OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING...

Por autoralotorino

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❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe u... Más

SINOPSE COMPLETA
DISCLAIMER
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
Capítulo sem título 18
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
C A P Í T U L O XX
C A P Í T U L O XXII
C A P Í T U L O XXIII
C A P Í T U L O XXIV
C A P Í T U L O XXV
C A P Í T U L O XXVI
C A P Í T U L O XXVII
C A P Í T U L O XXVIII
C A P Í T U L O XXIX
C A P Í T U L O XXX
C A P Í T U L O XXXI
EPÍLOGO
Notas Finais + Amazon

C A P Í T U L O XXI

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Por autoralotorino

Eles foram até a propriedade de lord Morley.

Não, não a Morley House, mas sim o apartamento pessoal de Frederick próximo à igreja de St. James's em Picadilly. Na verdade, eles conseguiam ver perfeitamente a igreja da propriedade de lord Morley. A sala de estar estava localizada no terceiro andar e as janelas estavam abertas, com as cortinas amarradas, deixando à mostra a bela vista do prédio.

Ótimo, Frederick pensou, se Eliza decidir se casar com Jones em Picadilly eu poderei assistir á tudo em um camarote privilegiado. Maravilha.

De repente ele sentiu raiva de sua janela. Sim, de sua janela. Lord Morley se aproximou do vidro, desfez as amarrações da cortina sem cuidado algum e tentou desesperadamente — e claro, com uma pitada de irritação — acabar com qualquer vista da maldita igreja. Mesmo não sendo um exemplo de cristão sentia-se péssimo por praguejar pelo santuário nos pensamentos, mas não podia negar. A ideia de ver Eliza Gunning vestida de noiva, com um buquê e um véu, entrando para se casar com Barclay Jones... Urrgh, era torturante demais até para ele.

Lord Alberdeen achou toda a situação muito engraçada. Ele sentou-se em uma das poltronas rindo e relaxando sobre o estofado. Crosby, por outro lado, pegou um jornal deixado em cima do sofá e estreitou os olhos para o companheiro.

— Ei, eu estava apreciando a vista de St. James. Qual o seu problema com religiosidade?

James franziu o cenho.

— Você também não é religioso, Crosby.

— Mas consigo olhar para uma igreja sem que meus olhos queimem. Morley, por outro lado...

— Só não quero vê-la! — ele rangeu — Vocês estão aqui para ajudar ou para serem uns patifes como na maior parte do tempo?

— Patifes — Alberdeen deu de ombros.

Certo, se arrependimento matasse Frederick estava morto. Ele caminhou até um balcão de bebidas no fundo da sala para se servir com um brandy. Seus bons modos diziam que ele deveria oferecer para os convidados, mas se eles que quisessem eles que pegassem. Porém nem Crosby nem Alberdeen parecem muito interessados na bebida. James está descansando na poltrona e Aaron descobriu que tem um talento interessante para ler em meia-luz. Ele estava indo para a segunda manchete.

— A igreja me lembra ela — Frederick resmungou, cedendo as explicações — e eu não quero exatamente me lembrar de Eliza agora, apesar de que ela possivelmente será o tópico principal de nossa conversa.

Alberdeen estreitou os olhos.

— Ela é uma daquelas moças completamente devotadas à igreja e tal? — James piscou — Nunca imaginei, principalmente considerando que o pai dela é um...

— Não. — Morley interrompeu — Eliza definitivamente não é um exemplo de cristandade.

— Pode ser, mas geralmente as moças gostam de pensar que o Senhor ficaria orgulhos...

— Nós dormimos juntos. — Frederick disse — Lady Eliza e eu.

Lord Crosby desistiu de sua leitura e o jornal caiu sobre seu colo. Alberdeen que possivelmente faria outro comentário indecorosamente divertido desistiu de qualquer reação. Ele arqueou as sobrancelhas em um misto de surpresa e admiração. James deu duas batidinhas nas costas de Frederick que ficaram ainda mais rígidas com o movimento.

— Parabéns, Morley. Essa não parece ter sido fácil e... — ele jogou a cabeça para um lado — não faz sentido algum também. O que diabos você acabou de dizer?!

Crosby não parecia nem orgulhoso e muito menos surpreso. Ele apenas estreitou os olhos para Morley, tentando ler as expressões do amigo, mas por fim deu de ombros.

— Simples assim? Eu conheço lady Eliza. Você está escondendo algo...

— Estou, — Frederick confessou — estou escondendo muitas coisas.

E então ele contou toda a história para eles. Não era a intenção desonrar lady Eliza nem nada assim, mas eles eram seus melhores amigos há séculos. Há quase vinte anos Aaron Crosby havia aparecido no quarto de Frederick em Eton, se atirado ao seu lado e murmurado algo como: ei, sou seu novo colega de quarto, vamos ser amigos. E, anos depois, quando ele tinha treze ou quatorze anos encontrou James Alberdeen em uma das fugas noturnas e eles descobriram que ambos eram muito bons em mentir sobre o paradeiro no dia seguinte. Se não pudesse confiar neles, em quem confiaria? Há anos eles resolviam os problemas dessa forma. Algo estava dando errado? Uma reunião era convocada.

Foi assim quando os pais de Aaron quiseram colocá-lo para estudar em casa, ou quando James se apaixonou por uma mulher vinte anos mais velha que trabalhava em uma taverna ou quando Rinsgley — que agora estava em algum lugar em Cumberland — decidiu que soltar dois baldes com girinos na cama do professor de álgebra fosse uma boa ideia. Geralmente as reuniões ajudavam, outras vezes eram inúteis. Ainda assim lord Morley tinha esperança nos companheiros e...

— Crosby, me ajude. Precisamos de uma sugestão de nome para o filho que Morley e lady Eliza vão ter.

Ele pensou por alguns segundos.

— Aaron se for menino — respondeu — Aarin se for menina.

Morley suspirou. Seria melhor ter pedido ajuda para o próprio diabo.

— Vocês são péssimos.

— Aaron Crosby Morley... — lord Crosby sorriu — fica perfeito.

— Certo, certo... — Frederick abanou no ar — vocês podem ir embora. Vão, vão!

Claro que nenhum dos dois obedeceu. Alberdeen riu da situação e Crosby decidiu tentar ler mais uma manchete no escuro. Lord Morley foi mais rápido e arrancou o jornal das mãos dele, atirando o papel amassado pela brutalidade no chão. Ele bufou.

— Frederick, as coisas são bem mais fáceis do que você imagina. Apenas se case com ela. — A voz de Alberdeen soou — É isso que vocês querem, não é? Você não desonraria uma mulher como ela se não soubesse exatamente o que acontece depois.

Morley estremeceu involuntariamente. Frederick. Eles não se chamavam pelo primeiro nome há mais de cinco anos. Usar o nome parecia tão estranhamente informal ou infantil. Inevitavelmente Frederick sentiu saudade de Eton e até mesmo de Cambridge quando as coisas eram mais fáceis. Não havia porque se preocupar com fortunas, títulos ou casamento. Todo esse drama estaria resolvido.

— Ela está encorajando os sentimentos do Sr. Jones, — Frederick disse — e disse que me odeia.

— Ah. — Alberdeen exclamou. — Isso realmente é uma droga. Então ela não tem sentimentos por você?

— Eu sempre soube que havia algo a mais ali. Bem que Ronnie avisou...

— A Sra. Paine. — James corrigiu — Sua amada que está longe agora.

— Vou para Wiltshire amanhã. Eles me convidaram e eu não poderia passar um tempo com eles.

— Vai ser uma maravilhosa lua-de-mel à três.

— Vamos para o Autin's. — Lord Morley resmugou — Acabamos por aqui.

— Não, não acabamos. — Aaron disse — Nós não resolvemos nada relacionado a Eliza Gunning. Você a ama? Está apaixonado? Se sim, sua únic...

— Não.

Alberdeen pigarreou.

— Então porque se importa tanto com ela? Eliza não fez aquilo por que quis? Não é a primeira mulher que te procura porque quer experimentar algo novo. — James cruzou os braços — Se uma mulher causa tanta aflição em um homem depois de uma noite... Bem, eu não estaria tão certo do meu não.

Frederick rangeu os dentes. Odiou que Alberdeen a chamasse de esquisitinha, mas não foi capaz de defendê-la. Não queria demonstrar-se fraco. Não queria demonstrar-se afetado por lady Eliza.

— Não a amo, mas devo me casar com ela...

— Ama sim — Crosby disse — é tão difícil aceitar? Os poetas descrevem tão bem esse sentimento para depois ser menosprezado por um marquês prepotente.

Lord Morley posou com brutalidade o copo com o brandy sobre o parapeito da janela. A cortina voou com uma brisa repentina e mais uma vez ele se flagrou observando a igreja. A igreja dela. Por Deus, se ela fosse se casar não poderia ser em St. George?

— Mesmo se eu amasse... — Frederick disse e a amargura em sua voz era visível — ela me odeia. Não entendo as mulheres.

Alberdeen deu de ombros. Crosby suspirou.

— É, Morley... E não vai entender conversando com os canalhas de seus amigos solteiros. Nós já mostramos nosso ponto de vista, você ignorou, então vamos beber, sim? É o melhor que pode fazer. Para você e pelo jeito, para ela. Deixe que se case com Jones e viva sua vida. É o que você quer, não é? — James perguntou.

— É, acho que sim.

— Ótimo. Apenas não...

Ache. — Crosby disse, colocando o casaco e abrindo a porta para que eles pudessem sair — Tenha certeza.

🕎🕎🕎

Frederick Morley bateu pela segunda vez na porta da casa da família Scales.

Ele já havia tocado a campainha uma vez, mas não houve resposta. Depois de alguns segundos de impaciência ele levou novamente as mãos até o objeto metálico e mais uma vez o timbrar dos sinos soou pela propriedade em Belgravia. Tratava-se de uma grande construção de esquina, com paredes brancas e varandas laterais enfeitadas com canteiros de flores coloridas. Era uma área residencial tranquila, próxima a Chelsea, e a imponência do lar do Sr. Scales combinava muito bem com o ar burguês que ascendia cada vez mais pela região.

Depois do segundo soar não demorou muito para que o marquês fosse atendido. Um homem baixinho e rechonchudo surgiu à porta com um sorriso largo. Apresentou-se como o mordomo da família e pediu para que lord Morley o acompanhasse no caminho pela residência. Frederick o fato de não precisar se apresentar, mas ao olhar pelas inúmeras janelas frontais percebeu que certamente eles já sabiam de sua presença.

O hall de entrada era alto e espaçoso. Os tons claros das paredes faziam com que a luz do sol refletisse ainda com mais intensidade e iluminasse o ambiente de maneira acolhedora. Duas crianças passam correndo por eles. Um menino de no máximo oito anos seguido de uma garotinha segurando uma boneca mais ou menos com a mesma idade. Apesar do barulho e das risadas altas o mordomo não os apreende, apenas continua o caminho até a sala de recepções exalando simpatia.

Lord Morley é levado até um cômodo confortavelmente rebuscado no primeiro andar. Senta-se no divã e espera Cassandra com exímia paciência. Não tardou para que ela aparecesse através das portas francesas, sorrindo e preenchendo a sala com todo seu ar espirituoso. A Srta. Scales acomodou-se em uma poltrona próxima ao amigo e entendeu as mãos para ele. Frederick beijou-a.

— Estou na verdade surpreso de ver apenas você aqui, — lord Morley disse, acomodando-se polidamente no sofá — pensei que suas irmãs viessem também.

Cassandra deu de ombros com um suspiro pesado.

— Bettany é muito nova, deve estar correndo atrás de nosso irmão com uma boneca. Holly desistiu há tempos de me acompanhar em qualquer visita que recebemos, porque ela sempre fica sobrando na conversa. E Harriett... — ela desviou o olhar, fitando a janela aberta com cortinas cor de rosa — ela se casou. Infelizmente só conseguiremos a companhia dela se formos até Pimlico.

Frederick assentiu.

— Bem, de qualquer forma é sua companhia que me trouxe até aqui. É melhor assim mesmo.

Cassie assentiu. Uma pitada de divertimento transformou-se em seus olhos naquele tom de azul calmo, tão diferente da tempestade que era Eliza.

— Ah, mas há um porém. O senhor queria me ver porque gosta de minha companhia ou por uma razão especifica?

Lord Morley deu de ombros.

— Ambos — respondeu — na verdade eu queria alguém que não fosse Crosby ou Alberdeen. E de preferência uma mulher.

— Não existem mulheres pelo qual vocês pegam pela companhia?

— Não é exatamente pela companhia, Cassandra — explicou com o cenho franzido — mas não. Não assim. Eu precisava como uma... Hum, uma amizade?

— Compreendo — Cassandra assentiu — e eu sou sua amiga.

Frederick suspirou. Algo na voz da Srta. Scales fez com que ele relaxasse, pois sentiu os músculos de seus ombros relaxando. Talvez fosse simplesmente mais leve conversar com Cassandra do que com Crosby e Albderdeen. Talvez ela ao menos soubesse clarear sua mente.

— Para eles as coisas são simples demais.

Cassie concordou com a cabeça, pensativa.

— Já pensou que talvez as coisas realmente sejam simples e nós que gostamos de complicá-las?

— Difícil dizer... — ele suspirou — eu realmente não sei.

Cassandra também suspirou, mas era um suspiro diferente do dele. Era como se ela entendesse perfeitamente o que havia em seu coração, mas como já havia lidado com isso antes — talvez até com ela mesma — sabia exatamente o que estava por vir. A jovem levantou-se, caminhando até a campainha dos criados e puxando-a suavemente.

— Sendo assim quer um pouco de chá?

— Claro.

— E então você me conta o que está afligindo seu pobre coraçãozinho, sim?

Os músculos dele tencionaram novamente. Frederick correu os olhos até Cassandra e forçou uma risada que saiu mais destonada e esganiçada do que ele previra. Ela estreitou os olhos, voltando para sua poltrona e fitando-o com seriedade. A criada entrou logo em seguida como se já estivesse no corredor esperando o pedido. O chá com doces artesanais foi colocado em cima da mesinha central.

— Estou falando sério, oras. — Cassandra serviu-os com o chá — Quem é?

— Como assim quem? — Frederick indagou, mas seu olhar surpreso havia entregado a vitória de Scales.

— Como eu tinha previsto. Problemas do coração... Tudo bem, eu não me casei, mas sou uma ótima guru romântica para os outros... — ela sorriu de lado. Em seguida ergueu o olhar, séria: — o mais sensato antes de tudo é perguntar quem é ela. Isso muda tudo.

Morley calou-se, afundando no estofado e cruzando os braços. Nesse momento ele não pareceu um homem de vinte e sete anos, mas sim uma criança fazendo birra. A Srta. Scales pestanejou.

— Frederick?

— Não é necessário mencionar nomes.

— Certo. Eu deveria supor que se trata de lady Stephanie Churchill. Vamos usá-la por via das dúvidas.

— Certo.

— Certo.

Silêncio. Cassandra pegou outra xícara para terminar de servir a si própria com uma tranquilidade imensa. Óbvio! Quem estava fazendo o tempo era lord Morley, afinal, era ele que havia rastejado até sua casa. Ele era o aflito, ela não. A Srta. Scales estava como sempre serena e radiante. Ela até havia começado a cantarolar.

Talvez eu esteja apaixonado ou algo parecido com isso — Frederick confessou.

— E ela também está por você? — Cassandra arqueou uma das sobrancelhas na dúvida.

— Não tenho tanta certeza.

— Como não?! — ela respirou pesadamente — Nós sempre percebemos essas coisas. Quando o sentimento é recíproco... Bem, você sabe.

— Não é tão simples.

— Deveria ser, Morley. Não o romance em si, mas ao menos saber sobre os sentimentos. É péssimo guardar tudo para si. O resto são as complicações externas, não as do coração.

— Já pensei que sim, mas agora minha resposta é que não. Ela disse algo como... — Ele fingiu forçar a memória, mas as lembranças estavam vívidas em sua mente — Vou odiá-lo para sempre. Por toda eternidade, por todos os dias e blá blá blá. Algo do gênero.

A Srta. Scales olhou para ele, horrorizada. Nem em seus piores dias ela seria capaz de dizer isso para alguém como ele. Era totalmente fora da etiqueta e dos modos. Se havia chegado a esse ponto... Bem, alguma coisa certamente não estava certa. Ela deixou a xícara sobre a mesa, pensando que os assuntos românticos do amigo eram mais importantes e não mereciam nenhuma distração.

— E é por isso que você está assim? — Cassie indagou com cuidado — Quer dizer, suas lembranças são bem vividas...

— Estou assim, porque isso está acontecendo justo comigo. Quando eu voltei para Londres no meio da temporada minha intenção era encontrar uma esposa minimamente agradável e aceitável. Minha última intenção era me envolver em um drama — Morley cuspiu as palavras — essa mulher está me destruindo, Cassandra. Destruindo.

— Ah... Ela tem esse efeito nas pessoas mesmo. E nos vestidos...

Lord Morley franziu o cenho. Como a Srta. Scales poderia ser tão indelicada assim? Ele estava na sua sala de estar confessando coisas que nunca diria para ninguém e ela simplesmente solta palavras sem sentido? Esse deveria ser ele, não ela. Ele respirou fundo, tentando manter o foco, e a fitou com visível confusão.

— Como assim?!

— Eliza. — Cassandra suspirou — Ela tem uma grande fama por destruir vestidos alheios. Mas sempre diz que é sem querer, claro. Não que eu duvide... Algumas pessoas realmente nascem com pés tortos, mas o mínimo a se fazer é treinar o equilíbrio antes de debutarem.

Ele piscou algumas vezes.

— Não estávamos falando de lady Stephanie Churchill?

— Você não acha que eu sou tola, acha?

— Longe disso.

— Você se arrasta como um cãozinho por lady Eliza Gunning desde o inicio. Sempre esteve muito óbvio para mim que ela era a responsável por todas as aflições de seu coração.

— Por Deus, Cassandra? — ele levantou o tom de voz, indignado — Como?

— Ah, por favor, Frederick. Sou sua amiga. E acima disso sou uma pessoa observadora. Nada escapa a mim e sei que talvez essa seja minha maior qualidade. Não foi difícil perceber que havia alguma coisa ali, principalmente no jogo de Pall Mall e depois no baile dos Greaves quando as amigas dela foram conversar com o Sr. Jones. Você sabe que eu... — Cassandra levou a xícara de chá até a boca rapidamente — Ah, boa tarde mamãe.

A Sra. Scales entrou no cômodo com um sorriso largo. Ela usava um chapéu e tinha em mãos uma pequena planilha então era de se imaginar que ela já estivesse de saída, mas tinha aberto uma exceção para o marquês. A senhora fez uma mesura cortês e sorriu para a filha.

— Uma ótima companhia para o chá, não é, Cassie? — a mãe piscou algumas vezes — Aproveite o momento para convidá-lo com antecedência. Estou indo procurar seu tio... Preciso dos convites.

Lord Morley ficou paralisado.

Hum...

— Ele trabalha com imprensa — a Sra. Scales explicou — enfim, estou indo. Cassandra, garanta para lord Morley que ele terá um lugar especial na igreja. Com sua licença...

E ela fez uma mesura, retirando-se. A Srta. Scales forçou um sorriso bebericando o chá por mais tempo do que deveria. Ela não conseguia olhar para Frederick. Não agora, depois de isso ter sido jogado tão vagamente e em um momento inesperado.

— Cassandra? — Morley a chamou, com a duvida pairando na voz.

Ela suspirou.

— Bem, vejo que você não soube das novidades e eu não tive oportunidade de mencioná-las... — Cassandra sorriu amarelo — estou noiva!

Frederick piscou algumas vezes. Certo, a Srta. Scales iria se casar. Todos esperavam isso o mais rápido possível, ainda mais que eles estavam no fim da temporada, mas ainda assim... Não, não parecia certo. Algo não estava.

— Cassandra... — ele pronunciou o nome dela com cautela — de quem você está noiva?

Ela abriu a boca para pronunciar algo inteligível. Algo como wuiftbhi.

— Cassandra...

— Lord Whitby, Morley. — Respondeu — Irei me casar com o visconde Whitby.

Não havia como aquelas palavras serem reais. Frederick entendia que Whitby era um visconde, mas também sabia que acima disso tratava-se de Cassandra Scales. Aquilo era incompreensível. Ao menos por enquanto.

— Não faz sentido. O que houve com você?

— Obrigada pelas congratulações — ela murmurou.

— Apenas não compreendo.

— Ele será um marquês, lord Morley. Ele realizou trabalhos em Edimburgo para o rei e será promovido para marquês. Além de que é muito agradável e...

— Não minta.

A Srta. Scales suspirou. Não queria de forma alguma ter aquela conversa com Morley, mas sabia que precisava. Ele era uma das poucas pessoas que a entenderiam em um momento como esse, ela só precisava ser sincera. E ele havia sido com ela. Deveria haver uma troca mutua. Não era isso uma amizade? Sem segundas intenções, sem malicia, sem nada além da simples e genuína devoção.

— Veja bem, eu preciso me casar com ele. Não quero ficar em Londres e ele retornará para a Escócia, então é minha oportunidade perfeita. Além de que é o melhor partido que eu consegui.

— Você não precisa se casar esse ano. Pode achar outro homem nobre de Edimburgo ou que more longe de Londres. Ruby e Kriss também estão solteiras ao fim da temporada...

— Ruby apenas está esperando que o primo de segundo grau dela que se tornou conde a peça em casamento — Cassandra disse — e Kriss provavelmente irá se casar com Alberdeen.

— Quem disse isso?

— Para mim está visível. Lord Alberdeen apenas não ataca, pois está tão caidinho por Kriss que tem medo de afastá-la se ela souber que está apaixonado. E Kriss não percebeu... Bem, porque é Kriss.

— Ainda assim...

— Um marquês, Frederick. Whitby será um marquês!

— Eu também sou um marquês. Eu seria um partido bom o suficiente também?

E seus olhares se cruzaram. Cassandra viu nos olhos pesados de Frederick o que ele quis dizer e fez uma careta.

— Eu não vou me casar com você por isso, Frederick, mas obrigada pela tentativa — ela deu de ombros — além de que você ama Eliza.

Lord Morley ficou tenso. Ela o fitou com o cenho franzido.

— Não se preocupe, eu sei lidar com o sentimento dos outros melhor do que com os meus, como podemos ver. Fico feliz por você ter encontrado alguém que ame, mas, por Deus, não deixe essa chance escapar. Frederick, — ela abaixou o olhar. Ele viu a dor profunda cintilando em seus olhos — o universo não costuma dar segundas chances. É cruel, eu sei, mas a vida é assim.

— Cassandra...

Ela fungou. Se não fosse a Srta. Scales, Frederick poderia jurar que ela estava chorando.

— É uma dor inexplicável. Eu faria o que fosse possível para ter quem eu amo ao meu lado, mas o perdi para sempre. Por favor, não deixe que isso aconteça com você. Se estar ao lado dela é o que seu coração precisa então aceite seu destino. Se entregue sem medo. Se você obedecê-lo não há como as coisas darem errado... — Cassandra o fitou. Os olhos marejados entrando em sua alma como facas afiadas. — Uma vez em sua vida, Frederick, deixe que seu coração mande em sua cabeça. Você jamais irá se arrepender, posso garantir.

Lord Morley a olhou com piedade. Cassandra odiava isso, mas aceitou o afeto do amigo. Estava feliz por saber que ele realmente entendeu seus motivos. Se alguém dissesse que amizade entre homem e mulher não podia existir... Bem, estava mentindo. Ele era seu amigo.

— Sinto muito pelo o que aconteceu com Ashton. Sei que você o ama muito.

— Tudo bem. Ele está com Harriett e a felicidade de minha irmã é o que importa, — Cassandra forçou um dolorido sorriso — mas agora vá. Não perca sua oportunidade.

Frederick estreitou os olhos.

— Vá?

— Sim, sim. Busque sua mulher.

•••
Como sincero pedido de desculpas pelos últimos atrasos aqui tenho um capítulo novo. Como não tem interação ElizaxFreddie achei que seria injusto deixar vocês esperando uma semana ❤️

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