OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING...

Par autoralotorino

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❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe u... Plus

SINOPSE COMPLETA
DISCLAIMER
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
Capítulo sem título 18
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
C A P Í T U L O XX
C A P Í T U L O XXI
C A P Í T U L O XXII
C A P Í T U L O XXIII
C A P Í T U L O XXIV
C A P Í T U L O XXV
C A P Í T U L O XXVI
C A P Í T U L O XXVII
C A P Í T U L O XXVIII
C A P Í T U L O XXIX
C A P Í T U L O XXX
C A P Í T U L O XXXI
EPÍLOGO
Notas Finais + Amazon

CAPÍTULO XV

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Par autoralotorino

Lady Eliza estava, no mínimo, desconfiada.

Ela chegou a pigarrear. Liz e Frederick já estavam no Hyde Park, mas o quiosque ainda localizava-se há alguns metros deles.

— Tudo bem, lady Eliza? — Morley perguntou ao reparar em seu grunhido repentino.

Hum... — ela inclinou a cabeça para o lado — está assim, claro.

— Não me parece... — lord Morley iniciou, mas logo seu discurso foi interrompido.

— Isso é realmente sincero?! — Eliza indagou — Quero dizer, estou gastando meu tempo, e me perdoe a indelicadeza lord Moley, mas é difícil acreditar que o senhor...

Ela vacilou. Frederick arqueou uma sobrancelha.

— Que eu...

— Bem, que o senhor esteja realmente arrependido.

— Eu estou. — Lord Morley disse e Liz pensou que isso fosse tudo, mas alguns segundos depois ele prosseguiu: — Eu sei que tivemos problemas, mas não quero que você pense que sou assim. Tenho ações tolas ás vezes, mas não sou um patife.

Ás vezes... — Eliza abafou com uma risada cínica.

— Não sou. — Ele reforçou.

— E então porque age como um?

Frederick hesitou. Ele não era assim com todos, acreditava. O problema era Eliza. Simplesmente agia como um tolo perto dela, pois não sabia lidar com tudo o que a mulher o causava, e recorria a solução dos covardes. Mas não poderia continuar assim. Se Eliza era sua sina, ele lidaria com ela, mas não deixaria que isso a ofendesse.

Não mais, depois de tudo que aconteceu.

— Estou disposto a mudar. Tudo que você tem é minha palavra... Não posso forçá-la a acreditar em mim, mas deposito minha honra.

— Você tem sorte de eu também ser uma tola.

— Como?

— Acredito demais nas pessoas, — Eliza disse com a expressão séria — ou seja, darei meu voto de confiança para milorde durante essa tarde.

Frederick assentiu com um sorriso condescende. Eles caminharam até o quiosque, sentaram-se nas mesas ao redor da tenda e pediram um sorvete de baunilha e um de framboesa. O parque estava lotado e durante o percurso eles encontraram inúmeros rostos conhecidos e que certamente comentariam sobre o passeio dos dois. Nenhum se importou. Eles estavam ansiosos para provar as escolhas um do outro e, surpreendentemente, tudo estava ocorrendo muito bem.

Um homem levou até eles o sorvete dentro de uma porcelana. Inicialmente ele confundiu quem ficaria com cada recipiente, mas Eliza e Frederick trocaram rapidamente, de bom humor. Lord Morley pegou seu talher, retirou a tampa e estava prestes a levar o primeiro pedaço à boca, quando se interrompeu. Lady Eliza estava estática á sua frente, analisando cada um de seus movimentos com cuidado e expectativa.

— Você, hum, quer um pouco? Ou quer trocar? — Frederick perguntou, confuso.

Liz negou com a cabeça.

— Quero ver sua reação.

— Você é muito observadora — lord Morley comentou — e eu também quero ver a sua. Não é o justo? Primeiro as damas.

— Eu já experimentei sorvete de baunilha várias vezes, milorde. Duvido muito que sua escolha tenha algum dia sido framboesa...

— De fato não, — ele inclinou a cabeça — mas posso garantir que esse sorvete é diferente. O quiosque é o mais sofisticado de Londres.

Eliza não acreditava que pudesse haver uma enorme diferença entre o sabor de baunilha, porém não falou nada. Ela observou o letreiro acima da tenda com as letras rebuscadas formando Dunton's Ice. Em poucas semanas eles já tirariam o quiosque dali e os novos clientes conquistados teriam que ir até Kensington para consumir mais de suas delicias geladas — e alguns doces.

— Apenas experimente logo, Frederick — Eliza disse ríspida, mas o sorriso que se formou em seu rosto depois impediu que sua ação fosse considerada rude.

Ele levou o talher à boca. O gelo fez com que ele se paralisasse por algum tempo e Frederick teve a impressão de que Eliza estava quase rindo dele. Após se acostumar com a temperatura o marquês analisou o sabor. Era bom. O gosto se assemelhava ao da fruta, mas trazia um tom mais refrescante àquele dia quente de junho.

Frederick assentiu.

— É bom, lady Eliza. Seu gosto não me decepcionou — ele levantou uma sobrancelha — agora veremos o de baunilha.

— O de baunilha sofisticado do Duton's — lady Eliza lembrou — certo...

Liz levou o talher até a boca lentamente. Ela refletiu sobre suas impressões antes de dizer qualquer coisa para o marquês. O gelado derreteu-se em sua boca.

— Talvez seja um pouco diferente dos outros, — ela confessou — porém tenho certeza que devemos isso a Geoffrey Duton que tem um grande talento. Ainda assim é apenas um sorvete.

— Certamente. 

Eliza voltou-se novamente para o recipiente. Havia algumas raspas de chocolate por cima do sorvete o que deixava o sabor ainda mais agradável. Ela não hesitou em levar mais um pedaço à boca, depois outro, depois outro e outro...

Lord Morley abafou um riso. Lady Eliza ergueu o olhar com um pouco de sorvete no canto da boca. Nesse momento ele não aguentou. Fechou os olhos, cerrou o pulso sobre a mesa e fez o possível para não rir muito alto. Ela estreitou os olhos, irritada.

— Algum problema, milorde?

— Você parece ter gostado bastante para considerar apenas um sorvete — ele disse — não é uma ofensa. Longe disso. Fico feliz por saber que você apreciou minha escolha.

— E você não apreciou a minha? — Eliza olhou para o marquês, séria — não vai comer? Está delicioso...

Ele estendeu na direção dela o talher que quase levou a boca. Alguns pedaços de framboesa destacavam-se no mar cremoso. Um sorriso provocativo estampou-se nos lábios dele.

— Quer um pouco? Já que gostou tanto...

Lady Eliza fez questão de abaixar a mão dele antes que alguém visse esse ato inapropriado. O marquês não poderia dar comida na boca de ninguém em público. Quer dizer, poderia caso essa pessoa fosse uma criança de nove meses que ainda não sabe comer sozinha, mas não era o caso de Eliza. Ela se irritou, mas ele continuou achando graça na situação e insistindo com a colher.

— Vamos, só um pouquinho. Que tipo de cavalheiro eu seria caso nã...Ei! — Ele fez uma careta, pousando o talher sobre o recipiente e mordendo os lábios, controlando a vontade de utilizar um vocabulário impróprio — Você me chutou, lady Eliza?

Ela deu de ombros.

— Talvez.

— Eu sabia que você era petulante, mas não a esse ponto.

— Eu tenho um sapato bem duro, milorde. Tome cuidado com as palavras.

— Mas você é petulante. Qualquer um que passe mais de...Eliza! — ele bradou.

Ela havia chutado a canela do marquês novamente. Eliza Gunning estava achando graça da situação, pois sabia que ele não iria revidar — ou ao menos esperava — e que como eles estavam frente a frente, ninguém perceberia. Entretanto ele havia elevado demais o tom de voz e a Srta. Hedwig, que estava há alguns metros deles, pelo gramado, percebeu. Ela se aproximou da balaustrada que dividia o quiosque do resto do parque.

— Milady, está tudo bem?

— Ah, sim, estou ótima — Eliza sorriu — lord Morley e eu só estávamos conversando sobre como meu nome soa bem na voz dele. Eliza, Eliza...

A Srta. Hedwig franziu o cenho, mas por fim assentiu, caminhando novamente para o gramado. Ainda assim ela estava muito perto. Se ela estivesse interessada em escutar a conversa dos dois certamente seria capaz. E isso não era a situação mais ideal de todas.

Frederick estava sorrindo. Não com um belo e encantador sorriso cavalheiresco no qual todas as mulheres sonhavam. Ele estava sorrindo ao estilo Frederick Morley. E isso era péssimo.

— O que foi? — Liz indagou mesmo sabendo que se arrependeria depois.

— Seu nome realmente soa bem em minha voz?

Por Deus, ela poderia estar em casa lendo um livro ao invés de ter que lidar com Frederick! Eliza inclinou-se mais, apoiando os cotovelos sobre a mesa e olhando para lord Morley como se estivesse compartilhando um segredo de Estado.

— Pare de ser ingênuo. Eu disse isso para despistar Hedwig... — sussurrou — odeio que fiquem no meu pé sempre.

— E porque ela tem que estar conosco? Estamos em público — Frederick também sussurrou apenas pelo prazer de sussurrar.

— E isso não impede que eu possa dizer que estou indo para Hyde Park e decida, não sei, assistir um espetáculo com lord Byron no Royal Opera House.

— Na verdade ele morreu há alguns anos...

— A Srta. Hedwig, — Liz continuou, ignorando totalmente o comentário dele — está aqui para cuidar de mim e me vigiar. Mesmo que isso me irrite imensamente. Culpe essas regras da sociedade...

— Isso realmente te incomoda? — Frederick perguntou, sério. Em seguida checou de a Srta. Hedwig não estava olhando para eles — Se sim, podemos despistá-la de verdade.

Eliza estreitou os olhos. Ela terminou o seu recipiente de sorvete — desejando que houvesse mais dez — e endireitou-se na cadeira, olhando para lord Morley com curiosidade. Ele parecia extremamente sério, mas ainda assim havia um brilho perigoso em seu olhar. Liz sentiu toda essa periculosidade sendo transferida para seu corpo e penas a ideia de escapar de sua acompanhante causou tremendo êxtase.

Ela mordeu os lábios, reprimindo um sorriso largo e malicioso que teimava em se formar em seu rosto. Frederick também sorriu, entendendo que ela estava interessada e satisfeito com sua proposta. Eles se inclinaram mais ainda, sussurrando no tom mais baixo possível.

— E você tem alguma ideia? — Liz perguntou.

Hum... Correr não é uma ideia, certo?

Ela riu. A risada suave perto do ouvido de Frederick inundou todos os seus sentidos. Seus olhares se cruzaram, mas dessa vez, sem tensão ou receio. Era como se seus olhos opostos estivessem, naquele momento, se complementando.

— Não, Freddie. Não é uma ideia.

— Tem alguma melhor?

— Isso é responsabilidade sua.

— Podemos empurra-la no lago com os patos.

— Frederick! — Eliza tentou parecer brava — Não diga isso.

— Você está rindo.

Eliza ficou vermelha segurando a risada.

— Não estou não, — ela respirou fundo — mas podemos tirar proveito de sua ideia. É só dizer que estamos indo até o lago, mas no meio do caminho eu lembro que infelizmente esqueci meu lenço sobre a mesa. Ela virá buscar, nós diremos que nos encontraremos no lago e depois disso... Humpf, sem uma espiã.

— Você é maléfica, lady Eliza Gunning — Frederick endireitou a postura com um sorriso ladino — e isso é incrível.

Ela deu de ombros. Sabia disso.

Ele terminou o seu sorvete logo depois. Realizou o pagamento enquanto Eliza o esperava pacientemente na mesa. De vez em quando seus olhares se encontravam e ela tentava desviar, pois sabia que não poderia deixar explicito o plano deles, o que seria impossível caso não conseguissem controlar o riso. Foram até a Srta. Hedwig que sem dizer uma palavra concordou com o passeio ao lago.

Eles estavam no meio do percurso quando Eliza agiu exatamente como o combinando. Com naturalidade extrema ela voltou-se para a acompanhante e com uma expressão de extrema culpa avisou que havia deixado o lenço em cima da mesa do quiosque. Não foi nem preciso pedir para que a Srta. Hewdig fosse buscar, no mesmo momento ela se ofereceu, dizendo que encontraria os dois rapidamente. Ela caminhou com pressa de volta ao Duton's Ice e dessa forma eles deveriam se apressar.

— Para que lado nós vamos?! — Eliza perguntou no desespero.

— Para... — lord Morley estreitou os olhos — aqui.

Ele segurou nos pulsos dela guiando-a com agilidade entre as árvores, cortando caminho. Eliza apressou o passo, mas manteve-se atenta aos arredores, considerando o fato de que o parque estava consideravelmente cheio aquele dia. A última coisa que ela queria era ser vista escapando entre as árvores com o marquês de Normanbury. Ele, entretanto, não parecia se importar muito.

Eles pararam há bons metros de distância, exaustos. Não havia nem sinal do quiosque, do lago ou de qualquer pessoa conhecida por ali. Dois homens conversavam em um dos bancos mais próximos, em outro uma mulher assistia três crianças brincando de roda e um idoso andava entre as árvores, observando os pássaros que repousavam por ali. Nenhum deles, porém, parecia especialmente interessado nos dois.

— Será que a Srta. Hedwig ficará preocupada? — Liz perguntou depois de reestabelecer a respiração.

Lord Morley deu de ombros.

— Eu sinceramente acredito que ela vá saber exatamente o que nós fizemos. Sua acompanhante não parece ser uma mulher ingênua.

Eliza concordou com a cabeça, apoiando-se no tronco de uma árvore e relaxando um pouco.

— Ela não é. Tenho certeza também que Hedwig conhece muito bem a pupila que tem. Não irá ficar surpresa com nada que eu fizer.

Lord Morley assentiu. Ele caminhou em volta dela, chutando alguns galhos caídos que poderiam facilmente servir como motivo de queda dele ou de lady Eliza futuramente. Suas palavras foram ponderadas antes de ser ditas, mas ainda assim, Eliza achava que não havia noção alguma na cabeça daquele homem.

— Então você costuma fugir da guarda dela com frequência? — perguntou.

Eliza negou sem se ofender. Poderia haver um duplo sentido na pergunta do homem, mas ela decidiu não considerá-lo. Sua resposta seria transparente para a pergunta transparente.

— Não, muito raramente na verdade. Uma vez ou outra Ronnie quer contar algo particular para mim, mas nunca nos afastamos completamente dela como agora.

— E como você se sente?

— Uma criminosa — Eliza sorriu.

— Uau — ele ironizou — realmente esse foi um ato transgressor das leis. Você merece no mínimo trinta anos de prisão.

— É muito para mim. Eu comentei com você que nunca nem ao menos tinha caminhado de madrugada aquela noite na... — Liz vacilou por alguns instantes — bem, aquela noite na Grosvenor Square.

Ela olhou para o outro lado. De repente assistir as crianças brincarem de roda parecia uma escolha muito mais sensata do que olhar para o marquês. Frederick aparentemente também não estava interessado em relembrar o assunto. Ele saiu da teia tão rápido quanto entrou.

— E agora nós fazemos o que?

Eliza pensou por alguns segundos.

— Podemos transgredir mais regras ou simplesmente achar um dos bancos e observar o movimento. Se nós ao menos estivéssemos mais perto da base do Serpentine nós poderíamos velejar...

— Seria emocionante.

— Você prefere o que? — ela arqueou uma sobrancelha — Brincar de roda como as crianças atrás de nós? Já não basta ficar girando pelos salões nos bailes, no Hyde Park também...

Frederick se aproximou pegando suas mãos. Ele estava tentando girá-la, mas Eliza cravou os pés no chão e manteve-se apoiada na árvore, recusando a sair do lugar. Lord Morley parecia concentrado na missão de rodar a companheira enquanto lady Eliza se divertia com o fracasso dele. Ver Frederick Morley perder em qualquer coisa tratava-se de um prazer enorme.

— Vou derrubá-la — Freddie avisou.

— Tente.

— Você não quer que eu tente.

— Quero.

— Eliza...

— Frederick...

Ele mordeu os lábios.

— Você me chamou de Freddie no quiosque. Percebeu?

Eliza concordou com a cabeça.

— Tomei à liberdade. Isso acontece ás vezes. Caso tenha sido muito indelicada peço perdão.

— Será outra troca mútua? — ele se aproximou mais um passo.

Lady Eliza prendeu a respiração. Ele estava muito perto. Bem mais do que deveria. Ela conseguiu sentir a pressão da perna dele contra o tecido de seu vestido, e por Deus, quis muito sentir novamente o calor de sua pele.

— Troca m-mútua? — a voz de Eliza inconvenientemente falhou.

— Como a do sorvete — ele explicou — você poderá me chamar de Freddie se em algum momento eu ter a liberdade de chama-la de Lizzy.

— Considerando o fato de que nunca que você pronuncia meu nome de uma maneira carinhosa ou amigável essa é uma troca irrelevante. Sua voz ao dizer lady Eliza, repleto de desprezo, é impagável. Chamar-me pelo apelido quando está tentando me ofender não trará o mesmo efeito.

Lord Morley deu de ombros, se afastando.

— Apenas sou bastante sincero a respeito do que estou sentindo, mas minhas palavras não são ditas propriamente com a intenção de soarem ofensivas.

Mentiroso! Frederick era tudo menos sincero quando o assunto eram os próprios sentimentos. A questão era que ele não iria confessar isso para ninguém. Muito menos para lady Eliza.

— Eu nunca insinuaria o contrário, milorde.

Eliza sorriu, saindo do apoio da árvore avançando mais pelo gramado onde poucas pessoas transitavam. Era uma área ainda do parque, porém com mais árvores e mais afastada da trilha principal. Lord Morley a seguiu em silêncio. Um sorriso divertido se formou nos lábios dele ao ver a mulher saltitante, deliciando-se pela sensação de não estar sendo vigiada por ninguém.

Uma brisa refrescante bagunçou um pouco o cabelo de Liz, mas ela não se importou. Pulou um tronco caído no meio do caminho e olhou para trás, checando se Frederick estava a seguindo e se ele estava se divertindo tanto quanto ela. Sim, ele estava. Estava se divertindo justamente porque a alegria que Eliza irradiava era maior do que qualquer coisa nesse instante.

Entretanto a única reação do marquês foi provocar. Ele saltou o tronco também e sorriu.

— Você parece um pássaro com essa coisa gigantesca na cabeça.

Lady Eliza revirou os olhos rindo. Ela continuou avançando de uma maneira curiosa. Quanto mais lord Morley se aproximava maior era a distância que Liz colocava entre os dois.

— Frederick, acho que você está apaixonado pelo meu chapéu. Eu não imaginaria isso de você, mas posso ajudá-lo. Quer um de presente?

— Apenas se você me devolver meu casaco.

— Ah, não tenho certeza se deveria... — Eliza tocou em algumas folhas de árvores mais baixa, dançando com a mão no ar.

— Deveria. É meu casaco.

— Era — ela sorriu — agora será meu para sempre. A propósito, acho que ele combina muito bem com meu chapéu...

— A não ser que ele caia acidentalmente no Serpentine.

Eliza estreitou os olhos. Frederick também. Por fim ela deu de ombros, abaixando-se por um instante para pegar uma flor muito bonita, mas caída ao chão. Ela parecia ter sido arrancada há pouco tempo, mas era uma pena. Tão bonita.

— Milorde não seria capaz de qualquer maneira — disse, apertando mais o chapéu apenas por garantia.

— Não?

— É claro que não, — ela suspirou — acredito que ainda haja o mínimo de senso em você.

— Duvido muito.

Lord Morley apressou os passos em direção á lady Eliza. Ela demorou a perceber que ela era o alvo do marquês, dessa forma, ela passou vários segundos analisando a delicada flor. Quando notou que o homem avançava justamente em sua direção ela correu. Seus passos eram ágeis para alguém de seu tamanho, ainda assim a altura de Frederick foi suficiente para que ele a alcançasse sem muito esforço. Ela pulou para o meio das árvores, esquivando-se entre elas e mantendo a maior distância possível dele.

— Quer mais sorvete? Um de chocolate dessa vez — Frederick levantou uma sobrancelha — apenas me dê esse chapéu.

— Ah, faça-me o favor. Não é possível me comprar apenas com um sorvete, Frederick.

Ele correu até a árvore que ela estava de uma vez, mas Eliza conseguiu girar, mantendo-o sempre do outro lado do tronco. Se ele se aproximava um passo para a direita, ela se afastava um passo para a direita, se ele se afastava dois para a esquerda, ela se afastava dois para a esquerda. Era o justo.

— Se não posso comprar sua bondade com sorvete, posso comprar com o que?

Liz pensou por alguns segundos, mas não tinha nenhuma ideia boa e sarcástica ao mesmo tempo.

— Não sei.

— Beijos?

— O quê?!

Eliza paralisou-se olhando petrificada para Frederick. Ele aproveitou a deixa para avançar os dois passos que os separavam, por trás dela. Lord Morley colocou o peito nas costas dela e passou o rosto por cima do ombro de Eliza. Ela se assustou, tentou desvencilhar-se dele, mas Frederick a segurou.

— Conselho número um para distrair seu oponente: diga coisas absurdas para que ele fique chocado demais para reagir.

— Alguém pode nos ver... — ela se remexeu.

— E depois... — Frederick levou suavemente uma das mãos até o laço de seu chapéu, desfazendo-o — consiga o que quer. Simples.

Ela tentou mais uma vez desvencilhar-se do marquês antes que alguém aparecesse. Eliza inegavelmente irritada, mas mesmo assim havia vestígios de diversão em seu rosto. Estava vermelha em um misto de vergonha, irritação e riso. Ela projetou os quadris para trás e tentou tirar os braços de lord Morley de cima de seus ombros. Nesse instante o homem se paralisou como ela há alguns instantes.

Frederick sentiu perfeitamente o corpo dela contra seu quadril. Ele enrijeceu-se no mesmo instante e respirou fundo. Seus braços perderam a força e ela conseguiu se afastar. Eliza recuou três passos, cruzou os braços e cravou os olhos azuis no homem.

— Alguém poderia ter visto.

— Estávamos... Brincando — ele disse tentando se concentrar em qualquer outra coisa para disfarçar o volume.

Lord Morley se apoiou na árvore e olhou para cima. Um pássaro fazia um ninho ali. Ele tentou se lembrar da infância, quando foi mostrar um ninho para Cordelia e viu a mamãe passáro alimentando os filhotes pequenos, feios e pelados. Ele, aos onze anos, considerou aquela cena a coisa mais nojenta do mundo. Talvez se lembrasse daqueles filhotes sem pelagem...

— Lord Morley. — Eliza chamou, preocupada — O que houve?

Hum? — ele murmurou.

— Você ficou estranho de repente.

Ele negou com a cabeça e tentou dizer qualquer coisa, mas sua voz saiu mais como um grunhido. Eliza arregalou os olhos, surpresa.

— Tudo isso pelo meu chapéu? Certo. Confesso que escolhi o mais feio de propósito, mas é porque há algumas horas a única coisa que eu sentia por você era nojo — confessou — queria te irritar de todas as maneiras possíveis. Mas então nós tomamos sorvete, você tentou soar sincero e não sei, o sabor doce e gelado melhorou um pouco meu humor.

Ela sorriu. Frederick conseguiu sorrir também, mesmo que ainda estivesse concentrado em seus próprios negócios. Eliza tirou o chapéu e se aproximou dele lentamente. Era perceptível que de repente ela ficou um tanto tímida. Talvez, quando suas ações requeriam mais seriedade, ela se lembrava de que era a Eliza Gunning. Insegura, desajeitada e nada atraente. E lord Morley era lord Morley. O completo oposto dela.

Ainda assim... Ainda assim ela tirou forças de dentro de si, posicionou-se bem na frente dele e sorriu fraco, colocando o chapéu sobre a cabeça do marquês. Eles ficaram frente a frente, os olhos de Frederick em Eliza e os olhos dela bem para cima, focando no cabelo dele. Em outras ocasiões ele nunca aceitaria colocar um chapéu feminino. Muito menos aquele. Mas era diferente.

Era Eliza.

E ele achou que poderia fazer tudo por ela.

Inclusive beijá-la.

Frederick inclinou a cabeça, pronto para capturar os lábios dela, mas Eliza percebeu e desviou. Olhou para baixo, uma pontada horrível no coração por rejeitar aqueles lábios, mas sabia que não podia.

— Estamos em público.

— Lizzy... — ele sussurrou, implorando por ela.

— Não podemos.

— E se não estivéssemos?

— Não sei, — Eliza disse, pois era a mais pura verdade — eu simplesmente não sei.

— Você me deixaria beijá-la?

Ela ergueu o olhar em uma pontada de dor. Frederick Morley estava brincando com ela e ela estava sendo uma tola. Aquele homem não poderia querer beijá-la. Não fazia sentido algum. Sabia que estava sendo uma idiota, que deveria apenas dar meia volta e procurar pela Srta. Hedwig, mas não pôde. Eliza cravou os olhos repletos de magoa nos de Frederick.

— Beijar-me? Beijar-me como você fez com lady Stephanie?

Lord Morley a olhou incrédulo. Ele ficou tão chocado com as palavras dela que sua primeira reação foi rir. Era irônico Eliza acusá-lo de beijar Stephanie Churchill quando na verdade era a própria Eliza que despertava os desejos mais profundos e incontroláveis nele. Como ela poderia ser tão ingênua? Como ela não conseguia ver o quanto o fazia pulsar de desejo?

— Ah, Eliza — ele riu — você definitivamente não tem ideia do que diz. Não tem a mínima ideia.

Ela ergueu o queixo.

— Então me corrija. Se estou tão errada, diga para mim estou errada. No último baile eu estava ao seu lado, mas todas suas atenções foram para Churchill...

— Era com ela que eu estava dançando, Eliza.

— Indiferente. Além de que aquele dia no parque você disse que a beijaria. Disse que a beijaria de uma maneira nada delicada, lord Morley. — Lady Eliza disse dando ênfase em seu ultraje.

— Não beijei, mas sonhei várias vezes com esses beijos — ele olhou no fundo dos olhos de Lizzy — entretanto em nenhum desses sonhos era lady Stephanie que eu estava beijando.

As pernas de Eliza vacilaram.

— Apenas não me pergunte quem era.

Não precisava. Eliza compreendeu cada sílaba oculta de suas palavras. Isso só fez com que sua ação seguinte fosse mais dolorida ainda. Com muito pesar ela recuou. Mordeu os lábios, olhou para baixo e respirou fundo, recompondo-se. Lord Morley também saiu do apoio da árvore, tirou o chapéu e devolveu para Eliza, que aceitou com um sorriso fraco.

— Temos que ir, — o marquês disse — não podemos abusar da sorte.

— De forma alguma — concordou.

Silêncio. Eles iniciaram a caminhada de volta pelo mesmo caminho que haviam trilhado entre risos anteriormente. Agora, entretanto, havia uma estranha tensão entre eles.

— Quando nos veremos novamente? — ele perguntou de supetão.

Eliza pensou por uns instantes.

— No baile de Harrison? — sugeriu — Mas não tenho certeza. Em breve vou para Somerset de qualquer forma...

— Somerset?

— Temos nossa propriedade lá. Inclusive Alberdeen, seu grande amigo, é nosso vizinho. Vou passar alguns dias com meu pai, Stanley, Titia Daisy e talvez minha avó. Apenas não sei exatamente o dia, tenho algumas coisas para resolver em Londres antes... Talvez meu pai vá antes e eu vá depois com Stanley. De qualquer forma o baile dos Harrison será meu último compromisso em Londres até o casamento de Ronnie.

— Compreendo, — Frederick murmurou — uma pena. Não gosto de conversar com você com tanta gente em volta.

— Ah, lord Morley. O destino é cruel conosco. Com certeza nosso caminho irá se cruzar outras vezes.

Ele sorriu com o canto dos lábios.

— Bem... Eu espero que sim.

Eliza assentiu, arqueando uma sobrancelha em desdém e fazendo o possível para abafar aquele — involuntário — sorriso que insistia em capturar seus lábios.

— Humpf, lord Morley — ela ergueu o queixo —Eu também.
•••
Antes de tudo eu gostaria de pedir perdão para qualquer erro. O capítulo não foi corretamente revisado, pois não estou nos meus melhores dias, mas não queria deixar vocês na mão 💗

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