De pernas pro ar | REPOSTANDO...

By SaikoMente

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[Concluída] Jeon Jungkook está no último ano do colégio e só quer levar uma vida de estudante normal. Ele é u... More

A cadeia alimentar
Obrigado pelo presentinho
A lei de Murphy
O delinquente sincero
Problema nº 1
Nada a ver
A curiosidade é a alma dos inteligentes
E se...
Geek em campo
Eu quero que você...
Um tempo com o bandido
Coisas preocupantes
Jungkook Holmes, Hwasa Watson
O erro
Você precisa conhecer
Eu não quero mais mentir
De outro mundo (parte 1)
De outro mundo (parte 2)
Nunca diga nunca
Jimin (parte 2)
JIMIN (Parte final)
EPÍLOGO (parte 1)
EPÍLOGO (Parte 2)
EPÍLOGO (FINAL)
PREÇO, VÍDEO OFICIAL DE DPPA, nome dos Jikook
Pré-venda aberta!
O Livro por dentro, diagramação, brindes

JIMIN (parte 1)

53.6K 4.9K 10.8K
By SaikoMente

SURPRESA!!!

SURPRESA NÚMERO UM, INCLUSIVE!

Olha aqui um extra do Jimin!

Quem não quiser um trowback, não leia, esse capítulo é recapitulando sob a visão do Park... 

Jimin POV que vcs falam, né? kkk

ACHO QUE VALE À PENA LER, porque aqui tem coisas que NÃO TÊM na narração do Jungkook, além do jeito diferente de ver as coisas

E terá pelo menos mais um, resolvi dividir

AGUARDEM PELOS PRÓXIMOS EXTRAS OU NOVIDADES <3

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A ORIGEM DA FAMA

JIMIN - Passado

Esse tipo é provavelmente o único que consegue me irritar, tirar do sério de verdade.

— Vamos... — Ele a prensa contra o armário, mesmo sob a negação da garota. Todo dia a mesma coisa. Acho que alguns homens pensam que as mulheres se fazem de difíceis, mesmo quando negam veementemente o flerte. Se você tem cérebro e olhos, sabe bem quando a pessoa está te negando de verdade. E aí, você dá o fora, respeita, segue sua vida. Pelo menos é como eu acho que funciona, observando esse tipo de coisa ao meu redor.

Bufo, respirando fundo e passando por eles. Não é da minha conta, e até onde sei, ela sabe se virar, mas, se precisar de ajuda, eu não vou hesitar em me meter.

— Jimin! — ouço Yoongi me chamar, antes de sair da escola. Ele tira um cigarro do bolso, prestes a acender, antes que eu me aproxime e tome dele.

— Você enlouqueceu? Quer ser preso novamente assim? — sibilo, guardando o cigarro no meu bolso. Acontece que ele gosta de fumar. E prefere maconha, inclusive.

Eu não tenho nada a ver com isso e acho que cada um pode fazer o que quiser da vida, mas não quero amigo meu na cadeia, por isso tento o manter na linha.

— Você rouba tanto cigarro meu, isqueiro. O que faz com as minhas coisas, seu cabeça dura? — questiona, me seguindo para fora, pegando o capacete.

— Jogo fora — falo, e ele para no lugar, em choque.

— Jimin...

— Isso é pra você parar de usar na escola — comento, dando dois tapinhas em seu ombro.

— Eu vou sabotar sua prova na polícia, tá me ouvindo? — Rio, montando na moto. — Eu não quero mais viver nesse mundo injusto!

— Sim, sim...

— Na próxima vida, eu vou ser uma pedra, uma pedra! E não vou ser seu amigo.

— Tá bom, Faniquito, vamos embora — respondo.

Yoongi quase nunca se estressa, passa a imagem de emo renegado, mas é uma pessoa muito boa e doce na realidade.

— Aonde Hoseok foi?

— Ajudar o pessoal no orfanato — falo.

— De novo? Ele não vai estudar para as provas?

— Não sei. Enfim, vamos logo, não aguento mais ver nem a fachada dessa escola — falo, dando partida.

|||

Eu tenho autocontrole, bastante até. Aprendi várias artes marciais ao longo dos anos, porque sempre fui fã desse tipo de coisa, mas tudo parecia feliz e correto ao meu redor, provavelmente por isso nunca tenha saído da linha antes. Acontece que, desde que minha mãe foi embora, nos deixando para trás, certas coisas vêm me incomodando. Primeiro, os bilhetes estúpidos que ela manda de vez em quando. Nada substancial, mas que mexem com Jihyun de um jeito que não deveria, ainda que faça muito tempo.

Talvez eu tenha muita raiva acumulada, e essa espécie de luto pela nossa família nunca vá acabar. Ver meu pai triste, meu irmão revoltado e isolado é o que mais me irrita. E eu sinceramente não sei o que fazer com toda essa coisa acumulada.

— Jimin! — ouço alguém me gritar, então me viro. Ah, não!

Vinham três garotas em minha direção, a do meio tentando se esquivar e sussurrando algo para as outras duas, como se estivesse implorando. O típico trio, as duas amigas que obrigam a outra a se confessar. Mas, ao longo dos anos, depois da puberdade, percebi como perdi totalmente o interesse em romance e sexo.

Ver como meu pai era apaixonado e tentava, de todas as formas, fazer minha mãe feliz, para não receber nada em troca, nem o direito de saber que, para ela, estava acabado, provavelmente foi o fator decisivo para isso. Não tive nenhum namoro, envolvimento, e minhas vontades eu controlava sozinho. Percebi rapidamente como as pessoas dão pouco valor à reciprocidade, querem vários e várias, mas são todas vazias. E talvez seja ainda pior tentar se preencher com outra ou outras pessoas.

Com meus amigos, Yoongi e Hoseok, me dava bem, eles me ajudavam a me distrair, mas com o restante nem sempre conseguia. Acabava fechando a cara para todo mundo e me fechando em meu próprio eu, mas, mesmo assim...

— Jimin, Eliza tem uma coisa pra te falar! — Alguém se interessava por mim.

— Claro. Pode falar — falo com educação. Meu pai sempre me ensinou esse tipo de coisa: não levantar a voz para as pessoas, não responder a ninguém com ignorância, escutar. E eu via esse comportamento nele, então não foi difícil copiar. Sempre andei com Jihyong Park para cima e para baixo, desde pequeno, e nunca o vi olhar nenhuma outra mulher além da minha progenitora, nem assediar de nenhuma forma. Sobretudo, era regra respeitar as escolhas das pessoas, defender esse tipo de ideal.

— É... — ela começa, vermelha feito tomate, tentando olhar para as amigas que saíram correndo, se escondendo atrás da pilastra e deixando a pobrezinha sozinha comigo. Cruzo os braços, e ela pula no lugar só por causa disso. O que ela achou? Que eu ia, sei lá, bater nela? Parecia assustada como tal. — Eu... eu... — Ela não para de encarar as amigas, que estão rindo, e isso me tira um pouco do sério.

— Pode falar. Quer ir a outro lugar mais reservado pra isso? — pergunto, oferecendo meu braço para ela. As outras estão longe, não escutariam nada, e eu teria privacidade para falar com a tal Liza em paz.

Ela arregala os olhos, aceitando sem demora e, assim que chegamos ao fim de um dos corredores, ela se solta, abaixando a cabeça.

— Você já sabe, não é? O que eu vim falar — diz com a voz baixa.

— Talvez não saiba. Se quiser falar...

Ela se remexe no lugar, vermelha e sem jeito.

— Não, tudo bem. Obrigada por ter disfarçado. Elas são...

— Eu entendo.

— Eu sei que você não namora, não fica com ninguém, eu só...

— Tudo bem. Mas você me entende também, certo? Não estou aberto pra me envolver. Tenho certeza de que vai achar alguém interessante — falo.

Ela sorri, se curvando, com o rosto ainda vermelho.

— Me desculpe.

— Está tudo bem — falo.

Nós nos despedimos amigavelmente e, em um instante, estou sozinho. Eu me concentro em ir estudar para as provas, porque sabia que não dariam moleza a mim. Minha mãe me causou problemas em algumas reuniões, aparentemente era amiga íntima de alguns maridos por aqui. Não sei o que havia entre eles, se era apenas amizade ou não, mas, desde então, minhas notas estranhamente caíram.

Embora eu estudasse sozinho, não era autodidata, não conseguia aprender, dependendo do tipo de professor que ensinava, e estava me dando muito mal por isso. O problema é que isso equivale a uma pedra no sapato para me formar e tentar a carreira policial. A cada dia, tudo vai ficando mais complicado e menos feliz, e isso está acabando comigo.

Na hora de ir embora, Hoseok comenta sobre uma festa, me chamando, mas nego, porque iria ajudar nas coisas da padaria. Como meu pai andava desanimado demais, demorava a se levantar para preparar as massas, fazia o serviço mais lentamente e acabávamos perdendo dinheiro. Para mim, não seria grande coisa, se não dependêssemos disso. E eu sei que ele gosta da padaria, é o negócio que ele mesmo montou para nossa família, tudo o que temos foi pago com esse dinheiro. Por isso, não me incomodo em ajudar.

Às vezes, começo e me esqueço da hora, concentrado em dar o meu melhor nas receitas. Uma espécie de terapia, sem dúvidas.

|||

Jihyun deu problemas na escola, se agitando contra uns moleques. Essa foi a primeira notícia que recebi no dia.

Não tive coragem de comentar com meu pai e fui resolver eu mesmo na escola dele. Não sabia que ficaria irritado comigo por isso. No dia seguinte, fui acompanhar pessoalmente como ele se comportaria na escola. Ia desde o fim do pré até o ensino médio, crianças saíam e os adolescentes entravam.

— Sai de perto, sua Maria homem! Ninguém vai te querer, se ficar sendo brava assim, vai morrer sozinha! — ouço um garoto dizer a uma menina, que se encolhe no lugar. Ela não responde, o que indica que está acostumada a ser chamada daquele tipo de coisa, mas arrebita o nariz, e vejo, de longe, quando sai dali.

— O que você veio fazer aqui? — ouço a voz de Jihyun atrás de mim.

— Jihyun...

— Já te disse mil vezes: você não é a mamãe. Não quero você aqui, me deixa em paz — ele diz, puxando o capuz e passando por mim para entrar, e respiro fundo, me sentindo irritado.

Eu tentava me reaproximar dele, mas parecia uma tarefa impossível. Jihyun era duro na queda e estava do lado da mãe, por não saber de toda a história. Para ele, doeria demais saber que ela nos deixou pelo dinheiro que a família dela tem no Japão. Dinheiro sujo, claro.

Monto na moto, retornando à escola, um pouco atrasado para o primeiro tempo, mas acredito que tudo acontece como tem que ser. De certa forma, há males que vêm para bem.

Quando entro, aquele mesmo, o maldito do Mateus está apertando o braço de Irina, enquanto fala com ela, e logo eu vejo a marca arroxeada na pele da garota, visível, mesmo que seu tom de pele fosse um pouco mais escuro, o que indicava que tinha sido algo grave, assim como a que tinha no canto da boca.

— Eu vou te denunciar!

— Denuncia. Vamos ver se tem coragem de se meter com quem tem dinheiro de verdade — ele responde.

Não custo muito a ligar os pontos, é rápido. Ouço Hoseok me chamar no fim do corredor, mas ignoro completamente, apenas pego o maldito pelo tecido da camisa, por trás, arremessando contra o armário, e Irina grita. Eu repito mais uma vez, o jogando no chão no processo.

— Você bateu nela? — questiono, entredentes.

Ele parece surpreso, mas o porte de riquinho insuportável permanece intacto.

— O que vai fazer? Ela é uma de suas cadelas também?

Pressiono um ponto entre seu ombro e peito, estratégico para causar uma dor intensa, com a mandíbula cerrada pela raiva.

— Se tocar nela ou em qualquer outra de novo, e eu souber, vou colocar gente perigosa de verdade na sua cola. Quero ver seu dinheiro te salvar disso.

Vejo os olhos dele arregalados. Com certeza, certas coisas sobre a família de minha mãe vazaram por aí, de alguma forma. Pelo menos, teve alguma utilidade.

— Jimin, solta ele!

— A cabeça... — ouço Yoongi comentar, enquanto Hoseok me puxa de cima do maldito, e eu vou de bom grado, sem me debater ou coisa assim. Mas, então, vejo que o armário tinha causado um ferimento sério em sua testa, e aquilo estava sangrando pra valer.

No fim das contas, não demoram a chegar os professores e a diretora. Eu sabia que estava ferrado, que para mim tinha acabado naquele lugar, principalmente quando ele começa a choramingar, falando que queria ir ao hospital. Irina, a moça passando por aquilo, me agradece com o olhar, e é a última coisa que presto atenção, antes de ir à sala da diretora, talvez a última pessoa daquela escola que eu iria ver.

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— Vocês são duas mulas! Enlouqueceram de vez? — questiono.

— Isso não está em discussão, Park. Se você vai embora, nós vamos também.

— Vocês não bateram em ninguém — falo, respirando fundo para me acalmar.

— Mas a gente sabe como essa merda funciona, o que vamos ficar fazendo aqui? Eles vão marcar nós dois também de qualquer jeito.

— E o rosto da tal Irina? Foi ele! — Yoongi diz.

— Mas isso não me dá direito de bater em ninguém. Eu estava errado, devia ter denunciado ele.

— Park, eu teria feito o mesmo. Há meses, ele atormenta essa garota, eu vi na festa de ontem! E hoje ela aparece com aquele roxo? Ele fez isso e nem negou.

— Engraçado você ter visto outra coisa naquela festa, além do garoto do mullet — Yoongi comenta, rindo de lado.

— Garoto do mullet? — questiono.

— Não é nada, o assunto é você. Vamos ver como isso vai se desenrolar, mas, se for expulso, nós vamos também. Só aturo essa escola, porque tenho vocês.

Sorrio de leve, mas nego com a cabeça em seguida.

— Expulsão é o menor dos meus problemas... — falo. Sabia que a carreira que eu queria exigia uma ficha limpa. Não era certo me envolver em confusões, fossem de qualquer gênero.

Puxo os cabelos, começando a entender a gravidade daquilo. Estava tudo dando errado.

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É claro que a fofoca se alastrou de mil maneiras diferentes até a escola nova. Pensei que seria linchado, mas a recepção que notei foi absolutamente diferente. Na primeira semana, nós éramos como carne nova. Muitas pessoas nos chamando para festas, várias tentando se aproximar, outras com medo, claro. Eu só queria deixar toda aquela confusão para trás.

Com o meu blefe, aquele imbecil não fez nenhuma denúncia e demandou o mesmo da escola, no entanto a minha expulsão foi inevitável. E adivinha só, esses dois malucos deram um jeito de se meter, falando que participaram, e vieram junto.

Eu me sento à mesa do refeitório, ouvindo a conversa entre eles e aproveito para ver as pessoas ao meu redor, enquanto estiverem distraídas. Que tipo de gente frequenta essa escola? Todos os tipos, sem dúvida. Isso é bom.

Ia voltar a comer, mas vejo algo interessante de se assistir: dois garotos estão discutindo, se empurrando. O de óculos fala, parecendo gaguejar um monte, por estar irritado, e tenta, ao mesmo tempo, oferecer suco ao que tem um cabelo diferente, mais comprido. No fim das contas, abre um livro literário, lendo, emburrado, com um bico formado na boca.

Sorrio minimamente, deixando de olhar para as pessoas, voltando à minha refeição.

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— Você dormiu pelo menos? — Hoseok questiona.

Eu tinha virado a noite, tentando adiantar alguma coisa para as vendas do dia seguinte, no caso hoje.

— Hmm...

— Nada de hm! Com certeza, virou, né? Você está acabando com a sua saúde.

Não respondo, porque ele está certo. Mas eu sabia que tudo iria melhorar, tinha de melhorar. Então, eu ficaria bem de novo. Precisava de um pouco de alegria, talvez.

— Park Jimin — ouço meu nome ser dito e olho em volta. O garoto de mullet me olha rápido, estapeando o outro, que provavelmente está falando de mim.

Eu apenas passo direto, não preciso de nenhum problema na escola nova. Talvez seja ainda melhor pensarem mal de mim, não me importo. No fim das contas, o que importa é o que você realmente é, não o que pensam de você.

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Estou saindo com Yoongi e Hoseok, depois de uma partida, sozinhos, na quadra, para distrair, subindo para irmos embora, quando vejo algo no fim do corredor. Aquele mesmo garoto de óculos, tentando empurrar mil folhas e livros dentro do armário com uma das mãos, enquanto tenta puxar uma mochila surrada com a outra, resmungando bastante. Ele já estava apressado, mas, quando me vê, fica muito mais agitado, puxando tudo com mais força, tentando juntar seus vários papéis que caíam tanto do armário quanto da mochila. Que confusão!

— Quer ajuda? — ofereço, vendo o caos que está causando, derrubando tudo no chão, e ele arregala os olhos em minha direção. Eram grandes assim ou as lentes davam essa impressão?

Não consigo descobrir, porque ele só passa a recolher tudo ainda mais depressa, murmurando algo sobre provas e resumos que não consigo entender. Ele não tinha me ouvido?

— Não ouviu minha pergunta? — questiono. Eu, às vezes, falava baixo demais, ele poderia não ter entendido.

— Ah... E-eu me viro — gagueja, pegando tudo e abraçando, depois de puxar o zíper a ponto de arrebentar a mochila. O que o deixou assim? Parece um bichinho desesperado. Mas é ainda pior, e dói até em mim, quando ele se levanta com tudo, batendo a cabeça no armário aberto.

Minha nossa! Vou para perto, segurando seu ombro para tentar ajudar.

— Machucou? — pergunto, e ele finalmente me olha nos olhos. Uno as sobrancelhas, mas não por estar bravo e, sim, por ver uma reação diferente nele. Parece, sim, com medo e apressado por alguma razão, mas, quando olha para o meu rosto, vejo suas orelhas e bochechas ganharem cor enquanto sua boca se abre. Esse não é o tipo de reação que reparava nos caras na escola antiga.

O rosto dele é suave, o nariz arrebitado com o osso proeminente e olhos grandes. Seria infantil, não fosse pela mandíbula bem-marcada. Os olhos brilham bastante, bem escuros também.

Antes que eu possa falar qualquer coisa, ele se levanta, abraçando a mochila arrebentada, e corre de um jeito engraçado. Ele some no corredor em um instante, e eu rio. O jeito dele de correr é todo desajeitado, endurecido, tentando equilibrar as coisas, mas é rapidinho, sumindo de vista.

— Quem era? — Yoongi questiona, e olho para o chão, local em que estavam suas coisas antes, achando uma embalagem. O maluco deixou para trás uma... — O que é isso?

Guardo no bolso no mesmo instante.

— Nada, vamos embora.

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Quando chego à minha casa, como de costume, meu pai me pergunta como foi meu dia, e conto tudo, parte por parte, até chegar ao garoto desesperado. Ele ri quando conto sobre o armário. Na antiga escola, meu pai não costumava ter motivos para rir quando eu contava o meu dia, então aquela foi a primeira vez em um bom tempo. Sorrio também, lavando os últimos pratos do jantar ao lado dele, que secava tudo.

No meu quarto, não havia muita coisa. Tinha paredes azuladas, sem muita personalidade, mas sobre os móveis sempre deixava fotos e vasos de plantas. Como a casa era pequena, não achava justo prender um bichinho ali, mas plantas podiam receber luz e água paradas no lugar. Eu me deito finalmente na cama, dobrando a roupa que tinha usado durante o dia e, durante o percurso, a embalagem cai. Eu tinha me esquecido desse detalhe. Puxo o conteúdo para ver do que se trata. Se fosse importante demais, ele poderia estar precisando naquele instante, mas, surpreso, dou de cara com um par de meias enfeitadas.

Contraio o cenho, analisando o pedaço de tecido. Ele tem uma meia... feminina? Nego com a cabeça, colocando na embalagem novamente. Não é da minha conta, certo?

Encaro aquele negócio, pensando. E se esse cara pegou de alguma garota, no fim das contas? Já ouvi falar de gente que faz esse tipo de coisa compulsivamente.

Guardo a meia na mochila, pensando no que faria e em como devolver, tentando não dar importância, mas, antes de cair no sono, acabo rindo ao me lembrar do jeito engraçado dele.

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Eu penso em deixar aquilo para lá. Aquela é uma escola de nome, quem estuda ali pode não ser diferente das pessoas da antiga escola. Mas a primeira coisa que vejo quando chego à escola, no dia seguinte, é o mesmo garoto chegando. Ele parece distraído e mexe a boca, como se estivesse falando sozinho, abraçando um livro contra o peito, mas, assim que me vê, abre o livro na frente do rosto e vai andando, se tapando desse jeito, até entrar no prédio. Rio, negando com a cabeça. Aquilo era para ser um disfarce?

— Park, o que foi?

— Nada.

— Anda, precisamos ir à secretaria. Trouxe os papéis?

— Todos os que consegui. Até isso estão barrando.

Hoseok bufa, ajeitando os cabelos vermelhos.

— Aquela gente merece um sacode.

— Que nós não vamos dar — falo. — A vida se encarrega deles.

— Falou igual ao seu pai.

— Porque ele é o meu pai — respondo.

— E como ele está?

Dou de ombros.

— Melhorando, eu acho. Não tão silencioso, trabalhando sem errar a mão nas receitas, mas ainda não posso deixar ele sozinho. Se aquela remessa de bolo temperado com sal tivesse sido entregue, a padaria estaria acabada.

— E a caixa de correios?

Nego.

— Nada nesses últimos tempos, e é melhor assim. Mesmo que chegue qualquer coisa, eu vou queimar antes que qualquer um de nós leia. Já chega de dor — respondo, entrando na sala com os outros dois.

Quando chego à sala, em que teria aula, bato à porta, e o professor logo vem, me chamando para entrar e me apresentar. Olho em volta, vendo as expressões dos meus colegas, todas já esperadas: tédio, medo, tédio, interesse. Apenas um deles não olha para mim. De novo ele?

Sorrio de lado ou pelo menos tento, acenando com a mão por um instante quando o professor diz meu nome, e vou ao único lugar vago que, por um acaso, é atrás do mesmo garoto. A primeira coisa que noto é que ele está completamente alheio à aula, e estico a coluna, vendo seu caderno. A matéria está copiada e destacada com canetas e marca-textos, com as bordas cheias de desenhos feitos à mão e um monte de vogais repetidas, como se fossem gritos.

Rio soprado, me ajeitando, e abro o caderno para começar. Bom, recomeçar. É refrescante estar ali.

— Taehyung! — ouço quem está à minha frente sussurrar, dando um pulo no lugar, como se tivesse acordado de algum transe, e me encara apressadamente, arregalando os olhos ao me ver, e vira de volta no mesmo instante. — Como diabos ele veio parar aqui? — ouço sussurrar.

O professor ouve também, e questiono se ele tinha dúvidas. Jungkook. Então, é esse o nome dele? Balanço a cabeça, voltando a copiar, quieto. Por mais divertido que isso estivesse sendo, precisava me concentrar em devolver a meia e estudar. No horário de almoço, ligo o celular para falar com meu pai.

— Pai?

— Oi, meu filho... Como está? Como está sendo tudo aí? Você está bem?

Dou um sorriso triste, balançando a cabeça.

— Sim, está tudo bem.

— Alguém te fez alguma coisa? Estão te tratando bem?

— Estão, pai. São todos... amigáveis aqui — pigarreio, desejando que ele mude de assunto. — Mas e aí? Já comeu? Jihyun já foi para a escola?

— Ah, sim e sim. Comi agora, e ele já foi também. — Suspira. O tom de voz dele, volta e meia, volta a ficar triste.

— Sabe, pai?

— Hm?

— Lembra do menino do armário?

— Do armário? O que bateu a cabeça? — Rio e o ouço rir também. Coitadinho. — O que tem ele?

— Eu e ele somos da mesma sala. Bom, fizemos uma aula juntos agora.

— Ah, é mesmo? E vocês conversaram? Ele está bem?

— Ah, não... mas acho que ele está bem, sim. É engraçado.

— Piadista?

— Não... o jeito dele. Enfim, acho que vou encontrar Hoseok e Yoongi.

— Eles levaram almoço? Esses dois vivem indo pra escola sem levar nada para comer. Devia falar com eles.

— Eu não sei, mas acho que sim. Só liguei pra saber como estava.

— Obrigado, meu filho. Eu também preciso ir andando. Estude bastante e mantenha o foco. Até mais tarde.

— Até — falo e desligo, encarando a tela por alguns segundos.

É aí que alguém abre a porta, e sinto vontade de rir instantaneamente, só de olhar para a expressão desconfiada do tal Jungkook. Ele fica parado e só empurra a porta com a mão, antes de entrar e me ver. E permanece ali, parado, me encarando. O que ele tem?

— Por que está sentado no meu lugar?

Encaro a carteira, notando. De fato, ele se sentava na primeira carteira, e eu, na segunda. Nem me dei conta.

Mas, certo, a meia do garoto.

Eu me levanto e me aproximo dele, vendo que ele recua na mesma medida, de olhos arregalados, indo de costas, em direção à parede. Olho para lá, vendo uma aranha descer, pendurada em sua teia. Se ele andasse um pouco mais, ela se perderia no meio de seus cabelos, caindo em sua cabeça.

— Meu nome é Park Jimin. Acho que não fomos apresentados corretamente — falo, tentando o puxar para longe da aracnídea, e pondero, me lembrando dos seus livros e da atenção do professor com relação a ele. Mas, ao segurar pelo tronco, me surpreendo ao notar algo, apesar das roupas largas que ele usa, e aperto com os dedos, para ter certeza. Eu estava tocando a cintura dele. O que era aquilo? Tão... fina.

Entreabro os lábios, surpreso, quando ele me responde. Antes, parecia estar com tanto medo e, de repente, está na defensiva-ofensiva? Rio soprado minimamente com a ideia e noto que ele me segura, também pelo ombro, volta e meia me apertando com os dedos. O que ele estava fazendo?

Ele discute um pouco mais e parece decidido a me detestar gratuitamente. Não esperava nada diferente, mas meu lado que apreciava suaves vinganças dá as caras de repente e, por isso, mostro a meia, bem diante de seus olhos. Sendo dele ou de uma garota, teria que conversar comigo para ter de volta.

Ia falar alguma coisa, quando um cara entrou na sala abruptamente, escancarando a porta:

— Jungkook! — chama o que estava colado a mim, arregalando os olhos.

Não presto muita atenção, mas ele puxa Jungkook de mim, como se estivesse o protegendo, e sorrio com a ideia. Na escola antiga, caras como esse atormentavam caras como o Jungkook. De qualquer forma, a meia ele não teria tão cedo, porque, se não fosse dele, iria para as mãos da verdadeira dona. Eu mesmo cuidaria disso.

Saio da sala com Hoseok e Yoongi, mas ouço os outros dois correrem logo atrás de nós três, cochichando, escorados na porta da sala, alto e bom som, e aperto a embalagem entre meus dedos, dentro do bolso. Seja lá que tipo de pessoa o Jungkook é, de fato é alguém interessante.

|||

Enquanto estava em casa, tentava dividir meu tempo.

Quebrava a cabeça, estudando sozinho, ia à padaria adiantar o serviço enquanto pensava, para me distrair e ajudar o meu pai, passando um tempo com ele, vendo um filme ou jogando conversa fora na cozinha. Com Jihyun, era mais difícil, mas, aos poucos, ele foi deixando de andar com moleques para ficar completamente isolado. Isso me preocupava.

— Não vai jantar? — meu pai questiona Jihyun.

— Estou sem fome. — Por mais que o clima não estivesse dos melhores, ninguém se tratava mal de verdade ali. Talvez o amor que tínhamos um pelo outro não permitisse. Só precisávamos de tempo para nos recuperarmos completamente. Eu já estava quase lá.

Meu irmão vai para o quarto, fechando a porta e, secando as vasilhas, me aproximo do meu pai.

— Ele vai ficar bem.

Ele assente.

— Espero que isso aconteça logo. Ele precisa ser feliz e deixar tudo para trás.

Suspiro.

— O senhor também. Todos nós precisamos — falo e ele sorri de leve, indo à mesa.

Depois de me encontrar com Jungkook, por acaso, no bairro rico que tinha ido para buscar o cacau da padaria, naquela noite, eu o achava ainda mais divertido que antes. Não consigo evitar ir à sua mesa, quando o vejo de longe. Como percebi no dia anterior, de fato, o contorno dos lábios dele é tão delicado, como uma...

— Bom dia, Boneca.

Vejo sua expressão, reagindo ao apelido. Perfeito.

— Park, nós vamos pra mesa — Hoseok me avisa, mas eu não iria atormentar o Jungkook, pobrezinho. Pelo menos não por enquanto.

— Nós vamos — falo, indo com eles.

Durante a tarde, me ocupo no kendô. Artes marciais foram, sem dúvida, o ponto chave para me ajudar no autocontrole. Eu precisava me esvaziar de toda aquela raiva. Da minha mãe, por ir embora; do meu avô, por acuar meus pais; de mim mesmo, porque pensava que não era um filho bom o suficiente para ser amado. De tudo.

Eu só precisava de tempo para me curar e compreender e, então, haveria espaço para a alegria de novo. Eu havia recomeçado em uma nova escola, estava cuidando da minha família, tinha meus amigos comigo e, se estudasse o suficiente, passaria na prova do ano seguinte. Só precisava ter foco e força de vontade, eu conseguiria superar tudo isso.

Enquanto golpeio o adversário ou o aparador, eu consigo pensar com clareza, ver meus ideais e me desfazer do que era desnecessário. Mas, no fundo, eu ainda esperava uma resposta de que a alegria que estava sentindo não acabaria do nada, minando como a que tive antes. Tinha a mim mesmo, minha família e amigos, precisava manter isso em mente. E todas as coisas boas que viessem, eu agarraria.

Ignorando olhares discretos e outros nada discretos em minhas tatuagens, entro na cabine e ligo o chuveiro, para me livrar do suor, pegando os produtos de higiene pessoal que levava para me lavar. A água quente relaxava os músculos e renovava as energias. Rio soprado, por ainda saber tanto sobre a cultura japonesa, e olho para baixo, vendo as tatuagens no meu corpo.

Na cabine, tenho uma visita surpresa. Ele só pode estar brincando com a minha cara. Seguro a cintura tão preciosamente fina, o virando para mim, encontrando os olhinhos arregalados e brilhantes. Talvez eu tenha passado dos limites. Por mais que o rosto de Jungkook esteja completamente vermelho, enquanto está comigo dentro da cabine do banheiro, ele pode estar envergonhado por qualquer outro motivo. E por mais que segurar a cintura dele seja algo tentador, preciso colocar a cabeça no lugar. Não conheço esse garoto, eu literalmente coloquei os olhos nele há uma semana.

É por isso que, hoje, pela última vez, vou falar com ele sobre a meia-calça, devolver e deixar isso para lá. Tinha outras coisas que precisava focar.

— Bom dia. Já vai, meu filho? — meu pai questiona, assim que me vê sair do quarto, já pronto para ir.

— Sim... Eu quero chegar mais cedo hoje, acho que vou pegar alguns livros pra reforçar os estudos.

Ele suspira, assentindo, e faz uma expressão preocupada.

— Você tem dificuldades, não é?

— Pai...

— Já te disse: eu me viro e pago um professor particular.

— Não. Eu posso, sei lá, arranjar um emprego de meio período — falo.

— Ah, e vai estudar quando? Trabalhando e frequentando o colégio integral? Eu sei que o dinheiro que te dou é pouco, mas as coisas... vão melhorar.

— Pai, eu não vou te pedir isso, vou me virar. Vou estudar e passar nessa prova. Tudo bem, você tem razão, não posso trabalhar em um segundo lugar por causa do tempo. Não vou procurar emprego, as coisas vão se ajeitar. Quero que guarde seu dinheiro para a reforma de que falamos antes.

— Mas se você precisa...

— Eu me viro. Você mesmo diz que tudo vai melhorar, então vamos acreditar nisso — falo.

Ele me olha desconfiado, antes de me puxar, me apertando em um abraço.

— Você sabe que eu amo vocês dois, não sabe? — questiona, depois de beijar minha cabeça.

— Eu sei. Nós te amamos também.

|||

— E ele é incrível, faz tantas coisas bonitas... Disse que vai fazer um quadro meu, consegue acreditar numa coisa dessas?

Hoseok está tagarelando sobre o tal Taehyung desde que chegou, cochichando para mim durante a aula. Durante a aula inteira. Respiro fundo, assentindo.

— Acredito. Que bom que vocês se dão bem.

— Ele é muito amável, apegado à família. O que acha?

— Acho muito bom.

— Eu sei... — Suspira. — Mas não que eu esteja apaixonado, só acho ele uma boa pessoa. Mas imagine só, ele pintando um quadro. Deve ser algo interessante de se ver. Sabia que ele tem uma fazenda?

Assinto devagar, mas sentindo vontade de rir de tanta falação. Ele já tinha contado tudo isso, mas falava usando palavras diferentes, como se fosse algo novo, toda vez.

— Você deveria chamar ele pra sair — falo.

— Sair? E por que eu faria isso? Somos só amigos.

Amigos que se beijam de língua? Que interessante.

O sinal soa no mesmo instante, e termino de copiar o que era passado no quadro, visto que não faríamos as provas naquele dia, por termos sido transferidos. Pegando minhas coisas, me levanto, sendo seguido por ele e por Yoongi, que está jogando alguma coisa no meu celular.

— Park, você acha que... — Não ouço o restante, sinceramente, porque olho para o lado de fora da sala, para o corredor em que os outros terceiros anos estão saindo. As aulas eram distribuídas, e aquela era uma das únicas que eu não fazia com o Jungkook, aparentemente. Enfim, foi ele quem atraiu minha atenção, no corredor. O quão estranho soa eu dizer que acho bonitinho o formato da cabeça dele? É só algo que acabei de reparar.

O vejo andar, deslizando os dedos de uma das mãos na parede e segurando a mochila arrebentada, e livros na outra.

— Ele não vai trocar a mochila? — murmuro.

— O quê?

— Hã?

— O que você disse?

— Nada, você disse alguma coisa?

— Perguntei se você acha que eu devo fazer a prova. Onde está com a cabeça, Park?

Comprimo os lábios, negando.

— Eu vou ali, podem ir na frente.

— Te esperamos perto do refeitório — Yoongi avisa, se afastando com o ruivo, e assinto, andando em direção aos armários. Puxo a meia do bolso, vou até o armário de Jungkook e olho em volta, antes de começar a passar a embalagem pela abertura, rindo baixinho, me lembrando de todas aquelas reações no banheiro. Ele era divertido. Seria bom se nos tornássemos amigos, mas talvez seja melhor assim. Ele já me detesta sem me conhecer, e isso provavelmente nunca vai mudar.

Caminho até o refeitório, abro as portas para entrar e, de longe, vejo Jungkook e seu grupo, próximos à nossa mesa. Ele, mais uma vez, veste um moletom bem maior que seu número, e está com um livro aberto, sentado, meio encolhido. É inevitável reparar um pouco mais, e acabo notando mais um detalhe: ele se senta com as pernas tortas. Enquanto passa as páginas do livro com uma das mãos, está sentado sobre a outra, com um dos pés ganhando distância do chão por causa disso.

Respiro fundo, tapando o rosto com uma das mãos.

— Park?

É claro que acabo indo até Jungkook, e quando conversamos um pouco, sozinhos, ele diz algo sobre afastar Taehyung e Hoseok, argumentando, de um jeito engraçado, seu ponto de vista. E a forma, que tenta usar para me convencer, me parece tão ingênua, que eu poderia considerar adorável. Quando pergunto se gosta de Taehyung, várias expressões passam por seu rosto: primeiro, a mais absoluta confusão; depois, estranheza. Arregala os olhos brilhantes, como se tivesse tido uma ideia e, por último, volta à expressão neutra, antes de confirmar. Em quantos níveis é engraçado saber que é obviamente uma mentira? Se ele é tão irremediavelmente contra mim, por que não tem nada em sua postura que indique isso? Qual é a sua, Jeon Jungkook?

Percebo facilmente que não queria me afastar dele, por mais que fosse o lógico a fazer. Proponho a ajuda com os estudos, e ele imediatamente aceita.

|||

Enquanto os dias passam lentamente, várias coisas acontecem.

Jungkook, com muito custo, aceita formar um grupo de estudos, com os meus amigos e os dele incluídos. Eu, sinceramente, agradeço internamente, porque isso me manteria minimamente afastado dele ou, pelo menos, a uma distância aceitável entre amigos. Minha justificativa para querer isso é justamente meu próprio comportamento. Yoongi é o primeiro a apontar:

— Você fica cheio de sorrisos perto do cara de óculos.

Não era exatamente ruim, porque, de fato, apenas a presença dele, aparentemente, ativava alguma parte em meu cérebro que me causava uma espécie de bem-estar. Mas também não era exatamente bom, porque ele claramente não queria ser meu amigo. Eu não deveria me importar e tentei me forçar a isso, no entanto nenhuma parte de mim concordava em manter distância, e associei isso ao fato de o achar engraçadinho em tudo o que fazia. Durante as aulas, ele arregalava os olhos, parecendo pensar em algo completamente diferente, falava alguma coisa, murmurando baixinho, sozinho, ou enchia uma folha inteira, desenhando flores, o que me ganhava em peso. Por associação também, sempre que cuidava do jardim, na porta da minha casa, acabava me lembrando do Jungkook.

Em resumo, estava lentamente enlouquecendo, perdendo a cabeça, de fato, porém, por incrível que pareça, durante uma daquelas semanas, a presença dele foi praticamente meu único pico de alegria. Não é como se ele representasse a minha felicidade, mas em casa tudo andava difícil, então a escola era o lugar onde eu conseguia esfriar a cabeça e voltar para resistir mais um pouco.

Meu irmão tentou ligar para minha mãe, depois de encontrar uma agenda antiga. Já fazia nove anos, e ele não conseguia esquecer. Talvez o comportamento do meu pai tenha feito Jihyun ficar assim, porque ele tinha apenas cinco anos quando ela foi embora. Talvez, vendo o quão mal meu pai ficou, quando desistiu de tentar, parou de enviar cartas e fotos nossas, ele também tenha quebrado.

Tudo isso só me enche, a cada dia, de convicção de que relacionamentos são problemáticos... se você não ama e é amado na mesma intensidade. Porque, por incrível que pareça, alguma parte em mim não desistiu do amor em sua totalidade. Eu amo meu pai, meu irmão, meus amigos, meus sonhos. Então, o amor romântico existe, eu apenas não o encontrei ainda. Mas sei que tenho o direito de ficar sozinho, se assim quiser. Eu sentia, de alguma forma, que para mim não era assim. Não odiava a ideia de ter alguém, apenas não acreditava que iria acontecer tão cedo. Eu só...

— Não é da minha conta. — Olho para frente, vendo Jungkook enfiar coisas no armário.

Não tem ninguém perto dele, ele está falando sozinho de novo, em alto e bom som. Eu pretendia tentar resistir um pouco mais a essa ideia, mas, por mais que tente pensar o contrário, é inegável: ele é adorável.

|||

O pico de tudo é quando acordo no fim da madrugada, antes do despertador, depois de um sonho. Aconteceram várias coisas absolutamente aleatórias e não condizentes com a realidade, mas, no fim dele, eu beijei Jungkook. Na frente da escola inteira.

Eu me levanto, mesmo no frio, vou para o lado de fora, encontrando o céu escuro, e me sento na escada da porta, encarando o jardim. Tinha algumas coisas para conversar comigo mesmo. Primeiro, que tipo de feitiço esse homem colocou na minha cabeça? Eu estava convicto de que não iria querer ninguém em um futuro próximo. Mas, a partir dali, já era um fato inegável: eu queria Jeon Jungkook. Justo quem não dava a mínima pra mim.

Respiro fundo, tentando segurar aquele surto de volta e pensar em outras coisas. Não é o fim do mundo. Esse tipo de paixonite passa, não é?

Suspiro pela milésima vez, esfregando meus braços arrepiados pelo vento frio. As mãos dele eram macias, os dedos longos e finos, e elas estavam sempre geladas também. Eu achava delicado tudo aquilo. Mas ficou mais preocupante quando comecei a conjecturar o quão gostoso seria beijar aqueles lábios tão bonitos, enquanto apertava sua cintura fina.

Aperto os olhos, colocando as mãos no rosto e bagunçando meus cabelos, irritado, depois de ficar, minutos a fio, pensando naquilo. É errado e, se ele não me quer, eu não devo pensar nele assim. Mal me lembro do meu primeiro beijo que, para mim, não é mesmo memorável. E, sinceramente, tudo o que antes parecia florido, na adolescência, perdeu totalmente a graça ao longo dos anos. Mas, de repente, estou vidrado em Jungkook?

— Então, você gosta de homem, Park Jimin? — resmungo para mim mesmo, suspirando alto depois disso. E de todos eles, justo Jeon Jungkook. Incrível. E se eu não tinha olhado pra nenhum deles assim antes, o que isso queria dizer? Eu já tinha estudado até mesmo numa escola católica só para meninos antes, mas não senti nada por nenhum garoto.

Respiro fundo, aceitando aquela realidade e tentando impor alguns limites para mim mesmo em relação a ele. Se quisesse pelo menos sua amizade, teria que ter certeza de sua postura em relação a mim. Qualquer sinal de que quisesse... e de que não quisesse de verdade. Algo concreto, que não fosse aquela espécie de retração por proteção que notei que ele tinha. Notei, porque era muito semelhante à que eu mesmo criei para mim, me mantendo emocionalmente afastado das pessoas.

Fico ali, do lado de fora, até o sol começar a nascer, pensando nisso e em várias outras coisas, sem sentir sono até que o dia clareasse.

|||

Quando saio da escola, depois de pagar a detenção, penso em levar Jihyun para sair, e pego o celular para telefonar para ele. Talvez meu irmão queira visitar um de nossos tios no fim de semana. Qualquer coisa que o distraísse. O céu está nublado, então me apresso para ir para a moto, mas, então, outra surpresa. Talvez, ficar perto de Jungkook signifique ter algo surpreendente a cada dia.

Ele aparentemente se assusta com um trovão inesperado, derrubando todas as suas coisas. E, quando, no fim das contas, acabo encharcado em sua casa, me dou conta de como estou envolvido por ele, sem que ele faça o menor esforço para isso. Quando me faz tantas perguntas, me pergunto se é possível que ele me deteste, mas queira se aproximar ao mesmo tempo. A garotinha com a qual eu havia conversado, pela manhã, me encara, desconfiada, quando chegamos, e rio sozinho, me lembrando de como Jungkook estava de manhã. Onde ele arranjou aquelas orelhas de gato, por Deus?

— Sua família é adorável — falo, ao perceber como a mãe dele é atenciosa e educada, e a irmãzinha falante também não fica para trás.

— Hm. Se com adorável quer dizer maluca e desarticulada, ela é, sim.

Suspiro, me virando um pouco para ele, enquanto conversamos de perto, e eu não resisto em levar o chá até aqueles lábios. Seus óculos estão cheios de respingos de chuva. Uma pena que tenha se encharcado também. Ele aparentemente está bastante permissivo, inclusive. Eu, depois de perceber e assumir para mim mesmo que gosto dele, pareço estar reparando em mais e mais detalhes.

Naquela noite, percebo algo interessante: se não estamos cercados de gente, ele é bem mais passível comigo. Ri um pouco, fala bastante e não demonstra nada além de vergonha quando eu o toco. Ele fala que odeia se expor para os outros, então... é isso?

Quando sinto o gosto de sua pele, passando a língua por seu pescoço, enquanto estamos em seu quarto, vou, aos poucos, me dando conta de que aquele é um caminho sem volta. Eu queria beijar Jungkook, ficar com ele, ter o privilégio e a permissão para tocar seu rosto, seus cabelos, para abraçar sempre que quisesse. E, assim que ele me dissesse sim, seria exatamente o que eu iria fazer.

|||

Ver meu pai e meu irmão gargalharem, tirando fotos minhas, talvez tenha sido uma ótima recompensa por voltar para casa enfeitado, depois do trabalho da irmã de Jungkook. Na hora de dormir, abro minha galeria, vendo as fotos que tiramos. Para o meu cérebro, aparentemente não interessava se já havia ou não beijado Jungkook ou coisa do tipo. Eu estava literalmente agindo como alguém apaixonado, e isso sempre me surpreendia.

Era interessante entender ele por suas expressões e trejeitos, descobrindo, aos poucos, a pessoa que ele era. Jungkook é preocupado com as pessoas, alguém generoso o suficiente para gastar seu tempo ensinando os outros. Ele fica irritado quando está em público. Geralmente, seu estresse é só uma forma de se proteger. Seja lá o que o tenha deixado assim, eu espero que nunca aconteça de novo.

— Jimin?

Olho para a porta, vendo meu pai parado nela.

— Oi, pai. — Sorrio. — Entra.

Ele vem andando, de maneira engraçada, até a minha cama, e se abaixa.

— Tudo bem? — questiono. — Aconteceu alguma coisa?

Ele apenas sorri.

— Estou feliz, meu filho. — Eu me surpreendo, mas espero que continue. — Eu sei que o tempo não volta, nem o que foi feito pode se desfazer, mas ver a sua força, para enfrentar tudo, me fez forte também. Eu só queria te dizer que estou aqui por você e pelo seu irmão. Aprecio sua ajuda, mas eu quero te pedir: descanse.

Eu o encaro, escutando, atento.

— Descanse, saia, se divirta com seus amigos. Não precisa pensar tanto, sofrer por antecipação. Eu sei que muitas coisas foram tiradas de você, mas também sei que vai receber em dobro tudo o que dá — sussurra, ajeitando meus cabelos.

Assinto, abaixando os olhos, sentindo ambos arderem.

— Sua vida é importante também, e está na hora de viver.



||||

EH SAUDADE QUE EU TAVA KGJDKJ

nos vemos de novo, ou não?

beijos, boa noite, espero que tenham gostado

:)

Indicação de leitura:


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