MORDE E ASSOPRA

By mariiafada

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#1 em chicklit 02/05/21 Dez coisas que você precisa saber sobre a Maria Madalena: 1. Ela teve seu coração re... More

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AIDAN
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
AIDAN - PARTE I
AIDAN - PARTE II
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS
TRINTA E SETE
TRINTA E OITO
TRINTA E NOVE
QUARENTA
QUARENTA E UM
QUARENTA E DOIS
QUARENTA E TRÊS
QUARENTA E QUATRO
QUARENTA E CINCO
09/09
QUARENTA E SEIS
QUARENTA E SETE
QUARENTA E OITO

TREZE

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By mariiafada

xxx

Por incrível que pareça, a clínica Petvida estava funcionando em pleno sábado. E a médica veterinária de plantão é a minha melhor amiga, Alice.

Parada do lado de fora do portão envidraçado, eu aperto o botão do interfone e espero.

Como a clínica fica na Avenida Centenário, dezenas de pessoas passam pela calçada ao meu lado. Tento esconder o rosto quando percebo os olhares estranhos.

Provavelmente tive uma noite de cão e de certeza tive uma manhã pior ainda, devo parecer uma louca descabelada com um dos pés descalços.

E a minha aparência nem é a parte mais bagunçada da minha vida no momento.

Alguns minutos de passam e eu ouço latidos e ganidos vindo de dentro da clínica, mas nenhuma resposta ao interfone. Onde será que a Alice se meteu?!

Eu teria ligado para avisar que estava vindo, mas ao sair do prédio de Aidan, percebi que o meu celular estava descarregado.

Perfeito. Em um momento tão crucial como aquele, isso era só a cereja do bolo.

Modéstia à parte, sempre fui uma campeã da auto crítica, mas hoje estou me superando. Desde que coloquei um ponto final na bagunça entre Aidan e eu, estava enfrentando a tortura mental mais exaustiva pela qual já me obriguei a passar.

Não consigo parar de pensar no aconteceu noite passada, mais especificamente no que eu não me lembro que aconteceu... E em Aidan.

Apesar de ter jurado para mim mesma que a partir de agora iria deletar a Tragédia Que Não Deve Ser Nomeada, ainda não consegui superar essa loucura toda.

É claro que me lembro de tê-lo visto ontem na boate, me provocando na frente das minhas amigas, brincando e flertando comigo.

Lembro-me da sensação quente que se espalhou pelo meu estômago quando o vi sentado com aquela garota em seu colo e de mais tarde procurar por Aidan na pista de dança.

Mas por que eu o procuraria na pista de dança?

Um arrepio me faz encolher com a ideia de que talvez eu tenha decidido jogar tudo que acreditava para o alto e procurar por aquele cara porque queria ir para casa com ele.

Só que na prática eu jamais faria isso. Conheço a mim mesma, sei que seria um erro terrível e me arrependeria.

Sorrio com desgosto, encostando a minha testa no portão. Bem, eu estou arrependida, isso é um fato.

Frustrada, dou tapinhas na minha própria cabeça como se isso pudesse colocar algum parafuso solto de volta no lugar e restaurar as informações perdidas.

Mas dançar sobre as luzes ofuscantes da Taboo é a última coisa confiável que meu cérebro consegue processar e ter certeza que aconteceu de verdade.

Tudo que vem em seguida é um completo borrão incompreensível.

E sem contar esses flashes momentâneos que não me dizem nada, o próximo acontecimento que está mais presente nos meus pensamentos do que eu gostaria é acordar com Aidan ao meu lado, com a cabeça enterrada entre os travisseiros e o braço aconchegado na minha cintura.

Toco o interfone de novo, dessa vez demorando mais. Preciso conversar com Alice ou vou deixar a mim mesma louca até o final do dia.

— Clínica Petvida, bom dia! — A voz ofegante de Alice surge da caixinha eletrônica. — Desculpe a demora, estávamos no meio de uma emergência...

— Lis! Sou eu!

— Madá? Por onde você andou? Estou tentando falar com você faz horas!

— É uma história meio complicada...

— Está tudo bem?!

Olho para a rua cheia de gente.

— Dá para gente conversar aí dentro?

Alice suspira.

— Amiga, podemos nos encontrar mais tarde? Estou meio que lidando com uma emergência do trabalho...

— Eu transei com o Aidan Rael — Digo de bate pronto, porque não aguento mais ter aquilo entalado dentro de mim. Fecho os olhos como que para me preparar para o surto que vai vir, mas Alice está silêncio. — Lis? Você ouviu o que eu disse? Eu dormi com o...

De repente o portão da clínica se abre com força e a minha amiga aparece, vermelha feito um pimentão e os olhos arregalados.

Acho que nunca a vi tão revoltada em toda a minha vida.

AIDAN RAEL? — Ela berra gesticulando furiosamente com os braços. — AIDAN! RAEL! VOCÊ TRANSOU COM O...

— Shhhhhhh! — Pulo em cima de Alice e tento cobrir a sua boca, empurrando-a para dentro da Clínica. Ela está gritando muito alto e desse jeito o segredo que quero levar para o túmulo vai estar espalhado pela cidade inteira. — Fala baixo! Alguém pode escutá-la!

Mas Alice está ocupada demais brigando comigo para se quer pensar no seu tom de voz.

— DE TODOS OS 300 MIL HABITANTES DE ILHA BELA VOCÊ ESCOLHE O PIOR DELES? JUSTO ELE? POR QUE O AIDAN? LUCÍFER NÃO ESTAVA DISPONÍVEL?!?!

Não respondo.

Não há nada que possa dizer ao meu favor, então simplesmente aceito que ela tem razão e ouço o sermão o qual sei que mereço.

Alice e a voz da minha cabeça são praticamente a mesma entendidade e eu estava gritando comigo mesma exatamente desse jeito quando entendi a burrada que tinha feito.

Fecho o portão atrás de mim e espero até que ela termine de expressar toda a sua revolta, andando de um lado para o outro pela sala de espera vazia da Petvida.

— E então? — Alice ofega, levantando os braços. — Não vai me dizer como diabos isso foi acontecer?

— Eu não sei! — Choramingo. — Não me lembro!

— Como assim não se lembra? É simples: Dormiu com ele ou não?

— Eu não sei! Acho que sim! Provavelmente sim!

— Acha? Acha?! Esse tipo de situação geralmente não deixa espaço para meio termo, Maria Madalena! Não existe transar mais ou menos! Ou aconteceu ou não aconteceu! E as preliminares contam!

— Eu não lembro! Só sei que acordei na cama de Aidan, com quase nenhuma roupa.

— Bem, certamente ele não levou para a casa a fim de tirar uma sonequinha do seu lado, então é claro que aconteceu alguma coisa! É de Aidan Rael que estamos falando!

— Eu sei, eu sei... Só estou confusa. Literalmente acabei de fugir da casa de Aidan e quase o atropelei com meu carro e aquele maldito cachorro ficou com o meu sapato! E eu não sei como nada disso aconteceu — Nem percebo que as lágrimas de desespero começam se formar em meus olhos enquanto vou balbuciando tudo aquilo. — Preciso da sua ajuda ou vou ficar louca!

Alice suspira, mas não se aproxima. Ela está irritada demais para passar a mão pela minha cabeça agora.

— Para te ajudar, se é que isso é possível, preciso saber exatamente o que rolou ontem à noite.

— Eu quero e vou te contar tudo, mas antes preciso de um favor.

Ela me olha como se fosse muito capaz de me estrangular e eu não duvido que seja mesmo.

Só posso imaginar como deve ser frustrante uma amiga esconder o que andou fazendo e vir correndo pedir sua ajuda quando as coisas dão errado.

Sinto-me horrível por ser sido esse tipo de amiga no momento.

Geralmente dou menos trabalho que isso.

— Tá, e o que você quer?

— Preciso que enfaixe o meu ombro. Acho que me machuquei ontem.

— Mas eu trato animais, não pessoas!

— Qual é, você fez quatro semestres de enfermagem antes de mudar para veterinária, deve saber alguma coisa! Por favor — imploro —, eu sei que está muito brava comigo mas a dor está me matando e depois que tudo isso passar faço o que você quiser.

Prometo.

Ela torce os lábios mas acaba cedendo depois de pensar a respeito por alguns segundos.

Afinal de contas, amizade é quase um casamento, talvez até pior. Estamos sempre aqui uma pela outra seja saúde ou na doença e na felicidade também mas especialmente nos momentos de crise quando uma de nós comente uma burrada gigantesca.

— Sim, isso é um sim? — Pergunto esperançosa.

Alice revira os olhos.

— Acho que posso dar uma olhada em você. Mas não prometo nada.

Agora que consegui acalmar a fera, as coisas ficaram melhores.

Estou sentada na mesa de metal que geralmente é usada para atender os verdadeiros pacientes de Alice, os animais.

No instante em que tiro a blusa, minha amiga se esquece da raiva e a substitui por preocupação. Ao que parece, o hematoma das minhas costas não era muito bonito e ela até mesmo se propôs a passar um gel para dor muscular pelos meus ombros.

A massagem é dolorida mas alivia o incômodo que sinto toda vez que tento me mover.

Quando termina de ser atenciosa comigo, Alice pega a cadeira e coloca à minha frente.

— Agora desembucha, Madá. E pode contar desde o começo como essa coisa entre você e Aidan começou. Porque não sou idiota, percebi que tinha algo estranho rolando entre vocês dois quando ele fez aquela ceninha na Taboo!

Odeio estar nesse tipo de situação, mas respiro fundo.

— Tá legal, vamos lá.

Passo uma boa meia hora detalhando a história de como Aidan e eu fomos parar juntos na mesma cama. Ou como eu gosto de chamar: Uma Tragédia Em Três Atos.

Alice ouve tudo de braços cruzados, franzindo o cenho ou torcendo o nariz nas partes que mais desaprovava.

Eu conto tudo o que eu me lembro, desde a noite passada até hoje pela manhã, incluindo os flashes confusos de memória que continuo tendo.

Lembro de Aidan me cobrindo com a coberta em algum ponto da noitemas também me lembro de ficar ofegante com o corpo dele em cima do meu.

Diferente de mim, a minha amiga não está nem um pouco confusa e já deu o seu veredito:

— Deveria ter aproveitado quando ele estava no chão e passado mais umas duas vezes por cima com o seu carro, só para garantir que ele não ia sair ileso.

— Alice!

— O quê? O cara te usou, Madá! Ele se aproveitou do seu estado e te levou para cama! Ele não presta, ser atropelado é o mínimo que Aidan Rael merece. Seria só o carma fazendo o seu dever, se quer saber a minha opinião.

Na teoria tenho plena consciência de que ela está certa, mas a medida que fui contando sobre os fatos e racionalizando melhor, percebo que poderia ter lidado com a situação toda de uma maneira diferente.

Não deveria ter ido embora da casa de Aidan daquele jeito, apesar de entender que foi o desespero inicial que me fez querer fugir. Só que agora eu simplesmente não estou mais certa se sei o que aconteceu quando não tenho todas as peças desse quebra-cabeça disponivéis.

— Espera. Mas não faz sentindo...

— É verdade, geralmente você é mais esperta que isso.

— Não, estou falando da noite passada. A única vez que bebi foi aquele shot de tequila. Como Aidan poderia ter se aproveitado de mim se eu não estava bêbada?!

Alice pensa à respeito e segundos depois arqueja.

Ele te drogou!

Eu sinto um arrepio de temor, repreendendo se quer pensar nessa possibilidade.

— Pelo amor de Deus, Lis. Acho que até o Aidan tem limites, ele jamais faria isso.

— Será? Você tem outra explicação?

Ela fica de pé, vai até o armário e pega uma seringa. Posso ver em seus olhos que está muito determinada, o que me assusta.

A minha melhor amiga geralmente é um doce de pessoa, tem coração enorme, e sempre pensa mais nos outros do que em si mesma. Exceto quando mexem com as amigas dela.

Jamais vi ser tão vil e sem piedade quanto Alice ao saber que alguém fez mal à uma de nós.

Balançando a seringa na mão, ela se aproxima de mim.

— Podemos fazer um teste do seu sangue para ver se tem algum tipo de substância estranha, eu mesma posso colher. Conheço esse carinha biomédico que trabalha em um laboratório e poderia quebrar esse galho para mim...

Eu pulo da mesa de metal o mais rápido que consigo.

— Alice, guarda essa seringa! Ficou maluca?

Só estou sendo pragmática, oras!

— Aidan não me drogou, ok? Se ele fosse esse tipo de cara, teria forçado alguma coisa comigo no banheiro, quando estávamos presos lá. Muito pelo contrário, ele fez questão de afirmar que preza pelo consentimento das garotas!

— Tudo bem, advogada de defesa, então o que você supõe que tenha acontecido?!

— Eu não sei ainda! Podemos dar um tempo? Eu estou ficando mais nervosa do que antes.Você deveria me acalmar não me deixar pior!

Alice dá uma trégua quando percebe que estou falando sério. Ela respira fundo e guarda a seringa, vindo até a mim.

— Desculpe, surtei um pouquinho. A ideia de que ele tenha feito algo com você me deixou enfurecida... Mas podemos dar uma pausa. Quer uma água para se acalmar?

— Sim, eu quero, obrigada.

Ela afaga o meu braço de uma maneira carinhosa e sorri docemente. Nem parece que a dois segundos atrás estava disposta a me espetar com uma agulha.

— Eu já volto.

Solto um suspiro frustrado quando fico sozinha e me sento na mesa de novo. Acho que até o final desse dia vou ter roído todas as minhas unhas ou ter morrido de apreensão.

Está tudo uma bagunça e não sei o que pensar ou o que fazer. Tenho a estranha sensação que ainda há muito para piorar.

Se tem uma coisa que eu aprendi essa semana é que sempre tem como ficar pior.

Estou começando a me arrepender de ter terminado com o Luciano, mas não porque eu ache que tenha feito a coisa errada e sim porque se estivéssemos juntos eu jamais teria conhecido Aidan e ele jamais teria transformado a minha vida nessa bagunça com apenas dois dias.

Dois dias! Dois. Míseros. Dias.

Alice retorna com o meu copo de água e bebo tudo bem devagar, pensando em um jeito de resolver essa confusão enquanto me hidrato. Quando o copo está vazio, tomo uma decisão.

— Eu preciso saber o que aconteceu ontem. Nem que seja através de pistas, charadas, o que for!

— Okay, Sherlock. Mas primeiro já tentou ver o seu celular? Porque se você falou comigo ontem, pode ter falado com mais alguém.

Encaro Alice, surpresa.

— Em que momento nós nos falamos ontem?! E porque não disse isso antes?

— Ai, foi mal. Acho que esqueci esse detalhe... Eu também bebi um pouquinho demais noite passada. — Encolhe os ombros em um pedido de desculpas. — Mas nós duas nos falamos quando era quase uma da manhã e você disse que estava indo para casa com um "amigo de Salvador", senti o cheiro de mentira mas resolvi deixar para lá e você praticamente desligou na minha cara.

— Eu provavelmente estava com Aidan, né?

— Aham, pode apostar que estava.

Alcanço a minha bolsa e procuro pelo meu celular.

— Tem um carregador aí? Estou sem bateria.

Alice é rápida em me entregar o seu carregador e colocar meu parelho na tomada. Nós só temos que esperar alguns minutos para que ele volte á vida.

Eu entrego o celular para ela.

— Vê você, eu estou nervosa demais.

— Ok. Primeiro, vamos ver as fotos... — Ela fuça um pouquinho pelo álbum do celular. — Nada aqui, só fotos do nosso grupinho ontem à noite. Graças à deus, acho que eu ia precisar de terapia se achasse algum nude do Rael por aqui.

— Lis, pelo amor de Deus...

— Tá, agora vou olhar o Instagram — A minha amiga faz uma careta quando abre o meu perfil. — Você deveria atualizar isso aqui mais vezes, sabe? Faz seis meses que postou a sua última foto.

— Foca no importante, Lis.

— Sua vida social é importante, você está solteira agora! — Ela abre a foto de que estou lado a lado com Luciano, sorrindo em algum evento do escritório dele. — Ninguém vai querer te beijar se ainda tem as fotos com o seu ex!

Eu bufo de raiva.

— Me dá isso aqui...

O rosto de Alice fica branco e ela esconde o celular.

— Merda! Espera!

Paro onde estou, sentindo uma mão gelada apertar o meu coração.

— O quê? Encontrou alguma coisa?

— Você falou com o Luciano ontem?

— Não, é claro que não... — A memória é um fiapo quase imperceptível, mais uma sensação do que realmente algo concreto. Ela retorna aos poucos, até que realmente me lembro. — Ele me ligou! Mas eu não atendi, decidi ignorá-lo e ir dançar com vocês. É, foi isso que aconteceu.

Alice ergue a sobrancelha.

— Tem certeza? Aqui diz outra coisa.

O meu alívio evapora.

— O quê?

— No histórico de chamadas, diz que você atendeu um número restrito e conversaram por cinco minutos.

Eu volto para onde estava e me sento, respirando fundo. Pressinto que a Tragédia de ontem está prestes a ganhar mais um Ato.

— Não me lembro dessa parte, Lis.

— Calma, com sorte não foi nada. Vou checar as mensagens.

— Eu bloqueei o número dele do Whatsapp, não vai ter nada aí.

— Vamos ver as mensagens de texto, então.

Observo o rosto concentrado de Alice enquanto vasculha pelo meu celular e vejo o exato momento em que seus olhos quase saltam das órbitas.

— Puta merda, Madá!

— O quê? O que você achou?

A minha amiga franze os lábios.

— Ai, jesus... Ainda bem que você está sentada, continua assim. Tem algumas mensagens aqui e vou lê-las para você. Só que antes de surtar, pensa que talvez não seja verdade. Ok?

— Eu já estou surtando, Lis! Lê logo!

— Depois da ligação com você, Luciano mandou as seguintes mensagens:

Madá, o que está acontecendo? Quem é esse cara que falou comigo????

PORQUE ESSE CARA DISSE QUE VOCÊ ESTAVA COM A BOCA OCUPADA E NÃO PODIA FALAR? QUE PORRA É ESSA? O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM A SUA BOCA?

Eu não tô acreditando que você fez isso. Não tô acreditando que você ficou com outra pessoa...Pensei que fosse melhor que isso.

Acho que acabei de ter um derrame. Ou um AVC. Não sei exatamente identificar o que está acontecendo, mas estou suando frio e hiperventilando.

Bom, acho que o "pior" que eu estava temendo acabou de aparecer.

— Madá? Madá! Respira! Você não pode ter um piripaque logo agora! — Alice larga o celular e vem correndo até a mim. — Respira! Isso, primeiro puxa para dentro e depois solta para fora...
— Isso é um desastre, Lis! Dá para acreditar que eu fiz isso? O Luciano sabe! Ele deve estar arrasado, não queria fosse assim. Não queria magoá-lo...

— Ei, ei, ei. Me escuta, sei que isso é difícil porque ele é seu ex e foram anos de relacionamento, mas talvez não tenha acontecido nada e tudo seja um mal entendido...

— É claro que aconteceu! Eu estava com Aidan, você mesma disse!— Afundo na cadeira e cubro o rosto entre mãos. — Como vou se quer olhar na cara do Luciano agora? Não vou conseguir mentir e dizer que nada aconteceu, que foi um engano? Nunca vou me perdoar isso!

— Calma, Maria Madalena! Pensa comigo, vamos ser racionais, estou aqui para te ajudar, lembra? Você disse que não tem cem por cento de certeza do que aconteceu entre você e Rael, que as suas lembranças estão confusas, seja lá o porquê isso esteja acontecendo... Não acredito que vou dizer isso mas talvez haja uma mínima chance de que Jesus tenha tocado o coração daquele idiota e realmente nada tenha acontecido entre vocês.

— E como é que eu vou descobrir se isso é verdade ou não?

Alice me encara.

— Indo falar com a única pessoa que sabe.

Levanto os olhos úmidos e alarmados, sabendo onde aquela conversa vai chegar.

— Não.

— Sim.

— Eu não posso.

— É o único jeito.

— Tem certeza?

— Infelizmente, sim — Alice suspira como se odiasse a si mesma por dizer isso. — Desculpa, mas se você realmente quer explicar a situação com o Luciano e limpar a sua consciência... Acho que deveria ir falar com Aidan.

x

É claro que não foi difícil de encontrá-lo.

Afinal, nós conheciamos a pessoa que poderia descobrir tudo sobre literalmente qualquer um de Ilha Bela, especialmente alguém conhecido como o Aidan.

Cecília Eduarda.

Ela atendeu a ligação de Alice no primeiro toque com um longo bocejo sonolento.

— Oi, Lis. Tudo bem?

— Oi, amiga! Caiu da cama cedo demais hoje? Por que esse bocejo?

Duda estala a língua, irritada.

— Nem te conto! Dá para acreditar que fui acordada contra à minha vontade às sete da manhã por causa de uma confusão no prédio vizinho?

— Jura, o que aconteceu?

— Adivinha? Aidan Rael, é claro!

Alice e eu trocamos um olhar silencioso. Tínhamos combinado de que não contaríamos nada às outras meninas por agora, até que eu resolvesse a situação.

Alice já tinha planejado arranjar uma desculpa para tocar no assunto "Aidan"  sem que isso causasse surpresas, mas pelo visto a nossa conversa fiada nem seria necessária.

— E o Rael aprontou dessa vez?

— Aparentemente foi alguma briga entre ele e alguma garota que passou a noite na casa dele. Eles acordaram a vizinhança inteira com toda aquela gritaria e buzinas de carro. Foi insuportável!

Arquejo em silêncio quando percebo que a minha amiga está falando de mim. Eu sou a garota que protagonizou aquela cena com Aidan, sem nem lembrar de que alguém poderia nos ver ou escutar.

Alice olha para mim com uma interrogação na expressão eu assinto, mortificada pela vergonha.

Sim, fui eu.

Ela suspira fundo e balança a cabeça.

— Nossa, deve ter sido horrível. E quem era essa garota, afinal de contas?

— Eu não descobri ainda, mas é só questão de tempo até ela aparecer... E você? Está tudo bem, ligou por algum motivo específico?

— Ah, não, nenhum! Queria saber como você está... Bem. Na verdade queria perguntar algo exatamente sobre Rael.

— Sobre o Aidan? Por quê?

— Um amigo meu tem algumas pendências a resolver precisa muito descobrir onde ele vai estar hoje à noite.

— Hm... Pelo o que eu saiba, Rael e seus amigos sempre participam de um campeonato de Sinuca no Náufragos, acontece todo sábado às cinco de tarde.

— Perfeito, vou dizer isso ao meu amigo! Obrigada, Duds, você é demais.

— De nada. Se essa pendência do Rael render alguma história boa depois, me conta! Eu quero saber!

Alice ri. É claro que Eduarda iria querer saber.

— Pode deixar, eu conto sim. Conto no que isso se deu mais tarde!

Depois de finalizar a ligação, Alice solta um muxoxo.

— Odeio mentir para a Duda.

— Eu sei, desculpa. Vou contar à elas assim que resolver tudo isso.

— Só não demora muito, porque se a Duda descobrir através de outra pessoa você vai ouvi-la reclamar disso pelos próximos dez anos.

— Tudo vai ser resolvido hoje. Por falar nisso, o que é esse tal de Náufragos?

— É um bar novo, fica na entrada da cidade. Não é o lugar mais carismático do mundo, mas os homens adoram. Você só precisa ir até lá, entrar, pressionar Rael para que ele te conte exatamente o que aconteceu e sair. Vou ficar com o celular do meu lado caso algo acontença e precise da minha ajuda.

— Isso quer dizer que você não vai comigo?!

Alice faz um bico.

— Eu bem que gostaria, mas não posso. Estou cuidado de um gatinho que trouxeram pela manhã, ele foi atropelado e está muito debilitado, não posso deixá-lo sozinho. Quando você chegou eu tinha acabado de conseguir estabilizá-lo.

— Tudo bem, eu entendo. Fique aqui e salve a vida do gatinho. Vou para casa tomar um banho, calçar um sapato decente e atrás de ir atrás do Aidan.

Ela sorri.

— Vai bem gostosa. Assim se os amigos dele ficarem olhando demais para você, Aidan vai querer que vá embora o mais rápido possível e é capaz de dizer a verdade mais rápido.

Eu balanço a cabeça enquanto pego a minha bolsa para ir embora. Não sei o que passa pela cabeça de Alice ou como ela chega nessas ideias, mas sei que sou grata por isso.

Definitivamente vou usar essa tática hoje.

No instante em que paro o carro no estacionamento de cascalho, fica óbvio para mim porque os homens adoram aquele lugar.

É escuro e tem uma fachada que imita uma antiga cabana de madeira com iluminação ruim.

É a personificação do "ambiente masculino" com a qual homens tanto gostam de se rodear porque resume algo que adoram: eles mesmos.

Aperto o volante entre os meu dedos e respiro fundo.

Não estou exatamente ansiosa para ver Aidan de novo depois de ter dito que nunca mais queria olhar na sua cara.

Vou parecer uma ridícula e já posso imaginar o sorriso convencido que vai se abrir no rosto de Rael assim que me ver.

Saio do carro e confiro a minha roupa no reflexo da janela. Esta noite estarei ridícula e gostosa.

Pensando no conselho de Alice, coloquei um top de couro marrom escuro e uma calça jeans que acentua bem as curvas do meu corpo.

Só espero que essa loucura dê certo.

Inspirada com coragem, marcho na direção da entrada e emerjo em um ambiente escuro e quente, que cheira a uma mistura nada atraente de cerveja, amendoim e suor.

O bar tem toda uma decoração semelhante a navios que seria bonita se já não estivesse desgatada e suja. Cordas com nós específicos, boias, âncoras...

Paro onde estou por um segundo, desconcertada ao perceber que sou a única mulher presente.

Jesus cristo.

Pensei que o bar fosse o favorito dos homens mas não apenas frequentado por eles. Não há se quer um outro par de peitos no recinto.

Só os meus, que agoram estão recebendo bastante atenção.

Sufoco a vontade de dar meia volta e vou me infiltrando pelas pessoas, tentando passar despercebida no meio de tanta testosterona.

Mas é claro que estou atraindo olhares, alguns confusos e muitos outros cheios de segundas intenções. Ignoro tudo, focada em encontrar o único homem que me interessa no momento.

Até agora, nada de Aidan Rael.

O Náufragos é bem maior do que parece e demora bastante para cubrir todo o espaço. Procuro por Aidan no balcão de bebidas, pelas mesas de sinuca e pela pista de dança, mas sem sucesso.

Estou começando a chamar cada vez mais atenção e isso está me deixando nervosa. Rejeitei todos os dez caras que se ofereceram para me pagar uma cerveja e fingi não ouvi todos os infinitos comentários nojentos que recebi nos dez minutos aqui dentro.

Finalmente, prestes a desistir e fugir daquele lugar, eu o avisto. Está nos fundos do cômodo, sentado em uma das mesas redondas de madeira que lembram uma escotilha de navio.

Apesar de estar rodeado por grupo amistoso de seis homens que riem e falam alto, Aidan não parece nem de longe tão animado quanto os outros.

Sua cabeça parace estar em outro lugar; é a primiera vez que o vejo tão sério.

Ansiosa para resolver aquilo de uma vez, começo a andar em sua direção. Porém me choco com um grandalhão que se coloca no meu caminho.

— Oi, gracinha — Ele ergue as sobrancelhas grossas para mim de uma maneira sugestiva. — Tá perdida aqui? Precisa ajuda?

— Obrigada, estou bem.

Viro de costas e ando na outra direção, mas o cara se apressa e me encurrala perto da parede. Fico presa entre ele e uma antigo fliperama do Pacman.

— Opa, calma lá. Deixa eu pelo menos te pagar uma cerveja.

— Agora realmente não vai dar. Pode me dar licença?

— Você está sozinha aqui? — Ele insiste, chegando mais perto. — Quer companhia?

— Já disse que estou com pressa.

Dessa vez, quando tento sair, o homem coloca o seu braço no meio do caminho e me prende ali.

— Qual o seu problema? Porque está se fazendo de difícil se veio até aqui sozinha? Ninguém te ensinou que entrar aqui com essas roupas pode passar a mensagem errada?

— E ninguém te ensinou que assédio é crime? Me deixa passar. Agora.

O grandalhão deixa escapar uma risada áspera, me arrastando para atrás de uma pilastra que está próxima para que ninguém possa nos ver.

— Ei! Me larga! — Eu o chuto na canela, mas isso só o faz ficar mais irritado. — Uau, você é arisca, não é?

Eu o perfuro com meus olhos, muito séria.

— Escuta, vou te dar seis segundos para tirar as mãos de mim ou...

— Ou o quê? — Ele desafia. — Vai me bater?

O desdém na sua voz me faz tremer de raiva, mas ele está certo.

— Pode apostar que eu vou te bater, vou espernear e fazer a porra de um escândalo. Tem mais de cem homens aqui pelo menos cinco vão ficar felizes em chutar a sua bunda por ter me importunando. — Faço uma pausa, sustentando os meus olhos nos dele. Quero que saiba que não estou blefando. — Vou te dar a chance de me deixar em paz contanto até seis. Um, dois, três...

— Infelizmente, não sou tão paciente quanto ela. Se não tirar as mãos sujas dela agora, vou se obrigado a quebrar a sua cara, parceiro.

Ah, não.

Reconheço sua voz assim que a ouço atrás de mim e sinto uma onda gelada percorrer a minha corrente sanguínea, medo e excitação se misturando em uma combinação quase doentia.

Fecho olhos, percebendo que eu estava certa.

As coisas tem mesmo como sempre piorar.

Sempre.

E esse dia acabou de ficar mil vezes pior.

xxx

Desculpem pelo atraso, mil imprevistos hoje e acabou que nem consegui revisar o capítulo direito, se tiver muitos errinhos, me perdoem por isso também. Amanhã vou reler e revisar direitinho! Um beijo enorme e obrigada pelos 2 mil! 💛

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