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Ethan pareceu sem palavras. Cruzei meus braços, e respirei fundo.
— Eu tenho certeza que você descobriu por conta da Liza. Você precisou de outra pessoa para te dizer, sendo que eu tinha te dito mil vezes que não havia te traído. Mas você simplesmente ignorou isso, e agora que outra pessoa falou, você acredita, e acha que tudo voltará a ser como antes. Mas isso não vai acontecer!
— Mirella...
Ergui minha mão e me aproximei dele.
— Eu quero que você saia daqui, agora! Eu só quero ver você quando for algo relacionado à Alicia, fora isso, não se aproxime de mim.
Ele pareceu surpreso, porém assentiu. Mas antes de sair, ele se aproximou ainda mais, e tocou em meu rosto.
— Eu não vou desistir.
— Uma pena! — me afastei. — Iria te poupar muito tempo perdido.
Depois disso ele saiu, e eu me joguei no sofá, colocando minhas mãos sob meu rosto. Droga, àquela noite em que tivemos uma recaída pode servir para ele pensar que ainda pode haver algo entre nós.
Mas isso nunca acontecerá.
A última coisa que eu quero agora, é um relacionamento, o que tivemos acabou a muito tempo, e não quero desenterrar algo que se foi a muito tempo.
Senti alguém se sentar ao meu lado, e vi Aubrey com um sorriso compreensível no rosto.
— Eu escutei a conversa de vocês, e você está certa! Ele já fez você sofrer tanto. Está na hora de você ser feliz, com alguém que te mereça, alguém digno para ter o seu amor. Alguém que te faça sorrir, e que te ame. Então não fique sofrendo por ele. Olha só para você. Um mulherão da porra. —
Ela piscou e eu sorri. É, ela tem razão.
Escutei alguém me chamar, e vi Alex, ele é neurocirurgião aqui no hospital. Nos esbarramos algumas vezes no corredor do hospital, e trocamos algumas palavras.
— Oi! — Ele deu um sorriso, e eu retribui. — Não te vi aqui pela manhã.
Ele disse com as sobrancelhas arqueadas. Alex é muito bonito. Sua pele é negra, e seus olhos são de um castanho diferente. Algo que eu nunca vi. Mesmo com o jaleco, posso ver que ele é bem musculoso. Seu sorriso é irresistível. E além de tudo: ele é super simpático.
— Ontem tive plantão. Hoje meu turno foi a tarde! — dei de ombros.
Ele assentiu, e quando ele ia falar algo, seu pager apitou, e ele me olhou rapidamente antes de correr pelos corredores.
Voltei a andar até minha sala, e franzi o cenho quando vi um jarro com flores.
Girassóis. Minhas favoritas.
Peguei o vaso, e retirei o bilhete de dentro.
Espero que um dia me perdoe, ruiva. Saiba que eu ainda amo você.
Essas flores não mudarão o fato de eu ter sido um verdadeiro babaca com você, mas eu não irei desistir. (você sabe melhor do que ninguém que eu posso ser bem persistente).
Com amor, Ethan.
Um sorriso se formou em meus lábios, ao ler o bilhete, mas rapidamente me repreendi.
Sei que isso faz parte do jogo dele.
E eu sei que ele não vai desistir tão facilmente.
Suspirei, e joguei o papel na lixeira. Encarei as flores por um bom tempo, elas são lindas demais para serem jogadas no lixo.
No fim resolvo deixar na minha mesa.
Liguei o rádio em uma estação qualquer, tentando me distrair do trânsito. Está tudo parado, faz mais de trinta minutos.
Alicia está na casa do Ethan, por isso estou mais tranquila. Mas ficar dentro de um carro, após horas trabalhando é totalmente cansativo.
E para piorar: está chovendo.
É possível escutar o barulho das gotas de chuva caindo sob o capô do carro. Não é uma chuva forte, mas mesmo assim, o tempo está frio e nublado.
Já sem paciência, desci do carro, sem me importar em me molhar. Andei por uns cinco minutos, até avistar uma multidão de pessoas em um lugar, um pouco afastado do meu carro, e fui até lá.
— Merda! — murmurei, vendo um carro colidido com um poste.
Tem um corpo estirado no chão, é de uma mulher.
— Já chamaram a ambulância?
Perguntei, e uma mulher assentiu.
— Sim, mas eles estão demorando. Já faz mais de trinta minutos.
Mordi o lábio inferior. Me aproximei até o corpo que está no chão, e vi muito sangue ao redor dela.
— Você vai ficar bem! — falei com a voz firme, me abaixando ao seu lado. — Me diga onde está doendo.
— Eu... eu não sinto minhas pernas. Eu não as sinto.— Sua voz era fraca, cheia de medo.
Tirei meu casaco bege que eu usava por cima de uma blusa branca, e pressionei o ferimento, em questão de segundos o casaco estava sujo de sangue. O ferimento está em seu tórax, e isso pode se resultar em uma fratura na medula espinhal. Torço para que não seja isso.
Não demorou muito, e o barulho das sirenes se fez presente em toda parte. As luzes piscavam, e logo os paramédicos chegaram com uma maca.
Me afastei da mulher, e eles a imobilizaram, e a colocou na maca. Acompanhei até colocarem ela dentro da ambulância.
— Por favor não me deixe sozinha. — Ela sussurrou apertando minha mão, o mais forte que podia.
Eles colocaram a máscara de oxigênio nela. Mas antes de sair, falei:
— Estarei indo logo atrás.
Ela me lançou um olhar agradecido.
Quando voltei ao carro, acompanhei a ambulância, até chegarmos ao hospital. Alguns enfermeiros e médicos, incluindo o Alex, estavam esperando na entrada.
Rapidamente a levaram para a sala de cirurgia e eu me sentei na sala de espera. Não podia deixa-la sem saber se ela está bem. Peguei meu celular, e mandei uma mensagem para Ethan:
Houve um imprevisto, vou chegar um pouco mais tarde que o previsto. Assim que possível pego ela.
Diga a Alicia que amo ela.
Ele digitou em seguida:
Ela disse que ama você muito mais.
Tudo bem. Alicia está brincando com Arthur.
Guardei o celular, fechei meus olhos por alguns segundos.
A essa altura, eu já havia perdido a noção do tempo.
Se passaram minutos?
Horas?
— Mirella? — escutei a voz de Alex, e me levantei para encara-lo.
— Oi. — Sorri fracamente. — Ela está bem?
Ele suspirou.
— Bem, graças a você, ela não morreu por conta da hemorragia. Mas...
Ergui as sobrancelhas, encorajando-o a continuar.
— Teve uma lesão nos segmentos medulares torácicos. Ainda não sabemos se é reversível, ou não. Pode ser que, com o tempo ela recupere os movimentos. Mas ainda não sabemos.
Eu suspirei, já suspeitava disso. Eu vi o ferimento, e aquilo parecia uma lesão na medula.
— Ela ainda não acordou, está sedada. Provavelmente só acordará amanhã.
Assenti.
— Então eu vou indo... tenha um bom plantão. — Ele dá um sorriso.
Me virei para ir embora, mas parei quando ele me chamou.
— O que acha de sairmos para jantar amanhã? — o olhei, totalmente surpreso.
Abri a boca algumas vezes, sem saber o que dizer. Mas então sorri.
— Tudo bem. Às 20:00?