Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Dezesseis: Adaptação

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By alinemoretho

— Não! De jeito nenhum eu farei isso — declarei irredutível enquanto degustava meu café da manhã.

— Sarah, por favor, vai ser muito legal. O Coelho é um excelente professor — insistiu Luana.

— Qual a necessidade de fazer aulas de Defesa Pessoal? Se alguém fosse me atacar, correr seria minha primeira opção — tentei argumentar. — Além do mais, se o Coelho é um professor assim tão excelente, por que nenhuma de vocês concordou em participar da aula, hein? — perguntei indignada.

— Ora, porque todas nós já participamos antes e dona Socorro quer dar uma aula intensiva de crochê no mesmo horário e isso você odeia fazer — Karen explicou.

Pensei um pouco e, realmente, eu odiava crochê, mas só de pensar em ficar sozinha com Josué e os burburinhos que surgiriam em seguida me faziam reconsiderar. — Mas, e quanto a Maria? Ela está dormindo agora, mas pode acordar a qualquer momento.

— Fico de olho nela — dona Socorro foi a primeira a se prontificar. — Coelho é sempre tão bonzinho. Ele está abrindo mão das férias pra estar aqui.

— Eu não sei — murmurei enquanto pensava nos prós e contras daquela proposta.

— Bom dia, madames — Coelho entrou na sala de refeições ostentando estilo com sua bermuda vermelha e uma camiseta regata larga dos Lakers que o deixou parecido com um verdadeiro jogador de basquete. — Estão prontas para aprender umas técnicas de luta? — ele perguntou e em seguida socou o ar, tirando de mim boas risadas.

— Estou fora — declarou Luana sorrindo e em seguida levantou-se para sair do cômodo, sendo acompanhada por mais algumas moças.

— Ah, não! Vocês todas não vão me deixar na mão como a última vez, não é? — Coelho lamentou e senti certa pena por ver o esforço dele indo por água abaixo.

— A Sarah vai participar da aula. Ela ficou animada, não é Sarinha? — dona Socorro avisou me pegando de surpresa.

— Eu? — questionei e quase me engasguei comendo uma torrada — Já contei qual é minha estratégia de defesa pessoal, ou seja, correr.

— É mesmo, Sarah? — Josué se aproximou tentando me intimidar. — E se o sujeito estiver armado e acertar suas costas? Hein? — Ele tomou uma faca de plástico sem ponta, daquelas de pegar manteiga e ergueu em minha direção, me fazendo rir. — E agora?

Olhei para ele e para o objeto em suas mãos, sem conseguir disfarçar o quanto achava engraçado sua pose autoritária. — Convido o sujeito para um café da tarde? — arrisquei o palpite e vi os olhos dele se revirando.

— Nem pensar, Rodrigues. — Coelho fincou a faquinha no queijo. — Eu não estudei e me exercitei pesado todos esses anos pra me tornar um delegado, vir aqui nas minhas merecidas férias e simplesmente te ouvir querer fazer amizade com bandido.

— Tudo bem e eu faço o quê, então? —questionei só um pouquinho curiosa.

Ele então me deu as costas. — Anda mulher, vamos lá pra fora treinar e eu te mostro alguns truques.

— Grosso ele, não? — comentei com Anelise ao meu lado e sem opções pedi licença para seguir meu mais novo instrutor.

Antes de chegarmos a área do Instituto onde aconteceria nosso treinamento, Josué passou em seu carro estacionado perto do jardim e tirou dos bancos traseiros uma bolsa daquelas de viagem.

— Aonde vamos? — perguntei enquanto o observava agindo de um jeito misterioso.

Sem responder, Coelho seguiu até uma área de gramado e ali começou tirar de sua bolsa uma série de bugigangas esportivas para serem usadas na aula.

— Estou começando a entender porque sua aula é sempre tão cheia de alunos — ironizei quando o vi com uma expressão séria, concentrado em enrolar algumas faixas em volta dos seus punhos.

— Eu não brinco em serviço — alertou e eu fazia de tudo para não rir e desbaratinar a pose dele de machão. — Vamos para o aquecimento, mocinha 

Josué realmente parecia outra pessoa quando o assunto era exercícios. Nós estávamos só no aquecimento e ele me obrigou a correr, pular e fazer abdominais até não poder mais. Mesmo tendo o condicionamento físico de uma lesma, eu até gostei de deixar de lado todos os problemas relacionados a Victor estar de volta em minha vida, e os cuidados com Maria Isabel e gastar toda minha energia naquelas atividades pesadas.

— Agora podemos começar o treinamento — Coelho anunciou sorrindo e era incrível como ele nem parecia ofegante mesmo tendo me acompanhado em todos os exercícios. Eu, por outro lado, depois de vinte polichinelos parecia ter acabado de correr uma maratona.

— Como assim "começar"? — Lancei um olhar indignado para ele. — Você não dá um desconto para jovens mães solteiras iniciantes, não?

— Se você conseguiu ter um bebê, consegue aguentar umas abdominais. Não seja fracote, Sarah — zombou e eu franzi as sobrancelhas.

— Experimente sentir umas vinte contrações e depois me procure, querido — vangloriei-me de um jeito engraçado. 

Josué fez uma careta. — Chegue mais perto e tente me acertar um soco — ele pediu como se não fosse nada demais.

— Eu não sou uma pessoa violenta, Coelho — garanti. — Prefiro os acordos verbais.

— É mesmo? — Ele deu alguns passos em minha direção. — E se eu fosse um sujeito tentando te fazer algum mal, ou pior se quisesse levar a Mabelzinha embora. Tentaria um acordo verbal?

— Credo, Josué. Não diga uma coisa dessas, nem de brincadeira — pedi, sentindo um arrepio passando pela minha coluna.

— Ficou com raiva? — desafiou o petulante. — Use sua força para descontar aqui, então — Ele mostrou a palma da mão. — Vai, você gostará.

Soltei o ar pela boca, encarei o rapaz até tomar coragem e acertei a mão dele com toda a força. Para Josué, com certeza meu golpe não fez nem cócegas, mas eu senti uma descarga de adrenalina muito boa se apoderando do meu corpo, por isso não me contentei e continuei socando a mão dele até vê-lo recuar.

— Muito bem — elogiou e bagunçou meu cabelo como se estivesse acariciando um cachorro. — Vamos usar o aparador de chutes para melhorar suas técnicas e amanhã podemos treinar como desarmar quebrar o braço dos agressores, assim nenhum idiota vai tentar alguma gracinha com você.

— Amanhã? — perguntei desmotivada, mas quando vi o olhar bravo dele, eu forcei um sorriso e concordei em continuar o treino.

Permanecemos lutando até eu ficar exausta e me deitar na grama para descansar um pouco. Coelho foi gentil em ir pegar uma garrafa de água pra mim e quando voltou sentou-se ao meu lado a fim de batermos um papo.

— Você aguentou todo esse treinamento só pra se tornar um delegado? — perguntei depois de um longo gole na garrafa.

— A princípio não. Eu comecei a treinar ainda na faculdade de Direito, mas era só para os meus irmãos saírem do meu pé — explicou, mas eu não entendi muito bem. Josué percebeu minha dúvida e prosseguiu contando: — Eu fui o terceiro de cinco irmãos homens cheios de testosterona e amor por brincadeiras violentas. O Jacó e o Joabe, os mais velhos viviam me batendo por eu ser o mais gorducho, e bem, Judá e João eram novos demais pra me acudirem, então quando meus pais não estavam em casa, as coisas saíam um pouco de controle.

— Uau, seus pais fizeram mesmo jus ao sobrenome. São bem férteis como coelhos — brinquei e ele riu.— Então, você apanhou muito, é isso?

— Nada anormal. Eu fiquei muito próximo dos meus irmãos caçulas e me dou muito bem com os mais velhos. Hoje só agradeço a Deus, pois é bom não ser chamado de balofo e ainda usar minha autoridade legal como desculpa para intervir nas brincadeiras de mal gosto — contou sincero e eu senti certa admiração pela maturidade do Coelho.

— Se serve de consolo, meus irmãos eram folgados também — Dei leves batidinhas na mão dele pousada no chão. — Hoje posso até agradecer a eles, pois quando estava grávida e fui morar sozinha, eu consegui me virar muito bem na cozinha e na limpeza. Entretanto, se eu tivesse aprendido alguns desses golpes antes, eles não teriam saído ilesos das nossas infinitas discussões.

Coelho gargalhou e fizemos alguns instantes de silêncio. Eu encarei meu companheiro e percebi como algo o incomodava.

— Qual o problema? — questionei ao vê-lo ficar mais sério sem razões aparentes.

— Eu encontrei o Victor na igreja ontem à  noite e ele parecia bem pensativo — informou e eu repareicem seu jeito desconcertado. — Perguntei como foi a conversa entre vocês naquela manhã, mas ele não deu muitos detalhes.

— E você ficou curioso? — questionei e ele assentiu, sorrindo sem graça. — Nós estamos nos acertando aos poucos.

— Isso é bom — comentou feliz. — E como você está lidando com tudo?

— É tudo muito estranho pra mim, Josué — confessei mirando-o. — Sempre foi eu e Mabel em tudo, agora eu preciso dividi-la com outra pessoa. — Soltei o ar pela bica com força. — Além do mais, eu fico pensando como será daqui pra frente. E se Victor contrariar meus ensinamentos? E se ele mudar de ideia e desistir de tudo?

— Se vai dar permissão ao Victor para entrar na sua vida, você precisará esquecer o passado, Sarah — aconselhou e eu dei uma risada. — O que foi? — ele questionou sem entender meu comportamento.

— Nosso passado está dormindo lá em cima agora, Coelho — respondi com graça.— É impossível olhar pra Mabel e não lembrar de como sofri ao terminar meu relacionamento com o seu amiguinho.

— Ele contou que agiu como um idiota no passado — Josué coçou a barba, se mostrando meio pensativo. — Não foi um término amigável, eu imagino. — O rapaz tomou o ar e pensou antes de dizer alguma coisa. — Se não pode enterrar certas coisas do passado, esqueça ao menos quem o Victor era, foque em quem ele é, e no que ele está disposto a fazer para se redimir com vocês.

Aquele conselho fez meu coração doer um pouco. Eu realmente estava cansada de sentir tanta angústia em relação ao Victor, mas eu precisava dar tempo ao tempo, pois só assim minhas feridas iriam cicatrizar.

— Talvez eu possa tentar fazer isso — respondi, e descansando minha cabeça na grama fofa eu olhei para o céu onde vi as nuvens passando devagar e aproveitei o momento de tranquilidade para orar e pedir ajuda do Senhor.

— Posso fazer uma pergunta constrangedora? — Josué rompeu o silêncio e eu concordei com sua proposta lançando um olhar em sua direção. — Você ainda ama o Victor?

Fiquei surpresa com a coragem de Josué por ser tão direto quanto uma espada afiada. Ele não negava o parentesco com dona Socorro. — Não tenho como responder uma coisa dessas, Coelho.

— Como não? São os seus sentimentos, mulher — rebateu, me fazendo rir com sua indignação. — É simples. Eu só quero saber se sim, eu posso tirar meu terno raramente usado do armário para o casamento de vocês, ou não e deixo guardado por mais alguns meses. Aliás, eu fico lindo de terno, que fique claro.

— Josué! — gritei indignada com ele. — Como você é bobo.

— Eu sei, vem de berço — brincou e eu aproveitei o momento para desconversar e fazer perguntas sobre a numerosa família do engraçadinho ao meu lado. Eu logo percebi como ele amava e falava com muito orgulho de seus pais e irmãos e senti admiração pela sua fé em Deus.

— Meu pai me ensinou a ser justo e levo isso comigo todos os dias para o trabalho. Graças a Deus, tenho sido muito abençoado até aqui e não desmereço as disciplinas e algumas surras que levei por minhas artimanhas — Ele deu um sorrisinho ao se lembrar de algo. — Família é muito bom, Sarah. Eu mal posso esperar para começar a minha.

— É, e você será um pai excelente — elogiei e senti um pouco de vergonha quando ele me olhou mais firme. — Digo, o seu jeito em lidar com a Maria, é muito próprio de um pai.

Ele sorriu e balançou a cabeça em agradecimento. Ficamos em silêncio por alguns segundos e naquele instante eu pude ouvir o choro da minha bebê, mesmo a alguns metros de distância.

— Alguém acordou — informei, já levantando da grama e limpando minha bermuda. — Obrigada pela aula. Eu me diverti, confesso.

— Não foi nada, Sarinha — Ele retribuiu com piscadela. — Ore ao Senhor para não precisar usar nenhuma violência, mas  caso algum irmão seu queira te obrigar a lavar a louça do almoço outra vez, você já sabe — comentou e eu caí na risada. O celular de Coelho começou a tocar e eu aproveitei a oportunidade para deixá-lo a fim de acudir minha bebezinha chorona.

Fiz o caminho de volta até o interior do Instituto e antes chegar ao casarão notei seu Héber, o porteiro abrindo passagem para um motoqueiro conhecido.

Minhas mãos começaram a tremer e eu voltei alguns passos e esperei até Victor estacionar sua moto bem próximo a entrada da casa.

O médico desceu do veículo, desamarrou algumas sacolas grandes que estavam presas à sua moto e guardou o capacete em um compartimento específico. Fiquei o observando de longe e só desviei o olhar quando ele veio em minha direção e andou até estar a alguns metros de distância de mim. 

— Oi Sarah — ele saudou estampando um belo sorriso nos lábios.

— Oi — retribuí o cumprimento e cruzei os braços. — Veio ver a Mabel?

— Sim — Ele sorriu animado. — Eu tive até insônia por conta da ansiedade para revê-la — explicou eufórico. — Conversei com o meu professor Murilo e ele me cedeu mais tempo de almoço. Eu só não vim mais cedo porque fiquei com medo de acordar vocês.

— Certo — respondi e alisei minhas mãos suadas em minha calça de moletom. O nervosismo por estar perto de Victor sempre me acometia. — Ela também deve ter ficado ansiosa pra te ver, pois não dormiu bem essa noite.

— Ela está bem? Eu posso examinar, se você permitir — ele preocupou-se imediatamente.

— São os dentes nascendo, Victor. Não se preocupe, ela ficará bem — expliquei, vendo-o ficar mais aliviado. Sem termos muitos assuntos para tratar, eu convidei o rapaz para entrar e ele aceitou prontamente. — Quem sabe ela deixe você pegá-la dessa vez.

— Por falar nisso... — Ele lembrou-se das sacolas misteriosas em suas mãos e o vi em seguida retirando uma caixa de tamanho grande dali.

— O que é isso? — perguntei curiosa e tomei um susto quando notei a imagem estampada na embalagem de uma criança sorridente montada sobre o triciclo cor de rosa. — Isso é pra ela?

— Sim — Ele respondeu todo animado. — Você sabe da minha paixão por motos e quando passei na loja e vi esse triciclo exposto, não resisti em comprar. Quem sabe talvez Mabel goste mais de mim com esse presente.

— Victor, ela não sabe nem andar. Como vai brincar com um treco desses? — questionei e o contemplei murchando como um balão em fim de festa. — Eu vou guardar, tá bom? Assim quando ela for mais velha você mesmo poderá ensiná-la a andar — garanti e até mesmo fiquei feliz por ver o brilho em seus olhos.

— Obrigado, Sarah. — Ele sorriu com gentileza. — Ah! Tenho algo para você também.

— Como assim? — sondei enquanto o via procurar na sacola mais alguma coisa. Depois de alguns segundos ele retirou dali uma outra caixa, dessa vez em um tamanho bem menor e entregou a mim. — Victor, eu não preciso disso — neguei no mesmo instante em que botei os olhos no presente e vi que se tratava de um celular caro, daqueles de última geração.

— Precisa sim, com certeza precisa — Ele insistiu e colocou o objeto em minhas mãos. — Eu perguntei e dona Socorro me contou que você perdeu seu celular antigo. Sendo assim, como vou saber notícias da bebê, se não temos como nos falar? Isso não é nem um presente, é uma necessidade.

— E precisava ser um aparelho tão caro? — rebati ainda chocada com a atitude dele.

— Aceite, Sarah. Eu quero cuidar de vocês mesmo quando não estiver por perto — pediu o doutor. — Eu já comprei um chip e também salvei meu número. Pode me mandar mensagem quando quiser.

— Tudo bem, você quem sabe — concordei sem gostar muito daquela atitude. Depois de alguns instantes eu ouvi o choro de Maria novamente e chamei Victor para ir comigo até sala de televisão onde encontramos Dona Socorro tentando acalmar nossa filha.

— Oh, Sarinha. Eu já ia te chamar. Ela acordou agora pouco e está bem enjoadinha — comentou a senhorinha e eu fui rápida em tomar a bebê no colo a fim de fazê-la parar de chorar.

Enquanto a balançava de um lado para o outro, eu sentia os olhares de Victor analisando cuidadosamente os meus movimentos.

— Quer segurá-la? — perguntei quando o vi lutando consigo mesmo para se aproximar mais.

— Posso tentar — ele respondeu e até estava decidido a conquistar a confiança da bebê, porém seu ímpeto falhou mais uma vez pelas reclamações e choro de Maria. 

— Eu não sei qual o problema dela — Victor reclamou, eu persistia em balançar acalmar a bebê. — Quando eu era apenas um cara de jaleco branco, Maria me amava e me dava milhares de sorrisos e agora como pai, ela só sabe chorar e me desprezar. 

Foi inevitável rir e sentir vontade de apertar as bochechas daquele médico dramático. — Essa mocinha aqui gosta de se fazer de difícil, mas logo você a conquista — Eu disse mantendo o pensamento positivo.

— É, doutor. Além do mais, a Mabelzinha acabou de acordar e com os dentinhos nascendo, tudo o que ela quer é estar aconchegada nos braços de sua mamãe querida — completou dona Socorro.

— Exatamente e a mamãe querida aqui agradeceria se pudesse tomar um banho, pois estou exausta daquela aula do Coelho. Vocês bem poderiam fazer o favor de distrai-la por cinco minutinhos, não é? — perguntei e vi o susto nos olhos de Victor.

— Se a dona Socorro ficar aqui comigo, tudo bem — prontificou-se o doutor e eu ficava impressionada com a insegurança dele para se ver como um pai.

— Não tenha medo, Victor. Ela não vai te morder, pelo menos não agora — brinquei e o vi fazer uma careta pra mim.

Depois de ver a recusa de Victor em pegar Mabel, deixei-a com Dona Socorro, pedi licença e fui ao andar de cima. Peguei minhas coisas no quarto e não demorei muito no banho. Saí do banheiro me sentindo renovada outra vez e pronta para voltar minhas atividades daquele dia.

Eu estava no quarto penteando o cabelo quando ouvi a voz da minha senhorinha favorita no quarto ao lado combinando com Luana de irem visitar Amanda.

"Com quem Mabel está nesse momento?" Pensei e fiquei aflita só de imaginar Victor todo inseguro cuidando da menina.

Afoita, deixei o cômodo e desci as escadas como um raio. Já estando prestes a entrar na sala de televisão, eu ouvi algumas risadas gostosas e flagrei de longe Coelho fazendo suas gracinhas com Mabel, enquanto conversava com Victor.

— Essa malandrinha me trocou pelo meu melhor amigo — ouvi meu ex-namorado brincando. — Como pode? Eu sou um cara tão legal.

— Ora, ela reconhece como sou mais bonito e simpático, não é Mabelzinha linda do tio? — Coelho levantava e girava a pequena em seus braços e ela gritava em resposta às estripulias. — É, eu sou lindo sim, mas você é mais, bebezinha. Graças a Deus não puxou ao pai.

— Ei! Ela tem os meus lábios e cílios — informou Victor todo orgulhoso. — O resto é esculpida a Sarah.

De repente, os dois ficaram em silêncio e Coelho levantou Mabel o suficiente para poder sentir o o cheiro da fralda. — Meu Deus! O que deram pra essa menina comer? Sarah? Temos uma emergência!

Finalmente dei as caras e não me aguentei de rir vendo os dois rapazes desesperados me procurando.

— Oh! Estão te desprezando, minha ovelhinha? — peguei a bebê de volta. — E você, senhor Victor? Podia aprender a trocar uma fralda.

O médico olhou para o relógio de pulso e até tentou escapar dando uma desculpa, mas eu não permiti.

— Eu nunca fiz isso na vida, Sarah — ele argumentou enquanto me via arrumar Mabel no sofá e pegar alguns itens de higiene para bebês em um armarinho na sala. — Não posso só assistir e tentar em outra oportunidade?

— Você pretende vir aqui sempre? — perguntei a Victor após Josué ter ido para fora a fim de falar ao celular novamente.

— Esse é o meu plano. — Ele aproveitou o fato de Mabel estar quietinha para acariciar o cabelo dela.

— E se sua família não gostar?— inquiri olhando-o com seriedade. — Eu não quero precisar fugir novamente.

— Sarah, confie em mim. Vamos dar um passo por vez e pensar na minha família depois, tá bom? — pediu e tocou meu ombro rapidamente.

— Victor...

— Sarah, você pode vir aqui? — ouvi a voz de Josué me chamando e interrompendo minha conversa com o doutor mais uma vez.

Eu olhei para Victor.  — Mabel já está trocada e limpinha. Você pode ficar com ela por alguns instantes?

— Certo — respondeu ainda meio inseguro e eu aproveitei a deixa, levantei do sofá e deixei Victor ali.

Segui até o lado de fora, o lugar de onde eu havia sido chamada e tomei um susto quando dei de cara com Gabriela e Davi, meu irmão, chegando de carro ao instituto.

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