Quatorze: Reconciliação

5.3K 924 246
                                    

O dia na chácara foi extremamente proveitoso e me ajudou a desocupar a mente esquecer alguns de meus muitos problemas. Passei bons tempos com as garotas do instituto e os irmãos da igreja ouvindo a palavra de Deus, desfrutando de momentos de comunhão e lazer, comendo, brincando com as crianças e até assistindo o jogo animado de futebol entre os homens da congregação.

No fim da tarde Amanda reuniu todas as moças para ir embora, mas ninguém queria partir e deixar aquele ambiente abençoado onde fomos tão bem acolhidas. Nossa líder ainda foi boazinha e nos deu um tempo a mais para tomar o café da tarde e ainda dizer adeus a todos as novas amizades ganhadas.

— Não acredito, vocês já vão? — lamentou Coelho ao se aproximar e sentar ao meu lado nos bancos onde eu dava papinha para Mabel enquanto secava seu cabelo molhado utilizando uma toalha.

— Olha só filha, o tio Coelho não está mais todo fedido e suado — brinquei e ele fez uma careta engraçada.

— Ei! Meu time foi campeão. Não desonre meu esforço — o rapaz deu uma bronca em tom sério, mas perdeu toda a compostura quando a bebê riu da cara dele. — Ora, venha cá, sua menininha! — Ele tomou Mabel de meus braços e a fez rir ainda mais com as cócegas.

— Se eu fosse você, escutaria meu conselho de mãe e não a balançaria tanto depois dela ter devorado um pratão de banana amassada — adverti e caí na risada com a rapidez com a qual a bebê voltou para o meu colo.

Nós dois ficamos conversando durante alguns instantes e eu me diverti com as narrações enérgicas do rapaz de como fez vários gols, se mostrando, segundo ele, a estrela do time. Fiquei feliz em ver como nossa amizade cresceu rápido, dando a impressão de que já nos conhecíamos a décadas.

— Sabe, Sarah, essa tarde me fez mudar muitos dos meus conceitos a seu respeito — Coelho confessou. — Já ouvi muitas coisas sobre seu caráter lá na igreja, nem todas positivas, infelizmente.

— Eu entendo, afinal sou a filha pródiga do pastor Flávio — respondi um pouco triste. — Meu pai sempre foi duro comigo e eu senti um peso muito grande nas costas quando minha mãe morreu e eu precisei assumir todas as tarefas na casa. Juntando esse fator com a minha rebeldia natural, eu acabei fugindo quando as coisas ficaram tensas.

Coelho me olhou por alguns instantes. — Você deveria mostrar a nova Sarah pra ele. Cristo mudou seu caráter e você é uma nova criatura.

— É, têm razão — assenti em meio a um suspiro. — Porém, ainda existem pendências para eu resolver antes de reencontrar minha família.

— Com o Victor, não é? — perguntou direto e eu afirmei com a cabeça. — Ele também é uma nova criatura, Sarah. E sabe como eu sei disso?

— Ele te contou, eu suponho — presumi um pouco desconfortável com o assunto.

— Sim, mas nós dois fizemos discipulado com o seu pai e fomos batizados no mesmo dia — Coelho informou me pegando de surpresa. — Por isso, somos tão amigos.

— Então, meu pai sabe do meu relacionamento com o doutor — constatei embarassada.

— Sim, Victor contou tudo e pediu perdão ao pastor — ele informou — Apesar disso, acredite ou não, hoje eles são quase como pai e filho.

— Isso realmente é difícil de crer — eu comentei e demorei algum tempo para digerir tudo aquilo. — Meu pai sempre foi tão durão, Victor não o conquistaria facilmente.

— Sim, é mesmo, mas foi a vontade de Deus — garantiu e acariciou a cabecinha de Mabel.

Eu sorri meio contrangida pra ele e em seguida ouvi a voz de dona Socorro me chamando para partir.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now