Souvenir | Romance Lésbico (C...

By LilyMDuncan

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Eleonora Baudelaire está no auge dos seus vinte e seis anos, mas acha que já viveu todas as suas aventuras. S... More

Apresentação
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By LilyMDuncan

"Perdida em você"

| LOST ON YOU, LP |

Ellie

Ela tentou subir umas três vezes na moto antes de obter sucesso. Eu a incentivei com palavras de apoio, mas não podia segurá-la para facilitar o processo. Embora desejasse acomodá-la bem confortável, não podia soltar o guidão da moto senão as duas parariam de bunda na calçada. Assim que ela conseguiu, meio desajeitada e medrosa, agarrou minhas costas com força. Eu sentia meus pulmões sendo esmagados, mas ri baixinho.

— Podemos? — Fiz a moto roncar e tentei pegar equilíbrio.

Elisabeth grunhiu.

— Não podemos ir de carro?

Eu ri de novo.

— Carro combina com vestidos — falei com convicção, mesmo que não houvesse nenhum sentido nisso. — E você colocou uma calça justamente para combinar com minha moto.

— Eu posso trocar. Ainda estamos aqui mesmo — a médica tentou.

Eu revirei os olhos, mas o capacete escondia minhas feições. Ela estava engraçadinha com o próprio. Depois de pedir que Damian providenciasse dois capacetes para que pudéssemos prosseguir com nosso plano de fuga, traçamos uma rota bem definida que durasse exatos cinco dias. Esquecemos momentaneamente nossos problemas há poucas noites, porque passamos os dias seguintes sem dormir pensando em nossa aventurinha.

Elisabeth estava muito animada, mas era evidente o seu medo em andar naquele veículo de duas rodas. Felizmente ela não ficara reclamando ou tentando me convencer de seguirmos de carro, porque sabia que seria mais divertido se fôssemos de moto. Talvez a mulher estivesse tão carente de experiências malucas e envolventes quanto eu, porque estava igual uma criancinha ansiosa com um passeio escolar.

Eu não sabia o que esperar daqueles cinco dias, mas tinha certeza que seriam memoráveis. Quanto mais distante estivéssemos de Calhoun, melhor seria. Eu não tinha cabeça naquele momento para aguentar as obscuridade da nossa cidade. Levávamos apenas um celular na pequena mochila, porque ela ainda precisava falar com os filhos, e poucas roupas. Mas prometemos que ficaríamos longe da internet e curtiríamos o destino, a paisagem, o descobrimento.

Dei partida sem respondê-la, porque assim não daria tempo de ela voltar atrás. Mas a senti reagir em protesto apertando minha cintura com mais vigor. Ela batia o capacete incessante no meu, e mesmo que eu tentasse ir um pouco para frente para dar espaço, ela descia o corpo comigo com medo de cair. Achei engraçado, mas temia perder a concentração conforme a moto dançava calmamente pelas ruas.

Por isso nunca levava alguém na garupa.

— Não vamos escorregar? — ela gritou contra o vento, segurando-me com energia.

— Eu nunca escorreguei — disse sem modéstia alguma, embora estivesse com o medo interno de acabar nos acidentando.

Eu mantinha a velocidade baixa, porque queria que ela pegasse confiança em mim. Ela também estava muito fixa em não cair e praticava bem todas as minhas instruções. Antes de sair de casa, alertei-a sobre ficar quietinha ali cima, porque qualquer movimento brusco poderia me desequilibrar. Ela não me puxaria, não se curvaria ao contrário do movimento da moto, não desceria os pés dos suportes e não faria nenhuma outra bobagem enquanto eu estivesse pilotando. E ela estava se tornando uma ótima passageira.

Deslizei sem nenhum problema pelos faróis abertos. Naquela época do ano, a cidade ficava calma e isolada, como se quase ninguém morasse ali. Nos demais meses, por exemplo, as ruas ficavam amarrotadas de carros. Eu ainda tinha privilégio de chegar com antecedência nos lugares, porque passava nos corredores entre os carros e não perdia nenhum tempo. A moto, além de ser mais econômica, servia como uma poupadora de minutos. Claro que havia a possibilidade de sofrer um acidente mais grave, considerando que meu corpo — exceto a cabeça — ficava exposto.

Mas eu nunca me quebrei desde que tirei minha carta de motorista. Eu já havia destruído alguns retrovisores, mas nunca ralei nenhuma parte do meu corpo pilotando. Pensando bem, há alguns anos não me machucava como fazia na infância, que arrancava a poupa do dedão ou furava meus cotovelos subindo em alguma árvore. Eu estava imune, e odiava a sensação. Eu gostaria de sofrer mais impactos só para me lembrar que estava viva.

Havíamos nos afastado bastante do condomínio de Elisabeth, e a própria estava menos temerosa, porque não me sufocava tanto. Ela mantinha a cabeça longe para a minha alegria. Acredito que estava curtindo a brisa do final da manhã. Sem carros ou sem pessoas para bloquearem a visão, o horizonte se abria como braços de mãe. Eu mesma estava adorando passar pelos prédios antigos de arquitetura impecável ou parques maravilhosamente abençoados.

Tomei a autonomia sobre o controle — e também sobre a coragem, porque não sabia como ela reagiria — de aumentar a velocidade. Ela fungou, mas a reclamação não saiu sozinha; um riso de liberdade apetitosa escapuliu. Eu conseguia até mesmo vê-la lambendo os dedos diante do entusiasmo.

Naturalmente permanecemos na estrada por um bom tempo. Eu não sabia quantas horas, mas minhas pernas e costas diziam que havia sido quase uma vida. Havíamos parado em um restaurante fora da cidade e próximo do primeiro hotel que ficaríamos, porque a fome batia com violência. Naquela altura, Elisabeth Ewing estava eufórica e cheia de energia, porque desceu da moto em um salto digno de uma ginasta olímpica com sorriso imenso grudado no rosto.

— Você viu como me comportei? — ela admirou-se. Eu sorri, incentivando-a. — Eu nunca... Quer dizer, acho que andei de moto umas duas vezes na vida, mas nunca assim. Nunca por tanto tempo. E estamos fora da cidade! — Ela girou na tentativa de observar o local melhor, apesar de ter ficado presa no capacete. — Eu estou fora da cidade sem meus filhos. É a primeira vez que isso acontece!

— Tudo tem uma primeira vez, não é? É o que dizia minha tia. — Ri, abobalhada. Aproximei-me para arrancar a gaiola de sua cabeça, porque ela estava tendo dificuldades. Depois disso, tirei o meu próprio capacete. — Está com fome?

— É claro! — Elisabeth sorria tão abertamente que dava para ver dois dentinhos na parte de baixo se amontoando. Ela ficava mais encantadora com os dois brigando por espaço logo em cima de sua gengiva. — Eu preciso de whisky. E você, de água.

Claro que eu não pensava em beber, mas ela havia me deixado com vontade. Entramos no restaurante. Deparei-me com a decoração impecável e inúmeras mesas com cadeiras almofadadas. Eu não vi muitas pessoas almoçando, mas as poucas que estavam ali pareciam se divertir. No fundo, um jazz muito melódico soava sob a voz de uma moça elegante, que gesticulava sensualmente sobre o palco e preenchia todo o ambiente. Eu não sabia que tínhamos música de dia!

Se eu soubesse que o lugar era tão chique, não teria optado de vir. Eu não queria ser estraga prazeres, mas não duvidava que a comida era um absurdo de cara. E eu havia dito que não a deixaria pagar tudo sozinha. Devíamos ter uma aventura simples e moderada. Mas agora não havia muito o que fazer, uma vez que já sentávamos em uma das mesas perto do palco e fazíamos nossos pedidos.

— Você se importa se eu ficar levemente alterada? — Elisabeth ocupava todo o espaço em seu assento.

— Não se você não me levar para cama depois disso — zombei.

— Ah, não. É tão óbvio assim? — Ela entrou na onda.

— Não tem problema. Mais tarde, quando chegarmos no hotel, aproveito para beber também. Assim ficamos quites. — pisquei.

Ela apoiou os ombros em cima da mesa. Eu já a conhecia bem o suficiente para saber que o movimento vinha acompanhado de alguma problemática interessante. Ela me perfurava com seus olhos castanhos, mas eu permitia que ela levasse um pedaço da minha carne, que sangraria no processo e que pingaria meus fluídos no chão, porque tinha certeza que tudo seria reposto.

— Você não acha isso tudo uma loucura? — soltou.

Eu queria rir, mas seria desrespeitoso. Eu gostava dessa versão dela. Vigorosa, ativa, animada, ingênua. Ela sorria com a beiradinha dos olhos — simplesmente encantador. Eu não fazia ideia que uma viagem boba causaria tantas atribulações, mas aproveitava os segundos sabendo que, possivelmente, não teria outra chance de relaxar assim.

— Qual a sua especialidade em seu trabalho? — Mudei de assunto.

O garçom, simpático e polido, chegou no mesmo instante. Colocou as comidas organizadamente na mesa e retirou-se em poucos passos. Elisabeth serviu-se de vinho e bebericou da taça com delicadeza. Ela me devorava também, usando dos segundos com a boca cheia para me analisar.

— Eu sou neurocirurgiã. Recentemente também chefe do departamento.

Deslumbrei-me. E não era à toa que a mulher era podre de rica — ok que já nascera em um rio de dinheiro, mas seu trabalho lhe enchia os bolsos cada vez mais. Se eu não fosse tão medrosa, faria algo do tipo, apenas porque gosto das coisas que o dinheiro pode comprar.

— Parabéns! Uau! — comentei como uma pateta. — Então é uma loucura... Eu e você.

Ela levou o garfo à boca, sacudindo a cabeça. Deu outro gole no vinho enquanto eu engolia o suco de frutas vermelhas. Julgando pelo seu olhar afiado, reconhecia que a havia deixado sem jeito.

— A viagem sim, porque eu nunca deixo meu lar inteiramente na mão de terceiros, embora confie na minha governanta para administrar o local. Mas eu e você? — Elisabeth franziu as sobrancelhas, rindo pelo nariz.

— Você é médica, importante, salva vidas — numerei algumas qualidades. — E eu sou apenas uma musicista frustada e estudante de Psicologia.

— Duas coisas que se encaixam, Eleonora. Música e saúde são sinônimos. Você vai salvar vidas também; isso se já não salva. Eu e você temos muito em comum, porque ambas cuidam da mente — ela respondeu sabiamente.

Eu concordei, porque fazia total sentido. Em toda a minha vida, nunca conheci alguém que não gostasse de um bom ritmo para dançar, meditar, dormir e afins. Havia muita terapia que usava a música como mecanismo para incentivar o bem-estar. Devíamos falar mais sobre musicoterapia, porque apenas recentemente começaram abrir estudos científicos sobre o tema. As pessoas, aos poucos, estavam notando a eficiência do processo.

Comemos em silêncio durante alguns minutos. Obviamente não éramos adeptas a falar de boca cheia, mas suspeitava que tal prática não era a única coisa que mantinha as duas quietas. Acredito que nosso subconsciente estava gostando de aprofundar a imagem uma da outra. Ambos os cérebros estavam agindo da mesma maneira: comíamos disfarçadamente, mas vez ou outra subíamos os olhos para focalizar um detalhe que não tínhamos reparado na última olhada. Eu, por exemplo, notava sua implicância de deixar a carne sempre por cima do garfo. Quando as demais comidas cobriam o pedaço gordo da carne, a mulher fazia questão de derrubar um pouquinho delas. Apenas uma minuciosidade.

Mas também havia a parte em que seus ombros se dobravam de forma desigual quando sua boca descia para capturar o alimento; o curvar sutil das sobrancelhas; a testa levemente crispada; a elevação das bochechas ao mastigar; os cotovelos sem o apoio da mesa. Antes de iniciar o almoço, ela passara uma boa quantidade de álcool em gel nas mãos e esfregara as palmas molhadas nas minhas, percebendo que havia derrubado muito em sua pele. Tudo sem quebrar a conversa ou desviar suas íris acastanhadas. Detalhes.

Eu queria mesmo descobrir o que ela estava pensando a respeito de mim.

— Você gosta de refrigerante? — Olhei no cardápio. Havia acabado de beber meu suco inteiro, mas queria algo que descesse queimando e não fosse nada alcoólico. — O menor refrigerante aqui é muito grande para mim.

— Sim. Eu sou bastante hipócrita, porque digo para meus pacientes cuidarem da saúde, mas eu mesma não me alimento direito e fumo como uma chaminé. — Riu-se. Eu queria que a agitada Elisabeth Ewing ficasse para sempre.

— Então vou pedir uma, ok? — avisei. Ela estava no término do seu prato, mas sua taça de vinho estava no início. Provavelmente teríamos de levar a garrafa embora.

E como pensado, tivemos de levar a garrafa debaixo do braço, porque Elisabeth só bebera uma tacinha. Pelo menos ela não sairia da zona consciente e podíamos conversar sem medo. Eu não queria pensar que estava aproveitando da situação apenas para tirar respostas dela.

Primeiro eu gostaria de saber o porquê de viajar comigo. Eu só podia concluir que ela não tinha muitos amigos — ou, sei lá, eu era milagrosamente mais legal que todos os outros. Havia também o fato de aceitar percorrer os lugares mais humildes ao redor de Calhoun. Sem luxo, sem tratamentos especiais. Eu podia muito bem sequestrá-la nesse meio tempo considerando que montei nossa rota. E ela podia fazer o mesmo. Ingenuidade demais, porém ela já havia dito que não queria viver com medo, tampouco eu mesma — embora os acontecimentos estivessem contra mim.

Ela estava empolgada e ofegante. Havia subido na moto sem dificuldades dessa vez; eu não podia ter ficado mais orgulhosa! A próxima parada era dali a vinte e poucos minutos, mas decidi nos estender mais. Ela não parava de cochichar em meu ouvido sobre como gostava de observar tudo em nossa volta, alegando que não apreciava a natureza adequadamente. Segundo ela, primeiro devíamos aplaudir os astros, os finos raios solares, para depois começar a comer verduras e saladas.

Então resolvi virar uma esquina desconhecida sem que ela percebesse. Elisabeth estava ocupada em elogiar as ruas, as construções, então não notou meu celular vibrando para sinalizar que estávamos saindo do caminho marcado. Na noite anterior, quando procurávamos as rotas pelo notebook, lembro-me de ter passado o mouse diversas vezes nos parques bonitos que existiam ali perto. Eu não tinha certeza de como chegaríamos lá, mas tentaria a sorte.

Avistei muitas árvores gigantescas antes mesmo de chegar perto. Elisabeth também viu, porque soltou uma exclamação e bateu — novamente sem querer — o capacete no meu. Eu parei a moto naquele lugar que parecia mais um bosque. Havia o frio, a desconfiança e curiosidade misturadas no nosso peito, mas não demos a volta.

— Preparada? — perguntei, entrelaçando meu braço no dela.

Elisabeth elevou o queixo e tentou enxergar no topo das árvores que pareciam ainda maior do ponto onde estávamos. Ela permitia que eu a guiasse sem saber que eu era péssima para o cargo. Sem meu celular não chegaria a lugar nenhum.

— O que é isso?

— É um dos parques daqui, mas não sei bem o que vamos encontrar lá na frente. Espero que sua arma esteja carregada — falei e recebi um beliscão amigável, no caso de existir tal nomenclatura.

— Eu tenho três crianças para cuidar! — ela riu, mas não sei se era de empolgação ou nervoso.

— E eu tenho uma — confessei. Ela me olhou sem entender. — Você!

Elisabeth girou os olhos, mas seu riso não havia morrido. Adentramos a pequena trilha com medo de toparmos com alguma coisa sombria, mas fomos agarradinhas para não nos perder da outra. Ela colocou a garrafa de vinho debaixo do blazer, porque não queria que nenhum guarda percebesse o objeto e acabasse nos expulsando dali.

Imaginávamos que, graças ao horário, encontraríamos uma boa quantidade de pessoas perambulando lá dentro. Havia cercas, pontes de madeira, placas e bancos em vários pontos estratégicos, mas nada de gente. Claro, também víamos as árvores, os arbustos, as rochas e a neve derretendo sobre cada um deles. Alguns pássaros chiavam, mas nenhum dispunha de uma boa afinação.

— É lindo. E calmo — Elisabeth murmurou.

Ela olhava tudo bastante maravilhada. A coitada deve ter ficado anos andando do trabalho para casa, da casa para o trabalho, e sem curtir os bons episódios da vida. Eu não a julgava, porque meu amor pelo meu apartamento era grande e rechonchudo. Nada melhor que dormir o dia todo após uma maratona de aulas — tanto lecionadas, quanto assistidas.

— Não está mais com medo? — Eu diminuía os passos.

— Nunca estive. — Ela escorregou a palma para meu pulso e depois para minha mão trêmula. Sorriu de um jeitinho muito agradável aos olhos.

— Você quer se sentar? — Sorri de volta.

Eu queria olhar para o nada e ficar mais tempo sob o aperto dela. Incrivelmente seu perfume adocicado, que me lembrava canela,  ainda estava presente, enquanto o meu com certeza já devia ter passado da validade. Mas eu não me importaria se ela me desse um cheiro gostoso e demorado no pescoço. Eu não estava fedendo, apenas não assegurava nenhum aroma viciante além o da minha pele natural.

Algo sobre mim: eu tendi a desejar qualquer pessoa que ficasse bastante tempo comigo e desse mole em algum momento, tudo por culpa de Câncer e Peixes em algum lugar do meu mapa astral. Eu gostava de criar história, de subir de nível como quem jogava um RPG (sim, nerd de carteirinha), de desfrutar das conquistas. Havia a parte que enjoava rápido, porque eu era sempre muito extrema em tudo o que aprontava. Mas isso não significava que não aproveitava bem o que me surgia.

Eu não queria objetificá-la, mas a imaginava como uma conquista, sim. Ela era o último nível em algum jogo difícil de console. Ansiava pela batalha seguida da vitória, porque queria o prêmio; o beijo, propriamente dito. Acho que duas Eleonora viviam dentro de mim — ou talvez existiam mais no aguardo de acordar em alguma circunstância. Uma dizia para ser forte e vê-la apenas como amiga, porque não era possível que depois de tudo sequer houvesse rolado algo mais quente (tudo bem que dividíamos a mesma cama, mas não contava). E a outra mandava eu tentar até obter sucesso, porque ela parecia dar esperança em tudo o que dizia, embora misteriosamente. Isso também fazia parte do jogo?

Eu não queria confundir amizade com algo mais e ser uma pessoa insuportável, mas as perguntas se perpetuavam na minha mente.

— Você está ouvindo? — Ela estava parada diante do meu corpo, mas não largava minha mão.

Eu tentei me concentrar em qualquer barulho diferente.

— O quê?

— Um rio! — Ela me arrastou ao dar-se conta.

Realmente chegamos na beirada de um rio de correnteza leve ali pertinho. Ele balançava sem nenhuma preocupação. Se não estivesse tão frio, pularia dentro da água e levaria a mulher pomposa comigo. Ela não teria como discutir, porque já estaria inteiramente molhada.

Elisabeth tirou a garrafa do esconderijo, mas não antes de olhar para os lados a fim de ter certeza que estávamos sozinhas. Sentou-se debaixo de uma árvore, pouco se importando se sujaria a traseira da calça jeans. Agachei com mais esforço, porque meu sedentarismo era gritante. Ela virou o vinho goela abaixo e esticou o conteúdo para mim.

— Você quer me embebedar? — brinquei já dando um gole de sorte, e o único também. Eu gostava da liberdade de poder ironizar as coisas sem que ela ficasse com um pé atrás. Era bem o contrário: ela sempre entrava na zombaria.

— Eu não preciso, Baudelaire — ela cantarolou, roubando o vinho de mim. Eu não sabia o que significava sua frase, mas não tive coragem de indagar. — Baudelaire. É francês?

— Sim! — respondi. Eu adorava expor essa informação, porque me sentia automaticamente culta e esperta. — A minha família paterna era francesa. Meu pai, inclusive, sabia falar francês desde pequenininho. Eu disse que aprenderia também, mas nunca tentei de verdade.

— Agora seus antepassados chacoalham o túmulo. — Elisabeth trombou o ombro no meu. Eu estava sentada meio torta, os braços na frente dos joelhos e pés entrando devagar para baixo da "torre" feita pelas pernas dela. — Você já foi para lá?

— França? Não, não. É difícil para eu chegar até mesmo em Londres que fica do lado de Calhoun! — eu disse.

Ela me fitou carinhosamente.

— Quem sabe na nossa próxima viagem?

Sob os pequenos raios solares, seus olhos vibravam no tom vermelho como fogo e assemelhavam-se à brasa em movimento dentro de uma fogueira.

— Quem sabe? — Delirei-me momentaneamente na cor daqueles lindos olhos castanhos.

Eu tomei um grande susto ao vê-la se aproximar audaciosamente. Eu poderia afastar meu corpo ou barrá-la no meio do caminho, mas meu tronco reagiu de outra forma: paralisou como uma pedra. Elisabeth bateu seus lábios nos meus sem nenhum pudor, e, visto que meu choque ainda era grande, abri a boca para permitir passagem e continuei de olhos abertos. Apenas relaxei quando ela cobriu as maçãs do meu rosto com ambas mãos, provavelmente pressentindo minha dúvida.

Logo descobri o gosto da sua saliva, da sua língua, do seu toque voluptuoso. Ela queria ditar a velocidade, mas eu quem pilotava uma moto, de tal modo que só podia acelerar. Havia certa urgência no ato que se banhava na luxúria maior que todos os outros seis pecados capitais. Entregaria-me completamente e pensaria pouco nos próximos passos, porque queria fazer aquilo sem nenhum método.

Eu sabia, eu sabia que ela também me desejava. Só não sabia que o beijo rolaria eventualmente. Empurrei-a de leve para trás e ela obedeceu o comando sem pestanejar, descendo de encontro ao chão e permitindo que eu deitasse sobre seu corpo. Eu a toquei com receio, porque não tinha ideia de até qual ponto poderia me envolver. Comecei pela cintura e subi timidamente para os peitos, mas parei. Ela apertou minhas costas nesse instante, temendo que eu fosse para trás abruptamente. Nossas bocas continuavam coladas e nossas línguas formavam um nó profissional e impossível de soltar.

Notando minha hesitação, ela usou do tato para alcançar meus dedos e guiar-me — pela segunda vez na tarde — para baixo da blusa que vinha acompanhada pelo blazer. Massageei um dos seios ainda em cima do sutiã e ouvi-a gemer contra meus lábios, abrindo espaço para que eu suspirasse de prazer. Apertei mais uma, duas, três vezes. Absorvi o exemplo anterior e enfiei a última mão para debaixo da roupa dela, mas fui mais ousada em querer sentir sua pele queimando a minha. Empurrei o sutiã ligeiramente para outra direção e possibilitei o livre trânsito para meus dedinhos ansiosos.

Ela tirou sua boca da minha apenas para gemer alguns tons mais altos, ainda que não houvesse aberto os olhos. Eu, por outro lado, mirava sua expressão de completo júbilo. O fogo ardia cada vez mais entre minhas pernas conforme ela respirava com pesar e movimentava-se em atrito ao meu corpo. Eu comprimi seu mamilo com força incalculada, mas ela tombou a cabeça para trás e mordeu os lábios, claro sinal de quem estava gostando.

— Desculpa. — Ainda assim resolvi dizer.

Ela segurou minha mão para que eu não saísse da área onde me encontrava. Eu gostava daquilo. Eu gostava até demais.

— Não. — Ela riu, parecendo lutar contra o próprio comichão em sua intimidade. — Está bom. Está bom, Eleonora.

Eu arrepiei-me com a declaração, sobretudo com meu nome soando tão sensualmente. Beijei-a de leve e afastei-me para olhá-la de novo.

— Mesmo? — O carinho singelo em seus seios permaneciam; quem visse de longe poderia achar que eu estava fazendo uma massagem cardíaca nela.

— Mesmo. Só não podemos fazer isso aqui — sussurrou.

Eu ri pelo nariz e fiz menção de levantar, mas ela me segurou com firmeza — minhas duas mãos fervilhando abaixo das vestes dela. Elisabeth não queria soltar.

— O que foi? — Distribui beijos pela sua face tentando completar o perímetro.

— Nós temos o hotel... Se você quiser — sugeriu. — E se quiser voltar também, claro.

— Sublime! — Utilizei do seu elogio recorrente contra a própria dona. Ela riu de forma mais gostosa ainda, mas eu precisava soltar seus seios que se moldavam em minhas mãos. Segurava, também, a vontade que rasgava perto da minha coxa.

Pelo visto, madrugaríamos.

E o beijo saiuuuuuuu! Comemorando como se fosse a minha primeira vez relendo o capítulo.

Eu não consigo suportar a Beth tão alegre e radiante. Ela é tão perfeita! E a Ellie já laçou a loba. Eu amo mais que pizza de frango com catupiry (comi uma ontem rsrs).

E o próximo capítulo? Só luxúria. Vocês me aguardem hehehehe. Eu estou viajando, mas provavelmente já estarei em casa quando for postar o próximo. Fiquem ligadinhos!

Em breve também respondo vocês, ok? Até terça-feira!

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