Arte & Guerra

By Sumshinellen

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Elizabeth é uma aspirante a artista e pretende ingressar na faculdade de artes junto com sua melhor amiga. Jo... More

Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Agradecimentos

Capítulo I

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By Sumshinellen

Como explicar a maneira com que começamos a nos falar? Às vezes, o destino opera de maneiras misteriosas.

Desde o primeiro ano do ensino médio estudávamos na mesma turma, mas sempre tivemos amigos e interesses muito distintos para termos motivo para conversar. E nunca o fizemos, até o dia do acidente.

Voltávamos para casa depois de um longo dia na escola, e estávamos preocupados demais com nossos próprios problemas para sermos cautelosos no trânsito. Por um instante, esquecemos do volante, e foi o suficiente para nossos carros se chocarem.

Acordei deitada na cama do hospital. Sentei-me devagar e toquei a atadura que cobria parte da minha cabeça, como não senti dor, deduzi que fosse um bom sinal. Ele estava deitado na cama ao lado, o braço esquerdo engessado. Estávamos a sós no quarto, com uma televisão ligada em algum desenho animado, mas ele encarava o teto branco.

- Jonathan? – chamei.

Ele levou alguns segundos para virar seu rosto na minha direção. Apesar da expressão cansada, sorriu para mim.

- Olá, Elizabeth. – ele respondeu.

- Faz tempo que está acordado? – perguntei. – Desmaiei depois que nossos carros colidiram. Que dia é hoje? O que aconteceu desde então?

Jonathan abaixou o volume da televisão.

- Calma. – disse, soltando um riso. – Você ficou desacordada durante algumas horas, não dias.

Isso queria dizer que era madrugada de sábado, então não perdi nenhum dia de aula. Perfeito.

- Depois do acidente, fui até o seu carro e te vi desacordada. Tentei te ajudar, mas dois caras que passavam me impediram e falaram que eu deveria ficar parado esperando a ambulância. – ele contou. – Ainda bem que você acordou. Fiquei com medo de ter te matado.

- Bem, se isso é a morte, então é bem chato.

Trocamos um sorriso.

- Desculpe. – ele pediu. – Depois que perdi o jogo, fiquei tão irritado que não prestei atenção na curva e bati no seu carro.

- Ei, não é só culpa sua. – garanti. – Eu estava com a cabeça nas provas finais.

Encostei a cabeça no travesseiro, em silêncio. Ficamos assim durante algum tempo.

- Meus pais vão me matar. – comentei, de repente. – Eu provavelmente detonei meu carro, e eles sempre me mandam ser cuidadosa.

- Nem fala. – Jonathan suspirou. – Estamos ferrados.

Na manhã de sábado, uma enfermeira apareceu para nos medicar e trocar nossos curativos.

- Como você está? – perguntei, depois que ela saiu do quarto.

- Acho que meu braço vai me impedir de jogar. – Jonathan comentou triste.

- Talvez melhore em alguns dias. – tentei animá-lo, mas ambos sabíamos que não.

Ele suspirou.

- Espero que isso não atrapalhe meu treinamento na base militar.

Fiquei surpresa ao ouvir aquilo. Não fazia ideia que que Jonathan gostaria de fazer parte do exército.

- Você já se alistou? – perguntei, tentando não parecer espantada.

Ele sorriu ao ver minha expressão.

- Assim que atingi a idade mínima para isso.

- Achei que quisesse jogar hóquei. – comentei. Já assisti a alguns jogos do time da escola, e Jonathan patina no gelo como ninguém.

- Amo hóquei, e realmente seria o máximo jogar em algum time famoso, mas também quero ajudar o país. – ele riu baixinho. – Talvez consiga fazer os dois.

- Tenho certeza de que vai. – sorri, encorajadora.

A enfermeira que nos medicou mais cedo bateu na porta do quarto, interrompendo a conversa.

- Senhor Ross? Senhorita Wright? Vocês têm visita.

Nossos pais entraram. Assim que me viu, mamãe me deu um abraço apertado.

- Ficamos tão preocupados! – ela falou. – Não passamos a noite aqui porque achamos que seria melhor se descansassem. Os pais do seu amigo também concordaram.

Olhei para Jonathan sendo esmagado pelos abraços dos pais.

- Depois discutimos sua imprudência no volante, Elizabeth Wright. – mamãe falou. – Seu carro vai precisar de reparo.

Fiquei em silêncio e fiz minha melhor expressão de arrependida.

- As enfermeiras falaram que é provável que recebam alta amanhã. – papai mudou de assunto, afagando meu cabelo. – De qualquer forma, já conversei com o diretor da escola, caso você não receba alta até segunda-feira.

Sorri agradecida. Estava quase me formando e não poderia me dar ao luxo de ir mal agora. Precisava conseguir a bolsa para a faculdade de artes.

Mamãe levantou uma sacola que carregava consigo.

- O médico disse que não teria problemas se você pintasse enquanto estivesse aqui. – ela sorriu e me entregou a sacola.

Olhei o que tinha lá dentro: duas pequenas telas de pintura, alguns pincéis e tintas.

- Você me conhece tão bem, mamãe. – sorri de volta. Ao menos eu conseguiria pintar enquanto não recebesse alta.

Nossos pais decidiram que era melhor se continuássemos descansando, foram para casa e pediram que ligássemos caso fosse necessário.

Durante a tarde, decidi pintar. Olhei para uma das telas, vazia, pensando em algo para preenchê-la. Nenhuma ideia me surgiu, então Jonathan sugeriu que eu o pintasse.

- Boa ideia. – concordei. – E vou nomeá-la como "Jonathan, o jogador de hóquei". Bem criativo, não é?

Jonathan riu e fingiu fazer uma pose para que eu o pintasse.

- Estou pronto. – brincou.

Enquanto eu misturava as cores e pintava Jonathan jogando hóquei, conversamos sobre a família dele.

- O exército é meio que uma tradição na minha família. – ele contava, animado. – Meu bisavô é um veterano da Segunda Guerra, meu avô e meu pai serviram por muitos anos, meu irmão está em serviço, e agora eu vou poder fazer parte disso!

- E sua mãe? – perguntei.

- Ela se orgulha de nós, mas diz que preciso de uma segunda opção, acha que eu deveria tentar o hóquei ou alguma faculdade chata de ciências. – Jonathan respondeu. – Sabia que sou muito bom em química e física?

- O melhor aluno da sala. – concordei, lembrando-me das vezes que tivemos aula juntos. Ele era sempre um dos primeiros a terminar as atividades e os professores o adoravam.

Jonathan sorriu, orgulhoso, e voltou sua atenção para a televisão.

Decidi não detalhar demais a pintura, não criei um cenário, nem nada assim, foquei mais em Jonathan patinando.

Não sei quanto tempo passei pintando até ser interrompida por uma batida na porta: a enfermeira veio nos medicar.

- O horário de visitas começou e vocês têm alguns amigos esperando lá fora. – ela contou, enquanto tirava a atadura da minha cabeça. – Posso deixá-los entrar?

Concordamos e pouco depois alguns jogadores do time de hóquei entraram no quarto. Eu conhecia o capitão do time, Seth, com quem tinha aulas de literatura; Tommy, um dos atacantes; e Bendyk, meu vizinho e melhor goleiro do mundo.

- O que aconteceu com vocês? – Bendyk perguntou.

Jonathan relatou o acidente.

- Achei que não viriam, depois que estraguei o jogo.

- Você é péssimo, Johnny, mas é nosso companheiro. – Tommy deu um tapinha no braço sem gesso de Jonathan.

Enquanto os outros garotos do time começaram a conversar com Jonathan, Bendyk se aproximou da minha cama.

- Julie está lá fora com o namorado. – contou. – A enfermeira pediu que viéssemos em turnos, para não lotar o quarto.

Concordei com a cabeça, imaginando quando minha melhor amiga perderia a paciência e entraria no quarto, mandando os jogadores saírem.

- Você nos assustou, Liz.

- Que fofo, Benny Bu. – zombei. Ele era meu vizinho desde o jardim de infância e eu o apelidei assim naquela época, quando não conseguia falar seu sobrenome. Bendyk Budziszewski era muito difícil para mim, então simplifiquei. – Aposto que você só ficou preocupado em não almoçar mais lá em casa aos sábados.

Nossas mães eram amigas e vivíamos frequentando a casa um do outro.

- Engraçadinha. – ele sentou ao meu lado e pegou o celular. – Julie já está mandando mensagens querendo entrar.

- Paciência não é o forte dela. – balancei a cabeça, fingindo reprovação.

Conversei mais um pouco com Benny antes que ele e os outros garotos do time saíssem do quarto. Ofereceram palavras de apoio e se retiraram.

- Aposto que o Benny demorou de propósito. – Julie entrou, reclamando e sentando na beirada da cama, sem sequer pedir licença. Típico da minha melhor amiga.

Ryan Frazier, o namorado dela, foi direto abraçar Jonathan. Eram amigos desde pequenos, já que os pais serviram juntos no exército.

- Aqui deve ser um tédio. – Julie comentou. – O que você está fazendo para se entreter?

Apontei para as telas em um canto, perto da parede do quarto.

- Está conversando muito com o bonitinho ali? – sussurrou para mim, referindo-se ao Jonathan.

Corei.

- Antes que você negue... – ela apontou para a tela com a pintura de Jonathan inacabada. Deveria ter escondido aquilo embaixo da cama.

- Só sofremos um acidente, não estamos nos casando. – argumentei.

Mas Julie já não estava mais prestando atenção em mim. Olhava para Ryan, que comentava animado com Jonathan sobre o treinamento da base militar da cidade. Só então me toquei que os dois provavelmente se alistaram e começaram a treinar juntos. O mundo pode ser um lugar bem pequeno e cheio de estranhas coincidências mesmo.

O sorriso de Julie se desfez devagar. Ela sempre ficava triste quando o assunto era Ryan no exército.

- Ei. – tentei mudar de assunto. – Podemos ir ao shopping quando eu sair daqui.

- Sim. – ela respondeu, parecendo voltar ao normal. – Vai ser divertido.

Terminei a pintura na manhã de domingo, já que não tínhamos muito o que fazer além de conversar e assistir televisão. Não estava perfeita, mas definitivamente era um bom trabalho. Quando a mostrei para Jonathan, ele encarou a tela durante algum tempo, inexpressivo. Pareceu analisar cada detalhe antes de concluir:

- Não sou tão bonito assim.

- É sim. – ri com o olhar confuso que ele me lançou. – Sem querer me gabar, mas a pintura se parece muito com você.

- Me vê tão bonito assim? – ele se sentou na beirada da minha cama.

- Tão bonito assim. – concordei.

Tentei fazer o comentário soar o mais natural possível. Nunca tinha parado para reparar nele, para ser sincera. Era só mais um garoto do time, mas depois de passar algum tempo aqui com ele, notei como Jonathan era bonito. Não havia como negar que seus cabelos e olhos castanhos, a altura e os ombros largos eram um charme. Além disso, o sorriso era fofo e contagiante, como o de uma criança vendo ao filme favorito.

- Ficou muito bom. – ele elogiou.

Comentei sobre como esperava que minhas pinturas fossem reconhecidas mundialmente um dia.

- Além disso, meus pais ficariam orgulhosos se a única filha deles conseguisse ganhar uma bolsa na faculdade de artes. – acrescentei.

- Se você conseguiu me fazer parecer legal, consegue pintar qualquer coisa, Elizabeth. – ele comentou, apontando para a tela recém-pintada.

- Pode me chamar de Liz, se quiser. – falei, sorrindo. Já sofremos um acidente juntos e conversamos sobre a nossa vida quase inteira, qual o problema de me chamar pelo apelido, não é mesmo?

- Tudo bem, Lizzy. – ele sorriu.

- Liz... – corrigi.

- Eu quero Lizzy. – ele teimou. – Pode me chamar de Johnny.

- Tudo bem, JoJo. – mudei o apelido, assim como ele fez comigo.

Jonathan me olhou com uma careta durante alguns segundos antes de sorrir.

Nada melhor do um acidente de carro para começar uma amizade.

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