Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Trinta e Quatro: Temor

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By alinemoretho

— Ei! Reconhece esta rua? — questionou Victor e bastou erguer os olhos para que eu perceber onde estávamos.

Claro que eu conhecia aquela rua!

Foi ali onde passei toda a minha infância correndo, andando de bicicleta, brincando com meu pai e irmãos. Tudo ali era tão familiar e mesmo assim eu não conseguia deixar aquela agonia e estranheza de lado. Senti até mesmo minhas vísceras contraírem e logo dei conta que o momento de rever a todos estava chegando.

Mordi meu lábio, deitei a cabeça no encosto do banco e cobri meu rosto.

Por que eu precisava ser tão fraca e inconstante?

— Ah, Jesus, me ajuda! — murmurei aflita.

— Mabel, fala pra sua mãe que ela não vai ganhar o prêmio se começar a surtar novamente — Vic pediu em tom de brincadeira para a bebê agitada na cadeirinha, enquanto já se preparava para estacionar o carro em frente aos portões da minha antiga casa. — Converse comigo, Sarinha.

Na última meia hora, ele se empenhou em me distrair, contando os apuros que já passou enquanto cuidava de seus pacientes. Ok, precisei admitir que, quando contou da vez que um bebêzinho fez xixi em seu jaleco ou do dia em que uma menininha mordeu sua perna com medo de tomar injeção, o espertinho conseguiu me fazer rir. Contudo, apesar de me esforçar, eu não conseguia ficar completamente calma diante da situação em vista.

— Há mesmo um prêmio? Ou você só prometeu isso porque queria me manter ocupada para que eu não pensasse no jantar? — Meus olhos estavam vidrados, observando cada detalhe do lugar de onde um dia saí e eu buscava aliviar a tensão balançando minhas pernas freneticamente. — Minha barriga está doendo.

— Bem, você me pegou, eu realmente queria distrai-la durante esse tempo em troca de uma recompensa que você só receberia caso ficasse calma. — A velocidade foi diminuindo e ele foi parando o carro. — E bem... — Puxou o freio de mão e, após se soltar do cinto, alcançou uma caixa escondida em baixo do banco do passageiro. — Aqui está, você conseguiu.

Sem entender muito bem, eu segurei e analisei o pacote com embrulho cor de rosa.

— O que é isso? — perguntei confusa e impressionada, pois Victor realmente se esforçava para me deixar confortável com tudo.

— Abra — incentivou e eu, tomada pela curiosidade, abri tudo sem o menor cuidado.

Quando acabei de rasgar a embalagem colorida e retirei a tampa da caixa, fiquei em choque com o conteúdo ali dentro. Meus olhos se encheram de lágrimas e um nó foi tomando conta de todo o espaço livre da minha garganta.Tratava-se de um porta-retrato lindo com duas fotos muito especiais. A primeira imagem mostrava meus primeiros dias de vida com mamãe e papai me levando pra casa do hospital onde nasci e meus irmãos ao lado deles rindo à beça. Já a segunda eu aparecia novamente, mas dessa vez segurando e divertindo Mabel com minhas brincadeiras.

— Seu pai deixou eu pegar a primeira foto e eu tirei a segunda ontem sem você perceber — informou me observando com cautela. — Pensei que mostrando essas boas lembranças, você perceberia o quanto é amada pela sua família. Gostou?

Soltei o ar devagar e toquei a imagem, sentindo-me completamente emocionada.

— Eu amei! Amei! Amei muito! — Sorri empolgada e enxuguei meu rosto usando as mangas do casaco. — Você é incrível, Victor, obrigada!

— Viu só? Valeu a pena esperar — Ele piscou com certo charme. — A outra surpresa você só ganhará após o jantar, estamos combinados?

Concordei e voltei a encarar aquele precioso presente em minhas mãos. Senti pulsar no peito a saudade dos anos anteriores, quando minhas preocupações eram apenas decidir a cor dos vestidos das bonecas ou chantagear meus irmãos em troca de doces. Tudo, no entanto, mudou tão drasticamente. Eu mesma já havia perdido as contas das incontáveis transformações pelas quais passei na minha vida, principalmente nos anos em  que estive fora de casa. De um momento para o outro tornei-me adulta, ganhei independência e ao mesmo tempo virei mãe e responsável por alguém completamente carente dos meus cuidados. Nada mais voltaria a ser como antes e mesmo assim, lá estava eu, voltando ao ponto inicial.

— Ei? Sarah? Você não vem? — Victor perguntou e eu percebi que o meu devaneio deu a ele tempo o bastante para deixar o carro e ainda tirar Mabel da cadeirinha sem que eu percebesse. Caindo em si, eu guardei todos os meus pertences, fiz e saí, levando comigo todas as coisa da bebê.

Victor trancou tudo e nós andamos em silêncio até o sobrado. Só naquele curto caminho, eu pensei várias vezes em desistir de tudo e voltar para o Instituto. Estremeci quando nós paramos em frente ao portão vermelho e contemplei primeiramente o quintal, meu cenário preferido quando costumava fantasiar que era uma princesa. Forçando a visão, notei a grama verdinha no chão, o carvalho frondoso e, pendurado em um de seus galhos grossos, o balanço feito por papai para mim em um de meus aniversários. Milhares de boas lembranças me encheram a mente e sorri um pouco.

"Como eu gostaria de não ter partido" pensei com pesar. "Agora nada será como antes".

— Pronta? — Victor mais uma vez invadiu meus pensamentos e quando o vi adiantando-se até a campanhia um novo desespero tomou conta de mim e eu puxei o braço dele.

Eu não sabia o porquê de tanto medo. Meu pai já havia me perdoado e aquele deveria ser um momento único em nossas vidas. O momento em que eu voltaria para casa. Mas eu me sentia insegura e não podia explicar a razão.

— Eu...

— Ei, me dê a sua mão — Victor pediu calmo ao contemplar meu estado de aflição e eu atendi a ele. — Vamos orar.

Ergui uma sobrancelha e observei o movimento de vizinhos passeando pra lá e pra cá.

— Aqui?

— Feche seus olhos — instruiu com firmeza. Ele foi o primeiro a seguir o comando e eu o acompanhei. — Senhor, nós estamos aqui desejosos em fazer aquilo que é correto, buscamos consertar nossos erros e honrar o seu nome com isso. O medo, no entanto, tem sido um inimigo e nós te pedimos ajuda para entregar nosso caminho a Ti, confiar na sua graça e descansar no seus cuidados. Esteja conosco nesse jantar e abençoe nossas famílias, conforme a tua Santa e perfeita vontade. Nós te amamos e oramos no nome de Jesus, amém. — Ao encerrar a oração, não fiquei tão calma quanto gostaria, mas senti paz o suficiente para ter certeza que o Senhor pastoreava minha alma. 

Victor, ligeiro, apertou o botão, fazendo soar um barulho enganiçado. Os cachorros no quintal apareceram, começaram a latir, chamando a atenção de seus donos e ficaram muito animados ao me verem, pois já me conheciam.

— Respira, Sarah — instruiu Vic, mantendo o tom de voz ameno.

Enchi os pulmões com uma grande quantidade de ar, soltei lentamente e estava prestes a repetir o movimento quando ouvi um barulho soando acima de nós.

— Oh! Vocês chegaram! — Eu ouvi uma voz eufórica e familiar e estranhei erguer a cabeça e ver minha amiga Gabi debruçada sobre o batente da sacada no andar superior. — Já desço com as chaves.

Ela voltou para dentro e, franzindo o cenho, encarei Vic em busca de respostas que explicassem o porquê de minha melhor amiga estar presente num jantar oferecido supostamente para a família. Eu não estava reclamando, afinal amava Gabriela, mas, sinceramente, algo não fez sentido na minha cabeça.

— Você logo entenderá — adiantou Vic e sorriu gentil.

A espera me deixou tensa, por isso dei um jeito de me acalmar, observando Victor fazendo a bebê gargalhar.

Minutos depois uma luz clareou o topo da escada principal e a porta que dava acesso a sala de estar foi aberta com força.

— É a Sarah! A Sarah chegou! — ouvi a inconfundível voz de Davi exclamar com grande euforia e não muito depois ele saiu e se adiantou para as escadas as quais desceu em grande velocidade.

Não tive muito tempo de absorver a velocidade com a qual tudo estava acontecendo, mas meu coração respondeu batendo como nunca. Eu mordi o lábio quando vi meu irmão abrindo o portão, fechei meus olhos e como, Vic citou na oração, entreguei tudo nas mãos de Deus e ao abrir os olhos novamente, fui, inesperadamente envolvida pelos braços do meu irmão.

— Você veio! — Ele murmurou, parecendo estar bem emocionado e acariciou meus cabelos. — Eu orei tanto por esse dia. Sabia que na hora certa você voltaria por vontade própria.

Eu o encarei e tal como ele, meus olhos também estavam marejados.

— Não está sendo fácil. — Encarei-o, sentindo as lágrimas descendo. — Você tinha razão, Davi, eu fiz muito mal a nossa família e, ao contrário do que pensei, só os machuquei quando parti. Me perdoa, maninho. Por favor, me perdoa.

Davi segurou meu rosto e secou minhas lágrimas com o polegar.

— Eu também quero te pedir perdão, Sarah. Era minha função ter te convencido a voltar, mas quando te vi com o Victor aquele dia no instituto, meu preconceito me fez pensar que nada havia mudado — ele contou com pesar. — E por mais que vocês dois tenham feito muitas coisas estúpidas no passado, eu fui injusto em não ouvi-los e, com certeza, deveria ter falado com o pai.

— É, você foi um idiota — brinquei e acertei um soco fraco no ombro dele. — Mas tinha razão, eu não estava pronta para rever todo mundo.

— Agora está? — Ele ergueu uma sobrancelha e eu assenti sem muita convicção, e, mesmo assim, ele sorriu abertamente. — Nós ainda temos muito a conversar, porém seja bem-vinda, Sarah! — ele saudou contente e como nos velhos tempos, bagunçou meu cabelo. Logo depois, se afastou um pouco e eu pude avistar Jonas surgindo logo atrás dele.

Meu irmão mais velho era grande e meio bruto, e quando parou diante de mim, sua expressão estava um pouco séria, me fazendo pensar que ele ia gritar comigo ou algo assim, mas não. Nem toda a sua pose de durão o impediu de se aproximar contrito, me abraçar, erguer do chão e ainda rodopiar comigo como se eu fosse uma boneca.

— Oh, Jonas! Quanto tempo! — declarei ofegante logo após de ser liberta daquele urso gigante.

— Ah, sua menina! Você fugiu de nós. — Ele apertou minhas bochechas e em seguida me apertou mais. — Senti muito a sua falta.

Quando virei meu rosto contemplei uma cena inusitada que me chamou a atenção. Davi se posicionou ao lado de Vic e, além de cumprimenta-lo também encarou meio perplexo a bebê.

— Então essa aqui é sua filhotinha, Sarah? — Davi questionou completamente perplexo em suas observações com a menininha.

— É a nossa ovelhinha — Victor corrigiu por mim e aconchegou Mabel quando ela escondeu o rosto no ombro do pai, procurando fugir de seu tio curioso.

Jonas também se interessou e, me deixando de lado, foi até Victor e se mostrou igualmente chocado.

— Parabéns aos dois! Ela é uma fofura — Jonas elogiou e tentou fazer uma gracinha que não deu muito certo, pois Mabel chorou diante dos dois estranhos. — Desculpe, desculpe!

— Oh, filha! Dê um desconto. Eles são seus tios — falei com aquela voz fina e foi só ela me ver mais perto para se jogar em minha direção, pedindo colo. — Não se preocupem, Logo ela se acostuma com a feiura de vocês — consolei-os ao ver aqueles dois com cara de tacho.

— Muito engraçadinha, Sarah! Deixe você! Logo ela terá um tio favorito e será eu! — gabou-se Davi.

— Vai ter que lutar comigo, moleque — contrapôs Jonas todo engraçadinho. — E se quer saber, não é você quem decide isso.

— Andem logo, garotos! — gritou uma voz feminina e desconhecida do andar superior.

Ao ouvirem o chamado, os meninos logo se preocuparam em nos chamar para entrar. Eu fiquei ainda mais tensa quando começamos a subir os degraus e preferi permanecer perto de Vic que insistiu em segurar a bebê nos braços enquanto seguíamos para o interior da casa. Sua presença me tranquilizava.

Antes de chegarmos ao topo, a porta foi novamente aberta, dessa vez por papai, que parecia completamente eufórico.

— Minha gatinha. — Ele me cumprimentou com um beijo longo na testa. — Desculpe não ter descido com os meninos. Eu fiquei ansioso e acabei quebrando um copo. Fico feliz que tenha vindo.

Sorri e achei a ansiedade dele fofa.

— É bom te ver, papai. Por pouco eu não teria vindo. — Alisei as costas dele. — Mas graças ao Senhor Jesus e a insistência de Victor, fui convencida.

Papai lançou um olhar na direção do rapaz que se prontificou em se aproximar para apertar a mão estendida do meu velho.

— Obrigada por ter me ajudado, meu querido! — Papai deu algumas batidas nas costas do rapaz. — Agora passe essa gordinha pra cá. — Ele esticou os braços e chamou Mabel para o seu colo. Ela se recusou, é claro. Queria mesmo ficar grudada ao seu pai até não poder mais. Mesmo assim Victor deixou a bebê no colo do Seu Flávio que a apertou como um ursinho. — Lembra do vovô, querida? Vem, vamos conhecer suas tias. Elas estão se esforçando muito para desenformar um pudim! Acredita nisso?

Tias?

Antes que eu pudesse perguntar, papai me incentivou a segui-lo pelos cômodos. Ele foi na frente e durante alguns instantes aguardei Vic para me acompanhar, porém não levei muito até perceber que Davi e Jonas o cativaram para uma conversa séria. Por isso, resolvi entrar em casa sozinha.

Meus olhos analisaram cada pedacinho daquele lugar. As paredes, as mobílias, os quadros, nada havia sofrido mudanças drásticas e isso só contribuiu com o sentimento de nostalgia brotando em meu peito. 

Suspirei e prossegui seguindo o caminho que bem conhecia até a cozinha de onde um cheiro maravilhoso de comida fresca vinha.

— É bom você ir aprendendo, Dani. Logo será sua vez — Gabi quem disse. — Ela não é uma lindeza? É sim! Linda da tia!

— Preciso me dar bem com bebês, logo menos Lucas estará aqui para brincar com a nova priminha!

O que estava acontecendo? Eu não estava entendendo nada.

— Venha! Venha, Sarah — papai chamou quando me viu a espreita da porta da cozinha. — Venha falar com suas cunhadas.

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