Espreguiço-me na imensa cama, sentindo os lençóis macios que me cobrem. Aos poucos, as memórias da
noite anterior vêm a minha mente e abro um sorriso.
Foi uma noite mágica. Sentir seu toque, o calor de seu corpo; suas mãos em cada canto do meu corpo, foi incrível. O nervosismo foi consideravelmente atenuado pelo ardente desejo que me consumiu.
— Não imagina o quanto vê-la dormir e tê-la em meus braços me faz feliz. — Francis sussurra, chamando minha atenção.
— Bom dia. — Sorrio timidamente.
— Não há motivos para formalidades ou para ter vergonha, querida. Somos casados agora, já vi tudo o que esses lençóis estão cobrindo. — Francis ri ligeiramente.
— Ainda não consigo acreditar que nos casamos. — Aproximo-me mais, aconchegando-me em seu peito nu.
— Tem razão, é como se fosse um sonho. — Suas mãos afagam meus cabelos.
— Estou faminta. — Comento, após ouvir minha barriga roncar.
— Quer tomar café aqui ou lá embaixo?
— Pode ser aqui.
— Vou pedir para que preparem o nosso café. — Francis coloca-se de pé e é inevitável não olhá-lo.
Um sorriso zombeteiro brota em seu rosto, assim que nota meu olhar intenso. Ruborizo imediatamente.
— Não faça isso. — Balanço a cabeça em negação.
— Você fica encantadora quando está com vergonha. — Ele me beija rapidamente e vai se vestir.
Enquanto ele se veste, aproveito o tempo para agradecer a Deus por mais um dia e pelo meu casamento, é claro. Não demora muito para que Francis deixe o quarto.
— É, Cristal... Você é Cristal Chevalier Beaumont. Grande, mas chique. — Murmuro comigo.
Escolho um vestido simples, bonito e confortável. Prendo o cabelo em uma trança que Adela me ensinou a fazer. Após estar devidamente pronta, resolvo sair do quarto; conhecer o lugar que vou chamar de lar, ao menos, por algum tempo.
A casa dos Beaumont é bem maior do que minha antiga casa. Estive aqui apenas uma vez, rapidamente, em um jantar. Os corredores contam com peças de decoração, pinturas e uma tapeçaria de encher os olhos.
Desço as escadas que conduzem à sala principal. Pinturas com o rosto de Meredith e outras paisagens enfeitam as paredes. As poltronas, sem dúvidas, possuem pequenos detalhes em ouro. Um luxo. Tão luxuoso quanto as salas do palácio.
Algumas mulheres limpam o local. Seus trajes são semelhantes aos que Senhora Petrovich e sua equipe usam.
— Bom dia, senhoras.
— Bom dia, Senhora Beaumont. — Elas respondem em uníssono.
— Para que lado fica a cozinha?
— Siga para a esquerda, é a segunda porta. — Uma das mulheres responde-me.
Agradeço-a e vou para o caminho indicado. Próxima à cozinha, posso ouvir a voz de Francis, mas totalmente diferente do que estou acostumada, o que me faz duvidar se realmente é ele. A voz é carregada de raiva, autoritarismo e prepotência.
Espio pela fresta da porta e meus olhos recusam-se a acreditar no que vêem.
— Isso está horrível. Acha que eu sou você para comer essa porcaria? — Ele grita com uma senhora.
— Não, senhor. — A senhora abaixa o olhar. Os outros empregados continuam fazendo suas tarefas.
— Faça melhor ou será demitida. Ah, mais uma coisa, e isso serve para todos vocês, Cristal está morando aqui agora, quando eu não estiver, nunca deixem que ela se aproxime do porão. E conhecem as regras: fiquem longe de lá também. Entenderam?
A senhora balança a cabeça em confirmação, assim como os outros. Volto para o início do corredor, procurando fingir que não ouvi nada.
Francis deixa a cozinha. Sua face está totalmente transtornada, porém, ao notar minha presença, um sorriso singelo brota em seu rosto.
Meu coração bate descompassado no peito. Não sei definir o que estou sentindo. O Francis com quem me casei é doce, amável, compreensivo, protetor e incapaz de fazer mal a uma mosca. Por isso decidi casar-me com ele. Algo muito grave deve ter acontecido para fazê-lo gritar com uma senhora e deixar ordens expressas a meu respeito.
O que deve haver no porão? Por que não posso sequer me aproximar? Isso é muito estranho.
— Querida, estava pedindo para a cozinheira preparar um bolo. Quer pedir mais alguma coisa? — Francis aproxima-se.
Respiro fundo. Sem saber o que fazer ou como agir diante do que aconteceu.
— Eu não quero nada, obrigada. — É tudo o que consigo formular.
— Aproveitando que está aqui, vou apresentá-la aos empregados da cozinha. Após o café, pode conhecer o restante da casa.
— Claro. — Forço um sorriso.
— Está tudo bem, querida? — Ele ergue as sobrancelhas.
— Sim. Apenas estou com fome. — Coloco uma das mãos na barriga, rindo ligeiramente.
— Que indelicadeza, a minha. Vamos.
Francis segura minha mão e leva-me até a cozinha. Os empregados param de conversar, assim que entramos. Eles sussurravam.
— Meus queridos, esta é minha esposa, Cristal. — Francis dirige-se a todos com gentileza. Como sempre fez.
— Seja bem-vinda, senhora. — A senhora que há pouco foi xingada, fala-me com um sorriso.
— Obrigada.
— Seu pedido já está sendo feito, Senhor Beuamont. — Uma outra mulher chama nossa atenção.
— Vamos deixar o bolo para mais tarde. Sirvam o café, por favor. Ah, minha esposa é a senhora desta casa, sigam todas as suas ordens. A palavra de Cristal é lei. — Ele me olha e sorri.
E é inevitável não retribuir.
Os empregados apressam-se para servir o café. Francis me conduz para a sala de jantar, local onde o café sempre é servido, segundo ele.
— Quando tiver algum pedido especial, não hesite em falar com as cozinheiras. Esta casa também é sua. — Sua mão repousa sobre a minha.
— Obrigada. — Entrelaço nossos dedos. — E quanto a Meredith e seu pai?
— Falaram com o rei Marcus e ficaram no palácio. Decidiram deixar a casa para nós dois.
Os empregados colocam à mesa. Agradecemos a Deus pela refeição e apreciamos todas as delícias que nos foram servidas.
Os únicos locais que não conhecemos foram o quarto do Senhor Pierre e de Meredith, respectivamente, a biblioteca — que está com problemas de mofo por não ser utilizada — e o misterioso porão.
Agora, estamos no jardim. Um magnífico jardim. Flores de várias espécies e um pequeno lago enfeitam a propriedade dos Beaumont.
O Reino de Solária sempre possuiu um solo fértil e vários recursos naturais. Devido a isso, segundo papai, os outros reinos desejam nosso território. Principalmente, o Reino de Ivanova.
— Preciso lhe confessar uma coisa. — Encaro os olhos negros de Francis.
— Não gostou da nossa noite?
— É claro que gostei. — Sinto minhas bochechas queimarem, ao lembrar. — Na verdade, eu ouvi você brigando com uma das cozinheiras. Por que gritou com ela? — Ergo as sobrancelhas.
— Você não precisava ter ouvido aquilo, Cristal. — Francis suspira pesadamente. — Aquela cozinheira já nos deu alguns problemas desde que a contratamos. Ela é preguiçosa e tem a mania de servir-nos comidas velhas. — Ele balança a cabeça em negação. — Não queremos mandá-la embora porque sabemos que ela é mãe solteira, tem dois filhos para criar, no entanto, às vezes precisamos ser firmes com ela. É complicado, querida.
— Realmente, é uma situação difícil, meu amor. Mas sei que Deus irá recompensá-los por serem piedosos com aquela pobre senhora. — Acaricio seu rosto.
Eu sabia que meu marido tinha uma boa explicação para o que eu vi. Francis é um homem extraordinário, em todos os aspectos possíveis.
— Você me chamou de meu amor. — Sorri. — Pode repetir?
— É claro que sim, meu amor. — Meus braços envolvem seu pescoço.
— Eu te amo, querida. — Rapidamente, seus lábios tocam os meus.
— Eu ouvi mais uma coisa. — Respiro fundo. — Sobre o porão. Por que não posso me aproximar de lá?
— Ah, isso... Na verdade, meu pai não gosta que ninguém entre lá. Era o lugar que mamãe pintava. Suas pinturas ainda estão lá, tudo permaneceu da mesma forma desde que ela se foi.
— Você falou como se fosse um local potencialmente proibido e perigoso.
— Aquela lugar é importante para papai e ele deseja preservá-lo. Por isso, não tolera ninguém naquela sala. — Com ternura, Francis prende-me em seus braços. — Desculpe não ter falado sobre isso com você primeiro. É nosso primeiro dia como casados e não queria estragar um momento tão importante com coisas nem tão importantes assim. Apenas fique longe do porão.
— Você que precisa me desculpar por questioná-lo tanto.
— Imagina, Cristal. É seu primeiro dia em uma casa nova. Tem direito de saber o que quiser.
— Então, posso pedir um assado para o almoço? — Crispo os olhos.
Meu marido ri e assente.
— Como disse, pode pedir o que quiser. É a senhora desta casa.
— Vou falar com as cozinheiras, então.
Desvencilho-me de seus braços, porém, ele me puxa para si, novamente. Francis me beija com paixão e retribuo da mesma forma. Sentindo-me completa por ser sua.
Assim que me solta, seus olhos repousam sobre mim com ternura, amor e um misto de bons sentimentos. Consigo sentir cada um deles e agradeço a Deus por possuir um marido tão magnífico.
— Agora, pode ir.
Sigo para a cozinha. Depois de alguns corredores, paro em frente à porta. Ao abri-la, novamente, os funcionários que cochichavam param abruptamente, encarando-me assustados.
— Se não for muito incômodo, gostaria de pedir um assado para o almoço. — Sorrio.
— Iremos preparar, senhora.
— Obrigada. — Respiro fundo. — Qual o seu nome? — Pergunto à mulher que Francis xingou há pouco.
— Emily, senhora.
— Eu quero pedir desculpas pela forma como meu marido falou com você mais cedo. Falei com ele e espero que isso não se repita. No que depender de mim, quero me dar bem com todos vocês. — Sorrio.
— Não sabe onde se meteu, menina. — Um senhor, descascando batatas, chama minha atenção.
— Não entendi. — Crispo os olhos.
— Não quero ser estraga prazeres, a senhora casou ontem, mas essa família é estranha. — O medo no olhar de todos os empregados deixa-me desconfortável.
— Eu também faço parte dessa família, agora. Não admito que o senhor fale assim, com todo respeito. — Encaro-o seriamente.
— Para o seu bem, menina, abra os olhos enquanto é tempo e fuja desse lugar.
Oi, amores.
Obrigada pelas leituras, votos e comentários. ❤
Alguns devem estar pensando "Nossa! A Cristal é muito burra mesmo."
No entanto, vale salientar dois pontos:
1. A história se passa no século XVIII, a realidade das mulheres era diferente naquela época.
2. Cristal está cega de amor e quando isso acontece com alguém, a pessoa ignora qualquer aviso, afinal de contas, o seu amado(a) é "perfeito(a)".
Até o próximo capítulo!
Esperem o inesperado!