Jake está deitado em seu quarto, luzes apagadas, fones e projetor habilitado para todo o quarto. Enquanto ouve suas músicas favoritas, imagens, luzes e sombras preenchem as paredes e o teto do cômodo. Mas seu refugo é interrompido por uma chamada de vídeo. É Rick
- Oi. - Jake com uma pequena ansiedade
- E ai man. - Rick, visivelmente cansado
- Já chegou?
- Uhum, acabei de sair do hospital.
- Como tá sua mãe?
- Mal, não consegue ver meu pai daquele jeito.
- Imagino. Meus pais perguntaram se precisavam da gente ai, mas sua mãe disse que não. Mas se você quiser eu vou.
- Valeu man, eu sei disso. Mas não precisa mesmo não tem nada que a gente possa fazer a não ser esperar.
- Você entrou no quarto?
- Sim, foi bem difícil. Enfim, me distraia.
- Como?
- Conte que aconteceu com sua ex-amiga Aline.
- Eu já te disse. - Jake desanimado
- Conta de novo, tô aqui agora. E que amigo eu seria se não usasse sua tristeza pra me animar?
- Um bom amigo.
Rick esboça um sorriso.
Jake respira fundo e começa:
FLAHSBACK
Eu desci correndo as escadas, deixei meus pais assustados e chamando por mim sem responder. Quase cai umas quatro vezes, quando cheguei no hall ela já tinha pedido um táxi. Tava do lado de fora esperando por ele.
- Hey! Aline!
Ela só olhou por cima do ombro. Eu tive que pedir para o porteiro abrir o portão para mim.
- Que você ta fazendo?
- Desculpa Jake. Mas não dá.
- Não dá o que?
Eu tinha entendido a situação só não quis acreditar mesmo todo encanto dela tinha se transformado.
- Você é muito legal, seus pais parecem ser... normais. Mas eu não posso não consigo fingir que não tô vendo aquilo. - ela disse "aquilo" como se tivesse se referindo a algo completamente desprezível.
- Parecem ser normais? Você tá se ouvindo?! Lógico que eles são normais. Qual seu problema?
- Eu não posso... não posso conceber isso Jake.
- Ótimo, você não tem que conceber nada eles tão casados há vinte anos, muito felizes há vinte anos sem você conceber nada. Por que faria diferença agora?!
- Você teve aulas com a Maria - Rick comenta
- Não, Maria teria dado um soco na parte do normais.
- Verdade.
Ela parou de falar depois disso. Ficou emburrada e de cara fechada pelos próximos dez minutos, até o táxi chegar.
- E você ficou lá com ela? - Rick
- Sim. Não era tão tarde, mas também não era cedo. Apesar de ser seguro aqui não quis deixar ela sozinha.
- Que cavalheiro.
- Idiota. - Jake ri
- E seus pais, que disseram depois?
- Meus pais foram os piores possíveis. Só falaram besteira.
- Te disseram para ir atrás dela?
- É...
- Tá tudo bem? - David
- Cadê sua amiga? - Igor
- Foi embora. - respondi já indo para meu quarto
- Ela tá bem? - David
- Não pai, ela não ta bem! Ela é... sei lá que ela tem. Eu nunca tinha visto esse lado dela antes.
- Que aconteceu? - Igor
- Ela, foi embora por causa de vocês.
O jeito que eles me olharam de volta, foi a maior dor que eu tive na minha vida. Eles realmente se sentiram culpados.
- Da gente? - David
- Ela é homofobica pai. Eu não sabia desculpa!
- Calma filho. - Igor - Você não disse para ela que tinha dois pais?
- Disse, mas ela pensou que um era padrasto, eu nunca imaginei que ela não tinha entendido. Se soubesse não teria nem ficado com ela.
- Vocês ficaram? - David
- Sim pai. - eu sentei e me apoiei na mesa, tentando pensar em algo para dizer. Mas pela minha reação, eles conseguiram adivinhar. Demorou só alguns segundos para eles se aproximarem.
- Você gosta dela? - Igor
- Não mais. - respondi
- Se você gosta dela, vai atrás. - David
Eu nem acreditei naquilo. Só levantei a cabeça e olhei para eles surpreso.
- Se você tá apaixonado, vai atrás filho. Faz tempo que a gente te vê meio bobo pela casa. Sorrindo a toa, mas principalmente quando tá com seu celular. Do jeito que a gente ficava quando namorávamos. - Igor
- A gente já sabia que você tava apaixonado. Só faltava saber por quem. - David
- Como vocês podem falar isso?! Eu acabei de falar que ela foi embora porquê é homofobica!
- Ela não é a primeira pessoa homofobica que a gente encontrou na vida filho. - Igor
Eu não sei que aconteceu com eles, mas pelo jeito que meu pai David olhou para meu pai Igor, eles devem ter passado por uma barra bem pesada.
- E provavelmente não vai ser a última. - Igor continua - Melhorou bem desde da época que nós começamos a ficar juntos. Mas ainda existem pessoas assim ela não gostar é passável. Nós não precisamos ser amigos importante é ela te fazer feliz.
- Vocês estão doidos! Não tem como ela me fazer feliz, se acha que o que vocês têm não é normal. Não tem como ficar perto de uma pessoa assim. O único exemplo que eu tenho do que é amor de verdade são vocês. Como alguém que não considera isso amor pode me fazer feliz?
- Porra! - Rick
- Eu falei sério. - Jake
- Eu sei, mas é uma puta frase.
- Cala boca!
- E aí?
- Aí eles me abraçaram, choraram uns cinco minutos e me levaram pra jantar no Hells Bells.
- Olha, se você bater carro deles, qualquer um. Só lembrar disso.
Jake ri.
- E a Maria? - Rick
- Queria vir aqui pra dar uma surra nela, que mais você acha?
- Deu esporro no profile dela?
- Deu. Foi aí que a escola inteira soube e ficou falando dela durante a semana toda. Aline ficou puta e veio tirar satisfação comigo.
- Sério? Precisava disso?
- Eu não fiz nada!
- Não, só mandou sua sei lá o que fazer?
- Eu não mandei nada! Ela fez porquê é maluca e minha melhor amiga. Mas eu não mandei nada!
- Acredito!
- Quer saber? Eu não tô nem aí se você acredita ou não, mas vou resolver essa porcaria. - puxei meu smart e liguei para a Maria
- Que?! Tô indo pra aula, fala logo - ela atendeu falando rápido
- Pode parar de ficar comentando no profile da Aline. - deixei no viva-voz para ela ouvir
- Por que? Ela é uma homofobica de merda mesmo!
- Porque tá todo mundo na escola apontando e falando dela.
- Ela respondeu rindo né? - Rick
- Com uma puta gargalhada! - Jake
- Tô falando sério, já deu. Ela tá achando que eu mandei.
- E por que caralho você se importa com que essa vaca acha?
- Maria, só para tá.
- Você é um idiota.
- Para!
- Tchau!
Ela desligou na minha cara e não atendeu depois disso, e nem respondeu minhas mensagens. Fiquei até hora de entrar com Aline me olhando com ódio esperando.
- Não sei por quê você esperou, sabe que ela não ia responder mesmo. - Rick
- Eu sei, mas a Aline não. - Jake sorri
Rick dá uma gargalhada.
David bate na porta do quarto do filho
- Oi! - Jake responde
- Tudo bem aí? - David colocando cabeça para dentro do quarto
- Tudo, tô falando com Rick.
- Oi tio David! - Rick falando alto
- Oi! - David entra no quarto e se senta ao lado do filho - Já chegou?
- Já sim.
- Foi no hospital?
- Fui, fiquei um tempo lá com meu pai.
- Ele não saiu de lá ainda?
- Não! Acho que nem vai, pelo menos até o vovô voltar.
- Onde ele tá? - David
- Tava voltando de um congresso na Suécia. Pegou um jato particular, deve chegar hoje ainda.
- E sua vó?
- Ainda dormindo, nenhum sinal de melhora.
- Ela vai melhorar, se Deus quiser.
- É, Laura disse a mesma coisa. Obrigado tio.
- Se precisar de alguma coisa, só avisar a gente tá?
- Pode deixar.
- Manda um beijo para sua mãe. E pro seu pai também e pro Roberto.
David sai do quarto.
- Cadê ele falando nisso? - Jake
- Ficou lá com meu pai brigou com Julio.
- Por que?
- Por causa da vovó. Ele e Julio tinham combinado ir em um evento de motos, Roberto cancelou e o Julio ficou bravo
- Sério?!! - Jake irritado
- Sério. Lado bom de não estar aqui, teria socado o filho da puta.
- Que babaca.
- Sim. Não tive tempo de falar muito com ele.. - Rick interrompe a frase para bocejar - mas por cima é isso.
- Foda. Você tá com uma cara péssima, por que não vai dormir?
- É tô indo, amanhã vou ficar a noite lá. A gente combinou de não deixar o vovô lá.
- Quero ver quem vai conseguir.
- Também. Assim que der vou te visitar. Boa noite mano e relaxa, você vai achar uma mina gente boa de verdade.
- Valeu! Boa noite.
MARIA CLARA
Maria Clara e Tony conversando no ônibus.
- Não vou te emprestar meu login, uso pra jogar - Tony
- Melhor ainda, não vai deixar rastros.
- Você vai stalkear o Leo?
- Claro que não
- Vai fazer o que então?
- Xingar a idiota da Aline.
- Que ótimo, bem melhor.
- Olha só.. - Maria se vira para a janela e para de falar imediatamente.
Ela se levanta apressada, gritando para o motorista parar o ônibus.
- Próximo ponto é só no final da rua! - ele responde irritado
- Para essa merda agora ou eu saio pela janela!
- Sai!
Maria Clara desce a rua a passos largos, enquanto o motorista ainda a xinga por tê-lo feito parar o ônibus. Tony, continua boquiaberto sentado dentro do veículo.
Maria passa irritada, trombando com várias pessoas sem nem se preocupar em pedir desculpas.
Virando a esquina ela vê Mauro, o namorado de sua irmã Laura trocando beijos com outra garota antes de entrar em um prédio.
- Culpa dela é menor que a dele. Bate mais forte nele! Bate mais forte nele! - ela diz irritada atravessando a rua
VICTOR
- É uma merda. Alguma previsão de melhora? - Frank
- Nada ainda man. AVC ainda é um mistério, mesmo com toda a evolução das pesquisas. - Victor responde
- Complicado, se puder fazer algo, avisa.
- Todo mundo diz isso mas na verdade ninguém pode fazer nada.
- Você sempre sútil.
- Sou cético.
- É cretino, isso sim.
- Cretino que vai ser seu padrinho.
- Não, o outro gêmeo vai ser.
- Você nem vai saber na hora.
- Lógico que vou, sei bem diferenciar vocês.
- Não vamos estar nus
- Ah droga. - Frank rindo - Vou ter que me guiar pela calvice.
- Você é mais careca que eu, único cabelo que sobrou foi no seu cu!
- Olha a boca! - Anderson grita da sala
- Para de ouvir a conversa dos outros xereta!
- Adoro esse garoto. - Frank rindo
- Eles são demais, meus cabelos estão indo noventa por cento por eles, e dez pela Maria.
- E a Laura?
- Laura puxou Karen, graças ao bom Deus.
- Amém.
- E a Vanessa?
- No cu do mato com a mãe. - Frank
- Olha boca! - Anderson novamente
- Nem fui eu! E para de ouvir nossa conversa!! - Victor berra
- Você é um pai tão exemplar!
- Cala boca você também! Ela não vem pro casamento?
- Lógico que vem. É minha filha.
- E odeia a sua noiva.
- Vai passar. Se não passar, faço outro e tudo certo.
- Tem três aqui, se quiser te doou um.
- Pode ser o Anderson então.
- Ouviu né?! - Victor
- Não! - Anderson após alguns segundos
- Falando em filhos, Maria ta mandando uma mensagem atrás da outra, segura ai.
- Não, pode ir depois te mando e-mail e a gente termina isso. Abraço.
- Tchau. - Victor desliga Frank e abre as mensagens da filha. - Onde diabo é isso?! Aff! Trio!! Todo mundo pega um casaco que vamos sair.
- Onde vamos? - Anderson atrás de Victor
- Puta que pariu!!! Quantas vezes tenho que falar para parar de fazer isso? E parar de ouvir a conversa dos outros!!!!
- O senhor não tava falando com ninguém.
- Você me entendeu! Vai pegar o casaco!
Vinte minutos depois, Victor chega onde Maria indicou.
- Que foi? - ele pergunta preocupado
- Achou a Laura? Que eles estão fazendo aqui? - olhando os irmãos no banco de trás.
- Sua mãe tá na aula. E não tem como deixar eles em casa dois dá, mas os três não.
- Hey! - Anderson
- Você mesmo é o culpado disso. - Daniel
- Que você ta fazendo aqui? - Victor
- Vem. - Maria se afasta do carro
- Que.. fiquem ai os três!
Victor vai atrás da filha.
- Que será que eles estão falando? - Erik
- Se virar pra ca eu posso tentar ler os lábios deles. - Anderson
- Você sabe isso? - Daniel surpreso
- Sim, você não?
- Não seu maluco!
- Pra que o drama? - Victor
- Vi o idiota do Mauro entrando com uma menina nesse prédio!
- Tem certeza?
- Que tipo de pergunta é essa? Lógico que tenho! É aqui que ele mora?
- Não. Ele mora em uma casa mesmo quanto tempo faz isso?
- Desde que te mandei mensagem.
- E você ficou esperando esse tempo todo pra que?
- Como pra que? Pra quebrar aquele nariz idiota dele!
- E vai chamar sua irmã pra ver isso?
- É! - Maria seria
- Não, vamos embora. Em casa a gente conversa com ela.
- Ela não vai acreditar em mim.
- Como não vai? Você é a irmã dela, lógico que vai acreditar.
- Ela ta caidinha por ele pai você sabe disso, vai achar que eu tô inventando ou confundi ele com alguém mas não vai acreditar.
- Eu confirmo sua história.
- Você não viu ele pai.
- A gente não pode esperar ele aqui até sabe-se lá que horas Maria. Principalmente por causa dos seus irmãos.
- Droga! Ela não vai acreditar. - Maria voltando para o carro
- Vai sim.
- Depois me cobra então.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
- Vamo sair daqui. - Rick
- Tem certeza? - Jake
- Sim, só... qualquer lugar com álcool. Meus pais não vão deixar a gente beber aqui,
- Podem ir. - Laura
- Todo mundo. - Rick
- Prefiro ficar aqui. - Laura séria
- Sério? - Rick olha fixamente para Laura, depois na direção de Maria, voltando para Laura.
- Por você. - Laura finalmente responde
- Vou avisar meus pais. - Jake
- Eu vou junto - Roberto
Jake e Roberto passam pelo corredor e encontram os pais conversando com algumas pessoas. Jake faz um sinal discreto para David
- A gente vai dar uma volta. - Jake em voz baixa
- Para onde? - David
- Não sei pai, Rick só quer sair daqui. E sendo honesto, eu também.
- Não demora. E nada de bebida eu sei que ele não deve ta se sentindo bem, mas não é uma boa hora para beber agora. Seu avô precisa de vocês aqui e seu pai também. - David para Roberto
- Eu sei tio.
Maria leva todos para o mercado mais próximo que encontra, eles descem e compram algumas garrafas de bebidas parando alguns quilômetros á frente.
- Você não devia beber se vai dirigir de novo. - Laura sem olhar para a irmã
- Eu não vou dirigir.
- Bom, alguém vai. - Rick virando quase meia garrafa de uma vez
- Segura ai. - Jake puxa a garrafa
- Pra que? - Rick com os olhos marejados
Roberto passa o braço pelo pescoço do irmão e deixa que Rick chore em seu ombro. Ao mesmo tempo em que ele chora em silêncio.
Maria, Laura e Jake também se emocionam e terminam suas doses em silêncio.