The Runaway

By EL_Ja1

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Kevin, como muitos teve um dia péssimo quando perdeu seu emprego e descobriu que era traído pela sua namorada... More

A fuga

A Torre e Ela

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By EL_Ja1


A noite já começara a cair e eu consegui pegar o ônibus para o meu destino, o aeroporto. Ironicamente o homem que estava comigo no banco ouvindo minha história pegou o mesmo transporte que eu, disse que sua irmã vivia no caminho e que isso daria mais tempo para ouvir as minhas histórias com Helena.

A noite vinha agradável no horizonte, o sol já se escondia no horizonte, os pássaros pararam de cantar e as nuvens vestiram-se com seus belos tons alaranjados e vibrantes, largando o singelo branco que passam o dia inteiro vestindo.

- E o que aconteceu depois que você entrou no carro dela? – Perguntava o homem curioso e ansioso pela continuação de minha épica falha.

- Paciência Stefano, paciência. – Eu dava uma breve gargalhada enquanto tomava ar em meus pulmões. – Logo que entrei no carro eu soube que aquela seria A noite da minha vida, porém eu não sabia definir se para bem, ou, para mal.

.

Assim que entrei no carro a bela garota me devorava com os olhos como uma besta faminta. Um olho de cada cor, convidativa e misteriosa. Cada expressão em seu corpo gritava a expressão da esfinge "Decifra-me, ou eu te devoro".

Antes mesmo que eu pudesse ter dito alguma coisa, Lena coloca o dedo em meus lábios e aumenta o volume do rádio no carro luxuoso. Os acordes de guitarra pareciam afinados com o balançar de seus cabelos e como ela se mexia, balançava o corpo dançando com os olhos fechados e lábios que faziam um leve beicinho.

Repentinamente ela abre os olhos e sorri. Mal tive tempo para apreciar seu sorriso antes que ela arrancasse o carro bruscamente e de uma forma que quase me fez cair para fora do conversível.

Ali estávamos, a paisagem passava pelo lado do carro e o vento frio batia em nossos rostos e fazia o cabelo de Helena balançar, revelando ainda mais do seu rosto. Seu nariz era fino e empinado, lábios avantajados e linha do queixo bem desenhada. Era como se fosse, a mistura entre uma boneca de porcelana e a mulher mais sexy que já conheceu. Toda beleza e inocência que na verdade escondem quem ela realmente é.

- Já viu a Torre Eiffel? – Lena pergunta enquanto olha fixamente para a rua enquanto batuca com seu dedo no volante.

- Não... – Antes que eu terminasse de responder o resto, Helena vira para mim e sorri.

- Dia de sorte então.

Aquela mulher era quase tão perigosa quanto a sua direção. Me sentia como um ratinho indefeso, mas devo confessar que só esses breves instantes já tinham sido o suficiente para que tudo tenha valido a pena, a viagem, minha fuga...tudo.

Não demorou muito até que ela parasse o carro. Eu já conseguia ver a famosa torre no final da rua, mas a silhueta da figura que me guiava até a torre é o que mais me chamava a atenção, como o seu vestido caia perfeitamente em seu corpo. Naquela noite eu vi uma das maravilhas do mundo e a Torre Eiffel.

Ela seguia caminhando confiante, como se o mundo inteiro devesse parar para que ela passasse, e em certos momentos eu não sei se ela está realmente tão errada assim, pois o mundo realmente congela para que uma mulher assim passe. Eu a seguia, muitos momentos me perguntei porquê eu estava fazendo isso, mas eu abandonei a minha necessidade por uma explicação racional para as coisas, afinal, se não fosse por isso eu não estaria aqui, na França, hoje.

E ali ela estava, radiante e imponente logo a minha frente. Acredito que o tom amarelado da torre a tenha deixado ainda mais radiante naquele momento.

Escolhemos um lugar para sentar na grama e observar as luzes. Helena sentara em cima de meu casaco e eu logo ao seu lado. Ambos observávamos vidrados o belo monumento a nossa frente, no caso dela, a torre, já no meu, ela.

- Eu nunca me canso de vir aqui. A torre ainda é a mesma, mas cada vez que eu a vejo...é como se fosse a primeira vez. – Tinha vezes que eu me questionava se ela estava falando comigo ou apenas conversando sozinha, perdida em seus pensamentos.

- Eu nunca havia visto a Torre Eiffel antes, mas para a primeira vez...Wow...realmente é algo de tirar o fôlego.

- Assim como você. – Helena torna seu olhar para mim.

Ela me encarava fundo nos olhos com uma expressão que eu jamais vi antes, era uma mistura de medo, curiosidade, admiração e desdém ao mesmo tempo.

Naturalmente eu fiquei sem reação quanto Lena disse tais palavras, a única coisa que eu consegui fazer foi me virar a ela para encará-la nos olhos enquanto ela fazia o mesmo. Ela parecia notar e analisar cada pequeno pedaço de meu rosto, cuidadosamente saciando sua curiosidade.

- Nunca conheci ninguém assim. Você tem um brilho diferente nos olhos, não, em todo você. Ao mesmo tempo que está longe de casa, aparenta estar exatamente onde queria estar. Me conte, como veio parar tão longe? – Lena não desviava o olhar de mim por um sequer instante.

- Ah, eu não tenho nada de especial. Não é uma história que valha seu tempo ou tamanha curiosidade.

- Mas pelo contrário, Sic Parvis Magna. – Helena pegava um cigarro, colocava em sua boca e deitava confortavelmente em minhas pernas se preparando para ouvir minha história.

- O que isso quer dizer? – Indaguei com um certo constrangimento.

- Quer dizer "A grandeza em pequenos começos". Por isso, Sic Parvis Magna. Toda história grandiosa teve um começo simples. Agora vamos, me conte a sua. – Disse brincando com a fumaça que saia de sua boca e ficava suspensa no ar.

Contei a Helena de onde eu vinha e o que tinha me levado até ali. Não poupei detalhe algum enquanto contava uma história atrás da outra para ela. Quanto mais eu contava, mais eu queria compartilhar com ela, quisera eu ter vivido mil anos antes, apenas para contar para ela tudo. Quanto mais eu via aquele sorriso e aquela risada, mais eu queria continuar ali.

- Vê, Sic Parvis Magna. A grandiosidade de um começo simples, porém eu não digo que destruir uma moto com uma máquina colossal seja a coisa mais simples de todas. – Helena gargalhava sem parar

O dia começara a clarear. O tempo realmente voou enquanto eu estava junto dela. Sem que eu percebesse também, ela estava abraçada em mim, eu podia sentir sua pele fria e levemente arrepiada por conta do vento gelado do início da manhã.

- Eu ainda não sei qual é o seu nome? Imagino também que não queira me falar... – Falei enquanto passava a mão em seus cabelos.

- Estava esperando que tirasse ele de meus lábios. – Helena vira-se para mim.

Após breves segundos ela me beija. Nesse exato momento eu senti meu coração disparar e todo o meu corpo ficar eletrizado. Podia sentir seus dedos macios passando pela pele de meu rosto e como os seus cachos loiros se entrelaçavam em meus dedos na altura de sua nuca. Eu me sentia nos céus.

Não tenho nem a mínima ideia de quanto tempo ficamos ali, somente nos beijando e sendo um pelo outro. O tempo é uma coisa muito relativa, porém voltei a realidade assim que ela se afastou e voltou a me encarar com aqueles olhos.

- Helena. – Ela sussurrou me encarando.

Antes que eu pudesse tomar ar nos pulmões para retribuir a ela o meu nome também, ela colocou um dedo em meus lábios novamente sinalizando para que eu não falasse mais nada.

- Não há motivo para que eu saiba seu nome...Ainda. Em qual hotel está hospedado? – A belíssima loira se levanta com seu vestido branco

- No La France. Não fica muito longe da festa que nos conhecemos.

- Eu te levo até lá.

O resto da viagem não foi diferente da nossa noite em frente a torre, contamos piadas e rimos feito duas crianças no caminho de volta. Até que então, o momento que fez ambos engolirem seco, a entrada do hotel.

- Escuta, eu não sei se você quer me ver de novo. Essa noite foi uma legítima loucura, mas eu quero que saiba que eu quero te ver no dia de amanhã, e se isso não for possível, prefiro que me diga agora para que eu não fique me afogando em falsas esperanças. – Falei como se tirasse um peso de minhas costas.

- Eu não pedi o seu nome porque de nada me adianta saber o nome de um homem covarde ou que eu não vá ver no dia de amanhã. Faremos o seguinte, ao cair da noite, me encontre no mesmo lugar em que passamos a noite juntos. Me conte seu nome lá então. – Helena me deu um leve beijo na bochecha antes de abrir a porta do carro para mim.

Ali estava eu em frente ao hotel, ainda abismado com a noite maravilhosa que tive. Por breves instantes nem mesmo me lembrava do fato que eu tinha perdido o único emprego que eu tinha nessa imensa cidade, mas Paris tem seus jeitos de surpreender os amantes e os esperançosos.

Minha cama nunca pareceu tão macia e o teto nunca me pareceu tão bonito. Por mais que eu não tenha pregado os olhos essa noite, eu me sentia alegre, enérgico e feliz, feliz de uma maneira que eu não me sentia a muito tempo. Eu tinha a sensação de estar em queda livre e, ao mesmo tempo, tentava adiar ao máximo a minha possível batida brusca contra o chão. Mas assim como a gravidade é inevitável, o chão, também é.

O que aquela garota iria querer comigo?! Eu não tenho nenhuma qualidade gritante, eu não sou bonito, não sou cavalheiro e, definitivamente, não tenho dinheiro algum. O máximo que eu posso ser é divertido, mas isso, quem não é, não é mesmo...eu não acredito que ela realmente vá aparecer mais tarde no local que passamos a madrugada, porém só há uma forma de descobrir.

Ali fiquei deitado por horas e horas encarando o forro do quarto com milhares e milhares de questões inundando a minha cabeça ao ponto de tudo parecer girar. Eu estava completamente perdido, quer dizer, e teria como não? Minha namorada estava transando com outro, o que me levaria a acreditar que realmente possuo qualidades o suficiente para chamar a atenção de uma burguesinha ricaça.

Dei um pulo da cama no momento em que a porta do quarto se abriu. O meu grito de espanto se juntou com outro grito de espanto naquele momento.

-S-Serviço de quarto senhor...eu acho que volto mais tarde... – A garota falara na mesma língua que eu.

- Não, espere um pouco. Você também não é daqui, é?! – Perguntei curioso para a garota de cabelos castanhos. Ela era bonita e não mais velha do que eu. – Entre, por favor.

A garota carregava em seus braços toalhas brancas e algumas barrinhas de cereal em seus braços. Parecia acanhada com o fato de que entrara no quarto enquanto eu estava nele. Ela sentou-se ao meu lado na cama

- Eu queria pedir...

- ..."Desculpas por ter te incomodado." – A interrompi ironicamente. – Eu já sei que você vai dizer isso. Mas com toda certeza você não me incomodou, inclusive, me ajudou. Faz poucas horas só que saí de "casa" e pareciam eras que eu não ouvia alguém falar a mesma língua que eu.

- Ah sim, imagino que não seja muito comum mesmo. Bem, em que posso ajudar? – Ela tentava ser prestativa, porém o ar de timidez ainda a encobria por completo.

- Eu só quero conversar; essa não tem sido a semana mais fácil para mim...mas, bem, você pode começar me dizendo seu nome.

- Me chamo Claudia, e você se chama Kevin não é mesmo?! Desculpe, é que eu tenho acesso aos dados de todos os hóspedes e...eu estou falando demais não estou?! – Ela tinha razão nisso, porém o problema nunca é falar demais, e, sim, falar sem se comunicar.

- Tá tudo bem. Sabe quando o mundo desaba na sua cabeça...quando você não tinha relevância nenhuma e, do nada, parece que qualquer coisa que escolha fazer vai mudar a sua vida por completo até o fim dela. Eu acho que devo estar ficando louco, quero dizer, eu vim para cá fugir da minha antiga vida porquê ela não tinha importância nenhuma. Eu não tinha importância, e parece que agora que eu tenho o que quero, isso só torna as coisas mais confusas ainda. É como se você vivesse a vida inteira como um espectador em frente a Tv vendo um filme e em um piscar de olhos estivesse dentro dele. – Eu resmungava perdido olhando para as paredes.

- Isso é por causa de uma garota não é?! – Direta, incisiva e com requintes de secura.

- É sim...nos conhecemos ontem e eu não sei ao certo o que ela quer comigo. Ela marcou para que eu voltasse hoje no mesmo lugar que saímos ontem, mas eu não tenho certeza se ela vai estar lá, ou se só vai me deixar plantado naquele lugar, sozinho e com cara de idiota. – As vezes as respostas que procuramos são mais simples do que imaginamos.

- Ótimo, além de indeciso é covarde...aqui é Paris, a capital dos amantes, se ela marcou com você e você não sabe se ela vai aparecer ou não, só há um jeito de saber, indo lá e esperando. A vida inteira ficamos esperando por oportunidades para mudar nossa vida toda para sempre, quando na verdade já tivemos muitas oportunidades e apenas viramos as costas pra elas por mera covardice nossa. – Ela larga as toalhas na cama ao seu lado e me da um último sorriso antes de sair do quarto. - ... Serviço de quarto?!

Ela estava mais do que certa, eu estava sendo extremamente covarde quanto aos meus próprios sentimentos. Qual é o meu problema? Eu vim para outro país para que pudesse tomar as rédeas de minha vida e nem mesmo com um oceano de distância eu consigo ter uma atitude diferente. É como se eu não fosse o Kevin, eu fosse o namorado otário, o bom funcionário, o filho exemplar e o imbecil certinho pros amigos.

Ás vezes precisamos tomar atitudes loucas e idiotas o suficiente para que nos arrependamos, pois o arrependimento ainda é melhor do que viver o resto da vida se afogando naquilo que poderia ter sido e você nunca soube. Aquilo que justifica e valida os momentos bons, são os momentos ruins. Sem o sofrimento, não há o prazer.

E foi assim que tudo aconteceu, eu arrumei minhas coisas, tomei um banho e passei meu melhor perfume novamente. Me vesti confortavelmente dessa vez, uma camiseta e uma jaqueta de couro por cima era o suficiente para me aguentar o dia inteiro por Paris.

Quando eu saí pela porta do quarto do hotel eu não queria mais fugir, eu queria viver e então foi exatamente isso que eu fiz, eu vivi cada instante que eu podia daquele dia.

Duas quadras abaixo do meu hotel havia um restaurantezinho barato, a comida era tão maravilhosa quanto os donos atenciosos e carinhosos. O local estava na família deles a gerações e se mantinha ainda, não por dinheiro, mas por amor. Assim, descobri outras coisas maravilhosas nessa cidade maravilhosa. Por onde eu andava tinha sentimento na cidade, uma paixão incompreensível no ar, e eu estava fugindo disso, por isso não sentia antes.

O dia passou voando e eu nem se quer percebi que estava fora do hotel já tinham horas e horas. O único que me avisou de meu horário foi o sol que começara a tomar tons alaranjados sinalizando que o meu horário estava próximo.

Passei em uma floricultura no caminho, eu compraria flores para a loira misteriosa, não rosas, mas girassóis, isso, combinam com o seu brilho. É incrível como é fácil achar a Torre Eiffel em Paris, basta perguntar para qualquer pessoa na rua para que lado fica e eles vão te responder com a maior tranquilidade possível, te presentearão, até mesmo, com um sorriso, caso carregue flores em seus braços.

Cada esquina que eu me aproximava, o meu coração batia mais forte. Minha boca estava seca e parecia que o peso do mundo estava sobre meus ombros, mas eu acho que é isso mesmo, esse é o peso da coragem, ou, a sombra da loucura, porém eu jamais iria descobrir se não tivesse tentado.

Engraçado pensar que talvez eu jamais tivesse encontrado o amor de minha vida se eu não tivesse aparecido aos pés da Torre naquele entardecer. Mas, vocês já sabem como essa história termina...deixe-me esclarecer uma coisa. Existem dois amores. Existe o amor da sua vida, que é aquela pessoa que você vai amar incondicionalmente, mas vocês não vão ficar juntos porque são muito diferentes. E existe também o amor para a sua vida, que é aquela pessoa que você ama, mas não tanto quanto a anterior, porém é com essa que você vai passar o resto da sua vida, pois um consegue mudar pelo outro.

Consegui chegar algum tempo antes ao local de encontro, eu estava sentado na grama observando como aquela singela estrutura de metal ganhava a magia e o esplendor dela conforme o sol ia se pondo. Vi o sol começar a se esconder em meio ao horizonte e as estrelas saírem para dançar junto da lua e do vento gelado que começava a soprar, sinalizando que o inverno estava indo embora, mas não sem antes se despedir.

Só agora percebo que acabei sendo estúpido em comprar gira sóis para a surpresa, já que esses murcham em meio a escuridão, porém agora não havia mais tempo para trocar as flores.

Quando eu estava mais perdido em meus pensamentos, foi quando meu coração acelerou quase ao ponto de pular para fora de minha boca. Meu estômago formigava e minha boca ficou mais seca do que o Saara inteiro naquele momento. Ela vinha em minha direção me procurando. Seu sorriso brilhou tanto quanto o sol quando me viu sentado na grama.

Ela se aproximou com a mesma calma de antes, porém agora parecia aliviada quanto ao fato de eu realmente estar ali por ela. Ela caminhou lentamente até meu lado, se sentou e encostou sua cabeça em meu ombro para observar a Torre como se fosse uma despedida temporária.

Eu estava o nervosismo em pessoa, porém assim que me virei para ela, o mundo inteiro pareceu ficar em câmera lenta. É como se só existíssemos nós dois naquele momento. Eu queria falar alguma coisa, mas nada conseguia fazer o caminho das minhas cordas vocais até a ponta de minha língua. Então foi aí que ela sorriu, passou a mão em meu rosto e me beijou.

Me acalmei no mesmo momento. Meu cérebro estava em festa de tantas coisas que dançavam por ele. Uma verdadeira explosão de Dopamina, Serotonina e todos os outros neurotransmissores possíveis.

- Fico feliz que tenha vindo Kevin, eu esperei por você esse tempo todo. – Ela sussurrara em meu ouvido.

Eu teria questionado como ela sabia meu nome, mas sinceramente não importava tanto quanto saber o porquê de ela "ter me esperado por todo esse tempo".

- Como assim "Me esperando"? – Indaguei-a confuso.

- Sim! Te esperando. Eu esperei por todo esse tempo por alguém corajoso o suficiente para ficar comigo, alguém merecedor. Por isso, "Te esperando". Venha comigo Kevin, eu vou te perguntar isso só uma vez... Você quer descobrir o mundo comigo? – Ela levantou e começou a dançar na ponta dos pés como uma bailarina desajeitada enquanto me fazia esse convite absurdo, mas ao mesmo tempo perfeito.

Eu travei por alguns segundos e levei a mão as mãos ao meu rosto. Lágrimas escorriam por ele, mas não eram de felicidade, eram de puro desespero e medo. Medo do que o mundo poderia ter reservado para mim.

- O que foi?! Eu falei algo de errado? – Lena se prostrou logo em frente ao meu rosto coberto por minhas mãos.

- E-e-eu te comprei flores... – Foram as únicas palavras que eu consegui dizer naquele momento.

- Girassóis...! São minhas flores favoritas. – Ela acariciava minha mão. – Mas...você sabe que ainda preciso de uma resposta sua não é mesmo?

Ela estava correta, eu não sabia o que responder, eu nem mesmo sabia como responderia caso soubesse a resposta. Tantas coisas que eu poderia dizer ou fazer, tudo isso somado ao turbilhão de emoções que eu estava sentindo...realmente era uma sensação esmagadora.

E foi nesse exato momento que eu fiz a coisa mais insana que eu poderia ter feito em minha vida. Quando cada fibra do meu corpo mandava eu correr, pois estava em rota de colisão contra o chão e aceitar o convite dela seria pular do penhasco...eu aceitei a sua proposta.

- S-sic Parvis Magna. – Também foram as únicas palavras que eu consegui dizer naquele momento.

Lena sentara novamente ao meu lado. Seus braços envolviam meu corpo todo e eu conseguia sentir o seu calor em minha pele, ela não disse nada, apenas ficou ali sentada agarrada em mim. Talvez tenhamos passados meros minutos, ou passamos horas daquele jeito, comigo tampando o rosto com medo do mundo, como uma criança faria e ela ali, me abraçando como se eu fosse o porto seguro dela. Até que ela quebrou o silêncio.

- Partiremos amanhã pela manhã. Iremos para a Espanha...Madrid nos espera.

.

- E foi exatamente assim o começo de toda essa história maluca. – Eu conversava com Stefano ainda.

Essa seria nossa última conversa, o aeroporto se aproximava e ele descia em duas paradas.

- Realmente uma história peculiar. Sabe, você está quase dando uma de Helena comigo e me convencendo a viajar com você só para ouvir essa história toda . Mas façamos o seguinte, talvez meu primo esteja no mesmo Voo que você, procure por um Francesco. Se encontra-lo diga que o Stefano pediu um favor. Ele vai entender. – O homem começara a se despedir enquanto pegava suas coisas para descer do ônibus.

- Sem problemas. Essa história não ficará sem um final para você. Jamais seria eu egoísta o suficiente para manter esse final somente para mim. – Eu gargalhava enquanto me despedia de meu confidente.

- Sério...Francesco é magro, alto, cabelo preto como a noite, bagunçado como suas ideias e barba por fazer. Será fácil reconhece-lo, basta procurar por um neandertal em meio aos portões de embarque.

- Arrivederci Stefano!

- Arrivederci amico!!

Desde Helena, não, desde que eu fugi para a França, eu nunca mais cuidei as horas, porém quando eu estava em minha antiga vida, eu vivia pendurado no relógio. Aprendi que não se apressam as coisas, elas simplesmente acontecem e coisas como "atrasos" não existem, são somente invenções de nós para nós mesmos para que possamos nos prender e conter. O horário nos impede de sermos livres por completo.

Por sorte eu ainda tinha algum dinheiro, o suficiente para comprar uma meia dúzia de passagens, comida e bebida o suficiente para que eu volte para a casa de meu pai novamente. Meu próximo destino...Paris, França. Existe uma certa Torre que eu devo me despedir.

Acho que estou fazendo isso pelo mesmo motivo que se visita o túmulo de alguém. Relembrarmos o passado, seja ele melhor ou pior. Tenho que levar girassóis no túmulo que representa aquilo que eu era antes de Helena.

Sic Parvis Magna não é mesmo...

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