O Diário de Darcy

By dannssantana

60.1K 2.9K 2.6K

Fitzwilliam Darcy é um homem muito sério que preza acima de tudo a sua privacidade e sua rotina. O seu mundo... More

Prólogo: Uma vida de rotina
Capítulo Um: Longbourn
Capítulo Dois: Primeiras impressões
Capítulo Três: Fora dos meus planos
Capítulo Quatro: Os Bennets
Capítulo Cinco: Vale a pena?
Capítulo Seis: Fugindo
Capítulo Sete: Maquinações
Capítulo Oito: Traumas Passados
Capítulo Nove: Loucura temporária
Capítulo Dez: Grandes Esperanças [parte 1]
Capítulo Dez: Grandes Esperanças [parte2]
Capítulo Dez: Grandes Esperanças [parte3]
Capítulo Onze: O Namorado
PREPARANDO O PRESENTE DE VOCÊS: UM ESPECIAL DE NATAL
ESPECIAL DE NATAL: O DIÁRIO DE LYDIA BENNET
Capítulo Doze: Complicações
Capítulo Treze: Plano Imperfeito
Capítulo Quatorze: Adeus
Capítulo Quinze: O noivo
Capítulo Dezesseis: O Diário [parte 1]
Capítulo Dezesseis: O Diário [parte 2]
Capítulo Dezessete: Sozinho
Capítulo Extra: Perguntas e Resposta [Parte Um]
Capítulo Dezoito: Seguindo em Frente
Capítulo Dezenove: Amigos
Capítulo Extra: Perguntas e Respostas [Parte Dois]
Capítulo Vinte: Ciúmes
Capítulo Vinte e Um: A Aposta
Capítulo Vinte e Três: Sobre o jantar...
Capítulo Vinte e Quatro: Em um relacionamento sério
Capítulo Vinte e Cinco: Muito Ocupado
Capítulo Vinte e Seis: A Festa
Prévia do Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Sete: Intimidade
Capítulo Vinte e Oito: Reunião de Família [parte um]
Capítulo Vinte e Oito: Reunião de Família [Parte Dois]
Capítulo Vinte e Nove: Concordando em discordar
Capítulo Trinta: Ansiedade
Capítulo Trinta e Um: Feriado em Pemberley House [Parte Um]
Capítulo Trinta e Um: Feriado em Pemberley House [Parte Dois]
Capítulo Trinta e Dois: Mas que po**a está acontecendo?
Capítulo Extra: Próximas histórias
Capítulo Trinta e Três: Em Negação
Capítulo Trinta e Quatro: Uma Questão de Preço [Parte Um]
Capítulo Trinta e Quatro: Uma Questão de Preço [Parte Dois]
Capítulo Trinta e Cinco: Tentar Outra Vez
Capítulo Trinta e Seis: Quebrado
Diário de Darcy: Felizes para sempre? Vai ter ou não?
Capítulo Trinta e Sete: Correndo atrás
Capítulo Trinta e Oito: Noivado Secreto [Parte Um]
Capítulo Trinta e Oito: Noivado Secreto [Parte Dois]
Capítulo Trinta e Nove: Jantar, Piquenique, Casa na Árvore e Trens
Epílogo
AGRADECIMENTOS
PEQUENA AMOSTRA DE O DIÁRIO DE DARCY - FELIZES PARA SEMPRE?

Capítulo Vinte e Dois: Como você me faz sentir

1.4K 66 120
By dannssantana


22/07

Eu acordei com um humor maravilhoso hoje.

Não tive nenhum sonho agradável, mas pelo menos não tive qualquer pesadelo, mas o que mais me animava, além do fato de que eu iria passar todo esse dia com Elizabeth, era que eu teria um encontro com ela mais tarde, um jantar, um jantar romântico.

Eu tinha que me policiar para não ficar sorrindo feito um imbecil, quem diria, Fitzwilliam Darcy, sorrindo a toa, eu, que quase nunca sorrio. Essa mulher mudou a minha vida, meu Deus, como eu a amo!

Apesar da chuva de ontem, o tempo estava bastante firme e o céu em um bonito azul. Estava quente e parecia um dia típico de verão em Londres, o que significava que a chuva não estava muito longe, mas eu duvido, pela aparência do céu, de que ela chegaria logo, talvez ao cair da noite.

Era domingo, mas nem eu nem minha irmã tínhamos habito de ficarmos muito na cama e Elizabeth também era uma madrugadora, de modo que eu os encontrei todos acordados quando sai de meu quarto, mesmo Fitz que não tem muitos hábitos matutinos, o que me fez pensar que sua animação, já pela manhã, é por conta do nosso almoço no clube, um passeio que eu sei que o agrada imensamente, eu também creio que parte de sua animação seja por conta do meu encontro com Elizabeth, do qual ele toma todo o crédito e o qual ele, claro, já tem conhecimento apesar de eu estar certo de que ele estivesse dormindo e não presenciou nada do que acontecera ontem na cozinha entre Elizabeth e eu.

Eu estava descendo para tomar o café da manhã com todos quando recebi uma ligação do Sr. Maddox, ele nunca me liga no domingo, então achei necessário atendê-lo, pedi licença e fui atender sua ligação no meu escritório, dando permissão de todos começarem a refeição sem mim.

A ligação não se estendeu muito, mas foi importante termos nos falado, o Sr. Madddox apenas me informou que seu pai estava com um sério problema de saúde e que ele precisava de uma semana para ir até Carlisle para visita-lo; como seu problema de saúde se agravara, ele sentiu a necessidade de partir imediatamente, sendo assim, sua ligação era apenas para me informar que ele não estaria durante toda essa semana no escritório. O Sr. Maddox me conhece bem o suficiente para saber que eu odeio surpresas e eu fiquei tocado com sua preocupação em me dar uma satisfação de sua partida inesperada apesar dos problemas de saúde de seu pai ser tão graves, obviamente nenhum problema no escritório por conta de sua falta é mais importante do que a presença dele com seu pai, de modo que eu lhe disse que ele deveria ficar em Cumbria o tempo que ele achasse necessário.

Apesar de sentir pena do Sr. Maddox por conta de seu pai, eu ainda estava com um humor muito favorável, foi com esse bom humor que eu voltei para a mesa só para ver que Fitz estava irritado e reclamando audivelmente.

"O que aconteceu?"

"Gigi convidou sua admiradora mais insistente para ir ao clube conosco" respondeu ele de mal humor.

Gigi pareceu sem graça, então eu olhei para Elizabeth que fingia não estar irritada enquanto remexia em seu prato de panquecas.

"Eu achei que seria muito rude se eu não a convidasse" explicou minha irmã. "Ela me ligou para me chamar para sair porque sabia que você estava viajando e que eu não gostava de ficar sozinha, então eu lhe disse que você já tinha voltado e que estávamos indo ao clube, ela me pareceu querer ir e eu não sabia o que fazer, achei rude se não a convidasse, me desculpe!"

Olhei na direção de Elizabeth ela me olhou também, eu sabia que ela estava aborrecida com a vinda de Caroline, mas como ela estava vendo que minha irmã estava se sentindo mal com a reação exagerada de Fitz, ela estava fingindo não se importar com a adição de Caroline, e eu segui seu exemplo.

"Não se preocupe, Georgiana, está tudo bem."

Fitz fez uma careta.

"Pensando bem, se ela foi informada que Darcy estaria no clube hoje, ela iria dar um jeito de esbarrar na gente de qualquer forma."

Nisso Fitz estava com a razão, e isso eclipsava um pouco o meu bom humor de antes, mas eu estava determinado a fazer com que Caroline não estragasse meu dia!


*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*


Elizabeth estava muito quieta desde que soubera que Caroline iria se juntar a nós. Eu não a culpava, visto que elas nunca se deram bem antes e estava tentando me preparar mentalmente para impedir caso houvesse algum desentendimento entre as duas que fosse realmente sério – ao passo que Fitz parecia contar com isso, se divertindo antecipadamente com a ideia de que Caroline e Elizabeth poderia armar um confronto em minha disputa, o que é um completo desatino, claro.

Depois do café da manhã, nos preparamos todos para correr. Fitz e Georgiana não eram bons corredores, mas minha irmã ao menos estava tentando nos acompanhar, Fitz, por outro lado apenas disse que não estava com vontade de correr hoje e foi andando para a direção da academia.

Elizabeth sempre foi uma corredora fantástica, mas hoje ela estava dando o máximo de si, acho que era porque ela ainda estava irritada com o fato de que Caroline estava vindo e queria descontar sua frustração na corrida. Eu entendia, faço muito isso também!

Minha irmã ficou rapidamente para trás, eu a acompanhei por alguns quilômetros, mas ela também me deixou para trás, acho que ela precisava de um tempo sozinha para queimar a sua raiva.

O seu humor melhorou muito depois da corrida, o que era bom, eu não queria causar uma cena impedindo Caroline de vir e até cheguei a sugerir que Elizabeth e eu não fossemos ao clube, ao invés fizéssemos outra coisa juntos.

"Elizabeth é tão teimosa e orgulhosa quanto você, se você sugerir isso, ela com certeza vai se negar!" disse Fitz quando eu conversei com ele a respeito disso.

Acho que Fitz estava certo, Elizabeth nunca vai admitir que não quer ir ao clube por conta de Caroline ou que ela se aborrece com sua presença, para ela isso seria admitir uma derrota e ela nunca iria admitir isso. Então não sugeri nada, mas estava com um péssimo pressentimento de que isso seria muito ruim.

Tentei me ocupar com meus exercícios como Elizabeth e os outros estavam fazendo e não pensar mais nisso. Havia uma academia completa em minha casa e minha irmã tinha um personal trainer que vinha todos os dias treiná-la, Georgiana apresentou Elizabeth a ele e pediu que ele a ajudasse também, o personal, um rapaz jovem e atlético, pareceu feliz em fazê-lo se demorando a olhar para ela mais do que me agradava, obviamente a achando muito atraente, ele ficou olhando para ela demoradamente ou pelo menos, ficou por um tempo até que ele encontrou o meu olhar do outro lado do cômodo, então ele percebeu minha expressão de irritação, deu um sorriso sem graça e voltou ao ar profissional de sempre.

Nem Elizabeth nem Georgiana percebeu nada do que tinha acontecido, nem o olhar do personal trainer cobiçando Elizabeth e nem o olhar de fuzilamento que eu lhe lancei por conta disso, mas Fitz que nos observava divertido sim, ele começou a rir quando passei por ele para ir ao andar de cima.

Estava um dia muito quente e eu geralmente fazia um treino muito puxado, então estava suado, aproveitei que nem Elizabeth nem minha irmã iriam treinar aqui em cima e tirei a camisa e enfiei meus fones de ouvido. Eu gostava de treinar porque nesse momento eu não pensava em nada, só me concentrava no que eu estava fazendo e deixava meus problemas em segundo plano.

Fui fazer a flexão de barra, virei o corpo para o jardim e fiquei olhando para o céu sem nuvens enquanto subia e descia sentindo meus músculos se contraírem e queimarem. Fitz odiava esse exercício, mas esse era um dos meus favoritos. Eu estava distraído contando a série e pensando em nada e isso era uma forma que eu considerava como relaxante. Eu costumo pensar muito, dissecar muito as coisas, além disso, embora não pareça, tenho uma energia nervosa, por isso um treino pesado é tudo de que preciso para começar bem o dia.

Terminei a série sentindo a satisfação da dor e cansaço, o que é algo estranho por trazer satisfação, mas traz. Pulei no chão e me virei para um banco onde tinha deixado a garrafa de água, mas quando me virei vi que Elizabeth estava parada a alguns metros perto do bebedouro, como eu estava de fones de ouvido e estava de costas para a escada e para o bebedouro, eu tinha a tinha visto subir e sua aparição foi uma grande surpresa.

Ela provavelmente tinha subido para beber água, mas ela me encarava com uma expressão estanha que eu não sei exatamente como classificar e que nunca vi em seu rosto antes, ela tinha uma mão pousada no bebedouro, o que me deu a dica de que ela tinha ido lá por conta do bebedouro que fica aqui em cima, mas tinha o corpo virado na minha direção, o que demonstrava que ela tinha ficado parada encarando enquanto eu fazia minha série. Porque ela ficou me encarando e – o mais importante – por quanto tempo?

Fiquei constrangido por ela me flagrar sem camisa e rapidamente a agarrei no banco e me vesti, sentindo meu rosto ficar quente.

"Eu não a tinha te visto" me desculpei constrangido.

Elizabeth se endireitou perto do bebedouro, seu rosto muito vermelho, ela tentava desviar o olhar de mim e também parecia sem graça.

"Eu só vim pegar..." ela parou no meio da frase confusa, ela fez um aceno para o bebedouro como se não se as palavras lhe faltassem, ela continuava com a mesma expressão estranha e sua voz saia inusitadamente esganiçada.

"Água?" sugeri confuso.

"Hum... é" fez ela sem graça se afastando do bebedouro e começando a se dirigir para a escada, sem me encarar direito. "Bom eu... já vou indo então."

Elizabeth desceu a escada apressadamente e eu fiquei parado vários minutos tentando entender o que tinha acabado de acontecer!

Fitz subiu cerca de dez minutos depois, eu estava ainda parado no mesmo lugar tentando entender a reação de Elizabeth, eu tinha algumas teorias, mas elas não faziam sentido algum para mim.

"O que aconteceu com a Lizzie, ela desceu com o rosto tão vermelho!" disse Fitz curioso. "O que você fez?"

Contei a Fitz exatamente o que tinha acontecido, falei pra ele sobre a expressão estranha de Elizabeth e com vontade de rir ele me pediu que eu lhe descrevesse exatamente como era essa expressão.

"Ela me olhava... bem, ela tinha o rosto vermelho e tinha os olhos um pouco arregalados, a boca um pouco aberta, era uma expressão que eu nunca vi em seu rosto antes, não sei como classificar."

Fitz fez uma cara de riso.

"Você estava sem camisa, não estava?"

"Sim."

"Quão tonto você é?" disse ele obviamente zombando de mim.

Eu fiz uma careta.

"Não pode ser por conta disso!"

Fitz revirou os olhos.

"Óbvio que é, você é tão lerdo!" disse ele caindo na gargalhada. "Eu sei que você usa a malhação como escape assim como seu trabalho, mas elas trazem benefícios maiores do que dor física e cansaço que você usa para se manter no controle, ela te traz músculos, meu querido primo, e você fica muito bem sem camisa."

Foi a minha vez de ficar vermelho.

"Você acha que... você acha que ela gostou de me ver sem camisa?"

Fitz riu outra vez.

"Santo Deus, quantas vezes eu vou ter que te dizer que você é bem bonito cara, todo mundo acha isso, menos você!"

Não disse nada.

"Eu sei que toda vez que você se olha no espelho você vê aquele garoto magricela de óculos que Wickham e vovó Calista implicavam, mas você cresceu e mudou, você tem que deixar isso para trás, Lizzie com certeza acha você atraente, eu pude ver isso na cara dela, achei que vocês dois tinham se dado uns pega ou coisa parecida aqui em cima, ela com certeza não iria reclamar se você desse uns pega nela, estou certo disso!"

Eu achava um tanto vulgar a expressão "dar uns pega", mas mesmo assim fiquei pensando a respeito do que ele disse antes, eu realmente nunca imaginei a mim mesmo como alguém atraente, eu achava que não fosse feio, mas nunca pensei em mim como alguém que pudesse despertar algum fascínio em outro alguém por conta de minha beleza física. Isso era uma surpresa e eu não teria me importado muito com isso, se não fosse com Elizabeth.

Fiquei feliz por ela me achar atraente, além disso, quase nos beijamos no elevador e ela realmente consentiu em ir a um encontro romântico comigo.

Sorri feito um imbecil com essa descoberta, depois de tudo o que ela me dissera naquela noite fatídica, do que eu lera em seu diário, eu tinha perdido todas as esperanças e então aqui estava ela outra vez, renovada.

Fitz me deixou com essa nova e maravilhosa perspectiva eu não me achava atraente, mas esse olhar dela me fez sentir, me fez sentir especial e querido, e eu amava a forma como eu me sentia ao redor dela. Eu amava a forma como ela me fazia sentir.


*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

Pouco depois fomos nos lavar e arrumar para irmos ao clube. Elizabeth parecia ter voltado a cor normal e por alguns minutos ela tinha evitado olhar para mim, o que fez Fitz me lançar um olhar divertido de esguelha.

O dia ainda estava quente e o céu estava claro, a chuva de ontem parecia ter ido embora e não voltaria pelo menos não por agora. Fitz optou por uma blusa de algodão e bermudas, em um estilo mais esportivo, dizendo que talvez depois do almoço poderíamos fazer uma atividade, como as meninas pareciam concordar com isso, todos nós nos vestimos como ele.

Elizabeth estava usando uma camiseta branca, short clochard com listras azuis e allstar branco e tinha deixado o cabelo preso em um rabo de cavalo. Eu a achava bonita de qualquer jeito, mas sempre amei seu cabelo solto.

O clube não era longe de minha casa e fomos todos no meu carro, Fitz fez uma manobra para Elizabeth ir no banco da frente comigo, mas ela e minha irmã estavam tão distraídas vendo vídeos na internet que eu não as queria incomodar. Elizabeth estava mostrando o canal de maquiagem de sua irmã mais nova, Lydia, a Georgiana.

"Sua irmã é tão bonita e confiante, eu certamente ficaria embaraçada de ter de falar com o público mesmo que fosse só a câmera e eu no meu quarto."

"Eu gostaria que ela fosse menos confiante às vezes, para ser sincera" confessou Elizabeth. "Eu gostaria que ela fosse mais como você em muitos aspectos, Gigi, você é tão inteligente, educada e gentil, sofisticada, madura e sensata, nem acredito que vocês têm a mesma idade!"

"Acho que eu gostaria de ser mais como sua irmã."

"Acho que não faria mal você ter um pouco mais de confiança, mas eu realmente acho que você deveria continuar sendo tão maravilhosa quanto você é, Gigi, eu não mudaria coisa alguma em você."

Elizabeth disse isso de forma tão franca e gentil que minha irmã ficou emocionada e lhe deu um abraço. Eu vi as duas juntas no meu espelho retrovisor e fiquei novamente com o coração aquecido. Eu fiquei tão feliz por vê-las desse jeito. Por uma fração de segundo eu tive o vislumbre do meu futuro com Elizabeth e embora eu não seja o tipo de pessoa que sonha acordado ou que apressa as coisas, acho que era um desejo tão ardente que as coisas entre Elizabeth e eu desse certo, que me animava imensamente que tudo estivesse se encaminhando bem, minha irmã e Elizabeth amigas e ela me dando uma segunda chance para provar que eu poderia ser o homem certo para ela.

Eu sorri no retrovisor e nossos olhares se encontraram pela primeira vez desde o episódio do bebedouro e ela me concedeu um sorriso tímido, porém simpático que eu apreciei muito.

Fitz estava animado quando chegamos, ele gostava muito de ir ao clube e tinha muitas ideias de coisas divertidas para fazer, e ele não deixou de nos incluir em seus planos.

Nos finais de semana, era comum o clube estar bem cheio e havia muitos conhecidos que fizeram questão de nos cumprimentar, ou melhor, a mim. Eu os conhecia por intermédio de meu pai, pois em geral eu não tenho uma grande quantidade de amigos, não realmente amigos, mas contatos e conhecidos que uso no meu trabalho. Aqui no clube a maior parte deles me conhece por conta de Pemberley ou porque eu era filho de meu falecido pai que sempre foi uma pessoa muito mais sociável do que eu.

Acho que Elizabeth deve ter achado estranho tantas pessoas me cumprimentarem, porque comentou:

"Você é muito popular, Darcy, não sabia isso sobre você!" exclamou Elizabeth depois de sermos saudados pelo quinto grupo de pessoas desde que chegamos.

"Não creio nisso, apenas que quando era mais novo vinha muito com meu pai, como meu pai morrera, eles tiveram que se contentar com o único Darcy mais parecido com ele."

Isso fez Fitz rir.

"Meu tio George, esse sim era popular, aonde fosse tinha um conhecido ou então fazia algum, ele tinha toda a amabilidade e carisma que meu primo não tem!"

"Que maldade dizer isso!" exclamou Georgiana.

"Verdade, no entanto!" replicou Fitz.

"Acho que você está sendo muito injusto com Darcy, eu acabei descobrindo que na verdade ele realmente tem uma falta de habilidade épica em se comunicar e entender as pessoas!" disse Elizabeth com um sorriso.

"Não o incentive, ele não é bom nisso porque não se dá ao trabalho de ser mais sociável!"

"Ser tímido não é algo que você escolhe ser, Fitz, seja mais tolerante com seu primo!"

"Nossa Lizzie, que mudança!" exclamou Fitz. "O que a fez ter uma mudança de panorama em relação ao Darcy? Você o está defendendo muito!"

"Acho que devo isso a ele por ter sido tão má com ele no passado!"

"Realmente!" concordei.

Ela riu e Georgiana também.

"Acho que você está só sendo condescendente com ele por conta do que aconteceu entre vocês antes."

Vi Elizabeth ficar vermelha, minha irmã olhou para nós dois curiosa e eu olhei feio para Fitz.

"Do que você está falando, Fitz?" perguntou minha irmã.

Lancei um olhar "cale a boca agora ou eu te mato" que fez meu primo rir.

"Ora, me refiro ao fato de que vocês dois vão ter um encontro hoje, não é?"

O rosto de Elizabeth ainda estava um pouco rosado, mas ela pareceu mais a vontade e sorriu.

"Sim, Darcy vai jantar em meu apartamento, vou cozinhar!"

"Você vai cozinhar!?"

Fitz olhou para Elizabeth com espanto e então me deu um abraço fazendo uma cena.

"Ah, que Deus tenha pena da sua alma, o que um homem não faz para conseguir tirar o atraso!"

"Fitz!" bradei o empurrando irritado.

Ele caiu na gargalhada enquanto Elizabeth e Georgiana ficavam ambas tão vermelhas quanto eu.

O clube era um lugar cercado de verde, Elizabeth parecia apreciar o lugar, tendo ela crescido cercada pela natureza em Longbourn, suponho que ela sentia muita falta da abundância de árvores e bosques aqui na cinzenta Londres. Minha irmã e Fitz estavam animados contando a ela todas as atividades que se podia fazer ali até que chegamos no restaurante principal do clube.

Eu gostava daqui, me trazia lembranças agradáveis de sábados e domingos que passei no clube quando meus pais ainda estavam vivos. Minha irmã tinha uma memória reduzida de lembrança deles aqui, visto que ela só tinha dez anos quando eles se foram, mas eu tinha muitas. Era bom e um pouco doloroso pensar nisso agora, como era sempre.

O restaurante era elegante, mas nem tanto, o que era algo positivo porque eu sabia que Elizabeth não gostava de frequentar lugares muito sofisticados. Na parte interna do restaurante sua arquitetura dominava elementos de mármore e um pouco de madeira, as mesas eram todas alinhadas e recobertas de toalhas de linho branco, já no deque, havia um pequeno jardim e a decoração era primariamente feita de madeira e pedra e tinha um ar menos informal e rústico. Eu tinha decidido que queria uma mesa ao ar livre, como o dia estava quente, mas um vento fresco aliviava muito o clima e deixava o dia muito agradável.

Caroline já estava a nossa espera, como eu imaginei que ela estaria, como eu estava vindo à frente do grupo, ela me viu primeiro e correu para me cumprimentar.

"Darcy, que surpresa, sua irmã tinha me dito que você estava de viagem, você voltou hoje cedo?"

"Não, ontem à noite, fiz um esforço para terminar tudo antes do tempo."

Minha irmã e Fitz vieram caminhando mais lentamente com Elizabeth, quando Caroline a viu, ficou muito surpresa e visivelmente irritada, mas conseguiu rapidamente disfarçar, no entanto, acho que só minha irmã não percebeu.

Fitz, ao contrário de Caroline, sequer tentou disfarçar seu descontentamento em vê-la, meu primo nunca gostou muito de Caroline, mas depois do que soube que ela tinha armado para separar BingLee de Jane, ele ficara ainda mais ressentido com ela. Mas acho que o aborrecia também o fato de que Caroline estava constantemente atrapalhando meus momentos com Elizabeth e creio que era exatamente isso que consistia o seu presente desprazer em vê-la hoje.

Ainda assim, Caroline, fingindo não notar a irritação de Fitz e Elizabeth em vê-la e ela própria ignorando seu aborrecimento em ver Elizabeth, cumprimentou todos com cordialidade e alegria, chegou a sorrir para Elizabeth, embora fosse um sorriso frio que Elizabeth sequer se dignou a imitar. Creio que o único prazer verdadeiro de Caroline tivesse sido o abraço caloroso que trocou com minha irmã e o sorriso que ela deu para mim – que não devolvi.

Eu estava um pouco irritado em ver Caroline, mas estava tentando disfarçar, eu sabia sobre os sentimentos dela por mim, e isso me entristecia por ela, mas por outro lado, ela já estava ciente que eu não sentia o mesmo, gostaria que ela desistisse de mim e deixasse que eu próprio encontrasse a minha maneira de ser feliz ao invés de nós dois ficarmos infelizes separados.

Juro que, pela memória de seu pai, que pediu que eu cuidasse tanto de BingLee quanto de suas outras duas filhas, Caroline e Louisa, eu não tratava Caroline com cruel indiferença, mas fiz essa promessa para seu pai em leito de morte e minha consciência me impedia de quebrá-la agora. Ele sabia que Caroline tinha sentimentos por mim e não queria que sua filha sofresse, eu tive de dizer a ele que não sentia ao mesmo e não poderia prometer que um dia sentiria algo por Caroline que fosse mais forte do que amizade, ainda assim, ele me fez prometer que nunca a desprezaria e a trataria com cordialidade, de modo que eu faço isso por ela e por seu pai, que sempre foi um bom amigo de meu pai e um homem tão bom que eu sabia ter um apreço enorme por mim. BingLee sabia dessa minha promessa, visto que ele estava no quarto de seu pai na época, mas ninguém mais sabe além dele e eu, especialmente não Caroline.

Essa foi a principal razão de eu não a enxotar Caroline quando ela está me aborrecendo demais ou ter uma discussão séria com ela e principalmente, por eu não impedir a sua vinda até aqui apesar de saber o quanto isso vai ser penoso para todo mundo, mas agora que eu estava ali, fiquei pensando se isso não seria uma estratégia pior, deixar Caroline presenciar a minha evidente preferência por sua rival não era pior do que negar a sua vinda?

Acho que nos dois teremos que ter uma conversa definitiva sobre isso, Caroline e eu, não estou ansioso para isso, mas resoluto de que é a coisa certa a fazer e já era sem tempo! Eu creio que isso trará dor a ela, algo que eu prometi ao Sr. BingLee que nunca impingiria em sua filha, mas acho que esse é um mal necessário, não posso deixar que ela continue nessa ilusão, ela precisa seguir em frente e eu mereço ter uma chance com Elizabeth, algo que eu nunca terei se Caroline continuar a se intrometer entre nós dois em cada oportunidade que ela tiver.

Fomos até a nossa mesa, Caroline conseguiu ser mais rápida e se sentou a minha direita, onde Fitz tinha propositalmente deixado o lugar vago, com um sorriso Elizabeth sequer discutiu e se sentou a minha frente, entre Fitz e Georgiana. Caroline sentiu um pouco de satisfação com sua pequena vitória e pouco depois de sentarmos e receber o cardápio e Fitz reclamar que precisava muito de uma bebida, Caroline disse, em um tom que demonstrava simpatia:

"Então Lizzie, eu não sabia que você iria vir hoje."

"Pois é, Darcy me convidou" respondeu ela fazendo um evidente esforço em ser educada.

"Ah... bem, vocês estão passando muito tempo juntos, hum?"

"Nem tanto assim" disse Fitz com satisfação. "Bem, tem o fato de que Lizzie está trabalhando em Pemberley, mas fora isso..."

Caroline olhou surpresa para Fitz, achei que ela tinha sabido disso antes, eu me lembro de ter dito, no aniversário de minha irmã quando apresentei Elizabeth e o Sr. Bronson para minha tia, que ambos trabalhavam em Pemberley, Caroline estava presente na ocasião, achei que ela tinha ouvido, pela expressão dela, era evidente que não tinha, razão pelo qual ela não tinha me aborrecido com o fato antes. Bem, agora ela definitivamente iria. Depois de me lançar um olhar penetrante, ela olhou para Elizabeth que parecia relaxada do outro lado da mesa.

"Você está trabalhando em Pemberley?" sim, isso era definitivamente novidade para ela, talvez ela tivesse ignorado tudo o que conversamos naquela noite.

Elizabeth ainda parecia indiferente à reação de Caroline, talvez até a achasse divertida.

"Estou, na parte editorial."

"Editorial?" perguntou Caroline confusa.

Me senti na obrigação de explicar a confusão dela, ela sabia o suficiente do meu trabalho para saber que não tinha nada a ver com livros.

"Eu comprei a editora do Sr. Freemont, ele não tem herdeiros para assumir os negócios e eu concordei em assumir as contas."

Caroline ainda encarava nos dois com aborrecimento. Fitz observava tudo com evidente animação, achando aquilo um ótimo entretenimento, talvez um substituto para a novela, pois eu bem sei que ele desenvolveu um apreço por novelas recentemente.

"Que... conveniente" disse ela em meia voz, embora todos tivessem ouvido.

Todos ficaram em silêncio por um tempo, o garçom tinha nos deixado um menu e todos estavam encarando-os em silêncio enquanto Fitz ainda estudava a carta de vinhos.

O clima estava ainda estranho com o mal humor de Caroline, mas fingi não notar isso e com gentileza encarei Elizabeth e perguntei:

"O que você vai querer, Elizabeth?"

"Não sei ainda..."

Vi Caroline juntar os lábios em consternação enquanto Elizabeth olhava indecisa para o menu que ainda tinha nas mãos.

"Você quer que eu peça para você?"

"Quero, obrigada" disse ela parecendo aliviada e agradecida.

Caroline observou o modo como Elizabeth sorria para mim e a forma como eu a tratava, tão gentil e cordialmente e ficou irritada. Mas não vou ocultar nada dela, na verdade, talvez seja melhor que ela saiba de tudo de uma vez o que está acontecendo entre Elizabeth e eu. Sei que ela já desconfia.

Fizemos o pedido, eu escolhi o filé daqui, porque eu gostava muito e porque era o que eu geralmente pedia quando vinha, isso ou o linguado, mas como Elizabeth é alérgica a peixes, achei o filé uma melhor opção. Fitz ficou com um risoto, minha irmã, como sempre, frango, pois não gostava muito de carne vermelha e Caroline pediu uma salada, o que era seu costume.

Fitz escolheu Carménère, embora Caroline sempre tivesse uma preferencia por vinho branco e como ela estava comendo uma salada com frutos do mar, esse seria o ideal para ela, mas meu primo pouco levou a escolha de prato de Caroline em consideração.

Enquanto o sommelier trazia o vinho, Caroline começou a falar. Eu já esperava por isso, ela iria tentar me fazer prestar atenção apenas nela. Enquanto isso, Fitz e Elizabeth conversavam sobre outra coisa e minha irmã, que é mais calada, participava do assunto vez ou outra.

Caroline falou um pouco sobre sua carreira, mas como eu não entendia de moda, eu só ouvi sem dizer nada, depois falou sobre um evento que ela teria de participar, fazendo uma alusão a festa beneficente que eu ainda não a convidei, mas como eu não disse nada, o assunto ficou pendente, depois disso ela continuou a falar, perguntou de meu trabalho, falou um pouco sobre minhas tias e conseguiu de mim apenas resposta curtas ou monossilábicas. Nesse meio tempo nossa refeição tinha chegado, mas Caroline estava muito infeliz – e talvez desesperada – pelo fato de que ela não tinha conseguido nada comigo até agora. Talvez por isso ela tenha feito o que ela fez.

Estávamos na metade da refeição, ela não tinha conseguido nada, e Georgiana e Elizabeth falavam sobre o apartamento de Elizabeth e a reforma, não era um assunto que eu costumeiramente me interessaria, mas eu contribuí para ele muito mais do que os assuntos triviais que Caroline tinha tentando até então.

"Eu quero colocar alguns quadros ainda, preciso colocar mais cor no lugar, está sóbrio demais, parece o escritório do Darcy!" zombou ela.

Caroline olhou surpresa para nós dois, visivelmente irritada, pensei a princípio que Elizabeth estava provocando Caroline com essa informação, mas eu não tenho certeza, talvez ela nem estivesse, visto que Elizabeth a estava ignorando completamente desde que nos sentamos juntos. Seja como for, Caroline ficou perturbada com a informação de que Elizabeth conhecia escritório.

"Qual é o problema com meu escritório?" disse fingindo indignação.

"Nada, ele é lindo, mas é uma paleta completa de cinza, marrom e branco!"

"São cores neutras!" defendi.

"São sem graça, o que aconteceu com o azul, eu sei que você gosta de azul!"

"Verdade, eu gosto de azul."

"Acho que vou pintar uma parede de azul no meu apartamento..." disse ela pensativa.

"Onde?"

Caroline me encarou com aborrecimento, mas eu fingi não ver, Elizabeth sequer prestava atenção nela.

"Não sei ainda, talvez na parede da escada."

"Eu acho que vai ficar muito bonito, Lizzie, se você quiser, podemos escolher vários quadros no final de semana próximo ou se você esperar a Tatianna, ela é uma ótima pintora e faz um quadro para você!"

"Nossa, isso seria incrível, Gigi, eu gostaria muito!"

Caroline aguentou calada por mais algum tempo observando tudo, então Fitz, que nem tinha terminado de comer o que tinha pedido ainda, começou a delirar sobre o que pedir de sobremesa e estava inclinado a ideia de pedir um sorvete em vista o tempo quente que fazia hoje. Eu particularmente não gostava muito de sorvete, mas não fiz objeção alguma, especialmente porque eu sabia que Elizabeth e Georgiana gostavam de sorvete e Caroline nunca comia sobremesa, então ela não tinha preferencia por nada que servissem aqui. Enquanto ele falava disso, minha irmã se recordou do fato de que na noite passada Fitz tinha comido todo o sorvete que elas tinham trazido para a festa de pijama delas, sem falar nos pedaços de pizza também.

"Eu não posso evitar, pizza e sorvete são minhas comidas favoritas" justificou ele.

"Quando você estava em Cambridge se minha mãe não fosse checar você de vez em quando era só isso que você comia, por isso faço tanta questão de colocar Bertram com você" disse.

"Você faz isso porque se preocupa demais!" zombou ele. "E vocês são as culpadas de ter deixado todo aquele sorvete a vista, da próxima vez que Lizzie for dormir lá eu quero ser notificado antes, assim eu posso participar das fofocas junto com vocês."

"Não teve nenhuma fofoca" disse minha irmã.

Caroline que tinha aguentado calada até aquele momento, mas ao ouvir sobre a festa de pijamas de Elizabeth e Georgiana, ela não conseguiu aguentar calada.

"Festa do pijama, hum?" disse ela com cinismo não disfarçado para Elizabeth. "Nossa, vocês estão... intimas, não estão?"

Elizabeth ignorou Caroline, mas todos perceberam o tom de ciúmes dela, Fitz deu um sorrisinho, mas minha irmã pareceu sentir-se desconfortável.

"William tinha ido viajar, detesto ficar sozinha em casa, então Lizzie veio me fazer companhia."

"Que gentileza a dela."

Elizabeth encarou Caroline com irritação, mas não disse nada, ao invés ela tomou um pouco do seu vinho, acho que ela estava tentando se acalmar.

"Você fez muitos amigos, Elizabeth?" disse Caroline de supetão.

"Alguns, no trabalho" disse Elizabeth evasiva sem olhar para ela.

"Como aquele que você trouxe a festa de Georgiana, não é, como era mesmo o nome dele...?"

"Paul Bronson" disse ela encarando Caroline finalmente.

Fitz e eu nos entreolhamos, aí tinha...

"Ah, isso, Bronson. Ele era um rapaz atraente, por favor, me diga, há algo mais entre vocês dois?"

Vi Fitz fechar a cara, Georgiana me lançou um olhar eu segurei um suspiro de aborrecimento parando de comer. Que droga Caroline! Eu não estava surpreso com a sua jogada em tentar me fazer sentir ciúmes de Elizabeth, mas dessa vez não iria funcionar, afinal eu sabia que esse sujeito era gay e ele e Elizabeth nunca teriam nada além de amizade, era mais provável que ele se apaixonasse por meu primo, que parecia muito inclinado a isso, aliás, só era irritante que ela estivesse fazendo isso, que ela estivesse tentando desmoralizar Elizabeth dessa forma para mim. Mas eu fingi que não estava aborrecido, porque meu aborrecimento daria um incentivo a mais em Caroline e talvez Elizabeth pensasse que o jogo dela estava funcionando.

"Não, acredite ou não, uma mulher e um homem podem ser amigos sem estar romanticamente envolvidos, parece uma loucura, mas acontece."

"Bem, talvez ele não seja muito o seu tipo, eu acho" disse Caroline com um sorriso. "Eu e lembro que Jane me disse que seu namorado... qual era o nome dele mesmo... ah, David Miller, não é? Ela me disse que ele era um atleta, jogador de futebol americano, não era?"

Elizabeth continuou a encarar Caroline, mas não respondeu.

"Quarterback, eu acho que ela me disse. Bem, então tem o Wickham, ele também é um atleta, ele é treinador do time de natação, ou pelo menos o assistente de um."

A menção ao Wickham causou um grande impacto, mas certamente não exatamente o impacto que ela queria causar. Elizabeth ficou aborrecida com a menção a ele, mas nem um pouco perturbada, em contrapartida, minha irmã deixou escorregar o talher de suas mãos e parou imediatamente de comer, ficando lívida.

"Vocês formavam um par bonito, Lizzie, uma pena que o namoro entre vocês não deu muito certo."

Minha irmã estava visivelmente perturbada e eu estava irritado, minhas bochechas vermelhas e quentes era a única prova disso, tudo o que eu queria era explodir, mas não fiz isso por conta de Georgiana. Era difícil para ela a menção a Wickham, ela se sentia péssima toda vez que eu tinha uma explosão antes quando alguém falava o seu nome em casa, então eu tentava permanecer neutro sempre que o nome dele era mencionado, foi por conta de minha irmã que eu me acalmei e não em benefício a Caroline. Elizabeth estava calma e nem um pouco afetada, ela tinha me dito que não se importava com Wickham antes e a menção a ele não devia lhe trazer dor alguma.

"Eu não lamento pelo fim do meu namoro, Caroline, não sei o que ouviu a respeito, mas nós dois terminamos e isso foi tudo, no final das contas nós dois nunca tivemos muita coisa em comum e eu fico feliz de deixar isso para trás, mas obrigada pelo interesse" ela acrescentou a última parte com sarcasmo.

"Ah, isso é mesmo uma pena, mas suponho que suas irmãs também tenham muito interesse em atletas, talvez isso seja de família?"

Elizabeth mordeu os lábios como que para segurar algum insulto, eu a vi colocar aos mãos no colo, talvez para evitar dar um tapa em Caroline. Do outro lado da mesa, vi Fitz pegar o celular, eu lancei a ele um olhar "é sério isso?" e ele sorriu em resposta. Minha irmã estava começando a se recuperar do choque inicial, suas cores tinham voltado, mas ela não voltou a comer, apenas bebeu um pouco de água de sua taça, suas mãos um pouco tremulas e ela não ousou me encarar.

"Suas irmãs devem ficar chateadas agora que a maioria dos atletas se foram, não é?" continuou Caroline, talvez alheia a reação de todos na mesa.

"Nem tanto, Kitty e Lydia estão muito bem, Mary, também é só com Jane que eu me preocupo. Sabe ela esteve em Nova York com Steve e Nick, você conheceu o Steve, não foi, que foi namorado de Jane quando ela era mais jovem, então Jane os esteve visitando."

Elizabeth parecia estar fazendo um esforço de não esbofetear Caroline e permanecer civilizada, seu rosto estava um pouco vermelho, mas fora isso ela estava fazendo um bom trabalho.

"É mesmo?" provocou Caroline.

"Sim... bem, Steve está muito bem, ele e Nick estão namorando há algum tempo e agora moram juntos. Sabe tudo o que queremos é a felicidade das pessoas que amamos, como por exemplo, Steve é gay, claro, você deve ter percebido isso, mas o pai dele não aceita sua opção sexual, por isso ele teve que se mudar para o outro lado do país para tentar encontrar a felicidade, por isso ele teve de fingir o namoro com sua melhor amiga, para que seu pai parasse de espanca-lo, bem, isso realmente me entristece, o preconceito que leva as pessoas a fazerem as piores maldades com os outros, incluindo quem nós amamos, suponho que ele deveria amar o Steve, afinal ele é seu filho, não é mesmo? O que você acha, você tem um irmão... deve ser difícil ver ele tão chateado com o fim do relacionamento dele com Jane, eu certamente me sinto assim por Jane, você não sente por Bing?"

Caroline se sentiu mal pelas palavras de Elizabeth, eu a conhecia bem para perceber seu desconforto, mas ela era uma boa atriz e fingiu que não se deixava abater por elas. Ela lançou a Elizabeth um sorriso neutro que não a convenceu muito, no entanto.

"Pois é... BingLee é um cara muito legal, eu acho que ele nunca soube direito sobre Steve e Nick, eu tenho certeza que eles se dariam muito bem, sendo ele um cara sem preconceitos, ele não se deixaria levar porque Steve é gay e não vem de uma família muito rica, como a minha. Você não acha, Caroline?"

Caroline lançou a Elizabeth um sorriso amarelo, Elizabeth parecia tremer de raiva, mas conseguiu mesmo assim se levantar e pedir licença para ir ao toalhete, eu sei que ela usou aquilo como desculpa para sair e se recompor. Todos nós a vimos se levantar e sair, Fitz olhava feio para Caroline.

"Boa jogada Caroline!" disse ele aborrecido.

Ela olhou surpresa para Fitz ou fingiu ou realmente se sentiu insultada com seu comentário, minha irmã ainda estava muito silenciosa, mas eu a lancei um olhar e ela concordou com a cabeça. Sem dizer nada eu apenas me levantei e comecei a sair da mesa.

"Darcy, não corra atrás dela!" disse Caroline se colocando de pé e me impedindo. "Mostre um pouco de dignidade."

Eu me esquivei dela.

"Digo o mesmo!" disse irritado e me afastei.

Não olhei para trás, mas consigo imaginar a expressão irritada dela. Não me importei. Precisava saber se Elizabeth estava bem, deixar Caroline vir era um erro, eu sabia disso desde o começo, porque não fiz nada?

Elizabeth não foi na direção dos toalhetes, ao invés ela desceu até o jardim que ficava nas cercanias e eu a segui até lá. Ela tinha parado ali, fechou os olhos como que para tentar se acalmar, eu me aproximei devagar, sem saber se ela iria apreciar a minha aproximação ou se ela queria ficar sozinha.

"Você está bem?"

"Sim, eu só achei que era melhor vir aqui antes que acontecesse alguma desgraça."

Eu a encarei preocupado, sem bem saber o que dizer para fazê-la se sentir melhor. Ela suspirou, ainda parecendo nervosa, mas também um pouco chateada.

"Darcy, acho que foi um erro vir até aqui, é obvio que Caroline está puta da vida de me ver aqui, morrendo de ciúmes de você, jogando os problemas de minha família e Wickham na minha cara na esperança de me fazer perder a paciência."

Sim, é exatamente o que ela está fazendo e, aparentemente, conseguindo. Fiz uma careta de irritação, a culpa é toda minha, eu deixei que isso acontecesse, que droga!

"Eu sinto muito, mas isso não vai ficar melhor" disse ela.

"O que quer dizer...? Você quer ir embora?"

Não... não vai não...

"Eu não sou de admitir a derrota, mas não quero que as provocações de Caroline afetem você e Gigi, quando Wickham e eu terminamos todo mundo ficou achando que foi ele quem terminou comigo, sabe, que ele me largou mesmo antes da minha festa de aniversário e teve muito cochicho a respeito, não sei o que Caroline pensa sobre isso, se ela acha que eu sofria com o término de Wickham."

"Você sofreu?" perguntei sem conseguir me conter.

"Não, eu me senti... eu me senti normal, aliviada que tinha acabado, só isso."

Eu apenas concordei com a cabeça, tentando afastar todas as lembranças terríveis que eu tinha de Elizabeth e Wickham juntos que começaram a invadir a minha mente – consegui em parte, elas pareciam grudados no meu subconsciente.

"Eu sinto muito por isso Darcy."

Ela se aproximou de mim alguns passos e eu a encarei por alguns segundos, sem me conter estiquei a mão e peguei a sua, ela pareceu surpresa com meu toque, mas não recuou nem puxou sua mão de volta.

"Tudo bem. Nós não falamos de Wickham em casa desde do que houve e Georgiana não estava preparada, mas sei que ela vai ficar bem e eu também. Quer voltar para a mesa?" pedi suavemente.

Ela concordou, demos meia volta e voltamos para a mesa, ela não puxou a minha mão da sua e caminhamos de mãos dadas até chegarmos ao nosso lugar, eu puxei sua cadeira e ela se sentou entre Fitz e Georgiana, enquanto isso, Caroline observava nós dois com surpresa e ciúmes estampados em seu rosto, mas eu a ignorei e Elizabeth fez o mesmo. Fitz encarou nós dois com um sorriso malicioso e Georgiana com um sorriso cheio de esperança e encorajamento.

Embora meu humor tenha melhorado muito, eu ainda estava perturbado demais e meu apetite tinha se esvaído completamente. Mesmo que eu não estivesse ainda sem muita vontade de comer, eu teria dispensado a sobremesa, Elizabeth também dispensou, embora Fitz tivesse escolhido sorvete de chocolate justamente pata ela, ela insistiu que estava satisfeita, mas ela mal tinha comido metade do seu almoço, então sei que isso é apenas uma desculpa. Caroline conseguiu, ela estragou tudo e eu estava de mau humor por conta disso!

Muitas ideias surgiram, a princípio Fitz quis jogar golf, mas minha irmã não gostava de golf e Caroline também não, Elizabeth não fez objeção alguma, mas eu não queria submeter minha irmã a fazer algo que ela não gostasse, então Fitz sugeriu irmos jogar tênis, o que minha irmã gostava muito e todos concordaram com isso. Achei a princípio que Caroline iria ficar de fora, ela estava usando sapatos de salto e um vestido, mas ela comentou alegremente que tinha trazido uma troca de roupas no carro e mais rápido do que eu presumia ser possível, ela apareceu usando tênis, shorts e uma camisa polo, além de uma bolsa esportiva que continha sabe-se lá quantas outras vestimentas.

Elizabeth e Fitz olhavam um para o outro com olhares divertidos e sarcásticos, mas nenhum dos dois disse coisa alguma.

"Você já jogou tênis, Lizzie?" perguntou Caroline.

"Não, mas pelo meu entendimento o objetivo é rebater a boca no outro campo para fazer ponto não é, eu suponho que não deve ser muito mais complicado que isso."

"A ideia é essa" concordou Fitz.

"Estamos em cinco, podemos jogar de duplas, então alguém fica de fora" apontou minha irmã parecendo preocupada.

"Eu fico de fora, não estou muito a fim de ganhar de vocês!"

Elizabeth riu.

"É mesmo Fitz?"

"Fitz ganhou algumas competições de tênis" explicou Georgiana com orgulho fazendo Fitz sorrir de forma ainda mais presunçosa.

"Seria injusto um campeão contra vocês, o outro time ficaria em desvantagem."

Revirei os olhos, mas sorri com sua presunção. Fitz realmente era muito bom e poderia ter sido profissional se tivesse se dedicado a isso, mas acabou desistindo do tênis, meus pais iam assistir aos jogos dele sem falta, até mesmo alguns de meus primos e meus tios Alastar e Eoghan – que sempre gostaram muito de Fitz – foram a alguns jogos, Francis e Albert também foram a alguns, na verdade, Francis foi a quase todos, exceto quando tinha algum compromisso já marcado para esse dia e que ela não conseguia adiar, mas meus tios quase não foram a nenhum, aliás, pensando bem, acho que meu tio nunca foi a nenhum jogo dele. Talvez seja por isso que ele acabou desistindo. Todos de sua família te dão grande apoio, menos as pessoas que deveriam te apoiar mais do que tudo: seus pais.

"Nossa Fitz, que impressionante, você nunca me disse que era um atleta!"

"É que eu não gosto de me gabar!"

"Ah, claro que não!" disse sarcasticamente.

"Sarcasmo?" riu Elizabeth. "Você está passando muito tempo comigo, Darcy!"

"Realmente!" comentou Caroline seca.

Começamos a caminhar até a quadra de tênis, estava um dia muito bonito e Elizabeth quis ir caminhando até lá embora Caroline tivesse sugerido que pegássemos um dos carrinhos do clube. Fitz e Georgiana queriam caminhar porque gostavam de ver a paisagem verdejante do clube e eu queria deixar Elizabeth feliz, então Caroline foi obrigada a caminhar com o restante de nós.

As quadras não ficavam longe, mas Fitz pegou o caminho mais longo porque queria mostrar a Elizabeth vários de seus lugares favoritos, Caroline estava ficando aborrecida com toda a atenção que Elizabeth recebia enquanto ela não recebia quase nenhuma. Georgiana era quem mais conversava com ela, mas Fitz a ignorava completamente e eu estava ainda muito aborrecido com Caroline para lhe dirigir a palavra.

Como Fitz e Elizabeth iam andando na frente com minha irmã, Caroline se colocou ao meu lado.

"Você e Elizabeth estão juntos agora?"

"Não."

"Eu vi vocês dois andando de mãos dadas."

Não disse nada.

"Os Bennets vão ficar tão felizes por ter você na família, especialmente agora que perderam a chance de ter meu irmão nela."

"Talvez não tenham perdido a chance, eu ainda vou falar com BingLee a respeito do mal entendido com Jane, assim que ele voltar do Havaí."

Caroline fechou a cara e eu apressei o passo para me juntar os demais.

Enquanto caminhávamos, passamos pelo estabulo dos cavalos e Georgiana quis parar para visitar o cavalo que tínhamos ali. Eu Pemberley House tínhamos muitos cavalos, mas como minha irmã amava montar, eu trouxe o seu cavalo e aluguei uma baia para ele aqui no clube para que ela pudesse montar nele quando quisesse, como estávamos ali, eu sabia que ela iria querer parar para ver como ele estava e foi exatamente o que ela fez.

Enquanto minha irmã explicava a todos que eu havia trazido Sutton para cá e ela demonstrava vontade em visita-lo e, principalmente, a apresenta-lo para Elizabeth, eu percebi que Elisabeth ficara estranhamente quieta e sem cor. Eu sabia que ela não gostava muito de cavalos, mas ela provavelmente estava familiarizada com eles, visto que seu pai tem uns dois deles, eu não estava entendendo a reação dela.

"Porque não vamos dar uma volta de cavalo, eu não cavalgo há séculos, iria ser divertido" sugeriu Caroline animadamente.

"Eu topo!" concordou Fitz com o mesmo entusiasmo.

Eu vi Elizabeth ainda com a mesma expressão estranha, pálida e muito quieta, geralmente ela estaria ou pulando com meu primo ou pelo menos mostrando algum entusiasmo, seu silêncio era preocupante.

"O que você acha, Elizabeth?" perguntei.

"Não... não, eu vou ficar aqui, mas vocês se divirtam."

"Não vamos sem você" disse Georgiana.

"Não se preocupem, eu fico bem, vocês podem ir" insistiu ela com um sorriso encorajador.

"Tudo bem se você não souber cavalgar, Lizzie, tenho certeza que podemos achar um cavalo que está acostumado a cavaleiros inexperientes" disse Caroline revirando os olhos.

"Não é que eu não saiba montar, eu só não gosto muito."

"Não é vergonha admitir que você não sabe fazer algo bem, só diga que não consegue e pronto" disse ela com satisfação.

Eu olhei feio para Caroline pelo comentário, mas ela não olhava na minha direção, em contrapartida, Fitz, que conhecia Elizabeth quase tão bem quanto eu, trocamos um olhar – novamente Fitz pegou o celular – Caroline estava zombando de Elizabeth, estava a incitando e isso não era bom, Elizabeth não recuava de um desafio e nem iria admitir não conseguir fazer alguma coisa para ninguém, especialmente para Caroline. Vi a determinação e a raiva inundar o rosto dela na mesma medida.

"Quer saber, vamos então!"

Elizabeth ao dizer essas palavras começou a andar rapidamente em direção ao estábulo enquanto Georgiana dava vivas de animação, Fitz, desanimado guardava o celular outra vez e Caroline com um suspiro de aborrecimento seguia todos os demais. Eu fiquei olhando para Elizabeth sem despregar os olhos, não porque achava, ao contrario de meu primo, que Elizabeth iria socar Caroline, mas porque eu estava achando a reação inicial de Elizabeth aos cavalos estranha.

Mas agora ela ainda estava determinada e entrou no estabulo primeiro que todo mundo. Fitz comentou com o cavalariço sobre Sutton e também perguntou se poderíamos pegar alguns cavalos para montarmos, o que ele prontamente concordou.

"Lizzie aqui é um pouco inexperiente, então você não tem um cavalo bem mansinho para ela?"

"Claro que sim, temos a Lady, ela é ótima com iniciantes e tem um temperamento muito dócil!"

Ele começou a andar pelas baias e mostrou um cavalo puro sangue inglês, tirou da baia e começou a sela-lo e trouxe ele para nós.

"Lady é muito tranquila, quem vai montá-la?"

"Lizzie vai monta-la, olha como ela é linda...!" exclamou minha irmã acariciando a égua.

Elizabeth encarava o cavalo com uma expressão petrificada.

"Pode se aproximar dela" disse o cavalariço. "Ela está acostumada a ter pessoas por perto, ela é bem tranquila."

Elizabeth nem sequer parecia estar ouvindo o que o homem dizia, mas ela se aproximou do cavalo lentamente de qualquer forma. Ela ainda encarava a égua com o que me pareceu... horror. Com grande determinação ela chegou bem perto, mas na ocasião a égua moveu a cabeça um pouco e deu um passo a frente, ignorando a presença de todos e de forma alguma ameaçadora, ainda assim, Elizabeth soltou uma exclamação engasgada e se encolheu travando no mesmo lugar.

Eu conhecia um ataque de pânico quando eu via um, eu já senti muitos em minha vida e sei como é terrível, no mesmo instante eu estava ao seu lado, Elizabeth estava tão pálida que eu achei que ela fosse desmaiar e acho que ela estava prestes a fazer isso.

"Você está bem?" eu sei que essa era uma pergunta idiota, ela não estava bem, ela visivelmente não estava bem e com certeza ela não conseguia responder, ele tremia tão violentamente como se ela estivesse pulando no lugar.

"Elizabeth, está tudo bem, só respira, está bem?" disse para ela, mas acho que ela não estava me escutando.

"O que ela tem?" perguntou Fitz confuso.

"Nada, ela só está fazendo uma cena!"

"Acho que não está não, Caroline... William... faça alguma coisa!"

Tudo isso tinha começado quando ela chegou perto do cavalo, então eu concluí que esse era todo o problema, ela não queria vir aqui porque tinha medo de cavalos, mas por conta da provocação de Caroline ela viera mesmo assim, qual é o problema dela?

Sem perder tempo eu puxei Elizabeth para longe do cavalo e pedi para o cavalariço, obviamente confuso, devolver Lady a sua baia.

"O que deu nela?" se aproximando de nós, Elizabeth ainda tremia muito e eu podia perceber que ela estava muito perturbada.

"Acho que ela tem medo de cavalos, eu vou leva-la até lá fora" respondi.

"Não acredito nisso!" protestou Caroline.

"Não é hora para crise de ciúmes, Caroline!" recriminou Fitz enquanto eu puxava Elizabeth pela mão.

Caroline soltou um bufo de impaciência e Georgiana olhou feio para ela por um instante e começou a nos seguir.

"Caroline, larga de ser inconveniente, Elizabeth precisa de espaço, deixe que Darcy cuide dela, sim?"

"Ela vai ficar bem?"

"Ela só precisa de um pouco de ar."

Eu acho que Elizabeth chegou a desmaiar por alguns segundos ou simplesmente estava em choque, catatônica, não sei, mas ela não se moveu e suas pernas ficaram moles, eu então a peguei no colo, ela agarrou-se a minha camisa tão forte que eu temi por um momento que ela fosse rasgar, e com passos rápidos eu corri para fora com ela em meus braços enquanto ela enfiava o rosto em meu ombro com uma respiração audível e com lágrimas nos olhos que molhava meu pescoço e camisa.

Havia alguns bancos a uma distância considerável do estabulo e eu a coloquei sentada lá.

"Só respire fundo e deixe o ar sair, está tudo bem, eu vou ficar aqui com você."

Elizabeth fez como eu disse e algum tempo se passou até que ela começasse a respirar de forma normal outra vez e parou de tremer.

"Me desculpe" disse ela baixinho parecendo envergonhada.

"Você tem medo de cavalos" acusei.

"Tenho."

"Porque foi lá então?"

Como se eu já não soubesse a resposta...

"Caroline me desafiou, eu te disse que tenho um problema de competição."

Revirei os olhos. Sabia! Mas não senti nenhuma satisfação com isso.

"Só você..." eu estava muito aliviado com a sua melhora para ficar irritado, e sorri. "Você está bem?"

"Sim, só um pouco envergonhada."

"Não se sinta dessa forma, todo mundo tem medo de alguma coisa. Eu tenho medo de espaços fechados."

"Pelo menos você não teve um ataque de pânico no elevador" disse ela fazendo um biquinho adorável.

"Eu quase tive, mas você me distraiu, se eu estivesse sozinho, estaria perdido. Você ficou comigo lá, vou ficar aqui com você."

"Eu não vou segurar isso contra você, pode ir lá brincar com os cavalos, eu vou ficar bem aqui."

"Eu prefiro ficar com você."

"Obrigada Darcy."

"Você quer falar sobre isso?"

"Não muito..."

Eu entendia... sim, e como eu entendia. Mas Elizabeth não é como eu, ela fala sobre seus problemas e os lida com incrível habilidade, como o fato de que ela quase morreu quando abelhas a picou... ela fala disso com uma naturalidade incrível, então só poderia ter acontecido algo terrível para ela ter tanto medo de cavalos. Eu sentia tanto... queria fazê-la se sentir melhor, mas não sabia, eu poderia apenas dizer a ela que eu entendia porque ela se sentia assim, mas como eu poderia fazê-la entender que eu falava sério. Eu a encarei por um tempo, hesitei, tomei uma decisão de contar a ela sobre a razão de eu ter tanto medo de lugares fechados, não foi um caso isolado, mas muitos, mas eu não precisava contar a elas todos, decidi contar a ela apenas o último.

"Eu tinha uma avó chamada Calista, ele era a mãe de minha mãe. Ela morava aqui em Londres, mas frequentemente passávamos o verão aqui e por conseguinte eu a vinha visitar."

"Fitz me falou a respeito dela, disse que ela era... um pouco... difícil."

"Sim, sim ela era" concordei. Difícil era um eufemismo, aliás. "Eu sempre fui tímido, Elizabeth e também quieto, nunca consegui lidar direito com as pessoas, eu sou assim, sempre fui. Minha avó Calista dizia que eu era seu neto favorito, ela dizia constantemente que eu tinha potencial e que me transformar em um homem de valor. Ela tinha algumas expectativas um tanto altas e alguns métodos para que eu alcançasse o potencial que ela vinha em mim o mais rápido possível. Posso te contar algumas histórias muito deprimentes, mas vou me concentrar no que eu suponho seja a causa do meu medo de lugares fechados e talvez isso também contribuiu para minha mania de controle."

Elizabeth me encarou atentamente, eu sabia que ela iria se interessar por isso, ela já tinha me perguntado por que eu precisava tanto estar no controle, acho que era bom ela entender porque eu sou tão... difícil e complicado.

"Eu acho que tinha oito anos, mais ou menos quando eu estava visitando minha avó. Eu não gostava muito de vir visita-la, mas nunca expressei isso verbalmente para meus pais porque ela me aterrorizava. Eu costumava ser uma criança muito obediente, mas ainda assim, eu era uma criança. Alguns vizinhos tinham me convidado para ir brincar com eles e eu tinha pedido a minha avó permissão, mas ela queria que eu ficasse e treinasse meu dedilhado no piano. Ao contrario de Georgiana, eu não era muito ligado a música e não queria passar o meu dia no piano. Acho que fiquei lá por uma hora ou um pouco mais quando decidi parar para ir ao banheiro, ao invés de voltar ao piano, eu fui até o jardim. O filho de um empregado estava ali sentado e brincava com um carrinho, ele era um pouco mais novo do que eu e estava chateado porque a roda do seu carrinho tinha se soltado e eu fui até lá e me prontifiquei a ajuda-lo."

Elizabeth me deu um sorriso tão cativante que quase me distraiu de minha história. Continuei.

"Não foi difícil, foi só um parafuso que tinha se soltado, eu acabei achando o parafuso no chão e coloquei no lugar, testei o carrinho algumas vezes e ele estava andando muito bem e o garoto ficou feliz e me agradeceu. Minha avó chegou ali naquele momento. Ela não quis escutar que eu não estava brincando, que eu só estava ajudando o garotinho a consertar o brinquedo, ela ficou nervosa ao saber que eu estava desobedecendo suas ordens expressas e tudo o que eu tinha de fazer era apenas ficar no piano e não brincando no jardim. Minhas réplicas foram inúteis. Ela ficou furiosa, tão furiosa que o menino correu de lá chorando enquanto ela me arrastava de volta para a casa. Achei que ela iria me bater, mas ela não o fez."

Preferiria que ela tivesse feito isso.

"Ela batia em você?" perguntou Elizabeth surpresa e horrorizada.

"Às vezes, mas não fez isso dessa vez. Ela queria me mostrar que eu tinha de aprender a obedecer ordens, então ela disse que iria me ensinar uma lição. Ela me colocou então em um baú grande lá no sótão, havia apenas uma pequena fresta para eu respirar, o baú não era muito grande, não para que eu ficasse lá sem me espremer, eu fiquei em uma posição extremamente desconfortável, o joelho quase no meu nariz. Não importava o quanto eu gritasse ou implorasse, me debatesse ou chorasse, ela simplesmente foi irredutível."

Elizabeth me olhou com horror.

"Santo Deus, como ela pode fazer isso?" exclamou ela. "Quanto tempo você ficou lá?"

"Não sei ao certo, acho que foram quase dez horas."

Elizabeth ainda me encarava com a mesma expressão horrorizada. Eu prossegui.

"Fitz tinha ido lá para a casa de minha avó, o que foi uma sorte, ele sabia que eu estava na casa, pois meus pais tinham me deixado lá para uma viagem curta e só voltaria daqui a quatro dias, como ele não me viu, ele foi me procurar pela casa inteira e acho que algum empregado se apiedou de mim e contou a ele o que tinha me acontecido. Ele foi lá me soltar, mas ele não tinha a chave, então como ele sabia que minha avó não iria me soltar por bem, ele deu um jeito de achar a chave e me soltou de lá. Minha avó ficou irritada com Fitz pelo que ele fez e lhe deu uma surra. Meu tio Albert, pai de Fitz, não se importava muito se minha avó batia no filho dele, mas minha mãe ficaria irritada se soubesse, então ela me poupou, disse que esperava que eu tivesse aprendido a lição. Depois disso, eu nunca mais consegui ficar em lugar fechado."

"Que mulher horrível!" exclamou ela com uma careta.

"Digamos que... eu não chorei por ela em seu velório, embora eu nunca tivesse desejado sua morte."

"Você é uma pessoa melhor do que eu seria, Darcy."

"Bem... de todo modo, ela era a minha avó e esse era o jeito dela, ela dizia que me amava e as vezes era boa para mim, mas não sempre. Mas não consigo desculpá-la por tudo o que ela me fez" admiti.

"Não penso mal de você por isso, Darcy, ela realmente parece uma mulher terrível, eu sinto muito."

"Está tudo bem, isso foi há muito tempo."

Contar aquela história para ela foi razoavelmente fácil, ninguém além de Fitz sabe dela, e ele só sabe por que presenciou tudo, porque certamente eu não contaria. Mas não me senti nervoso em contar aquilo para ela porque eu sabia que ela iria entender e eu sabia que ela não iria me julgar.

Elizabeth pareceu pensativa quando eu terminei, eu não a forcei a nada, eu só lhe contei isso porque queria que ela soubesse que eu entendia, mas ela começou a falar.

"Quando eu tinha uns seis anos, meu pai e meu tio Phillip levaram eu e minha prima Lucy até uma fazenda na casa de um amigo que eles tem em comum" ela hesitou, como se estivesse escolhendo bem as palavras. – "Lucy tinha quase a minha idade, ela era apenas uma semana mais velha e éramos inseparáveis. Parecíamos irmãs gêmeas, sabe, gostávamos das mesmas coisas, pensávamos parecido e às vezes até terminávamos a frase uma da outra."

"Ela era a filha do Sr. Phillips?" perguntei confuso. Achei que os Phillips não tinham filhos.

"Era."

"Eu achei que eles não tinham filhos" verbalizei minha confusão.

"Tiveram, apenas uma, minha prima Lucy. Minha tia não podia mais ter filhos e Lucy foi meio que um milagre. Pois bem, estávamos nessa fazenda e Lucy quis cavalgar, o amigo do meu tio deixou um rapaz cuidando da gente enquanto mostrava o resto da fazenda para meu pai e meu tio e o rapaz nos deu um cavalo e nos deixou cavalgando em paz. Mas Lucy era um pouco aventureira demais, ela não se contentou em andar em círculos pelo cercado e quis sair com o cavalo e me convenceu a segui-la. Quando o rapaz se distraiu, ela abriu a cerca e nós duas corremos para longe."

Elizabeth respirou fundo tentando conter uma emoção forte, eu sabia o que era isso, segurei em sua mão, sua mão estava tão fria e a minha estava quente, ela olhou para mim com um sorriso e eu fiquei feliz que a estivesse confortando, ela me encarou fundo nos olhos e continuou.

"Estava escurecendo, então eu quis voltar, mas Lucy quis continuar, ela disse que queria ir até o lago e depois a gente voltava, eu estava com um pouco de medo, mas me deixei me convencer outra vez. Acho que o rapaz deu por nossa fata e foi avisar nossos pais, eu os ouvi chamar então nós corremos de volta. Acontece que o cavalo viu alguma coisa, uma cobra, sei lá, estava escuro e eu não sei o que foi, mas ele empinou e Lucy caiu no chão. A grama estava muito alta, eu cai no chão junto com ela, mas apesar do mal jeito no braço, e um ralado no joelho eu fiquei bem. Eu ouvi um estralo quando Lucy caiu e ela não se levantou mais. O cavalo continuou agitado, eu corri até Lucy para ajuda-la a se levantar e... e... havia sangue e..." a respiração de Elizabeth ficou entrecortada, ela começou a respirar fundo tentando se acalmar, seus olhos marejados começaram a transbordar de lágrimas. "Bem, ela estava morta, eu não entendi isso de imediato, achei que ela só estava machucada, meu pai apareceu do nada, ele me puxou para longe, o que foi sorte, porque o cavalo deu um coice que teria me acertado em cheio, ao invés o coice acertou meu pai nas costas e ele nunca mais foi o mesmo" as lágrimas agora escorriam pelo seu rosto. "Não sei bem o que aconteceu depois, minha memória fica meio... turva depois disso, acho que em algum momento depois eu soube que ela tinha morrido e entrei em choque. Depois disso eu tenho pavor de cavalos."

Com a mão livre, a que ela não tinha entrelaçada na minha, ela limpou as lágrimas, eu dei a ela um sorriso triste que queria dizer "eu entendo, eu sinto muito!"

"Eu sinto muito, Elizabeth."

"Eu nunca contei isso para ninguém, nem para Lotte... mas não me importo em contar para você... me sinto... segura com você Darcy, não sei explicar. Sei que posso confiar em você."

"Obrigado. Sim, você pode" garanti veemente.

Aquilo aqueceu meu coração, não sei precisar exatamente o que eu senti, pareceu felicidade, pareceu alívio, era uma emoção que eu nunca senti e que era totalmente nova. Era tão reconfortante ouvir que ela confiava em mim, ah, meu Deus, eu a amava tanto, só queria que ela entendesse o quanto ela significa para mim.

Nos encaramos por um tempo, com a mão livre eu limpei uma lágrima que escorria de sua bochecha de leve.

"Porque é que sempre contamos histórias deprimentes um para o outro?" disse ela rindo. "Somos dois ferrados."

"Sim" concordei rindo também.

Nos encaramos outra vez, ela sorria um pouco, não sei se eu sorria, eu estava muito concentrado nela para ter alguma ideia de quem eu era ou onde eu estava e o que estava fazendo. Nada disso tinha importância alguma, só Elizabeth, saber que ela estava ao alcance de meus dedos, meu Deus, eu achei que nunca teria essa chance, que isso nunca iria acontecer e estava acontecendo isso precisamente agora!

Uma brisa morna de verão soprou ao nosso redor fazendo um fio de cabelo se desprender do rabo de cavalo de Elizabeth e voar para seu rosto, eu estiquei a mão e o coloquei atrás de sua orelha.

Foi como naquela vez no elevador, estávamos tão próximos um do outro outra vez, e como da outra vez Elizabeth apenas se inclinou um pouquinho na minha direção e eu me inclinei na direção dela como se nossos movimentos estivessem sincronizados. Eu senti meu coração palpitar em meu corpo, uma ansiedade me dominar, ambos hesitamos, não como se não quiséssemos, mas como que para ter certeza se o outro iria responder da mesma forma. De minha parte, eu estava nervoso, já houvera tantas rejeições, tantos contratempos, alguém tinha que dar o primeiro passo, eu me inclinei mais, Elizabeth fez o mesmo e finalmente nossos lábios se encontraram.

Eu imaginei aquilo na minha cabeça mais de um milhão de vezes e agora aquilo estava finalmente acontecendo. Os lábios de Elizabeth eram macios, mornos e tinha gosto de morango – pensando bem agora, acho que o gosto de morango vinha do gloss labial dela, mas na hora aquilo tinha me intrigado um pouco – eu não quis apressar demais as coisas, eu estava muito, muito nervoso, queria que tudo desse certo, que esse não fosse um ato apressado e eu estava pensando em um milhão de coisas novamente como a pessoa analítica que eu sou.

Eu mal podia acreditar que Elizabeth estava ali na minha frente, depois de dizer que eu era o último homem que ela consideraria namorar, depois de jogar um diário que só dizia coisas ruins sobre mim... não, não somente coisas ruins, havia pelo menos uma coisa boa ali, aquele sonho. O sonho veio a minha mente, tudo o que ela narrara. Estávamos embaixo de uma árvore, mas não era um cerejeira era um cedro, ainda assim, nos beijávamos e como no sonho, tinha sido hesitante no início, eu não podia evitar, estava nervoso, estava relembrando todas as rejeições, mas o sentimento foi me dominando, o cheiro de freesia, a doçura de seus lábios e sua pele macia. A bochecha de Elizabeth ainda estava úmida das lágrimas, deixei que meus dedos acariciassem sua bochecha e descessem de leve e lentamente por seu pescoço. Ela soltara a minha mão e subiram devagar por meu peito até meu pescoço, senti seus dedos trêmulos enquanto passavam por minha pele como um rastilho de pólvora acendendo minhas terminações nervosas, seus dedos subiram por meu cabelo despenteando-o. Não me importei nem um pouco.

Eu podia sentir em seus lábios se formar um sorriso, ela sentia grande satisfação ao despentear meu cabelo, ela chegou a admitir que sempre tivera vontade de fazer isso, mesmo antes na época em que ela dizia me odiar... mas ela não me odeia mais, ela pode não me amar, como eu a amo, possivelmente ela não poderia me amar como eu a amo, duvido que alguém possa amar outra pessoa tanto assim, mas não me importava, ela gostava de mim o suficiente e eu aceitava qualquer coisa vindo dela.

O beijo não demorou muito, mas foi intenso a sua maneira, foi como uma descarga elétrica que acendeu nós dois, encaramos um ao outro, ainda sentindo aquela onde de eletricidade, nossas respirações entrecortadas, mas continuamos próximos, sem ousarmos nos afastar. Eu tinha tanta coisa a lhe dizer, mas não queria estragar tudo com duvidas, ainda assim, havia uma coisa que eu precisava lhe perguntar, eu precisava saber!

Toquei seu queixo e a fiz olhar para mim, abri a boca para lhe fazer uma pergunta que estava queimando dentro de mim, mas...

"Darcy!"

Demos um pulo no banco quando ouvimos o grito de Caroline vindo na nossa direção, Elizabeth se assustou tanto que ela quase caíra do banco, só não o fez porque eu a segurei e a impedi de deslizar para o outro lado.

Imediatamente Elizabeth fez uma careta de irritação, Caroline apareceu instantes depois, mal tivemos tempo de nos recompor, Elizabeth sequer tentou. Ela vinha a frente, Fitz e minha irmã vinham atrás, eles certamente tiveram a certeza de que nos interromperam em um momento íntimo. Eu tentei disfarçar minha irritação para não deixar minha irmã sem graça, mas eu sabia que tudo tinha acontecido por conta de Caroline, mesmo que eu não tivesse essa confirmação instantes depois.

O rosto de Elizabeth estava vermelho e ela parecia constrangida de ter quase sido flagrada comigo por minha irmã e Fitz, quanto a ser flagrada por Caroline, suponho que ela não tinha se importado. Eu não estava constrangido, eu estava furioso, Fitz me lançou um olhar "desculpe, eu tentei segurá-la", que ele nem precisava, eu sabia que tudo tinha sido culpa de Caroline mesmo.

Caroline olhou para nós dois com irritação, mas eu a ignorei, minha irmã me olhou constrangida, Fitz sorriu quando viu meu cabelo.

"Desculpe se interrompemos alguma coisa!"

"Vocês não deveriam estar cavalgando?" respondi irritado.

Sim, vão embora e me deixem a sós com Elizabeth, obrigado!

"Bem, Caroline quis voltar" explicou minha irmã em tom de desculpa. "Ela achou que... bem, que seria injusto deixarmos vocês aqui sozinhos enquanto nos divertíamos."

"Ah, que gentileza a dela!" exclamou Elizabeth sarcástica.

Fitz deu um sorriso debochado, minha irmã continuou a nos encarar com um olhar envergonhado e cheio de culpa, mas Caroline nos encarava com o rosto contraído, transbordando ciúmes.

"Então acho que vamos seguir com nosso plano de antes ir jogar tênis?" disse ela amargamente.

Eu fui muito a contragosto e fiquei emburrado durante todo o caminho, eu me afastei de Caroline, porque eu mal podia olhar na cara dela agora.

"Darcy, me conta uma coisa" sussurrou Fitz que tinha ficado para trás para falar comigo. "Você e Elizabeth estavam se dando uns pega?"

"Não estávamos fazendo isso, estávamos nos beijando."

"Nossa, até que enfim!" comemorou ele baixinho. "Me conta!"

"Não tem o que dizer, só nos beijamos, Fitz!"

"Não seja um estraga prazeres, o que rolou, vocês deram só um beijinho sem graça ou deram uns amassos, rolou língua, você pegou em algum lugar no corpo dela..."

Eu lancei a Fitz um olhar duro e ele caiu na gargalhada.

"Você não tem nenhuma graça!"

Eu me concentrei na ideia de que Elizabeth e eu teríamos um encontro mais tarde, isso fez meu humor melhorar um pouco e me animar a jogar sem que eu estragasse o passeio para Fitz e Georgiana.

Elizabeth estava pouco animada em jogar também, percebi, mas quando Caroline começou a se gabar o quanto era boa no tênis – de fato, ela era mesmo – Elizabeth voltou a sua animação competitiva e eu sabia que aquilo não iria dar certo outra vez.

"Fitz, quero te pedir um favor" sussurrei.

"Qual?"

"Faz Elizabeth desistir dessa competição!"

"Seria mais simples pedir que o planeta Terra parasse de rodar, Darcy!"

Suspirei.

"E Caroline?"

"O mesmo" disse ele rindo e pegando o celular. "Isso vai ser mais épico do que o soco!"

Inicialmente quem jogaria seriam Elizabeth, Georgiana, Caroline e eu; pensei em ficar de fora o lugar de meu primo, dessa forma Caroline talvez desistisse também, mas antes de sugerir isso, minha irmã recebeu uma mensagem de Lowell e pediu para ficar de fora no lugar de Fitz para poder falar com ele. Fiquei olhando para ela sair da quadra e se sentar nos bancos então Elizabeth, que me encarava do outro lado começou a balançar a cabeça.

"Deixa sua irmã em paz!" disse ela em tom de reprimenda.

"Não estou fazendo nada!" retruquei ofendido.

Tínhamos um acordo, eu estava cumprindo minha parte, mesmo que me doesse muito fazê-lo.

"Bem, Darcy e eu então podemos fazer um time e você, Lizzie, faz dupla com Fitzwilliam."

Achei que Elizabeth iria reclamar, eu estava prestes a fazê-lo, mas Elizabeth concordou prontamente com o arranjo e seria ridículo se eu começasse a discutir, então aceitei aquilo. Meu primo olhou para mim com um sorriso esperto e foi se juntar com Elizabeth no outro lado do campo.

Elizabeth tinha comentado que nunca tinha jogado tênis antes, mas ela não era uma má jogadora, na verdade, ela era muito boa. Eu realmente não estava muito no animo de jogar e não estava fazendo muito esforço, mas nem precisava, Caroline estava se esforçando por nós dois. Eu estivera certo antes, aquilo era uma competição entre as duas, Fitz e eu pouco importávamos.

Elizabeth foi a primeira a fazer um ponto, depois Caroline empatou e fez mais um e Fitz fez o segundo, até agora tudo estava indo conforme o esperado em um jogo, eu de mau humor e Fitz se exibindo, mas depois as coisas começaram a esquentar entre Caroline e Elizabeth, elas não pareciam felizes com o empate e estavam se jogando para a bola – quase literalmente mesmo.

Fitz sacou a bola, Caroline foi mais rápida do que eu e rebateu, Elizabeth pulou para a frente, rebateu a bola para o outro lado da rede. Como a bola vinha na minha direção, eu me coloquei em posição para rebater, mas Caroline se jogou na minha frente, me fazendo pular para trás para não me chocar com ela e ela rebateu no meu lugar. Olhei perplexo para Fitz que também estava em pé, com a raquete de tênis na mão descansadamente olhando para Caroline e Elizabeth rebatendo as bolas sem nosso auxílio. Elas estavam em uma competição que eu duvido que seja por conta do tênis.

O duelo incansável delas durou vários minutos no qual Fitz e eu só as assistia, eu nem mesmo me movia para a bola, Fitz, do outro lado, na verdade, se afastava quando a bola vinha em sua direção para dar espaço a Elizabeth. Aquilo só teve fim quando Elizabeth arremessou uma bola tão forte que Caroline não conseguiu rebater e o time deles fizeram o terceiro ponto de desempate.

Caroline e Elizabeth estavam ofegantes e de rostos vermelhos. O cabelo de Caroline que antes estavam em uma trança elaborada, agora estava escapando e ela parecia exausta, Elizabeth também estava um pouco desalinhada, mas com uma aparência melhor, ela tinha um condicionamento físico superior a Caroline.

O duelo delas recomeçou, porém com uma intensidade menor, Caroline estava cansada, então eu consegui rebater sem que ela me empurrasse para longe.

"Darcy, se me recordo bem, a festa anual de caridade de sua empresa é nesse próximo final de semana, não é?" disse ela se jogando na frente da bola que vinha em sua direção e fazendo um bonito backhand.

"Sim."

Fitz rebateu de volta.

"Eu realmente preciso fazer compras... hum, suponho que eu seja seu par este ano como sempre?"

Eu rebati a bola para o outro lado, Fitz estava muito longe e Elizabeth, mais lenta devido ao cansaço, não conseguiu rebater e fizemos o ponto de empate. Caroline comemorou com um pulinho, mas eu ignorei.

"Acho que não vai ser necessário, mas obrigado" disse respondendo a sua pergunta.

Fitz do outro lado começou a brincar com a bola antes de arremessar para nosso lado.

"É Darcy já vai levar outra pessoa."

Caroline ficou tão irritada com essa informação que quase não conseguiu rebater a bola de volta, mas por muito pouco ela foi capaz de atravessar a rede e Elizabeth conseguiu rebater de volta.

"Ele vai levar a Lizzie!" disse Fitz com satisfação.

"QUÊ?"

Então Caroline levantou a raquete para amparar e arremessar a bola para o outro lado, mas ficou distraída com o que Fitz disse, talvez pela sua raiva, ela tenha lançado a bola com muita força, não sei, acredito que ela não tivesse feito o que fez de propósito, mas a bola veio na direção de Elizabeth, que por sua vez estava de lado olhando perplexa para Fitz e não conseguiu desviar de imediato e a bola acertou-a na têmpora. Elizabeth desiquilibrou com o impacto e caiu no chão com tudo.

Eu paralisei por um instante, assim como Caroline que ficou horrorizada, minha irmã que assistia ao jogo deu um grito e Fitz jogou a raquete e correu para ajuda-la. O barulho de sua queda foi terrível, meu sangue congelou e Elizabeth não se moveu e seus olhos estavam fechados.

"Meu Deus Darcy!" exclamou Fitz.

"Eu não fiz de propósito" disse Caroline quase gritando de pânico.

Eu me abaixei, sentindo como se estivesse novamente dentro daquele elevador fechado sem ar algum. Tentando manter a calma eu me aproximei e vi que ela respirava.

"Fitz, ligue para a ambulância!"

"Eu ligo!" disse Georgiana que ainda segurava o celular.

"Agora você conseguiu, Caroline!" zangou-se Fitz.

"Eu já disse, eu não fiz isso de propósito!" disse ela quase chorando de nervoso. "Admito que eu não gosto dela, mas não quero que ela morra!"

"Ela não vai morrer!"

Elizabeth abriu os olhos, eles pareciam desfocados, mas pelo menos ela estava voltando a consciência.

"Lizzie, você está bem?" perguntei em pânico.

Ela tentou se levantar, parecia desnorteada, eu a impedi.

"Não a deixe levantar!" gritou Fitz.

"Ela não pode se mexer!" berrou Georgiana ainda no celular.

"Lizzie você tem que ficar quietinha aí!" disse e por um milagre divino ela acabou me obedecendo.

Ela fez uma careta de dor e moveu o braço levando a mão atrás da cabeça, quando ela levantou a mão, ela estava vermelha de sangue, o impacto que sua cabeça sofreu ao bater no chão deve ter aberto um corte, a sua queda pode ter sido mais grave do que eu supus. Elizabeth encarou a sua mão coberta de sangue perdendo a cor imediatamente e eu sabia que ela iria desmaiar, já vi isso antes.

"Elizabeth...?" disse minha irmã em pânico.

"Meu Deus, sangue!" exclamou Fitz em uníssono!

"Darcy... eu vou desmaiar" disse ela.

"Está tudo bem, a ambulância já vem!" garanti.

"Fica comigo?"

"Claro!"

"Promete?"

"Prometo!"

E então seus olhos fecharam-se e ela desmaiou.

Eu encarei Elizabeth no chão, eu não podia tocar nela até que a ambulância viesse, o que, convenhamos, ela apareceu rapidamente.

Os paramédicos correram e cuidaram dela com eficiência.

"Eu vou com vocês!" disse.

"Você é o que da paciente?"

"Ele é o namorado dela!" disse Fitz no meu lugar.

"Sim, sou o namorado dela!" menti.

Caroline fez uma careta, mas eu a ignorei.

"Está tudo bem!" concordou ele colocando-a na maca.

Comecei a dar instruções para Fitz e Georgiana correrem até o carro e nos seguir, Fitz estava tentando acalmar minha irmã, mas era ele quem estava mais agitado, eu mesmo estava nervoso, se a bolada lhe causou um traumatismo... isso poderia ter sequelas graves... ah, Santo Deus!

Então me virei e vi Elizabeth recobrar a consciência, ela começou a se levantar, o paramédico não deixou que ela se levantasse, eles tinha imobilizado o seu pescoço então ela não podia mexê-lo, mas mesmo assim ela estava muito agitada e eles tiveram que deixar que ela se sentasse, mas a ajudaram a fazer isso devagar e ela pareceu aborrecida com o excesso de cuidado deles.

Me despedi dos outros e pulei na ambulância com eles. Elizabeth ainda parecia tonta e desorientada, os paramédicos me garantiram que isso era normal.

"Como você está se sentindo?"

"Minha cabeça dói" gemeu ela em resposta.

"Deve doer mesmo!" disse. "Eu sinto muito."

"Tudo bem, isso já aconteceu comigo antes" disse ela fazendo uma careta. "Mas não pense que com isso Caroline conseguiu."

"Conseguiu o quê?"

"Impedir meu encontro com você" disse ela sorrindo. "Você não vai escapar de mim tão fácil, Fitzwilliam Darcy!"

Eu sorri.

"Eu nem pensaria nisso, Elizabeth."


Continue Reading

You'll Also Like

235K 8.3K 129
• ✨ɪᴍᴀɢɪɴᴇ ʀɪᴄʜᴀʀᴅ ʀíᴏꜱ✨ •
249K 37.5K 71
Eu fui o arqueira, eu fui a presa Gritando, quem poderia me deixar, querido Mas quem poderia ficar? (Eu vejo através de mim, vejo através de mim) Por...
945 58 31
Este livro vai além de palavras, são sentimentos interligados de mim mesmo para todos que se sintam conectados, um compilado de tudo que sou e o que...
65.9K 5.2K 44
Lena nasceu em Salem, mas depois que seus pais se separaram passou a ir de cidade para cidade com sua mãe. No entanto, após um trágico acidente, ela...