Jade não tinha contado exatamente o que planejava fazer pro meu aniversário, só tinha dito que eu não precisa me preocupar e que ela tinha uma surpresa. O que me deixou ansiosa a semana inteira, o que será que ela estava planejando?!
Eu já tive várias festas de aniversário lá em Londres, meus pais sempre faziam, mas nunca liguei muito pra isso. Era sempre só a família, a Débora e o André, e pra falar bem da verdade, eu não sentia que aquelas festas eram realmente pra mim.
Eu estava sempre em exposição, com meus parentes me perguntando como eu estava na escola, o que eu ia fazer na faculdade e em qual pretendia entrar... E minha mãe fazia eu praticar as respostas para não envergonha-la!
"Estou muito focada nos meus estudos, tio Harold, muito obrigada por perguntar! " Revirei os olhos, lembrando. "Algo da área de saúde com certeza! Quanto a faculdade, não sei ainda, mas Harvad e Yale estão no topo da lista!" continuei recordando-me.
Meus pais só queriam mostrar pra toda família o quanto a filha deles era uma boa moça cristã, estudiosa e educada. Meu aniversário era quase que uma reunião anual com a família para provar que eles eram pais excelentes, nunca foi sobre mim.
Só que dessa vez era diferente, eu não teria que chamar meus parentes que eu não gostava pra ser educada, nem praticar minhas respostas. Dessa vez meus amigos que estariam comigo, e não amigos tipo o André e a Débora, em que eu nem quer gostava, meus amigos mesmo.
E tinha alguma coisa de emocionante nessa realidade nova, era a primeira vez eu estava recebendo uma festa de aniversário mesmo. Uma festa pra mim.
Andei pelos corredores, animada. Jade disse que não era pra eu ir até meu dormitório até que ela viesse me chamar, já que elas ainda estavam preparando. Entrei na biblioteca e me sentei em uma das mesas, as aulas já tinham acabado então eu meio que não tinha mais pra onde ir.
Chequei meu celular para matar o tempo, tinha algumas mensagens de parabéns de meus parentes no Facebook que eu já tinha lido. Desliguei a tela do celular, quando será que a Jade iria me chamar? Ela viria até aqui? Me mandaria uma mensagem? Faria uma ligação? Os termos não haviam ficado claros quando ela falou comigo, por precaução mandei uma mensagem avisando que estava na biblioteca, mas tirando isso, não tinha nada que eu pudesse fazer. Então só me sentei ali e esperei ansiosa.
Até que de repente meu telefone tocou.
— Alô?! — atendi animada.
— Docinho!
— Ah... — respondi, frustrada. — Oi André.
• • •
Pov Jade
— Tudo pronto? — perguntei abrindo a porta.
— Sim! — Zoey suspendeu uma mão com um "joinha" — Vai lá chamar ela!
Assenti e bati a porta, atravessei os corredores. Estava animada para que ela visse o resultado, a maior parte do trabalho tinha ficado pra mim e pra Chloe, mas Diana e Zoey ajudaram também. Mal podia esperar para que ela visse o que tínhamos preparado.
Chequei meu celular enquanto andava, ela estava na biblioteca, fechei o chat dela e abri o da Tiff.
[07:06 PM]: Hey, td pronto já
Pd ir levando o equipamento com o dormitório
E me deseje sorte ;)
[07:06 PM] Blue Tiff: Blz
Quebre a perna.
Sorri e guardei o celular no bolso, eu tinha tudo pronto para a surpresa que eu havia prometido, mas não era por isso que eu precisaria de sorte. Após refletir a semana toda, eu tinha chegado a uma conclusão. Era hoje, finalmente a hora tinha chegado, o momento que todos esperavam: Eu estava decidida a beija-la naquela noite.
Eu tinha falado sobre para a Tiff e o PJ, eu não sentia que ela estava preparada antes, mas depois de semana passada... Ela basicamente admitiu que teve um sonho erótico comigo! Ainda se fez de sonsa depois, essa safada.
E eu não sei explicar, o jeito que ela me olhava... Eu sempre soube que eu a queria desse jeito, e imaginava que ela pudesse sentir o mesmo, mas agora eu tinha certeza. Ninguém olha pra ninguém com aqueles olhos na inocência. Ela também me queria.
Pensei nela a semana toda sem parar, e nem só de uma maneira sexual (apesar de que sim, bastante de uma forma sexual) mas também de uma maneira carinhosa, e confesso, ficava até meio boba. Só de imaginar que ela também me queria, e que poderíamos ficar juntas... Sei lá, era uma sensação tão estranha e tão boa ao mesmo tempo. Ela tinha esse poder sobre mim que ninguém mais tinha: ela me derretia.
Balancei a cabeça interrompendo-me de minha viadagem, eu já havia chegado na porta da biblioteca. Só ela pra me fazer entrar em uma biblioteca. Dei um suspiro e entrei, avistei-a sentada numa cadeira, me aproximei.
Ela não tinha notado que eu cheguei, estava atrás dela e ela falava no telefone, não quis interromper.
— Tá bom, tá booom. Também te amo, muito obrigada. — Ouvi ela dizer ao telefone, a voz meio arrastada. — Também tenho que ir, mais uma vez obrigada, tchau! — Ela desligou o telefone.
— Hey!
— Ahhh!! — ela deu um gritinho, se virou pra trás. A moça da biblioteca nos encarava com um olhar fuzilante. — Jade, a quanto tempo você tá ai?! — perguntou, meio ofegante.
— Só a alguns segundos.— respondi, dando de ombros. — Por que?!
— ...Nada. — respondeu, suspeita. Franzi a testa.
— Mas e ai, com quem você tava falando?! — indaguei, ela ficou em silêncio por um segundo.
— Ninguém importante. — concluiu.
Por mais suspeito que parecesse, sua última frase não soava como uma mentira. E acredite, eu saberia se ela estivesse mentindo. Então só deixei pra lá.
— Ahn... Mas e ai? — ela se levantou e mudou de assunto — Não tá esquecendo de alguma coisa não?! — perguntou como quem não queria nada.
— Claro que não — abri um sorriso e a envolvi nos meus braços. — Feliz aniversário, Lobinha! — apertei-a forte e levantei-a.
— Ahhh! — Exclamou. — Me soltaaa!! — disse ela, rindo. Coloquei ela no chão, ela esticou a camisa. — Obrigada.— Ela me deu um sorriso tímido
— Por nada — retribui.
A essa altura, a moça da biblioteca já estava vindo em nossa direção com uma cara de poucos amigos, então entrelacei meu braço ao dela e arrastei-a para fora da biblioteca. Fomos em direção ao dormitório.
Mal podia esperar para ver qual seria a reação dela ao ver tudo que havíamos preparado.
— Ei... — Lorena quebrou o silêncio.
— O que foi?! — perguntei.
— Qual era a surpresa que você falou semana passada?! — indagou, curiosa.
Dei um sorriso.
— A curiosidade matou o gato, Lobinha. — respondi. — Espere e você verá. — tentei aumentar o ar de mistério.
— Você é chata. — resmungou ela, emburrada. Dei uma risadinha.
— Daqui a pouco você descobre. — conclui. — Mas enfim, chegamos! — estávamos paradas na porta do dormitório. — E ai, pronta?!
— Eu nasci pronta. — respondeu, deu um sorriso meio tímido.
— Então vamos lá... — segurei a maçaneta, contei mentalmente para abrir, 3, 2, 1 e...
— SURPRESA! — Elas gritaram.
POV Lorena
O quarto estava todo decorado com umas luzinhas, na parede estava escrito "Parabéns Lorena!" em um PVA rosa. Havia vários colchonetes no chão, e nas bancadas ao lado das camas haviam potes com salgadinhos. Todas estavam sentadas em colchonetes, Zoey, Diana, Chloe... e até a Tiffany estava lá também!
Fiquei meio sem reação quando eu vi tudo aquilo, só observei tudo com a felicidade incontida. Não conseguia tirar um sorriso de meu rosto.
— Muito, muito obrigada mesmo, gente. — falei — Vocês são incríveis, sério.
— Por nada! — Jade passou o braço pelo meu ombro e me deu um beijo na bochecha. Senti meu rosto corar.
— Parabéns, Lore!!!!! — Zoey veio até mim e me deu um abraço (se jogou em mim, pra ser mais específica) ela me puxou ate um dos colchonetes. — Agora vem abrir os presentes!
— Espera, deixa eu botar meu pijama! — me desvencilhei de sua mão e apontei pro banheiro.
Zoey revirou os olhos.
— Tá, mas não demora! —ordenou.
Assenti, peguei meu pijama e uma de minhas gavetas do armário e fui em direção ao banheiro com pressa.
— Por isso que eu já vim com o meu. — Jade apontou pra roupa que usava, uma blusa de série e uma calça de moletom.
— Eu também! — ouvi Chloe falar e antes de fechar a porta do banheiro.
Peguei meu baby doll roxo e vesti-o, olhei-me no espelho. Por um momento, ponderei se ele era adequado pra um festa do pijama... Ele era meio decotado, e o short era bem curtinho. Continuei a me encarar no espelho, minha pele pálida destacando nas cores vibrantes do pijama, eu estava meio nervosa... não sei explicar.
Peguei um copo, enchio-o de água e bebi. Ok, porque eu tô tão nervosa?! Pensei. Eu não me sinto muito segura sobre meu corpo as vezes, e essa roupa era mais exposta do que eu estava acostumada. Além de que as vezes, eu não sou a maior fã de ser o centro das atenções. E era meu aniversário, claro que os holofotes estariam em mim. E se eu falasse a coisa errada?! E se eu fizesse alguma coisa estranha e todo mundo me julgasse?! E a Jade estava ali, eu não queria passar vergonha na frente dela. Ela me deixava mil vezes mais nervosa.
E sinceramente, eu nem sabia exatamente do que eu estava com medo de fazer pra todo mundo me achar idiota. Era apenas uma sensação de medo constante de que eu estava num palco, e com um passo em falso eu pudesse estragar todo o show.
Mas quer saber? Que se dane, essa não era uma noite pra ficar ansiosa, me preocupar de mais com as coisas, era uma noite para eu me divertir, certo?! Era meu primeiro aniversario legal, eu não podia estragar tudo sendo idiota. Então lavei meu rosto com água fria, suspirei, e sai pela porta o mais confiante possível.
Pra minha sorte, ninguém nem reparou direito, o que significava que meu babydoll não estava ousado demais. Se bem que foi minha mãe que me deu, provavelmente não era ousado demais mesmo. Talvez eu tivesse me preocupado à toa. Me sentei entre Diana e Jade.
— Que demora, hein! — Zoey reclamou.
Fiz um estalinho com a boca.
— Me deixe, vai.
— Tá, mas agora abre os presentes!! — Zoey falou — O meu primeiro!
— Não! — Chloe interrompeu. — O meu é mais legal, tem que ir antes!
— Nem venha!!! — Zoey reclamou, e pediu pra mim. — Eu pedi primeiro! — ela fez um biquinho. Eu não sei explicar, mas sempre tinha uma coisa levemente infantil no jeito que ela agia.
— O meu certamente é mais legal que o de todas vocês! — Jade declarou, convencida. — Mas eu não ligo de vocês irem primeiro — deu de ombros — É como dizem né, deixar o melhor por último.
— Deixa ela decidir qual ela abre primeiro, gente! — Diana reclamou. — O aniversário é dela!
— Tá bom, tá bom! Bem... — tentei pensar da forma mais justa — Zoey de fato pediu primeiro, então...
— Isso! — comemorou exageradamente e pegou um pacotinho atrás dela. — Aqui, abre!
Peguei o pacote dela e abri, dei de cara com três pulseirinhas. (Pulseiras da amizade, de acordo com ela. Um pra mim uma pra ela e outra pra Diana.)
— Fui eu que fiz! — Zoey comentou.
Dei um sorrisinho, olhando meu pulso.
— Você é uma fofa. — respondi. — Eu adorei, obrigada.
Peguei logo os outros presentes e abri, Chloe me deu uma pintura minha que ela me falou que ela mesma tinha feito, com bastante rosa e um fundo meio azul claro. E Diana me deu um vestido rosa quadriculado com uma blusa branca costurada dentro, a qual ela também tinha confeccionado. Agradeci as duas, eu realmente tinha gostado muito.
Geralmente eu nem gostava tanto assim dos presentes que eu ganhava de aniversário, mas foi meio especial dessa vez. Sei lá, acho que é porque eles foram feitos e não comprados.
E por fim, só faltava o da Jade.
— Bem, chegou a hora... — Ela estalou os dedos. — Agora você vai saber qual é sua surpresa.
— Finalmente. — resmunguei, sem deixar de conter um sorriso.
Ela se levantou e foi até o canto do quarto, pegou uma capa e tirou sua guitarra de dentro. Tiffany se levantou também e conectou o baixo na caixa de som. Fiquei boquiaberta, era aquilo mesmo que eu estava pensando?!
— Acho que você já deve imaginar o que é. — Ela deu um sorrisinho tentei disfarçar o sorriso em meu rosto, meio tímida — Espero que 'cê goste.
Era aquilo mesmo, meu Deus.
POV Jade
Estava meio nervosa e meio animada ao mesmo tempo, estava trabalhando nessa tem um tempo, mas a inspiração só veio semana passada, estava ansiosa para que ela ouvisse. Olhei pra Tiffany e fiz um sinal com a cabeça.
Espero que ela goste, pensei.
Respirei fundo e comecei.
Lil' Wolf — original song [Disponível no link]
— Lil Wolf, calm down.
(Lobinha, se acalme)
And Look into my eyes now.
(E olhe nos meus olhos agora)
And know that I'll be around
(E saiba que eu vou estar por perto)
Aquilo era meio fora de minha zona de conforto, geralmente eu não componho baladas, mas dessa vez estava confiante. Virei meu olhar rapidamente pra ela, ela me olhava com uma expressão super fofa, sem tirar os olhos de mim. Me senti ainda mais animada, era agora que vinha a melhor parte da musica.
Lil Wolf, please stay
(Lobinha, por favor fique)
And admit that you're gay
(E admita que você é gay)
De repente, sua expressão fofinha virou uma expressão de indignação.
— Cala a boca! — reclamou
As meninas em volta começaram a rir, tentei manter a seriedade e continuar tocando, mas não consegui e cai numa gargalhada junto a elas.
— Muito bom! — Chloe falou, batendo palmas.
— Eu tô passando mal! — Zoey estava com o rosto vermelho de tanto rir.
E até Diana e Tiffany davam risadas disfarçadas.
— Nossa, cala a boca vocês também! — protestou ela, emburrada.
Continuamos a rir, olhei para ela, estava com a testa franzida com uma expressão contrariada. Sorri e mandei um beijinho pra ela, ela revirou os olhos.
— Agora continua! — pediu ela
Assenti, e ainda com um resquício de risada, voltei a tocar.
And know that I'll be here for today
(E saiba que eu estarei aqui por hoje)
[Refrão]
Since you came into this school
(Desde que você veio para esse colégio)
I've been acting like a fool
(Eu venho agindo como uma tola)
Cause there's no other girl
(Porque não tem tem nenhuma outra gatora)
Yeah there's no other girl
(Sim, não tem tem nenhuma outra garota)
Yeah there's no other girl
(Sim, não tem tem nenhuma outra garota)
Like you.
(Como você)
A partir daí era só repetição, então dei uma ênfase no acorde final e encerrei.
Ouvi uma salva de aplausos vindo de todas e uns gritinhos.
— Arrasou!!!!! — Zoey batia palmas freneticamente.
— Essa é minha garota! — Chloe passou a mão pelo meu ombro, até a Tiff me deu um tapinha nas costas e deu um sorrisinho. Mas só tinha uma opinião que realmente importava.
Em meio a todo aquele alvoroço, Lorena me olhava tímida, com um leve sorriso no canto da boca. Sorri de volta, me sentei mais perto dela.
— Bem, eu sei que tecnicamente não é colégio, é universidade. Mas sabe como é né?! Tudo pela rima. — me expliquei.
Ela continuou sorrindo, as maçãs do rosto vermelhinhas.
— Tudo bem.
— E então... O que achou?! — perguntei, curiosa. — Tô perdoada?
Ela revirou os olhos.
— Tá bom, perdoada. — falou com a voz arrastada. — E obrigada, eu amei muito, mesmo. — Ela abraçou os joelhos. — Você é realmente muito boa nisso.
E de repente, era eu que estava com vergonha.
— Ah, que isso... — tentei disfarçar.
— No futuro — Chloe me interrompeu. — Quando a The dark sunset tiver super famosa, eu vou poder falar: Eu vi essa música nascer.
— Eu fui! Eu tava! — cantarolou Zoey.
— Ficou bem legal mesmo, Jade. — Diana comentou. — Parabéns.
— Obrigada, obrigada. — agradeci em gestos rápidos. — Mas não vamos esquecer a verdadeira responsável por essa música. — Passei um braço pelo ombro de Lorena e virei os olhos pra ela sugestivamente.
— Ownn, que fofaaa. — Chloe falou, ironicamente.
— Para de debochar dela! — Zoey reclamou. — Foi romântico, e lindo! A Lore é a musa dela!
— Que tal se a gente parar de falar como se eu não estivesse aqui?! — Lorena se pronunciou.
Demos uma risadinha e assentimos, se eu fiquei constrangida com um elogio, eu imagino como ela deveria estar agora.
— Ahn... Eu não te comprei nada não. — Tiff falou — Mas eu fiz o baixo de sua música e tal.
Ela deu um sorrisinho.
— Sem problemas, muito obrigada. — assentiu.
— Gente, a festa tá boa aqui, não bora perder o pique não! — Chloe falou, se levantando. — Bora jogar alguma coisa, tipo verdade ou consequência. — concluiu, pegando uma garrafa de refrigerante e abrindo.
— Uhul!!!! — exclamou Zoey.
— É isso ai! — completei.
— Todo mundo gosta de um bom e velho verdade ou consequência. — Diana comentou, por fim.
Chloe pegou a garrafa do refrigerante de laranja e começou a virar, olhei pra Lorena ao meu lado, ela parecia a menos animada com aquela ideia.
— O que foi?! 'Cê nunca jogou verdade ou consequência?! — perguntei sussurrando em seu ouvido.
Ela balançou a cabeça em negação, parecia apreensiva.
— Relaxe, vai ser legal. — afirmei.
Chloe se engasgou.
— Ok, eu não aguento beber tudo sozinha não. — admitiu, entregando a garrafa pra Zoey.
Zoey bebeu bastante do refrigerante também, mas mesmo assim não foi tudo.
— Me da ai! — pedi, ela me entregou e eu virei o resto. — Pronto.
— Uau... — Lorena comentou — Nunca vi ninguém beber refrigerante tão rápido.
Chloe pegou a garrafa de minha mão.
— Então gente, vamos estabelecer as regras. — começou. — A parte da tampa, pergunta, a parte do fundo, responde, ok? — apontou pra garrafa, assentimos. — Bora fazer uma roda.
Todas chegamos um pouco pra perto, formamos a roda.
— Deixa eu girar! — Zoey pediu.
— Não, bora deixar a aniversariante fazer as honras! — disse Chloe.
Lorena se inclinou pra frente, segurou a garrafa parada no meio da roda.
— Tem que girar pra que lado?!
— Tanto faz. — respondi.
— Bora logo! — ordenou Zoey, impaciente. Lorena girou a garrafa e voltou-se ao seu lugar rápido, observamos-a girar.
E caiu: Diana pra Zoey.
— Oba! — comemorou. — Eu quero consequência!
— Ok, hum... — Diana parou e pensou um pouco. — Conte como foi seu primeiro beijo.
— Ah, que sem graça! — Zoey reclamou — isso é uma pergunta, não uma ação!
— Pois é! — Chloe concordou.
— Ah, sei la. — Diana deu de ombros. — Não pensei em mais nada mesmo, só responde aí.
— Tá bom então. — resmungou Zoey. — Bem, foi numa festa que rolou lá em casa, era uma festa na piscina tal. Ai tinha dois meninos, Henry e Mark. Cê lembra?! — ela perguntou pra Chloe.
— Claro que lembro! — Ela respondeu — Grande Henry! Foi ele né?
— Calma, deixa eu continuar a história! — Zoey disse — Pois bem, ai eles dois queriam ficar comigo. E eles eram muito lindos. Sério! — gesticulou ela — Só que eles eram melhores amigos, e por algum motivo, eles tinham deixado implícito que eu tinha que escolher entre eles dois. Mas eu queria ficar com eles dois!
— Viadagem isso ai, viu. — comentei. — Viadagem de hetero, ainda por cima.
— Eu sei!!! — concordou Zoey. — Mas aí tá, eu não queria ter que escolher. Então eu cheguei pro Mark e falei que tinha escolhido ele, e que era pra ele ir pro meu quarto e me esperar, pra o Henry não ver que eu escolhi ele e se magoar. — explicou ela — Ai quando ele foi, eu cheguei pro Henry e disse exatamente a mesma coisa! E mandei ele pro quarto da Chloe me esperar. — declarou. — Ai eu peguei os dois no final! E eu disse pra os dois não falarem um pro outro que tinham conseguido ficar comigo, pra não magoar e tal. E os dois fizeram se sentindo um máximo! Mal sabe eles.
— Meu Deus... — Lorena comentou por fim e me olhou, rindo. Sorri de volta e sutilmente, me aproximei dela.
Ela não chegou mais perto, mas também não se afastou.
— Você vê que a genialidade tá no sangue, não é possível! — Chloe declarou, e fez um "toca aqui" com a Zoey. — Arrasou!
— Eu sei!
— Mas calma, com qual dos dois foi seu primeiro beijo? — Indagou Diana, confusa.
— Bem... Eu tinha tomado uns coquetéis naquele dia, então eu não sei ao certo. Mas tenho quase certeza que foi o Henry. — explicou — Mas pode ter sido o Mark também, sei lá. Bem, os dois acham que tiraram meu BV, então eu conto como se eu tivesse perdido com os dois mesmo. — deu de ombros.
— Entendi... — Diana parecia meio confusa, porém ria.
— Agora deixa eu girar! — pediu ela, animada, já se inclinando pro meio da roda. Ela pegou a garrafa e girou.
A garrafa parou de girar. Caiu em Zoey de novo, mas dessa vez ela perguntava.
— Chloe! — ela comemorou.
— Manda ver! — Chloe pediu, gesticulando. — Consequência!
— Ok, calma!
Zoey parou um pouquinho pra pensar, aproveitei o momento de foco nela e olhei pra Lorena. Ela também a olhava, esperando para continuar o jogo, decidi que era hora de fazer meu primeiro movimento. Leve, para que não a assustasse, mas mesmo assim seria melhor que nada. Então, como quem não quer nada, coloquei minha mão por cima da dela e virei meu olhar pra Zoey.
Já não estava mais virada pra ela, mas podia sentir que ela me olhava. Por alguns segundos, não obtive nada como resposta, quase que me arrependi.
Até que ela pegou em minha mão também, tentei disfarçar um sorriso.
— Já sei! — Zoey falou, por fim. — Eu te desafio a fazer o desafio da faca!
Chloe arregalou os olhos, animada, e foi correndo pegar a faca que seria usada para cortar o bolo.
— O que é o desafio da faca?! — Lorena perguntou, assustada.
— É aquele jogo que a pessoa coloca a mão assim. — ela colocou a mão no carpete, em demonstração. — e tem que acertar a faca entre os dedos. Tem uma musica e tudo.
— Ahn... Isso não é tipo, perigoso?! — questionou ela, incrédula.
— Sim, mas essa que é a graça! — Chloe respondeu. — E essa faca aqui nem ponta tem, cara, não tem nada de mais.
— Você tem certeza que isso é uma boa ideia?! — Lorena insistiu. — Sabe, com ponta ou sem uma faca é uma faca.
— Relaaaxe! — Chloe tranquilizou. — Não tem nada de mais não.
— Eu já ouvi falar nesse desafio ai, mas nunca fiz. — Comentei, por fim.
— Ué, porque não?! — Chloe perguntou, as duas mãos já completamente preparadas para aquela maluquice que estava prestes a acontecer. — É irado!
— Pois é, por que que você não faz também??! — Zoey perguntou, animada. — A gente arranja outra faca!
— 'Ta louca? Eu não! — respondi, dramaticamente — Eu toco guitarra, eu sou lésbica, não da pra eu perder meus dedos não!
Todas riram por um minuto, inclusive Lorena, que me encarou rindo por um segundo e apoiou a cabeça no meu ombro. As mãos ainda juntas.
E eu juro que eu tive que me segurar pra não ter um mini surto gay ali na frente de todo mundo.
— Muito bom! — Chloe comentou, recuperando o folego.
— Sim gente, o desafio! — Zoey falou. — Bora começar!
Zoey e Chloe começaram a cantar a musica e fazer o desafio, mas honestamente, não era nelas que eu estava prestando atenção.
Lorena estava apoiada em meu ombro, suas mãos acariciavam as minhas, a sensação era muito boa, mas eu queria mais. Confesso que tava tão gostosinho ela fazendo carinho em minha mão que deu até pena de soltar, mas mesmo assim o fiz. Desentrelacei minhas mãos com as dela e passei meu braço em volta da cintura dela, o que foi definitivamente bem melhor, mas ela não mostrou nenhuma reação.
Encarei-a, ela parecia assustada.
— O que foi?! — sussurrei baixinho para que só ela pudesse ouvir.
— Nada, ué — ela balançou a cabeça em negação, um sorriso tímido estampado em seu rosto. Na verdade, não conseguia diferenciar se aquela era uma risada tímida ou uma risada nervosa.
Conseguia sentir a vergonha em seu corpo, os ombros estavam meio tensos e ela evitava contato visual. Eu sempre tinha esse medo com ela, de ter passado do ponto, de deixar de ser a situação constrangedora fofa pra situação constrangedora desconfortável. Fiquei ponderando em qual das duas nos estávamos agora.
Até que de repente, ela chegou e um pouco hesitante, se aconchegou em meus braços. E dessa vez eu não consegui disfarçar um sorriso.
— O que foi que cê ta com essa cara?! — Lorena perguntou no meu ouvido, senti aquele lado de meu corpo arrepiar-se.
— Nada, ué. — respondi afinando a voz, com a melhor imitação que eu conseguia dela. Ela riu.
— Idiota. — ela falou sem sair som. Sorri pra ela, ela sorriu de volta e chegou ainda mais perto de mim, se é que aquilo era possível.
Naquele momento, minha animação estava absolutamente incontida. Tava dando certo, finalmente tava acontecendo.
Notei que Tiffany me encarava, se Chloe e Zoey não tivessem esfaqueando as próprias mãos, com certeza estaríamos chamando muita atenção. Ela balançou a cabeça em aprovação, discretamente.
— But all the same we play this game because it's so damn fun! — Chloe cantava, entusiasmada. — Ohhh I have all my fing... AHHHH!!! — Ela gritou quando a faca atingiu seu dedo do meio. — CARALHO!!!!
Eu e Lorena nós desvencilhamos com o susto e chegamos mais perto para ver o que tinha acontecido, olhei pro dedo dela e não havia nem sinal de sangue, me tranquilizei. A faca era sem ponta mesmo, imaginei que fosse só o impacto. Zoey ria freneticamente, o resto parecia assustado.
— Machucou?! — Diana perguntou, pegando a mão dela.
— Eu sabia que isso era uma péssima ideia! — Lorena reclamou.
— Calma... Ai!! — gemeu Chloe — Machucou né, mas não tá sangrando nem nada. Mas que porra, viu?! — ela balançou a mão e assoprou. — Bem... — ela observou a mão, segurando o dedo. — Espero que pelo menos fique uma cicatriz da hora.
— Não vai, o machucado nem abriu. — Lorena explicou.
— Aff... — Chloe reclamou. — Mas tá, o show deve continuar. Pega a garrafa ai!
Não pude deixar de me sentir frustada, o susto tinha feito com que eu e Lorena nos desvencilharmos, e nem tinha sido nada de mais. Agora eu tinha que voltar pra estaca zero.
Mas pra minha surpresa, Lorena se aproximou e voltou para mesma posição que estávamos antes como se nada tivesse acontecido. Ela se ajeitou, a cabeça novamente sobre meu ombro, coloquei meu braço de volta em suas costas, dessa vez um pouco mais perto de seu quadril.
Acariciei de leve a cintura dela, e passei os dedos sorrateiramente por debaixo de sua blusa. Nada de muito absurdo, minha mão não saiu muito de perto de sua cintura. Mas senti o corpo dela estremecer com o toque de minha mão sobre sua pele nua, ela olhou pra mim, deu um sorriso tímido. Uma animação incontida atravessou meu corpo, a cada gesto que fazíamos, por mais simples, parecia que estava mais perto do momento certo de beija-la.
E eu mal via a hora daquilo finalmente acontecer.
— Ô pombinhas! — Chloe me interrompeu. — Olha o jogo aqui! É sua vez, Jade!
— E arranjem um quarto, pelo amor de deus. — Tiffany reclamou, incomodada.
Olhei em volta dramaticamente.
— Bem, isso parece bastante com um quarto pra mim. — dei de ombros — Mas ta... — Observei a garrafa, realmente era minha vez, e quem perguntava era Tiff. Arregalei os olhos, animada. Acho que era agora. — Consequência!
Tiff me olhou meio confusa, virei com os olhos discretamente para o lado em que Lorena estava, tentando indicar o que eu queria. Nos tínhamos conversado sobre aquilo no nosso dormitório, caso rolasse um verdade ou consequência, torci pra que ela lembrasse. Sua expressão confusa intensificou-se por um segundo, mas se desfez logo depois.
— Certo. Eu te desafio... — parou por um segundo. — Ahn..., ta. Eu te desafio a beijar alguém da roda.
A roda inteira ficou espantada, ninguém esperava por aquilo, eu que não sou idiota também caprichei na minha cara sonsa de surpresa, como se não fosse eu que tivesse sugerido aquilo.
— IHHHH LORENA.... — Chloe disse.
— UHUUUUL!!! Cheslie!!!! — Zoey comemorou, batendo palminhas.
— Se deu bem, viu!!!!! — Chloe continuou.
— O momento que todos esperávamos, senhoras e senhores!!! — dramatizou Zoey. — Ou só senhoras mesmo, que seja!!
— O que é isso, cara... — Dei uma risadinha. Que drama absurdo, meu deus.
— Qual a necessidade dessa pressão, gente?! — Diana reclamou.
— Pois é! — concordei. — Essa gritaria toda por causa de um beijinho!?
— E ai?!??! — Zoey falou, provavelmente nem tinha prestado atenção. — Agora a gente quer saber, vai rolar ou não!?!? — se virou para a gente.
Olhei pra ela com um sorrisinho sugestivo para ver o que ela estava achando daquilo tudo.
E meu sorriso se desfez em segundos ao ver como ela estava.
Ela estava com os olhos arregalados, olhando pro chão, a respiração meio alta e sua mão (ainda entrelaçada a minha) fria e tremendo um pouco. O nervosismo era nítido. Cutuquei-a na cintura para que ela olhasse pra mim, mas ela não olhou.
— Ei... — falei baixinho, virada pra ela. — 'Cê 'ta bem?!
— Vai logo, galera!!! — Chloe reclamou, impaciente.
— Beija, beija, beija!!!! — Zoey ovacionou.
Ela virou o olhar pra mim, engoli em seco. Seus olhos castanhos assustados não mentiam, e eles só me diziam uma coisa: Aquela não era a situação constrangedora fofa, em que ela negava porque tinha vergonha de admitir, aquela era a situação constrangedora desconfortável, onde ela negava e realmente não queria. Dessa vez era oficial, eu tinha passado dos limites. E eu não sabia como consertar. Merda.
Sua falta de resposta gerou um silêncio desconfortável, a roda inteira se encarou por um segundo, ninguém sabia o que fazer.
— Bem... — Chloe quebrou o silêncio — Se ela não quiser eu quero!
Levantei os olhos, assustada.
— Que?!
A roda inteira começou a rir, inclusive eu.
— Eai?! Topa?! — Chloe perguntou.
— Bora! — respondi, brincando.
— VAI DEIXAR, LORE?!?! — Zoey perguntou, provocativa. — Tão roubando sua mulher aqui na BEM NA SUA FRENTE!!
— Se ela não quer tem quem queira! — Completou Chloe, dei uma gargalhada.
— Porra, to podendo hein! — comentei. — Só vem, gatinha! — comecei a gesticular.
Todas começaram a rir.
— EU TO FALANDO SÉRIO, CARA! — Chloe continuou. — VOU PERDER UMA OPORTUNIDADE DESSAS?! BORA!! — Ela chegou mais perto, gesticulando.
Dei uma risadinha e passei o braço pelo ombro de Chloe, ela me olhou provocativamente. Engoli em seco. Acho que era sério mesmo.
Por mais que a ideia parecesse engraçada, não era aquilo que eu queria, ou melhor, com quem eu queria. Olhei pra Lorena, ela já não parecia triste. Ela parecia confusa.
Olhei sugestivamente pra ela e apontei meus olhos pra Chloe, como quem pergunta: Certeza que não prefere que seja você? Mas acho ela não entendeu o que eu queria dizer, porque ela só deu de ombros e fez um cara emburrada.
— Faz o que você quiser ué, eu não sou nada sua mesmo. — resmungou ela.
— Não, cara. — tentei me explicar — Você não....
— Já falei que você faz o que você quiser! — reclamou — Que saco.
Dei um estalinho com a boca, estressada. Porque ela tinha que ser assim? Então, frustrada e impulsiva, me virei pra Chloe e puxei-a para um beijo. Eu e ela não eramos nada mesmo.
Nos beijamos por alguns segundos, sinceramente, foi meio ruim e tal, mas eu tava tao estressada que nem me concentrei nisso. Até que Chloe se afastou e começou a rir.
— Haaa! Meu deus quanta língua! — exclamou, rindo. Ri também. — Puta merda!
— Me respeita eu sou francesa, porra! — retruquei rindo, as meninas começaram a rir.
Talvez não tenha sido a ideia mais bem pensada, mas sei lá, eu tava com raiva. É sempre assim com ela.
— Ihhhh olha a cara da Lorena!! — indicou Zoey.
Olhei pra ela, agora já não estava mais emburrada, ou triste, estava irritada. Mas irritada mesmo, fazendo biquinho e sem nem olhar na minha cara, o ciúmes nítido, até cego vê. E cara, chamem de ego ou o que for, mas eu até gostei de ver ela meio puta com isso, agora da próxima vez ela pensa bem antes de fazer joguinho comigo.
— Continua o jogo! Não perde o pique não! — Chloe falou pegando a garrafa
Me aproximei de onde ela estava sentada, mas ela nem me olhou, tentei cutucar ela, mas ela virou a cabeça mais ainda pro lado contrário. Ela estava brava mesmo, confesso que achei engraçadinho até.
— Ei... — falei baixinho no ouvido dela.
— Olha, você não se atreva a falar comigo! — Reclamou, os olhos fuzilantes me encarando.
— Descuuulpa desculpa — falei com a voz arrastada — Ei, olha pra mim.
— Não quero! — rosnou, irritada.
— Jade! — Diana me chamou
Desviei meu olhar pra ela por um segundo.
— O que foi?
— É sua vez, você pergunta!
Olhei pra garrafa no chão, a tampa apontava pra mim, o fundo pra Lorena. Mas que momento conveniente, hein.
— Passo! — respondeu Lorena, sem hesitar. — Vou brincar não.
— Pooooorra, ela ficou brava mesmo viu, bicho? — Chloe comentou, brincando — Mas se preocupe não, não quero sua mulher não. Foi só um beijinho po, ela é toda sua agora.
— Pois pode ficar! — exclamou Lorena. — Não queria mesmo.
— Ahhh ta com ciumes é?! — perguntei, maliciosa.
— Você nem comece!
A roda inteira riu e resolveu continuar o jogo, mas a raiva dela também continuava. Esperei umas rodadas pra ver se a raiva tinha passado, mas aparentemente ela não queria conversa mesmo. Comecei a me arrepender, não tanto, mas um pouco. Será que ela ia realmente ficar sem falar comigo por isso?
Resolvi tentar outra coisa, botei minha mão no joelho dela bem de levinho, acariciei um pouquinho. Ela não respondeu, mas também não tirou. O biquinho não saia de seu rosto, a testa franzida intacta, as mãos bem longe da minha. Parecia que não era brincadeira.
— Como assim transar em piscina?! Água não lubrifica! — peguei a conversa pela metade, Tiffany parecia indignada.
— Sei lá, só deu vontade e foi mesmo. — Chloe deu de ombros.
— Serio, tipo, imagina a pessoa tem fetiche em asfixia e sei lá, começa a pedir pra você afogar ela? — reclamou — Estranho de mais, não da.
— Na hora cê nem lembra. — explicou — Porra, bateu uma vontade de ir numa piscina agora.
— Achei que você ia falar: bateu uma vontade de transar agora.
— Também. — comentou Chloe, comecei a rir. — Mas serio, será que não tem uma piscina aqui não?! A gente podia invadir.
— Seria massa! — Zoey completou.
— Acho que tem uma aqui na Brown. — Diana comentou — Só não sei onde fica.
— Gente, e se a gente fosse??? — indagou Chloe.
— Eu não sei nem nadar — Lorena resmungou baixinho, mas não o suficiente pra a roda não ouvir.
— Você não sabe nadar?!? — Indagou Chloe, incrédula. — Como assim?! Não, agora a gente tem que ir!
— Pois é!!!! — concordou Zoey
— É aniversário dela, cara, deixa ela escolher. — falei
— Né?! — Diana continuou — Caraca, vocês são chatas viu. Já gostam de fazer uma pressão.
— Ahhh não enche Diana! — Chloe resmungou — E ela nem liga, ela também quer ir! Não é, Lore?! — ela se virou pra Lorena
Ela não parecia muito satisfeita com a situação, evitava contato visual. Apenas deu de ombros.
— Sei lá, tanto faz. — respondeu — Mas qual a graça?! Eu nem tenho biquíni...
— Isso não é problema! — retrucou Zoey — Eu te empresto um! — a ruiva levantou, prestativa, e foi até sua comoda. — Aqui, tem um maiô amarelo que ia ficar bonitinho em você! Vamos! Porfavooooor... — Suplicou ela
Lorena suspirou, e revirou os olhos.
— Ta bom, tanto faz.
— Isso! — Zoey comemorou aos pulos
— Pronto! Agora vai todo mundo buscar suas roupas de banho que eu vou procurar saber dessa piscina! — Concluiu Chloe, andando até a porta. — Ah! só mais uma coisa. — ela se virou pra Lorena antes de sair — Tem problema chamar o PJ? Acho que ele sabe onde é a piscina.
— Tá, tá bom. — ela respondeu, sem muita vontade própria.
Chloe bateu a porta e todas foram pegar suas roupas de banho. Zoey, a mais rápida, entrou no banheiro primeiro e saiu ligeira em direção a prima.
— Todo mundo se encontra lá no dormitório do PJ, onde a Chloe ta, OK?! — explicou antes de sair, assentimos.
Lorena se levantou rápido, pegou o maiô e correu até o banheiro, batendo a porta com força. Tiff tinha ido ao nosso dormitório pegar a roupa dela, pedi pra ela pegar a minha também, me encostei na parede, esperando. Diana mexia nas roupas impaciente.
— 'Ta aqui, em algum lugar... — resmungou baixinho
— Ei — chamei-a, ela virou-se rápido. — 'Cê tem alguma roupa especial pra piscina ou sei lá?
— Sim Jade, se não não tava procurando. — respondeu, grossa, ainda remexendo na gaveta.
Fiz uma careta, que gratuito.
— Ei... 'cê ta brava comigo?! — indaguei, confusa.
Ela suspirou e virou-se pra mim, irritada.
— Como que você faz isso com ela assim?! — reclamou — Achei que você gostava dela!
Fiz uma careta.
— Que?! Claro que eu gosto dela! — reclamei.
Ela revirou os olhos.
— Ela mal se assumiu e você já quer fazer ela te beijar na frente de todo mundo como se não fosse nada! — explicou. — É aniversário dela e TUDO que aconteceu até agora foram outras pessoas decidindo tudo por ela! Claro, pra você que é assumida é fácil falar, mas nem todo mundo é como você, sabia?!
— Mas não é culpa minha, Tiffany que falou a consequência! — rebati contrariada, cruzando os braços.
Ela revirou os olhos.
— Não me trate como se eu fosse idiota, eu vi você olhando pra Tiffany. E o jeito que a Chloe e a Zoey agiram, foi combinado também?! — cruzou os braços — Sinceramente, Jade, eu vi vocês duas se abraçando, dando as mãos e etc. Se fosse rolar, ia ser naturalmente, por que cê tinha que forçar e fazer essa pressão desnecessária?! E beijar a Chloe pra fazer ciúminho?! Francamente, quantos anos você tem, 12?!
— 'Tá bom, desculpa! — respondi, na defensiva. — Sei lá, eu só gosto dela. Não achei que eu era um monstro por querer um beijo.
— Não, você não é um monstro. Olha... — Diana continuou, suspirando — É que... É mais complicado que parece, digamos que ela deixou umas coisas mal resolvidas no passado. — explicou. — Mas acredite, ela gosta de você, ela te quer, até demais. — Diana deu uma risadinha, ri também — Só... de tempo ao tempo, aposto que as coisas vão ser mais naturais e divertidas assim. Tenho certeza que vai dar tudo certo. — explicou, por fim. — Além de que é aniversário dela, e tudo que aconteceu até agora foi as pessoas pressionando ela a fazer coisas que ela não queria.
— Realmente. — Dei de ombros, parando pra analisar, nada foi decidido por ela. — E.. Valeu, eu acho. — respondi, movimentei a cabeça pra tirar uma mecha de cabelo de meu rosto. — Mas cara, essa eu vou guardar pra sempre: Acho que sou a primeira pessoa que te estressou na vida! — Diana deu uma risadinha.
— Pode ter certeza que não.
— Mas... Acho que eu entendi o que eu quis dizer.
— Bem, desculpa ter me estressado. — suplicou ela — Mas é que é aniversário dela, e eu não queria que ela tivesse ficado do jeito que ela ficou.
— Parece que ela é importante pra nos duas então — Comentei.
— O que eu posso dizer? — Diana respondeu — Acho que é minha melhor amiga.
— Com certeza é. — Dei um sorriso, ela retribuiu.
E de repente, Lorena abriu a porta do banheiro, já vestida com o maiô.
— Bem... Vou indo me trocar. — Diana falou, entrando no banheiro segurando seu traje de latex. — A gente se encontra lá!
Ela bateu a porta, nos deixando sozinhas ali no quarto. Um silêncio constrangedor pairou entre nós.
— É... me desculpa. — interrompi o silêncio, dando meu braço a torcer. — Por... Cê sabe, ter beijado a Chloe.
Ela revirou os olhos.
— É, tanto faz. — deu de ombros. — Talvez você devesse fazer uma musica pra ela também, sabe? Pra não esquecer esse momento nem um pouco desnecessário que vocês tiveram na frente de todo mundo.
Dei uma risadinha abafada.
— Calma, lobinha, foi só um beijo! — expliquei, me aproximando. — Foi só um deslize, não vai acontecer de novo.
— É. — debochou. — Mas meu deus, hein?!
Me aproximei mais ainda dela, seu corpo paralisou com a aproximação do meu, dava pra ver de longe.
— Tudo bem, eu pedi desculpa, acho que você me perdoou. — falei. — Mas você vai ter que admitir, se você ficou irritada, é por que você ficou SIM com ciúmes!
Ela balançou a cabeça em negação, rindo.
— Ok! TALVEZ eu tenha ficado com um pouco de ciúmes sim. — ela suspirou, me olhou com ambas as sobrancelhas arqueadas. — Satisfeita?
— Completamente — sorri, maliciosa. — Mas eai... — me aproximei, passando meu dedo sobre seu ombro. — Talvez a piscina realmente tenha sido uma boa ideia, tá quente aqui nesse quarto... — me abanei com a mão, ela olhava pra mim confusa. — Ah! Ou talvez seja só você nesse maiô mesmo.
Ela revirou os olhos e bufou.
— É o fogo do inferno queimando em você. — declarou, na ponta da língua.
Sinceramente? Fiquei boquiaberta, não sabia nem o que dizer.
— Meu deus... — dei uma risadinha.
— Bem, melhor irmos logo. — Ela deu de ombros, pegando uma toalha em cima da cama e indo em direção a porta, ela se virou e olhou pra mim antes de sair. — E vá botar seu biquíni logo, mas cuidado. — ela deu uma risadinha. — Vai que fica quente demais no seu quarto também.
Olhei pra ela, em choque, ela sorria orgulhosa. Dei uma risada abafada.
— Por que a surpresa? — perguntou, ainda rindo. — Aprendi com a melhor!
Sorri, estava impressionada, pra falar a verdade. Olhei pra ela saindo por aquela porta enquanto me deixava ali com cara de tacho.
Parece que realmente era mais divertido quando acontecia naturalmente, afinal.
• • •
Fomos até o prédio dos dormitórios masculinos, um lugar pouco explorado por todas nós, pra falar bem da verdade. É engraçado que mesmo com tantas liberdades de uma vida de um jovem adulto, uma garota querer ir pra um quarto de um garoto sempre será uma burocracia. Não que isso algum dia tivesse sido um problema pra mim, particularmente, já que eu não tinha interesse em passar noite na cama de homem algum. Mas quando Tiff namorava com Tony era sempre essa palhaçada. Como se toda mina que fosse pro quarto de outro garoto fosse pra transar, como se não desse pra nós mulheres fazermos a mesmíssima coisa no nosso dormitório.
Enfim, Chloe, já mais acostumada que eu a passar por aquelas corredores, subornou um dos fiscais e garantiu nossa travessia. Esperamos todas amontadas na porta enquanto Chloe batia.
— Não venha com essa merda não, você sabe bem que essa é MINHA parede! — ouvimos uma voz berrar do outro lado da porta. Encarei Chloe, percebemos que a porta estava encostada, resolvemos entrar.
— Já te falei... Preciso melhorar as energias desse quarto. Não tá me fazendo bem. — Tony falou enquanto colocava um poster motivacional em cima de um poster do filme "V de vingança".
— Pois melhore as energias pro SEU lado da parede! — PJ retrucou, irritado. — E você não ouse cobrir meu poster de Panic At the disco, se não vamos ter problemas por aqui!
Eles notaram nossa presença, enfim. Param um segundo.
— Jade? Chloe? — PJ perguntou, confuso. — O que vocês tão fazendo aqui?!
— Bem, agora que a gente chegou no meio da briga, preferimos ouvir o que está acontecendo primeiro. — Chloe sugeriu, rindo. Ele revirou os olhos.
— Esse IDIOTA aqui ta tentando acabar com minha parede! — explicou, gesticulando. — Sendo que a parede dele é pra lá! Esse combinado existe tipo, desde que a gente entrou aqui.
— A energia desse quarto tá uma merda com esse tanto de poster. — Tony reclamou, colando uma das pontas de um cartaz sobre meditação na parede. — Minha madrinha do AA mandou eu me livrar de tudo que pudesse atrasar meu caminho e minhas energias.
— Espera, espera, espera... — Tiffany, que ouvia junto as outras meninas do outro lado da porta deu as caras. — AA?
— É. — Tony concordou. — Eu tenho ido pra reabilitação, agora to no AA. Minha madrinha ta me ajudando... Acho que to melhorando.
Tiffany o encarava boquiaberta, ele sorriu, ela continuou parada assim por uns segundos. Engoli em seco, espero que ele não esteja fazendo isso só pra ela voltar com ele, e depois volte a usar, como sempre.
— 'Tá, então faça essa merda na SUA PARTE DA PAREDE! — PJ queixou-se, gesticulando fazendo seu cabelo sobre os olhos voar por um segundo e depois voltar pro lugar.
— Achei a briga idiota, sinceramente. — Zoey deu de ombros, entrando no quarto.
— Porra, veio a tropa toda, é?!
E nesse momento, Lorena e Diana também entraram, revelando todas que aqui vieram. Eles nos olharam confusos.
— Por que os biquínis?! — Tony perguntou, franzindo a testa. — E que porra é essa que cê ta usando, Diana?
Diana revirou os olhos.
— Vai se ferrar.
— Afinal, o que vocês vieram fazer aqui?! — PJ cruzou os braços.
— Ok, eu explico. — dei de ombros. — Bem, é aniversário dessa gatinha aqui. — passei o braço pelo ombro de Lorena e puxei-a um pouco pra perto, ela sorriu tímida. — E a gente descobriu que ela não sabe nadar! Então a gente teve a ideia genial de tentar ir na piscina da Brown e mostrar pra ela.
— A piscina da Brown tá fechada, só com autorização... — ouvimos uma voz baixa do outro canto do quarto.
Viramos meio confusas para ver de onde tinha saído aquela voz. Na cama de baixo da beliche, com um notebook em seu colo e um olhar assustado, estava um garoto: O cabelo escuro bagunçado, a pele pálida e a luz da tela refletindo sobre seus óculos de grau deixavam sua aparência nerd ainda mais engraçada. Ele se encolheu ao ver que tantas pessoas o encaravam.
— Quem é você?! — perguntei.
— Eu... Sou o Robbie. — respondeu, intimidado.
— Nosso colega de quarto. — PJ explicou. — Da um oi, Robbie. — ele acenou pro menino, que acenou de volta.
— Bem, olá, Robbie... — Chloe se apresentou e se sentou do lado dele na cama, o olhando sugestivamente. — Meu deus, como nunca te vi por aqui?!
Ela sorriu, arqueando uma das sobrancelhas, o garoto corou. Lorena me olhou confusa, dei uma risadinha e dei de ombros. Joga fácil demais, meu deus. pensei. É das minhas.
— Mas como assim, explica isso da piscina de novo. — Chloe pediu, apoiando o braço em seu joelho.
— É... — ele começou, desviando do olhar dela. Ela só faltava o comer com os olhos. — A Brown tem sim uma piscina, mas ela não é recreativa, é pra cursos específicos. — explicou, se ajeitando e puxando sua blusa de Doctor Who pra baixo. — Da pra entrar, mas tem que pedir chave... É todo um processo.
— Ah... — Lorena falou, frustrada. — Então acho que não dá, né.
— ...Ou a gente pode ir pra praia!! — Chloe sugeriu, animada. — Tem uma aqui pertinho, da pra ir a pé. — Contou. — Já ta todo mundo com traje de banho mesmo.
— Quer saber? Essa é uma ótima ideia. — declarei.
— Pois é!!! — Zoey concordou
— O que você acha, Lore?! — Diana perguntou, parecendo a única realmente preocupada com sua vontade ali.
Lorena apenas assentiu, talvez a praia seja ainda mais legal que a piscina, afinal. A vibe é outra.
— Tá decidido então! — Chloe se levantou, animada. — Então, vem, Pj?!
Ele deu de ombros.
— Pode ser, eu bem que podia usar um pouco de uma vibe praiana agora.
— Eu posso ir também?! — Tony perguntou, se intrometendo.
Um silêncio constrangedor pairou sobre nós, nos encaramos, foi totalmente esquisito. Ele pode ta nesse projeto de reabilitação e essa merda toda... Mas depois de tudo que ele causou, como poderíamos deixar ele ir com a gente?!
— Pode sim. — Lorena se pronunciou, surpreendendo a todas. Olhei feio pra ela, sem entender. — O que foi?! A bíblia fala sobre perdão, todo mundo merece uma segunda chance.
— Obrigado! — Tony falou, com uma felicidade atípica a persona dele. Foi pegando umas roupas em uma das comodas.
— Cara... Por que você não vem também?! — Chloe falou, se virando pra Robbie. Sua cabeça recuou um pouco em seu pescoço, parecendo uma tartaruga.
— Eu?!
— Você mesmo! Vai, vai ser legal!! E você, gatinho. — ela sorriu maliciosa. — Ainda precisa me ajudar a entender como que eu não te vi por aqui até agora. — ela passou os dedos pelo ombro dele.
Ele riu, tímido. Assentiu.
— Tudo bem...
— PRONTO! — Chloe deu uma única palma, olhando em volta. — Todas as presenças confirmadas. Se arrumem ai, a gente espera por vocês lá no portão da Brown, ok?
Eles concordaram e foram vestir suas roupas, saímos todas do quarto, animadas com as novas presenças e nosso novo destino naquela noite. A maioria das garotas desceu mais rápido, acabou que ficou só eu e Lorena por ali, andando em uma velocidade normal.
— Não é estranho que era pra ser só a gente no meu dormitório e agora é tipo, todo mundo indo pra praia? — Lorena falou, enquanto descíamos as escadas.
— Pois é.
— Será que vai ser legal? — Ela perguntou, apreensiva. — Tipo, foi legal até agora, mas será que vai continuar assim agora que a gente tá fazendo uma coisa completamente diferente?!
— Ah, Lobinha... — abri um sorriso. — Até agora foi bacana, concordo. Mas eu tenho um pressentimento, agora que as coisas foram em outra direção... — me virei pra ela, ela me encarava fixamente. — ...Que a verdadeira festa está só começando.