~ Dener ~
(Uma semana antes)
Fiquei de braços cruzados com um olhar sério em sua direção. Não desviei, e muito mal piscava. Meu maxilar tinha travado de tanto tempo que eu estava a encarando dessa forma, e pretendia ficar assim por muito mais tempo até que ela mudasse de ideia.
Quando me dei por vencido, vendo que a mesma estava mais interessada em corrigir trabalhos do que em prestar atenção no meu olhar de ódio, bufei e entreabri a boca.
- Since...
- Não. - Ela me cortou sem me encarar. - Já está decidido. Não me faça te expulsar da sala, Dener.
Me levantei do sofá e dei um tapa na mesa que ela usava para colocar os trabalhos. Minha mãe mordeu o lábio se contendo e ergueu seu olhar pra mim, parecendo começar a ficar com raiva.
- Da pra me escutar? - Falei de uma vez. Rita fez sinal para que eu continuasse. - Babá, mãe? Você jura?
A mesma respirou extremamente fundo. Pegou todas as folhas e as colocou em pilha, batendo na mesa na intenção de organiza-las. Em seguida, colocou no canto, e pôs outra pilha em sua frente.
Esse silêncio estava me agonizando. Sério que íamos ter que bancar os difíceis? Justamente quando é tudo que eu menos preciso.
- Não éramos nem para estarmos tendo essa conversa. - Disse sem me encarar.
Dei uma risada sarcástica, negando com a cabeça devagar.
- Ah, não? Tantas coisas para você me oferecer, e justo um trabalho para cuidar da filha mimada da sua amiga?
Então Rita me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Você tem vinte e um anos, estar trabalhando e não importa com o que seja, não é mais que sua obrigação! - Ela fechou os olhos, respirando devagar e tentando se conter. Me rendendo ao cansaço, sentei no chão, do outro lado da mesa e encarei minha mãe atentamente. - Filho, a Diana disse que se você se sair bem como supervisor da Amber, ela vai te dar um emprego no escritório dela, ou então na empresa do James. Sei que a filha deles não deve ser flor que se cheire, só que vai ser temporário, apenas por um ano. Fora que eu estou ralando muito nas escolas, e preciso da sua ajuda para bancar a casa. Sabe como as coisas tem sido difíceis.
Minha mãe, conhecida por todos como Rita, é professora dos alunos do ensino médio público. Sustenta a casa sozinha e trabalha em três escolas diferentes. Duas ela vai revezando pelos dias semanais, e uma é a noite. Sempre cuidou da casa com muito lazer, mas então meus irmãos vieram. Um casal de gêmeos levados que eu amo muito, mas que pesou nas contas, e acabou fazendo minha mãe procurar diversas formas de trabalhar de forma excessiva por causa do dinheiro.
Ela e meu pai se separaram assim que os gêmeos completaram nove anos. Sabendo que minha mãe não podia lidar com o emprego e as crianças, meu pai fez um acordo de que levaria eles para morar com ele, e eu ficaria aqui para ajudar minha mãe.
Sendo que desde que terminei meu ensino médio, não me apareceu trabalho nenhum. Tentei a sorte distribuindo alguns currículos, só que não deu em absolutamente nada. Não penso em fazer faculdade, só que ficar atoa não é uma opção.
Depois de ouvir isso, me senti mal por ter gritado com ela. Devia me lembrar que tudo que a dona Rita faz, tem um motivo. Se está pesado pra ela, então pra mim também está. Vou fazer o possível para melhorar as coisas.
- Me desculpa, mãe. Não foi intenção gritar com você. - Ela me deu um sorriso acolhedor. Coloquei minha mão por cima da sua. - Vou supervisionar a filha da Diana direito, te prometo.
- Obrigada, Den. Mas saiba que quem te contratou foram os pais dela.
Franzi as sobrancelhas, confuso.
- O que quer dizer?
- É capaz da Amber tentar te por pra baixo, ameaçar e essas coisas. Qualquer adolescente emburrado com os pais faria o mesmo. Não leve nada do que ela disser em consideração. Se a Diana e o James te encarregaram disso, é porque colocaram isso em um nível quase máximo, então não vão te demitir por simplesmente trocar umas desavenças com a filha rebelde. Se deixar se intimidar é pior, entendeu? - Concordei com a cabeça.
Ela pegou minha mão que estava por cima da sua e deu um beijo, sinalizando que confiava em mim pra isso. Não evitei sorrir e acariciar sua mão de leve.
- Amanhã eu termino isso, preciso descansar. - Disse se levantando e juntando os papéis excessivos que estavam ali.
A observei calmante enquanto juntava tudo, e quando o fez, chamei sua atenção.
- Mãe, se você diz que esse é o nível quase máximo, o que seria o seu máximo?
A mesma me encara por uns segundos, e então umidece os lábios devagar.
- Se eu tivesse uma filha que vive dando festas, quebrando a casa, dando prejuízo com o carro e essas coisas, e não tivesse mais com cabeça pra dar castigos médios. Ou mandaria para um internato, ou para morar com algum parente distante. - Deu de ombros antes de me deixar sozinho ali na sala, pensando a respeito.
(Hoje)
Estava tudo quieto de mais. Amber já tinha subido para o quarto há uns quarenta minutos e eu só conseguia ouvir o barulho da televisão. Estava óbvio que ela tinha fugido, mas eu também estava com uma carta na manga.
Subi as escadas pacientemente e bati duas vezes na porta antes de abrir. Quando não recebo resposta, giro a maçaneta e entro com a chave reserva que ela nem sonha que eu tenho.
Dou um sorriso ao ver que não tinha ninguém ali. Ela só queria estar testando minha paciência. Mal sabe que de otário só tenho a cara.
Peguei meu celular e disquei o número. Enquanto ligava, desci as escadas indo colocar o tênis.
Ligação On ~
Milla: Fala, meu bem.
- Ta disponível agora?
Milla: Ahh... Sim, por que?
- Vamos dar uma volta.
Milla: Okay. Pra onde?
- Não sei, mas já vou descobrir.
Milla: Tudo bem então. Passo na sua casa em meia hora.
- Não estou em casa. Vou te mandar o endereço.
Milla: Okay.
Ligação Of ~
(....)
Com a localização no meu celular, ele se conectou com o dela, mostrando a localização dela também. Não demorou muito para a ruiva buzinar e me fazer sair da casa, trancando a mesma e indo com as mãos no bolso ao seu encontro.
Milla abaixou o vidro preto e me encarou com um sorriso sem mostrar os dentes, não hesitei em retribuir. Dei a voltar e abri a porta do carona, entrando no carro.
Após me olhar de cima a baixo, ergueu uma sobrancelha em minha direção.
- O que ta aprontando, Dener?
Dei uma risada contida negando com a cabeça. Esqueci com quem estava lidando.
- Às vezes me esqueço que você me conhece como a palma da sua mão. - Ela suspirou.
- Vai me dizer, ou não?
Olhei para a mesma sem dizer absolutamente nada. Apenas ergui meu celular em sua direção, mostrando como ela ia chegar até o local localizado pelo meu celular.
Por me conhecer bem, sabia que nem tudo precisava ser explicado. Ou melhor, nem tudo eu gostava de explicar. O que só a deixava com mais raiva de fazer algo. Quase sempre não hesitava.
Milla passou o lábio nos dentes e bufou apertando com força o volante. Dei um sorriso vitorioso.
- Você me paga, Rossi.
(....)
Estávamos indo comprar os tickets, quando ela segura minha mão com força e me faz encara-la.
- Vai me dizer o que está acontecendo, ou não?
- Não posso mais te chamar pra sair? - Sorri de forma sinica. Ela parece não ter gostado. - Okay, é o seguinte. Eu estou tendo que ser babá de uma adolescente mimada de dezessete anos que fugiu de mim essa noite. Por sorte, o pai dela imaginou que isso fosse acontecer e colocou um chip de rastreamento no celular da garota. Ela ta aqui e agora...
- Viemos busca-la. E você me chamou para não parecer um maníaco atrás de uma adolescente? - Me cortou, erguendo uma sobrancelha.
Tirei a carteira do bolso, pegando algumas notas e deixando em mãos.
- Não. - Disse sem olha-la. - Isso tudo de tickets, por favor. - Disse dando para a mulher que ficava na bilheteria. Me virei para a ruiva ao meu lado. - Não sou dono de cachorro pra ficar correndo atrás dele. Se ela quer se divertir sem se matar, por mim tudo bem. Contanto que você se divirta aqui comigo hoje também.
Sua cara séria suavizou, dando lugar para um sorriso sem jeito, e derretido. Eu sabia que tinha a conquistado, mas não era nada menos do que a verdade.
Não sou idiota de ficar correndo atrás da Amber. Se ficar em minha vista, por mim ta ótimo. E enquanto ela faz isso, eu que não fico em casa de braços cruzados.
A mulher nos entregou alguns tickets e eu ergui o braço para Milla, que colocou o seu em volta dando um sorriso de orelha a orelha.
Passamos pela entrada que tinha várias luzes piscando e vi o quanto ela ficou admirada com os brinquedos de la.
- Em qual vamos primeiro? - Pergunto guardando a carteira.
- Túnel do amor! - Diz ansiosa.
Fomos indo na direção do mesmo e ela foi na frente. Sentamos lado a lado em uma espécie de barco em forma de um cisne rosa que boiava sobre a água azul dali.
Assim que o barco (pelo barulho era motorizado) começou a ir, apareceu dois cupidos de lado opostos no teto. Eram até que bonitinhos.
Mais à frente se escutava uma música calma e suave. A decoração era a coisa mais esperada do mundo, vários corações se abraçando, bonecos se beijando, cupidos, flores e essas coisas.
Devíamos estar quase no final quando a ruiva se virou pra mim sorrindo.
- Obrigada por ter me chamado pra vir aqui. - Disse por fim, antes de me dar um selinho bem demorado.
Assim que nosso passeio acabou, fomos na roda gigante. Lugar perfeito para eu localizar aquela encrenqueirazinha.
Subimos nos acentos e começou a subir. Enquanto a garota ao meu lado ficava dizendo algumas coisas, me certifiquei de olhar para todos os lugares que conseguia, quando vi Amber com um pessoal saindo da casa assombrada. Pareciam estar indo até a barca, então não me preocupei.
Essa garota está ferrada.
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