Seu Nome
A placa que indicava a quantidade de quilômetros que faltavam para chegar em Smallville passou rapidamente a minha direita. Meus olhares concentravam-se na estrada e volta em meia no pinguinho de gente que dormia na cadeirinha no banco traseiro. Eu realmente tinha esperanças de que Clark estivesse na fazenda e que talvez me reconheceria, mas poderiam acontecer coisas ruins e quem sabe o que ele teria se tornado depois de dois anos em coma.
Durante roda a sua estadia no hospital, desde o momento em que descobri o sexo do nosso filho até hoje, achei necessário contar tudo de feliz e ruim que acontecia conosco a ele, talvez ele poderia estar escutando. Muitas pessoas que ficam em coma só não conseguem se mexer, mas permanecem acordadas durante todo o tempo. Deve ser horrível se sentir preso em um corpo que não obedece mais as suas ordens.
Eu já estava dentro da cidade, passava por vários estabelecimentos na avenida principal e por muitas vezes acabava me lembrando de vários momentos e lugares no qual Clark havia me apresentado quando decidi passar o verão aqui.
Nós nos conhecemos desde crianças. Nossos pais eram amigos de longa data e passou esse sentimento para nós. Eu sabia que Clark era adotado, mas por muito tempo ele me escondeu a sua verdadeira história. Como ele morava no interior do estado do Kansas e eu em uma cidade grande, convidou-me para passar as férias de verão em sua casa e eu não tive como recusar.
Após duas semanas de conivência constante, ele acabou me contando sobre sua terra natal e como era poderoso aqui. Anos mais tarde acabei sabendo que fora seu pai quem o aconselhou para me contar, visto que ele dizia que nós seríamos inseparáveis.
Por muito tempo, Clark ficou desaparecido e sem dar uma notícia sequer — isso foi logo após a morte de seu pai — mas do mesmo jeito repentino que ele foi, ele voltou. Eu já era crescida, estava com os meus vinte e quatro anos e trabalhava em uma grande compainha multinacional em National City. Ele acabou por me procurar e viu o quão chateada eu estava por sua partida. Depois de tanta insistência e claro, de compreensão, eu o perdoei. Mas não foi tão fácil abrir o meu coração e demonstrar todos os sentimentos que eu tinha por ele, porém eu tentei e hoje eu o amo com todas as minhas forças.
Estacionei o carro debaixo de uma árvore e abri as janelas, deixando que uma brisa fresca entrasse dentro do carro. Olhei para Jonathan que ainda dormia tranquilamente em sua cadeirinha e sai do automóvel, olhando ao redor e procurando por algum sinal de vida. Caminhei apressadamente até a casa e a vasculhei toda, encontrando-a completamente vazia. Voltei par o lado de fora e fui até o automóvel, pegando Jonathan em meu colo e voltando para a casa. Eu o coloquei deitado em um dos quartos que tinha no segundo andar, decidindo fazer um café. Não demorou muito e mais um carro parou no quintal, revelando que Martha estava de volta.
— Oi minha querida. — ela disse, abraçando-me quando me viu — Por que você não me avisou que viria? Teria feito uma torta de maçã.
— Sinto muito por vir assim tão depressa Martha, mas aconteceram algumas coisas.
— Venha, vamos tomar esse café e comer um pedaço de bolo. — pegou em minha mão e me levou até a mesa de jantar — Aí você me conta tudo e nada como um bom pedaço de bolo para acalmar os nervos.
***
— Eu tinha esperanças que ele estivesse aqui. — respirei fundo, olhando através da janela e vendo que já havia escurecido — Agora eu realmente não sei onde procurar.
— Acalme-se, ele irá aparecer. — ela disse, levantando-se e indo até a cozinha — Vá acordar Jonathan, o jantar está quase pronto.
Eu apenas assenti, subindo as escadas e indo até o quarto de Clark quando ele morava com os seus pais. Meu filho dormia tranquilamente, talvez fosse pelo dia agitado que tivemos, deixando-o bastante cansado. Quando me aproximei de seu corpo, toquei em seu rosto e o chamei, fazendo com que ele abrisse seus olhos lentamente. Direcionei a ele um sorriso e ele ainda sonolento retribuiu.
— E ai campeão. — depositei um beijo em sua mão — Vamos tomar um banho? A vovó Martha está fazendo aquela lasanha que você adora.
Ele concordou com a cabeça e com a minha ajuda levantou-se, subindo em meu colo. Levei ele até o banheiro e enquanto a banheira enchia, corri até o carro e peguei nossas bagagens. Depois de Jonathan tomar um banho quentinho, foi a minha vez. Em seguida nós decemos para jantar e continuamos a conversar sobre coisas aleatórias.
1 semana depois
Faziam sete dias que eu estava na fazenda e nada do Clark aparecer. Havia comunicado um dos meus colegas de trabalho que precisava de uma semana para descansar e ele havia entendido perfeitamente. Pude ver e sentir a felicidade do meu filho ao conviver com a vó e prometi a mim mesma que o traria aqui mais vezes se fosse possível. Jonathan era muito parecido com ele, em todos os aspectos. Os olhos, o nariz, a cor do cabelo, sempre iria me lembrar de Clark olhando para o nosso filho.
— Seu Nome — Martha me chamou assim que desceu as escadas — Vou até o supermercado comprar algumas coisas, você precisa de algo?
— Sim. — corri até a mesa de centro e peguei um papel no qual eu tinha anotado tudo e também busquei em minha carteira uma quantidade signifcavativa em dinheiro — Pode trazer isso para mim? Jonathan pediu a famosa torta de maçã da vovó Martha.
Ela deu um sorriso e pegou as coisas de minha mão, saindo da casa e indo até a caminhonete. Enquanto minha sogra estava fora, tratei de dar um jeito na casa e limpa-la da melhor forma possível, já que ela sempre estava correndo atrás de alguma coisa. Jonathan brincava do lado de fora e através da janela da cozinha era possível ve-lo. Ele se divertia perto do trator e parecia estar gostando de ser um fazendeiro.
Enquanto eu limpava a cozinha, percebi que meu filho estava falando com alguém. Olhei pela porta que dava acesso a varanda e vi um homem de costas para mim. Imediatamente eu saí da casa, parando no início da escada. Foi quando o homem misterioso virou-se, revelando quem ele era. Nossos olhares se encontraram e permaneceram conectados por muito tempo, até que ele como um passe de mágica parou em minha frente. Meu coração estava acelerado, minha boca estava seca e eu não conseguia respirar direito. Ele olhou-me de cima a baixo e com muita cautela levou uma de suas mãos para o meu rosto, acariciando o mesmo.
Não hesitei em abraça-lo, sentia tanto falta do seu aconchego. Seus braços rodearam o meu tronco e me trouxeram para mais perto de si, apertando-me contra o seu corpo. Eu fechei os meus olhos e respirei fundo, sentindo o perfume que ele tinha.
Quando nos afastamos, olhei para além dele e vi Jonathan observando toda a cena. Eu sempre mostrara a ele as fotos do pai e até mesmo dizia a ele quem Clark era e o que tinha acontecido para ele não estar conosco, queria manter a memória viva dele para o nosso filho.
— Onde você estava? — perguntei a ele, examinando o seu corpo a procura de algum ferimento — Eu fiquei preocupada com você quando sumiu.
— Eu sinto muito. — ele depositou um beijo em minha testa — Eu precisava me certificar que não iria machucar você e ele também. — olhou para Jonathan. — Eu esperei dois anos para conhecê-lo.
— Do que você está falando? — arqueei a sobrancelha.
Clark segurou em minha mão e me puxou lentamente até o balanço que tinha na varanda, sentando ao meu lado. Nossos olhares se tornaram apenas um só e por um instante o mundo todo parou, parecia que existia somente nós naquele momento.
— Eu escutei tudo durante todo esse tempo calado, sem poder falar nada. Lembro-me de cada novidade, notícias boas e ruins que você me contava e eu não podia comemorar ou chorar com você todas as vezes. Eu sentia o seu toque, sentia quando você levava o nosso bebê até mim e não via a hora para poder ter uma vida normal ao lado de vocês. — lágrimas escorriam pelos seus olhos — Eu estava preso em meu próprio corpo, Seu Nome.
Eu também já chorava horrores com sua declaração, mas a única coisa que eu pensava em fazer era consola-lo com um abraço. Foi isso que eu fiz, vendo o quão vulnerável ele parecia em meus braços.
— FILHO, VENHA AQUI! — o chamei e Jonathan correu até nós.
— Pol que você tá cholando mamãe? — ele perguntou, passando os seus dedinhos em minha bochecha — Você tá tliste?
— Não meu amor, mamãe está chorando de felicidade. — dei um sorriso — Você se lembra dele? — apontei para o Clark e ele assentiu — Quem é ele?
— Meu papai. — ele disse e Clark o pegou no colo.
— Isso mesmo. — depositei um beijo em sua bochecha — Papai esteve fora por um tempinho, mas agora ele voltou.
Clark direcionou o seu olhar pra mim e depois para o nosso filho, voltando a me olhar. Seu sorriso demonstrava a alegria que ele tinha ao nos ver e isso já era o suficiente para que eu também estivesse feliz naquele instante.
Seu rosto aproximou-se do meu e nossos lábios de uniram em um beijo um pouco desajeitado pela posição em que estávamos, mas juro que foi o melhor beijo que tive em séculos.
Quando ele se afastou, segurou em minha mão e puxou Jonathan para mais perto de seu corpo, olhando para a caminhonete de sua mãe que estacionava a nossa frente.
— Eu tenho tudo o que preciso para ser feliz aqui. — ele respirou fundo, um pouco melancólico — E prometo que não irei a lugar algum.
Oi mores, tudo bom?
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