NÃO CONFIE NELE • jjk + pjm

By ORUMAITOU

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[EM ANDAMENTO] Park Jimin, estudante veterano conhecido por passar raiva noventa e nove por cento do tempo, c... More

📌 [cast e considerações]
1. Prólogo.
2. Cobra Maquiada
3. Satanás Tem Outro Nome.
4. Nhum Nhum.
5. Sobre Katanas e Invasões.
7. Sprite, Trufas e Vontade de Chorar.
8. Ravena Universitária vs Sherlock Uchiha.
9. Pinschers e Reencarnações.
10. Reflexões Hodiernas de um Gado Poeta.
11. Quartou.

6. Saga do Feijão

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By ORUMAITOU

(NOTAS): EAE CARAIO! Quem é vivo sempre aparece né, porra? Enfim, SÓ QUERIA AGRADECER MUITO PELOS QUASE 20K DE VIEW AAAAAAAAAAAAAAA CÊS SÃO FODA MANÉ, obrigada mesmo, gente!!!

Ah, e esse capítulo na verdade foi dividido em dois. Postei a primeira parte agora, mas ainda to finalizando a outra. Não vai passar de janeiro, então esperem uma outra att logo logo pq eu já tô com a parada praticamente pronta, só preciso finalizar e arrumar algumas coisas. Até o final de janeiro já postei mais um <3

#NhumNhum

***

Eu cozinhava que nem meu cu.

E, honestamente, quem é que ainda tinha a pachorra de esperar qualquer virtude culinária de alguém que — fantástica e estupendamente — conseguia ser responsável pela façanha de queimar miojo instantâneo e bolo de caneca? Aliás, perceber a mim mesmo como detentor do talento de cagar algo tão simples era de cair o boga da bunda. Puts, dá vontade, né, MasterChef? Artimanhas altamente avançadas para a queima de comidas vocês só encontram aqui.

Mas na boa, galera, que eu era um bosta na cozinha, todo mundo sabia. Honestamente? Um imenso foda-se, porque graças ao bom Deus inventaram o iFood, e com isso, eu podia relaxar a consciência e não me sentir um completo saco de bosta pelas pérolas que já tinha soltado na cozinha, tais como tacar açúcar na batata frita ou botar alumínio dentro do micro-ondas — e tenho fé que um dia mamãe me perdoará por quase explodir a cozinha dela. Foi mal, coroa.

Em suma, percebe-se a ausência de novidades, até então. Eu meio que sempre soube que cozinhava mal e, inclusive, já estava muito bem habituado com aquele fardo de torra-miojo — grato pelo apelido, Yoongi — que carregava desde que me entendia por gente. Ainda assim, isso não era um incômodo, pois contanto que não precisasse ficar por muito tempo sem dinheiro, esse pequeno detalhe nunca foi um problema, levando em conta o fato de que Hoseok, mamãe e papai eram sábios guardiões que generosamente se dispunham a me alimentar.

É, porém, um tanto quanto necessário frisar a ideia de que, numa perspectiva geral, sempre tive alguém que sabia cozinhar ao meu lado, portanto, tomava como irrelevante o fato de que não sabia sequer fritar um ovo sem furar a panela; ou seja — em dizeres mais claros — minha incompetência na cozinha não se apresentava como um empecilho significativo justamente porque, na maioria das vezes, havia próximo a mim quem soubesse fazer ao menos o básico. Seguindo essa mesma lógica e partindo do consenso de que havia zero chance de sobrevivência da minha parte se não existissem anjos de Deus para me alimentar — grato, Hoseok —, meu objetivo aqui é que vocês cheguem a um questionamento específico que vai me ajudar muito a explicar o desenrolar dos eventos a seguir. "Tá, mas que porra de questionamento, Jimin?" — isso era para ser vocês me perguntando, pressupondo que eu não estou interagindo com o vento e que vocês estejam dando alguma foda para o que eu digo —, na verdade, é um tanto quanto simples; depois de todo o lance sobre depender dos outros para comer de forma digna, o questionamento em pauta é puramente:

"Ih, molecote, mas e se não tiver ninguém que saiba cozinhar por perto?"

Aí é que tá, colega.

Esse é o momento em que você encara a tela com indignação e espera pela frase na qual eu deveria responder e explicar detalhadamente o que seria necessário fazer nas condições estabelecidas pela pergunta; mas você, jovem pimpão, não conta — ou talvez conte, é uma possibilidade — com o fato de que o questionamento foi feito justamente porque eu não fazia a menor ideia de como respondê-lo — até hoje não faço, na real. "Tá, mas por que esse suspense todo em relação à resposta?", porque eu curto um mistério, só isso. No fim, a conclusão é que a anta aqui não tinha pensado na possibilidade de não ter quem cozinhasse bem por perto, e foi exatamente por não pensar sobre essa maldita possibilidade que meus neurônios deficitários resolveram botar alguma espécie de fé — muito questionável, aliás — na pessoa mais próxima a mim naquele momento.

É, 'tô falando do abençoado do Jungkook.

Só por isso já dá para notar o nível da decadência, uma vez que o indivíduo que deposita qualquer esperança no animal do Jungkook está a um passo de usar crack. Pois é, clã; a coisa 'tá precária. Tão precária, aliás, que me arrisco a dizer que o episódio da falsa invasão tinha sido menos cabuloso que o atual cenário no qual eu e o bonitão duas caras nos encontrávamos, e olha que apenas duas horas tinham se passado desde o ocorrido.

— Não é querendo dizer que a gente quase queimou a casa, mas... — E lá vinha o gênio com suas frases de ouro. — Acho que a gente deu uma cagada generosa na cozinha.

— "Cagada generosa" foram as melhores palavras que você achou para definir a catástrofe que a gente acabou de fazer? — Levantei uma sobrancelha, olhando para Jungkook.

Vou tentar não me estender, mas explicando o diálogo acima sem economizar termos que explicitem com glamour a situação: eu e Jungkook tínhamos cagado generosamente — como o próprio Sócrates falou — a cozinha dos nossos irmãos. "Generosamente" porque não tinha sido de propósito, e "cagado" porque éramos dois imbecis desengonçados com mãos de alface que não sabiam como manusear panelas. Não sei como e nem quando a ideia de nos juntar para fazer uma janta maneira pareceu fazer algum sentido na minha cabeça, mas voilà! Fodemos com a panela e estragamos o queijo do Hoseok.

Parabéns, nota zero.

Voltando ao tópico, acho que me encontro na obrigação de explicar o que exatamente incitou a destruição — ou quase destruição — da cozinha, já que dizer que a cagamos generosamente é pouco para contextualizar o rolê todo. Beleza, senta que lá vem história.

Tudo começou com um inocente roncar de barriga ao final da tarde; eu estava morrendo de vontade de bater um rango depois de todo o estresse que passei com a criança intrusa, carinhosamente apelidada por Jungkook de Mucilon. Grandes estresses exigem grandes lanches, e eu, particularmente, só me sentia devidamente renovado quando o bucho estava cheio, o que não era o caso daquele dia, posto que a última refeição decente que meu estômago tinha visto já fazia mais de doze horas — descartando os salgados e as besteiras que comi ao longo do dia.

Somente pela barulheira nervosa na minha barriga, já era possível ouvir um "me alimente, humano desprezível" sussurrado pelo meu corpo, que calmamente me agraciava com uma puta dor de cabeça por não ter comido corretamente. Não pretendia prolongar o jejum, mas da mesma forma, não via uma alternativa viável para abastecer o bucho, já que Hoseok e Yoongi não estavam em casa e não tinha miojo — e eu me recusava a arriscar cozinhar qualquer coisa além disso por motivos de segurança. Resultado: ou eu passava fome, ou pedia ajuda.

Mas que ajuda, pai amado?

Sabe aquele lance de que "Deus sabe o que faz"? Pois bem. Longe de mim a audácia de questionar autoridades divinas, mas se não for de muito abuso — e, de alguma forma, eu sei que é — gostaria de saber se Deus tinha mesmo noção do que estava fazendo quando me enfiou na cabeça que seria uma boa ideia pedir ajuda para o energúmeno do Jungkook, vulgo pirado da katana que se achava o próprio Sasuke Uchiha na Terra. Tipo, tudo bom? O Jungkook é lá pessoa para quem se pede ajuda?

Acabou que a cascavel estava de bom humor e aceitou ajudar — e se querem saber, não fez mais que sua obrigação. A ideia era fazer batata frita, básico do básico, nada que desse margem para explosões de grande porte que fossem capazes de aniquilar o bairro todo, então preparamos a panela e o óleo necessário para fritar a parada.

E foi aí, pimpolhada, que o rolê tomou rumo só de ida à casa do caralho.

Em algum momento perdido durante o processo de esquentar o óleo, Jungkook e eu começamos a discutir. Este é o momento para fazer apostas, moçada: qual era a pauta da discussão? Joguem suas cartas, valendo uma coxinha vegana. Política? Corrupção? Investimentos públicos em educação? Qualquer coisa socialmente relevante?

Nah. Era um lance muito mais sinistro.

— O primeiro passo é colocar feijão por baixo e, logo, sem nem perceber, você já está usando heroína. — Jungkook maneou a cabeça, convicto do seu posicionamento naquele tópico tão importante para o futuro da humanidade. — Feijão por cima é a lógica básica e essencial. Os não adeptos são apenas pessoas terminantemente afastadas da razão.

— Qual a porra do sentido? — questionei, indignado. — Qual tese científica prova isso? As vozes da tua cabeça? Porque eu tenho absoluta certeza de que feijão por baixo permite uma degustação mil vezes mais avançada que o feijão por cima. Só alienados comem com feijão por cima.

— Mesmo? — Cruzou os braços, sem cortar o contato visual. — Pois eu lembro bem do postulado de Marx com frases que comprovam a minha ideia.

Ergui a sobrancelha, já começando a me perder na parada toda.

— Ah, é? E onde ele diz algo sobre isso? — Continuei firme, encarando-o.

— "Se a classe operária tudo produz, a ela pertence o poder de escolher o feijão por cima e não ser alienado". Pode conferir. — Totalmente desequilibrado, esse Jungkook.

— Ele não disse isso, você que é tonto.

— Ele não disse com essas palavras, mas não cabe a mim te ensinar interpretação de texto. É óbvio que está subentendido.

Invejo a inocência de quem acha que parou por aí; é claro que, considerando todos os neurônios viajados de Jungkook — e parcela da minha imbecilidade em dar corda para as merdas que ele falava — o que era uma discussão sobre feijão chegou facilmente em "Toddy ou Nescau", tornando-se, na sequência, um debate imenso sobre todas as polêmicas nas quais — pasmem — eu e ele nos encontrávamos em times distintos.

Se você possui costume de usar cérebro e consegue conectar um ocorrido ao outro, presumo estar nítido que, nessa putaria toda de trocar farpas por causa de feijão, achocolatado e outras fitas mais, Jungkook e eu nos esquecemos completamente do real motivo para estarmos ali, juntos, parados na cozinha. Sim, é isso mesmo, os grandíssimos gênios, donos de toda a intelectualidade do século, conseguiram achar, nos confins da falta de senso, uma forma de não perceber o óleo queimando na panela que estava literalmente ao lado, trocando um processo simples de fritar batata por minutos perdidos de debates sobre feijão.

Depois disso, não é dificil saber o que rolou.

Só percebemos a cagada quando o cheiro começou a ficar forte, e foi quando deu para notar que o óleo lá dentro estava queimando. O cabo da panela, provavelmente barata demais, começou a deformar na parte mais próxima do fogo, mas fomos rápidos o bastante para desligar o fogão antes que o bagulho explodisse. Até aí, beleza, mas a nossa inteligência não deu trégua e, mais uma vez, meio desesperados e desnorteados pelo quase incêndio, derrubamos o caralho das batatas no momento de correr para salvar o óleo, tudo porque o desengonçado do meu braço esquerdo bateu na porra daquele saco verde cheio delas, atirando-as no chão.

Tinha como piorar? A resposta seria: não, mas como não há misericórdia para a alma de Park Jimin, sim, piora aí essa merda e fode mais ainda a situação. Mete bronca, caga tudo.

A relatividade do tempo não é um segredo, mas confesso ter me impressionado com o fenômeno quando percebi que a quantidade de eventos normalmente cabível em períodos muito maiores, naquele instante, coube em um intervalo ridículo de minutos. "Que cacete isso significa, Jimin?", que conseguimos fazer destruição de cinco horas em cinco minutinhos; ou seja, a merda se desencadeou de uma forma tão intensa que logo a cozinha toda estava uma completa ameba.

Jungkook, o mesmo bonitão atlético com aquela postura belíssima e inabalável, escorregou nas batatas e caiu que nem bosta no chão. Foi engraçadão, mas não deu tempo de rir, porque aquele pé imenso dele chocou-se com a mesinha próxima à geladeira, a mesma mesinha que sustentava o potinho com o queijo preferido do Hoseok e outras coisas de cerâmica que se foram na queda.

Descanse em paz, queijinho.

O pote estilhaçou-se por inteiro no chão — junto do recipiente de geleia e do vasinho de flor que Yoongi gostava —, o queijo do meu irmão viajou para puta que pariu e foi parar debaixo do fogão, ficando todo empoeirado com o bônus de uma mosca filha da puta que oportunamente pousou nele assim que teve a chance. E a parada só melhora, porque no susto de várias coisas acontecendo simultaneamente e um Jungkook boladão gritando de dor no rabo, corri para ajudar o infeliz a levantar e acabei furando a porra do pé nos cacos cretinos dos potes quebrados, urrando que nem o Aslam chegando em Nárnia, só que de dor.

Tudo isso em cinco minutos, devemos recordar.

Qual o desfecho desse espetáculo, então? Fácil. Se éramos idiotas demais para fritar umas simples batatinhas, não havia qualquer garantia de que outros cardápios dariam certo, então entramos no consenso de não tocar um dedo sequer nas panelas da casa e manter ao menos dois metros de distância do fogão depois que limpássemos aquele cenário digno de filme de ação, todo fodido, bagunçado e com coisas quebradas no chão.

Pois é, Marvel, os Avengers que lutem para fazer igual.

Mas não basta, moçada, transformar a cozinha em um campo de batalha destruído. Claro que não. Há boatos de que humanos só usam 10% da capacidade do cérebro, mas eu tive certeza, total e absoluta certeza, de que o meu, na sua maior e mais aguçada potência, alcançava os 3% penando. E sabe por quê? Porque derrubei a panela de óleo quente na hora de tirá-la do fogão. Só isso? Não. Derrubei essa porra no caralho da toalha de mesa. Mas só isso, cacete? Não. Era a toalha de mesa que pegamos emprestado da minha mãe. Porra, Jimin, e daí? E daí que óleo é que nem sêmen: não desgruda do tecido nem fodendo.

Vai, pode bater palma, meus três últimos neurônios funcionais merecem.

Jungkook não morreu com a queda, só ficou uns vinte minutos falando sobre a dor na bunda. Pensei que aquele rabo malhado dele fosse mais resistente, mas aparentemente os músculos não protegeram nada e o otário ralou o cu no chão. Fantástico, se me permitem dizer, mas eu não tinha local de fala sobre idiotice depois do recentes acontecidos, então mantive a boquinha calada enquanto sentava no sofá e tirava o caco do pé com a cascavel xingando até os ancestrais das batatas em que escorregou.

Tendo explicado toda essa trajetória de caos, dou a mim mesmo o luxo de voltar ao presente, retomando a narrativa inicial. Após limpar a cozinha, recolher os cacos de coisas quebradas, sumir com o queijo empoeirado e lavar a toalha suja, Jungkook e eu ficamos ali, encarando o recinto como dois patetas cujos flashbacks do terror assombravam a mente. Compartilhávamos da mesma sensação, cientes do sermão que estava por vir assim que os namoradinhos chegassem em casa, e por essa razão, permanecemos em silêncio por alguns segundos, de luto por nós mesmos e prezando pelas nossas vidas.

Tomei alguns segundos para encarar seu rosto, guiado pelos meus impulsos imprudentes de olhá-lo quando estava distraído. Jungkook era realmente bonito, mesmo com o cabelo todo em pé e as roupas sujas pela faxina que tivemos que fazer. Do pouco que me era transparente sobre sua personalidade, ele não apresentava quaisquer traços de vaidade no que dizia respeito à própria aparência; embora soubesse que era atraente, Jungkook não depositava dedicação alguma em ser bonito. Seu cabelo não tinha tintura, não fazia penteados mirabolantes, sequer usava roupas elaboradas ou passava maquiagem; seus únicos adornos eram os piercings na orelha e, pelo jeito, a tatuagem no braço, uma simplicidade ridícula que, à sua própria maneira, deixava-o ridiculamente charmoso. Apesar de todos os aspectos palpáveis de sua beleza, o que de fato encantava era seu despojo, a naturalidade intrínseca ao modo como ficava tão bonito somente existindo, encostado ao balcão como estava naquele exato instante, encarando o nada e ainda assim dando conta de ser o gostoso mais odiável da Terra.

— O que vamos comer? — perguntei, coçando a garganta e desviando o olhar antes que acabasse me perdendo na divagação. — Talvez seja melhor pedir comida, mas eu não tenho dinheiro. — Suspirei, balançando a cabeça. — Não que eu queira me submeter a isso, mas também não parece legal morrer de fome, então... Você tem algum trocado para pedirmos algo?

Ele me olhou, erguendo a sobrancelha.

— Submeter-se a quê? Pedir dinheiro para mim, é? — Sorriu, como o cafajeste que era. — Cuidado, orgulho envenena.

— E 'cê tá vivo como, palhaço?

— Gatos têm sete vidas. — Piscou. — Miau.

Alguém cancela o Jungkook, pelo amor de Deus.

— Jesus Cristo... Esquece, vou definhar e esperar meu irmão me alimentar. Tchau. — Revirei os olhos, perguntando a mim mesmo onde tinha achado coragem para pedir um favor para Jungkook.

Girei o corpo e dei um primeiro passo na direção da escada, mas Jungkook tocou meu braço antes que eu prosseguisse, atraindo minha atenção para seu rosto mais uma vez.

— Vamos sair pra comer em algum trailer. Eu pago. — E essas são as palavras que todo jovem moderno quer ouvir.

Talvez ele não tenha visto, mas meu braço inteiro se arrepiou. Por causa dele? Não. Por causa da comida, é claro, porque eu não era otário de recusar um lanchão de graça, mesmo quando o idiota bancando o rango era o Jungkook.

— Hm, suspeito. Que gentileza é essa que veio do além? — Cruzei os braços na altura do peito e ergui o queixo. Eu queria a comida, mas não mostraria desespero e tampouco cantaria vitória antes da hora. Não confie nele, como já dizia o dilema, e mesmo com lanche envolvido, eu deveria ser firme.

— Uau, estou severamente ofendido pela desconfiança. — Ele riu, apoiando o rosto na mão e fincando ambos seus olhos no meu rosto. Cínico. — Só não quero te deixar com fome, gracinha.

— E desde quando você dá uma foda? — questionei honestamente, tombando a cabeça para o lado.

— Vai aceitar o convite ou já posso me considerar rejeitado? — Jungkook e aquela sua habilidade particular de escapar de perguntas, desviando o foco do assunto para que não tivesse que ser mais revelador do que desejava.

Respirei fundo, calculando a margem de erro para aquele convite. Sair com Jungkook e permanecer mais de dez minutos ao seu lado não soava, de longe, como escolha preferível, mas colocando as opções na mesa e analisando-as da perspectiva de um homem esfomeado, não parecia tão ruim suportar algum tempo com a cobrinha quando havia comida paga no jogo. Nesse sentido, portanto, convenci a mim mesmo de aceitar a parada, aceitando os riscos envolvidos em virtude do lanche, torcendo, no fundo, para não me arrepender de deixar meu estômago falar no lugar da razão.

— Certo — respondi, simplista. — Eu te pago de volta assim que receber.

— Não precisa. — Deu de ombros, endireitando a postura. Olhou-me uma última vez antes de caminhar até as escadas, munido daquele sorrisinho maldito que derretia até ferro. — Considere como um presente.

Presente?

— Por que você me daria um presente? — perguntei, confuso.

Jungkook subiu as escadas, sumindo rapidamente e deixando somente um eco fraco de sua voz, fazendo-me questionar se ele de fato queria que eu ouvisse o que disse.

— Por ter atrapalhado seu ensaio ontem. — Foi tudo o que ouvi, sem ter certeza se era real ou somente fruto do meu imaginário.

Ele estava se desculpando indiretamente? Ou eu estava chapado? Pisquei algumas vezes, impactado demais para ter alguma reação. Após uma fração de segundos engessado pela inércia, franzi o cenho no mesmo instante em que movi as pernas até a escada, livre da anestesia pelo choque.

— Jungkook! Ei! O que você quer dizer com isso? — Toquei o corrimão e olhei para cima, bem no momento de ver seu corpo no último degrau, caminhando tranquilamente até seu quarto.

Ele não olhou para mim, sequer parou de andar, mas eu sabia, de algum modo, que ele estava sorrindo.

— Vou tomar banho, você também deveria — disse, simplesmente. — Vou primeiro, se não se importa. A não ser, é claro, que queira tomar comigo, mas fica ao seu critério. — Deu um risinho, em tom de brincadeira. — Te espero no quintal quando terminar, gracinha.

E sumiu, deixando-me plantado ali com a maior e melhor cara de paisagem já vista, a cabeça esquentando com as informações colhidas à medida que meu cérebro tentava digerir e organizar ideias.

Que droga ele queria dizer com aquilo, afinal?

***

#NhumNhum

(NOTAS): LEMBRANDOOO que esse capítulo na verdade foi dividido em dois. Postei a primeira parte agora porque tava com saudades de postar cap, mas a outra ainda está sendo finalizada! Portanto, esperem mais um tempinho (no máximo até final de janeiro, não passa disso) e postarei mais um! Tô só finalizando a outra parte e corrigindo, então não vai demorar muito.

Obrigada se você leu até aqui e use a TAG da fic pra comentar sobre ela no twitter! <3

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