OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING...

By autoralotorino

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❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe u... More

SINOPSE COMPLETA
DISCLAIMER
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
Capítulo sem título 18
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
C A P Í T U L O XX
C A P Í T U L O XXI
C A P Í T U L O XXII
C A P Í T U L O XXIII
C A P Í T U L O XXIV
C A P Í T U L O XXV
C A P Í T U L O XXVI
C A P Í T U L O XXVII
C A P Í T U L O XXVIII
C A P Í T U L O XXIX
C A P Í T U L O XXX
C A P Í T U L O XXXI
EPÍLOGO
Notas Finais + Amazon

CAPÍTULO V

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By autoralotorino

...

Entretanto, o que mais me surpreendeu nessa última semana foi a conduta de lord Morley. Chegou aos meus ouvidos que o marquês de Normanbury andou criticando a minha coluna do sarau dos Duncans. Fui chamada, inclusive, de covarde e hipócrita. Não quero soar rancorosa, mas acho importante ressaltar que Frederick Morley passou os últimos cinco anos de sua vida afastado de Londres, viajando pelo mundo e colecionando affaires, enquanto sua mãe a preciosa marquesa-viúva permaneceu reclusa em sua propriedade em Mayfair, tomando conta da única irmã de lord Morley, que a propósito está em sua primeira temporada na sociedade.

Aceito críticas. Aceito críticas, pois se não o fizesse não estaria aqui. O que mais recebo são comentários negativos e ameaças, porém acredito, acima de tudo, que se alguém deseja me condenar, esse alguém deve ter ao menos uma mínima moral para criticar minhas atitudes. Penso que infelizmente esse não seja o caso do indecoroso lord Morley.

Escolhi sim o anonimato. Não me arrependo de minhas escolhas e isso não me faz uma fonte menos confiável. Afinal, se ninguém sabe quem eu sou, não há porque mentir. Meu compromisso é acima de tudo com a verdade, minha querida Londres. E apenas posso trazê-la em segurança para vocês se continuar desconhecida. Alguém apenas precisa avisar isso a lord Morley. Incluam também uma lista de mulheres solteiras, pois aparentemente ele somente descobriu que lady Ronnie Besset estava noiva do Sr. Paine após procura-la pelos salões durante o sarau inteiro.

Homens apaixonados...

Srta. Silewood Stanley Journal, maio de 1832.

— Eu odeio essa mulher! — Frederick bradou.

Cordelia sorriu discretamente e enfiou novamente a cabeça no livro. Ela estava no sofá, com as pernas próximas ao corpo e tendo em uma das mãos uma xícara de chá bem quente — como ela sempre gostava. O irmão estava na poltrona á frente, com o jornal de Stanley sobre o colo e fervendo de raiva.

A menor não conseguia disfarçar a diversão por vê-lo assim. Cordelia era uma verdadeira admiradora da Srta. Silewood, e apesar de amar o irmão, não podia evitar a euforia por ter um membro da família sendo citado na coluna. Além de que, de certa forma, Frederick merecia. Não havia nenhuma razão consistente para ele ter feito aquele discurso na frente de toda a sociedade.

— Ela não disse nada demais, Freddie — Cordelia abafou um risinho — a Srta. Silewood apenas respondeu a suas criticas.

— Mentira — murmurou — ela tentou me atacar. Está tão desesperada que teve que apelar à minha vida pessoal.

Cordelia calou-se, sabendo que estavam entrando em um tópico perigoso. A jovem já havia escutado alguns rumores sobre as condutas românticas do irmão, mas esse não era um assunto discutido pela família. Nervosamente ela pousou a xícara sobre a mesa ao seu lado e voltou-se completamente para a leitura do livro. Frederick ainda não estava satisfeito. Ele passou os dedos pelas têmporas e fitou a irmãzinha tentando compreender o que havia escondido em seu olhar.

— Você nem ao menos deveria ler essas coisas, Cordelia.

Lord Morley levantou-se, pensativo. Era ainda início de tarde, mas como sempre a casa estava mergulhada em uma imensa escuridão. Aparentemente a jovem Cordelia havia se acostumado em manter todas as janelas fechadas e mergulhar na melancolia, pois não se incomodava com a falta de luz. Frederick, por outro lado, sentia-se incomodado. Não aguentava mais aquela sufocante escuridão, o silêncio ensurdecedor e os minutos que se arrastavam para passar.

— Bem, mamãe nunca me proibiu de ler...

— É claro que não. — Frederick respondeu.

Lady Cordelia suspirou. Havia se cansado do livro, mas deveria lê-lo para as lições do dia seguinte. Lord Morley caminhou até a janela, abriu uma pequena fresta e espiou o dia lá fora. Ensolarado, feliz e todas as boas emoções que ele não estava vivenciando no momento. O homem foi até o cabideiro, vestiu um casaco, um chapéu e virou-se em direção a irmã.

— Estou de saída — avisou — diga à mamãe que não precisa me esperar para o chá.

Cordelia mudou de página.

— Ela não iria de qualquer forma. Até mais.

Lord Morley finalmente deixou a casa e começou a caminhar pelas ruas de Mayfair. Por algum milagre divino o sol brilhava intensamente e não havia nenhum mísero sinal de chuva. Ele observou as moças caminhando lado a lado, casais conversando na outra calçada e alguns rapazinhos correndo as correspondências. Era estranho como fora de sua casa tudo parecia bem e feliz. Frederick caminhou alguns metros sem rumo, apenas olhando para os próprios e chutando o ar, mas quando subiu os tenebrosos olhos escuros percebeu que estava na soleira de lord Crosby.

Lord Morley bateu à porta duas vezes. Não houve resposta de qualquer mordomo ou empregado. Na terceira vez, porém, lord Crosby apareceu. Ele estava sorridente, com os cabelos dourados desgrenhados e vestindo um colete azulado. Frederick também tentou soar simpático, mas seu sorriso exagerado gerou desconfiança no amigo. Aaron apoiou-se no batente da porta e cruzou os braços.

— Qual seu maldito plano dessa vez, Morley?

— Nenhum — Frederick deu de ombros — apenas estou entediado. Vista algum casaco. Vamos ao Hyde Park.

— Você acha que há algo de interessante para nós lá?

— Provavelmente não, mas não custa tentar.

— Certo. — Crosby puxou seu casaco pendurado ao lado da porta e pousou os braços acima dos ombros de Morley, descendo a soleira com ele — Nós dois juntos, no Hyde Park, como nos velhos tempos. Existe algo melhor do que isso?

— Por favor, não me faça me arrepender do convite.

Aaron riu, ignorando a sinceridade das palavras de Frederick. Eles caminharam sem pressa em direção ao parque. Conversaram sobre vários assuntos no caminho: sobre o baile que Frederick havia perdido há um ano, quando Marlee Albernathy derrubou um lustre, sobre uma possível viagem para Bath, sobre como James Alberdeen podia ser irritante e como lord Morley odiava ser alvo de uma coluna de fofocas. Crosby não se importava muito com isso. Ele não via problema nenhum em ser citado pela Srta. Silewood, pelo contrário, adorava. Aaron gostava de ser o centro das atenções, e apesar de Frederick constantemente atraí-las para si, nunca foi uma escolha sua. Ele apenas havia nascido marquês, e por sorte, um tanto bonito. Não era culpa sua.

Já no parque as ideias do que fazer variaram muito. Aaron Crosby queria ir até um casal de amigos que eles haviam encontrado perto do canteiro de rosas, mas Frederick não concordava. Eles estavam tão apaixonados, andando de mãos dadas e trocando carícias que não era adequado atrapalhá-los. Lord Morley sugeriu o lago, onde eles poderiam alimentar os patos, mas então Aaron mencionou o fato de que eles não haviam trazido migalha alguma e que ele ainda não havia superado o dia em que fora atacado por um pato naqueles arredores. Por fim, eles apenas continuaram caminhando, seguindo uma longa trilha que contornava uma área com árvores.

— Frederick. — Crosby chamou depois de vários minutos.

Lord Morley estava vagueando pelos próprios pensamentos quando ouviu a voz do companheiro. Eles já estavam na trilha há algum tempo e não haviam encontrado nada de muito extraordinário. Ás vezes alguns rapazes passavam cavalgando, crianças corriam e apareciam algumas doninhas, mas nada de surpreendente. Tudo estava perfeitamente calmo. A brisa de primaveril parecia soprar serenamente, o canto dos pássaros era uma maravilhosa melodia e pela primeira vez em muito tempo parecia que todas as preocupações de Frederick tinham desaparecido.

Ele não precisava mais se preocupar com os negócios da família, com os problemas da mãe, com a busca por uma esposa ou a inquietação estupida da Srta. Silewood. Ele não precisava se preocupar com nada. Aproveitar o momento bastava. Singelamente ele olhou para Crosby, que apesar de não ter nada de sublime, também parecia em paz. Aaron sorriu.

— Diga... — o marquês gesticulou.

— Você acredita em destino?

Lord Morley demorou alguns segundos para assimilar a pergunta do amigo.

— Acredito que algumas coisas sejam inevitáveis, mas não tenho certeza se devo colocar a culpa em alguma entidade celestial.

— Desde último sarau quando pus meus olhos em Veronica Besset eu soube que ela era o meu destino, Morley...

— Ela está noiva, Crosby. — Frederick disse, porém esforçando-se para não soar rude — Tente não insistir nisso.

— E agora ela está aqui e eu não consigo não ver isso como um sinal divino.

Frederick cessou os passos. Olhou no fundo dos olhos de Aaron para ver se conseguia extrair a metáfora de suas palavras, mas ele estava terrivelmente sério. Será que ele tinha lido seus sonetos românticos até tarde na última noite e não estava bem o suficiente hoje?

— Aaron. — O marquês tocou seus ombros. — Do que diabos você está falando?

— Ali. — Crosby apontou para duas moças há cerca de cinquenta metros. — Lady Ronnie Besset e lady Eliza Gunning. E elas estão vindo em nossa direção...

🕎🕎🕎

Eliza amava Ronnie, mas ás vezes tinha que se esforçar muito para isso.

Ela não quer ver lord Morley. Definitivamente não. Na verdade a última pessoa que Eliza gostaria de ver naquele dia era o marquês, mas lá estava Ronnie, feliz da vida, arrastando-a em direção a seu nefasto crítico. Nesse momento lady Eliza arrependeu-se de ter escolhido justo Veronica Besset para visitar durante a tarde. Antes disso as coisas estavam indo até que consideravelmente bem.

— Saia de casa. — Lady Margareth disse a Eliza mais cedo.

Liz ergueu a cabeça em direção à avó. A condessa-viúva estava parada à frente da porta de seu quarto, com um guarda-sol em uma mão e o jornal de Stanley na outra. Eliza engoliu em seco. Ela esperava que o guarda-sol fosse apenas para proteção, não para bater na neta caso necessário. A menor soltou o lápis e endireitou a postura.

— Sair de casa... — ela estreitou os olhos — eu estou sendo expulsa?

Lady Margareth apontou o guarda-sol em direção à neta. O sangue de Eliza gelou.

— Sim, você está.

— Mas a senhora nem ao menos mora aqui. — Eliza disse com cautela — Além do mais o que eu fiz de errado?

— Você olhou para fora, Eliza?

— Não.

— Claro que não... — lady Margareth caminhou até a janela e a abriu. Os raios solares cegaram Eliza por alguns segundos. — Você passa o dia inteiro nesse quarto, escrevendo e escrevendo asneiras, e eu ainda sou tola de pensar que você pode ter visto como o dia está lindo lá fora.

— Não são asneiras. — Liz defendeu-se, sem muita esperança.

— Não, imagine. — Margareth colocou a última edição do jornal bem a frente da neta — Você dedicou quase sua coluna inteira a uma crítica rancorosa à lord Morley.

— Eu apenas me def...

— Você, Eliza — a avó interrompeu — acabou de destruir suas chances de casamento com um marquês. Ele é um homem tão bonito, de uma família tão nobre e...

— Ei, ei! — Eliza afastou sua edição e encarou a avó — Primeiro, a última pessoa com quem eu me casaria é lord Morley.

— Não cuspa para cima, Eliza Gunning. — Lady Margareth avisou.

— Segundo, de qualquer forma ele não tem ideia de que a Srta. Silewood seja eu. Apenas nós e minhas amigas sabemos. Sendo assim não tenho que me preocupar com nada. Posso criticar quem eu quiser.

— Saia desse quarto. — Margareth voltou para o tópico inicial.

Lady Eliza decidiu ignorar. Ela nem ao menos estava escrevendo para sua coluna no momento. Eliza escrevia uma carta para Titia Daisy que com sorte reencontraria em breve. Ela comentava os acontecimentos mais importantes da última semana e deixava explicito em cada paragrafo como sentia falta da tia. Havia tantos meses que elas não viam que Liz mal podia aguentar de saudade. Suas palavras eram melodramáticas, irônicas com frequência, porém sempre muito bem colocadas. Se Eliza não tinha o dom do gracejo social ao menos tinha para a escrita.

— Eliza, vá. — Lady Margareth disse pela última vez e com a voz séria. — Você é jovem, é bonita e é radiante. O dia está mais bonito do que nunca e eu não aceito que você fique aqui.

— Vovó, não adianta. Nenhum homem decente quer se casar comigo. Desfilar pelas ruas de Mayfair não vai... — Liz calou-se. A avó fazia um pedido sincero. Ela podia se esforçar pelo menos uma vez e fingir que qualquer esforço não era em vão? — Mas de qualquer forma eu posso me tentar. Preciso de um pouco de sol mesmo. Vou ao parque com lady Ronnie.

Margareth sorriu. Aproximou-se de Eliza e depositou um beijo em sua testa. A mais nova suspirou. Certo, a avó tinha razão. O dia estava tão ensolarado e quente. Com certeza havia algo melhor para fazer do que escrever uma carta que ela certamente teria tempo para terminar mais tarde.

Assim que a avó saiu ela caminhou até seu quarto de vestir, escolheu um vestido verde, um de seus belos chapéus, colocou um sapatinho confortável para caminhar e pediu para que sua criada a ajudasse com o penteado. Não demorou muito para que Eliza estivesse pronta. Encontrou Pippa e Honorio — um de seus gatos — no caminho e despediu-se deles com beijinhos.

Em pouco tempo lady Eliza estava nas ruas de Mayfair, saltitando e com a alergia atacada. Algumas quadras depois ela chegou até a residência de Ronnie Besset. O mordomo tinha ordens de deixar que Eliza entrasse sempre que quisesse, sendo assim, não foi preciso comunicar ninguém de sua chegada. Ela adentrou a propriedade dos Besset cautelosamente e caminhou sozinha até a sala de estar, onde o empregado havia dito que a amiga estava.

— Não tivemos oportunidade de conversar no aniversário de Abigail ontem. — Eliza disse, entrando na sala. — E boa tarde.

Lady Besset também estava ali, mas Eliza conhecia a mãe de Ronnie há tempo suficiente para saber que ela não deveria ser incomodada durante suas leituras. Principalmente quando o título do livro era tão peculiar que Eliza nem ao menos sabia se poderia pronunciar aquele nome em voz alta sem soltar um feitiço. Não que ela de fato pudesse. Provavelmente estava escrito em um idioma eslavo, provavelmente russo, e... Desde quando Lady Besset falava russo?

— Muita gente, muitas danças — Ronnie suspirou fazendo sinal para que amiga se sentasse ao seu lado — e como foi para você? Divertiu-se?

— Meu ponto alto foi ver Bridget engasgando com um doce de nozes.

— Ela está bem? — Veronica preocupou-se — Quer dizer, bem na medida em que a Srta. Hawkins pode ficar...

Lady Besset que — obviamente — estava escutando a conversa riu. Ronnie sorriu maliciosamente.

— Sim, sim — Eliza respondeu — de alguma forma ela conseguiu se recuperar bem rápido quando viu o Sr. Hemsworthy se aproximando para pedir uma dança.

— Hemsworthy dançou com ela?

— Não, não. Ele queria Samantha. As mães deles são bem próximas. Bridget não dançou com quase ninguém.

— Pobrezinha.

Lady Ronnie disse e logo após bebeu o resto do chá que havia em sua xícara. Eliza assentiu. Ela sabia que a amiga havia dito aquilo apenas por gentileza, pois era explicito que Veronica tinha muitas restrições em relação às amizades de Eliza — principalmente com a Srta. Hawkins. Não era apenas um ciúme tolo, mas sim uma repulsão justificável. Bridget era por vezes extremamente desagradável e inoportuna. Ronnie não gostava da maneira como ela tratava Eliza e muito menos Samantha. Infelizmente Eliza não podia fazer muita coisa a respeito disso. Ela amava Ronnie, mas poderia abrir mão de suas outras amizades. Veronica se casaria em breve e Eliza não podia arriscar ficar sozinha. Não de novo.

Lady Veronica permaneceu em silêncio. Ela gostaria de dizer algo, mas não o fez. Talvez porque sua mãe estivesse ali. Elas eram próximas, mas sempre havia restringências nos relacionamentos de mãe e filha. Em especial quando o assunto era homens. Ronnie gostava de falar de Reynard, de como ele era gentil, carinhoso e em como seus lábios encaixavam-se perfeitamente aos dela durante os beijos clandestinos. Era claro que lady Besset não era inocente ao ponto de achar que a filha nunca foi beijada, mas mesmo assim era um tópico que não deveria ser discutido. Não ali. Não agora.

Eliza sorriu.

— Vamos ao parque? — ela alisou o vestido — Pensei que poderíamos fazer uma caminhada.

— Maravilha! — Ronnie sorriu — Podemos andar na trilha hoje. Duvido que tenha muitas pessoas a cavalo nesse horário. Eles aparecem mais no início do dia ou ao final da tarde.

Lady Besset trocou a página de seu livro.

— Cuidados com os cavalos, Ronnie. Você se lembra de quando o pônei de sua tia Judi...

— Tudo bem, mamãe! — Veronica disse rapidamente, rangendo os dentes — A história com o cavalo não deve ser mencionada.

Lady Eliza riu. Elas entrelaçaram os braços e se retiraram da propriedade dos Besset em pouco tempo. Caminharam até o Hyde Park sozinhas, sem acompanhante alguma, rindo e tropeçando durante o percurso inteiro. Eliza não queria pensar nisso, mas tinha medo do que seria de si quando lady Ronnie se casasse. Quem seria sua maior confidente, sua maior companheira e porto-seguro? Ela não tinha certeza se poderia contar com a Srta. Hawkins e por mais que Samantha fosse gentil, ela era muito influenciada por Bridget. Ronnie era sua melhor amiga. Liz não queria perdê-la. Nunca.

— Um centavo por seus pensamentos? — Veronica sorriu.

Elas já estavam na trilha. Veronica caminhava um pouco à frente, chutando algumas folhas secas e cantarolando uma melodia que estava em sua cabeça desde o último sarau. Eliza estava há alguns passos, pensativa. O silêncio era constante, mas extremamente confortável. A presença uma da outra preenchia qualquer lacuna do momento. Estar juntar era o suficiente. Sempre foi, e por Deus, sempre seria.

— Nem por um milhão de libras. — Eliza apressou os passos, ficando ao lado de Ronnie. — E os seus valem quanto?

— Para qualquer um todo o dinheiro do mundo — disse — para você é por minha conta. Estou pensando em Reynard. Ficamos sozinhos ontem depois do baile.

Eliza fitou a amiga com cuidado. Os olhos castanhos de Ronnie encaravam o chão. Não estavam tristes, mas tampouco demonstravam tamanha alegria. Assim como lady Eliza ela estava sendo perturbada por mil e um pensamentos inoportunos.

Vocês...? — Eliza perguntou, mas nem ao menos sabia como deveria completar a pergunta.

Quer dizer, ela não era tola. Sabia que algo muito importante acontecia com duas pessoas que se amavam quando estavam sozinhas, mas não tinha a experiência necessária para criar uma boa pergunta com base nisso. Lady Eliza, na verdade, nunca nem tinha sido beijada. O mais próximo que esteve de homens que não eram de sua família foi em bailes, dançando valsas que nunca resultaram em qualquer casamento. Enquanto a amiga já estava noiva tudo o que Liz sabia vinha de fofocas e comentários indiscretos. Sua experiência era nula.

— Não, não, Liz. — Ronnie esclareceu — Ele me beijou algumas vezes, mas nós passamos a maior parte do tempo conversando. Nada, além disso.

— Então o que a aflige?

— Não sei. Eu o amo. Amo demais... — Ela disse, mas ao final hesitou um pouco — Mas ás vezes sinto algo tão assustador em meu coração. Sei que parece tolice, mas...

— Não é tolice — Liz segurou em suas mãos — você está ansiosa. Irá se casar em pouquíssimo tempo e apesar de eu estar solteira, sei que são momentos apavorantes para uma noiva. Você irá começar uma nova vida, uma nova família, será a Sra. Paine.

— Eu nunca achei que fosse me casar, Lizzie. — Ronnie confessou — Não tenho certeza se tenho capacidade de ser uma boa esposa. Eu frequentava os bailes apenas para me divertir. Minha mãe tampouco fazia questão de me casar. Eu sinceramente não achei que fosse encontrar um amor lá, mas encontrei. Por isso eu digo... — ela olhou para a amiga — você provavelmente não achou a pessoa certa ainda.

— Até você, Ronnie? — Eliza revirou os olhos — Mais cedo minha avó também estava implicando com meu casamento inexistente. Ela até tentou sugerir que eu pudesse conquistar lord Morley.

Veronica riu. Ela cutucou Liz.

— Não estou implicando, estou dizendo a verdade — Ronnie estreitou os olhos com um sorriso divertido —sua vó tem razão. Lord Morley foi muito gentil comigo. Vocês dariam um ótimo casal.

Lady Eliza fingiu que ia vomitar. Ronnie revirou os olhos.

— Você ouviu o que lord Morley disse sobre minha coluna. Ele é detestável. E nem digo apenas por isso. Ele se acha muito irresistível só pelo título e pela beleza questionável.

— Questionável? — Ronnie estava indignada — Eliza, você pode até odiá-lo, mas é impossível negar que ele é muito bonito. Aqueles cabelos castanhos, os olhos intensos, o sorriso, o ar misterioso...

— Ar misterioso? — Eliza cruzou os braços — Nunca. Ele é apenas antipático. Só foi gentil com você, pois queria se casar contigo. Ele praticamente me ignorou no sarau. Só conversou comigo, pois eu questionei o conhecimento musical dele.

Oh... — Ronnie mordeu os lábios — e você ficou magoada?

— Pare de tentar criar um romance onde nem existe nem a remota possibilidade, Veronica. — Lady Eliza disse. — Além do mais, mesmo se eu não o destetasse, dificilmente os sentimentos seriam recíprocos. Olhe para mim.

Ronnie acenou no ar. Seu sorriso desapareceu. Ela odiava quando Eliza se colocava para baixo. Odiava, odiava. Ela não compreendia como a amiga não conseguia ver o quão incrível era. Liz era inteligente, sagaz, e mesmo recusando-se a acreditar, muito bonita. O corpo avantajado nos locais certos chamava a atenção de muitos homens, a baixa estatura a deixava com um ar mais gracioso e Ronnie recusava-se a acreditar que existiam olhos mais bonitos que os da amiga em toda Inglaterra. Lady Eliza Gunning era linda. Ela só precisava saber disso. E Ronnie já estava cansada de tentar convencê-la.

— Você sabe que é maravilhosa. Não gosto que diga isso.

Eliza deu ombros.

— É inevitável. Sou um desastre.

— Não, não é. Você é maravilhosa e... — Ronnie interrompeu-se — lord Morley e lord Crosby.

Lady Eliza estreitou o olhar. O quê?

— Eles estão ali! — Ronnie apontou — Vamos, vamos!

— Ah, não. De forma alguma, Ronnie.

— Vamos, vamos! — Veronica saltitou.

Lady Ronnie agarrou os braços da amiga, tentando arrastá-la. Eliza cravou os pés no chão, recusando-se a sair do lugar. Quais eram as chances daquilo estar acontecendo com ela, justo agora, justo hoje?

— Olhe para mim, Ronnie. — Eliza disse séria — Não.

— Como não?

— Eu não quero ver lord Morley! — Bradou.

— Ah, Crosby já nos viu. — Ronnie sorriu — Agora é tarde demais. Vamos, será divertido. Vou mostrar como eles podem ser muito agradáveis.

Eliza cedeu. Não por concordar, mas porque já era tarde demais. As duas duplas já caminhavam em direção uma da outra. Liz suspirou com muito pesar.

Seria uma longa tarde...

•••
Capítulo novinho para vocês ❤️ (e já adianto que o próximo capítulo é um dos meus favoritos, apesar de que sou suspeita para falar hahah).

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