Já era o fim da tarde e nada de Natally reclamar. Estávamos na praça de alimentação de novo, dessa vez para tomar sorvete. Max nos acompanhava, uma vez que seu turno na loja tinha acabado.
- Ela deve estar esperando para ir até a minha casa amanhã, como sempre fazia quando a gente namorava e ela queria discutir. – Max comentou, convencido. – Julie e Seth estão ferrados.
- Você não deveria cantar vitória tão cedo... – avisei.
Como se fosse cronometrado, os celulares deles apitaram, aviando que tinham recebido mensagem. Pela risada de Julie e a expressão de Max, minha melhor amiga tinha ganhado de novo. Nunca se deve apostar nada com ela.
- Natally veio até mim reclamar. – Julie leu em voz alta o que Seth tinha enviado. – O cabelo dela está horrível. Sinto muito, Max, mas você terá que usar vestido.
Ele negou com a cabeça várias vezes, sem acreditar. Olhei para ele e senti pena. Julie e Seth não pegariam nem um pouco leve e ele provavelmente precisaria usar até mesmo salto alto.
- Isso... – o pobrezinho não parecia nem um pouco animado com a ideia. – Foi armação.
- Aposta é aposta. – ela cruzou os braços. – Você perdeu e agora precisa pagar.
Ela lançou um olhar que eu conhecia muito bem para Max. Eu chamava aquela encarada de "eu vou te matar se você discordar de mim". O garoto me encarou, receoso.
- Ela realmente está levando isso a sério, né?
- Infelizmente, sim. – coloquei a mão no ombro de Max, de maneira acolhedora. – Da última vez que perdi uma aposta para Julie, tive que andar por aí com uma fantasia de banana durante uma semana inteira.
- Como ela é cruel. – ele constatou. Minha melhor amiga sorriu ao ouvir aquilo.
- Eu sei disso muito bem. – suspirei. – Aliás, por quanto tempo você vai usar as roupas dela?
Max pensou sobre isso por um momento.
- Ela não disse. – respondeu. – Eu deveria ter especificado? Achei que seria durante algumas horas e pronto.
Tentei não rir. Ele realmente achava que Julie deixaria isso para lá tão rápido assim?
- Você mexeu com a "Senhora das Apostas" e achou que sairia ileso? – ela debochou.
- O que isso quer dizer? – Max encolheu os ombros.
- Que você está ferrado. – respondi.
- Querido Maxwell, não se preocupe. – ela sorriu para ele. – Você vai adorar se vestir como a bela, sempre na moda e muito modesta Juliette Mills.
Julie nos levou de carro até a casa dela e ligou para Seth, exigindo que ele aparecesse imediatamente lá. De fato, não demorou até chegar e ainda trouxe consigo um estojo de maquiagem.
- De onde você tirou isso? – soltei uma risada.
- Se eu te contasse, teria que te matar. – ele brincou.
- Sente-se aqui. – ela apontou para a penteadeira no quarto dela.
Max fingiu estar em uma marcha fúnebre, caminhando até lá lentamente e cabisbaixo.
Ele me lançava olhares inquietos enquanto Julie se empenhava em maquiá-lo, e Seth escolhia um vestido e uma sapatilha. Sentei na cama e aguardei. Não contive as gargalhadas quando eles terminaram o trabalho.
- Você está um arraso. – comentei.
Maxwell estava com um dos vestidos floridos favoritos de Julie, maquiagem perfeitamente aplicada e cabelo escuro em um topete elegante. Não conseguimos obrigá-lo a usar uma peruca, então Seth cuidou do penteado.
- Agora... – Julie pegou um par de sapatilhas no armário. – O último toque.
- Vocês usam o mesmo número? – Seth perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Não. Eu as comprei para a aposta. – ela deu de ombros.
Isso é tão típico da Julie que sequer me surpreendi.
Max tentava desajeitadamente calçar as sapatilhas e resmungava ao mesmo tempo sobre como estava repensando se queria mesmo esse tipo de amizade na vida dele. Caminhou até o espelho e se olhou por um instante.
- Cruzes, estou tão...
- Deslumbrante. – Seth lançou uma piscadinha para o amigo.
Max balançou o vestido e fez um biquinho para nós. Parecia mais confortável com a ideia, então Julie começou a tirar fotos. Eu sabia que ela nunca permitiria que ele se esquecesse desse dia.
Dormi (novamente) na casa da minha melhor amiga e acordei com ela resmungando.
- Liz, olha aqui! – ela balançava o celular praticamente no meu rosto.
Bocejei, espreguicei-me e esfreguei os olhos, com toda a calma do mundo só porque eu sabia que isso a irritava.
- Garota, é uma emergência. – pelo tom de voz dela, eu sabia que não era algo grave de verdade.
Olhei para o celular.
- Você acredita que ela teve a audácia de lançar moda com isso? – Julie parecia furiosa.
O motivo da raiva era a foto que Natally postou em uma rede social. Exibia um corte de cabelo totalmente diferente do estrago que tínhamos deixado, além de ter incorporado os tons de verde e azul em um penteado cheio de estilo. Várias pessoas estavam deixando comentários, elogiando.
- Que legal. – abri um sorriso.
- Não! – Julie rosnou. – Isso é péssimo! Ela deveria ter ficado triste e envergonhada, não era para essa megera jogar na nossa cara o quão maravilhosa ela é!
- Talvez seja um sinal de que a vingança não é a resposta. – tentei argumentar.
Minha melhor amiga me encarou, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.
- Você já esqueceu da camiseta que ela destruiu?
Depois do incidente, acabei guardando os restos do presente de Jonathan no meu quarto, com todo o carinho do mundo. Ela realmente tinha jogado baixo. Nós também. Agora estávamos quites e era bom vê-la seguindo em frente, mas não falei nada para não gerar discussões com Julie.
Mudei de assunto e começamos a discutir sobre os projetos da escola. Diferente do nosso que já tinha acabado, Seth, Benny, Tommy e os outros ainda estavam trabalhando em novas jogadas com os novatos do time de hóquei.
- Podemos visitá-los algum dia para ver como estão as coisas. – sugeri.
Julie concordou e começou a planejar com que roupa iria. Eu teria adorado continuar ali e ouvi-la divagar sobre qual era o vestido ideal para a ocasião, mas Anna Marie me enviou uma mensagem, perguntando se eu podia ir até a casa da família Ross.
Fui até lá com um aperto no coração, esperando alguma notícia ruim. Durante todo o percurso, o rosto de Jonathan coberto de ataduras não saiu da minha mente. Ao chegar lá e descobrir que não tinha nada a ver com alguma tragédia, senti o alívio me dominar. Lembrei a mim mesma que ele estava ferido, não morto.
Ela me ofereceu algo para beber e sentamos juntas na sala de estar.
- Quando eu estava limpando a casa, encontrei uma carta no quarto dele. – Anna Marie começou a contar. – Te chamei aqui na esperança de que você soubesse o motivo de ele não ter comentado nada comigo.
Li o conteúdo e não pude conter a surpresa: ele tinha sido aceito na mesma faculdade que os outros meninos do time de hóquei. A data da carta indicava que ele a tinha recebido antes de ir para o exército, na mesma época em que descobri que iria para a faculdade de artes. Lembro-me perfeitamente dele afirmando que não tinha recebido resposta nenhuma.
- Ele também não me contou. – expliquei toda a história para a mãe de Jonathan.
Reli a carta.
- É uma bolsa integral. – constatei, o orgulho tomando conta de mim. – Provavelmente, mérito dos talentos dele como jogador de hóquei.
- Por que ele mentiria e esconderia algo tão importante? – ela questionou.
Encolhi os ombros, indicando que não possuía uma resposta para a pergunta.
- Talvez ele estivesse esperando o exército chamá-lo. – deduzi. – Por isso, pensou que não valeria a pena se animar com a faculdade.
- O pai dele acha que não é uma boa ideia perguntar sobre isso enquanto ele ainda estiver longe. – ela disse.
- Considerando que temos tão pouco tempo para falar com ele, e nos últimos dias sequer conseguimos contato... – soltei um suspiro triste.
- Ferido, não morto. – Anna Marie tocou meu ombro e trocamos um sorriso.
Ela tinha razão. Jonathan viria para casa, as coisas voltariam ao normal e nós teríamos a chance de questionar o porquê de ele não ter nos contado sobre a faculdade.