[Pulsos]

By DehPime

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Essa história não é para ser lida, só vivendo você vai entender. E se um dia seu pai saísse para trabalhar e... More

Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Pulsos II: [Inspire]

Doze

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By DehPime

É exatamente um sábado, que de acordo com a previsão da "garota do tempo" estará chovendo em poucas horas. Amanhã é o dia da minha audiência, onde provavelmente os pais e a querida Liviane vão querer me pôr em um sanatório. Estou em baixo de um chuveiro que derruba uma agua quente sobre meu corpo, enquanto penso no que a professora de Matemática disse.

"Será que eles vão acreditar nisso?" ... eu pensei muito e muito até chegar à conclusão que meu cérebro não funciona sobre pressão. E também que eles provavelmente não vão acreditar nisso e eu provavelmente serei considerada uma louca. Saio do banheiro e coloco uma roupa que consideramos para os dias mais frios.

Pego minha mochila e desço pela escada e olho para a minha mãe, seu olhar estava pesado e eu sabia que era por que a audiência está chegando. Ainda não entendo o porquê de tudo isso ... nos jornais passa direto notícias sobre brigas colegiais e nenhum dos envolvidos eram considerados loucos. Por que logo eu?

― Acha que estou louca? ― pergunto parada no fim da escada olhando para minha mãe que está espremendo laranjas.

― Não ― disse e percebo que ela estava tentando dar um sorriso, o que saiu mais forçado do que os meus quando perguntam se estou bem.

― Então não precisa ficar assim ― digo.

― Eu sei, Mand ― disse e olhou para mim parando de cortar a laranja. ― O problema é que isso torna as pessoas loucas.

― Eu não estou e nem vou ficar louca ― digo e ela balança a cabeça em sinal de "sim" ... mais possivelmente um "compreendo". Saio de casa, e vou para o colégio e para a mesma sala dos professores. Entro e vejo que a professora estava corrigindo algumas provas. Fico observando ela, até que ela tira os olhos dos papeis e olha fixo pra mim.

― Chegou cedo. ― Ela deu um sorriso. Sentei a sua frente tirando o caderno e a lapiseira junto com a caneta da mochila. A professora olhou pra mim novamente e depois guardou as provas em uma pasta.

― Vou te explicar um assunto novo. ― Ela foi até um quadro e começou a escrever e explicar algo que não conseguia prestar atenção. Eu estava com medo. E as palavras não saiam da minha cabeça nunca. "Por que só você tem uma versão diferente?", "Será que eles vão acreditar nisso".

― Acho que você não está em posição de escolher se quer ou não prestar atenção na aula ― disse e percebo que ela está me encarando.

― É que, sobre o que me disse ontem... ― Dei uma pequena pausa. ― Acho que não vão acreditar naquilo.

― Eu sei que não ― disse e se senta na cadeira a minha frente.

― O que devo fazer? ― pergunto antes mesmo de ter tempo de ela pronunciar algo. Eu não parecia desesperada ao me verem, mas eu estava, muito mais do que eu achei estar.

― Você tem duas opções, a primeira continue falando que a Liviane disse aquelas coisas e por isso bateu nela, sem nenhuma prova e a segunda, você concorda com eles e disse que pode ter uma possibilidade de ter entendido ela errado. Porém as duas tem consequências.

― E quais são?

― A primeira, eles vão achar que você está totalmente louca e vão te mandar para um sanatório ou eles vão fazer você ficar louca e acabar não acreditando no que realmente seu consciente disse ser verdade e vai acabar em um sanatório do mesmo jeito.

― Então a segunda é a melhor ― digo a interrompendo, mesmo nem ter deixado ela falar qual era a segunda, parecia impossível ser uma opção pior que a primeira.

Ela balança a cabeça negativamente.

― Calma ... bom, a segunda você estará admitindo que está louca, mas não uma louca fora de si. Afinal você admitiu que está "meio" louca. E te obrigarão a frequentar psiquiatrias. Na melhor das hipóteses, claro ― disse calmamente. As palavras dela me assustaram e me deixaram mais desesperada do que estava, das duas maneiras eu seria considerada louca. Eu não estou louca.

Sei que as vezes pareço uma com minhas maluquices, mas nada comparada a alguém fora de si que machucaria qualquer um a sua volta.

― Eu ... ― murmuro e abaixo a cabeça enquanto tento entender por que as coisas de ruim acontecem comigo.

― Vai dar tudo certo ― disse. ― Sabemos que você não está louca, certo? Isso que importa.

Levantei a cabeça e olhei pra ela, depois assenti.

― Agora, o que importa nesse momento é que você passe. Então é melhor prestar atenção.

Suas mãos se apoiaram na mesa e ela se levantou enquanto puxava seu pincel e ia até o quadro. Olho para ele e começo a prestar atenção em tudo que ela explicava. Logo depois ela passou umas atividades Avaliativas sem consulta... que eu considero prova, mas ela afirma que é uma atividade. Concordo com ela para não ouvir o que faz uma atividade ser uma atividade e uma prova ser uma prova. Termino e entrego pra ela e fico esperando ela corrigir.

Se a Anne estivesse aqui estaria achando tudo um máximo. Ela sempre dizia que queria ter um professor só pra ela. Sorrio ao lembrar disso e do jeito em que ela dava pulinhos quando estava empolgada.

― Poderia ter sido melhor ― disse a professora enquanto me olhava estranhamente. Ela pegou seu diário enquanto anotava algo, provavelmente minha nota. Fico com os olhos fixos nela enquanto espero que ela pronuncie algo. ― Bom... você ficou com nove e meio ― disse e percebo o sorriso em seu rosto, e logo em seguida os meus lábios se abrem em um também.

― Então eu passei? ― pergunto empolgada.

― Claro!

― Obrigada ― digo. ― Mesmo.

Abro minha mochila e coloco minhas coisas lá.

― Você mereceu, e boa sorte amanhã lá. ― disse enquanto sorria pra mim. Nesses dois últimos dias que passei com ela, eu percebi que ela não era aquela professora que eu achei que fosse quando entrou na sala. Não por ter me ajudado, ou por ter me esclarecido algumas coisas e muito menos por acreditar em mim. Mas por que ela realmente mostrou que não era aquela pessoa. Ela me deixou saber que não era aquela pessoa.

― Vou precisar ― digo e saio da sala cantando tentando libertar um pouco da minha felicidade. Saio do colégio e vejo o carro do Luke parado na entrada. E ele acena para mim ir até ele.

Seu olhar está bem concentrado em mim e percebo o quanto aquilo mexe comigo, o quanto Luke mexe comigo. Começo a andar para perto dele, assim que estou próxima o bastante suas mãos tocam minha cintura e ele me puxa para perto de si.

― O que foi? ― pergunto a um palmo de distância dos lábios dele.

― Podemos sair um pouco ― disse enquanto deixava um sorriso escapar. ― Afinal, amanhã vai para uma audiência. Não sabia que era tão agressiva. ― Ele ri-se e me beija. Me afasto um pouco dele enquanto luto não contra si, mas contra mim mesmo e minha vontade de beija-lo.

― Você tem namorada ― murmuro.

― Está falando da Jessica? Só namorei ela pra ela dizer aquelas coisas pra Megan― disse e me lembro do que ele fez com a Megan e o Marcus. Mas se a Megan o desculpou, quem sou eu pra não né?

― É ― digo. ― Mas Luke, é difícil. Você...

― Mand, você não precisa dizer nada ― disse me interrompendo. Suas mãos soltaram minha cintura e senti o toque de sua mão direita em meu pescoço. ― Você nunca precisou dizer nada ― murmurou. ― É só uma volta, prometo.

― Tudo bem ― respondi. ― Vamos para onde?

― Segredo.

Entramos no carro e ele arrancou. Estávamos em silencio dentro do carro, ele me olhava e dava um sorriso e voltava a olhar a rua. Não posso dizer que aquilo estava me incomodando, eu estaria mentindo, e eu não preciso mentir, não agora, não assim.

― Então... Já conheceu Londres? ― pergunta.

― Defina "conhecer Londres".

― Bom... Já foi ver o Museu Britânico? ― perguntou e parou o carro no semáforo. Seu olhar se encontrou o meu esperando uma resposta.

― Nem sabia que tinha isso. ― Dou um leve sorriso e passo a mão no meu cabelo enquanto tento disfarçar o nervosismo.

― Conhece algum lugar aqui? ― pergunta. Seu olhar se encontra ao sinal e novamente a mim.

― O shopping conta?

― Não acredito. ― Ele começou a rir. ― Vou ser seu guia turístico.

― Que honra ― digo olhando para os seus belos olhos verdes. Dessa vez quem olhou para o sinal fui eu, mas novamente olhei em seus olhos, não queria perder nem por um segundo perder o que eles transmitiam.

― Aproveite. Não é todo dia que aparece alguém assim como eu.

― Humilde? ― pergunto ironicamente.

― Não. ― Riu-se. ― Irresistível. ― Ele volta a andar com o carro e só ai percebo que o sinal já estava verde. Sorri.

Depois de alguns minutos ele para o carro e estaciona em um local, olhei para a construção a minha frente, haviam várias colunas pela frente toda e não sei distinguir a cor. Mas é inexplicavelmente lindo.

Comecei andar com o Luke e entramos no famoso "Museu Britânico".

― Esse é o British Museum, ele contém mais de 8 milhões de peças históricas de toda a humanidade. ― disse e eu olho ao redor a beleza daquele lugar. ― Ja pensou em olhar todas? Uma a uma ― perguntou e eu olhei para ele um pouco assustada e tentando imaginar algo como isso.

― Acho que eu enlouqueceria ― digo.

― Provavelmente.

Ficamos andando pelo gigantesco Museu e passamos por peças históricas incríveis.

― Agora, a melhor peça do museu, em minha opinião. ― Ele se aproximou de uma pedra cinza-escuro e com umas escritas parecida com egípcias. Não que eu saiba diferenciar os tipos de escritas. Mas em alguns livros que a professora de história mostrou, tinha uns textos escritos assim, o que eu não entendia nada, mas ela dizia que era egípcia.

― Uma pedra? ― pergunto.

― Não é qualquer pedra ― disse. ― É a Rosetta Stones.

― E? ― pergunto sem entender o porquê de tão importante. É só uma pedra, de 8 milhões de peças ele acha uma pedra a melhor?

― Nunca ouviu falar dela? ― pergunta me encarando.

― Não. ― Levanto minha sobrancelha esquerda, como se estivesse perguntando o porquê eu teria de saber.

― A Pedra de Roseta é um fragmento de uma estela de grano diorito do Egito Antigo, cujo texto foi crucial para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios. Sua inscrição registra um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade de Mênfis, em nome do rei Ptolomeu V. ― ele disse sem parar de apreciar a beleza da pedra.

― Se ela é do Egito. Por que está na Inglaterra?

― Tropas britânicas derrotaram os franceses no Egito, em 1801, e a pedra acabou passando para a posse do Reino Unido. ― Ele olha pra mim e percebe no meu rosto o espanto em ele saber tudo isso.

― Você está lendo isso em algum lugar?

― Devia? ― pergunta olhando para mim e eu desvio o olhar. Fico em silencio e ele segura minha mão.

― Vamos, vou te levar a outro lugar. ― As mãos deles não eram quentes, mas também não eram frias. E seu toque era suave. Saímos do Museu e voltamos para o carro. Olho para o meu celular e vejo que ja são 17 horas.

― Já está ficando tarde ― digo.

― Essa hora que é boa. ― Ele olha e liga o carro e conduziu pelas ruas. Eu não conseguia parar de olhar pela janela aquelas lindas construções. Ele parou o carro e de instantâneo olhei para a enorme roda gigante. Quando digo enorme é tipo enorme mesmo. Saio do carro sem tirar os olhos dela. Tentando entender como alguém fez algo tão grande.

― É linda né? ― pergunta. Olho para ele e assim como eu, estava olhando para a roda gigante. Me viro e o encaro enquanto sorrio.

― É perfeita.

― Isso por que você não viu lá de cima.

― Ha, há. Prefiro ver aqui debaixo mesmo ― digo enquanto rio.

― Serio? Não acredito que viemos aqui e não vamos dar uma "voltinha" nela. ― disse decepcionado.

― É que ... é muito alta.

― É a terceira maior roda gigante do mundo, pense pelo lado positivo. Existem duas maiores. ― Ele ri-se com o que disse. Dei um leve empurrão nele.

― Ajudou muito ― ironizo. ― Quanto mede?

― 135 metros de altura. ― disse como se fosse a coisa mais natural do mundo. Tipo, como alguém sobe nisso?

― Nem me pagando eu subo ― digo e ele leva sua mão para trás de minha costa e me puxa mais para perto de si.

― Você pode ver Londres quase toda lá de cima ― murmurou. ― O Palácio de Westminster, que abriga o Parlamento e o Big Ben.

― Tenho medo ― digo. ― Sério.

― É seguro ― disse e deixou um beijo no canto de minha boca. ― Nunca deixaria que algo acontecesse contigo. Eu sei que você sabe disso.

Levei minha mão em seu braço e o segurei, eu não sabia o que era isso, eu nunca senti isso antes. Mas agora que ele disse isso, eu sinto o meu corpo todo estremecer.

― Hum... Da para ver o Big Ben? ― pergunto enquanto meus lábios se abriam lentamente em uma respiração.

― Dá sim ― disse e ri, com o jeito que eu estava tentando não parecer nervosa.

― Então vamos, mas se aquilo cair e eu morrer, a culpa é sua. ― Rimos, e após ele me soltar fomos em direção a London Eye. Depois de esperar um pouco, entramos na capsula. Ela era transparente e totalmente fechada. E rodava lentamente dando a possibilidade de vermos tudo e a tirar fotos. Abracei o Luke, e ele me deu um beijo em meus cabelos.

― Olha ali ― disse apontando pra fora, me soltei dele e olhei para fora. O sol estava indo embora, dali de cima era tudo mais perfeito. Os braços de Luke percorriam minha cintura e o medo passava aos poucos. A "voltinha" durou 30 minutos. Foram 30 minutos perfeitos. Quando descemos eu não conseguia conter o sorriso. Voltamos pro carro e ele conduziu até em casa.

― Boa sorte amanhã ― disse suavemente.

― Obrigada por hoje. Foi perfeito. ― Dou um sorriso e aproximo nossos rostos e nos beijamos intensamente. O beijo que eu sempre desejava ao ver seus lábios. Um beijo quente e demorado. O beijo foi acabando lentamente, saio do carro e aceno um tchau com a mão e entro em casa. Visto que a porta estava aberta. Me deparo com a família toda reunida em frente à televisão.

― Cheguei ― digo alto o suficiente para todos ouvirem.

― Não se avisa que chegou se não avisou que ia sair ― disse minha mãe sem tirar os olhos da televisão.

― Desculpa mãe. É que não deu.

― É verdade. Se existisse celular nessa época daria de você ter avisado. ― Ela dá um sorriso enquanto me olha, me sento junto com eles.

― Estava onde? ― pergunta Megan baixo.

― Depois te conto. ― Dou um sorriso e olho fixamente para a televisão que passava o filme "Déjà Vu" se esse filme é bom? Sim... Incrível. Como ja havia assistido. Vou para a cozinha e janto, depois subo para o meu quarto e tomo um banho demorado. Afinal, mais pensava em como o dia foi ótimo hoje que tomava banho. Por umas horas, esqueci os problemas que tinha. E foi ótimo. E foi melhor ainda, por que o Luke estava lá, e eu gostava daquele Luke, eu o amava. Saio do banho enrolada na toalha e me deparo com Megan sentada na minha cama.

― Não devia ter uma chave de cada cômodo da casa ― digo.

― Não tenho mais. Perdi. E bom, você deixou a porta aberta ― disse e dá um risinho. Pego uma roupa, volto pro banheiro e coloco. Saio do banheiro secando o cabelo com a toalha que já estava completamente molhada.

― Pode me dizendo onde estava ― disse e eu deito na cama e começo contar para ela detalhe por detalhe.

g

Hoje pode se dizer que é grande dia, não o dia em que me formo em medicina ou em qualquer outra faculdade e nem o dia em que eu vou me casar. Hoje é o dia da minha audiência... pode até parecer bobagem, mas não é. Define a minha vida toda de hoje em diante. Como se um juiz tivesse esse direito e sim, ele tem. Estou dentro do carro, junto com Megan, minha mãe e o Will, que como é advogado vai ser o meu advogado. O carro para em frente ao um prédio grande e meio medieval. Eu estava com um vestido branco... e sim, minha mãe me obrigou a usar. Ela falou: Você tem que parecer normal. Mas porra, eu sou normal, mas do meu jeito, claro!

Entro pela enorme porta seguido pelo Will, minha mãe e Megan foram pra sala de espera, subimos a escada e entramos na sala 15B. Era um pouco diferente do que eu esperava de um tribunal. Uma mesa no centro, a mesa do juiz, quatro cadeiras (na mesa grande). E só. Sem lugar para qualquer outra pessoa. Ah e dois seguranças na porta. E não me pergunte o porquê. Eu também não sei. Nos sentamos no lado direito.

― Está bem? ― Will pergunta enquanto retira uns papeis de sua pasta.

― Não estou tão mal. ― Dou um sorriso muito falso. Mas foi um sorriso. Olho para os seguranças, onde um abre a porta e dela entra Liviane e um homem com as mesmas vestes que o Will. Eles sentam-se no nosso lado de frente a mesa do juiz e eu olho para Liv, seu rosto ainda estava inchado, e com uns cortes na testa.

Ela me encara, e dá um sorrisinho. Retribuo. E sim, consegui ser mais falsa que ela. Vejo o juiz entrar pelas portas e ir até o seu lugar mas antes de sentar-se ele arruma a sua 'túnica'. Nem me pergunte o que é isso. Eu só sei esse nome por que Will me disse, mas não recebi mais nenhuma informação sobre isso.

― Bom dia, podem sentar-se! ― disse quando estávamos de pés. ― Chegou ao meu conhecimento que Amanda Swain Carter agrediu a senhorita Liviane Madson Tranor sem motivos. Certo? ― Ele dirigiu a palavra ao advogado da Liviane.

― Meritíssimo, foi exatamente isso. Sem motivos. Aliás, colegas de classe afirmam isso.

― Tenho a palavra dada ao advogado de Amanda ― disse o juiz com aquela voz autoritária.

― Não foi sem motivos. A minha cliente não está doida, não pode manda-la para o sanatório sem ao menos escutar a versão dela. E outra, a Madson tem influência sobre seus colegas.

― Amanda, por favor venha cá e conte-nos a tua versão.

Fui até a mesa ao lado do juiz, minhas pernas tremiam, e na minha cabeça passava que a qualquer momento eu cairia de cara no chão.

― Bom. Eu estava sentada na minha carteira de sempre. E a Liviane chegou e começou a falar sobre a Marianne. A minha amiga que morreu. Ela perguntou se eu estava esperando ela. E ela sabia muito bem o que havia ocorrido. Eu só mandei ela sair, e depois ela falou "Ela foi tarde sabe, eu achava ela muito chata". E eu simplesmente a derrubei da cadeira e comecei a bater nela ― digo e desvio o olhar do Will a mim. Não que eu me arrependa de tal ato, mas que eu sei o quanto ele e todos ficaram decepcionados comigo.

― É mentira ― grita Liv e eu a encaro.

― Senhorita Madson acalme-se ― disse o Juiz.

― Mas ela está mentindo.

― Eu não estou mentindo. ― Dessa vez quem grita sou eu.

― Eu protesto! Sr. Meritíssimo deixe que minha cliente conclua ― disse Will.

― O advogado da Senhorita Amanda mantém a fala.

― Conclua por favor Amanda...

― Não tem o que concluir! ― digo irritada. Essa porra toda que está aqui ao meu redor está me irritando, até a lâmpada que está alumiando a merda dessa sala.

― Calma Amanda ... ― disse Will.

― Estou calma.

― Viu? Ela é doida. Ela se automutila ― disse Liv e percebo o quanto ela queria dizer aquilo.

― Advogado poderia por favor dar um jeito em sua cliente? ― disse o Juiz.

― Peço desculpa, minha cliente só está alterada devido tantas mentiras da Senhorita Carter.

― Eu protesto! Por favor Sr. Meritíssimo não é motivo para ficar descontrola. Sugiro que a Senhorita Madson retire-se da sala. Automutilação não significa que a pessoa esteja louca, pode pergunta a qualquer um especialista da área.

― Sr. Meritíssimo isso não é motivo para tirar a minha cliente desta sala sem ao menos a audiência ter findado.

― Correto. Prosseguindo. Senhorita Madson afirma que disse as palavras que segundo a Senhorita Carter foi o motivo da briga?

― Não. Eu fui perguntar se ela estava bem. ― Ela faz uma cara de vítima que me dá nos nervos.

― Não foi nada. Você foi lá me atormentar.

― Senhorita Carter peço que fique em silêncio.

― Tudo bem.

― Como é de conhecimento de vocês, cada advogado há de fazer cinco perguntas antes da decisão final. Começando pelo o advogado da Senhorita Carter.

― Qual é o tratamento da Madson aos seus colegas? ― pergunta Will a mim.

― Ela manda neles. É o que chamam de "popular".

― Eles têm medo dela?

― A maioria.

― Por que eles têm medo dela?

― Por que ela maltrata eles e tem muitas pessoas a volta dela.

― Eu não maltrato ninguém ― interrompe a garota de cabelos loiros.

― Senhorita Madson contenha-se.

― Mas ela está mentindo.

― Não estou nada. Lembra aquela vez que você me humilhou?

― Liviane por favor não complica as coisas. ― disse o advogado dela a acalmando.

― Amanda conte mais sobre essa humilhação...

― Qual delas? ― pergunto.

― Todas... Ou boa parte. Por favor, resumindo é claro.

― Vou falar de uma só. Estava no refeitório, indo comprar meu lanche e ela derrubou um suco de uva em cima mim de propósito. E quando eu ia saindo ela me segurou e colocou uma lamina em minha mão e disse: "Esqueceu isso". Todos do colégio começaram a rir.

― O que a sua cliente tem a dizer? ― pergunta o juiz ao advogado da Liv.

― Bom, ela nega isso! Até por que minha cliente é alérgica a uva.

― Então eu mesma taquei suco de uva em mim? Isso que quer dizer? ― pergunto me levantando enquanto olho para o homem patético a minha frente.

― Como minha cliente acusa, ela é louca.

― Não fale assim de minha cliente! Eu te processo por calunia e difamação!

― Só estou sendo realista.

― Não tem provas.

― Os alunos são as provas.

― Os alunos que são influenciados por ela?

― Não é bem isso, advogado.

― Chamo para depor a testemunha Roselva Werklaengh, para deixar claro, a professora de Matemática das duas. ― A porta é aberta por um dos seguranças e após alguns segundos a professora entra na sala se dirigindo para o lado do juiz se sentando.

― Como era o comportamento da senhorita Carter? ― pergunta Will para a professora.

― Nunca tive problemas com ela. É a minha melhor aluna ― disse e não disfarço o sorriso.

― Eu protesto, essa afirmação não tem questões... como ela é sua melhor aluna, e está na ficha dela que ficou de recuperação? ― disse Scott.

― Ela ficou de recuperação por não ter comparecido as aulas no bimestre em questão. Mas ela ficou com 9.5 na média.

― Prossiga Advogado Collins ― disse o Juiz.

― Você passou os dois dias após o ocorrido com a minha cliente. Ela demonstrou algum tipo de distúrbios?

― Como eu já disse. Ela tirou uma nota muito alta. Vocês acham que sinceramente ela ia conseguir se estivesse louca?

― Você chegou onde eu queria. O que você disse sobre ela estar louca?

― Ela não está louca. Ela sabe muito bem o que fez e o porquê fez. Ela estava abalada pela morte da amiga. E a Liviane não é uma "flor" de pessoa.

― O que a senhora pode dizer de Liviane Madson?

― Ela não é uma péssima aluna, mas também não faz nada além de ficar se maquiando.

― Ela tem influencias sobre seus colegas?

― Sim. A maioria.

― Eu protesto. Vocês não têm provas sobre isso ― disse Scott.

― A senhora tem prova do que disse?

― A minha palavra já é uma prova meritíssimo. Mas, mais que isso... não.

― Prossigam... ― ele disse.

― Bem... Ja terminei Sr. Juiz ― disse Will e se senta no seu lugar. A professora saí da sala.

― Prosseguindo com o Julgamento... Advogado Scott. ― O advogado da Liv se levantou e olhou para mim.

― Então Senhorita Carter... Pelas minhas fontes você começou a morar com a Megan Collins. Certo?

― Sim ― respondo sem entender o porquê dessa pergunta.

― Então a Collins e a Madson eram amigas e agora as duas não são mais. E você e a Collins são?

― Sim ― digo.

― Soube também que o namorado da Madson e você tiveram algo e por isso eles terminaram?

― Luke Winchester? ― pergunto.

― Sim.

― Não tivemos algo. E ele terminou com ela por que quis ― digo

― Não pode mentir aqui, Carter!

― Está chamando minha cliente de mentirosa? Senhor Scott.

― Não somente estou chamando. Também estou provando... ― Ele mostrou umas fotos minha e o Luke se beijando e colocou encima da mesa do Juiz que as observou. ― Como pode ver, aí está ela com Luke Winchester.

― Eu não tive algo com ele. Só nos beijamos algumas vezes, e isso é pessoal ― argumento mais irritada ainda. Ficaram me seguindo esses últimos dois dias? Isso não devia ser proibido ou algo do tipo?

― O senhor deve informar as datas dessas fotos ― disse Will.

― Elas foram tiradas ontem ― respondeu.

― Então essa acusação não procede. Afinal o Winchester já havia terminado com a Madson.

― Claro que procede Senhor. Como já disse, a sua cliente tomou a melhor amiga da minha e o namorado. Talvez a sua cliente tenha uma inveja da minha. Ou mais provavelmente uma obsessão em ser igual a Madson.

― Eu protesto, não pode dizer isso em apenas dois fatos não convenientes ― disse Will.

― Protesto negado. Prossiga Advogado Scott ― disse o Juiz batendo o seu Martelo de madeira.

― Prosseguindo... Pode se dizer que o motivo da Carter ter espancado a minha cliente é por pura obsessão em querer ser igual ou melhor que a minha cliente. Que quando a leva a esses atos é sim um caso de sanatório.

― Eu não tenho inveja da Madson ― digo. ― Vocês têm ideia do que vocês estão falando?

― Não é o que parece Senhorita... Prosseguindo com minhas perguntas. Você se arrepende de ter batido na minha cliente?

― Não sei ― respondo. De certa forma sim, eu não queria estar aqui, e talvez eu me arrependa um pouco por isso.

― Então para deixar mais claro... Ao ver o estado em que sua colega de classe se encontra... você arrepende dos seus atos?

― Eu... ― Olho para o Will, ele está calmo e não demostra nenhum tipo se reação e muito menos de ajuda com o que devo dizer. O advogado de Liviane põe as mãos no local onde estou sentada e se aproximando.

― Vamos Carter. Você arrepende ou não de ter espancado minha cliente em frente a seus colegas que tiveram que presenciar aquela cena.

― Eu protesto. O advogado da Senhorita Madson está intimidando minha cliente. ― disse Will se levantando.

― Protesto aceito. Por favor senhor Scott, se controle. E Carter, responda a pergunta dele.

― Sim, me arrependo ― respondo.

― Como eu esperava... chamo para depor a testemunha Carmen Draven. ― A minha diretora entra pela sala e senta-se do outro lado. ― Então senhora Draven, logo após a confusão a senhora levou a Carter para sua sala. Certo?

― Sim ― respondeu.

― Como a Senhoria Carter estava? ― Scott pergunta e eu engulo em seco.

― Ela estava ... ― Ela dá uma pausa.

― Descontrolada? ― ele pergunta.

― Não era isso o que eu ia dizer. Ela estava nervosa ― conclui.

― Bom... o que exatamente ela disse a você?

― O que todos sabem. Que a Madson a provocou, dizendo coisas sobre a falecida Marianne.

― E naquele momento ela estava arrependida? ― ele pergunta.

― Não. Ela deixou bem claro que não e que nem tão cedo iria ficar.

― Mas ela acabou de dizer que estava ― disse Scott.

― Então, não sei.

― Obrigada Senhora Draven. ― A diretora saiu e o Juiz olha para Scott.

― Alguma pergunta a mais para a senhorita Carter? ― O Juiz pergunta.

― Já ouvi tudo o que precisava ― disse Scott e se senta ao lado da Liviane.

― Pode voltar ao seu lugar Senhorita Carter... e Madson dirija-se até aqui. ― Saí e me sentei ao lado do Will e a Liv foi para o lugar onde eu estava. ― Vamos começar com o advogado da Senhorita Carter. ― O Will se levantou e foi para a frente da Liv e do Juiz.

― Então Madson, você e a Carter já não se davam bem? ― pergunta.

― Éramos somente colegas. Da minha parte nunca tive nada contra ela.

― Então está dizendo que vocês nunca tiveram desentendimentos?

― Algumas vezes ela me provocava, mas eu nunca respondi ― disse.

― Não é o que parece senhorita Madson, esse papel aqui... ― Ele tirou um papel de sua maleta. ― É uma advertência que você levou por ter feito um vídeo da Senhorita Carter e da Senhorita Marianne, e da sua ex "melhor amiga" Megan Collins as insultando. Mas você foi pega quando a diretora a chamou e viu o vídeo no seu celular. ― Ele entregou o papel ao Juiz.

― Eu protesto ― disse o advogado da Liv.

― Protesta exatamente o que? ― o Juiz pergunta.

― Esse papel não justifica nada. Não tem a existência desse vídeo.

― Tem sim. ― O Will entregou o celular para o Juiz. ― Aqui está o vídeo que estava na câmera da senhorita Madson, consegui com o colégio. ― O Juiz olhou uma parte do vídeo.

― Protesto negado. Existem sim provas. Prossiga Collins.

― Senhorita Madson, se você e a minha cliente tinham tantas desavenças, por que a senhorita foi lá nela, num momento tão difícil para ela?

― Eu... fui me desculpar.

― Se você foi se desculpar, por que ela reagiu daquele jeito?

― Por que ela está louca.

― Só isso que tem a dizer?

― Sim.

― Tudo bem. Chamo para depor a testemunha Megan Collins.

― Eu protesto. Ela não é a pessoa mais adequada. Ela e a Liviane Madson estão brigadas além de que Collins e Carter moram junto. E sendo a filha do advogado...

― Protesto aceito. O senhor tem alguém além dela a chamar?

― Não meritíssimo.

― Vamos dar uma pausa para eu avaliar até aqui e depois prosseguimos com Scott para Madson. ― O Juiz pega os papeis e saí.

― Vai refrescar a cabeça ― disse Will. Me levanto e vou para o banheiro e olho para o espelho. Eu estou com medo. Com muito medo. Pego meu celular e leio as mensagens que a Megan me mandou. Ouço a porta se abrir e a Liv a entrar com aquela cara de sínica.

― Como é ridícula ― ela disse e começa a lavar a mão. Ligo o gravador do meu celular, sabendo que poderia sair qualquer coisa vindo dela que pelo menos pudesse me ajudar.

― O que foi Liviane?

― Só queria saber se você aproveitou bem a viagem da tua casa até aqui?

― Não entendi ― digo e olho pra ela.

― Ah não? Vou te explicar. É por que quando sair daqui, vai para o sanatório e....

― Eu não vou ― a interrompo.

― Você sabe que vai... Lembra você está louca.

― Você sabe que não estou... você mereceu apanhar.

― Por falar a verdade? ― ela pergunta. Olho pro meu celular e ainda gravava.

― Por falar besteira. Se você tivesse conhecido a Anne você já mais diria aquilo.

― Eu conheci o suficiente para saber que ela foi tarde ― disse.

― Para de falar isso ― gritei. Ela pegou um rímel da bolsa, e começou a encara-lo, enquanto o abria.

― O que foi? Da última vez você me bateu. Nem um tapa? Que avanço. Quando for para o sanatório vai me agradecer... leva uma lamina. Vai ser ótimo. ― Ela passou o rímel e saiu. Desliguei o gravador e limpei meu rosto.

Voltei para a sala e me sentei ao lado do Will... O Juiz ainda não estava na sala.

― Quando ele voltar entrega pra ele e dar play? ― pergunto.

― O que tem?

― Uma gravação.

― Amanda...

― Confia em mim ― peço o interrompendo.

― Claro. ― Ele deu um sorriso e eu bebi um pouco da agua que tinha na garrafa.

O Juiz entra e se senta em sua mesa.

― Vamos prosseguir. ― O Scott vai se levantando, mas o Will se levanta primeiro. Olho pra Liv e ela está mexendo em seu cabelo.

― Meritíssimo. Minha cliente pediu para que eu te entregasse isso. ― Deu meu celular para o Juiz. Ele deu play, e começou a reproduzir tudo o que a Liviane me disse no banheiro.

― Eu protesto... ― disse Scott mas é interrompido.

― Não tem oque protestar senhor. É a sua cliente nesse áudio.

― Mas... ― disse Liv.

― Esse caso está encerrado e declaro Amanda Swain Carter inocente. ― Ele bateu o martelo e a Liv ficou falando um monte de coisa que não entendi. Will me abraçou e naquele momento eu senti o abraço apertado de meu pai.

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