The Perfect Girlfriend

By bpirro

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Elas se conheceram quando ainda eram crianças. Se tornaram amigas, logo melhores amigas. Mais tarde, começara... More

Prólogo
Capítulo 02 - Expelled
Capítulo 03 - Just a girl not a threat.
Capítulo 04 - Change of Ways
Capítulo 05 - Best Part
Capítulo 06 - It was just a dream
Capítulo 07 - Hazing Initiation
Capítulo 08 - Cheerleaders
Capítulo 09 - In the near Future
Capítulo 10 - Mysterious Club
Capítulo 11 - Make a wish
Capítulo 12 - Ford Mustang
Capítulo 12.1 - Especial, por Heejin
Capítulo 13 - Influence of drugs
Capítulo 14 - Yg's new girl
Capítulo 15 - Just Friends?
Capítulo 16 - Can't Take My Eyes Off You
Capítulo 17 - First time
Capítulo 18 - An advice
Capítulo 19 - A decision that needs to be made
Capítulo 20 - Locker Room
Capítulo 20.1 Especial, por Bae Joohyun
Capítulo 21 - Comeback
Capítulo 22 - Feat. Jennie Kim
Capítulo 23 - Half the Clock
Capítulo 24 - Mainstream
Capítulo 25 - Jenlisa
Capítulo 25.1 - Especial, por Roseanne Park
Capítulo 26 - Everytime I See Her My Heart Beats Madly
Capítulo 27 - The same old phrase.
Capítulo Final - See u later, Seoul
Epílogo

Capítulo 01 - The Bedroom

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By bpirro




Seoul, dias atuais...

Mais uma vez, Jennie entrava no quarto da sua melhor amiga como se fosse o seu. Ignorando completamente o aviso pregado na porta, em que estava escrito:

"Não me acorde!"

O recado feito de forma completamente relaxada e quase ilegível em uma folha de ofício. Serviu, apenas, para tirar um pequeno sorriso, embora seu objetivo fosse exatamente esse.  No fundo, a dona do garrancho sabia que nada iria impedir sua amiga de acordá-la, afinal, aquilo já era um hábito e com Jennie Kim não se discutia. Naturalmente, ela sempre conseguia o que queria. 

A morena revirou os olhos analisando aquele quarto completamente ao avesso, havia várias roupas e objetos jogados no chão, até mesmo o violão. Mas o que a fez suspirar fundo foi ver sua melhor amiga ainda dormindo de bruços. A garota encontrava-se toda espalhada entre travesseiros e lençóis na espaçosa cama de casal.

"Lalisa, eu não acredito..." Pensou alto, perguntando a si mesma se tinha verbalizado as palavras, mas ao ver que a amiga mal se mexia, concluiu que não.

Por um segundo admirou a parede atrás da cama, pintada em cimento queimado e, sobre um tom de preto meio falho, foi desenhado o mapa do mundo. O tapete de tom grafite saía debaixo da cama cobrindo uma parte do chão. Havia uma luminária preta que se estendia da parede e podia ser utilizada tanto na cama, como numa mesa de estudo, bastava apenas um rápido movimento para deslocá-la.

Sentiu-se extremamente satisfeita com a decoração, no fim das contas, ajudou sua amiga a dar uma nova cara aquele ambiente, inclusive sua opinião tinha sido solicitada até nos pequenos detalhes, como nas prateleiras e na poltrona, ambas em tonalidades escuras.

Antes de acordar Lisa, depositou um presente na mesa, ao lado do notebook aberto. Comprou no dia anterior, quando fez companhia a sua mãe no shopping e ao passar por uma vitrine, deu de cara com algo que sua amiga já havia comentado ter muito interesse em comprar.

Elas dispunham desse tipo de relação, viviam pelo prazer de simplesmente presentear uma a outra com algo que certamente iria agradar.

"Lili, acorda!" Jennie chamou. "Lisa, você vai se atrasar..." E em um tom mais alto acrescentou. "Manoban!"

A cada frase que soltava, ficava cada vez mais perto, mas sua amiga possuía um sono muito pesado, então, em um rápido instinto, desistiu de chamá-la e gentilmente segurou seu braço descoberto e a remexeu.  "Lili, acorda".

"Ahnn... só mais um pouquinho..." Resmungou quase inaudível, mudando a posição. Ainda de olhos fechados acrescentou: "Vem cá, Nini! Dorme comigo," puxou Jennie, fazendo sua melhor amiga cair sobre ela. Em surpresa, Jen, que sempre se assustava facilmente, soltou um grito fino.

O aroma gostoso e doce que Lisa conhecia tão bem penetrou seu nariz, despertando todos os seus sentidos. O rosto de Kim ficou tão próximo ao seu, que parecia que iria beijá-la, sentiu sua respiração quente, os cabelos dela escorriam pelo seu rosto, colo e pescoço. O peso do corpo de Jennie em cima do dela fez seu sexo pulsar, trazendo uma excitação em níveis altos.

Lisa logo se arrependeu da atitude.

Em uma reação imediata, a morena se levantou, mas não facilitou as sensações que provocava na amiga, sentando no corpo da garota, com as pernas de cada lado.

"Safada!" Jennie gritou de forma divertida.

 Lalisa mostrou os dentes perfeitos, em um largo sorriso e finalmente abriu seus luminosos olhos, encontrando os de Jennie. Naquele instante, a garota de baixo pensou em como sua amiga era linda.

"Bom dia, Nini". Disse, não conseguindo esconder em seus olhos o brilho de admiração.

Jennie sorrindo, a cumprimentou de volta. "Bom dia, Lili".

Para Lalisa Manoban, Kim não podia ser desse mundo. Considerava sua amiga uma das garotas mais lindas que já tinha visto. De fato, não era para menos, a coreana se assemelhava a uma boneca por seus traços bonitos, refinados e pela pele alva perolada. Embora delicada, Jennie respirava a soberba e a luxúria. Sabia exatamente o poder que possuía, o efeito que causava nas pessoas com seu jeito empoderado, sexy e ao mesmo tempo doce e fofo. Ela podia ser uma contradição em pessoa, mas sabia agir na ocasião certa.

No auge dos seus - recentes - 17 anos, dona de um corpo magro, pequeno, demasiadamente esbelto, trabalhado em retas e curvas, definido por consequência das aulas dança e pilates. A morena ainda tinha o hábito de não comer besteiras, não era fã de determinadas comidas e detestava refrigerante.

Alguns níveis altos de padrões de beleza poderiam ser encontrados em seu rosto, em especial seus olhos em um formato peculiar que se assemelhavam a um gato, que nitidamente revelava seu charme e sua origem coreana. Uma boca carnuda faziam jus a sua exigente classe superior.   

Para o desespero maior de Lisa, a jovem Kim estava devidamente maquiada, o seu cabelo longo castanho escuro, encontrava-se solto e liso. Uma pequena porção foi puxadas para trás da cabeça, presas por alguma espécie de presilha. Algumas mechas estavam feitas em babyliss que escorriam sobre seus ombros. Provavelmente, ela acordava um tanto mais cedo do que necessário, apenas para se arrumar até se sentir completamente satisfeita.

Não que precisasse.

 Ambas são vizinhas desde que se conheciam por gente. Lali é um ano mais nova, por isso foi natural tornarem-se amigas de cara e mais tarde, melhores amigas. Essa era uma das partes boas de ser criança, não havia distinções, só uma pura e honesta inocência. Seus pais, devido a boa relação delas, seguiram pelo mesmo caminho e saíam, inclusive, juntos.

Visivelmente, Lisa nutria algo a mais além da amizade. A garota era completamente apaixonada pela coreana. Obviamente, isso se tratava de um segredo, pelo menos ela acreditava nisso. Contudo, apesar delas serem melhores amigas, mais tarde começaram a pertencer a realidades totalmente diferentes.   

Jennie era a Queen Bee, jurava ser hétero, integrante do conselho estudantil em uma votação unânime. Vivia da forma mais certinha, possuía um futuro planejado até a quarta geração. Adorava e respirava tudo que era sofisticado e de grife.

Por outro lado, Lalisa assumia aos quatro cantos sua homossexualidade apenas em respirar. A bad girl não se importava com que os outros achavam dela. Basicamente, vivia da forma que queria e tinha um grande problema com o relógio, pois quase sempre chegava atrasada.

"Você entrando assim... ainda vai pegar alguma cena desconcertante..." Lisa disse de forma descontraída. "Ei, agora sai de cima... já estou ficando excitada". Acrescentou, remexendo as pernas em um tom de brincadeira. Mesmo que sempre fosse verdade, Jennie não aparentava saber daquilo.

A morena tentou se equilibrar no corpo da amiga e resmungou. "Idiota!" Em seguida, dando leves socos no seu ombro, se levantou.

Lisa bocejou, se arrastando e colocando seus pés para fora cama, sentando-se na extremidade.

"Não é hoje aquele jogo importante?" Jennie perguntou enquanto caminhava em direção a varanda.

Naquele momento, Lisa podia ter uma imagem completa do corpo da melhor amiga. Respirou pesado, percorrendo seus olhos, por cada detalhe, estancando na bunda dela.

"Filha da mãe!"  Pensou vendo o quanto aquela meia preta 5/8 lhe cabia bem, e a saia - extremamente curta de pregas - evidenciava sua bunda.

Kim era estilosa, sabia como ninguém destacar o que tinha de melhor. Não era todo mundo que conseguia ficar sexy em um uniforme de colégio. Além da saia preta e a meia, vestia uma blusa social branca e um cardigan colado em um cinza escuro por cima, um blazer preto e, por fim, um laço na mesma cor completava o uniforme. 

"Lisa! Pelo amor de Deus... Isso aqui parece um chiqueiro!" Reclamou parando no meio do caminho estudando algumas roupas e objetos pelo chão. Pegou o precioso violão da amiga e o repousou em um lugar que deduziu ser seguro.

Lisa curvou seus lábios em um pequeno sorriso, quando a coreana contraiu o rosto em uma careta no momento em que pegou uma peça de roupa com as pontas dos dedos, analisando o tecido, mas logo soltou o mesmo ao piso.

Jennie finalmente atravessou todo o cômodo e abriu a cortina preta, jogando todo aquele sol na cara da amiga.

A mais nova se incomodou com a claridade. "Merda, Jennie!"

A coreana soltou um riso discreto e Lali voltou a encará-la depois de ter passado as mãos no rosto e se acostumado com a iluminação. Viu Jen sentar-se na poltrona cruzando as pernas de maneira sofisticada e atraente.

"É... tenho. Vai ser a semifinal do torneio de inverno, mas é só mais tarde". Lisa respondeu com desdém, mascarando uma certa ansiedade.

Juntou um pouco de coragem, se espreguiçando e, em seguida, se levantou da cama, revelando seu cabelo loiro completamente bagunçado, uma camisa da Juventus e uma cueca box branca com vários rostos do Darth Vader, Lord Sith de Star Wars. Apesar de não aparentar, por conta do seu estilo despojado e descolado, Lisa era Nerd... 

Bem nerd na verdade. 

Adorava todo esse mundo, desde super-heróis, a animes, coisas geek em geral.

Mas poucas pessoas sabiam disso.

Não por ser um segredo, apenas por ser íntimo. Precisava saber mais do que as aparências revelavam, muito mais do que trocas de palavras, necessitava ser amigos, e esses... Lisa contava nos dedos de uma mão.

"Own, que fofinho! Eu quero essa também." Jennie se animou apontando com seus dedos finos para a cueca da amiga.

"De jeito nenhum!" A resposta saiu exacerbada. "Você já pegou a minha preferida do Pikachu". Completou em tom mais tranquilo. Depois franziu a sobrancelha. "Jen, você viu... meu celular?" Perguntou enquanto procurava pela cama desarrumada.

"E quem sabe...? Nessa loucura." Gesticulou girando o dedo. "Pera, acho que tá vibrando..." Disse procurando na poltrona, e não demorou a achá-lo.

Antes de entregar o objeto a loira, certificou que a foto que elas haviam tirado recentemente ainda estava como protetor de tela. Porém, franziu a sobrancelha, pois não conseguiu prestar atenção na foto. Seus olhos se prenderam nas mensagens. Havia muitas. Mas uma em particular, chamou sua atenção.

"Adorei a noite?"  Resmungou mais para si. "Por onde você andou ontem, Manoban? E quem é Yoona?!" Estreitou os olhos enquanto sua voz saiu firme, mais do que pretendia.

"Calma, Jen... muitas perguntas..." Pareceu refletir. "Quer mesmo saber? Você nunca se interessa pelas garotas que eu pego." Se aproximou pegando o aparelho, olhou a mensagem, em seguida com indiferença jogou o mesmo na cama. 

"Não é bem assim." Murmurou. "Elas não são importantes, por isso não tenho curiosidade." Jennie se defendeu. 

"Faz sentido..." A mais nova deu de ombros, deduzindo que essa também não era importante. "Vou tomar um banho rapidinho..."

"Seja rápida, senão vai chegar atrasada... te vejo no colégio."  Se aproximou pegando no rosto de Lisa com uma das mãos, forçando a amiga fazer um bico. "Comprei uma coisa para você... tá na mesa." Acrescentou apontando com os olhos de gato.

Ainda apertando as bochechas de Lisa, com a mesma mão, virou o rosto dela depositando um beijo na face, depois riu, contente com a marca de batom vermelho que deixou no local. "Tchau, Manoban."

Lisa estranhou, franzindo a sobrancelha enquanto massageava suas bochechas doloridas e disparou. "Não vai comigo?"

"Não. Só vim fazer meu trabalho... o Jongin vai me pegar." Respondeu atravessando a porta, e antes de sair, piscou o olho acompanhado de um sorriso lindo.

Lalisa bufou.

"Kai." Pensou revirando os olhos.


Não acreditava que Jennie estava permitindo e cedendo aos poucos o avanço do garoto. Nesses pequenos momentos, desejava ter uma coisa pendurada entre as pernas, mas ela nem sequer imaginava que não precisava disso.

A beleza, o poder que Lalisa possuía conseguia abrir qualquer fechadura. Para outros tipos de gostos, até mais do que a própria Jennie Kim, a garota que Lisa achava mais incrível do mundo. Esse poder todo era completamente justificável pelo seu jeito leve, tranquilo, brincalhão. Muito por seu estilo streetwear, e pelo seu rosto extraordinariamente exótico.

A tailandesa esbanja charme em sua franja reta acima dos olhos, cabelos longos em degradê de sequência de tons loiros sobrepostos. Cada mecha possuía uma intensidade diferente. Sem esquecer de mencionar sua boca carnuda, que quase nunca escondia seu sorriso perfeito e frouxo. 

Garota Nerd, de personalidade cativante, honesta, quase transparente. Mas não era admirada e desejada apenas por isso. Seu corpo conseguia com muita perfeição se igualar ao corpo de uma modelo; tanto pelo peso, como pela estatura alta, embora não a tornava desengonçada. Podia notar, até um tanquinho na sua barriga definida. Suas pernas e coxas eram devidamente torneadas pelos vários anos de escolinha de futebol. E a infância de menina travessa que levou na rua brincando, também trouxe a boa forma.

Lisa parecia não se importar, no entanto, possuía uma fama de playgirl, tratava as pessoas como se fossem descartáveis. Ela simplesmente não conseguia se prender a ninguém, já que possuía uma paixão recriminada pela melhor amiga desde sempre.

Mesmo com a pouca idade, existia uma lista considerável entre essas mulheres e, nenhuma foi capaz de ter o prazer da sua companhia mais de uma vez. Ninguém tinha, nem sequer por pouco tempo, feito ela tirar Jennie da cabeça.


Aquele seria um dia difícil para ela, jogaria com um dos melhores times do campeonato. A maioria dizia que se tratava de uma final antecipada. Fora isso... claro! Não poderia esquecer. Havia um teste, um tipo de prova no último horário e bem... Lisa não se destacava pelas suas notas.

Antes de ir ao banheiro, conferiu o presente, era exatamente o que queria. O jogo do Homem Aranha para videogame. Abriu um sorriso largo, mas foi inevitável não pensar no seu pai. Involuntariamente olhou o porta-retrato ao lado. 

"Papai". Pensou alto com saudosismo.

Seu pai era um jogador profissional de origem tailandesa. Recebeu uma excelente oferta para jogar no Seoul Futebol Club, principal time da primeira divisão da K-League.

Marco Bruschweiler se encantou pela república da Korea quando acompanhava sua mulher em uma das suas tantas visitas de negócios a capital. Não encontraram resistência quando decidiram fazer as malas e morar no distrito de Gangman com Lisa ainda bebê. Afinal, ambos, coincidentemente, possuíam interesses em comum em Seoul.       

Tratava-se de um bom jogador, pelo que Lis sabia e pelo muito que procurou saber. Talvez tivesse herdado um pouco o gosto e o talento para isso. Aliás, sua mãe tinha um costume de dizer o quanto ela puxou os traços dele, principalmente as manias que não eram muito boas. 

Perderam-no desde muito cedo. Um acidente de carro. Alguém cruzou o sinal vermelho e houve o acidente. Fazia de fato um certo tempo, elas estavam acostumadas a viver com sua ausência.


De cara limpa e cabelo ainda molhado, vestiu seu uniforme, embora usasse uma gravata ao invés do laço. Deixou seu quarto e desceu as escadas. Viu seu café pronto em cima da mesa de jantar.

Sentia saudades de Yui, a governanta da casa. Havia tirado uma licença por alguns dias. Fazia muita falta a Lisa, pois eram amigas, confidentes. A senhora coreana era como uma segunda avó para a jovem tailandesa, inclusive era responsável por toda educação e ensinou a garota a se virar, mesmo a loira sendo um desastre na cozinha.  

Mesmo atrasada, arrumou um tempinho para admirar seu Ford Mustang GT preto na garagem. O carro pertencia ao seu pai, tratava-se de um modelo manual, conversível e antigo de 1969.

Lisa sorriu ao lembrar que sua mãe reclamava que seu marido gostava mais do carro do que delas. Mas, agora, a garota conseguia entender perfeitamente os sentimentos do pai. Acabou herdando não apenas o carro, mas o ciúme pelo mesmo. Afinal era uma máquina.


O bairro planejado, onde moravam, saía completamente dos padrões da Korea. Cheongandam era inovador e moderno. Devidamente projetado para evitar contratempos como trânsitos e, também, para atender necessidades diárias. Havia pelo menos uma loja de conveniência a cada oito quadras. E se assemelhava a uma vila, pois era predominado só por casas e condomínios de luxo, o que trazia uma atmosfera tranquila de cidade de subúrbio de primeiro mundo.

Era um dia frio e seco de março, estava no final do inverno e começando a primavera. O céu estava claro, mas Lisa ainda sentia vestígio da velha estação, por isso não saiu de casa sem um sobretudo. Da sua casa até a Korea International School, levava cerca de 12 minutos, o suficiente para conseguir pegar o portão ainda aberto.

Andou pelos longos corredores completamente desertos, deixou suas coisas no armário, pegou o material e foi para sua primeira aula.

Com a maior cara de pau, uma coisa que ela tinha de sobra, deu algumas batidas na porta, entrando. "Bom di..."

"Manoban!" A professora de Língua estrangeira encarou a garota, balançando a cabeça negativamente.

A voz engrossou. "Você está querendo testar minha paciência?"

"De jeito nenhum...só"      

A educadora interrompeu. "Foram quantas, Lalisa? Duas, três vezes que você chegou atrasada em minha aula? E olha que ainda estamos no início do semestre..." resmungou.

"Por favor... libera, vai?!" Lisa suplicou com um dos olhos fechados.

Todos os colegas da sala de Lalisa sorriam da cena protagonizada por ela, inclusive sua melhor amiga.

Mesmo Jennie sendo um ano mais velha, estando no seu derradeiro ano do colegial, aquela classe consistia de língua inglesa avançada e ambas eram fluentes, justificando a presença da tailandesa ali.

Sob os olhares dos seus colegas de classe, presenciaram a mulher, com um piloto na mão e em pé no centro da sala, relaxar os ombros e suspirar. "Não sei o que eu faço com você."

A professora de Inglês exercia sempre sua autoridade quando necessária, mas de longe fazia linha dura. Pelo contrário, apesar da imagem severa, era compreensiva e gentil. Conquistou uma relação de companheirismo e confiança com cada classe que ensinava. Muitas vezes até passava a mão na cabeça dos alunos. Por esse motivo e, também pelo fato de ser uma ótima educadora, se tornou uma das queridinhas dos estudantes. 

"Eu juro, CL! Essa vai ser a última vez."

"Não faça promessas que você não pode cumprir, Manoban!" Disse virando para o quadro. "Senta logo! Vou permitir mais uma vez... só porque ainda acredito em você!"

A jovem garota sorriu enquanto andava para o fundo da sala, mas seu sorriso alargou quando observou aquela sofisticada imagem. Lisa fixou seus olhos na coreana sentada na segunda fileira, inspirou fundo notando suas pernas cruzadas e, só percebeu que ainda comprimia o ar, quando viu os cantos da boca dela se elevar. Então, finalmente, lembrou de respirar. 



*


Foram incontáveis as vezes em que Lalisa levantou a cabeça e olhou o relógio redondo de ponteiros. O mesmo estava preso acima do quadro negro, no centro da sala. Para ela, o tempo transcorria rápido. Para o senhor careca de barriga volumosa, que agia feito um radar - detectando cada movimento que ele julgasse desnecessário, nem tanto assim.

O silêncio predominava dentro da sala, o clima era tenso e existia apenas alguns remanescentes. Sua caneta pesava em cima da prova de Matemática. Normalmente não fazia parte desse grupo de pessoas, mas sua última questão, ainda estava em branco. E ela possuía a convicção de que sabia responder, só não lembrava a fórmula.

"Merda, merda,  merda... " praguejou enquanto fechava seus olhos fortemente.

Até que, subitamente, como um estalo, lembrou de ter visto a equação no caderno da Heejin, sua amiga extremamente inteligente e companheira de time, quando ela lhe ensinava uma tática de jogo.

Seu sorriso frouxo voltou a estampar seu rosto.

Lisa lembrou de tudo e, com agilidade terminou a prova se levantando e entregando para o professor rechonchudo que estava na frente da sala já com uma impaciência visível.

O corredor encontrava-se tumultuado, a maioria dos seus colegas de sala conferiam o gabarito e comentavam algumas questões.

Manoban se aproximou soltando algumas piadas sobre o seu desempenho, inclusive o mesmo tinha sido péssimo, apesar do seu evidente esforço. Além de não ter estudado o quanto deveria, o professor de matemática não se importava em ser complicado. Totalmente divergente da sua professora de Inglês, ele era conhecido por sua linha dura na sala de aula e demasiada exigência nos seus testes.

Quem afinal de contas aplicava provas no começo das aulas?  

Todos ali riram de suas piadas descontraídas e em uma identificação mútua, quase todos, salvo poucas exceções, haviam se dado bem naquela prova. Jeon Heejin, provavelmente era uma dessas.

"Saiam do corredor! Ainda têm alunos fazendo prova!" Soltou o exigente professor, colocando rapidamente a cara para fora da sala, e em seguida, fechou logo a porta.

Em meio a reclamações, cada um partiu em uma direção diferente. No caso da loira, seu destino foi a cantina, que por sinal era um dos seus lugares preferidos no colégio. Ela conferiu o gabarito com alguns colegas que seguiram no mesmo sentido que o seu e concluiu que teria mais uma nota vermelha para sua coleção.

Adentrou no lugar barulhento, existiam várias conversas paralelas, nas quais não davam para distinguir muita coisa. Avistou Jennie sentada em uma das mesas no centro, embalada em uma conversa animada com seus amigos e, claro... Jongin. Ainda que repetitiva a presença dele há algumas semanas, Lalisa não queria se acostumar com a figura dele ali.

Melhor dizendo, não conseguia.

Por um instante, pensou ter escutado seu nome. Percorreu seus olhos pela cantina e deu de cara com a pessoa que evitou um estrago maior na sua prova. Heejin encontrava-se quase do outro lado da cantina, em cima de uma cadeira, na ponta dos pés, em consequência de seus 1,60m.

A morena gesticulava com o braço levantado. "Lisa! Lisa! Porra, Lisa... Aqui!"

Como de costume, antes de um jogo importante, suas companheiras de time conhecidas por 'Blinks', se reuniam. Mesmo que a maioria pertencesse a grupos diferentes, todas se davam bem, e apreciavam esses encontros.

Tratava-se de uma tradição, mas elas seguiam com prazer.

O apelido carinhoso foi devido a cor do uniforme ser preta e os integrantes do time de futebol masculino serem chamados de Black's, consequentemente, por elas serem 'meninas', chamavam-nas de Pink's, ocasionando desconforto em boa parte das meninas. Era um tanto... sexista. E assim, se transformou em 'Blackpink', que logo abreviaram para Blinks.

Manoban não sabia responder quando tudo isso iniciou, não havia sido na sua época, contudo, o apelido não deixava de cair muito bem.

Lisa acenou e, antes de se juntar a elas, foi pegar seu almoço. Atravessou por todo o refeitório cumprimentando algumas pessoas, algumas lhe desejaram boa sorte, prometendo que iriam comparecer no jogo.

Certamente, seu jeito charmoso e descolado, somado ao fato de ser do time de futebol, aumentava muito o nível de figura pública no colégio. Não que ela se importasse com isso. Porém seu futebol era famoso devido ao desempenho dela. As Blinks eram muito talentosas e vencedoras de alguns campeonatos e prêmios individuais.

Piscou o olho em um cumprimento mudo para sua melhor amiga enquanto passava ao lado da mesa dela. Ganhou um sorriso lindo em retribuição. Os olhos de Jennie se fecharam devagar quando ela exibiu aqueles dentes pequenos e maravilhosos. O coração de Lalisa se desesperou, mas seguiu como se nada tivesse acontecido.

Kai, um pouco distraído, logo percebeu o sorriso solto da It Girl e não perdeu tempo, marcando seu território, lançando seus braços sobre Jennie... A morena que definitivamente não era a pessoa de demonstrar carinhos, ou alguma espécie de sentimentalismo em público, ainda mais com o garoto em questão, estranhou, desfazendo o sorriso e tentou entender o motivo daquilo.

O garoto encarou sua rival com um olhar superior e um sorriso vitorioso. Lisa sorriu de forma sarcástica e virou logo o rosto.

Era nítido o quanto ele se sentia intimidado por ela... E se achava no direito de pensar que tolerava Lalisa Manoban por ser melhor amiga de Jennie. Bom, a mais nova não podia reclamar, o sentimento era totalmente recíproco.

Lisa desconhecia totalmente o que sua amiga tinha visto em Jongin como qualidade quantitativa. Claramente não tinha muito a oferecer além de beleza. Embora soubesse que para a Queen Bee que Jen era e julgando pelas aparências, os dois formavam um belo casal de expositório.  

O perfeito clichê escolar: a garota mais popular com o capitão do time de futebol. O relacionamento, mesmo que manjado, ainda fazia todas as adolescentes iludidas suspirarem e ficarem felizes pela união de ambos.

E Kai tinha toda a fórmula com seu porte galanteador, seu cabelo charmoso e sorriso cafajeste. Além de ser veterano no colégio, com pretensão de bolsa esportiva na Universidade Nacional de Seoul. Mas o "gostosão" só possuía carcaça. Por dentro era maçante, machista e fazia bullying sempre que podia.

Manoban podia apostar que sempre, quando ele tinha alguma oportunidade, queimava a amizade das duas.

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