Ensina-me amar

By alinemoretho

535K 62.3K 11.1K

Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Vinte e Um: Pai

5.4K 858 344
By alinemoretho

"Como assim ele me trataria como uma irmã?" eu refletia aflita enquanto observava Victor retirando o bebê-conforto com Mabel do carro e mais outras tralhas necessárias.

Tentei suprimir meu ressentimento, mas foi impossível. Minha burrice em nutrir todas aquelas esperanças por Victor quando ele não queria saber de mim como algo além de mãe de sua filha era sem tamanho.

Como eu podia ser capaz de agir de maneira tão inconstante em minhas perspectivas referentes a Victor? Em um dia eu o odiava, no outro já não tinha certeza de mais nada. Será que jamais haveria acordo entre meu coração e meu cérebro?

"Não posso forçá-lo a me amar. Se ele deseja apenas me ter como uma irmã, então assim será" decidi, sem conseguir suprimir a dor martelando o meu coração.

— Ouviu, Sarah? — Victor perguntou me surpreendendo com sua repentina aparição em minha frente. — Está em outro mundo? Ficou séria de repente.

Balancei negando aquelas acusações, embora elas fossem verdadeiras. Eu realmente me encontrava em outro mundo, procurando em minha mente como fui permitir me aproximar tanto de Victor outra vez.

Não, eu não queria estar sentindo aquela inquietação e odiava ver meu corpo reagindo aos toques de Victor como se eu fosse uma uma bomba prestes a explodir e incendiar tudo.

"Agir como irmã. Você precisa agir como irmã, Sarah" pensei e logo em seguida fui tomada por uma angústia. Meus desejos deviam ser contidos antes que fosse tarde demais.

"Maldito coração" praguejei irritada e em uma oração rápida pedi o auxílio do Senhor.

— Pegou tudo? — questionei ignorando minhas próprias lamúrias internas.

Victor ergueu as sobrancelhas e sorriu, me deixando confusa.

— Foi isso que acabei de te perguntar — informou e eu rapidamente fiz uma checagem rapida, contando as bolsas carregadas por mim e cadeirinha em suas mãos.

— Oh! Creio estar tudo aí — respondi sem graça.

— Vamos entrar. Minha avó já deve ter ouvido o som do motor e...

Como se estivesse prevendo, a porta da frente daquela casinha simples abriu-se revelando a querida Dona Rita. O sorriso dela ao nos ver parados na entrada de sua casa foi de uma orelha a outra e ela logo tratou de se aproximar o mais rápido que suas pernas curtas lhe permitiram.

— Graças a Deus vocês chegaram! Eu já estava preocupada — disse a senhora de um modo dramático.

A doce avó não mudara muito desde quando a vi pela primeira vez no jantar onde fui apresentada a alguns dos familiares de Victor. Ainda permanecia adorável com sua alegria contagiante e o jeito simples de vestir-se, a saber, um coque no centro da cabeça, uma saia longa e os chinelos confortáveis no pé.

A mente foi invadida pelos momentos de conversas entre ela e eu, e inevitavelmente acabei recordando dos inúmeros conselhos recebidos. Como uma mulher sábia e experiente, Rita reconheceu muitos pontos inadequados em um namoro entre duas pessoas que se denominavam cristãs e não se privou de me procurar isoladamente naquele dia a fim de me alertar quanto a intimidade crescente entre seu neto e eu. Se ao menos parte de mim tivesse levado em conta aquelas admoestações, muitas coisas seriam diferentes. No entanto, em minha rebeldia juvenil preferi ignorá-la e atender as vontades da minha carne.

— Passamos por um pequeno engarrafamento, mas nenhum motivo para fazer alardes, vovó — contou Victor e mal terminou de fechar a boca quando foi enlaçado pelos braços gordinhos da senhora.

— Quantas saudades do meu leãozinho. — Ela salpicou beijos nas bochechas do rapaz, obviamente constrangido. Eu não segurei a risada quando ouvi aquele apelido e acabei me divertindo as custas do rapaz.

— Já chega, vó! — Victor riu e se afastou com delicadeza. — A senhora está me envergonhando na frente da Sarah — brincou e por isso teve sua orelha puxada. — Aí!

Dona Rita deixou o neto massageando o local onde fora antigido pela punição e com a menção do meu nome, ela encontrou um novo alvo para as suas excessivas demonstrações de afeto.

— Oh, Sarah! Há quanto tempo não nos vemos.— Ela acariciou meus cabelos maternalmente. — Está tão bonita, não concorda Victor?

Lancei um olhar inquisitivo em direção ao rapaz e o vi sorrir embaraçado.

— Linda — ele murmurou e eu corei.

— Você está bem, querida? A viagem foi tranquila? Está com fome? Eu nem acredito que aceitou meu convite! — a senhora falou bem rápido, eu quase não pude acompanhá-la.

— Estou bem — respondi tímida e esbocei um leve sorriso. — E agradeço o convite. A senhora sempre me tratou com muita dignidade.

— Oh, querida! Sua doçura só me faz pensar em quanto me entristeci com a notícia do término abrupto entre você e o Victinho. — A mulher olhou para baixo e conseguiu me deixar desconfortável com aquele comentário. —  Quando nos conhecemos e conversamos, eu gostei muito do seu jeito simples e tive grandes esperanças de ver meu neto se casar com uma moça de boa índole. — Mirou meu rosto e esboçou um um sorrisinho. — Posso estar agindo como uma insensata, mas ainda acredito em um grande recomeço.

Um tremor passou por minhas vértebras em resposta ao grande choque. Eu não sabia se deveria alertar dona Rita a não imitar meu exemplo e nutrir expectativas, ou deixá-la perceber por si mesma como nada além de amizade haveria entre o Vic e eu. 

Para o meu alívio, o rapaz de quem falávamos percebeu minha inquietação e tomou a prudente decisão de vir ao nosso encontro.

— Vovó, a senhora não quer conhecer sua primeira bisneta? — Victor sondou e aproximou-se ainda mais de nós duas após retirar a bebê do bebê-conforto. — Essa é Maria Isabel.

Ao colocar os olhos sobre a ovelhinha, a bisa tomou um grande susto e segurou o ar por alguns instantes enquanto deu alguns passos em direção ao neto, com extrema cautela.

— Ela é linda, não é? É tão esperta também — comentou Victor com o peito estufado de tanto orgulho pela cria. — Eu ganhei um tesouro incalculável.

Dona Rita pareceu a beira das lágrimas quando virou-se brevemente em minha direção.

— Posso pegá-la, querida? — ela pediu minha autorização e eu achei isso muito respeitoso da parte dela.

Pensei um pouco, olhei para Mabel com incerteza e quando percebi Victor me instruindo a conceder o pedido de sua avó, eu acabei concordando.

A senhora estremeceu no momento em que a pequenina foi para o seu colo e a abraçou com força. Mabel reclamou e ameaçou chorar, mas foi só sentir a presença de seu pai por perto que logo voltou a sorrir. Enquanto isso, a mulher mais velha se permitiu emocionar com aquele encontro.

Adiantei alguns passos até ficar ao lado dos dois e sorri ao ouvir Victor narrar como Mabel era parecida com ele em muitos aspectos, aos quais eu precisei discordar em sua maioria.

— Sarah, você vai me perdoar, mas ela lembra muito ao Victinho quando tinha a mesma idade. As bochechas, o nariz, os lábios avantajados são iguaizinhos — observou a avó, causando em mim uma ponta de ciúmes materno. — Os olhos são muito parecidos com os seus, Sarah. Na verdade, eu vejo uma mistura perfeita.

Fiz uma mesura com a cabeça.

— Está dizendo isso para agradar a nós dois — brinquei e ela negou prontamente. — Ela é minha cara, pode admitir — vangloriei-me.

Como esperado, Victor revirou os olhos e riu.

— Só não digo nada porque você está certa — ele murmurou e eu achei sua atitude fofa.

Mostrei minha gentileza dando rápidas batidinhas nas costas largas do rapaz.

— Ela herdou sua inteligência e também aquela manchinha em formato de uva no...

— Informação demais, Sarah — cortou-me Victor e tanto eu como Dona Rita nos divertimos as custas do pobre doutor.

— Lembro-me de beliscar essa manchinha quando você aprontava e roubava a loção pós-barba do seu avô, usando-a não só no próprio rosto como também na sua irmã e as bonecas dela — revelou e eu gargalhei com aquela informação comprometedora o suficiente para deixar Victor vermelho.

— Podemos entrar agora? — ele desconversou embaraçado e quando a avó assentiu, nós a seguimos pelo curto caminho enfeitado de ponta á ponta com canteiros de flores de várias espécies e perfumes.

Subimos as escadas de uma delicada varanda que nos levou ao interior da casa, especificamente a sala. Fiz uma comparação mental com todo o luxo ao qual contemplei na gigantesca casa dos Ferraz em Santa Fé. Com dona Rita, tudo era tão simples e modesto. Tanto os quadros na parede, quanto a estante repleta de livros e enfeites, destoando drasticamente com o sofá, cuja capa era tecida de retalhos. A fragrância de rosas misturado ao delicioso aroma de comida fresca, me trouxeram um sentimento gostoso de fome e nostalgia.

A senhora enérgica primeiro nos levou até um quarto simples onde deixamos as coisas da bebê em segurança. Ela nos deu algumas instruções contando onde ficavam os banheiros e artigos de higiene que poderiam ser úteis em nossa curta estada em sua casa. Depois foi conosco até a cozinha, me entregou Mabel, a fim de deixar as mãos livres para finalizar o almoço. 

— Filho, vá chamar seu avô nos fundos. Ele está assando carnes e não deve ter se dado conta da chegada de vocês. João Carlos está ficando cada vez mais surdo — ela pediu ao neto enquanto ele estava distraído brincando com a neném.

— Tudo bem, mas cuide delas, vó — pediu gentil, moveu o tronco de encontro ao meu, o que me deixou ansiosa, e depositou um beijo gentil na menininha elétrica, que se divertia mordendo com as próprias mãos. Antes de se afastar e sair ele sorriu com ternura para mim e eu precisei prender a respiração. Observei os passos dele até deixar a cozinha e me repreendi pelo excesso de sentimentos agindo sobre o meu corpo ao mesmo tempo.

Ao ficar sozinha com dona Rita, eu ofereci minha ajuda com os preparos da refeição, mas ela negou e me mandou ficar sentada. Ela insistiu tanto que não tive outras opções, senão obedecê-la prontamente.

Nós duas ficamos conversando sobre diversos assuntos, a maioria deles envolvendo o preparo de alimentos. Com o jeito acolhedor e simpatia dela, eu acabei me sentindo a vontade para revelar as dificuldades pelas quais passei enquanto morei sozinha, e como não podia me dar ao luxo de ter do bom e do melhor, principalmente porque todo meu dinheiro era direcionado para os cuidados com minha pequena. A senhora ficou muito comovida e até deixou a salada que estava preparando de lado apenas para sentar-se ao meu lado e oferecer seu apoio.    

— Sarah, eu sinto tanto por isso. Nenhuma mulher deveria ficar sozinha em um momento tão delicado quanto este. — Ela acariciou minha mão.

Forcei um sorriso e me obriguei a engolir o nó que se formava em minha garganta sempre quando eu entrava naquele assunto.

— Eu fui uma grande tola, dona Rita. Em primeiro lugar, fingia ser crente, mas não pensei duas vezes em desobedecer as leis de Deus e me entregar sem estar casada. Depois engravidei, fui embora e se eu não tivesse sido tão orgulhosa, teria procurado a ajuda de Victor, mesmo com uma humilhação iminente — confessei, reconhecendo meus próprios erros do passado. — Ainda assim, Deus teve misericórdia de mim e proveu nossas necessidades de uma maneira que a senhora se surpreenderia.

— O Senhor é gracioso, querida. Já experimentei essa graça inúmeras vezes durante essa longa estrada da minha vida — comentou e eu concordei com um manejo de cabeça.

— Era incrível... Quando o dinheiro apertava, Deus enviava pessoas para me ajudar. Alguns ofereciam algum emprego temporário, outros cestas básicas, mas nada nunca me faltou — relembrei emocionada ao contemplar tamanho cuidado do meu Pai Eterno para comigo e minha filha. Jamais seria capaz de compreender tamanha bondade. — No entanto, nos últimos três meses minha situação financeira foi só piorando. Todas as portas se fechavam e eu me questionei muitas vezes onde estava o meu Deus provedor. Foi então que...

— Ele te levou de volta a Santa Fé — ela concluiu com os olhos marejados.

— E reencontrei Victor — acrescentei, mesmo tendo consciência de como aquela parte fosse ainda um mistério pra mim dado as circunstâncias. — Talvez o Senhor tenha me trazido de volta para me ajudar a consertar meus erros com a minha família e com vocês.

Para minha surpresa, a mulher me arrebatou mais uma vez em um abraço e eu retribui o gesto acariciando as costas dela.

— Você e a bebê são bem-vindas a nossa  família — disse com muito carinho.

Aquelas palavras me trouxeram uma sensação de conforto e agonia, pois temi que aquela oferta estivesse apenas restrita a Maria.

— Ainda se Victor e eu não formos um casal? — ousei questionar e mordi o lábio, sentindo medo pela resposta.

Ela se afastou um pouco, cruzou os braços e afirmou com a cabeça.

— Independente disso, querida. Você é a mãe da nossa bisnetinha e cuidou dela com todo amor do mundo. Imagino o quanto deve ter sido duro ter ficado sozinha, mas isso acabou. Deus está te dando um lar — declarou convicta e eu senti uma imensa vontade de chorar. — E essa princesinha está ganhando uma bisavó muito disposta a mimá-la.

Segurei o ar e sequei meus olhos úmidos.

— Obrigada por nos acolher. — Sorri.

Dona Rita acariciou meus cabelos, girou os calcanhares e estava voltando para pia onde anteriormente preparava a salada quando notei um senhor bem alto e robusto entrando no cômodo segurando um prato cheio de carnes assadas.

— Cadê meu almoço, mulher? — perguntou forjando uma ira que fez dona Rita fazer uma careta. — Ainda não acabou? Quer matar seu varão de fome?

— João Carlos! Quer me calçar a cara de vergonha? Não notou nossas visitas? — ela rebateu e eu ri da cena dos dois. — Desculpe meu marido.

O homem deixou o prato sobre a mesa e veio em minha direção para me cumprimentar. Ele pareceu meio sem jeito ao apertar minha mão e se limitou a acariciar a cabeça da bebê.

— Deus abençoe sua vida, Sarah — desejou e eu fiquei feliz com a simpatia dele.

— Chega de papo! Vamos logo almoçar! Cadê o Victor? Preciso de ajuda para colocar a mesa — Rita já foi se projetando rumo aos armários e tirou de lá pratos, talheres e copos.

— Já está lá fora nos esperando. Pode deixar que eu levo — informou o senhor.

— Eu ajudo — propus, mas não me deixaram levar nada além da jarra de suco.

Apesar da humildade presente na maioria dos cômodos, o quintal nos fundos da casa era gigantesco. Havia um belo jardim, o projeto de uma piscina sendo construída e uma pequena área semi-aberta onde estava um forno á lenha. Foi inevitável imaginar um futuro não tão distante onde Mabel estaria correndo e bagunçando por ali. Aquelas imagens em minha mente encheram meu coração de alegria.

Victor cuidava de manter o fogo aceso e veio ao nosso encontro quando notou a minha presença e a de seus avós seguindo para mesa de madeira localizada no centro do quintal.

Bastou tê-lo por perto que o coração já começou a acelerar. Eu parecia uma adolescente boba, principalmente depois de ter o belo homem sentado bem ao meu lado.

Victor se dispôs a fazer uma oração em prol da refeição e eu não consegui nem fechar os olhos de tão admirada com palavras de tamanha fé e confiança na provisão de Deus. A admiração foi certeira, mesmo sendo aquele um gesto consideravelmente simples.

O almoço foi tranquilo e maravilhoso. A comida  estava deliciosa e precisei dividir minha atenção entre alimentar Mabel e rir das histórias hilárias de dona Rita e também relatos sobre as artimanhas de Victor na infância reveladas por Seu João Carlos. Por compaixão, não abandonei o médico e acabei contando algumas gracinhas de Mabel e suas artes as quais me deixaram de cabelo em pé constantemente ao decorrer de sua curta vida.

Depois disso deixei Mabel com o pai dela e fui ajudar dona da casa recolher os itens da mesa, me propondo a lavar a louça quando retornamos a cozinha, mesmo contra a vontade da anfitriã.

— Ela é uma fofura. Sempre sorri para todos, desde que não esteja com fome e tem uma estranha fixação por barbas — comentei rindo quando dona elogiou a simpatia da bebê. — Mabel é apaixonada pelo tio Coelho lá do Instituto e demonstra isso puxando a barba dele a ponto de quase arrancar. É uma menininha realmente muito perigosa.

— Josué, o amigo do Vic? — arguiu curiosa e eu confirmei. — Aquele menino é um charme. Quando o Victor o trouxe aqui pela última vez, ele fez a alegria das crianças da igreja. Será um marido e pai muito honroso e dedicado — elogiou e eu me impressionei com a capacidade de Coelho ser estimado por onde ia. — Foi meu neto que o apresentou?

— Sim e não. Ele estava com Victor quando o vi pela primeira vez, mas logo descobri o parentesco com uma senhorinha a quem eu amo muito e isso nos aproximou muito — informei alegre, e após enxaguar coloquei alguns pratos no escorredor. — Josué é um amigo excelente.

— E sua opinião sobre Victor? — questionou me pegando de surpresa. — Ainda tem sentimentos por ele?

Quase deixei cair um copo com o susto e automaticamente coloquei minha mente para maquinar uma boa resposta.

— Eu não tenho certeza — foi o que consegui dizer, mesmo sabendo como eu me sentia balançada por meu antigo amor.

Como que caindo em si, dona Rita sentiu-se mal e logo veio pedir desculpas pela intromissão.

— Sou uma velha curiosa e fico imaginando como seria bom se vocês se casassem e enchessem minha casa de criancinhas — falou e se repreendeu outra vez quando me viu sorrir constrangida. — Perdão, perdão. Pode deixar a louça. Vá chamar os rapazes para a sobremesa antes que eu a deixe ainda mais embaraçada.

Eu não me importei com aquilo, até compreendi até porque instantes antes, eu mesma imaginava as mesmas coisas. Porém, obedeci aos pedidos da mulher. 

Fui ao quintal, mas não encontrei ninguém e isso deixou um tanto ansiosa devido ao fato de não saber onde minha filha estava. Antes de sair para ir investigar outros cômodos da casa, observei a mudança repentina de clima. O céu azul de outrora, dava lugar para nuvens grosseiras, prenunciando grande chuva, tal como o vento cortante causando alguns arrepios em minha pele. Afastei-me dali com rapidez e voltei ao meu objetivo inicial.

Dei uma vasculhada na sala, na varanda, no jardim e até no banheiro do andar inferior. Cheguei a ponta da escada e já considerava subir quando uma voz grossa soando dos fundos me fez lembrar do lugar ao qual havia sido reservado para deixar as bolsas.

Segui pelo corredor estreito e cheguei ao quarto de onde o som vinha. Espiei pelo vão da porta e me deparei com uma cena de cortar o coração.

Victor estava deitado na cama com a cabeça apoiada no travesseiro portando um semblante triste, já Mabel dormia de bruços em seu tórax, enquanto ele acariciava o cabelo fino dela. Fiquei ainda mais emotiva quando percebi o que realmente acontecia ali.

— E eu me arrependo constantemente diante de Deus, por ter te deixado sozinha nesse mundo cruel. Você precisava de um pai e eu não estava lá. Por isso, eu te peço perdão, minha linda menina — sussurrou com a voz embargada e os olhos inundados por lágrimas. — Você não sabe, mas eu já a amo profundamente e nunca mais te abandonarei. — Dobrou os lábios em um sorriso desanimado. — Pretendo ser um pai extremamente dedicado. Vou te ensinar a andar, fazer seus curativos se você cair e também enxugar seus olhinhos, te dar abrigo em meus braços, isso enquanto eu viver. E quando se tornar uma bela moça como a sua mãe, eu serei um guarda eficiente do seu coração. Prometo pedir aulas de luta ao seu tio Coelho, assim vou afastar todos os idiotas que quiserem te usar. — Ele aconchegou Mabel quando ela se mexeu. — Mas, oro pra que você encontre um rapaz piedoso e me dê a honra de te acompanhar até o altar. Esse será o dia mais feliz de toda a minha vida.

Quando Victor fechou os olhos, eu me afastei daquele lugar e me tranquei no banheiro mais próximo onde me permiti cair em prantos. Eu sabia que não deveria ter ouvido aquela conversa tão íntima entre pai e filha, mas aquilo foi o suficiente para confirmar todas as minhas dúvidas: eu ainda amava Victor.

Continue Reading

You'll Also Like

53.1K 1.8K 7
Analu sempre sonhou em ser policial, assim como seu pai que era supostamente um bom policial, mas na realidade pelas costas dela e era um policial co...
1.7K 284 26
Spin-off de Com amor, eu creio. |ROMANCE CRISTÃO| EM ANDAMENTO* O que acontece quando os planos são frustrados e as expectativas quebradas? Lohan Cla...
2.5K 90 20
Três mulheres, um homem e o poder de Sedução. Os relatos começam quando Mary Anne, se apaixona por um integrante misterioso de uma banda iniciante n...
2.6K 157 11
Elena e Stefan são dois amigos de infância que os se distanciaram aos oito anos de idade.Mas alguns anos se passam eles se encontraram e se apaixonam...