OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING...

Oleh autoralotorino

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❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe u... Lebih Banyak

SINOPSE COMPLETA
DISCLAIMER
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
C A P Í T U L O XX
C A P Í T U L O XXI
C A P Í T U L O XXII
C A P Í T U L O XXIII
C A P Í T U L O XXIV
C A P Í T U L O XXV
C A P Í T U L O XXVI
C A P Í T U L O XXVII
C A P Í T U L O XXVIII
C A P Í T U L O XXIX
C A P Í T U L O XXX
C A P Í T U L O XXXI
EPÍLOGO
Notas Finais + Amazon

Capítulo sem título 18

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Oleh autoralotorino

Eliza Gunning, por alguma razão, decidiu que dançar com Barclay Jones não era uma opção tão ruim assim.

Ela já estava há um bom tempo no baile, tomando limonada e andando pelas laterais, quando o encontrou próximo da orquestra. Eliza fez uma mesura, respondeu cordialmente aos comprimentos do antigo amigo, e antes que ela pudesse ir embora, o Sr. Jones a convidou para uma dança. Lady Eliza estendeu seu cartão de danças sem pesar algum, afinal, de repente a companhia dele não parecia tão absurda assim.

Frederick Morley também estava na pista de dança, mas para a surpresa de ninguém, dançando com lady Stephanie Churchill. Stephanie estava como sempre radiante. Ela girou sorrindo e, quando Frederick se aproximou para que eles unissem as mãos, ela sussurrou algo no ouvido dele que fez o marquês rir. Eliza revirou os olhos.

Barclay Jones ainda era o mesmo Barclay Jones que há tempos foi um grande amigo e há tempos a pediu em casamento. Suas inclinações a respeito de lady Eliza continuavam genuínas e fortes, ela percebeu. Entretanto, Liz não se incomodou dessa vez. Ela podia ao menos se esforçar um pouquinho para se apaixonar por ele. No fundo ela nunca tinha dado uma chance verdadeira para o amor florescer. Quem sabe o amor que ela tanto acreditava estivesse bem á sua frente e ela apenas não tivesse percebido na outra oportunidade?

Se ela fosse se casar deveria fazer isso logo. Na próxima temporada ela já estaria velha demais. Tudo bem se fosse viver como uma solteirona se não encontrasse nenhum homem adequado, mas mau algum fazia ao menos se esforçar para encontrá-lo. E Barclay não era nem de longe a pior opção que ela encontraria. Ele ainda gostava de fazer piadas sobre a sociedade, sua voz ainda era paciente e suave, e ele ainda tinha um cheiro adocicado, como de um doce de nozes. Barcaly Jones ainda era Barclay Jones. E não, isso não era ruim.

— Há tanto tempo não dançamos — o Sr. Jones comentou, girando em torno de Eliza assim que eles se aproximaram em mais um passo da coreografia.

— Sim, sim, — Liz sorriu, segurando na mão dele dando meia volta por sua direita — mas é bom ter o prazer de poder fazer isso novamente.

Barclay sorriu. Eles deram passos para a direita, trocando de lugar com Ruby Chesterfield e lord Laurens, e, infelizmente, parando o lado de lord Morley e lady Stephanie que por vez, tinha ido para a esquerda. Stephanie sorriu gentilmente, com o sorriso iluminando todo o salão, enquanto seu par não esboçou reação alguma além do mais genuíno desgosto. Os olhos de Frederick pairaram em qualquer lugar longe de Eliza. Os quatro uniram as mãos no centro e começaram a girar em torno do centro, sincronizando os passos e pulando conforme a melodia da orquestra.

Eliza tropeçou na barra do próprio vestido.

— Ops, lady Eliza — Barclay sorriu gentilmente — está tudo bem com milady?

— Ótima — murmurou.

Eles pularam. Deveriam, agora, fazer o mesmo movimento, porém para a direção contrária. Stephanie Chuchill estava bem á frente de Eliza. Ela pisou na barra do vestido dela dessa vez e a moça desequilibrou-se por alguns segundos. Maldito lord Morley fingiu ser prestativo, e a segurou, tocando seus cotovelos e impedindo que ela caísse. Seus olhos recaíram sobre Eliza de modo incriminador.

Ops,— Eliza sorriu rangendo os dentes — sou um desastre mesmo.

Lady Stephanie forçou um sorriso, puxando disfarçadamente a barra do vestido esverdeado, trazendo-o para mais perto de si. Liz continuou com os passos, esforçando-se para não pisar novamente no vestido de Stephanie acidentalmente. Ela mantinha os braços esticados, incomodada com o fato de que todos ali eram altos, exceto ela. Stephanie, por exemplo, parecia mais alta até do que a média das outras mulheres inglesas. Talvez fosse por isso que Frederick estivesse tão perdidamente atraído por ela. Ela era tudo o que Eliza não era. Seu perfeito oposto.

Será que a essa altura ele já havia beijado todo o corpo dela, como havia prometido? Eliza gostava de acreditar que não, mas sabia que talvez sim. Ele era um maldito libertino. Se tinha beijado Eliza que não era nem de longe tão atraente como Stephanie, imagine o que faria com a Churchill quando estivesse sozinho? Tudo. Tudo o que Liz não conseguia nem pensar por sua falta de experiência.

— Lady Eliza, — Stephanie puxou novamente a barra de seu vestido, dessa vez de maneira nada sutil. Ela forçou um sorriso— está um pouco atrapalhada hoje, não?

— Sinto muito — Liz respondeu quando na verdade não sentia nada.

Barclay Jones sorriu. Ele tocou levemente o ombro de Eliza por exatos dois segundos. Seu toque era tão suave, gentil, despretensioso. Nem se comparava a sensação da pele de Frederick que ardia em correntes de eletricidade.

— Assim que terminarmos a dança vou levar ela para tomar um pouco de limonada. Talvez seja o calor repentino de hoje que não esteja colaborando para a dança.

— Certamente — lady Stephanie Churcill assentiu. Eliza rosnou.

Eles terminaram os passos em silêncio. Eliza teve o prazer de nem ao menos escutar a voz de Frederick. Até os contatos visuais haviam sido mínimos. Ele estava ocupado demais concentrando todas as atenções na bela Stephanie para se preocupar com os passos nada graciosos de Eliza. Melhor assim. Isso a pouparia de extravasar muita raiva.

O Sr. Jones foi realmente muito gentil ao acompanhar lady Eliza até a mesa para pegar ainda mais limonada. Ela aceitou de bom grado, aproveitando da desculpa do calor para sua falta de delicadeza com lady Stephanie, mas eles tampouco tiveram muito tempo para conversar no salão. Assim que a Srta. Hawkins se aproximou Barclay deixou Eliza aos cuidados da amiga e foi marcar oura dança com outra dama.

Bridget sorriu.

Hum, aparentemente o Sr. Jones está tendo novamente um lugar especial em seu coração, hein?

Lady Eliza revirou os olhos com humor. Ela entrelaçou os braços nos da amiga e elas iniciaram uma singela caminhada pelo salão. Bridget estava adorável, usando tons claros — rosa e branco — e com um belo laço rendado no topo da cabeça. Ela parecia especialmente feliz aquela noite. Liz não conseguia adivinhar se era por ter tido uma dança com Charles Farnsworth, pelo elogio que recebeu de lord Hume ou pela parte do buffet dedicada aos doces de morango com nozes.

— Ele nunca teve um lugar especial em meu coração, Bridie — lady Eliza se defendeu — mas sem dúvida é um rapaz agradável. Provavelmente foi a melhor dança que tive em dias.

— Mesmo com lord Morley?

— Ao menos não trocamos uma palavra desde o dia da partida de croquet.

— Tenho certeza que foi divertido, Liz. Mesmo que você continue negando.

— Eles são loucos. Não tente entender essas pessoas populares. Eles são sanguinários até quando o assunto é atravessar uma bola entre um arco.

— Alguma hora alguém vai acabar no Serpentine — Bridget riu.

Eliza concordou com um brilho maléfico.

— Espero que sim. E espero que esse alguém seja lord Morley.

A Srta. Hawkins não pareceu levar o comentário a sério. Ela continuou o caminho normalmente, mas as palavras de Eliza eram verdadeiras. Frederick Morley deveria mergulhar de cabeça no Serpentine. Ele estava ainda mais detestável. Havia sido um patife com ela no último encontro deles e agora a tratava como uma desconhecida. Era certo de que eles não eram amigos, nem nada disso, mas ao menos deveria haver uma consideração maior. Ao menos um singelo comprimento respeitoso com a cabeça.

Nem disso o marquês era capaz.

Melhor assim. O sangue de Eliza fervia apenas por escutar o nome dele. Se ela ao menos tivesse Silewood...

Lá estava ele, conversando cordialmente com Virginia Waldorf, perto de uma das varandas. Seu olhar paciente manteve-se fixo na moça enquanto ela falava, mas no primeiro vacilo, perdeu-se pelos salões e buscou inconscientemente lady Eliza. Ela sorria para a Srta. Hawkins, ajeitando sutilmente a fita na manga de seu vestido e mantendo os olhos atentos na amiga. Seu vestido com suaves estampas florais destacava-se nela. Eliza ficava ainda mais bonita sempre que comparada a uma flor. Frederick imaginou como ela ficava sempre que recebia flores de seus pretendentes. Talvez ele devesse presenteá-la com alguma. Talvez, se não fosse um completo idiota a maior parte do tempo.

Virginia calou-se. Ela havia aceitado o pedido de lord Morley para a próxima dança, mas enquanto ela não começava os dois permaneceram ali, bem ao lado de uma das sacadas laterais. O assunto era banal. Conversaram primeiramente sobre como a decoração do salão estava agradável e, depois, sobre o imprevisível clima londrino. Virginia contava sobre como havia sido surpreendida com uma tempestade enquanto caminhava por Regent's Park, mas se interrompeu ao ver os olhos distantes de Morley.

Ela seguiu seu olhar.

— Ah, sim — disse — lady Eliza está adorável essa noite.

Frederick voltou-se para Virginia imediatamente. Ela sorriu.

— Perdão...

— Perdão digo eu, — a jovem apressou-se em dizer, apesar de não parecer especialmente arrependida — pensei que estava olhando para ela. Cometi a indelicadeza de seguir seu olhar, milorde.

Morley piscou algumas vezes. Virginia era sagaz demais. Iria dançar com ela, mas não continuaria investindo nos cortejos. Tinha uma boa aparência, boa família, mas não... Ele não suportaria ser casado com uma mulher que reconhecesse sua lamentável inclinação para lady Eliza Gunning. Aquele deveria ser um segredo de alcova.

— A próxima dança vai começar. — Lord Morley disse, ainda sem olhar totalmente para Virginia — Vamos?

Ela assentiu. Os dois caminharam para a pista de dança. No caminho seus olhos se encontraram com os de Stephanie, mas, por alguma razão, Virginia Waldorf não considerou importante ressaltar esse fato.

~~

— Peça desculpas.

— Não.

— Você sabe que deve se desculpar.

— Crosby, por Deus, apenas pare de dizer o óbvio.

— Então você vai?

— Não.

— Não?

— Talvez — Frederick resmungou.

Eles estavam na sala privada de Aaron Crosby enquanto sol brilhava com intensidade ao lado de fora. Já era tarde e o movimento na Brook Street era grande. Muitas pessoas pegavam esse caminho para o Hyde Park, para a Grosvenor Square, ou simplesmente qualquer área de West End London. Apesar disso os dois homens estavam afundados em suas poltronas, deixando que o tédio tomasse conta deles e que eles fossem consumidos pelo calor.

Junho.

— E quando você vai? — Aaron perguntou, girando o liquido de seu Raspeberry Brandy, um refrescante drink preparado por ele mesmo.

Morley pensou por alguns segundos. Ele abaixou a cabeça, pensando, mas nesse movimento um raio de sol indicia exatamente em sua direção. O marquês afastou-se, incomodado como um vampiro. Crosby continuou a brincar com o brandy.

— Não sei quando — respondeu por fim.

— Hoje?

— Não tenho flores — Frederick defendeu-se.

— Vão pensar que é um cortejo. É melhor que vá com as mãos atadas, ou melhor, leve um pequeno ramalhete de lírios ou coisa assim. Façam um passeio após isso — Aaron aconselhou — ninguém pensará que é um cortejo e as chances que ela bata em você em público são bem menores.

Ele levantou uma sobrancelha, rindo. Frederick não achou graça.

— Você não tem mais o que fazer? Não sei, ir ao Autin's com seu novo amiguinho? Parece bem melhor do que ficar me perturbando.

— Enciumado pelo Sr. Paine? Relaxe, Morley. Você sempre será meu amigo mais antigo e fiel.

— Eu teria mais ciúmes dos meus talheres do que de você.

— Palavras gentis, mas não se esqueça de que está em minha propriedade — lord Crosby sorriu — entretanto é uma ótima sugestão. Quer ir conosco? Preciso jogar meu dinheiro fora para passar melhor meu tempo.

— Talvez eu encontre vocês mais tarde. Isso depende muito de como lidarei com lady Eliza — Frederick disse — depende de como nosso encontro se suceda. É possível que eu queira ficar bêbado depois.

Lord Crosby riu. Frederick suspirou. Ele nem tinha ideia de onde encontraria um ramalhete de lírios para entregar á Eliza. Provavelmente ele arrancaria de algum jardim no caminho, tiraria as raízes e fingiria que havia sido retirado de seu próprio quintal inexistente em Londres. Não importava! Ele só precisava convidar lady Eliza para um passeio, leva-la para tomar sorvete e, com sorte, conseguir se desculpar pelo comportamento do outro dia.

O marquês despediu-se do companheiro e iniciou seu trajeto de cerca de dez minutos até a residência dos Gunnings. No caminho ele se arrependeu no mínimo trinta e duas vezes de sua decisão, mas Frederick sabia que era a escolha correta. Lady Eliza poderia irritá-lo de todas as formas possíveis, mas não, no fundo ele era um cavalheiro descente e gentil. Ele não poderia deixar que sua última conversa com ela fosse uma discussão acalorada e indelicada no meio do Hyde Park.

Ele postou-se na soleira da Gunning House e bateu à porta. Não houve resposta por vário segundos, mas por fim o mordomo abriu a porta, analisando lord Morley de cima a baixo. O marquês estendeu o ramalhete.

— Lord Morley. — Afirmou — Eu gostaria de ver lady Eliza.

— Compreendo. — O mordomo assentiu — Se milorde permitir...

— Estou aqui! — Liz disse no topo da escada.

Em seguida ela desceu os degraus com uma velocidade impressionante seguida de quatro — quatro! — cães. Em seu colo havia um poodle e lord Morley logo constatou que era aquele o responsável pelo escândalo nas ruas de Mayfair que levaram á Eliza a fama de Louca dos Cães. A aparência do animal era doce, mas Frederick conseguiu ver sangue nos olhos dele.

O olhar do poodle era ameaçador, sem dúvida, mas o de sua dona era ainda pior.

— O que milorde faz aqui? — ela indagou.

— Eu...

— Obrigada, Sr. Butler. Deixe que eu converse com lord Morley agora, sim?

O mordomo assentiu, afastando-se conforme as ordens da lady. Eliza colocou-se no lugar onde o mordomo estava antes, mas com cerca de trinta centímetros de diferença do homem. O poodle tentou morder Frederick.

— Ele está...

— Sim, eu sei o que Vieniamian Stanislav está tentando fazer.

Frederick estreitou os olhos. Por que o poodle...

— O que milorde faz aqui? — lady Eliza reforçou a pergunta, dessa vez com mais impaciência.

Frederick estendeu o ramalhete de lírios. Vieniamian mordeu.

— Ele estragou meu presente.

— Ele só ficou empolgado, lord Morley. — Eliza disse — Mas isso ainda não responde minha pergunta. O que faz aqui?

— O dia está quente, não está?

— Sim — ela estreitou os olhos.

— Vamos tomar um sorvete no Hyde Park.

— O quê? — Eliza estreitou os olhos. Ela colocou Vieniamian no chão. — Não!

— Por que não?

— Porque sim?

— Você disse que tomaríamos sorvete no dia em que não aguentasse mais o calor — Frederick respondeu pacientemente — e se me permite dizer hoje a temperatura está insuportável. É compreensível, acredito eu. O verão se iniciará log...

— Milorde só pode estar brincando comigo.

Lord Morley negou com a cabeça.

— Não estou.

— Eu...

Lady Eliza estava prestes a dirigir um comentário indecoroso ao homem quando seu pai surgiu bem ao seu lado. Lord Gunning usava uma camisa de mangas, o colete estava jovialmente aberto e ele utilizava seus óculos de leitura. Frederick constatou que lord Gunning estava provavelmente em alguma das salas ao lado, entretido com um livro, quando foi surpreendido pelo visitante inesperado. Ainda assim o conde pareceu exalar simpatia.

Ele curvou-se cordialmente à lord Morley e sorriu. Liz revirou os olhos dissimuladamente. Frederick não compreendia como um homem tão espirituoso e gracejador fosse pai de Eliza. A paternidade de Gustave era praticamente incontestável. Eles tinham os mesmos olhos, o mesmo levantar de lábios e mesmo olhar inquisidor, no entanto, lady Eliza estava longe de exalar tanta simpatia como pai. Os olhos dela estavam estreitos, os braços cruzados e ela fitava Frederick como se eles tivessem em um tribunal inquisidor.

Ele engoliu seco. Não era sempre que um homem se sentia mais ameaçado pela dama do que pelo próprio pai dela. Lord Morley forçou com sorriso cortês, curvando-se para o conde e tirando o chapéu rapidamente.

— Lord Gunning.

— Lord Morley — Gustave cumprimentou — devo confessar que é uma surpresa vê-lo aqui.

Frederick assentiu. No fundo também era uma surpresa para ele mesmo ter tido disposição para se propuser a esse papel.

— Estou aqui por sua filha, a estimada e amável, lady Eliza Gunning.

Como ele não engasga com o próprio veneno?, Liz pensou ao escutar suas palavras repletas de sarcasmo. O pai, por outro lado, não pareceu perceber o cinismo na voz do marquês, pois seu sorriso iluminou-se mais ainda ao escutar os elogios dirigidos a filha. Eliza forçou um sorriso e estendeu os lírios na direção do pai, mostrando-os. Lord Gunning analisou as flores com atenção.

— Vejo bem...

— Eu havia feito uma promessa para ela há alguns dias — lord Morley explicou-se antes que Gunning tirasse conclusões precipitadas sobre as intenções dele com a filha — creio que lady Eliza tenha tido a oportunidade de comentar sobre a partida de croquet no Hyde Park no qual participamos.

O conde assentiu. Ele se lembrava claramente de todas as palavras nada lisonjeiras que a filha havia direcionado ao grupo de amigos de lord Morley em pleno jantar. Eliza havia narrado minuciosamente à partida, mas não havia mencionado uma única palavra sobre a discussão com Frederick, e ele sabia disso. Caso contrário lord Gunning não estaria recebendo-o de maneira tão simpática.

— Ah, sim — ele concordou — Eliza mencionou o jogo.

— Há um quiosque no parque, próximo ao Serpentine, e em tal dia não foi possível que nós fossemos até lá. Gostaria de levar sua filha para tomar sorvete no Hyde Park, por cerca de uma hora e meia, não mais do que duas. Ela estará de volta em casa bem antes do pôr-do-sol.

— Na verdade, lord Morley, eu estava levando meu cão para um passeio. E acredito que não seja uma boa ideia colocar sorvete perto dele. Vieniamian é muito agitado...

— Ah, tudo bem, minha menina — lord Gunning sorriu — eu o levo para um passeio. Já estava pensando em sair mesmo. Não é sempre que temos um clima tão agradável, não é, lord Gunning?

Frederick concordou com um sorriso vitorioso. Ele havia ganhado e Eliza perdido — mesmo que no fundo ele acreditasse que os dois haviam perdido nessa história. Lady Eliza enviou para o pai um olhar de súplica nada discreto, mas o conde ou não percebeu, ou não se importou. Ele se aproximou da filha e tomou o cão em seu colo.

Gustave Gunning ficava magnifico com um poodle em mãos. Ele ergueu uma das patinhas de Vieniamian, fazendo com que o cão acenasse para lady Eliza com entusiasmo. Ela não soube se ficava irritada com o pai ou se morria de vergonha da situação. Eliza olhou para lord Morley, implorando para que ele não estivesse abafando um riso, mas sim, de fato ele estava. Muito. Aquela era indiscutivelmente a melhor cena que ele havia visto na semana.

— Papai... — Liz chamou, mas lord Gunning continuou movendo as patas do poodle — Papai... Por favor.

— O que foi, meu bebêzinho? — Gustave sorriu.

A palidez de lord Morley finalmente conseguiu desaparecer. Ele estava corado do tanto que estava se segurando para não rir. Frederick poderia aceitar atitudes carinhosas de um pai apegado à sua filha sem rir, mas naquele caso era inevitável. A expressão de Liz era impagável. Ela tocou os braços do pai, suplicando para que ele parasse, mas Vieniamian continuava sendo usado como fantoche.

Sua única alternativa foi finalmente aceitar sem qualquer outra discussão. Ela olhou para o marquês, levantando uma sobrancelha no mais completo desprezo.

— Volto em instantes. Preciso avisar minha acompanhante e procurar um chapéu.

O Sr. Butler, que obviamente não perdeu uma palavra da conversa, intrometeu-se no assunto.

— Estou indo buscar a Srta. Hedwig, milady. Não se preocupe.

— O chapéu que está no cabideiro? Você não iria utilizar ele? — lord Morley inclinou a cabeça em direção ao suporte ao lado da porta. O poodle estava se aconchegando no colo dele.

— Iria, papai, mas não vou mais. Preciso de um maior.

Frederick franziu o cenho. Aquele chapéu já era absurdamente grande. Eliza era baixa e lord Morley gostava de vê-la. Seria impossível ter deslumbres de seu rosto, de seu corpo, e até mesmo de seus sorrisos cínicos se ela colocasse um telhado sobre a cabeça. Entretanto, parecia ser essa a principal intenção de lady Eliza. Mantê-lo afastado.

Ele nem ao menos precisou entrar para esperar que Liz retornasse. Lady Eliza foi até quarto, agarrou o maior chapéu de seu inventário, fez um laço apertado embaixo do queixo e partiu novamente para seu hall de entrada. Enquanto isso lord Gunning e lord Morley passaram momentos agradáveis. Frederick discorreu sobre suas impressões à respeito da sociedade depois de passar tantos anos fora ao passo em que o conde movia-se suavemente, fazendo com que o poodle sanguinário repousasse em seu peito.

Eliza aproximou-se. O chapéu era ainda pior do que Frederick esperava. Ele estremeceu ao ver aquela aberração, mas lady Eliza estava satisfeita. Ela despediu-se gentilmente do pai e avançou pela soleira com um sorriso maléfico entre os lábios. A porta da Gunning House foi fechada de maneira que a convivência extremamente cordial deles não fosse mais tão necessária.

— A Srta. Hedwig ficará nos seguindo o tempo todo?

— Você sabe que sim, lord Morley.

— Tão de perto?

Ele olhou para a acompanhante que aparentemente entendeu o recado e deixou que eles caminhassem alguns passos à frente. Eliza suspirou. Nem todo sorvete do mundo valia tanto a pena assim.

— Ela não pode me perder de vista então é óbvio que a Srta. Hedwig deve permanecer por perto.

— Eu garanto que com esse chapéu ela não vai perder você de vista de forma alguma.

— Gostou do meu chapéu? — Eliza provocou.

— Sim. É tão bonito que até sinto vontade de atear fogo.

— Que indelicadeza, lord Morley.

— Seria uma oferenda para os deuses gregos. Um objeto de beleza tão inestimável...

— Vejo que não entende muito bem de moda feminina.

— Nem você.

— Oras, lord Morley — Eliza irritou-se pela milésima vez com o marquês — você teve o desprazer de me tirar de minha própria casa para me ofender?!

— Evidente que não, — Frederick disse — nós estamos indo tomar sorvete naquele belo quiosque londrino em uma tarde agradável. E claro, na companhia de uma dama mais agradável ainda...

— Seu sarcasmo é natural ou milorde desenvolveu com o tempo?

— Anos de prática.

Ela revirou os olhos.

— Diga-me, Frederick. Por que estamos aqui?

E ela o olhou. Virou-se totalmente na direção de lord Morley, de maneira que o chapéu não fosse um empecilho, e o fitou sem pudor algum. Eles pararam no meio de uma calçada em Mayfair, os raios de sol incidindo perfeitamente no rosto de lady Eliza, cintilando suas sardas ao redor do nariz. A luminosidade atravessava os fios de cabelo de Frederick, chocava-se contra suas vestes negras e invadia seus olhos, trazendo um brilho perigoso a sua íris negra. Liz não hesitou em penetrar nos olhos dele. Ela queria saber. Ela precisava.

Liz não queria ser uma tola. Não queria, mais do que qualquer coisa, ser um brinquedo nas mãos do marquês. Em um momento ele era grosseiro, em outro ignorava sua presença, e no outro, a beijava. Ela não conseguiria lidar. Não conseguiria deixar seu coração confuso, a mercê de um homem que desdenhava tão frequentemente de seus sentimentos e a tratava de maneira ofensiva. Ela não gostava dele. Não, não gostava. Ainda assim, estava disposta a aturar sua presença de maneira respeitosa e cortês, como fazia com todos os outros que não suportava.

Porém as coisas não funcionavam dessa maneira quando o assunto era o marquês de Normanbury. Eles não conseguiam simplesmente ignorar a existência um do outro. Havia, entre eles, uma força superior que sempre os colocava juntos para depois desfrutar plenamente do prazer de separá-los.

Se Frederick não fosse Frederick as coisas certamente seriam diferentes. Se ele não tivesse, desde o primeiro encontro, se mostrado um homem tão detestável eles poderiam ter seguido outro caminho. Primeiro ele havia tentado ofender uma grande amiga de Eliza no sarau, depois havia ferido o próprio orgulho dela, criticando a Srta. Silewood para Londres inteira ouvir. Depois disso... Uma sucessão de desastres. Ainda assim, ele estava lá. Mais uma vez não conseguiram acabar de vez com qualquer ligação que tinham. Ainda assim, Eliza se culpava completamente por não conseguir odiá-lo tanto quanto gostaria.

Ela queria se afastar. Queria recuar enquanto ele não respondia o porquê estavam ali, mas não foi capaz. O seu mundo a levava na direção dele. O tempo ao redor dos dois pareceu parar. A mão de Frederick deslizou até o braço dela, tocando-a sobre a pele, e ela lembrou-se dos dois no banco da Grosvenor Square, pouco antes do beijo. Lembrou-se daquela noite, onde apesar de todas as implicâncias, discussões e provocações, houve sorrisos, houve caricias, houve preocupação e houve paixão.

Lembrou-se do casaco dele cobrindo seu corpo, da conversa sobre seus pais, de como ele pareceu sincero e de alguma forma, frágil perto dela. Lembrou-se mais do que tudo da sensação de seu calor, de seu toque, de seus lábios. Eles atavam por graças no meio da calçada, mas se não estivessem... Eliza o beijaria de novo. Beijaria lord Morley apenas porque sabia que ele faria o mesmo. Beijaria lord Morley porque sabia que era o certo e se fosse com qualquer outra seria errado.

Beijaria Frederick porque era ele. E só poderia ser.

— Por que estamos aqui? — Liz implorou com a voz baixa e suave.

Lord Morley se aproximou. Os pés tocaram a barra do vestido dela, mas o maldito chapéu manteve a distância segura. Ele respirou fundo.

— Estamos aqui para tomar sorvete. — Ele disse — E só isso. Sem discussão, sem assuntos contraditórios, sem brigas. Apenas tomar sorvete, passear pelo Hyde Park, esquecer-se de todas essas besteiras e por Deus... — Frederick tocou seus dedos — para que eu possa pedir perdão.

— Perd...

— Eu nunca trataria uma mulher daquela forma. Minha atitude no dia da partida não condiz com o verdadeiro Frederick. Eu só estava exaltado e assustado por estar perto de você por... Você se lembra. O incidente na Grosvenor.

Incidente. O incidente do dia era o coração de Eliza trincando.

— Eu também fui indelicada, milorde. Aceito seu pedido de desculpas e deposito o meu.

— Aceito.

Ela sorriu fraco. Um casal passou por eles e as atenções se dissiparam. Eles deveriam se afastar. Agora.

— Bem... Decidida a não brigar comigo? — Frederick perguntou, estendendo o braço novamente para ela.

Eliza suspirou.

— Apenas se milorde merecer.

Frederick riu.

— Não, não vou. Que homem que leva uma dama para tomar sorvete merece?

Ela sorriu.

Hum, o que não escolhe sorvete de baunilha para ela. Com pedaços de morango e nozes...

— E eu vou escolher nossos pedidos?

— É claro. Ou eu deveria ficar responsável por escolher para você?

Lord Morley arqueou uma sobrancelha.

— Só se eu escolher o seu. E não, não será morango com nozes.

— Humpf — Eliza deu de ombros — surpreenda-me. 

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