Monótono

By Mary_baby

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Resumo Wei Wuxian morreu. Wei Wuxian morreu e ele nunca voltou, não depois de treze anos, ou cem, ou mil. O... More

Capítulo 1: Calma
Capítulo 2 : Chance
Capítulo 3: Algo
Capítulo 4 : Canção de Ninar
Capítulo 5 : Nebuloso
Capítulo 6 : Dourado
Capítulo 7: Congelado
Capítulo 8 : Vidro
Capítulo 9 : Humano
Capítulo 10: Fratura
Capítulo 11: Despedaçar
Capítulo 12: Sozinho
Capítulo 14: Instável
Capítulo 15: Clareza
Capítulo 16: Borboletas
Capítulo 17 : Corroer
Capítulo 18 : Brasas
Capítulo 19: Virada
Capítulo 20: Tempestade
Capítulo 21: Nada
Capítulo 22: Salvação
Capítulo 23: Redefinir
Capítulo 24: Encerramento
Capítulo 25: Reinicie
Capítulo 26: Monótono
Capítulo 27: Amanhã
Capítulo 28: Casa
Capítulo 29: Pandemônio
Capítulo 30: Caleidoscópio
☆ Surpresa ☆

Capítulo 13: Mais fácil

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By Mary_baby

Traduzido e revisado pela fujoshipqsim ♡♡♡

Da-ge: Irmão mais velho
Er-ge: Segundo irmão mais velho
(JGY costumava chamar NMJ e LXC de volta quando eles ainda eram irmãos jurados)

O voo deles para Ohio é cedo; algo para o qual Wei Ying claramente não se preparou. Wangji pega suas roupas amassadas, a carranca sonolenta no rosto e o fato de seu cabelo estar arrepiado em várias direções ao mesmo tempo. Comparado a alguns vôos que Wangji teve ao longo dos anos, oito da manhã não é muito incômodo, mas as pálpebras de Wei Ying estão caídas e ele está bocejando sem parar. Não deve ser uma surpresa ver que, mesmo nesta vida, Wei Ying ainda não é uma pessoa da manhã.

Quando eles entram no jato particular, a carranca no rosto de Wei Ying cai. Seus olhos espreitam os arredores, congelados no mesmo local por vários minutos que Wangji começa a pensar que ele está em choque.

"Tão típico dos Jins possuir algo assim", murmura Wei Ying. Ele então corre para explorar o jato, deixando Wangji na entrada.

Wangji o observa partir, suspirando quando Wei Ying quase se esbarra em um abajur. Sozinho, Wangji se permite pegar a cabine em que está. É algo que você esperaria da família Jin: excessivamente extravagante e berrante. O interior em si é esbanjado em ouro e branco, lembrando-o das vestes da Seita Lanling Jin muitos, muitos anos atrás. Pendurado no teto, há um lustre brilhante; Wangji não ficaria surpreso se fosse feito de diamantes e ouro reais, considerando o quanto os Jins gostam de se exibir. Há um sofá branco correndo ao longo de um lado do jato e uma grande TV de plasma na parede oposta, exibindo algum tipo de filme. Felizmente, não é Shrek.

Em um canto, há um bar com uma variedade de garrafas de vinho atrás do balcão; uma senhora usando um vestido dourado já está lá, esperando para servir. Ela se inclina para Wangji, sorrindo quando ele passa por ela. Enquanto caminha, ele vê uma mesa grande o suficiente para dois, com vista para uma ampla janela claramente projetada para um ambiente romântico enquanto eles voam. Ele franze a testa para o vaso de rosas em cima da mesa, acariciando as pétalas antes de entrar na próxima cabine.

Wangji quase falha ao ver Wei Ying. Ele ouve uma risada fraca, vendo-o aninhado na cama grande no centro da sala. Uma vez que ele foi visto, ele aparece fora dos cobertores.

"Eu sei que os Jins são ricos, mas isso é ridículo", diz Wei Ying, embora pareça que ele esteja gostando da cama. "Lan Zhan, você já esteve em um jato particular como este?"

Wangji balança a cabeça. Com o dinheiro que ele e Xichen têm, eles poderiam comprar um jato particular, mas isso só atrairá atenção desnecessária.

Bocejando, Wei Ying se estica na cama. Ele tirou o casaco agora e, como sempre, veste um suéter preto com gola de tartaruga e calça jeans que Wangji considera muito apertadas. Ao longo dos meses em que o viu, Wangji notou que Wei Ying gosta de usar camisolas, principalmente folgadas; combinando-os com os jeans mais justos que ele já viu em sua longa vida. É uma bênção e uma maldição. Wei Ying parece maravilhoso, como sempre, mas vê-lo deitado na cama com essa roupa é quase demais para Wangji. É ainda pior quando Wei Ying rola para o lado, fazendo com que a barra suba e exponha seu estômago por um breve segundo.

Wangji desvia o olhar, forçando-se a estudar os detalhes de uma pintura próxima.

"Estou cansado, Lan Zhan", Wei Ying lamenta. "Esta cama é tão confortável..."

Recusando-se a olhá-lo, Wangji volta para a cabine principal. “Vamos partir em breve. Você deveria se sentar.”

Ele sai, ouvindo o som dos passos de Wei Ying logo depois dele.

Os dois se sentam, esperando o jato partir. Wei Ying está ao seu lado, já apoiando a cabeça no ombro de Wangji, como havia feito ontem. Ainda está demorando um pouco para Wangji se acostumar com tudo isso; mesmo antes da morte de Wei Ying, ele estava mais propenso a afastar Wangji do que a recebê-lo. Seu tempo como Patriarca Yiling apenas causou uma brecha entre eles que cresceu com o passar dos anos. Wangji nunca esquecerá que as últimas palavras de Wei Ying para ele foram dizer para ele se perder. Que ironia, essa foi uma das primeiras frases que o próprio Wangji disse a Wei Ying.

Ele havia tomado como certo o carinho de Wei Ying antes. Ele não fará isso novamente.

Wangji envolve um braço em volta da cintura de Wei Ying, com o coração batendo forte nas costelas no momento em que Wei Ying se aproxima. Eles permanecem assim, mesmo quando o jato está decolando. Os olhos de Wei Ying estão fechados, uma mão apoiada no peito de Wangji. A vista do país debaixo deles é adorável nesse clima, embora Wangji fique de olho em Wei Ying o tempo todo.

"Você já esteve na América, Lan Zhan?" Wei Ying pergunta do nada.

Wangji leva um tempo para relembrar todos os países para os quais viajou. Ele definitivamente já esteve na América antes. É lembrar ‘quando’ que é o problema.

Ele concorda.

"Sério? Quando?"

"Um tempo atrás. Demasiado longo."

Wei Ying levanta a cabeça para olhar para ele. "Você gostou? Onde você foi?"

A última vez que ele esteve na América... Não pode ter sido nos últimos dois séculos. Ele não ficou lá por muito tempo; aproximadamente vinte anos, até onde ele se lembra. Como eles tiveram que tomar cuidado para evitar chamar a atenção para si mesmos, Wangji e Xichen passaram boa parte da vida isolados e escondidos, limitando suas interações com todos e divulgando o mínimo possível de informações sobre si mesmos. Era uma existência vazia, necessária para sobreviver - mesmo que os dois não se importassem com suas vidas.

Mesmo assim, há uma lembrança na América que se destaca para Wangji.

"Não foi nada de especial", diz ele. "Eu me lembro... de um circo na Califórnia."

Foi algum tempo após a Revolução Industrial, por volta de 1880. Os homens usavam casacos de caimento e camisas de babados com musselina, modelando seus cabelos com cera e adornando-os com chapéus. Wangji só se lembra porque odiava o quão apertadas as roupas eram sobre ele. Foi a primeira vez que ele viajou para o Ocidente, e as diferenças que ele encontrou nos Estados Unidos o fizeram querer voltar para casa. Xichen também não o acompanhou, optando por viajar sozinho.

Sozinho e já desprezando o novo ambiente, Wangji se concentrou no mesmo objetivo que perseguia há anos sem fim: encontrar Wei Ying. Se Wei Ying não fosse encontrado em nenhum lugar em casa, talvez ele estivesse escondido no lado oposto do mundo.

Sua busca o levou a muitos lugares estranhos: movimentados centros da cidade, onde o ar estava cheio de fumaça; becos escuros vagando com prostitutas e ladrões cujos olhos nunca o abandonavam; o deserto de uma floresta onde ele pensou ter ouvido o som fraco de uma flauta, apenas para descobrir que não passava de sua imaginação cansada. Apesar de tudo, o lugar mais estranho era um circo que ele encontrou no meio da noite.

Wei Ying teria gostado das luzes brilhantes e da música alta, das dezenas de pessoas vestidas com roupas extravagantes. Considerando sua fobia de cães, Wangji se perguntou se ele também teria medo dos tigres e leões; até ele ficou surpreso ao vê-los sendo usados para apresentações a princípio. Ele nunca havia testemunhado um caos tão puro. No circo, não havia regras; apenas o objetivo de entreter e chocar.

Mas ele não foi ao circo para apreciar os shows. A princípio, ele veio pelo simples motivo de encontrar Wei Ying. Como esperado, ele não estava lá entre a multidão aplaudindo, ou mesmo os artistas. Enquanto o circo estava cheio de rostos animados, Wangji sabia que teria visto Wei Ying a uma milha de distância. Ele saberia.

Wangji ficou para a cartomante. Ele ouvira as multidões conversando sobre uma mulher bonita que falava de coisas desconhecidas e impossíveis, revelando informações sobre si mesmos que nunca ousaram contar a ninguém. Wangji não acreditou; os circos eram famosos por enganar o público - mas isso não significava que ele não estava desesperado.

E assim, ele procurou esta misteriosa cartomante.

Dizer que ele ficou surpreso foi um eufemismo. A misteriosa cartomante não era falsa; ela era uma imortal, assim como ele. Ela o cumprimentou com um sorriso, como se eles se conhecessem a vida inteira.

"Hanguang-Jun, eu estava começando a me perguntar se você iria me visitar ou não", disse ela.

Suas íris eram como um vazio; completamente preto e sem fim. Quanto mais Wangji a olhava, mais ele sentia o tempo se desintegrando ao redor deles. Ela tinha cabelos tão negros quanto os olhos, caindo em ondas escuras até a cintura; e sua pele era um contraste pálido e nítido, tão incolor quanto a lua cheia naquela noite.

Ele nunca a tinha visto antes. Ela estava vestida inteiramente de branco; se Wangji não sentisse a energia espiritual iluminando nesta tenda, ele a teria confundido com um fantasma.

"Quem é você?" Ele perguntou.

Os lábios dela se abriram em um sorriso. "Você não quer perguntar outra coisa?"

Ela era uma imortal muito mais velha que ele. Muito, muito mais velha. Wangji se perguntou por que ela se importava em ficar aqui com os humanos. Certamente, com seu poder, ela poderia ascender aos céus?

O sorriso que ela tinha no rosto não foi o suficiente para tranquilizar Wangji. Ele não queria demonstrar fraqueza ao fazer a pergunta que ameaçava gritar, implorando por uma resposta.

Mas ele era fraco, e Wei Ying importava mais do que seu orgulho.

"Onde ele está? Onde está Wei Wuxian?” Ele perguntou. Será que eu vou vê-lo novamente?

Os olhos da imortal se suavizaram e ela deu um suspiro suave. Wangji se lembrou de sua própria mãe; era o mesmo olhar que ela dava sempre que ele perguntava se poderiam visitá-la novamente.

Ao crescer, ele aprendeu a não fazer perguntas impossíveis. Wei Ying era diferente. Wangji se recusou a torná-lo impossível.

Em vez de responder à sua pergunta, o imortal respondeu a seus pensamentos.

"Você quer vê-lo novamente", disse ela, sua voz dançando ao redor da tenda. "Isso vai depender se ele quer ser encontrado."

Wangji não entendeu o que aquilo significava - ou melhor, ele entendeu; mas ele simplesmente não queria aceitar. Se a alma de Wei Ying se recusasse a retornar, o que mais ele poderia fazer? Por que ele ainda estava esperando por ele?

Por muitos anos, ele se fez essa pergunta; e, no entanto, por todos esses anos, ele ainda esperou Wei Ying. Não havia mais nada para ele além de esperar.

"Então", diz Wei Ying, "você conheceu uma cartomante em um circo... Você perguntou alguma coisa, Lan Zhan?"

Wangji volta seu olhar para Wei Ying. Aquela noite no circo foi há dois séculos atrás, quando ele temia nunca mais ver Wei Ying. Agora, quando Wei Ying se agarra ao seu braço e enche este jato com o cheiro de flores de lótus, Wangji fica feliz por nunca ter desistido.

"Uma pergunta", ele responde.

"E qual foi? As pessoas não costumam perguntar sobre o seu verdadeiro amor ou algo assim? Ela disse que você os encontrará em um futuro distante?” Wei Ying ri.

"Nenhuma."

O riso morre, substituído por um pequeno beicinho. Wei Ying sacode o braço.

“Você não vai me contar? Isso é maldade, Lan Zhan.”

"Hmm."

Wangji espera que Wei Ying jogue uma série de perguntas em seu caminho. Ele nunca desistiu, principalmente quando está tentando incomodar alguém. Para sua surpresa, Wei Ying fica em silêncio, o aperto no braço de Wangji afrouxando.

"Você já se apaixonou?" Ele pergunta do nada.

As sobrancelhas de Wangji sulcam. Ele olha para baixo, apenas para encontrar o olhar de Wei Ying não está nele. Ele está mexendo na manga do suéter, torcendo e puxando-o sobre a mão.

"Sim", Wangji diz sem hesitar.

Wei Ying pisca, uma carranca puxando suas sobrancelhas. “Oh. Hã. Não deu certo?"

Você não me amou de volta. Você não aceitaria meu amor. Você morreu.

"Eu nunca cheguei a dizer", diz Wangji. A conversa faz com que ele sinta que está pisando em cascas de ovos; uma palavra errada e Wei Ying saberá tudo.

" Oh...  isso é péssimo."

"Mas e você?"

Wangji prende a respiração, desprezando-se por fazer essa pergunta. Quando Wei Ying balança a cabeça, ele se despreza ainda mais por sentir alívio. Wei Ying merece ser amado, mas o egoísmo de Wangji é uma forte emoção que o conquista.

"Não. Ainda não. Você ainda está...” Wei Ying se vira para Wangji; a carranca em seu rosto se aprofunda antes que ele solte um suspiro. "Deixa pra lá."

"Hum?"

Wei Ying balança a cabeça pela segunda vez. "Enfim, estou cansado."

A mudança de tópico é estranha. Wangji decide não persegui-lo.

"Durma", diz ele.

“Talvez... Oh, espere. Eu quero usar essa cama chique!” Wei Ying se levanta de repente, agarrando sua mão.

Wangji se deixa arrastar para a próxima cabine. As implicações de ser levado a um quarto com uma cama não são totalmente perdidas para ele. Por sua própria sanidade, ele ignora tudo o que seu cérebro está tentando conjurar e recita desesperadamente as quatro mil e dezenove regras dos recantos das nuvens em sua cabeça.

Wei Ying solta sua mão, mergulhando primeiro na cama. Enquanto se sente à vontade, Wangji se senta ao lado da mesa.

“Você sabe, Lan Zhan, nunca pensei que jatos particulares pudessem ter camas neles. Você não cairia quando o avião pousasse?”

"Sente-se quando o avião estiver pousando", diz Wangji, observando as nuvens lá fora.

"Falando nisso, por que você está sentado aí?"

Suspirando, Wangji se vira para Wei Ying bem na hora em que um travesseiro é jogado nele. Ele bate no ombro dele e rola no chão.

"Sente-se aqui, Lan Zhan", diz Wei Ying, dando um tapinha no espaço ao lado dele na cama.

Wangji lentamente pega o travesseiro, passando as mãos sobre ele para o caso de pegar poeira do chão. Ele não tem a intenção de negar Wei Ying, mesmo que todo esse carinho que está sendo jogado contra ele seja enlouquecedor.

A cama mergulha quando Wangji se junta a Wei Ying no centro. Wei Ying não hesita em deitar a cabeça no peito, sem dúvida, ouvindo o quão rápido o coração de Wangji está batendo contra suas costelas. Felizmente, ele não faz nenhum comentário.

"Como você está se sentindo?", Pergunta Wangji.

"Estou... nervoso por ver Jiejie, mas estou bem por enquanto", diz Wei Ying. "E você estar aqui me ajuda."

"Estou feliz."

O silêncio cai entre eles. É confortável, não é o tipo de silêncio em que Wangji sente que precisa dizer alguma coisa. Wei Ying cantarola, pegando sua mão. Ele passa o dedo na palma da mão de Wangji.

“Você tem mãos muito bonitas, Lan Zhan. Alguém já te disse isso?”

Wangji respira fundo. "Hum?"

"Sim, você tem mãos muito bonitas ", diz Wei Ying, brincando com os dedos.

Curioso, Wangji repete o mesmo para ele. A pele de Wei Ying é macia, suas mãos surpreendentemente menores que as de Wangji. Ele segue as linhas na palma da mão de Wei Ying, desenhando sobre elas com o dedo.

Wei Ying ri. "Isso faz cócegas."

O som por si só é suficiente para fazer o coração de Wangji inchar. Seus olhos suavizam com a expressão que Wei Ying tem em seu rosto, o sorriso contente se espalhando por seus lábios. Alcança seus olhos agora; nada como os sorrisos falsos que ele vem forçando nos últimos meses.

"Você tem um sorriso bonito", Wangji diz a ele, incapaz de se conter.

Em um instante, desaparece. Wei Ying morde o lábio, evitando o olhar. "Só eu posso te provocar, Lan Zhan", ele murmura.

“Não é uma provocação. É a verdade."

O rubor se espalha nas bochechas de Wei Ying. Ele balança a cabeça, batendo levemente no peito de Wangji.

"Você deveria sorrir mais", continua Wangji.

Seu comentário consegue que Wei Ying o faça, embora seja óbvio que ele está se esforçando ao máximo para não fazê-lo. Por que ele está sendo tão tímido de repente? Wangji está apenas dizendo a verdade. Não há necessidade de se esconder de tais fatos.

"Ah, Lan Zhan, de onde vêm todos esses elogios?", Pergunta Wei Ying. “Você vai ordenhar meu ego nesse ritmo. Você acha que meu sorriso é fofo?”

Wangji assente. "Não é apenas o seu sorriso."

Um ruído sufocado sai de Wei Ying. Parece que ele está tentado a bater em Wangji novamente.

"Não posso ganhar contra você", diz Wei Ying. “Eu admito derrota, Sr. Lan. Eu nunca pensei que você seria um falador tão suave depois de todo esse tempo.”

Wangji não diz nada, apenas se contenta em deitar nesta cama com Wei Ying nos braços. Wei Ying continua a brincar com os dedos e Wangji reúne coragem para acariciar seus cabelos, alisando os fios que se enrolam em direções diferentes. Ele ouve um leve suspiro vindo do professor, sorrindo interiormente enquanto Wei Ying se inclina muito mais perto. Vendo que ele parece gostar, Wangji não para.

Com o tempo, os olhos de Wei Ying se fecham e sua respiração se acalma. Quieto, Wangji olha para ele, estudando a inclinação do nariz, seus cílios grossos esvoaçando, a separação de seus lábios. Ele ainda está. Wangji não leva muito tempo para perceber que adormeceu.

Wei Ying devia estar cansado de adormecer tão de repente. Delicadamente, Wangji enfia o cabelo atrás da orelha, afastando os fios do rosto. Ele fica contente em ficar assim pelas próximas horas, se afogando no perfume de flores de lótus e hortelã.

- x -

Jiang Cheng odeia esperar. Não importa quantos anos se passaram, ele ainda se lembra da agonia de esperar naquele corredor do hospital, apenas para o médico dizer que seus pais estavam mortos. Ele se lembra da segunda vez, como tinha ficado entorpecido demais para deixar tudo afundar, pois também poderia perder a irmã; como ele queria, mais do que tudo, separar Wei Ying quando o médico lhe disse que ela estava em coma. Wei Ying fugiu naquele dia e Jiang Cheng ficou sozinho, para esperar - como sempre. Ele esperou e esperou; ainda assim, sua irmã está no hospital e Wei Ying nunca se encaixará nessa família que ele destruiu.

Portanto, é um eufemismo dizer que Jiang Cheng odeia esperar. Ele odeia não ter controle, deixando sua vida ao acaso, onde poderia desmoronar novamente. Ele odeia não poder fazer nada.

Ele e Jin Ling chegaram a Ohio mais cedo nesta manhã e, desde então, A-Jie está dormindo profundamente. Jiang Cheng sabe que ela está apenas dormindo, mas a espera está lhe dando todo o tipo de ansiedade. São oito da noite aqui agora; eles estão sentados na cama de Yanli há quase duas horas, apenas com os sons das máquinas ao seu redor para mantê-los em companhia.

Jin Ling adormeceu em sua cadeira, ainda cansado do voo. Por mais que Jiang Cheng também gostaria de descansar, ele não pode. Não até ele conseguir falar com sua irmã e ter certeza de que ela está bem.

Ela está respirando, o que é sempre um bom sinal. Essa parece ser a única coisa boa que ele pode ver. Jiang Cheng mal consegue reconhecer sua própria irmã; ela é magra e sua pele está pálida doentia, nada como a noiva sorridente que ela deveria estar no dia do casamento. Ele aperta os punhos, vendo algo mais além deste hospital. Ele vê o banquete diante dele, as cores ofuscantes de vermelho e dourado. Acima de tudo, ele vê sua irmã caindo por aquelas escadas de mármore, cercada por uma poça de seu próprio sangue.

Jin Zixuan pode dizer várias vezes que foi um acidente. O próprio Jiang Cheng sabe que foi apenas um acidente. Mas isso não impede a raiva avassaladora que o envolve sempre que ele se lembra de quem exatamente empurrou sua irmã escada abaixo.

Um murmúrio suave chama sua atenção. Ele rapidamente se senta, vendo os olhos de sua irmã se abrirem.

"A-Jie!" Ele chama.

Isso acorda Jin Ling. Ele pula, olhando em volta em pânico. Assim que ele vê sua mãe, o adolescente se lança para frente e se apega ao braço dela. "Mãe!"

"A-Ling... A-Cheng?" A voz de Yanli treme quando ela olha entre os dois.

Ela pega Jin Ling, acariciando sua franja com as mãos trêmulas. Seus olhos se enchem de lágrimas, uma risada fraca escapando dela quando Jin Ling começa a chorar também. Ele tenta esconder esse fato abaixando a cabeça, limpando furiosamente as bochechas.

Embora ela seja pálida e magra, o sorriso anima todo o seu rosto. Toda a ansiedade deixa Jiang Cheng por enquanto; ele está feliz que sua irmã está aqui.

"A-Ling, você cresceu tanto", diz ela, enxugando as lágrimas por ele. "Você está começando a se parecer com seu pai."

Jiang Cheng sorri, cruzando os braços. "Isso é um elogio?"

Yanli solta outra risada, virando-se para ele. “E você, A-Cheng. Você se tornou tão bonito.”

É impossível parar o rubor que surge em suas bochechas. Jiang Cheng é rápido em desviar o olhar, fingindo não se incomodar com o elogio dela.

"Como você está se sentindo?", Ele pergunta.

"Cansada, mas estou melhor agora que vocês dois estão aqui." Yanli olha em volta deles, procurando na sala. "Onde está...?”

“Papai está tirando uma soneca agora. Ontem ele ficou acordado a noite toda”, diz Jin Ling.

Ela suspira. "Eu continuo dizendo para ele dormir, mas ele nunca dorme."

Com a maneira como Jin Zixuan está constantemente viajando pelos dois países, Jiang Cheng se pergunta como ele lida com o fuso horário. O homem ao menos dorme? Sempre que ele os chama de volta para casa, Jiang Cheng jura que está sempre morto à noite, onde quer que Jin Zixuan esteja.

Ele pode achar o homem irritante, mas não há como negar o quanto ele é dedicado à esposa.

"A-Ying está chegando?"

Jiang Cheng e Jin Ling trocam olhares para sua pergunta. Apenas a menção do nome dele e já existe tensão no ar; raiva correndo automaticamente dentro de Jiang Cheng. Jin Ling contrai os lábios, olhando desajeitadamente para as mãos. Se já é assim agora, como eles podem suportar ter Wei Ying na mesma sala? Jin Zixuan nunca deveria ter convidado ele aqui.

Yanli suspira.

Engolindo o nó na garganta, Jiang Cheng se obriga a falar. “Eu... acho que sim. Seu marido ligou para ele ontem e ofereceu um voo para ele até aqui.”

É difícil ignorar o quanto dói vê-la sorrindo com isso.

"Sério?"

Jiang Cheng acena com a cabeça. "Sim."

Ele deseja poder mudar de assunto. No espaço de alguns segundos, o rosto de sua irmã está cheio de vida novamente. O tom doentio de sua pele não é nada comparado ao quão amplo é seu sorriso, como ela está animada por ver o mesmo homem que Jiang Cheng deseja que deixasse suas vidas para sempre.

"Faz muito tempo desde que nós três estivemos juntos", diz Yanli.

"...Sim."

Os três juntos. Ela diz isso como se eles ainda pudessem viver como antes de tudo isso acontecer. A-Jie espera que ele cumprimente Wei Ying? Abrace ele? Chame-o de irmão de novo? Só de pensar nisso, Jiang Cheng quer rir. Não há como ele e Wei Ying voltarem a isso. No mínimo, ele manterá as coisas civis entre eles - para A-Jie - mas ele não quer mais nada. Não há mais nada que eles possam dizer um ao outro.

Ele não tem coragem de contar isso para a irmã, é claro. Jiang Cheng guarda seus pensamentos para si mesmo, deixando-o encher seu peito de agulhas.

É só quando Yanli de repente começa a tossir que Jiang Cheng se esquece desses sentimentos - por enquanto.

"Mãe!" Jin Ling chora, em pânico ao vê-la lutando para respirar.

Jiang Cheng se levanta, esfregando as costas e esperando que a tosse diminua. Quando ela termina, ele lhe passa o copo de água na mesa de cabeceira.

"Eu-eu estou bem", ela tranquiliza, dando um tapinha na cabeça de Jin Ling. "Não se preocupe."

"A-Jie, você deve descansar mais", diz Jiang Cheng.

"Eu quero falar com vocês dois... A-Ling, eu não posso acreditar o quanto você cresceu."

Jin Ling sorri, sentando-se reto. "Eu sou mais alto que o tio Meng Yao agora!"

Jiang Cheng bufa. "Todo mundo é mais alto que ele."

"Sim, mas papai diz que eu sou mais alto que você quando você tinha essa idade!"

"Ele é um mentiroso do caralho!"

A sala está cheia do som das risadas de Yanli. Jiang Cheng se apega a ele, sentindo falta da irmã por muito, muito tempo.

"A-Ying era mais alto que você", diz ela.

Ouvir seu nome quase estraga o clima. Jiang Cheng ignora desesperadamente a amargura que instantaneamente o arranha; ele não vai deixar Wei Ying arruinar esse momento.

“Por um centímetro. Agora sou mais alto que ele.”

Yanli levanta as sobrancelhas. "Sério?"

"Sim, ele é fodidamente pequeno."

Isso a leva a rir novamente. Mesmo que Jiang Cheng não aprove o assunto da conversa, ele está feliz por ela estar feliz.

Atrás deles, a porta se abre.

"O que vocês dois estão fazendo, não dando a ela nenhum descanso?"

Jiang Cheng se vira e vê Jin Zixuan caminhando até eles. Ele parece mais descansado do que antes. Quando se encontraram, ele tinha bolsas escuras sob os olhos e Jiang Cheng estava convencido de que adormeceria em pé. Jin Ling levou quase meia hora para convencer seu pai a tirar um cochilo, tranquilizando-o de que ligariam o mais rápido possível se acontecesse alguma coisa.

"Papai! Eu pensei que você estivesse dormindo?” Jin Ling diz, gemendo quando Zixuan bagunça seu cabelo. Ele tenta empurrá-lo, embora o sorriso em seu rosto diga a Jiang Cheng que ele não se importa com a atenção.

"Acordei agora. A-Li, há quanto tempo você está acordada?”

"Não muito tempo." Yanli estende a mão para acariciar sua bochecha, franzindo a testa levemente. "Você parece cansado. Durma corretamente, ok?”

Zixuan balança a cabeça. Seus olhos apertam os olhos com um brilho que não é arrogante ou brincalhão, apenas adorável. “Eu deveria estar me preocupando com você. Enfim, do que você estava rindo?”

"A-Cheng estava me dizendo o quão baixo A-Ying é agora."

Sobrancelhas levantadas, Zixuan volta sua atenção para Jiang Cheng. Depois de toda a dificuldade que ele teve em tentar convencer Jiang Cheng a convidar Wei Ying para cá, ele sabe mais do que ninguém que a reconciliação entre os irmãos é impossível. Jiang Cheng ignora seu olhar confuso, fingindo estar interessado em seu telefone.

"Hmm. Sim, agora que você mencionou, ele está”, diz Zixuan depois de um tempo, desviando o olhar de volta para a esposa. “Ele acabou de me mandar uma mensagem para dizer que está no jato agora. Ele deve pousar em catorze horas.”

14 horas.

Amanhã ele estará aqui.

O que eles fariam?

Jiang Cheng examina a sala. Jin Ling está encarando seus pais com olhos grandes, como se estivesse tentando guardar isso na memória. Zixuan agora está segurando a mão de Yanli, mexendo com ela e fazendo uma dúzia de perguntas sobre como ela está se sentindo. Não importa quantas vezes ela diga que está bem agora, ele ainda está preocupado. Jiang Cheng tem a vontade de dizer a ele para calar a boca.

Wei Ying estaria aqui entre eles amanhã? Ele range os dentes, incapaz de imaginar tê-lo no mesmo quarto. Como eles poderiam fingir que está tudo bem, depois de tudo o que aconteceu entre eles?

Jiang Cheng está de pé.

"A-Cheng?" A-Jie chama, sua voz levantando com preocupação.

"Estou cansado", ele diz rapidamente. "Acho que vou tirar uma soneca também."

Sua irmã sorri quando ele se despede por enquanto. Ele sabe que não há como enganá-la. Ela sempre foi capaz de ler o que está em sua mente. Ele sai, já sufocando naquele quarto quando a presença de Wei Ying é apenas a menção de seu nome. Não há como Jiang Cheng ser capaz de aguentar o que o amanhã lhe der.

Está escuro lá fora. Ele envolve o casaco com mais força, olhando para o céu. Aqui na cidade, as luzes são muito brilhantes para ver qualquer uma das estrelas; acima dele, nada mais é que um vazio negro olhando de volta. Eles ficam na cobertura de Zixuan por uma semana, que fica felizmente a uma curta distância do hospital. No entanto, Jiang Cheng leva um tempo andando pela cidade. São apenas oito da noite, mas a noite já está cheia de vida; inundado com casais e famílias que querem sair para jantar, grupos de amigos começando suas festas bêbadas.

Olhando para eles, Jiang Cheng não pode deixar de se sentir velho. Realmente faz muito tempo.

Suspirando, ele volta para o hotel, sozinho.

- x -

Xichen lamenta tirar um dia de folga. Ele pensou que o tempo sozinho o beneficiaria de alguma forma, talvez o ajudasse a entender sua mente. Até agora, ele não fez nada além de olhar para o vazio, distraído demais para fazer algo produtivo, preocupado demais para passar o tempo meditando. É uma bênção que Wangji tenha decidido ir para Ohio com Wei Wuxian, deixando Sizhui sob seus cuidados. Pelo menos então ele não terá que ficar sozinho com seus pensamentos hoje à noite.

Por enquanto, a única maneira de passar o tempo é se distrair. Ele entra no café que seu irmão mencionou uma vez, reconhecendo imediatamente o General Fantasma trabalhando no balcão - bem, é claro, ele não é mais conhecido sob esse título.

Enquanto ele espera que sua bebida seja servida, Xichen se inclina contra o balcão e admira o interior do lugar. É um pequeno e aconchegante café; há plantas penduradas no teto e nas paredes, condizentes com o nome de The Hidden Forest (A floresta oculta).  No momento, está bastante vazio com todos estando na escola ou no trabalho. Ele só consegue ver um estudante universitário solitário digitando no laptop em um canto e dois homens encolhidos perto da janela.

Xichen congela. Seus olhos devem estar enganando-o.

Aqueles homens... eles são...?

Não.

Ele é jogado de volta aos tempos preciosos em que está trancado lá no fundo. Um flash, e ele se vê naquela mesma mesa, rindo de algo que qualquer um deles havia dito. Eles bebem juntos; chá para ele e vinho para os dois, imaginando o que o futuro reserva para os três. É uma memória rara escondida entre o tempo da guerra e o tempo em que seus dois amigos mais queridos começaram a brigar um com o outro; uma memória intocada por problemas, quando Xichen pensou que essa paz duraria para sempre.

“Lan Xichen? Senhor? É você... certo? Eu tenho aqui o seu café.”

Xichen pisca, voltando-se para Wen Ning. Ele força um sorriso no rosto, pegando sua bebida.

"Obrigado", diz ele.

Ele precisa sair. Agora. Tudo queima com o pensamento de estar no mesmo lugar que eles, e as chamas o engolem mais quando vê uma cabeça se virando em sua direção. Xichen agarra a bebida com mais força, preparando-se para ir.

"Senhor! Senhor!"

Ele para. O sangue em suas veias fica frio.

“Você, sim, você, senhor bonito! Por que você não senta ao nosso lado?”

O corpo de Xichen se move sozinho. Ele os enfrenta agora, incapaz de respirar, desejando que o chão desabasse sob seus pés. Ele já viu Mingjue-xiong na delegacia quando voltou a Gusu, mas a visão dele continua sufocando Xichen. Hoje, ele não está de uniforme da polícia, vestido com uma camiseta casual e jeans. Ele olha para Xichen com uma sobrancelha levantada, depois se vira para o outro homem sentado à sua frente.

A-Yao.

Não. Jin Guangyao.

Ele está sorrindo para Xichen, transportando-o de volta para o tempo em que sua vida se transformou em cinzas, quando o recanto das nuvens foram destruídos e seu pai foi ferido fatalmente. Ele fugiu para preservar o pouco que pôde dos livros e pergaminhos da seita, odiando-se a cada passo que dava. Depois de dias e dias de corrida, ele finalmente entrou em colapso.

Jin Guangyao o encontrou. Ele era chamado de Meng Yao na época; ainda tão jovem e inocente, com sonhos de se juntar ao mundo dos cultivadores. Sem qualquer outra fonte de conforto ou ajuda na época, Xichen rapidamente confiou em Meng Yao. Ele o ajudou quando Xichen estava fugindo, o confortou quando ninguém mais pôde. Xichen preservou a memória daquele jovem em sua mente, escolhendo deixar Meng Yao cegá-lo das verdadeiras cores de Jin Guangyao.

É difícil ver quem está na frente dele agora.

Seu cabelo é mais curto, embora não seja curto como o de Nie Mingjue; O de Jin Guangyao é longo o suficiente para descer até o ombro, escondido atrás da orelha de um lado. Ele usa uma boina preta na cabeça e um cardigã enorme na camisa. Se Xichen não o conhecesse, ele o teria confundido com qualquer estranho de aparência amigável.

Mas ele o conhece, e dói.

"Espere, eu conheço você", diz Nie Mingjue.

Os olhos de Jin Guangyao se arregalam para ele. "Você conhece?"

"Jiang Cheng o prendeu há um tempo."

"Prendeu?"

"Sim, por que ele te prendeu de novo?"

Xichen não espera ser incluído nesta conversa. Ele se atrapalha com o que dizer, mas não consegue nada.

"Oh, certo", diz Nie Mingjue, lembrando-se de repente. “Ele estava em posse de armas perigosas em público. Uma espada."

“Uma espada? Meu Deus, isso é... alguma coisa.” Jin Guangyao solta uma risada, olhando para Xichen. “Não fique aí parado. Você gostaria de se sentar com a gente?”

Nie Mingjue zomba. "Por quê?"

“Da-ge, não seja rude. Eu pensei que ele parecia um pouco sozinho, então eu estou convidando-o para conversar conosco. Além disso, a sua companhia deixa muito a desejar.”

Da-ge.

Isso está trazendo de volta muitas lembranças de uma só vez. Xichen não consegue encontrar forças para se mover.

"Eu disse para você parar de me chamar assim!"

Apenas vá, Xichen diz a si mesmo enquanto escuta os dois. Nenhum deles sabe quem ele é aqui. Se ele diz que está ocupado, eles facilmente o ignoram e os três podem voltar para suas vidas separadas. Ele fará tudo o que estiver ao seu alcance para ficar longe deles, para garantir que a história não se repita.

Apenas vá.

No entanto, como ele olha entre os dois, ele não pode ignorar a sensação de alívio em seu coração. Eles parecem bem. Feliz. Se eles estão sentados aqui juntos, isso deve significar que eles não estão mais brigando.

Ele sente falta deles.

Xichen não sabe o que o possui; ele agarra o assento entre os dois e se senta.

O sorriso de Jin Guangyao cresce. "Meu nome é Meng Yao, e... bem, acho que você já conhece o chefe Nie Mingjue."

Meng Yao...  Então ele está se chamando Meng Yao. Xichen não tem certeza do que sentir sobre isso.

"Eu... eu sou Lan Xichen."

"Você vem aqui frequentemente?"

"Não, é a minha primeira vez aqui neste café."

Jin Guangyao — Meng Yao assente lentamente, levando a bebida aos lábios. "Este é o meu café favorito em Gusu."

Xichen olha em volta do pequeno café. Mais pessoas entraram agora, mas ainda é bastante silencioso. No entanto, ele se lembra da primeira vez que viu Meng Yao aqui em Gusu. Foi uma entrevista na TV, não foi? Se ele é famoso, por que ele está aqui?

"Eu pensei... Estou certo ao dizer que você é um ator?"

Os olhos de Meng Yao se arregalam, colocando a xícara na mesa.

Ao lado deles, Nie Mingjue sorri. "Pare de fingir ser tão humilde sobre isso."

“Eu sou, chefe Nie. Ainda não estou acostumado a ser reconhecido”, defende-se Meng Yao. “Mas sim, Sr. Lan, sou um ator relativamente novo; Jin Guangyao é o meu nome artístico. Este café atrai principalmente a geração mais velha, então muitos não me reconhecem aqui.”

Oh. Ele usa Jin Guangyao como seu nome artístico? É... estranhamente apropriado.

Meng Yao inclina a cabeça para Xichen. "Você já me viu atuando?"

Xichen balança a cabeça. "Não, eu vi uma de suas entrevistas há algumas semanas."

"Ah, entendo."

Nie Mingjue está silenciosamente comendo sua sopa de vinho de arroz, ocasionalmente olhando para rolar os olhos para algo que Meng Yao diz. Pegando um de seus olhares, Meng Yao faz uma careta, apontando os pauzinhos para ele.

“Chefe Nie, A-Sang me disse que você começou a assistir Crimson Heart. O que você acha disso?"

"Uma perda de tempo."

Velhos hábitos morrem com dificuldade; Assim que Xichen pensa que eles estão começando a brigar, ele abre a boca para tentar mediar a situação. Calma, vocês dois. Parem de brigar.

Ele pressiona os lábios, engolindo as palavras.

"Isso não é muito legal", diz Meng Yao. "Eu não acho que A-Sang ficará feliz em ouvir isso."

“Tch. As partes dele estavam boas.”

"E as minhas?"

"Eu não ligava para elas."

Meng Yao troca olhares com Xichen. Ele dá um suspiro dramático, pegando sua bebida novamente. Xichen vê a diversão em seus olhos âmbar.

"Vocês dois são... amigos?" Xichen pergunta, incapaz de esconder sua curiosidade.

Mingjue-xiong não está tentando matar Meng Yao ativamente, portanto isso já é uma melhoria em relação à última vez; no entanto, ainda não parece que estão nos melhores termos.

Nie Mingjue bufa.

"Nós?" Meng Yao encolhe os ombros. "Eu presumo que sim, mas o chefe Nie parece pensar o contrário."

"Como vocês dois se conhecem?", Ele pergunta.

“Jiang Cheng é seu cunhado; nos conhecemos através dele”, diz Nie Mingjue a Xichen. "Meng Yao não parou de me incomodar desde então."

Meng Yao se inclina para Xichen, fingindo um sussurro. "O chefe Nie não aprova o meu... status de celebridade."

Os olhos escuros de Nie Mingjue se estreitam para eles. "Não quando você está sempre entrando em escândalos de merda."

“Foi uma ou duas vezes, chefe Nie. Todo mundo faz coisas tolas quando está bêbado. Devo dizer, porém, seu irmão é um animal de festa. Se você está descontente comigo, talvez devesse prestar mais atenção nele.”

"Ele pegou isso de você, tenho certeza."

"Não vamos discutir na frente de nosso novo amigo", diz Meng Yao, acenando com a cabeça em direção a Xichen. Ele oferece outro sorriso para Xichen; um forte contraste com o olhar exasperado que ele dirigia para Nie Mingjue um segundo atrás.

Outro escárnio sai do homem mais velho. Nie Mingjue se recosta na cadeira, cruzando os braços. Seu olhar pousa em Xichen também.

"Jiang Cheng já o interrogou sobre a espada que faltava?"

"Oh... Sim, ele fez."

Meng Yao faz uma careta. "Espada perdida?"

Nie Mingjue acena para ele. “Confiscamos a espada com a qual ele foi pego, mas desapareceu depois de alguns dias. Jiang Cheng estava convencido de que ele a roubou de volta.”

Um sorriso surge no rosto de Xichen quando ele se lembra da insistência de Jiang Cheng no assunto. No entanto, a boa memória é rapidamente afastada. O último encontro deles não foi tão bom; Xichen lamenta suas ações impensadas, mas deve estar acostumado a machucar pessoas sem saber até agora. Parece que ele tem talento para isso.

Ele olha para baixo, tomando um gole de café. “Eu disse várias vezes a ele que não roubei. Até permiti que ele vasculhasse minha casa.”

Nie Mingjue rapidamente balança a cabeça. “Não deixe ele revistar sua casa. Ele vai quebrar tudo.”

Uma risada abandonada escapa de Xichen. "Estou ciente disso."

Pensando bem sobre isso, Jiang Cheng deve estar na América agora. Xichen espera que sua irmã esteja bem.

"Sr. Lan, o que você faz para viver? Eu nunca te vi por aí antes”, diz Meng Yao.

Xichen o encara. Seus olhos curiosos realmente são muito parecidos com o velho Meng Yao, aquele que costumava oferecer sua roupa para ele porque sabia que Xichen apenas rasgaria suas roupas. É engraçado como, mesmo depois de todos esses séculos, Xichen ainda se apega a essas memórias ingênuas.

"Sou bibliotecário", diz ele, tentando urgentemente se apegar ao presente. "Acabei de voltar para Gusu há alguns meses."

Nie Mingjue estica os braços, clicando em alguns ossos e fazendo Meng Yao estremecer com ele. “Onde você morava antes?” Ele pergunta.

"Londres."

"Londres!" Meng Yao exclama. “Chefe Nie, essa seria minha sugestão para as suas férias. Vá para Londres! Ouvi dizer que é muito bom.”

Os lábios de Nie Mingjue se curvam. “Eu não dou a mínima para cidades. Eu ficaria bem em encontrar um lugar para acampar.”

Atualmente é inverno. Embora o frio não afete Xichen, o pensamento de acampar nesta temporada causa arrepios na espinha.

"Acampar não parece agradável nesse clima", diz ele.

Nie Mingjue balança a cabeça. "Agora não. Não posso pagar umas ferias agora. Há muita bagunça por Gusu.”

"Ah, sim", murmura Meng Yao, "ainda não há pistas sobre os ataques das gangues?"

A conversa para. Nie Mingjue desvia os olhos para Xichen, as sobrancelhas tremendo.

"Tenho certeza de que o Sr. Lan pode ser confiável", assegura Meng Yao.

O chefe da polícia suspira. “Eu não tenho certeza se confio em você. Mas não, ainda não há novas pistas. Está quieto desde o último ataque.”

Xichen não pode ignorar isso. "Quais ataques?"

Meng Yao olha em volta deles, inclinando-se para perto novamente e falando em voz baixa. “No ano passado, mais ou menos, houve ataques aleatórios acontecendo em torno de Gusu. O chefe Nie acha que uma gangue é responsável por eles.”

"Chega disso", diz Nie Mingjue. “Esta é uma informação confidencial. Não basta contar para um cara aleatório.”

Levantando as sobrancelhas, Meng Yao se inclina para trás. Ele sorri para Xichen e não diz mais nada, voltando à comida. Nie Mingjue resmunga algo baixinho, perguntando-se por que se incomoda em contar qualquer coisa a Meng Yao. Os dois trocam piadas, é inofensivo e Xichen ficaria tentado a rir em outra vida, mas ele não pode ignorar o pensamento iminente de que ele não deveria estar aqui em primeiro lugar.

Por alguma estranha razão, Meng Yao está tentando adicioná-lo à conversa deles. Ele é amigável - talvez um pouco amigável demais. Xichen entende que é porque ele está contente nesta vida; se ele é um ator de sucesso, isso deve significar que o público não está desprezando-o como eles o faziam quando eram cultivadores. Ele tem tudo o que poderia querer aqui, assim como Nie Mingjue.

Xichen quer ser feliz por eles. Ele sempre esperava ver seus irmãos jurados em paz um com o outro, desfrutando de uma vida que eles mereciam. Agora, como ele se vê diante da mesma coisa, tudo o que sente é solidão.

Ele não pertence aqui. Ele não deveria estar aqui.

Segurando a mesa, ele se levanta. "Eu... eu devo ir."

"Tão cedo?", Diz Meng Yao.

"Eu devo pegar meu sobrinho na escola."

"Entendo..." Meng Yao assente. “Obrigado por falar conosco, Sr. Lan. Foi bom conhecê-lo."

"O prazer foi meu. Obrigado... Ator Jin, Chefe Nie.”

Nie Mingjue resmunga uma resposta, acenando sem entusiasmo em sua direção.

"Ah, por favor, me chame de Meng Yao", o ator diz a Xichen.

“... Meng Yao, então.” Dizendo seu nome em voz alta parecia tão estranho. Faz muito tempo desde que esse nome foi usado. "Da mesma forma, por favor, me chame de Xichen."
Meng Yao sorri. "E Er-ge?"

Xichen quase deixa cair a bebida.

Er-ge, o que eu disse é verdade.

Eu já te disse que você não precisa mais me chamar de Er-ge.

Sua garganta seca. Em seu lugar, Xichen não vê Meng Yao. Ele vê Jin Guangyao, ainda sorrindo, tentando explicar as razões de seus crimes.

“O que você está fazendo agora?” Nie Mingjue retruca, encarando-os.

Meng Yao ri. “Da-ge, já que somos nós três, haha. "

Demais. É tudo demais. O riso de Meng Yao dança ao seu redor, lembrando-o de tempos mais felizes. Ele quer agarrá-los e convencer-se de que está tudo bem, tudo ficará mais fácil agora que ele poderá obter o fechamento de que precisa. Afinal, não é isso que ele sempre esperava? Ele não pode seguir em frente? Por que ele deve se apegar a seus erros?

"Estou apenas brincando. Não se importe comigo, Xichen-ge”, diz Meng Yao.

Xichen força um sorriso para os dois. É tudo o que ele pode reunir com todas essas memórias correndo em sua cabeça. Ele se despede, orando aos céus para que nunca mais os veja. Ele não pode fazer isso. É tudo demais.

Há quanto tempo ele viveu? Mais de dois mil anos? Quase três mil? Uma eternidade poderia passar e seus erros continuarão a assombrá-lo.

Pelo resto da tarde, ele se move automaticamente, sem prestar atenção ao ambiente. Até a conversa leve de Sizhui não passa de ruído de fundo dentro de sua cabeça; ele responde como costuma fazer, mas a mente de Xichen está em outro lugar. Está presa no passado.

Ele pensa em como Meng Yao sorriu para ele hoje. Existe alguma diferença entre ele e Jin Guangyao? Se as memórias de alguém são diferentes, isso muda quem eles são como pessoa?

Xichen não sabe - mas talvez não seja mais da sua conta saber. Ele vai ficar longe de Meng Yao aqui, e também de Nie Mingjue. Ele não se permitirá escorregar como tinha feito hoje.

É a coisa mais sensata a ser feita, a única coisa que ele pode fazer.

Mas por que dói tanto?

Ele não pode esquecer os tempos que passou sentado com Jin Guangyao, bebendo chá e discutindo coisas irrelevantes que os fizeram sorrir e rir. Após a morte de Mingjue-xiong, o buraco que ele deixou para trás nunca foi completamente preenchido. Não parecia certo tomar chá sem a presença dele, mesmo que seus últimos dias como três estivessem cheios de brigas e discussões entre os outros dois.

Ainda assim, a presença de A-Yao foi um conforto crescente ao longo dos anos. Xichen confiou nele sua vida.

Portanto, quando encontrou a carta de Huaisang revelando todos os crimes de A-Yao, Xichen sentiu seu mundo desmoronar diante de seus olhos. Ele não queria acreditar, mas também não podia ignorar. Todas as peças estavam diante dele; ele era o único capaz de reuni-las. Como ele poderia ignorar esse fardo?

Por mais que se odiasse por duvidar dele, Xichen começou a descobrir as coisas por si mesmo. Ele não disse uma palavra para Wangji ou seu tio. Ele precisava de respostas primeiro; ele decidia que curso de ação tomaria depois de ver as evidências com seus próprios olhos.

Por todos os segredos que ele mantinha, A-Yao confiava em Xichen o suficiente com sua sala de tesouros. Ele sempre vira seu irmão jurado entrando e saindo pelo espelho, mas Xichen, sendo o homem educado que era, nunca se atreveu a tocá-lo. Os segredos e tesouros da seita LanlingJin não eram do seu interesse. Ele só visitou a Torre da Carpa para ter a companhia de A-Yao.

Naquele dia, ele visitou os segredos. Depois que A-Yao saiu para cuidar de alguns assuntos, Xichen examinou o espelho. Como ele esperava, o líder da seita Jin a protegeu com uma barreira que só permitia a entrada de seu dono.

Xichen era um cultivador forte, o mais alto classificado em sua geração. Além disso, ele era bem versado em talismãs e feitiços mágicos; não havia problema em romper a barreira. Ele conseguiu criar um espaço grande o suficiente para ele deslizar para dentro, desaparecendo nas ondulações do espelho.

Uma vez lá dentro, as lâmpadas de óleo nas paredes acenderam por conta própria, iluminando seu caminho com um brilho assustador e âmbar. Xichen entrou na escuridão, observando as prateleiras altas empilhadas com livros, pedras e armas. Ele não ficou surpreso ao encontrar instrumentos de tortura pendurados nas paredes; ele sabia há muito tempo que A-Yao ganhou a confiança de Wen Ruohan com seu conhecimento do macabro. Mesmo assim, encará-los deixou Xichen desconfortável. Algemas de ferro, espigões, ganchos de prata... Havia até uma mesa de ferro no centro da sala, coberta de sangue seco. Xichen não precisava adivinhar para que aquilo era usado.

Ele não conseguia imaginar A-Yao usando esta sala. O A-Yao que ele conhecia era gentil, inocente. Ele só recorreria a tais ações se tivesse um motivo viável... Ele deve ter tido um motivo para todos esses crimes.

Abra os olhos e veja-o como ele é, escreveu Nie Huaisang em sua carta. Jin Guangyao matou meu irmão.

Repetindo essas palavras em sua cabeça, Xichen caminhou em direção ao armário do tesouro. Com as mãos trêmulas, ele levantou a cortina e olhou para o que estava escondido atrás.

Ele cambaleou de volta.

Tudo em que ele já acreditou estava quebrando diante de seus olhos. Olhos gentis de Meng Yao; todas as três promessas proferidas na cerimônia de irmandade, se foi; as inúmeras vezes que ele defendeu Jin Guangyao, uma e outra vez, se foi. Xichen não podia mais negar a verdade, não quando o rosto de Nie Mingjue estava bem na frente dele: morto, selado, decapitado.

Suas mãos voaram para cobrir sua boca. Lágrimas brotaram em seus olhos, cobrindo a visão de seu irmão jurado. A cabeça dele era de um cinza pálido, olhos, ouvidos e boca todos costurados. Havia numerosos talismãs ligados a ele, tornando-o inútil nesta sala escondida.

Mas era ele. Era Nie Mingjue, o irmão jurado mais velho, que supostamente morreu de desvio de Qi; agora cortado em pedaços e preso nas câmaras de tortura de A-Yao.

Passos ecoaram atrás dele.

Xichen se virou. O rosto de Jin Guangyao estava desprovido de seu sorriso pela primeira vez.

“A-Yao, explique o significado disso!” Xichen exigiu, sua voz ecoando na escuridão. "Por que você teria Mingjue-xiong... Por que... "

Os olhos de Jin Guangyao se suavizaram.

"O que você acha?", Ele disse. “Eu confio em você com a minha vida, Er-ge; você não confia em mim?”

Eu confio. Eu confiei.

"Tio, você está bem?"

Uma mão sacode levemente o braço dele. Xichen pula, piscando de volta para o presente. Na sua frente, Sizhui está olhando com preocupação. Ele aperta a cabeça e olha em volta da sala, observando o ambiente familiar de seu próprio apartamento. Ele pode sentir o leve aroma de panela quente vindo da cozinha, lembrando que ele deveria ter terminado de preparar o jantar há séculos.

"Eu... eu estou bem", diz Xichen, levantando-se de seu assento. Ele ouve um zumbido fraco do bolso do sobrinho. "Seu telefone está tocando, Sizhui."

Sizhui mexe nos bolsos. "Oh!"

Enquanto seu sobrinho se distrai conversando com quem está ligando, Xichen se ocupa na cozinha. Ele afasta todos os seus pensamentos sobre o passado, concentrando sua atenção na preparação do restante dos legumes para o jantar. A presença de Sizhui é uma bênção. Xichen ouve a conversa ociosa, recusando-se a lembrar de seu encontro com seus irmãos jurados hoje.

- x -

De todas as vezes que Jin Ling decide ligar para seu maldito amigo, ele escolhe fazê-lo às quatro da manhã. Jiang Cheng geme, pegando um travesseiro próximo e cobrindo seus ouvidos com ele. Compartilhar uma cobertura com Jin Ling e seu pai é um pesadelo. A suíte é grande o suficiente para acomodar duas famílias inteiras, mas isso é inútil se você ainda puder ouvir Jin Ling do outro lado da sala quando estiver tentando dormir.

Não ajuda que ele coloque o telefone no viva-voz. Claro que ele tinha que fazer isso.

"Sizhui, que horas são agora?" Jin Ling pergunta, sua voz ecoando pela suíte.

De sua cama, Jin Zixuan geme. Ele rola para o lado, de alguma forma ainda dormindo profundamente, mesmo que seu filho esteja gritando ao ouvido.

"Hum, são apenas cinco da tarde." Jiang Cheng ouve a resposta do amigo de Jin Ling. "Não são quatro da manhã aí?"

“Sim, eu ainda não me costumei com o fuso horário. Onde está você?"

“Estou com o tio Xichen. Meu pai foi com o professor Wei para Ohio, eu acho.”

" Eh?"  Jin Ling se senta, virando-se para onde Jiang Cheng está deitado no sofá. “Tio, você ouviu isso?! O professor Wei está trazendo o pai de Sizhui com ele!”

Jiang Cheng também se levanta, segurando o travesseiro. Ele quer jogar em Jin Ling, mas sabendo que tem sorte, ele acertaria em Jin Zixuan.

"Mantenha a voz baixa, eu estou tentando dormir!" Jiang Cheng se encaixa, balançando as pernas sobre o sofá. "Para quem você está ligando neste momento?"

Jin Ling mostra seu telefone para ele quando ele se junta ao seu lado. Ele está ligando para o amigo, que agora está acenando timidamente para Jiang Cheng, apesar do olhar mortal que ele lança para ele. No fundo, Jiang Cheng reconhece as pinturas familiares que Xichen tem em seu apartamento.

“Tio, você conhece Sizhui, certo?” Jin Ling diz.

Jiang Cheng vê Xichen em segundo plano. Antes que ele perceba, ele está pegando o telefone.

"Ei, me dê isso."

Jin Ling franze a testa para ele, pegando o telefone e quase dando um tapa na cara de Jin Zixuan enquanto ele dorme. Deve ser um milagre que ele ainda não tenha acordado.

“Eu disse, me dê seu maldito telefone. Eu quero falar com Xichen!”

Resmungando, Jin Ling entrega a ele. “Não demore muito! Chamadas internacionais são caras!”

“Seu pai é rico, quem dá a mínima?” Jiang Cheng diz, depois estreita os olhos para Sizhui na tela. "Oi, você, deixe-me falar com seu tio."

O garoto assente e faz exatamente isso. Em segundos, Jiang Cheng vê o rosto confuso de Xichen cumprimentando-o.

“Jiang Cheng? É você?"

Jiang Cheng assente, afastando-se da cama. Ele sai para a varanda e permite que o ar frio o acorde.

"Você... precisa de alguma coisa?" Xichen pergunta.

Merda. Agora que ele deveria dizer algo, o cérebro de Jiang Cheng o apaga. Jin Ling precisava usar a vídeo chamada? Isso seria mais fácil se ele não tivesse que olhar para Xichen enquanto falava.

"Sim, eu... eu queria me desculpar pela última vez", ele força, achando difícil manter os olhos na tela.

Xichen balança a cabeça. “Você não precisa. Foi minha culpa por bisbilhotar.”

"Não. É como você disse, você só estava tentando me confortar.”

Os cantos dos lábios de Xichen se levantam, embora você mal pudesse chamar de um sorriso. Parece mais uma careta. "Mas não acho que tenha sido um sucesso."

Ele tem razão. Jiang Cheng não está acostumado com as pessoas que tentam confortá-lo; em vez de agradecer ao bibliotecário, ele o atacou.

"Você está na América agora?" Xichen pergunta.

"Sim, eu visitei A-Jie mais cedo."

"Como ela está?"

Jiang Cheng respira fundo. “Ela está... bem por enquanto. Está aguentando."

"Estou feliz. Espero que você esteja se sentindo melhor."

Como da última vez, Xichen oferece outro sorriso que não alcança seus olhos. Ele está constantemente olhando para longe também, suspirando baixinho. Ainda não se conhecem tão bem, mas até Jiang Cheng acha esse comportamento um pouco estranho.

"Você está bem?" Ele pergunta.

Xichen levanta uma sobrancelha. "Hmm?"

"Você parece triste."

“Eu? Hum, suponho que tive um dia cansativo... Isso é perceptível?”

Jiang Cheng encolhe os ombros. "Normalmente, você está sempre sorrindo e tudo isso."

Imediatamente, Xichen sorri para ele. É surpreendente como parece convincente, seus olhos brilham e seu rosto é animado com a mesma atmosfera amigável que Jiang Cheng está acostumado a ver.

"Assim é melhor?"

Jiang Cheng zomba. "Tch, você não precisa forçar."

Por um segundo, as sobrancelhas de Xichen se erguem. Seu sorriso vacila até que ele finalmente relaxa. "Obrigado pela sua preocupação", ele diz calmamente.

A gratidão em sua voz chama o oficial. Jiang Cheng apenas disse isso como um comentário indireto, mas só lhe ocorreu que, talvez, o bibliotecário estivesse fingindo muitos sorrisos. A vida de Xichen não é da sua conta e não é da natureza de Jiang Cheng bisbilhotar; de qualquer forma, ele está um pouco feliz que o bibliotecário esteja um pouco melhor agora.

"Não é tarde aí?", Pergunta Xichen. "Você deve descansar, oficial."

"Eu vou daqui a pouco."

"Quanto tempo você estará aí?"

"Só uma semana. Por quê?"

"Eu só estou curioso. É estranho não te ver por aqui.”

Jiang Cheng aperta os olhos, odiando o fato de suas bochechas esquentarem com esse comentário. "O que isso quer dizer?"

Xichen apenas ri de sua resposta. Embora isso o anima um pouco, ele para com um suspiro.

“Encontrei-me com o chefe Nie e seu cunhado hoje.”

Jiang Cheng faz uma careta. "Meng Yao?"

"Sim."

"Eu não sabia que você os conhecia."

"Eu não conhecia. Eu esbarrei neles no café.”

Meng Yao e Chief Nie estavam se vendo? Jiang Cheng sabe que esses dois tinham uma história estranha por trás deles, embora nunca se preocupasse em perguntar o porquê. Ele não quer saber. O chefe Nie é seu chefe e Meng Yao é irritante; o que eles têm entre eles não é da conta de Jiang Cheng.

"Hã. Tudo bem” diz Jiang Cheng. "Eu não sabia que eles estavam conversando novamente."

Xichen encolhe os ombros levemente, enrolando distraidamente um longo fio de cabelo ao redor dos dedos. Seu cabelo está solto pela primeira vez; geralmente Jiang Cheng vê ele em um coque ou em um rabo de cavalo.

“Eles pareciam bem, apesar de estarem brigando muito. Eles brigam frequentemente?”

“Não são grandes brigas. O chefe Nie não aprova a carreira de Meng Yao como ator, especialmente porque o gerente dele é um idiota.”

O bibliotecário inclina a cabeça. “O gerente dele? Quem é ele?"

Jiang Cheng olha para o céu, tentando procurar um nome em seu cérebro. Está na ponta da língua, mas ele está cansado demais para se lembrar.

“Esqueci o nome dele. Só sei que o chefe Nie o odeia”, diz ele.

Xichen assente lentamente. “O irmão mais novo do chefe Nie também não é ator? Ele também não aprova isso?”

Com a menção de Huaisang, Jiang Cheng não pode deixar de sorrir. Ele não vê Huaisang há anos, desde que se formaram na universidade. Ele parece estar indo bem, o que faz dele um ator famoso agora. Bom para ele.

“O chefe Nie não aprova nada que Huaisang faça. Huaisang tem atuado principalmente como personagem secundário até agora. Eu acho que o Crimson Heart foi sua estreia como ator de verdade; igual a Meng Yao”, explica Jiang Cheng. "Por que você se importa tanto assim?"

"Nada. Apenas curioso.”

“Hmph. Não achava que você iria gostar de fofocas de celebridades.”

Xichen solta outra risada. “Você já assistiu Crimson Heart?”

“Eu? Eu não assisto essa merda.”

“Ouvi dizer que é muito bom. Deveríamos assistir juntos, oficial.”

Jiang Cheng engasga. A diversão agora dançando nos olhos de Xichen diz a ele que ele está apenas brincando, mas não impede que o rubor aquecido se espalhe pelas bochechas de Jiang Cheng.

“Você não vai me levar nem perto disso. Vá assistir você mesmo!”

Xichen finge um suspiro. "Você é tão frio."

Atrás dele, a porta da varanda se abre. Jiang Cheng se vira, vendo Jin Ling se arrastar para fora. "Posso recuperar meu telefone agora?"

Jiang Cheng não diz nada, olhando para o sobrinho.

"Você pode me ligar no meu telefone, oficial."

Ele dirige seu olhar para Xichen agora. “Quem disse que eu quero ligar para você? E eu nem tenho seu número!”

Jin Ling bate os pés no chão, cruzando os braços e revirando os olhos com atitude. "Peça, dã, tio."

"Cale a boca, seu pirralho!"

Xichen ri. "Vou mandar uma mensagem para Jin Ling daqui a pouco, para que você possa anotá-la, oficial."

"Você não precisa!"

Nesse momento, eles ouvem o som evidente de Jin Zixuan gemendo de dentro da cobertura. “Jiang Cheng, cale a boca e aceite apenas quem está lhe dando o seu número! Deixe-me dormir.”

Nem mesmo a brisa fria lá fora é suficiente para esfriar seu rosto quente. Jiang Cheng abre as portas da varanda e faz uma careta para o cunhado.

“Pare de ouvir nossa conversa!”

Jin Zixuan copia seu olhar. “Eu não quero, mas você está falando há séculos! Pare de flertar e anda logo!”

Flertar? Flertando?! Jiang Cheng quase joga o telefone diretamente no rosto irritante de Jin Zixuan. Flertar? Ele? Que porra é essa!

“Eu-eu não estou flertando! Isso nem é-! Eu não paquero caras!”

Para piorar as coisas, Xichen está rindo. Sua voz ressoa no telefone, preenchendo a cobertura.

"Você cale a boca!" Jiang Cheng grita com ele. "Eu já tô indo!"

Ele termina a ligação em menos de um segundo, devolvendo o telefone para Jin Ling. Seu sobrinho grita com ele, perguntando por que ele teve que encerrar a ligação quando queria falar com seu amigo depois. Jiang Cheng grita de volta, dizendo-lhe para calar a boca e ir dormir. É claro que isso faz com que Jin Zixuan o atinja, nem um pouco feliz com o fato de seu filho estar sendo chamado dessa maneira.

É uma bagunça. Todos os três que ficam na mesma cobertura são uma receita para o desastre.

Mesmo depois de tudo isso, ele ainda consegue obter o número de Xichen. A tentação de excluí-lo é forte, mas Jiang Cheng não faz isso. É só porque Xichen mora no mesmo apartamento que ele de qualquer maneira. Pode ser útil entrar em contato com ele se ele precisar de alguma coisa. Isso é tudo.

- x -

É de manhã quando eles chegam em Ohio. Wei Ying dormiu a maior parte do vôo escondido nos braços de Wangji. O clima despreocupado em que ele estava ontem desaparece significativamente assim que eles pousam; quanto mais perto eles ficam da cidade, mais silencioso Wei Ying fica até Wangji não fazer nada além de se preocupar.

Eles se sentam silenciosamente no táxi. Os olhos de Wei Ying estão fixos na janela, vendo algo que Wangji não pode. Ele está mordiscando o lábio inferior, às vezes estremecendo com os edifícios que passam por eles. É óbvio que há lembranças neste lugar que atormentam Wei Ying, e o fato de Wangji não ter idéia do que são é enlouquecedor. Ele procura em sua mente algo para dizer, mas Wangji nunca foi um especialista em preencher o silêncio. Esse é o talento de Wei Ying.

Depois de algum tempo, Wei Ying se afasta da janela, suspirando.

"Wei Ying?" Wangji chama.

O professor respira fundo, inclinando-se para Wangji. Como por hábito agora, Wangji envolve um braço em volta da cintura e o puxa para mais perto. Se ele não conseguir encontrar as palavras para confortar Wei Ying, ele garantirá que pelo menos possa mostrar que ele está aqui. Eles permanecem assim por um tempo. Wei Ying passa a mão no peito de Wangji, muitas vezes brincando com a gola da camisa. Wangji fica parado, simplesmente observando-o.

"Lan Zhan, se você não estivesse aqui comigo agora, acho que ficaria em pânico", murmura Wei Ying.

Wangji o segura mais apertado. "Eu estou aqui."

"Eu sei", diz Wei Ying. "Estou feliz."

Durante o resto da viagem até o hotel, eles não dizem nada. Wangji não sente mais que é necessário; Wei Ying se acalmou em seus braços, ocupando-se brincando com os dedos. Ele compara as mãos deles, rindo baixinho da aparência dele contra os Wangji.

"Você sabe... A última vez que estive aqui, estava sozinho", diz Wei Ying. Sua voz é baixa, abafada pelo peito de Wangji. “Você disse que foi para a América também, não foi? Você foi com seu irmão?”

Wangji balança a cabeça. "Eu estava sozinho."

Ele estava vasculhando o mundo em busca de alguma pista de onde Wei Ying poderia estar, se algum dia retornaria; parece um milagre agora que ele deveria voltar aqui com o mesmo homem enrolado contra ele.

"Bem", diz Wei Ying, sentando-se e sorrindo para ele. "Ainda bem que temos um ao outro desta vez."

Wangji assente, colocando um fio de cabelo atrás da orelha de Wei Ying. "Sim", diz ele.

É impossível não sorrir de volta.

Notas da autora: Pessoal, olhem essa fanart que Mischa fez do WWX nessa fic! Wei Ying é tão bonito.

Este capítulo foi provavelmente o capítulo que eu mais me diverti escrevendo até agora? Eu gostei de escrever os flashbacks com os Irmãos Lã por algum motivo lol.

O título do capítulo é dessa música: https://www.youtube.com/watch?v=otIGJ8m5cXo&index=20&list=PLk6UUIfOOgWJF8unz8HPRZdzFMRj5z3YF&t=0s, que eu pensei que se encaixasse neste capítulo. Esse link leva à playlist que eu fiz para essa fic também, caso alguém queira ouvir músicas tristes.  ( Se não conseguirem pegar me mandem mensagem que eu envio o link)

Notas da tradutora:
Eu queria fazer um agradecimento em especial ao Paint por ter me salvado com a edição das mensagens do JC com o LXC kjjjjkkkkkkkkk é sério, eu entrei em desespero quando vi aquilo e não sabia como editar

Mas enfim, LWJ e WWX estão cada vez mais próximos e algo me diz que essa viagem deles para os EUA pode ser bem promissora, mas vamos esperar pra ver no que vai dar! É isso, espero que tenham gostado do capítulo 😊

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