Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Trinta e Um: O Retorno

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By alinemoretho

Durante alguns segundos intermináveis, eu, estagnada, apenas consegui analisar meu pai de longe. Era duro não conseguir interpretar quais eram os sentimentos escondidos atrás daqueles olhos castanhos me analisando detalhadamente e ainda precisar esperar alguma atitude da parte dele

O que ele estava sentindo naquele momento?

Seria surpresa? Dor? Ódio? Eu não sei. Naquele instante ele podia me odiar e gritar comigo o quanto quisesse, pois eu não fugiria mais.

Por estar esperando a maior bronca da minha vida, eu fui pega de surpresa quando o contrário aconteceu.

Lágrimas intensas começaram a descer dos olhos dele e um choro profundo e doloroso lhe abateu a alma de tal forma que quase não conseguiu manter-se em pé, sendo auxiliado por Victor, ainda ao seu lado, a manter-se de pé. No momento seguinte papai recobrou suas forças e adiantou-se rápido em minha direção, abraçando-me com toda a força. Eu não consegui agir de outra forma, além de extravasar e liberar, de igual modo, todos os meus sentimentos.

“Ele me ama! Ele ainda me ama!” eu dizia a mim mesma enquanto os braços de papai me apertavam de modo sufocante.

— Sarah! Minha menina! — ele balbuciou enquanto pranteava alto e acariciava meus cabelos. — Obrigado, meu Deus! Obrigado!

Eu tinha tanto para dizer. Tantas desculpas para pedir. Mas minha voz sumiu, tal como minhas forças, e eu me permiti ser aconchegada ao colo do meu pai para sentir seu amor sendo expresso daquele modo tão singular. Enquanto isso, lembrei-me de Jesus contando a história do filho pródigo, especialmente a parte em que foi acolhido de volta por aquele a quem traiu, depois de muito tempo. Assim eu era. Recebi do Senhor a chance de retornar e consertar meus erros do passado.

Papai deu um pequeno passo para trás, se afastou e segurou meu rosto úmido em suas mãos. Fui capaz de enxergar como, apesar de ser ainda relativamente jovem, seu rosto aparentava ter envelhecido e o corpo emagrecido naqueles meses em que estive fora. Meu pecado fora como uma doença sobre os ossos do meu progenitor.

— Ah, filha! Como está linda — elogiou e usou os polegares para secar minhas bochechas com todo o cuidado. — Você voltou... — Ele cedeu aos sentimentos outra vez e quis ocultá-los ao esconder o rosto com as mãos ao mesmo tempo em que pranteava e lamentava. Parecia luto, mas era alegria. — Esperei tanto, tanto por esse dia...

Ele veio até mim novamente e me enlaçou com força, permanecendo em silêncio por um bom tempo, sem conseguir acreditar na visão de quem estava ali parada diante dele.

“Está na hora, Sarah. Diga a verdade. Mostre a ele seu arrependimento” ouvi aquela voz em minha mente e senti um aperto no coração, prevendo que a hora mais temida acabara de chegar.

— Papai. — Busquei chamar a atenção dele puxando sua camisa. — Precisamos conversar.

— Sim, precisamos — ele concordou comigo e, recuando, segurou minhas mãos e esboçou um sorriso. — Eu só preciso respirar um minuto. São muitas emoções para um velho como eu.

Eu assenti e reparei quando Victor se aproximou trazendo um copo de água para nós dois. Com tantos acontecimentos frenéticos, eu havia me esquecido completamente da presença dele no cômodo.

— Obrigado, garoto. — Meu pai aceitou a cortesia e, após dar leves batidas no ombro de Vic, entonou todo o liquido transparente do copo.

— Vou deixá-los a sós — ele avisou com a voz um tanto embargada e esboçou um sorriso triste para mim antes de sair rápido pela porta.

Finalmente sozinhos, papai me convidou a tomar um lugar ao lado dele em uma das mesas. Chegava a ser engraçado o modo como ele não tirava seus olhos de mim em nenhum momento. Talvez, com medo de que eu desaparecesse outra vez, ele quisesse me manter sobre sua constante supervisão.

— Ah, Sarah, eu fiquei tão preocupado. Não houve um só dia em que não te imaginei correndo riscos por aí — ele rapidamente tomou a iniciativa da conversa e não pude culpá-lo pela ansiedade. — Por que nos deixou? Como conseguiu ficar sozinha esse tempo todo? Onde morou? Como criou uma criança? Meu Deus! O meu bebê gerou outro bebê!

Segurei um dos braços dele e o fiz me encarar.

— Prometo te contar tudo, mas antes... — Fiz uma pausa me esforçando para engolir minha vontade de chorar. — Preciso te pedir perdão.

— Filha, eu me senti tão culpado...

— Não, pai. A culpa não foi sua. Eu fiz muitas coisas terríveis e há tempos venho nutrindo a ideia errada de que apenas eu sofri as consequências ao precisar criar minha filhinha sozinha. Mas todas as escolhas erradas tomadas por mim afetaram vocês também e eu não pensei nisso. — Olhei para baixo, sentindo o peso daquela confissão me esmagar. — Eu escolhi namorar Victor e quis me entregar a ele, mesmo sob o aviso constante do senhor para que eu não ferisse os princípios de Deus, também foi minha decisão aceitar o dinheiro da Raquel Ferraz para abortar quando engravidei e depois, pela graça de Deus, desistir da ideia, e além disso, todo o plano de fugir partiu de mim. Vocês todos sofreram porque eu fui egoísta. Fiz tudo pensando nos meus problemas e não amei ninguém além de mim e...

— Eu já te perdoei por tudo, Sarah. — Ele me acolheu com um dos braços e soltou um suspiro longo. — Já a perdoei há muito tempo.

Foi impossível não me sentir tocada com tanto zelo. Mesmo assim era difícil ouvir as palavras dele e acreditar que depois de todos os meus atos, não sobrou nem mesmo um leve ressentimento em seu coração.

— Eu o feri muito, pai. O senhor não deve ter esquecido isso de um dia para o outro — pontuei com grande dor.

Papai fez uma pausa e sorriu um pouco.

— Bem, eu consigo me lembrar exatamente da manhã da sua partida. — Ele me olhou com um ar de tristeza. — Eu acordei cedo e estranhei não sentir o cheiro daquele café maravilhoso que você fazia antes de ir para a faculdade, invadindo o meu quarto. Levantei e, pensando que talvez naquele dia sua saúde não estivesse bem, afinal os episódios de mal-estar e vômitos eram frequentes, agora já sei o porquê. — Esboçou uma risadinha. — Como de costume, fui até seu quarto, bati algumas vezes na porta e quando não obtive resposta, nem um murmúrio sequer, eu entrei e encontrei a carta aberta sobre a escrivaninha.

Para minha surpresa, papai retirou do bolso de sua calça uma folha de caderno meticulosamente dobrado e me entregou.

— Eu reconheço — respondi e senti as mãos tremerem ao desamaçar o papel e observar com cautela cada palavra escrita por aquela letra tão familiar.

Queridos papai, Jonas e Davi,
Eu sinto muito, muito mesmo, por precisar partir tão depressa sem me despedir de vocês. Sou uma tremenda vergonha e não mereço fazer parte da família Rodrigues. Estou indo embora e peço que, por favor, não me procurem. Já cuidei de tudo e vou ficar bem.
Amo vocês.
Assinado, Sarah.”

— Quando terminei de ler, acreditei que aquilo não passava de uma brincadeira de mau gosto da sua parte e de seus irmãos. — Papai engoliu em seco. — Mas não era e descobri isso da pior forma quando Jonas entrou no quarto em pânico, me contando que as palavras da carta eram verídicas e você, de fato havia tomado um ônibus e partido para não-sei-onde. — Senti a dor incutida naquelas palavras e a cada lágrima rolada dos olhos dele, parte do meu coração a se despedaçava também. — Eu te procurei tanto. Mesmo depois de receber notícias suas com aquela outra carta, eu rodei cada centímetro dessa cidade e conversei com cada um dos seus colegas. Nenhum deles sabia do seu paradeiro, nem mesmo Gabriela, sua melhor amiga.

— Ah, papai...

— Quando acabaram minhas esperanças, eu passei a questionar a Deus. Não compreendia porque Ele havia permitido que aquilo estivesse acontecendo comigo e porque se recusava a me atender quando eu clamava pedindo pelo seu retorno. — Ele deixou cair os ombros, derrotado. — Fiquei muito doente. Profundamente abatido e sem forças para nem sequer me levantar da cama. Nem mesmo perder sua mãe, me trouxe tanta dor. Talvez porque eu sabia que ela estava segura nos braços do Senhor, mas, e quanto a você? Quem poderia me garantir que algum homem maldoso não lhe havia enganado e sequestrado?

Como fui tola em ter feito tudo aquilo. Meu pai sempre fora tão bom para mim e eu apenas causei-lhe dor e desgosto.

— O senhor deveria ter desistido de mim, pai. Gastei todo o seu tempo, recursos, saúde...

O olhar de papai ficou um pouco mais duro e ele balançou a cabeça negativamente.

— Em meu lugar, você desistiria da sua filha? — questionou, tocando em um ponto delicado para mim.

— Não — respondi sem titubear, mas logo em seguida senti um peso abatendo minha alma.  Eu me coloquei no lugar de papai e imaginei quão terrível seria se Mabel simplesmente fosse embora e me deixasse sem notícias. Eu provavelmente enlouqueceria e não passaria um dia sequer sem procurá-la incansavelmente.  — Não consigo ter paz se ela não está perto de mim.

Meu pai umedeceu os lábios e afagou meu cabelo.

— Eu senti o mesmo durante todos os meses em que esteve longe, minha princesa. — Seus olhos gentis me fizeram romper em lágrimas novamente. — Você não deveria ter duvidado do meu amor.

— Sim, eu sei, pai — choraminguei e encostei minha cabeça no ombro dele. — Fui burra e se o Senhor Jesus não tivesse misericórdia, eu não sei o que seria de mim.

Ele estremeceu e segurou minha mão.

— Prefiro não pensar nos "e se isso ou aquilo" — murmurou. — Deus sabe bem o que faz. Ele tem os seus meios e seus propósitos. — Ele ponderou um pouco. — É maravilhoso notar como a graça do Senhor não desperdiça nada. Além de trabalhar na sua vida, a mão Dele tmabem esteve sobre aqueles que te cercaram, Sarah.

— Como assim? — Franzi o cenho.

— Bem, o primeiro a ser lapidado pelas mãos do Senhor foi eu mesmo. Aprendi duramente a confiar e esperar o tempo Dele, mesmo quando nada parecia fazer sentido. — Ele mordeu o lábio. — Eu duvidei muitas vezes, não me orgulho disso, e, mesmo assim, nada, absolutamente nada, saiu do controle soberano de Jesus.

— Amém — sussurrei, mas não podia deixar de expor meus sentimentos. — Eu apenas tenho dificuldades para enxergar o lado bom em toda essa bagunça.

Papai assentiu, mostrando-me sua compreensão e compaixão.

— Agora, depois de toda essa prova, eu consigo olhar para trás e pensar em alguns aspectos bons da sua partida, não que eu tenha me alegrado com ela. — Ele exalou ou ar pela boca.

— Como o quê, por exemplo? — questionei ainda um pouco cética.

Papai fez silêncio e refletiu, formulando sua resposta na mente.

— Bem, filha, em certo dia, fui ao meu gabinete na igreja para buscar alguns livros e me deparei com um jovem muito bem apessoado me esperando, pois desejava falar comigo — começou e reparei atentamente a sua atitude de pegar a carta de volta das minhas mãos e, ao invés de guardar no bolso, rasgou em alguns pedaços, deixando sobre a mesa. — Sem entender muito bem, levei-o ao escritório, nos sentamos e ele me surpreendeu ao logo de cara manifestar seu intenso desejo de pedir perdão por ter me desrespeitado profundamente ao se envolver sem autorização com minha filha.

Pisquei algumas vezes sem conseguir absorver tudo aquilo.

— Victor? — sondei.

Papai assentiu rapidamente e alisou o tecido de sua calça.

— Embora eu tenha ficado muito irritado com ele, querendo culpá-lo por tudo, fui obrigado a reconher seu sincero arrependimento e até me impressionei quando contou como o Senhor o havia transformado — revelou me deixando em sem palavras  com a postura respeitosa de Vic. — Ele, inclusive, insistiu muito para ver você, queria se retratar, mas eu não permiti, garantindo que transmitiria sua mensagem de arrependimento. — Papai abaixou a cabeça revelando insegurança. — Ele é um bom rapaz, sempre ajudando as pessoas ao seu redor, ávido por conhecimento do Senhor. Em todos os nossos encontros demonstrou grande humildadade para reconhecer sua ignorância e pedir ajuda com os ensinos sobre as doutrinas da nossa fé. Eu concordei em discipulá-lo, mas precisei lidar com suas constantes perguntas, querendo saber do seu estado.

— Victor perguntava por mim? — questionei e ele maneou a cabeça, afirmando minha pergunta. — Por quê?

— Bem, porque ele é um homem inteligente, Sarah. As desculpas que oferecemos não pareceram fazer sentido em sua cabeça. Eu me esforçava para respondê-lo, sem demonstrar o meu pesar, quando tocava em seu nome, mas era duro pra mim, nem sempre conseguia esconder a aflição de não saber onde minha filha estava. Não foi por menos ele desconfiar que eu não estava sendo completamente sincero. — Papai fez uma pausa e entendeu pela minha expressão de confusão que mais explicações eram necessárias. — A princípio achamos que você voltaria logo, que era só uma crise de rebeldia. Ficamos esperando e, para não expor nossa família... E você... Bem, nós demos a desculpa que você estava passando por um momento difícil e havia se afastado de casa por um tempo a fim de poder se encontrar. Sim, talvez tenhamos sido covardes em não assumir os problemas da nossa família para todos, e isso me consumiu por todos esses dias, mas eu e seus irmãos queríamos poupa-la ainda mais, caso estivesse em uma crise depressiva ou algo do tipo.

Papai olhou para as mãos e seu comportamento refletiam a culpa carregada durante meses.

— No fim, Victor acabou acreditando nas próprias teorias dele. Disse posteriormente que entendia caso nosso objetivo fosse poupa-lo de saber que você seguiu em frente e acabou se envolvendo com outro homem. Nós não confirmamos isso, mas também não fizemos nada para impedi-lo de acreditar nisso.

— Nossa! E ele descobriu a verdade? — questionei perplexa.

— Apenas depois que você retornou. Quando ele te encontrou, foi atrás de mim em busca de respostas e me pressionou até eu contar a verdade. Eu confessei que você tinha saído de casa e não havia dado mais notícias. Só isso. Ao que parece, Victor estava temendo pela sua segurança, com medo do que havia acontecido durante seu tempo fora e tinha a bebê... — Os olhos dele demosntraram uma emoção ao falar sobre a recém descoberta neta. — Ele e o amigo Josué fizeram uma investigação para saber o que tinha acontecido com você, se corria perigo, se havia alguém as perseguindo. Não sei bem as motivações deles, mas depois desse confronto não tocamos mais nesse assunto, o que me interessava era que você estivesse bem. — Papai cruzou os braços em frente ao peitoral. — Victor, inicialmente, me evitou o quanto pôde, sempre fugindo de conversar comigo sozinho. Até o dia que me procurou e conversou cara a cara comigo. 

— As coisas ficaram muito confusas com meu retorno — contei e alisei a garganta. — Recusei de todas as formas voltar para casa, mesmo passando dificuldades, e então vim para esse abrigo aonde fui acolhida com muito amor. Pouco depois, acabei, por acaso, encontrando Victor. Ele não sabia que era pai da minha bebê, embora eu acreditasse no contrário, e primeiro pensou em uma traição antes de chegar a rápida conclusão de sua paternidade. Concordei em deixá-lo voltar para minha vida, mas não previ que ele faria de tudo para me aproximar do senhor, papai.

— Realmente, ele se esforçou para nos unir e organizou tudo para nosso reencontro. Com honestidade, ele me alertou em relação aos medos e ressalvas observados na sua conduta, por isso me pediu para aguardar o momento certo, pois você poderia fugir novamente. — Ele me encarou. — Foi duro esse tempo de espera. O pior de toda a minha vida. Era terrível saber que você estava tão perto e se eu me aproximasse demais, poderia te afugentar. Mesmo assim, cheguei ao meu limite e implorei ao Victor para te encontrar estando você pronta ou não. Nós oramos durante os dois dias anteriores ao bazar e quando chegou a hora, entreguei nas mãos do Senhor e fui.  — Papai riu um pouco e tocou meus cabelos. — Fiquei muito assustado quando contaram que, como previ, você foi embora novamente, mas graças a Deus, nada de mal lhe ocorreu. Do contrário, eu jamais me perdoaria.

— O senhor tem razão, papai. Deus tinha um propósito com tudo isso — confessei e acariciei o braço dele. — Eu precisava quebrar a cara e sofrer pra aprender o quanto dependo Dele. Em tudo fui sustentada. Hoje posso ver que eu estava nas mãos do Oleiro, sendo quebrada, moldada e renovada. Meus medos eram grandes. A culpa, então, nem se fala. Mas Cristo, somente Cristo me fez perceber quão necessitada da sua graça eu sou. — As lágrimas foram tomando conta dos meus olhos outra vez. — Porque, tal como o filho pródigo, eu estava morta e revivi, estava perdida e fui achada. É tempo de se alegrar!

Sem conseguir dizer mais nada, papai me abraçou com força e beijou minha testa várias vezes.

— Como eu te amo e louvo ao Senhor pela sua vida, Sarah! — Ele me apertou ainda mais. — É tão bom tê-la de volta! Tão bom!

— Eu também te amo, meu pai! — balbuciei com a voz hesitante e a respiração ofegante. —  Obrigada por não me odiar.

O silêncio se fez presente por um tempo considerável e quando ergui a cabeça, percebi  os olhos de papai fechados e conclui que estava orando ao Senhor. Deus era muito bom por abençoar alguém que não merecia nada, como eu, com tamanha graça. Quanto amor! 

Ao terminar eu vi o sorriso brotar nos lábios do meu melhor amigo e eu retribuí, sem saber o que fazer a seguir.

Não ficamos quietos por muito tempo, pois acabamos sendo interrompidos por alguns gritinhos conhecidos. Quando voltei-me para trás notei Vic entrando com nossa filha nos braços. Imediatamente olhei para papai e o flagrei levar um pequeno susto.

— A Maria Isabel veio conhecer o vovô — Victor disse já próximo o suficiente para a bebê esticar seus braços em minha direção.

Por alguns segundos, o homem ficou estagnado, sem saber como agir diante da netinha bagunceira.

— Ela tem o mesmo nome da sua mãe? — ele perguntou ainda sem conseguir tirar os olhos dos movimentos de Mabel.

— Eu quis homenageá-la — respondi um pouco constrangida.

— Uma bela, excelente e maravilhosa homenagem — Papai comentou, levantou-se e, emocionado pediu ao Vic para pegá-la, que, obviamente permitiu. Ao tomar a menininha nos braços e apertá-la contra si, ele começou a rir e dançar de alegria, fazendo-me sorrir um pouco. — Oh, meu Senhor! Quantas bênçãos Tu estás me dando neste dia! — Ele observou o rostinho da neta e segurou sua mãozinha. — Prazer, eu sou o seu vovô. — E beijou entre os dedos dela. — E a partir de hoje, você e sua mãe estão sob os meus cuidados. — Mabel riu em resposta. — Ora, não duvide de mim. Eu falo sério, pequenina! Quando chegarmos em casa, você terá seu próprio berço, seus brinquedos e uma família bem grande.

Apesar de morrer de amores pelo modo como papai se mostrava todo derretido pela bebê, eu fiquei pensativa. Até então, eu planejava permanecer no Instituto até conseguir recursos para me estabilizar. A ideia de voltar para casa não passou por minha cabeça.

— Está pronta para retornar ao lar? — Vic se aproximou e eu me surpreendi com sua capacidade de dedução.

Observei o ambiente ao meu redor e engoli em seco.

— Eu gosto tanto daqui — murmurei e alisei meu tórax na altura do coração. — Mabel é eu fomos tão bem acolhidas e amadas. Já nos acostumamos com tudo.

Victor me analisou por alguns instantes e sentou-se ao meu lado, observando comigo meu pai ainda concentrado em sua conversa com nossa ovelhinha.

— Eu entendo seu sentimento de retribuição, mas, pense bem, esse lugar foi criado com objetivo de acolher moças carentes, deixadas de lado por todos. Você tem uma família e um lugar para retornar — aconselhou levando-me a refletir. — Sinto grande admiração pela mãe incrível que você é, mas está na hora voltar a ser filha. Não acha?

Como resposta eu segurei com firmeza a mão dele e concordei com suas afirmações.

— Obrigada por cuidar de mim, Victor.

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