Dezoito - Compaixão
Dezessete - Especial Áliatra

Um - Ácharanê

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By TathaCarolina


A imensidão do céu noturno é fascinante. Ainda mais quando os seres celestes resolvem brilhar para mim.

Ainda mais quando Kairon está em festa, a praça central decorada com flores, luzes e cheia de mesas fartas.

Os sublimes usam pouca roupa e se espremem nas ruas do centro ao som de uma música tocada por instrumentos de sopro e tambores.

Vejo Daikin dançar, segurando as mãos de Pili e Viemi. Nigde está agitando sua saia e mexendo os ombros no meio da roda que as crianças de Pili fizeram. Haiti não entendeu muito bem tudo isso e preferiu não vir.

Pili está cada vez mais velho, suas crianças mais crescidas, enquanto Daikin quase não mudou nada. O tempo humano é cruel.

Preferia ter ficado em casa, não me sinto bem no meio dos sublimes de Kairon, que dançam longe de mim, que não deixam seus filhos se aproximarem. Petice ainda mantém distância e não me olha nos olhos. Doçani, que permanece ao meu lado durante o festival em minha homenagem, disse que Pétice e Golag não podem ler meus pensamentos. Não conseguem mais. Então me temem.

Por isso sou grata. Elas deviam controlar melhor o poder que possuem e não invadir os pensamentos de ninguém.

- Não adiantou dizer que não queria festa, não é! - ouço Heir dizer.

Ela se aproxima de onde estou sentada com Doçani e me oferece um curto abraço. Tem sido uma grande amiga nesse curto tempo em que estou no mundo sublime. Heir tem uma beleza estonteante, um corpo cheio de curvas e um rosto angelical. Está vestida em uma camisa marrom de alças. Está descalça, como todos nós. Faz parte do ritual. Pés descalços, flores e frutos, os seres celestes e a floresta brilhando.

Só há um problema em ver Heir. Ela é parceira do irmão de Ragok. Sempre que a vejo, lembro do dia em que ela o curou e me fez ter ciúme dos dois juntos. Ter Heir por perto faz meu coração doer.

Dihdre está de luto por Chirevo e não apareceu. Heir está sozinha e parece que só veio até aqui para me ver. Sou grata por isso. Ela era amiga da minha mãe Mistha.

- Não adiantou. Golag disse que faz parte do rito e Doçani insistiu que fosse feito. Assim como as ofertas que recebi quando cheguei, o Ácharanê deve ser celebrado no primeiro mês após a minha chegada.

Heir sorri e olha de mim para minha família, que está alheia a minha inquietude. Eles só querem festejar, se distrair. Merecem um pouco disso depois de tudo o que passamos.

- Não posso imaginar o motivo do incômodo. Você nos livrou de Nigde. Você é o ser da profecia. Merece tudo isso e mais.

Nigde está entre eles. Mudou de fisionomia, de postura e de atitude. Ela ama a floresta e ajuda qualquer pessoa que encontrar. Ninguém sabe quem ela é, além de Doçani. Para todos aqui, Nini estava perdida no mundo humano. Para todos ela é uma estranha.

- Talvez eu mereça. Só preciso me acostumar. - concordo para não estender a discussão. - Vou dançar.

Me afasto de Heir, indo em direção aos meus amores. Daikin é só beleza. É o primeiro a me abraçar. Nigde me abraça também. Eles me chacoalham no ritmo animado da canção. Sorrio e beijo a testa dos dois. Também beijo o rosto de meu pai.

- Você não parece confortável. - Nigde percebe.

- Estou bem. Só cansada.

- Podemos ir, se quiser. - ela sussurra.

É como uma preciosidade em forma de mulher. Ela não costuma ficar perto de mim em meus dias ruins, mas se preocupa e me ajuda quando deixo que ela o faça.

- Não... Vamos ficar. Vocês estão se divertindo.

Daikin pede o colo de papai e eu aproveito o momento livre para abraçar Pili.

- Sei que não queria essa festa, mas não fique assim, os sublimes adoram você. - ele sussurra em meu ouvido.

Sorrio e olho em seus olhos.

- São hipócritas. Ele me temem. Só realizaram o festival porque Doçani insistiu. Eles não me querem aqui.

Pili respira fundo e beija meu ombro.

- Então, a mehor coisa que você fez foi construir uma casa fora daqui.

Olho para a colina onde ficava a casa que ruiu. A única que não foi reconstruída, a casa da minha mãe. Está vazia, então é só mais uma colina.

Eu não poderia continuar aqui, de qualquer forma. Não posso morar em um lugar que passou dias em luto por Chirevo, sem a conhecer. Um lugar que cultua a Zoí. Um lugar que agora me teme.

- Se pelo menos eles soubessem tudo o que ela fez. Se contasse a eles tudo o que me contou... - Pili sussurra.

Ele segura minhas mãos e me faz girar. Sorrio e entro na brincadeira, obedecendo a seus comandos, porque dançar não é exatamente meu ponto forte, ainda que seja o dele.

- Se eu aprendi alguma coisa nessa vida, é que precisamos entender o que nos cerca e não tentar controlar. - ele sussurra em meu ouvido e me faz girar mais uma vez.

Com tudo o que há dentro de mim, quero acreditar que ele tem razão. Não recebi esses poderes para controlar tudo.

Então não farei como Chirevo.

Não vou controlar tudo.


Já é bem tarde quando deixamos Kairon. Daikin está adormecido sobre o ombro direito de papai. Pili está sonolento, abraçado a mim. As crianças mais velhas carregam as menores. A caminhada é agradável apesar do cansaço do festival.

Mas antes que alcancemos a porta de casa, vejo alguém no meio das folhagens, próximo demais de onde vivemos. Deixo que todos entrem em casa e projeto um escudo para protegê-los.

- O que foi, Ali? - Pili pergunta.

- Tem alguém na floresta. Entra em casa! - espero que ele me obedeça entro no meio das árvores, tocando os troncos.

Elas brilham, iluminando a madrugada quente.

Por um momento desejo que seja Ragok. Desejo que ele tenha retornado.

Não muito longe da casa, percebo um garoto. Franzino, seus olhos brancos, parece com Ziul. Até mesmo se veste como um dos sublimes que foram escravos de Nigde.

Um mago nessas terras?

- Quem é você? - pergunto.

- Barak, senhora. Sirvo a Arva da Casa Samiot, a anciã dos magos livres.

De onde veio esse garoto? Os magos estão perto assim de Kairon? Ragok está com ele?

- O que querem? - questiono.

O que será que ele quer de mim que não poderia esperar até o dia amanhecer?

- Falar com a filha de Mistha.

- A essa hora? - pergunto.

Barak concorda com um gesto e sorri. Vejo outros magos aparecendo por entre as árvores. Tão magros como o primeiro e vestidos da mesma forma. Quem serão estes? Os nobres que foram libertos quando saí do Palácio no deserto ou os que libertei da montanha?

- São todos servos? - pergunto.

Eles sorriem e concordam com um gesto. Parecem felizes. Como um escravo pode ser feliz?

Esferas de luzes começam a surgir no chão, formando um caminho. Os magos se enfileiram atrás das esferas, esperando que eu avance.

- O que é isso? - questiono.

- O Acharané é uma comemoração que deve ser feita por todo o povo sublime. A filha de Mistha também nos libertou. Queremos que nos deixe celebrar sua chegada.

Respiro fundo. Estou cansada, com os pés doloridos, mas fiz muito mais por esses pequeninos do que por Kairon. A devoção deles é mais sincera do que os sublimes de Anśa natural. Então sigo o caminho que eles abrem para mim.

No fim do caminho há uma mulher baixinha rodeada de magos. Todos os magos estão aqui. De alguma forma, os ex exilados encontraram a corte de Nigde, que não está vestida ricamente como me lembrava. Todos eles vestem roupas de escravos.

Os olhos mudaram. Como os do Ragok, quando ele me ajudou a fugir. Parecem mais humanos. Parecem vivos. A obediência a antiga Nigde foi quebrada quando fugiram. Lembro que Ziul... Jamais teve a sombra de morte no olhar. Sempre acreditou que eu viria.

E eu falhei, sem conseguir ajudá-lo.

- Filha de Mistha, a casa Samiot celebra o Acharané em sua honra. - a mulher diz.

Todos eles ajoelham, inclusive ela. Sua pele é marrom em um tom mais claro que o de Pili. Seus cabelos são de um roxo incrivelmente claro e seus olhos brancos cheios de vida parecem sorrir. Ela é de baixa estatura e não aparenta ser velha.

No meio dos magos, avisto Ragok. Ele parece calmo, como quem sabia que isso aconteceria. Mais lindo do que podia me lembrar. Ele é o único que não está me olhando, mas ajoelha como todos os outros.

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