Flores de Inverno ♡ changki

Da moonIighting_

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Um namorado perfeito, amigos de infância fiéis e sempre presentes, a perspectiva de ascender no trabalho. A v... Altro

Prólogo
Girassol
Narciso
Espinhos
Submerso
Crisântemo amarelo
Florescer
Luz
Competição
Fantasmas
Perdidos
Alguma coisa aconteceu
Mudança de planos
Azar
Confiar e esquecer
Flores de inverno
Surpresa!
Shin Hoseok
O começo de algo novo
Bom com segredos
Simples
Tempestade
Quente e frio
Inferno
Extraordinário
Cinco segundos
Caos
Sonhos
Despedaçado
Novidades
Diálogo
Quebra-cabeças
Raízes
Pisando em neve
Castelo de Pedras
"Mas..."
O dia
Paciência
Bom o bastante

Farol

742 97 548
Da moonIighting_

A cirurgia de Shin Hoseok havia sido um sucesso inegável, reconhecida pelos médicos como uma operação complicada, mas que havia tido um final praticamente milagroso, em que nenhuma sequela havia sido detectada nos dias posteriores. Praticamente todo o período de observação havia passado e todos os médicos e enfermeiros concordavam que Wonho era um dos pacientes mais fortes e gentis que já haviam passado por aquele hospital. Ele acordava cedo, nunca reclamava da dor que era natural após uma cirurgia tão invasiva e delicada, agradecia por suas refeições sem gosto com um sorriso largo e esperava diariamente por suas visitas. Sendo uma pessoa tão querida, Hoseok recebia tantos conhecidos, amigos e familiares que o hospital precisou limitar o número de pessoas que poderiam entrar ao mesmo tempo em seu quarto.

Já reconhecendo o azar habitual do melhor amigo, Kihyun não se surpreendeu quando descobriu que haviam colocado Jooheon no mesmo horário e grupo que Kwan. Como medida de apoio e também segurança – afinal não queria que o melhor amigo se atracasse com alguém infinitamente mais forte e alto, como o ex-companheiro de Hoseok – Kihyun decidiu acompanhá-los durante aquela visita. E aquela havia sido uma escolha divertida, pois Lee Jooheon era absolutamente óbvio quando estava puto com alguém.

Enquanto aguardavam o horário da visita, Jooheon puxou Kihyun para um canto e passou a fofocar sobre Kwan como um adolescente irritadiço. Segundo o músico, era realmente estressante estar ao lado do ex-namorado de Hoseok. Não por uma questão de ciúmes – ao menos foi o que Jooheon argumentou quando Kihyun o perguntou aquilo com uma risadinha – mas por conta da personalidade verdadeiramente irritante e soberba que Kwan carregava em cada palavra que saia de sua boca e em cada pequeno comportamento ou gesto descomedido.

Durante os poucos minutos em que passaram sozinhos na recepção, esperando que Kihyun chegasse e lhe chamassem para o quarto de Hoseok, Kwan havia relatado uma dezena de vezes sobre a promoção que havia recebido em seu trabalho.

E – ainda mais irritante que sua presunção com o trabalho – Kwan fez questão de dizer sobre como ele e Hoseok eram realmente bons quando estavam juntos. Para o completo nojo de Jooheon, nada sutilmente, aquela afirmação havia sido acompanhada por toques de malícia. Minutos depois, já na presença de Kihyun, não satisfeito, o mais velho retirou da bolsa os chocolates caros que havia comprado para Hoseok, mostrando-os para Jooheon e afirmando com muita propriedade que aqueles eram os favoritos do enfermeiro. Como respostas àquelas claras provocações, Jooheon não conseguiu conter um resmungo, dizendo, completamente sem humor, que Wonho ainda não podia comer os chocolates. Inabalável, Kwan argumentou que o ex-companheiro poderia guardá-los, diferente das flores que Jooheon tinha em mãos e que murchariam em questão de dias.

Ao lado dos dois, Kihyun – que estava durante toda a semana indo visitar Wonho, com ou sem a companhia dos seus amigos – não evitou rir diante aquela clara competição idiota. Diferente dos dois, ele não havia trago nenhum presente durante aquela quarta-feira, mas já havia estado suficientes dias com Hosoek para presenteá-lo com flores, chocolates e muito carinho e conversas longas. Durante tais conversas, Yoo havia descoberto muito sobre Kwan e sobre como andava a "relação" do seu melhor amigo e do enfermeiro. Quando questionou, curioso, sobre os dois, Wonho admitiu que não sabia ao certo quais eram as intenções de Jooheon, mas não se demonstrou particularmente incomodado com aquele fato.

Ao perceber que o brilho de curiosidade continuava presente nos olhos chorosos de Kihyun – que parecia atipicamente sensível e frágil durante aquela semana –, Wonho riu baixinho, buscou por sua mão e continuou a falar mais sobre Jooheon. Com a voz muito suave e tranquila, Hoseok o segredou que o músico realmente era uma pessoa querida, que gostava muito de sua companhia e que eles dois estavam se divertindo muito juntos. Ouvindo aquela última declaração, Kihyun não evitou que uma expressão absolutamente maliciosa surgisse em seu rosto, argumentando que sabia bem que tipo de diversão Wonho estava falando. A cena de Jooheon e do enfermeiro nus no carro do mais velho ainda absolutamente presente na memória de Kihyun. Um pouco vermelho com a provocação, mas mantendo o sorriso em seu rosto, Hoseok retrucou que aquele tipo de diversão provavelmente era a única que Jooheon estava buscando consigo.

Não parecia rancoroso ou chateado com aquela observação, mesmo que a frase fosse crua, direta, era apenas uma constatação de um fato aparentemente imutável.

Por mais que visse não ser necessário, Kihyun argumentou que Jooheon era um pouco confuso – talvez muito confuso, é verdade, mas Yoo não iria detonar o melhor amigo assim –, mas que Lee seria sincero, caso Wonho o questionasse o que ele buscava naquela relação. Delicadamente, o enfermeiro o respondeu com um sorriso suave e com uma afirmação sincera: "Ainda não tenho perguntas".

Com aquilo, Kihyun reparou que Hoseok não parecia estar enfrentando dúvidas dolorosas a respeito de Jooheon. Era óbvio que o enfermeiro gostava do músico como um amigo, mas era difícil para Yoo desvendar se aqueles sentimentos chegavam a ser amorosos. E, se já era difícil ler completamente Wonho, mesmo quando esse era absolutamente sincero consigo, era praticamente impossível para Kihyun entender Jooheon. Mesmo após anos e anos de amizade, sendo intensamente conectados como melhores amigos, Kihyun nunca havia visto Jooheon tão perdido no campo do amor. Ele estava apaixonado por Minhyuk, ao menos era isso que ele dizia com muita frequência quando conversava com Kihyun, mas era estranho e curioso vê-lo tão nitidamente irritado com ex-namorado de Hoseok.

— Tomara que o Hosoek hyung expulse esse cara quando chegarmos no quarto — Jooheon resmungava baixinho, enquanto empurrava sua cadeira de rodas em direção ao elevador. Os dois estavam há alguns metros de Kwan e do enfermeiro que os acompanhava, uma vez que Jooheon praticamente parecia apostar uma corrida com Kwan, empurrando a cadeira de Kihyun com tanta rapidez que o mais velho não evitou xingá-lo quando, sem querer, o músico chocou as rodas da cadeira contra a quina de uma parede. — Desculpa, hyung. Eu quero chegar lá antes dele.

— Tente não acabar comigo durante o caminho — Kihyun retrucou, um pouco menos mal-humorado ao escutar Jooheon admitir que estava, de fato, correndo apenas para encontrar Hoseok antes que Kwan se juntasse ao grupo. Ao olhar para trás e constatar que Kwan se aproximava dos dois, Kihyun conteve um suspiro ao perceber que estava prestes a dar permissão para Jooheon continuar com aquela palhaçada e disse com a voz altiva e irritada: — Vamos logo, então! Ele está te alcançando.

— Eu amo você — Foi o que Jooheon disse, entre risos, antes de voltar a empurrar sua cadeira de rodas com velocidade e correr em direção ao elevador, antes que esse se fechasse. Mesmo sentindo os trancos que a cadeira sofreu ao passar com rapidez pela pequena elevação do elevador, Kihyun não conseguiu conter uma risada ao observar a expressão de estranhamento do enfermeiro e de Kwan ao vê-los ofegantes já dentro do elevador. A porta, felizmente, fechou antes que os dois pudessem alcançá-los. Vitorioso, Jooheon sussurrou, sem fôlego pela corrida: — Conseguimos.

— É claro que conseguimos. O amor sempre vence — Era óbvio que Kihyun estava sendo absolutamente debochado, seu tom de voz e sua expressão zombeteira entregavam aquilo, mas Jooheon, ainda assim, envergonhou-se com a frase e a reagiu da maneira mais imatura e boba possível com uma careta nada discreta. Continuando com sua provocação idiota – talvez estivesse aprendendo muito com Changkyun –, o mais velho cantarolou de maneira brincalhona: — Não precisa fazer essa cara. Eu já sei que você e o Wonho hyung estão trocando beijinhos.

— Muito maduro, hyung — Jooheon revirou os olhos, enquanto clicava sem parar no botão que indicava o andar correto, em um claro sinal de nervosismo e timidez. Suas reações exageradas apenas fizeram Kihyun rir ainda mais, causando uma expressão tão indignada no rosto de Jooheon que o mais velho passou a ter um acesso de riso. O rosto tornando-se vermelho devido à intensidade de sua risada, os olhos firmemente fechadinhos e levemente úmidos enquanto sua cabeça movia-se para frente e para trás e as mãos buscavam bater em alguma coisa durante a risada longa. Sentindo seu hyung bater de maneira suave contra seu braço, Jooheon desfez a expressão brava do rosto e acabou rindo de Kihyun, sentindo-se verdadeiramente feliz ao vê-lo se divertir depois daqueles dias horrorosos.

Tomado por aquele sentimento de carinho, Jooheon inclinou-se para frente, abraçando-o subitamente. O contato não durou mais que alguns segundos – o tempo em que o elevador levou para chegar ao seu destino –, contudo, havia sido suficientemente duradouro para que Kihyun cessasse seus risos e passasse a apenas sorrir com o gesto do melhor amigo. Enquanto o sentia beijar suavemente o topo de sua cabeça e envolver seus ombros de maneira cuidadosa, Kihyun alisou as costas do mais novo suavemente, descansando o rosto em seu peitoral e agradecendo aos céus, o destino e até mesmo a escolinha que os colocou na mesma sala por terem lhe proporcionado uma pessoa tão especial quanto Lee Jooheon.

— Vai lá, Romeu. Eu entro quando o Kwan hyung chegar — Kihyun disse, assim que eles se afastaram daquele abraço e Jooheon o empurrou – agora mais gentilmente – para fora do elevador. Confuso, o músico ergueu as sobrancelhas com aquela sugestão do mais velho, mas Kihyun apenas o empurrou suavemente com um dos pés, em direção ao quarto em que Wonho estava aguardando por suas visitas. — Vá logo. Ou nossa vantagem sobre aquele babaca não irá significar mais nada.

Sorrindo, Jooheon concordou com a cabeça, mais animado com as palavras do mais velho e com sua "vitória" naquela corrida do que com os reais resultados dela. Afinal, alguns poucos minutos ao lado de Hoseok não renderia nenhuma longa conversa ou troca de carinhos. Ao menos, era isso o que Jooheon refletia enquanto abria a porta do quarto, antes de ouvir Yoo Kihyun – de maneira patética, diga-se de passagem – fazer sons de beijo no corredor. Quando se voltou para o melhor amigo uma última vez, ele observou o mais velho juntar seus dedos, em uma representação idiota de duas pessoas se beijando, claramente tirando uma com a sua cara e insinuando que ele e Wonho fariam algo como aquilo durante os próximos minutos.

Definitivamente seu hyung estava há muito tempo ao lado de Changkyun, foi o que Jooheon pensou, ao mesmo tempo em que esperava que o mais velho não estivesse assim tão errado em sua brincadeira tola.

Ainda que aquele fosse um ambiente hospitalar, com suas paredes brancas sem graça e o típico cheiro de produtos de limpeza, Jooheon podia ver alegria e um pouco de Hosoek em cada canto daquele quarto. Esteve lá antes, no primeiro dia de visitação, mas Wonho ainda estava debilitado demais para que pudesse começar a alterar aquele lugar com sua energia e objetos pessoais. Agora, apenas três dias depois de sua primeira visita, o ambiente era decorado com vasos de flores cheirosas, um notebook aberto estava sobre o colo de Hoseok e um pequeno rádio tocava música Pop lenta e boa. Também havia algumas mudas de roupa do mais velho empilhadas cuidadosamente sobre uma das poltronas do lugar e alguns balões de gás hélio circulavam sua cama. Era o quarto de uma pessoa que visivelmente havia recebido muitas visitas e era muito amada.

— Parece que meu presente é muito popular por aqui — Jooheon afirmou, chamando a atenção do mais velho para si, apontando para suas flores e para os outros cinco vasos que rodeavam o quarto. Como resposta, Wonho riu e estendeu seus braços, em um claro sinal para que Jooheon se aproximasse e lhe entregasse as rosas brancas. Eram flores absolutamente delicadas, que provavelmente murchariam rápido, como Kwan disse de maneira insuportável, mas Hoseok não parecia pensar no destino inevitável das rosas quando as aceitou com um sorriso agradecido no rosto ainda abatido pela cirurgia.

— Eu ainda não havia recebido essas — Wonho o garantiu carinhosamente, fazendo menção de virar-se em direção a cabaceira da cama, para buscar um vaso com rosas vermelhas, desejando colocar as que Jooheon o presentou ali também. Rapidamente, entretanto, o mais novo correu em sua direção, impedindo-o de movimentar a área ainda enfaixada do peitoral e alcançou o vaso antes que o enfermeiro pudesse fazê-lo. Novamente, transbordando gentileza, Hoseok o agradeceu pela ajuda e acomodou as rosas brancas ao lado das vermelhas, formando um buque bonito no vaso transparentemente que comportava as diversas flores — Obrigado pelo presente. E pela visita.

— Eu queria ter vindo mais vezes, mas você é um homem muito popular, hyung — O mais novo falou em tom de brincadeira, ainda que houvesse um claro nervosismo mal escondido em suas expressões e em sua fala. Toda aquela brincadeira de Kihyun sobre ele e Hoseok trocarem beijos estava realmente mexendo consigo, fazendo-o mais desajeitado do que o costume. Será que era apropriado uma aproximação física de carinho naquele momento? Era o que se perguntava, enquanto colocava o vaso de flores de volta ao lugar e, em seguida, procurava com os olhos algum lugar que pudesse se sentar.

— Venha cá. Tem muito espaço — Chegando para o lado em sua cama hospitalar, Wonho foi rápido demais para que Jooheon o impedisse de se mover mais, abrindo espaço o suficiente no colchão para que o músico se acomodasse ali. Um pouco tímido, Jooheon retirou os sapatos rapidamente, permanecendo com as meias coloridas, e uniu-se ao enfermeiro na cama estreita. O mais velho mentiu quando disse que havia muito espaço ali, era uma cama de solteiro que dificilmente comportaria dois homens fortes, entretanto, nenhum dos dois pareceu realmente incomodado por estarem absolutamente próximos.

Deitado de lado no colchão, com o rosto e o corpo voltados para Hoseok, o mais novo percebeu que não tinha muito tempo para dizer tudo o que gostaria. Em breve, Kwan estaria naquele quarto, atrapalhando qualquer tentativa sua de ficar ao lado de Hoseok. Portanto, invadido por um senso de pressa e coragem, Lee dirigiu sua mão direita até um dos braços fortes de Hoseok, seus dedos contornando os músculos visíveis do bíceps, deslizando-os lentamente em direção as clavículas bem marcadas do homem. Hoseok não pareceu se incomodar com aqueles toques gentis, uma vez que também moveu uma de suas mãos, pousando-a sobre o ombro de Jooheon, acariciando a pele que não era coberta pela regata branca.

Em um primeiro momento, a atenção de Jooheon permaneceu no corpo de Wonho. Seu olhar, entretanto, não carregava qualquer traço de malícia, por mais que Hoseok continuasse sendo um homem absolutamente atraente, mesmo trajando roupas hospitalares largas e sem nenhum corte. Em seu rosto bonito e jovial, havia um olhar cuidadoso e preocupado. Jooheon estava checando, mais uma vez, se o enfermeiro estava realmente bem. E ele, de fato, aparentava estar. Quase se parecia o mesmo de alguns dias atrás, antes de ter sido baleado, com exceção da palidez em seu rosto cansado, mas gentil. A região em que havia recebido o tiro estava devidamente coberta, mas o local exato da ferida era óbvio, pois estava mais volumoso, com muitas ataduras e parecia sensível o bastante para Hoseok evitar tocar a área.

— Eu estava tão preocupado — Admitiu com a voz mais séria que o normal, finalmente voltando seus olhos para o rosto do mais velho e encontrando-o tranquilo, carinhoso. Não havia raiva ou indignação em sua expressão pelo que havia acontecido consigo, como se ele estivesse apenas plenamente satisfeito e feliz por ter sobrevivido. Não parecia focado na parte aterrorizante daquela história: a de ter sido vítima de um ato que quase tomou sua vida.

Ainda que o interior de Jooheon se revirasse, as palavrinhas que deveria dizer parecendo bagunçadas dentro de si, ele sorriu ao vê-lo daquela forma. Espelhando o seu sorriso, Wonho inclinou-se para frente, em um claro sinal para que Jooheon o beijasse.

E ele assim o fez.

Mais frios do que o costume, os lábios se Wonho ainda se acomodavam deliciosamente sobre os seus, trazendo arrepios e sorrisos suaves no corpo e rosto de Jooheon durante aquele breve contato. O próprio Hoseok sorriu contra sua boca, aproveitando da dádiva que era estar vivo, podendo não apenas respirar o cheiro das flores que invadiram seu quarto naqueles últimos dias, como também deliciando-se ao sentir aquele odor delicado misturando-se ao cheiro de Jooheon. O beijo, embora fosse singelo e rápido, também fez florescer boas recordações e possibilidades na mente do enfermeiro. Ainda era tão jovem, estava tão vivo e cheio de energias, pronto para realizar sonhos anteriormente esquecidos, disposto a viver cada dia melhor, prestes a apaixonar-se mais uma vez.

Quando Hoseok deixou sua cirurgia e acordou, com morfina demais correndo em suas veias para que ele não sentisse dor após sua operação, deixando-o levemente zonzo, uma das médicas sorriu em sua direção, tomou sua mão e o garantiu que ele ficaria bem. O projetil da arma, disse a mulher, havia passado absolutamente próximo ao seu coração, no entanto, milagrosamente não havia atingido nenhuma partezinha dele. Nenhum dano cardiovascular, nenhuma sequela, Shin Hoseok era realmente um homem de sorte, com um coração gigantesco e – brincaram os enfermeiros e médicos que o visitaram – inquebrável.

Entretanto, após aqueles próximos meses, Lee Jooheon quebraria seu coração de outra forma.

Com Hoseok recuperando-se no hospital, Kihyun esteve passando aqueles últimos dias dividido entre ir visitá-lo e passar as tardes e noites completamente sozinho. Sua mãe estranhamente havia se afastado depois daquele dia fatídico. Ela passava a maior parte do tempo em seu quarto ou, ainda, pensativa nos sofás da sala. Durante aquele dia em especial, ela nem mesmo estava em casa. Havia deixado seu jantar pronto e um bilhete escrito a mão, avisando que ela havia ido visitar uma amiga e que passaria a noite fora. No final do pequeno recado, Jinseo emendou, pedindo para que ele ligasse para seu celular caso precisasse de alguma coisa e falando que o amava. Kihyun não evitou que um sorriso sem humor aparecesse em seu rosto, pensando no quão irônico era Jinseo ter se afastado justamente quando ele precisava de alguém.

Estava tão genuinamente confuso, sozinho e sem rumo durante aquela semana. Não apenas Jinseo havia se afastado, como Changkyun também estava estranho, enviando poucas mensagens durante o dia, evitando ir visitá-lo com muita frequência. O mais velho não pode evitar culpar-se por aquele comportamento do fisioterapeuta, pensando que suas perguntas a respeito do que estava acontecendo haviam afastado Changkyun. Em partes, ele entendia que Im precisasse de mais um tempo para contar-lhe sobre tudo, entretanto, durante aqueles últimos dias, Kihyun estava começando a ficar realmente bravo com todo aquela situação. O que Im Changkyun esperava que ele fizesse? O mais novo queria que ele ficasse em silêncio, sem perguntar quem estava o machucando? Ele simplesmente não podia fingir que nada estava acontecendo. Não novamente.

Era tudo tão dolorosamente confuso. Os limites de sua preocupação e de suas ações eram difíceis de serem traçados. Não queria invadir a privacidade de Changkyun, contudo, ele também não aguentava mais estar preso àquela neblina, em que nada parecia claro o suficiente para que ele pudesse dar um passo adiante. Esteve durante aquela semana aguardando pacientemente que Changkyun viesse e clareasse seu caminho, entretanto, o mais novo estava demorando demais para vir com alguma luz. Talvez Im estivesse também perdido em seus caminhos, tropeçando em seus próprios pés e não conseguisse ampará-lo com informações naquele momento. Era o que Kihyun pensava, tentando manter a calma e a paciência, antes que sua angustia o consumisse completamente.

A sopa que Jinseo havia preparado para si não estava mais quente, mas Kihyun tratou de levá-la ao micro-ondas – esse colocado na altura de sua cadeira de rodas por Hosoek, meses antes. Enquanto aguardava os poucos segundos que restavam no cronometro do aparelho, ele não pode evitar pensar o quão frustrante era estar novamente tão dependente da cadeira de rodas. Durante aquelas últimas semanas, em que seu progresso estava cada vez mais evidente, Kihyun esteve corajoso e forte o suficiente para ficar de pé durante algumas atividades diárias, em uma forma de fortalecer sua musculatura e melhorar o equilíbrio. Já podia tomar banho em pé, segurando-se nas paredes, conseguia erguer-se da cadeira com alguma dificuldade e buscar por algum biscoito alto demais nos armários e – quando estava particularmente animado –, ele até mesmo tentava andar pela sala, tendo os braços de Wonho ou Changkyun para ampará-lo a cada pequeno desiquilíbrio.

Entretanto, aquela caminhada rumo ao beco sangrento em que Changkyun e Wonho estavam havia acabado com toda coragem e motivação dentro de Kihyun. A cada vez que se erguia sozinho da cama, buscando por sua cadeira de rodas, ele sentia as pernas tremeres e uma sensação de ansiedade e medo preencherem seu corpo. As memórias daquele dia ainda tão frescas em sua cabeça, bagunçando todo seu emocional e seu corpo, impedindo-o de fazer o que antes estava se tornando tão simples e que lhe trazia tanta satisfação. Odiava-se por isso, sabia que precisava voltar a exercitar-se, que deveria esforçar-se para manter seu progresso. Contudo, seguir sozinho era tão difícil. Queria tanto que Im Changkyun estivesse ali, segurando-o, sorrindo a cada resmungão seu, apoiando-o com seu bom humor e carinho. Por mais que não estivessem há mais que alguns dias distantes, Kihyun sentia tantas saudades dele.

O apito do micro-ondas e da campainha soaram quase que em uníssono, assustando um Kihyun perdido demais em suas lamentações. Deixando a sopa de lado, Kihyun guiou sua cadeira de rodas em direção à sala. Não precisou perguntar quem era, uma vez que apenas podia ser uma pessoa. Wonho e Jooheon estavam ainda no hospital, Jinseo possuía uma cópia das chaves do apartamento, Shownu ligaria caso decidisse visitá-lo. Só podia ser ele. E, enquanto Kihyun procurava a chave para destrancar a porta e permitir sua entrada, ele pegou-se paradoxalmente dividido entre animar-se com aquela visita e também temê-la. Im Changkyun podia estar ali apenas para vê-lo, para contar-lhe toda a verdade ou, ainda, para despedir-se. Seu medo de que Changkyun seguisse com aquela ideia louca de partir, como uma forma de protegê-los, continuava assombrando-o dia após dia.

— Hyung — Changkyun murmurou em forma de cumprimento, passando pela porta rapidamente e deixando o corredor. Trajava roupas folgadas e escura. A calça e o casaco de moletom largos balançavam suavemente contra o vento forte que vinha da janela aberta. Ele ainda não havia o encarado nos olhos, estava ocupado retirando os coturnos pretos que usava e guardando-os ao lado da porta, mas Kihyun podia ver que seu rosto estava levemente menos inchado, ainda que com muitas manchas roxas. Quando finalmente ergueu o corpo e o rosto, encarando-o com olhos ainda levemente inchados, Changkyun sorriu e abraçou o próprio corpo, enquanto dizia: — Está tão frio aqui, Kihyunie.

— Você quer um abraço? — Questionou, também sorrindo, permitindo-se pela segunda vez durante aquele dia sorrir e sair da bolha de tristeza, angustia e preocupação que estava enclausurado. Acreditou que quando visse novamente Changkyun estaria bravo ou absolutamente sério, sem mais conseguir esperar um único segundo por respostas, mas tudo era tão diferente quando ele estava realmente presente. Sua presença sempre trazia sorrisos quase que incontroláveis ao seu rosto, levava Kihyun a querer alternar todo o ambiente para torná-lo melhor para Changkyun. Seus planejamentos, suas dúvidas dolorosas, sua frustração por estar sendo mantido sem informações... Nada daquilo realmente tomou sua atenção, enquanto ele tinha Changkyun tremendo com o frio a sua frente.

— Eu sempre quero — Foi o que Changkyun o respondeu, seguindo em sua direção e ajoelhando em sua frente, buscando contornar sua cintura com os braços e afundar o rosto em seu peitoral com vontade. Era um abraço tão firme que Kihyun podia sentir o nariz de Changkyun roçando contra o tecido do seu moletom, esfregando o rosto em sua barriga e peitoral, como que pedindo carinho. Imediatamente, Kihyun passou a acariciar seus cabelos escuros cuidadosamente, brincando com alguns fios mais longos na altura da nuca e deslizando, em seguida, os carinhos para seu rosto ferido. — Eu sinto muito por ter sumido esses dias... Eu estava confuso. Ainda estou, eu acho.

— Você não precisa lidar com sua confusão sozinho, Changgie. Não precisa lidar com todos os seus problemas sozinhos. Eu estou aqui para quando você precisar — Kihyun falou com sinceridade, puxando o rosto de Changkyun delicadamente para que ele pudesse encará-lo. Quando os olhos roxos do mais novo encontraram com os seus, Kihyun não se conteve e inclinou-se para frente, beijando a região abaixo dos olhos, onde ainda estava suavemente inchado. Enquanto deixava dois selos suaves ali, sua mão esquerda estava repousada sobre a bochecha de Changkyun, acariciando a região. O mais novo o ouviu em silêncio e, posteriormente, apreciou dos seus toques permitindo-se apenas suspirar baixinho diante todo aquele carinho.

— Vem, vamos sair daqui — Aquelas não eram as palavras que Kihyun estava esperando, entretanto, foram as que Im conseguiu formular após abrir seus olhos e erguer-se do chão. Segurando-o pelas mãos, Changkyun esperava que aquele apoio fosse o necessário para que o mais velho deixasse a cadeira de rodas e o seguisse para o sofá ou para o quarto. No entanto, como resposta, Yoo apenas manteve as palmas quentes sobre as suas, parecendo terrivelmente envergonhado com algo. Encarando-o, de maneira confusa e preocupada, Changkyun perguntou em um sussurro: — O que houve, hyung?

— Não está sendo muito fácil andar depois de tudo — Kihyun admitiu, sendo absolutamente sincero, pois, não conseguia dar voltas e mentir a respeito daquilo. Ainda que se preocupasse em dizê-la em voz alta, temendo que Changkyun se sentisse ainda mais culpado a respeito de toda aquela situação, o fisioterapeuta conhecia o suficiente sobre seu progresso – e sobre sua própria personalidade – para acreditar em meias verdades. Sabendo de tudo aquilo, Kihyun ainda sentiu-se abalado quando contemplou o rosto surpreso e, simultaneamente, culpado de Changkyun ao descobrir aquilo. Tentando remediar a situação, torná-la mais leve, o mais velho se esforçou para abrir um sorriso. — Vamos, você pode me levar nos braços hoje. Sua chance de treinar para quando...

— Para quando o que, hyung? — O mais novo questionou, seu sorriso aparecendo discretamente, por mais que ele ainda estivesse nitidamente abalado. Era tão óbvio que ele estava em um limiar delicado. Tentava manter-se sorrindo, queria agarrar-se aos carinhos e as tentativas de Kihyun de fazê-lo se sentir melhor, entretanto, também havia uma parte sua que queria render-se ao choro, como estava fazendo durante toda aquela semana.

— Para quando formos morar juntos e eu estiver cansado, é claro! — Ele retrucou, escapando da resposta óbvio, entretanto, o começo daquela declaração foi suficientemente doce para Changkyun. O mais novo apenas esperava que eles ainda tivessem chance de construir um futuro juntos. Sem aguardar mais, sabendo agora que Kihyun precisaria de ajuda, Im aproximou-se mais e, com alguma dificuldade, conseguiu o tirar da cadeira de rodas e carregá-lo nos braços. Em um primeiro momento, no impulso inicial, suas pernas vacilaram suavemente com peso – ainda que Kihyun fosse relativamente leve – e os hematomas localizados em suas costelas e abdômen reagiram com uma dor aguda. O ofego de desconforto que Changkyun deixou escapar não passou despercebido por Kihyun.

— Não, está tudo bem — O fisioterapeuta garantiu rapidamente, assim que Kihyun arregalou seus olhos e, assustado, pediu para que ele o colocasse novamente na cadeira de rodas. Após seu espancamento, Changkyun estava propositalmente evitando mostrar certas partes do seu corpo para Yoo, como forma de protegê-lo da visão assombrosa que era seu tronco naquele momento. O mais velho ainda não sabia sobre os hematomas daquela região, não sabia que Changkyun também havia sido agredido ali, pois, se soubesse, nunca teria pedido para que Im o carregasse nos braços. Sem mais sentir tanto desconforto, Im passou a andar com Kihyun em direção ao quarto do mesmo, dizendo de forma quase descontraída: — Eu acho que estou faltando muito a academia. É só isso.

— Desde quando você vai na academia? — Kihyun perguntou, abafando uma risada contra seu ombro, enquanto o fisioterapeuta inclinava um pouco o corpo, apenas o suficiente para alcançar a fechadura do quarto e adentrá-lo. Cuidadosamente, ele ajudou Kihyun a sentar-se no colchão de casal, ainda que a ação de se agachar com o peso do outro homem fosse doloroso. Dessa vez, Changkyun conseguiu disfarçar bem sua expressão, mantendo o sorriso em seus lábios. Quando se separou do mais velho, ele fez questão de não deixar aquela provocação de Kihyun passar em branco.

— Como você pode não ter reparado nos meus músculos, hyung? — flexionando um dos braços e esbanjando uma expressão falsamente presunçosa, Changkyun mal podia conter um sorriso idiota. Não demonstrava músculos nenhum daquela forma, por conta do casaco de moletom absurdamente largo, mas aquela não era a verdadeira questão ali. Estava se divertindo, talvez pela primeira vez durante aquela semana, e o brilho que retornavam aos seus olhos naquele momento proporcionava puro êxtase a Yoo Kihyun.

— Eu acho que preciso ver mais de perto. Não consigo enxergá-los daqui — Kihyun disse, entrando na brincadeira, franzindo as sobrancelhas e os olhos, como se estivesse se esforçando muito para enxergar os supostos músculos de Changkyun. O mais novo soltou uma gargalhada longa e gostosa com aquela ceninha de Kihyun e, em seguida, praticamente pulou no colchão ao lado do outro homem. Aproveitando de todo aquela movimentação ao seu lado – Changkyun demorando-se a encontrar uma posição confortável em meio aos diversos travesseiros que Kihyun decorava a cama –, Yoo colocou-se sobre o fisioterapeuta, sentando em suas coxas e envolvendo seu pescoço com os braços. Finalmente sossegando em seu lugar, Im o encarou docemente e selou seus lábios. Sentindo a maciez de sua boca, Kihyun queria mais que apenas um beijo, mas ele sabia que ainda não era hora para aquilo — Precisamos conversar, Changgie.

— Hyung... Eu não vou poder te dar todas as respostas — Era nítido que aquele fato lhe causava angustia, tanto pelas mudanças nítidas em seu rosto quanto pelo seu tom de voz mais baixo, contido, quase sofrido. Ele queria poder contar todos os seus segredos para Kihyun, abrir seu coração e externar tudo o que estava escondendo há tanto tempo. Sabia que contar com a ajuda do mais velho seria um alívio, que seria bom finalmente compartilhar tudo. Era isso o que boa parte do seus sentimentos desejava. Entretanto, novamente, a ideia central, fixa, de que não poderia envolvê-lo em toda sua merda era maior, mais forte. Precisava protegê-lo, mantê-lo longe daqueles problemas.

— Então, me diga o que você puder. Por favor — O pedido de Kihyun soou quase como uma súplica, carregando novamente tanta preocupação e agonia que Changkyun simplesmente sentiu que não podia mais escapar daquela conversa. Ele não queria mais fugir daquilo. Aquela última semana havia sido um inferno e todo o emocional de Changkyun implorava para que ele cedesse. Chorava, por culpa, por dor, pela preocupação, remoendo-se por estar causando tanta apreensão justamente nas pessoas que mais importavam para si. Como resposta àquele pedido, Im finalmente acenou positivamente com a cabeça, perguntando baixinho o que Kihyun queria saber. Talvez responder suas perguntas fosse mais fácil do que criar uma versão resumida e incompleta de toda a sua história. Soltando um suspiro de alívio pela aceitação do mais novo em falar, Kihyun finalmente fez sua primeira pergunta: — Há quanto tempo você está apanhando?

— A primeira agressão faz mais de um ano, mas tornou-se frequente há alguns meses — Changkyun respondeu com dificuldade, lembrando-se da primeira surra que havia levado, em seu apartamento. Havia sumido por duas semanas naquela ocasião, ainda não havia aprendido a proteger o rosto e as partes mais visíveis de seu corpo, ainda era complicado fingir que estava tudo bem quando o medo passou a fazer parte dos seus dias.

— Quem está fazendo isso com você? — Assim que Kihyun fez aquela pergunta, ele soube que teria sorte de conseguir uma resposta, pois, a expressão de Changkyun contorceu-se suavemente, como se ele estivesse pensando como ou se deveria respondê-la. Ainda que transbordasse ansiedade, Yoo o aguardou pelos minutos seguintes, acariciando seus ombros suavemente enquanto aguardava. Mesmo que seus toques encontrassem uma barreira física ali, o tecido grosso do moletom, Kihyun podia sentir a tensão no corpo do mais novo.

— Não são pessoas importantes para mim. Ninguém especial. Eu mal sei seus nomes. Eles só... Só aparecem, cobram, me humilham e me espancam — Tudo naquela frase soava doloroso, pesado, absolutamente triste para Changkyun e, por essa razão, Kihyun fez uma pausa em suas perguntas para abraçá-lo. Sussurrou em seu ouvido que estava ali, para ele, beijou seu rosto delicadamente e sorriu – por mais que sua vontade fosse chorar – quando Changkyun entrelaçou seus dedos. Tomando coragem, Kihyun então retornou as suas perguntas, por mais que escutar tudo aquilo fosse doloroso em tantos níveis diferentes. Era difícil vê-lo sofrer para contar tudo aquilo, assim como era absurdamente torturante imaginá-lo naquela situação terrível por meses e meses.

— Cobram o quê?

— Dinheiro. Muito dinheiro — Changkyun foi sincero e arrependeu-se daquilo, pois, imediatamente Kihyun entrou em um estado de exaltação. Seus olhos arregalaram-se suavemente, sua boca moveu algumas vezes, procurando formular palavras, e até mesmo seu corpo remexeu-se sobre o do fisioterapeuta. Era claro que ideias estavam se passando por sua cabeça e – se não estivessem naquela situação – Changkyun teria rido com o quão óbvio seu hyung estava sendo.

— Eu posso ajudá-lo a pagar... Eu não ligo de pegar um empréstimo no banco. Ou eu posso vender esse apartamento. Você sabe que eu já queria vendê-lo antes. Ele custa uma fortuna — Kihyun tagarelava com alguma esperança nos olhos, agarrando-se naquelas possibilidades, verbalizando-as de maneira rápida, agitada. O fisioterapeuta não pôde deixar de pensar no quão aquele gesto era realmente bonito por parte de Kihyun. Seu hyung nem ao menos o questionou a origem daquelas dívidas, não lhe lançou qualquer olhar de julgamento ou de suspeita. Estava verdadeiramente empenhado em ajudá-lo, sem perguntas, sem nenhum "mas".

Changkyun lamentou ser aquele que precisaria acabar com as esperanças de Kihyun.

— Eu já os paguei, hyung, mas eles continuam vindo — Novamente, Changkyun foi sincero, absolutamente verdadeiro. Havia pouco tempo em que Im havia quitado todas as dívidas que havia herdado, pagado cada nota, cobrindo até mesmo os "juros" que os monstros que o perseguiam haviam colocado sobre o valor inicial. Não havia mentido, meses antes, quando disse que estava resolvendo tudo. Ele, de fato, acreditou que acabaria com todos os seus problemas depois que os pagassem. Mas, como se cheirassem seu medo, como se o conhecessem o suficiente após aqueles meses, seus pesadelos continuaram a persegui-lo, cobrando por quantias exorbitantes. Quando Changkyun negou, eles o ameaçaram de morte e, quando não conseguiu pagá-los, eles acabaram com seu rosto e atiraram em Shin Hoseok.

— Vamos denunciá-los. Eles não podem continuar... Você não merece sofrer assim — Eram tantas ideias, planos, empecilhos e futuras soluções que se passavam pela cabeça de Kihyun. Ele mal conseguia formular suas frases corretamente, tão emocionalmente envolvido com tudo o que sido revelado. Imediatamente, as memórias que tinha das feridas de Changkyun voltaram com tudo. O próprio retrato do rosto do mais novo no presente, naquele momento, ilustrava as marcas da crueldade daquelas pessoas. Ao voltar-se para os olhos de Changkyun e encontrar mais do que hematomas, deparando-se com olhos desesperançosos, Kihyun sussurrou assustado: — Changgie, diga alguma coisa, por favor.

— Eu não posso — Changkyun sussurrou em resposta, demonstrando-se extremamente pesaroso e entristecido em precisar lhe falar aquilo, em não conseguir retribuir com animação e expectativa. Esteve durante todos aqueles meses apegando-se àqueles sentimentos, mas todas os seus planos haviam sido destruídos. O mais velho, ao vê-lo daquela forma, novamente acariciou seus ombros tensos e sussurrou um "Por que você não pode?", tentando entender aquela situação. Um som que se assemelhava a um soluço deixou os lábios de Changkyun antes que ele respondesse simplesmente com um: — Eu... Eu só não posso. Hyung, eu sinto muito.

— Ei, está tudo bem. Não precisamos continuar essa conversa agora — Imediatamente, Kihyun moveu suas mãos, repousando-as sobre as laterais do rosto do mais novo, cuidadosamente por conta dos machucados, erguendo a cabeça de Changkyun delicadamente. Não queria que Im acreditasse que precisava pedir desculpas, muito menos que se sentisse culpado ou envergonhado por aquela situação que ele, visivelmente, não tinha nenhum controle. Por mais que fosse difícil não ter respostas completas, possuir apenas recortes de um mapa muito maior, Kihyun havia observado, naqueles últimos minutos, a clara dificuldade que Changkyun tinha para abrir-se a respeito daqueles atos de violência. Havia uma negação consciente em contar certas partes, aquilo Im havia deixado claro, mas também havia muita dor e angustia no relato. Não querendo forçá-lo a falar ou deixá-lo desconfortável, Kihyun esforçou-se para ignorar as perguntas que ressoavam por sua mente e concentrar-se apenas em Changkyun.

Aliviado com a reação, mais uma vez, compreensiva de Kihyun, o fisioterapeuta permitiu-se relaxar um pouquinho. Ainda se sentia culpado por não ter conseguido dar respostas melhores ao mais velho, contudo, Changkyun lembrou a si mesmo que não deveria falar demais sobre sua situação. Seu medo de deixar escapar alguma informação mais específica, que pudesse levar Kihyun ou algum de seus amigos até seus agressores, ainda era gigantesco. Entendia que eles iriam querer ajudá-lo, seu hyung havia deixado muito claro o quão empenhado estava em permanecer ao seu lado e ampará-lo naquele momento terrível, entretanto, Changkyun nunca permitiria que aqueles monstros se aproximassem de Kihyun. A simples menção daquela possibilidade passando por sua consciência despertou um calafrio nítido em seu corpo.

— Changgie, você está bem? Está te incomodando? — Changkyun não entendeu a segunda pergunta do seu hyung até observar as mãos de Yoo. Essas que, segundos antes, acariciavam a base de sua coluna devagarinho, mas agora estavam suspensas, esperando uma resposta de sua parte. Aquele toque estava longe de incomodá-lo, era tão delicado quanto as mãos de Kihyun e tão quente quanto o timbre de sua voz.

Nada que Yoo Kihyun fizesse com tanto carinho poderia incomodá-lo, pois, aqueles toques pareciam ser as únicas âncoras que Changkyun tinha para puxá-lo de volta a realidade. Quando seus pensamentos pareciam mais acelerados que o normal, quando ele sentia estar sendo sugado por eles, eram os dedos delicados de Kihyun contornando seus traços ou acariciando suas costas que o traziam de volta. Não era um caminho fácil desgarrar-se um pouquinho dos seus problemas, mas valia a pena, principalmente levando em consideração que Yoo Kihyun era quem estava ao seu lado, aguardando-o naquele farol e guiando-o para fora da sua inundação de pensamentos e sentimentos.

— Não, é claro que não está me incomodando — Changkyun o respondeu sorrindo. E, dessa vez, seu sorriso não era apenas uma forma de acalmar seu hyung. Mesmo durante aquela tempestade, Changkyun encontrou alguma felicidade naquela constatação, no sorriso que Kihyun dirigiu a si e no abraço que trocaram. Assim que Yoo se afastou minimamente daquele abraço, buscando por um cobertor aos pés da cama, o fisioterapeuta percebeu o quanto queria mais daqueles toques, daquele calor. Por essa razão, ele não pensou muito quando questionou, em tom grave e até mesmo um pouco manhoso: — Eu posso te pedir uma coisa, Kihyunie?

— Qualquer coisa — Kihyun foi rápido em respondê-lo, voltando para a posição anterior, dessa vez com o cobertor em mãos, envolvendo-os com a manta quente, mas não desviando os olhos de Changkyun enquanto o fazia, prestando atenção em seu rosto e em suas futuras palavras. Ainda assim, talvez por conta de toda situação anterior, Kihyun demorou um pouquinho para entender o que o homem queria. Por mais que os olhos intensos e as mãos quentes tocando suas coxas fossem indicativos claros.

— Faz amor comigo, hyung?

NOTAS

OOOOI GENTE

Esse capítulo foi mais feliz que os anteriores, eu acho KDAHDAKDAKDA Como nossos rapazes ainda estão saindo daquela primeira situação ruim, eles ainda estão um pouquinho abalados, mas tentei trazer alguns momentos mais leves em meio aos mais tristinhos. Eu espero que vcs tenham gostado, chuchus 💖💖

O que vcs acharam? Estão com novas teorias dps dessas respostas do Chang para o Kiki? E o que acham que vai rolar com Wonheon daqui pra frente? O que esperam daqui pra frente? Muito curiosa para saber a opinião de vcs!

Ah, e eu não me esqueci do Hyungwon, gente KDAHDAKDAK Era pra ele ter aparecido nesse capítulo, mas como ele já tá grandinho, eu acabei deixando essa parte pro próximo.

Um ótimo final de semana para todos, um beijão e até o próximo capítulo! 💕💕💕

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