2# A LEGIÃO IRÁ REAGIR ᵐⁱʳᵃᶜᵘ...

Por Fanfixionada

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💞› AUTORA: Gleysla Meireles 💞› GÊNERO: fanfic, romance, ficção, ficção adolescente, drama, ação, aventura. ... Más

♛ SINOPSE ♛
♕ NOVO ELENCO + AVISOS ♕
♕ KWAMIS + PERSONAGENS ♕
♕ RETROSPECTIVA ♕
➾ CAPÍTULO 0.0: Onde Tudo Começa
➾ CAPÍTULO 0.1: Onde Tudo Começa
➾ CAPÍTULO 0.2: Onde Tudo Começa
➾ CAPÍTULO 1: Tudo Mudou, Ou Talvez Não
➾ CAPÍTULO 2: Um Ano ou Dois
➾ CAPÍTULO 3: Choldraboldra¹
➾ CAPÍTULO 4: Enfim, Descobriram
➾ CAPÍTULO 5.0: Companheirismo
➾ CAPÍTULO 5.1: Companheirismo
➾ CAPÍTULO 6: Circunstâncias
➾ CAPÍTULO 7: Escolhas
➾ CAPÍTULO 8.0: Lados da Guerra
➾ CAPÍTULO 8.1: Lados da Guerra
➾ CAPÍTULO 9: Tormentos
➾ CAPÍTULO 10: Aliados
➾ CAPÍTULO 11.1: (Des)Conhecidos
➾CAPÍTULO 11.3: (Des)Conhecidos
➾ CAPÍTULO 11.4: (Des)Conhecidos
➾ CAPÍTULO 12: Dark Grimalkin e Joana D'arc
➾ CAPÍTULO 13: Rena Rouge
➾ CAPÍTULO 14: Carapace
➾ CAPÍTULO 15: Amor Nostálgico
➾ CAPÍTULO 16: Novos Inquilinos
➾ CAPÍTULO 17: Memórias ao Vento
➾ CAPÍTULO 18: Novos Colegas

➾ CAPÍTULO 11.2: (Des)Conhecidos

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Por Fanfixionada

Houve um tempo, quando eu estava sozinho
Sem lugar para ir e sem lugar para chamar de lar
Meu único amigo era o homem na Lua
E, às vezes, até ele ia embora também.
♕ Lost Boy (Ruth B.)

{Contém 5.042 palavras e dois narradores}

Berlim, capital do Estado de Berlim.

      NÃO É COMO se eu tivesse muitas escolhas, além do mais, ele estava merecendo isso. E eu adoro me vingar de gente assim.

— E o que acontece se eu não aceitar, diretor Becker? Vai me punir como fez com a aluna Hana Akira? — eu o desafio perguntando um fato óbvio, com uma resposta mais óbvia para ele.

O homem me encarava como um leão observa sua presa, pronto para atacar quando a chance aparecer. Eu já tenho noção disso, uma noção que aprendi desde criança. Por isso, apenas rebatia o olhando no mesmo patamar.

— Dreamy, Dreamy... Dreamy Küster Marshall. — ele balbucia como se desconhecesse meu nome.

Para ele, sou considerado o que chamam de "garoto problema", e os "sintomas" continuaram desde que saí do fundamental. Timothy Callie Becker, também conhecido como o diretor, mas também como meu mais novo padrasto, Tim.

Ele permanecia naquele debate de olhares desafiantes e toques sutis na mesa de madeira de seu escritório, Tim não me chamou aqui para saber do meu dia, e sim de meus últimos comportamentos que manifestei após a minha matrícula nessa nova escola, a sua escola.

— Tim, Tim, Ti...— imito, mas a ideia não sai como planejado, ao invés disso, eu acabo espirrando o seu nome.

O que não é tão improvável de acontecer com um apelido desses, mas o homem compreende de sua maneira... E sua maneira é uma porcaria.

Ele me encarou como se eu tivesse lhe ofendido! E eu nem causei tantos problemas assim. Talvez um pequeno vandalismo atrás do muro do colégio ou ter... Acidentalmente... Entrado numa briga entre alguns alunos da minha futura sala.

Coisas naturais de qualquer adolescente.

Minha mãe não faz a mínima ideia que tenho me enfiado nessas encrencas, na verdade... Ela não liga muito, e mesmo que ligasse não saberia como me ajudar a sair disso. É claro que, como eu mesmo entrei então tinha que sair por conta própria, mas a realidade é bem mais... Complicada.

Timothy até tem tentado me ajudar, mas está... Bem, continua sendo complicado também porque eu não sei qual motivo plausível ele tenha pra me ajudar, ou o porquê de estar tentando ser alguém de confiança pra mim.

Em poucos meses, talvez, minha mãe se canse dele – assim como vários outros – e ele suma de vez... Assim com os outros também. Pra mim já não faz diferença, me acostumei com essas mudanças desde que ela decidiu seguir sua vida.

— Muito engraçadinho, rapaz. Só que agora é coisa séria, veja! — ordenou, apontando para sua mesa.

Em cima dela há uma carta escrita para mim, é um comprovante de matrícula. Eu já sabia do que se tratava, fui chamado numa escola renomada em Paris, o que é uma opção muito melhor que entrar no colégio de Becker, onde ele até teve a ousadia de me inscrever sem meu consentimento quando tivesse alguma vaga disponível.

E nessa matrícula em Paris foi eu que tive a iniciativa. Antes, quando me inscrevi, eu queria mesmo sair da Alemanha.

Queria conhecer novas pessoas, novos mundos... Só que aí eu conheci Hana. Hana Akira. Ela é a garota que me fez conhecer novos mundos sem sair de Berlim e suas facetas valem muito mais do que qualquer outra pessoa que eu vá conhecer, ela me fez questionar se valia a pena continuar com essa matrícula... E somente ela, me fazia duvidar se minhas ações são realmente minhas ou se estou sendo influenciado a tomá-las.

Eu não quero deixá-la.

— Eu não queria fazer isso, mas... Você está de castigo e vai pagar serviço comunitário, Dreamy. Não é porque sou seu padrasto que vou diminuir a pena de seus atos horríveis! — diz entre dentes, seus olhos azuis me incriminam assim como sua voz cortante. — Me escute, isso seria bem irrelevante comparado aos meses de cadeia pelos danos morais que cometeu com seus... Amiguinhos.

Seus truques são velhos, eu já conheço todos. Mas, ainda assim, ele continua com seu teatro, entrelaçando seus dedos gordos entre si e encaixando seu queixo enorme sobre eles.

— Que absurdo! — finjo desinteresse. — Acha que fui eu que pichei aquele muro?

Ele desvia o olhar, não aguentava encarar... Como ele dizia mesmo? Ah, sim. "O rapaz que um dia já viu potencial". Ou idiotices desse tipo. Ele acha que sou assim por causa de meu pai, por causa da morte prematura dele.

Meu velho faleceu há cinco anos, acidente de carro, e minha mãe tentou recomeçar sua vida entrando em relacionamentos temporários, isso acabou cessando quando conheceu um professor viúvo, mas que agora é o atual diretor da escola que eu iria, possivelmente, estudar.

Ambos estão felizes e eu, sinceramente, fico feliz por ela, mas... Isso não muda o fato de que em pouco tempo a memória de meu pai tenha sumido de casa e, principalmente, de minha mãe.

— Mas não foi exatamente por isso que te chamei aqui, na verdade, eu e sua mãe recebemos essa carta da escola em que você se inscreveu há uns meses. — disse esboçando um sorriso singelo que não omitia as rugas de expressão. — O que me surpreende é você não ter nos contado sobre isso. Podia ter nos preparado!

— O quê? Eu? — perguntei, fingindo estar intrigado, mas a essa altura ele sabia que estava fingindo.

Ele também conhecia as minhas artimanhas.

— Não se faça de sonso! Aqui consta quando você fez a matrícula e já faz meses! Meses, Dreamy! Eu achei que éramos uma família, e família não guarda segredos! — ele começa sua ladainha, um papinho recorrente quando quer me dar alguma lição de moral. — Olha, você vai para a França daqui uns dias e vai estudar lá, não vê o potencial nisso?! — exaltou-se estupefato.

Suspiro pesadamente.

Não, eu não vejo potencial em nada disso, é apenas uma escola como outra qualquer que me aceitou por algum motivo desconhecido. Eu não me lembro da razão de ter feito essa maldita matrícula, mas agora não é hora de se lamentar pelo o que já foi. Tenho que resolver esse assunto e desfazer o meu erro.

Eu não quero ir. Eu não quero sair de Berlim, não se isso significar ficar longe dela.

— Quer saber? Nós conversamos mais tarde, em casa. — diz ele como uma forma mais educada de me expulsar de seu escritório.

A secretária que me recepcionou não parava de me encarar quando saí, ainda mais por eu ser uma das raras pessoas que tem os olhos heterocromáticos registrados nesse colégio. Eu a encarei de volta, deixando-a vermelha por ter sido pega no flagra.

As garotas e mulheres daqui são envergonhadas demais, não todas, mas a maioria sim. E eu me divirto bastante com isso. É engraçado vê-las tentarem se recompor.

Volto caminhando até minha casa, ela não é tão longe, mas os olhos esperançosos de Timothy ainda estão gravados em minha mente pelo trajeto que parecia ter demorado horas. Eu não sei se é admiração ou se é apenas um olhar de um homem ansioso pelo sumiço de seu enteado.

Seja qual for eu não me importo, ele não vai durar muito se depender de minha mãe. 

Entro em casa silenciosamente.

É uma casa modesta. Tem sete cômodos, alguns com vista para a rua principal, e de decoração rústica e aconchegante. Assim que chego em meu refúgio me jogo na minha cama de solteiro, com as janelas abertas e as cortinas voando em conjunto da ventania matinal.

As manhãs são bem mais quentes do que as noites, mas eu já não me importava tanto com esse clima confuso. Já faz dezesseis anos que vivo aqui, no mínimo eu deveria me acostumar.

Minha principal preocupação, por hora, é ter que me despedir de certas pessoas, aquelas de que valem a pena qualquer sacrifício, que conheço em Berlim desde que me entendo como gente.

E uma delas se chama Hana Akira, é uma garota da minha idade. Ela mora a dois quarteirões daqui, mas na maioria das vezes sempre fica mais aqui em casa do que na dela.

Por ter uma descendência japonesa, ela se destaca bastante entre as garotas alemãs. Seus cabelos são negros como nuvens na tormenta e longos como um rio, são extremamente lisos como fios de seda. Aliás, eles até brilham azul-celeste quando estão sob o Sol.

Eu me encantei por ela no instante em que a conheci, não pela aparência... É, talvez um pouquinho, mas sim, e exclusivamente, pela sua personalidade gentil e carismática que não se abalou pela minha má fama na vizinhança.

As más línguas correm solta e eu não duvido que ela tenha ouvido um terço dos pecados que cometi no passado. Ela é como um anjo na terra, um anjo que a terra machucou de todas as formas possíveis.

E eu luto diariamente para que ela não seja engolida por essas feridas.

— E então? Como foi lá? — ela me perguntou através da câmera de seu notebook.

Apesar de morarmos perto, nós também mantemos nossa amizade baseado em vídeo-chamadas e mensagens, talvez lá no fundo nós dois já soubéssemos que um dia iria precisar se acostumar com essa nova realidade.

"Pelo menos não vamos nos estranhar". Esse pensamento me faz mordiscar o interior da bochecha, uma mania que adquiri desde menino quando estou pensativo, nervoso ou simplesmente entediado demais.

— Então... Você com certeza não vai acreditar. — sorri me sentando na cama, pego meu celular e digito rapidamente uma pesquisa no Google. — Eu pensei que fosse receber alguma bronca, coisa do tipo sabe? Só que...

— Só que o quê? Anda logo! — ela me estimula a prosseguir com seu nervosismo a flor da pele.

Assinto me espreguiçando na cadeira, um ato que a fez resmungar e fazer uma careta de desgosto. Sim, eu fiz de propósito, mas ela vai gostar de todo esse suspense no final.

Eu ri, dei uma gargalhada com vontade, mas está na hora de dizer a verdade. Ao menos, para alguém que eu realmente confio.

— Calma. Eu já vou contar! — digo tentando cessar o riso. — Na verdade, não fui chamado para nenhuma advertência ou algo do gênero, ele até disse, mas decidi ignorar então nem vale a pena relembrar. O importante é o que veio depois, ele me avisou de que sou o mais novo aluno aceito na escola...

— Jacques de Trémeuse?! — ela me interrompe surpresa e orgulhosa. — Ah, você só pode tá brincando! É aquela que você se matriculou sem que seus pais saibam?

— Não, só liguei pra te passar um trote. — ironizo arrancando uma bufada chateada dela. — Claro que é verdade, e também não é pra tanto. É só uma carta de aceitação fora do país, não é como se eu fosse estudar em Hogwarts ou em algum acampamento para semideuses. — dou de ombros mostrando-a fotos dessa escola com mais detalhes e cores, ela não cansa de ficar eufórica, apesar do meu discurso sarcástico.

— Mas seus pais devem estar bem animados por você, afinal, vai poder conhecer e recomeçar uma vida nova no exterior! — comenta mais tranquila, como se apaziguasse sua própria histeria momentânea.

— Tim não faz parte desse pacote familiar. Ele só veio como um intruso, um parasita que minha mãe insiste em chamá-lo de marido. — retruco revirando os olhos.

— Ser um padrasto não quer dizer que seja alguém ruim, ou que vai substituir alguém que você ama. Isso não quer dizer que deve amar menos o seu pai, Dreamy...

Respiro fundo, batucando os dedos na mesa enquanto não consigo olha-la diretamente pela câmera, eu sei que ela está me encarando de um jeito condescendente.

— Que tal mudarmos de assunto? — sugiro, desejando desconversar. Essa história estava me deixando desconfortável. — Como foi a sua manhã? Soube que tirou nota baixa em Arte.

— Ah, aquela megera da senhora Schümtz detesta tudo o que desenho, até mesmo quando não faço nada! Parece uma perseguição ou pior... Obsessão. — sussurra como se a qualquer momento a tal mulher pudesse ouvi-la.

— Deixa de bobagem, isso é coisa da sua cabeça. — caçoei, gargalhando.

— Não é bobagem! Ela quer a minha cabeça, vovó acha que é também coisa da minha cabeça, mas não vou sossegar até mostrar para todos de que estou certa. — ela determina, convicta.

— Uau, calma aí projeto de gente. Só foi um comentário inofensivo, sabe que acredito em você. — rebato me afastando da tela indo ao meu closet, eu ainda estava vestido com o uniforme do colégio. Um exagero na parte de Becker e minha mãe, mas a pressão obriga qualquer pessoa a ceder.

Eu mal saí da cadeira que um enxame de xingamentos veio à tona, Hana detesta quem a chamasse, mesmo que indiretamente, de baixinha. Eu não pude conter o ataque de risada quando a ouvi berrar como se não existisse vizinhos.

—… Seu idiota. — cessou seu discurso de ódio. — Você me respeite, pois sou dois meses mais velha que você!

— Grandes merdas. — rio anasalado.

Ela corou enfurecida pelo comentário.

— Seu cretino de olhos diferentes... — cochichou soltando uma lufada de ar pelas narinas, suas bochechas ganham cores róseas e seus olhos escuros ficam indecisos com o foco que devem se concentrar.

— Sabe que isso não me ofende né? Aliás, é até um elogio vindo de você. — balbucio voltando a me sentar na cadeira de frente a ela.

— Veja isso como um ato de bondade que faço a favor de sua ida ao colégio. — sorriu presunçosa.

— Nossa, quanto amor. — ironizei.

— Claro que é, se não te amasse nem atenderia a sua ligação. Estou bem ocupada se não tem percebido, se fosse qualquer pessoa já teria mandado à caixa postal ou negado a vídeo-chamada na hora. — falou rapidamente, levou até uns minutos para voltar a respirar normalmente.

Seu pé esquerdo se inclinava na tela de seu notebook. Hana adorava passar o tempo livre pintando suas unhas ou decorando o quarto.

Lembro-me da última vez em que estive lá, era todo infestado de pôster dos anos 80 e seus respectivos ídolos da época, bem como a moda.

Às vezes me pego imaginando seu futuro, uma madame Akira circulando pelo mundo em seu jatinho para visitar as tendências que sua criatividade a proporciona com sua carreira de estilista em ascensão. É, isso é um bom futuro.

— Bom saber que ainda me ama. Quero ver se continuará assim quando eu for... Embora. — digo hesitante.

— Vou sempre te amar, napolitano. Não é porque tem tantos garotos lindos, gostosos, talentosos, galantes e... — tagarelou saltando de dedo em dedo.

— É, eu já entendi. Obrigado pelo consolo. — suspiro pesadamente.

— Mas você me entendeu. Nada nem ninguém vai me fazer desapaixonar, até porque sua lábia se saiu muito bem para alguém que mal sabia conversar com garotas. — disse com serenidade, seus braços se cruzam abaixo dos seios.

— Nunca pensei que a garota mais popular seria tão facilmente conquistada por uma conversinha fajuta de um garoto completamente invisível. — retruco balançando as sobrancelhas com bastante presunção.

Eu ri. Ela não.

Hana me encarou séria, talvez até mais séria do que pensei já tê-la visto.

— Ei, foi piada. Relaxa.

— Você não era invisível para mim, Dreamy. Nunca foi... — resmunga receosa, como se o que fosse dizer estivesse entalado dentro dela.

— Hana, tenho que desligar, minha mãe chegou e... Bem, depois nos falamos, tchau! — desligo a ligação sem que ela terminasse.

É certo de que me encantei por ela no mesmo instante em que a vi, mas foi passageiro e acabou. Agora, só a vejo como uma irmã mais velha.

Na infância, nós brincávamos juntos e não se desgrudava nem para tomar banho. E apesar da piada horrível, a avó de Hana já disse que parecíamos como irmãos siameses.

Só que quanto mais os anos passavam mais os meus sentimentos mudavam, se oscilavam, e no fim, acabaram se transformando em algo ameno e menos intenso. Mas, embora tudo isso acontecesse, não mudaria o fato de querer protegê-la dos garotos, tanto do colégio, quanto da vizinhança, que cochichavam coisas obscenas sobre ela, coisas sobre seu corpo e sobre sua família constantemente.

Desde pequeno tentei defendê-la desses caras, ou de nossas vizinhas que insistiam em investigar sua vida a todo momento.

Hana foi abandonada pelo pai, teve que superar sozinha a morte prematura de sua mãe, além de tentar conviver com a rigidez de seus avôs maternos e a negligência por parte da família paterna, tudo isso não ajudou em nada nessa cicatrização.

E, por fim, mas não menos importante, ainda tinha que sobreviver às falácias das pessoas pela fofoca, infelizmente verdadeira, de que quase foi abusada aos treze anos pelo irmão de seu falecido pai.

Há dois anos ela conseguiu se abrir pra mim e me contou tudo, desde então tenho a defendido de todas as maneiras possíveis enquanto estivesse em Berlim.

Minha mente retorna vagarosamente ao meu quarto, as nuances daquelas memórias eram tão vívidas e cheias de detalhes que até me assustei quando voltei à realidade. Abro a galeria de fotos que encheu o papel de parede do notebook e involuntariamente sorri ao me deparar com o rosto jovial de minha mãe na fotografia, uma senhora ruiva de belos olhos claros junto de meu pai, ele estava sentado e ela em pé próximo do marido.

Estavam felizes juntos, tão felizes que foi um grande pecado terem destruído tudo isso. Lentamente, meus olhos foram de encontro a um ser nanico que descansava no colo do homem, era o pequenino Dreamy que esboçava um sorriso bobalhão.

Queria ter tido mais tempo com ele.

— É, madrinha. Parece que você tinha razão, as mudanças vieram para acabar com nossos planejamentos. Isso acontecia com você também? — indago-me com os olhos vidrados na tela.

Queria poder chorar, mas eu não consigo. Simplesmente... Não consigo mais. Tento me manter triste, quero me sentir triste. Queria ao menos sentir isso... Mas também não consigo.

Respiro fundo, sinto que estou suando frio e minha respiração está a cada segundo se tornando irregular. Não, isso não é tristeza, são as minhas crises. Elas estão voltando.

Evito olhar para o meu quarto, ao invés disso, opto por remexer em memórias que sei que vão facilitar a ter o controle de volta sobre meu corpo.

Relembro-me dos ensinamentos que minha tia, Regina Marshall, me dissera quando eu ia à sua casa de veraneio nas férias. Ela me treinava com alguns golpes de defesa, o que chateava minha mãe e orgulhava o meu pai na época.

Enquanto tivesse pernas, cabeça e braços, Regina me ensinaria sobre tudo que aprendera no exército em seus tempos como soldado.

E dentro desse retrospecto, eu já não sabia realmente se deveria agradecer ao Becker sobre a ideia de me levar a Paris, mesmo sendo um grande sonho meu, afinal, minha vida inteira vivi na Alemanha.

O que são alguns meses, não é? Vão passar voando e logo, logo voltarei para casa para vê-la.

Resolvo procurar no Google pela escola que entraria, imaginei incontáveis pretextos que faria caso fosse um lugar de aparência apática, mas até que me surpreendi por ser uma construção de perfeito e adorável estado perto de estabelecimentos ao redor, aparentemente, localizado no centro da cidade, isso não seria tão ruim assim.

— Se estivesse aqui, acredito que estaria orgulhosa de mim. — sussurro desligando o aparelho tecnológico.

Tia Regina é outra pessoa que se foi, ao lado de meu pai, no acidente. Recordo-me até hoje do que me disse, depois que me derrubou no tatame.

"Sei que será um homem bom, Dreamy, e muito justo... E você sabe o que eu penso sobre os homens, não é? Então, não cometa os mesmos erros".

Uma risada me escapa ao lembrar também de suas gritarias após cada aconselhamento. Eu ainda conseguia imaginá-la gritando em meu ouvido, a nostálgica sensação me faz cessar com um curto sorriso.

— Pena que não está... — desmancho o sorriso, pesando o olhar em meus próprios pés descalços.

Atrás de mim uma pequena figura voa e se compadece de mim, é meu kwami. Seus enormes olhos tão negros quanto à noite com tonalidade azul cobalto me encaram tristes, aquilo me faz sentir culpado.

Para amenizar a situação acaricio seus pequenos chifres curvados para trás, até que isso alivia, mas pra mim não fazia sentido alguém compartilhar das minhas dores, mas ele é assim.

Bluue, o kwami que mais parece com a fênix, sempre foi bem sentimental, principalmente quando sabe da minha história e vê quando mergulho em memórias que deveriam ser esquecidas.

— Mas ela está te olhando lá de cima agora. — disse ele atravessando os fios avermelhados de meu cabelo.

Ele se aproxima de meu rosto, preocupado com minha saúde, enquanto eu o encarava com as sobrancelhas erguidas.

— Perdão, não tinha como não escutá-lo. — sua feição envergonhada me faz sorrir minimamente.

— Tudo bem Bluue, eu sei que foi inevitável. — suspiro saindo da cadeira e me sentando na cama com ambas as mãos pousadas nos joelhos.

— Você ainda está chateado comigo?

— Não. Eu não consigo ficar zangado com você por muito tempo, sinta-se lisonjeado por ser uma exceção. — respondo abrindo um sorriso de banda.

— Mas por que, então, que você está assim? — indaga a criaturinha se sentando ao meu lado.

Tento não bufar, mas é algo impossível pra mim, igual sua curiosidade.

— É complicado, você não é humano. Não vai entender...

— Bem, se você tentar, talvez eu consiga. — incentiva-me com sua empatia expressiva.

— Certo.

O contei sobre tudo. Sobre minha atual situação, especialmente agora que sou seu portador e não posso simplesmente abandonar Berlim.

— Dreamy, a única coisa que ainda posso te dizer e que pode melhorar o seu dia é que, não importa quantos caminhos o homem corte o rio e tente dominá-lo ao seu bel prazer, no fim, ele sempre acabará no mar. Porque este é o curso dele. — diz voltando a se aninhar em meu cabelo ruivo.

Eu queria entendê-lo, até porque Bluue sempre foi de dar conselhos que parecem ter saído de algum coach, mas não consigo. Tudo o que diz é como um enigma pra mim, mas talvez... Só talvez, eu finalmente possa desvendá-lo nessa viagem.

É, pode ser que isso seja o que estou precisando.

Madrid, capital da província de Madrid.

     NÃO HÁ NADA melhor do que uma briga antes de qualquer refeição. É como uma dança que conheço cor e salteado.

— Que decepção, meu amigo. É só isso que sabe fazer? — questiono reprimindo um sorriso atrevido.

O homem rechonchudo range os dentes, que até então estavam mal escondidos debaixo dos beiços grandes, e então avança me socando na cara. A verdade é que eu nunca me senti tão vivo quanto nesses instantes de luta e adrenalina. Meu corpo cambaleia para trás pelo golpe, por poucos segundos acho que consigo me manter de pé, mas acabo caindo na calçada de um estabelecimento.

Sinto um gosto metálico na boca, passo a mão na região e vejo sangue e um pequena dor se sobressaindo dali, aquilo me faz encará-lo num misto de raiva e deboche, o que fez com que viesse em minha direção transtornado de fúria.

— Olha só que mãozinha de princesa. — zombei, rindo. — Pensei que você batesse mais forte, Dominguéz. — sorri o mostrando uma fileira de dentes ligeiramente tortos.

Como esperado, Dominguéz tentou avançar novamente para dar outro soco, ele ergue os punhos na altura do meu rosto, mas é impedido por um policial que rondava naquele quarteirão.

Nós nos afastamos imediatamente, intimidados com a presença dele e, logo, Dominguéz se viu obrigado a sair pelo olhar autoritário do fardado ao meu lado.

Suspiro furioso e frustrado.

— E pensar que vocês começaram isso tudo por causa de uns trocados mal contados. — disse o policial revirando os olhos para mim.

— Ele quem começou senhor Pérez. — respondo forçando uma voz inocente.

— Dominguéz sempre teve um jeitinho violento, mas nunca reagiu assim por nada. — contesta me encarando desconfiado.

— Eu não sou culpado, ouviu? Ele que é o louco. — acuso apontando no homem que saíra.

— Estou de olho em você, ouviu Dylan? Fique esperto. — avisou-me arqueando as sobrancelhas felpudas e escuras.

— Acha que eu não sei disso? Fique tranquilo, mi amigo. Eu sou um santo. — conto enlaçando as mãos numa oração e fecho levemente meus olhos.

— Claro que é... — Dominguéz resmunga ironicamente, o proprietário do tal estabelecimento.

— Ande, vá embora antes que eu me arrependa. — diz o policial.

— Não vai se arrepender mesmo, señor! — alegro-me correndo rumo ao caminho mais longe daquela espelunca.

Não demorou muito até me ver bem afastado de tudo e todos. Antes eu até tive minhas dificuldades, mas agora sou o melhor no meu trabalho. Não que ser batedor de carteiras e ladrão de comidas fosse algo a se orgulhar, mas era a realidade em que fui criado.

Em pouco tempo consigo ver o casarão velho surgindo à minha frente, ele está cheio de gente me esperando. Dentro da roupa, retiro alguns salgados e pequenas garrafas de refrigerante, juntamente de outros lanches que roubei do comércio.

Rio com vontade. E não só eu, milhares de crianças vieram numa alegria cativante, assim que coloco os pés no local elas me derrubaram no chão e fizeram perguntas sobre tudo o que fiz até a minha vinda.

— Dylan chegou, ele chegou! — dizia uma das meninas.

— O que trouxe pra gente, Dylan? Foi comida ou roupas? — perguntou um garoto apressado.

— Oi Dylan! Olha, eu fiz um desenho! É pra você. — disse uma outra menininha de cachinhos escuros.

Eu, por outro lado, estive tão distraído com as demais criança que mal notei a garotinha que tentava o possível, e o impossível, para me mostrar sua obra de arte. Ela é a mais nova e a mais baixinha de todos, então não foi totalmente minha culpa não ter a visto.

— Ah, me desculpe! Eu estava distraído e não lhe vi! — rebato sem graça, pego-a no colo e levo seu papel colorido no bolso. — Obrigado, Portia.

Ela me agradece selando um beijinho em minha bochecha gelada, me desculpando devidamente, eu a deixo no chão e despeço-me dos outros acenando. Percebi que o clima havia esfriado e que em Madrid a noite se tornava muito mais fria, se eles continuarem aqui fora a maioria vão ficar resfriados.

— Bem, tenho que ir. Até mais tarde, meus amigos! Não se preocupem, voltarei amanhã. — após prometê-los, eu me sento em minha lambreta.

Nessa vida, o melhor jeito de sobreviver é sendo o mais esperto de todos. Sempre deixo escondido por trás de uns arbustos perto da rua onde o casarão fica, caso meu plano não desse certo e que devesse fugir quando a situação gerasse estragos maiores, eu já tinha um escape.

— Até logo! — disseram em uníssono.

Dirijo ao meu apartamento.

O local não era tão velho e decaído quanto o prédio que sustenta as crianças órfãs, mas dava para se aconchegar nos períodos de inverno e nas ventanias do verão.

De repente, meu telefone toca no mesmo instante em que ponho meus pés na tapeçaria modesta da entrada, bufo apostando quem seria a pessoa inoportuna que está me ligando a essa hora da madrugada.

"Só pode ser ela... A oportunista".

Como assim você não vai à Paris?! Enlouqueceu? — ela gritou aborrecida assim que lhe atendo.

— Alô para você também, mãe. Eu estou bem, obrigado por perguntar e se preocupar comigo. — retruco sarcástico.

— Não banque o espertinho comigo, Dylan Shi! O que te deu na cabeça, seu moleque! Recusar uma oferta de ouro dessas para cuidar de um bando de órfãos que não tem onde dormir. — falou dando muitos ênfases.

Suspiro alto.

— Eu não quero ir pra outra escola, aquela que frequento já me basta! — digo estupefato.

— Não quero saber Dylan! Eu já te matriculei e não quero ver malcriação em você, não foi pra isso que te criei! — vociferou.

— Não, você não me criou para isso... — decreto com firmeza e calmaria, mas conforme eu dizia meu tom se eleva. — Você me criou para ser alguém que burla as leis, uma pessoa que prefere a corrupção invés da justiça, mas você me perguntou se eu queria isso? Se eu desejava ser um monstro como você?!

Houve silêncio, então, ela voltou a falar como se nada tivesse ocorrido.

— Não me importo se você vai ou não gostar de ir, o que deve saber é que já está feito e você irá à Paris. Queira ou não, mandarei homens que te levem ao aeroporto... — falou não oscilando em suas ordens. — Não se preocupe, os seus amiguinhos lá do orfanato estarão seguros, vou mandar também uns mantimentos e mudas de roupas, se é isso que te impede.

Me mantenho em silêncio, procurando qualquer descuido em sua voz ou ordem. Eu não consigo confiar nela.

— Eles não vão estar desamparados, Dylan.

— Por que está fazendo isso? — indago completamente confuso.

Desde quando ela fazia caridade?

— Se você entrar na Jacques de Trémeuse vai poder auxiliar muito mais do que já ajuda quando sair de lá, claro que depois de formado. E, com a minha ajuda ocupando espaço aqui, quando você voltar estará em débito comigo. — diz soltando uma risadinha maldosa.

Uma oportunista como você pensando nos outros? Isso já estava cheirando a podre.

— Então, o que me diz?

Aquilo havia me pegado de surpresa. Como faria para proteger aquelas crianças enquanto estivesse fora? Como faria para não cair, de novo, nas garras dela?

Eu não compreendia como tudo isso começou a desmoronar, como minha família começou a desmoronar. Mas, acredito que depois que meu pai a abandonou, sua personalidade mudou inteiramente, ou talvez fosse seu verdadeiro caráter.

Clara, minha mãe, não era mais a mesma. Infelizmente, por causa dela, eu também não.

— Combinado. — suspiro, passeando os dedos pelo meu cabelo castanho.

Continua...

Oiee!
O que esperar dessa nova galera hein? Mais outros personagens e mais outras realidades 🧡
Aliás, já prevemos um romance no ar? E ele ainda diz que só a vê como uma irmã, né? 😏 Logo, logo todos vão se encontrar, o que acham que pode acontecer?

Seja como for, fiquem atentos aos próximos capítulos! Não esqueçam de votar xuxus e comentar, assim tenho como saber se estão gostando ou não. É isso, bjs! 😘

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PRÓXIMO CAPÍTULO: (DES)CONHECIDOS PARTE 3

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