Flores de Inverno ♡ changki

By moonIighting_

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Um namorado perfeito, amigos de infância fiéis e sempre presentes, a perspectiva de ascender no trabalho. A v... More

Prólogo
Girassol
Narciso
Espinhos
Submerso
Crisântemo amarelo
Florescer
Luz
Competição
Fantasmas
Perdidos
Alguma coisa aconteceu
Mudança de planos
Azar
Confiar e esquecer
Flores de inverno
Surpresa!
Shin Hoseok
O começo de algo novo
Bom com segredos
Simples
Tempestade
Quente e frio
Inferno
Extraordinário
Cinco segundos
Caos
Sonhos
Despedaçado
Farol
Novidades
Diálogo
Quebra-cabeças
Raízes
Pisando em neve
"Mas..."
O dia
Paciência
Bom o bastante

Castelo de Pedras

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By moonIighting_


Desconfortável era a palavra que definia o momento.

Uma chuva fina passou a cair no final daquela tarde, enquanto os três homens seguiam em direção ao casarão de um deles. O silêncio era tão denso que Jooheon não teve coragem de questionar a localização exata de sua residência, muito menos pediu para que Kwan trocasse a música alta que não era do seu agrado. Ele apenas tentava concentrar-se nas gotículas de chuva que deslizavam lentamente pelo vidro do carro, apostando quais cairiam mais rapidamente para fora da janela. Um jogo bobo que costumava fazer quando era criança e queria se distrair nas longas viagens.

Ele conseguiu sorrir ao recordar-se da infância, pensando em como tudo parecia mais simples e suas emoções eram límpidas como as águas dos rios que rodeavam a fazenda dos seus pais. O pequeno Lee Jooheon chorava de medo do escuro, sentia-se confuso quando via os adultos brigarem por bobeiras como dinheiro, sabia dizer facilmente quando gostava ou não dos seus amiguinhos da escola. Agora, mais velho, todos os conhecimentos que havia adquirido ao longo da vida pareciam inúteis quando ele olhava para frente, via Kwan tentar segurar a mão de Wonho repousada sobre sua própria coxa e aquela imagem o despertava tanto enjoo e nervosismo.

Reafirmando seu pensamento de como tudo era anteriormente mais simples, Jooheon também não entendeu como seus sentimentos podiam mudar tão rápido e sem que ele conseguisse explica-los com propriedade. Seu desconforto com o toque de Kwan em Wonho tornou-se rapidamente satisfação e felicidade quando o enfermeiro, visivelmente tentando soar doce, ainda que estivesse constrangido, desviou do toque e pediu para que o ex-companheiro deixasse as mãos no volante durante aquela chuva.

Sua recusa tornou a carranca que Kwan levava no rosto ainda maior. Um finco de frustração formou-se entre suas sobrancelhas grossas e bem desenhadas, os lábios repuxados em uma pequena careta, as mãos apertando o volante com mais força. Se antes ele estava meramente desconfortável pela presença confusa de Jooheon em seu carro, apenas não reclamando mais por conta de Hoseok, ele estava agora também bastante irritado. Ao contrário do que teorizou anteriormente, Wonho não havia convidado aquele moleque apenas para constrangê-lo, se arrependendo quando Jooheon aceitou.

Kwan estava começando a desconfiar que era ele quem estava sendo feito de bobo com aquele convite inesperado e ainda sem explicações de Wonho.

Podia ser desproporcionalmente egocêntrico e confiante, o que o levava a praticamente delirar em pensar que conseguiria Wonho de volta depois de tudo o que havia feito, mas também tinha horror a ser rejeitado, sobretudo na frente de alguém que ele tomou como rival, como era o caso de Jooheon. Estava quase deixando cair sua máscara de príncipe encantado, que estava tentando demonstrar nas últimas visitas para Hoseok, quando o antigo companheiro colocou o rosto contra a janela do vidro do seu carro e abriu o sorriso que fez Kwan deixar seu orgulho de lado e correr atrás dele em uma balada qualquer. Wonho sorria ao ver que eles se aproximavam da antiga casa que compartilhavam quando ainda estavam namorando e aquilo reascendeu não apenas o carinho no coração de Kwan como também sua confiança.

— Você comprou uma casinha para Princesa Wonho comentou quando eles estavam próximos o suficiente do casarão para que ele enxergasse a pequena varanda que ficava em frente ao quarto principal. Com as luzes do quarto acessas, ele podia enxergar uma casinha de tamanho médio, em formato de castelo, fazendo jus ao nome da cadelinha que eles haviam adotado juntos, no começo do relacionamento.

Você sabe que eu gosto de mimar vocês Ele soou charmoso e realmente atraente naquele momento. Talvez pela primeira vez em muito tempo na medida certa, sem parecer ridículo com sua confiança extrema. Jooheon percebeu aquilo, pois, por um breve instante, algo passou pelo rosto de Wonho. Um sentimento forte, que Jooheon não conseguia reconhecer, mas que o fez temer pensando que poderia ser ainda uma paixão reprimida que finalmente estava surgindo aos pouquinhos.

Sim, você gostava O enfermeiro respondeu com uma risadinha no final de sua frase, soando gentil, mas sem por os olhos na figura cada vez mais inflada e animada de Kwan. Com a confiança visivelmente reestabelecida do homem, Jooheon, mais uma vez, sentiu-se enjoado. O incômodo crescendo exponencialmente quando Kwan, ao sair do carro, abriu a porta de passageiro para Wonho, buscou por sua mão e entrelaçou seus dedos, enquanto buscava as chaves de casa na calça jeans e seguia caminhando na frente com o ex-namorado.

Jooheon, não se esqueça de pegar as sacolas do mercado Kwan pediu com a voz falsamente gentil, indicando as compras que ele havia feito mais cedo, antes de ir buscar Wonho no hospital a pedido da mãe desse – que inocentemente acreditou que o filho iria gostar de uma surpresa romântica do "namorado". Com aquela oportunidade, Kwan se esforçou o máximo que podia para impressionar o antigo companheiro, comprando ingredientes para realizar um jantar romântico e especial, além de champanhe e chocolates caros e frutas para a sobremesa.

Era tão óbvio seu esforço para impressionar Wonho que, mesmo Jooheon desconhecendo dos seus planos durante aquela noite, ele podia ver o quanto Kwan estava tentando, ao xeretar os ingredientes que carregava com uma expressão mal-humorada em seu rosto. Ele quase não conseguiu recompor suas feições de insatisfação quando Wonho parou no meio do pequeno quintal da casa e ofereceu ajuda. O mais novo imediatamente negou a oferta, conseguindo sorrir ao pensar no quanto Wonho realmente era gentil, oferecendo-o ajuda de maneira tão sincera, por mais que estivesse com o peitoral enfaixado e tivesse reclamado de dor baixinho durante a viagem quando questionado sobre como estava.

Seu sorriso morreu quando Kwan pegou as sacolas de sua mão de uma única vez, em uma atitude bastante passiva agressiva em sua frente, praticamente empurrando-o com os ombros largos quando se aproximou, entretanto, quando voltou-se novamente para Wonho, ele já tinha um sorriso nos lábios e olhos tranquilos. Estava interpretando uma gentileza que obviamente não fazia parte de se sua personalidade individualista. Jooheon queria desmascará-lo, ao mesmo tempo em que pensava que Shin Hoseok devia conhecê-lo melhor do que qualquer um pelos anos que haviam passado juntos.

Então, mais uma vez, Jooheon se questionava o motivo de eles estarem naquela casa.

Ao perceber que Wonho havia aprovado sua atitude aparentemente educada com Jooheon, Kwan passou a ser um anfitrião minimamente tolerável e continuou com sua interpretação de bom moço, o que era nitidamente difícil para ele. Deixando as compras na cozinha, o homem ligou o ligou o aquecedor para que a sala ficasse em uma temperatura agradável para os visitantes e trouxe alguns petiscos para que eles pudessem comer alguma coisinha enquanto jogavam os tais jogos de tabuleiro.

Kwan hyung tem uma quantidade impressionante de jogos de tabuleiro Wonho comentou casualmente enquanto esperava o mais velho entre os três voltar da cozinha com mais comida. Em resposta, aproveitando que eles estavam sozinhos, Jooheon arqueou suas sobrancelhas, toda sua expressão demonstrando certa incredulidade e dúvida. E, ao contrário do que esperava, Wonho não pareceu chocado com toda a sinceridade que seu rosto transparecia naquele momento.

Wonho apenas abriu um sorriso divertido demais para Jooheon ainda questionar-se se estava vendo certo.

Aquilo deixou tudo ainda mais confuso e Jooheon não teve tempo de perguntar o que aquele sorriso ou aquele momento significava para o mais velho, pois, como a assombração que andava sendo desde que surgiu naquele hospital dias antes, Kwan voltou para a sala com três taças de vinho e uma garrafa gelada em mãos.

— Wonho hyung não pode beber... Você não escutou as instruções da médica? — O mais novo questionou, incrédulo, e, pelo canto dos olhos, ele notou que os olhos de Wonho encontravam-se divertidos. Pensou que mais uma vez o mais velho se absteria de comentários, como estava fazendo com frequência durante aquele dia, mas, para seu alívio, Wonho rapidamente concordou com sua fala.

— Ele está certo. Eu ainda não posso voltar a beber — Wonho comentou educadamente, recusando a taça estendida gentilmente e, em seguida, abrindo um sorriso maior do que o anterior que era meramente educado. — Olha só para ele... Nós somos os hyungs e o Jooheonie que precisa nos colocar no eixo.

— Se ele não estivesse certo, eu poderia dizer que trouxemos um estraga prazeres com a gente — Kwan tentou comentar no mesmo tom que Wonho, mas, ao contrário do antigo companheiro, ele não soava carinhoso em seu comentário a respeito de Jooheon. — O que vocês querem jogar?

— Banco imobiliário! — O enfermeiro respondeu firme, como se já tivesse considerado aquela resposta há muito tempo. Ou aquele momento já havia sido planejado por Hoseok ou ele realmente era um grande fã de banco imobiliário. Sua voz não vacilou em dúvida quando Kwan questionou se ele tinha certeza com uma careta de desagrado e Wonho confirmou prontamente com a cabeça. — Você ainda não o encontrou?

— Ainda não, desde que recebemos aqueles meus amigos do trabalho — Kwan respondeu, claramente se referindo a uma memória antiga de quando eles ainda estavam juntos, o que, novamente, não agradava em nada um Jooheon cada vez mais silencioso. — Eu ainda acho que roubaram meu jogo.

— Ninguém roubaria um banco imobiliário, querido — Dessa vez, Wonho realmente soou doce com Kwan, praticamente fazendo Jooheon engasgar-se com o vinho que tomava e finalmente levando o ex-companheiro a parecer desconcertado. Recuperando-se do seu choque e satisfação com o antigo apelido voltando aos lábios bonitos do ex-companheiro, Kwan o garantiu que procuraria mais uma vez um dos jogos favoritos de Wonho, em mais uma tentativa de agradá-lo.

Naquela altura, convencido de que Hoseok estava realmente ainda interessado em Kwan, principalmente após escutar aquele apelido carinhoso e recordar-se de seu sorriso divertido momentos antes, Jooheon estava quase inventando uma desculpa qualquer e indo embora daquele lugar sufocante. Entretanto, tão subitamente quanto a expressão carinhosa e encantando que Wonho demonstrou para Kwan surgiu, ela desapareceu. E, mesmo que suas médicas o tivessem recomendado repouso, Wonho saltou de onde estava no sofá tão rapidamente que Jooheon arregalou seus olhos adoravelmente devido ao susto.

— Temos uma missão de resgate e pouco tempo para executá-la, Lee Jooheon. Você aceita ser meu companheiro de batalha aqui e agora? — Ele questionou e seu tom de voz era alarmista, rápido, um pouco teatral e definitivamente divertido ao ver o rosto de Jooheon passar de tristemente confuso para apenas confuso e agitado. — Eu prometo explicar tudo depois, eu só preciso de você agora.

Lee Jooheon sorriu com aquelas palavras e em como elas carregavam por trás um peso. Naquele momento, sentiu-se importante, especial, como não esteve se sentindo na última hora. Também gostou da ideia de Wonho acreditar que poderia contar consigo e, sentindo mais do que adrenalina passar pelo seu corpo, ele ergueu-se da poltrona que estava, aceitando a mão estendida de Hoseok. Pelo impulso que pegou ao levantar-se e o puxão ainda forte de um Wonho em recuperação, seus peitorais se chocaram suavemente, tornando suas expressões ainda mais sorridentes e animadas.

Enquanto seguia Wonho escada acima, Jooheon mal entendia o motivo de estar tão animado ou o que estavam fazendo, mas, enquanto ainda tinham as mãos unidas e a risada mal contida de Hoseok chegava em seus ouvidos, o mais novo acreditava que nada no mundo o faria deixar de seguir Hoseok para onde quer que o mais velho o chamasse.

Aquele homem sorridente, que invadia cômodos de um quase desconhecido e não se importava com as consequências dos seus atos, não voltaria a aparecer em um futuro próximo. Ele desapareceria, voltaria a apresentar seu antigo comportamento amedrontado, cairia nas garras dos seus próprios medos e deixaria Shin Hoseok sozinho, como um dia Kwan o fez. E isso destroçaria o coração ainda em reparos do homem que estava começando a cansar do papel que sempre desempenhava na vida dos que diziam amá-lo.

Shin Hoseok era a visão da segurança, o rochedo que os afogados se agarravam para escaparem do próprio caos que os asfixiava.

Mas, em breve, ele perceberia que não era apenas um lugar de segurança. Ele tinha seu próprio caos, sempre esquecido, rebaixado como menos importante para que se ocupasse em proteger os que amava.

Ele seria aquele que precisaria de proteção.

Justamente da pessoa que ria consigo e fazia sua face esquentar de felicidade e um futuro sentimento que Wonho entenderia apenas semanas mais tarde.

— Shhhh, hyung, ele vai nos ouvir — Jooheon sussurrava entre risadas, pedindo para que Wonho diminuísse o volume de suas risadas, mas ria de maneira igualmente alta enquanto tentava abrir uma porta emperrada no final do corredor. Ao perceberam que não havia nada de especial naquele quarto, assim como no anterior, eles partiram para a suíte que Kwan costumava dividir com Wonho. — Eu ainda não sei o que estamos procurando.

— Eu acho que já iremos achá-la — O mais velho respondeu sorrindo, abrindo as portas duplas do antigo quarto e olhando ao redor, claramente cheio de expectativas e animado. Mesmo com as olheiras fundas devido aos dias acordados no hospital, chorando de dor pela cirurgia invasiva, o corpo meio enfaixado e alguns quilos mais magro, deixando sua aparência abatida, Wonho parecia tão otimista e brilhante como sempre. Não demorou mais que alguns segundos para que sua expectativa fosse suprida e latidos animados preencheram o quarto. O sorriso de Wonho alargou-se ainda mais e, mesmo que não pudesse, ele se agachou no chão e recebeu Princesa nos braços. — Oi, meu amor. Você sentiu saudades do papai?

— Você só veio aqui para ver a Princesa? — Não soou incrédulo ou crítico quando questionou aquilo. Pelo contrário, sua voz era aliviada e feliz, enquanto observava como Princesa parecia elétrica, pulando em Wonho de maneira absolutamente animada, balançando o rabinho e lambendo o rosto do seu antigo dono, demonstrando o quanto sentia saudades de Hoseok.

— Não apenas para vê-la, Jooheonie. Vamos levá-la com a gente — Ele respondeu decidido, erguendo do chão com Princesa no colo, a imagem parecendo adorável e engraçada aos olhos de Jooheon. Princesa era uma cadelinha poodle minúscula e fofinha, com uma coroa tão pequena quanto ela sobre sua cabeça. Ela parecia ainda menor nos braços fortes de Wonho, descansando sua cabeça pequenina no peitoral do dono e parecendo realmente da realeza sendo tão mimada pelo homem, que fazia carinho atrás das suas orelhas agitadas. — Você acha que conseguimos levar o castelo dela também?

— A casinha? — Com o conhecimento do plano de Wonho, o de roubar a cachorrinha que Kwan havia lhe roubado primeiro, quando eles terminaram meses antes, Jooheon começou a agir de maneira mais ágil, temendo que Kwan desistisse de procurar aquele bendito jogo e viesse procurá-los. — Por isso você estava sorrindo todo bobo? Por causa da Princesa?

— É claro... Você não achou que eu iria querer estar aqui com Kwan, certo? — Ele perguntou rindo, balançando a cabeça em incredulidade. Mais do que nenhum de seus pouquíssimos amigos próximos, Jooheon sabia muito sobre o antigo relacionamento dos dois. Nas centenas de mensagens que trocavam diariamente, Wonho chegou a contar o que mais Kwan aprontou além de ter roubado Princesa e ter terminado de maneira insensível por mensagens, como se ele fosse meramente um produto que Kwan havia enjoado e não queria mais. — Eu estava fingindo.

— Hoseok, desce aqui! — A voz de Kwan chegou ao quarto onde os dois amigos estavam, assustando-os de tal forma que Wonho praticamente pulou no mesmo lugar, fazendo Princesa latir animada, acreditando se tratar de uma brincadeira. Entretanto, quando o homem gritou novamente, os dois perceberam com certo alívio que ele ainda estava no porão devido ao baixo volume de sua voz e a evidente distância.

— Vamos, rápido! — Dessa vez foi Jooheon quem o apressou, correndo em direção a varanda, puxando a porta de correr para o lado e experimentando o peso do minicastelo da Princesa nos braços. Era pesado, mas Jooheon disfarçou a careta de esforço quando Wonho o questionou se ele precisava de ajuda pela segunda vez durante aquela noite. Resmungando de maneira preocupada e, aos olhos de Wonho, bastante, o mais novo disse seriamente: — Wonho, você precisa de repouso! Repouso, entendeu?

— Sim, senhor — O homem respondeu com a voz falsamente séria, como se estivesse falando com um superior no ambiente militar, enquanto corria atrás de Jooheon pelas escadas, fazendo carinho em Princesa para que ela não voltasse a latir e chamasse novamente a atenção de Kwan. Mesmo com esse cuidado, quando estavam já próximos da porta, eles escutaram os passos pesados do antigo namorado de Wonho, que subia as escadas resmungando que não havia encontrado o jogo. — Rápido, Jooheon, rápido!

— Pronto, pronto! — O mais novo disse alguns tons mais altos do que deveria, mas, naquela altura, não se importavam mais. Assim que a porta foi destrancada por Jooheon, os dois homens correram por aquele quintal como duas crianças arteiras, as risadas não mais contidas e a adrenalina os fazendo ignorar a chuva fria que caía como agulhas em suas peles ainda quentes. — Vamos, hyung!

— Estou bem atrás de você! — Wonho garantiu arfante, seguindo o mais novo para o final da rua silenciosa e praticamente deserta durante aquele horário e clima frio. Eles se esconderam atrás de alguns arbustos volumosos, ao lado de um pequeno canteiro de flores, que os dois tiveram o cuidado de não pisarem apesar da pressa. Aquele era um bairro bonito, familiar, com casas de aparência aconchegante, pequenos jardins e canteiros e praticamente sem movimentação de veículos.

Quando Wonho e Kwan se mudaram para aquela casa, ainda no primeiro ano de namoro, havia dias em que Kwan beijava seu rosto e dizia que aquele era um ótimo lugar para criarem seus futuros filhos. Aqueles eram os dias bons, em que Hoseok entendia o motivo de ter se envolvido com alguém como seu antigo namorado. Contudo, depois de semanas tranquilas, ele precisava enfrentar os dias em que Kwan resmungava sobre o preço do aluguel e o criticava por não ter dinheiro o suficiente para pagar metade do valor sempre. O enfermeiro tentava contra-argumentar naquelas horas, lembrá-lo que quem insistiu para que eles se mudassem para aquela casa foi o próprio Kwan, mesmo quando Wonho, com as bochechas quentes de vergonha, confessou que não estava dentro do seu orçamento. Era sempre tomado como dramático e ingrato quando decidia defender-se, entretanto.

Na chuva, escondido em um arbusto e escutando os gritos do se ex-namorado, Wonho quis sorrir e chorar simultaneamente.

Seu peito doía e ele temeu que tivesse arrebentado algum ponto com toda aquela correria. A constatação de que havia se calado por tanto tempo também o machucava. Não por questões de orgulho ou por perceber quanto tempo e energia havia gasto naquele relacionamento. Ele só não conseguia entender o motivo de ter sido tão pouco gentil consigo por tanto tempo. Nunca deixaria que um amigo passasse por o que ele passou, mas, enquanto escutava Kwan o chamando de pobretão patético, ele apenas fechava o rosto e saia do quarto para chorar. Tudo aquilo se acumulava e formava um bolo em sua garganta.

Entretanto, ao mesmo tempo em que aquelas constatações eram dolorosas, Wonho conseguia sorrir. Sorria por estar com Princesa no seu colo, por finalmente estar agindo como sempre quis com Kwan, reagindo quando tudo o que ele sempre fez foi aceitar suas fases carinhosas e, então, humilhações constantes. Também sentia mais que dor física em seu peito ainda recuperando-se de um tiro. Wonho sentia o coração acelerando-se e um calor preenchendo seu corpo de forma reconfortante quando Lee Jooheon, ajoelhado em sua frente, tocava seu rosto molhado e o questionava se tudo estava bem.

— Você está bem? Você está chorando, hyung? — As duas perguntaram saíram tão rápidas, quase que uma atropelando a outra, demonstrando que Jooheon estava realmente preocupado com seu estado. Wonho negou com a cabeça, garantindo que não estava chorando, mas quando Jooheon tocou na região bem abaixo dos seus olhos, ele sentiu as lágrimas quentes se destacando da chuva gelada que também banhava seu rosto. — Ei, tá' tudo bem. Nós agora temos a Princesa. E, se ele voltar a te incomodar, eu juro que o quebro em dois.

— Eu tenho certeza que o Kihyun teria o prazer em te ajudar com isso — Wonho comentou rindo, lembrando-se de como seu antigo paciente e atual amigo sempre parecia possesso quando Hoseok comentava sobre Kwan ter terminado tudo o que tinham por telefone. Se ele soubesse de todo o resto, Wonho não duvidava nada que Kihyun sozinho faria o trabalho de "quebrar" o Kwan, mesmo com a discrepância física evidente.

— Está dizendo que eu preciso da ajuda do hyung?

— Não, eu tenho certeza que você daria conta sozinho com uma mão nas costas — Ele retrucou no mesmo tom brincalhão de Jooheon, deixando de chorar aos poucos, sem nem ao menos perceber, exatamente como quando havia começado a lacrimejar sem controle. — Eu vou contar com vocês como meus seguranças enquanto eu estiver me recuperando. Eu duvido que ele vá aceitar perder a Princesa para mim.

Na verdade, Wonho duvidava que Kwan aceitasse perder algo para qualquer um, mas preferiu calar-se ao observar o olhar espantado de Jooheon ao perceber o tempo que eles estavam na chuva e como as faixas que envolviam o peitoral de Wonho estavam encharcadas pelo temporal.

— Meu Deus, precisamos ir embora! Eu vou chamar um táxi agora e depois precisamos comprar algo quente para você... Meu Deus, sua mãe vai nos matar — Jooheon dizia nervoso ao perceber o quão irresponsável foi em deixar Wonho correr daquela forma e naquele temporal, com o risco de abrir todos aqueles pontos e ter uma hemorragia.

Enquanto procurava pelo seu celular no bolso da jaqueta jeans que usava, ele já estava quase chorando de nervoso e por estar se sentindo absurdamente culpado quando Wonho pediu para que ele parasse um pouco. Mesmo com a preocupação ainda correndo-o, as mãos trêmulas buscando pelo celular e os pensamentos agitados, Jooheon conseguiu escutar o mais velho e ergueu a cabeça, procurando saber o que o homem queria com aquele pedido.

— Antes de irmos, eu quero te dar isso... — Não foi preciso que Wonho explicasse suas palavras. Ele imediatamente guiou sua mão livre em direção a blusa de Jooheon, puxando o mais novo para perto e selando seus lábios frios como o inverno. Logo, entretanto, eles não pareciam mais roxos e trêmulos pela chuva.

O roçar de suas bocas era tão quente que parecia capaz de aquecer uma estação inteira.

Wonho não evitou suspirar baixinho durante aquele rápido beijo, pensando que, ironicamente, sentia-se mais em casa beijando Jooheon na chuva e escondido no quintal de alguém do que em sua antiga e aconchegante casa. Ele sorriu contra os lábios do homem, incapaz de conter o gesto romântico. Estava, na verdade, cego para tantas questões, principalmente a respeito dos seus sentimentos. Não conseguia ver o quanto a paixão e o carinho por Jooheon cresciam dia após dia, mesmo quando ele garantia para si mesmo que estava tudo sob controle.

Com a face vermelha, contrastando com a palidez anterior devido ao frio, Jooheon também sorria ao final do beijo. Aos olhos de Wonho, que já carregavam um filtro de sentimentos e expectativas, aquele sorriso era semelhante ao seu, que compartilhavam das mesmas emoções e sentimentos naquele instante. Ele entenderia, com algum atraso, que Jooheon ainda não estava ao seu lado naquele caminho.

E, sobretudo, entenderia que não estava mais disposto a esperar mudanças de alguém.

A cicatriz que o fazia gemer baixinho de dor naquele táxi, sendo amparado por um Jooheon gentil e preocupado, incomodava profundamente naquele momento. No entanto, olhar para as dezenas de pontos em seu peitoral ferido foi o que o fez ter coragem durante aquela manhã. Coragem para seguir todo aquele plano maluco e feito as pressas quando, com toda sua prepotência, Kwan aparece no hospital e o chamou para jantar. Coragem para chamar Jooheon para participar de tudo aquilo e abrir um pouquinho mais do seu coração para o homem. Coragem para chamá-lo para um evento importante, dali há duas semanas, em que Wonho precisaria de ainda mais coragem e acreditava inocentemente que Jooheon poderia ajudá-lo nisso.

Ele estava enganado a respeito de Jooheon e de todas as expectativas que vinham aos pouquinhos e já enchiam seu peito de calor.

Suas cicatrizes reais e metafóricas ainda não haviam cicatrizado.

Jooheon não seria aquele que as curaria, mas, sim, aquele que, sem qualquer intenção, partiria ainda mais o coração em recuperação de Wonho.

E aquele momento estava mais próximo do que qualquer um dos dois poderia imaginar.


NOTAS

Oooi, amorzinhos!!

Como vocês estão? Espero que todos bem e se cuidando nesse período tão complicado ):

Queria agradecer a Beas que deu o nome desse capítulo e também o betou! 💖

Esse capítulo ficou BEM menor do que eu esperava, pois, eu estava escrevendo mais cenas para ele, mas percebi que elas não combinavam com o clima do restante do capítulo e deixei elas guardadinhas para o próximo.

O que vocês acharam, amorzinhos? Já tinham teorizado sobre o que era o plano do Wonho? O que acharam do momento wonheon? E acreditam o que reserva para o nosso casal? Acredito que teremos mais umas três cenas wonheon até o final da história, pois estamos já em reta final de Flores de Inverno aaaaaaa ): Estou muito curiosa para saber a opinião e teoria de vcs a respeito desse casal e o que esperavam que irá acontecer com eles no final.

Eu peço mil desculpas pela demora ): Eu confesso que estou travando muito no final da história, pois, eu estou com muito medo de fechar a história de maneira insatisfatória e isso tira muito da minha criatividade )):

Muito, muito obrigada por todo o carinho de sempre, amorzinhos! Flores de Inverno já está indo pro capítulo quarentena AAAAAAAAA

Um beijão, uma ótima semana para todos, se cuidem e até o próximo capítulo! 💖💖💖


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