Já ia fazer umas duas horas e meia que eu estava trancada no quarto, mexendo no celular com todas as luzes apagadas, menos a televisão. Um tédio me percorreu e eu só queria fugir dali, nem que seja para pular do terceiro andar dessa casa e cair morta no gramado por quebrar a clavícula. Não me importava, só queria fugir.
Tinha uma escada feita de uns lenços em cima do meu guarda-roupa, mas minha mãe teve o infeliz prazer de coloca-la extremamente longe de mim, não me possibilitando uma fuga dessa prisão torturante. Tentei ligar para uns amigos e nada, apenas caixa postal.
Mas é óbvio que vai cair na caixa postal, Amber. É uma sexta feira de novembro, seus amigos com certeza estão enchendo a cara por qualquer canto dessa cidade. Afinal, essa cidade é perfeita pra isso. Claro que eu poderia estar também, mas se meus pais não tivessem pirado de vez, quem sabe as coisas não seriam diferentes.
Olhei para a tela do meu celular pela milésima vez e só tinha passado mais dois minutos. Dois fucking minutos. O que eu ia fazer o resto da noite? Ainda eram oito e vinte e sete, meus pais só chegariam ás dez. Pena que aquele peixe esta lá em baixo, bloqueando meu caminho.
Mas... Ele não sabe aonde são todas as portas da casa, né? Afinal, é o primeiro dia dele. Dei um sorriso com minha ideia brilhante de escapar pelo lugar mais óbvio daqui, menos a porta da frente. Essa casa deveria ter umas vinte portas, e só sete davam para o quintal, e com quintal eu quero dizer liberdade.
Me aproximei rápido do meu computador e mandei mensagem para Jéssica, minha melhor amiga desde a quarta série. Disse que era para ela vir de carro e me esperar no portão, sem buzinar. Eu ia estar pronta em vinte minutos.
Sem esperar uma resposta imediata, fui até meu armário e pensei em qual roupa usar. Tinha tantas opções, e algumas nunca tinha nem experimentado. Decidi então optar por um short preto de pano e uma blusa estampada azul escura. Pus um tênis preto também e dei uma remexida no cabelo.
Meu computador fez barulho, me fazendo ir até o mesmo. Dei um sorriso ao ler a seguinte mensagem:
"Okay. Espero que não esteja aprontando, dona Amber.
Estarei no seu portão em 10 min, vá rápido!"
Mandei por último uma mensagem de confirmação e me aproximei da gaveta, pegando uns dois cartões e pondo meu celular no bolso. Tudo pronto, só faltava enganar o dragão lá em baixo.
Me aproximei do degrau mais alto da escada e observei atentamente a sala. Dener estava no sofá maior, assistindo uma biografia sobre sei lá o que. Eca, além de chato ainda é nerd. Revirei os olhos.
Nem segurei no corrimão, apenas desci cuidadosamente, sem fazer o menor barulho possível. Minha única saída vai ser a porta principal mesmo. Se ele me ver indo para as outras partes da casa com essa roupa, vai ser o fim.
Faltava só mais um pouco, só mais uns segundos e eu final estaria livre desse inferno por pelo menos seis horas depois dessa.
Segurei na maçaneta devagar, e fui girando no maior cuidado do mundo...
- Aonde pensa que vai, Madame? - A voz dele acabou me dando um susto.
Dei um pequeno pulo e pus a mão sobre o peito. Respirei fundo.
- Comprar hidratante, o meu acabou. - Tentei dizer do jeito mais sério, confiante e verdadeiro possível. Tudo dependia do modo que eu dissesse e dele cair nisso.
Ouvi sua risada calma, e então o garoto levantou do sofá, primeiro se espreguiçando e depois vindo até mim, com ambas as mãos no bolso. Ergui uma sobrancelha.
Dener cruzou os braços e deu um sorrisinho, encostando o ombro no batente da porta.
- Bela tentativa, garota. Seus pais me alertaram sobre todos os seus truques de fuga. Não vai se livrar tão fácil de mim.
- Não custa tentar fazer isso.
- Amber, não me faça ligar para os seus pais. - Seu rosto ficou sério.
Bufei e subi batendo forte os pés. Merda! O pior é que eu já estava pronta, definitivamente pronta para vazar daqui de uma vez só. Ai que ódio.
Preciso pensar rápido em alguma coisa, não ia ficar nem mais cinco minutos nessa casa trancada no quarto enquanto o bonito lá em baixo fica assistindo televisão.
Me aproximei da minha janela e o carro preto da minha melhor amiga estava estacionado perto da árvore que tínhamos na frente. Do jeito impaciente que ela é, não deve ficar ali mais de quinze minutos, mas eu só ia precisar disso para sair.
A distância do chão para minha janela era uns uns três metrôs e meio. Não era uma distância tão pequena assim, mas acho que da para dar um jeito.
Me aproximei do meu armário e tirei uns travesseiros e fui colocando tudo sobre a cama. Bichos de pelúcia, almofadas, travesseiros e uns dois colchões velhos que meus avós sempre usam quando dormem aqui. Após fazer isso, primeiro joguei os colchões pela janela. Eles não caíram tão perto, mas não me importei. Joguei o resto das coisas e parecia fofo o suficiente para não quebrar uma perna.
Liguei o computador e pus algumas músicas para tocar, antes de trancar a porta.
Meu celular vibrou, me fazendo pegar o mesmo e ver o nome da Jessica estampado na telinha. Deslizei para o lado e pus sobre o ouvido.
Ligação On~
- Alô?
Jéssica: Cadê você? Estou aqui há uns vinte minutos e nada!
- Calma, já vou. Tive um pequeno contratempo.
Jéssica: Vai logo, não podemos demorar.
- Okay.
Ligação Off~
Pus ambas as mãos na janela e me agachei sobre a mesma, dando um suspiro e tentando tomar coragem. Sem pensar muito, dei impulso pra frente e cai no colchão de joelhos. Doeu um pouco o impacto, mas estou bem. Olhei para trás e pela janela da cozinha, vi Dener abrindo a geladeira. Dei um sorriso, era minha chance.
Fui correndo sem olhar novamente para a casa, e tentando não fazer barulho. Abri a porta do quintal e praticamente dei um pulo para dentro do carro, no carona.
- Pisa fundo! - Falei ao fechar a porta.
Não demorou muito e Jéssica pisou no acelerador, fazendo o carro derrapar um pouco mas se manter tranquilamente após umas duas ruas. Dei um suspiro de alívio e uma risada.
- Aprontando novamente? - Ergueu uma sobrancelha.
- Ai, ai - Sorri. - Meus pais colocaram um babá para cuidar de mim. - Revirei os olhos. - Isso é ridículo.
- "Um babá"? - Me olhou por uns segundos antes de voltar a prestar atenção na estrada. - Você já não está velha demais para ter alguém te vigiando?
Dei de ombros.
- Depois da última festa eles surtaram. Ameaçaram me mandar para o colégio de freiras e tudo, ou militar.
Jéssica deu uma risada.
- Onde vamos?
- No parque de diversões, o pessoal está lá. - Disse por fim.
- Quem?
- Você sabe. - A encarei, com cara de desentendida. - Por que prefere que eu diga? Ele vai estar lá. - Com uma mão só ela foi dirigindo.
Escondi o sorriso e engoli o mesmo, respirando fundo.
- Ele quem?
- Não seja sonsa, Amber. Vocês estão nessa há quase um ano, e já está ridículo.
Virei o rosto e cruzei os braços, encarando a janela. Ela sempre dizia isso.
- E está ótimo assim.
- Tudo bem então, mas já sabe o que eu acho sobre o rolo de vocês.
(....)
Ela estacionou o carro e eu tirei o cinto de segurança, sentindo a emoção me corroer. Finalmente depois de um tempo, íamos sair juntos de novo.
Fui com minha melhor amiga na direção do pessoal e dei um sorriso na direção deles.
- Demoraram, em - Max diz dando um beijo na minha bochecha, e fazendo o mesmo com Jéssica.
- Tivemos uma pequena pedra no caminho. - Dou um sorriso sem mostrar os dentes.
Mais atrás, e lá estava ele com uma regata cinza, e uma short preto, com o tênis preto também. Estava apoiado em uma parede grande, toda grafitada. Mordisquei os lábios já sentindo o calor me invadir. A forma atraente que ele estava posicionado também não melhorava minha situação.
Seu corte de cabelo novo deixava seu rosto mais a mostra, e parece que ele cumpriu o que disse, porque seus braços estavam mais sarados e seus músculos bem visíveis de academia. Sorri maliciosa.
- Amber! - Max estala o dedo na frente do meu rosto. Pisco repetidas vezes me recompondo e dou um tapa em sua mão, tirando a mesma da minha vista. - O que foi, garota?
Dei de ombros.
Ouço minha melhor amiga suspirar.
- Pode chamar os pombinhos, por favor? Eu quero comprar os tickets logo. - Jéssica fala sem paciência. Revirei os olhos.
Max chamou, e então ele veio com aquele maldito corpo que me intriga na nossa direção. Entreabri a boca soltando um suspiro leve, e tentando não imaginar ele na minha cama novamente.
Seus olhos atingiram os meus, o que me fez dar um sorriso de lado com o olhar fixo em sua boca. Tentei ser o mais discreta possível, juro.
- E ai. - Sebastian finalmente sorriu, e especificamente pra mim.
- Vamos ou não? - A voz enojada dela me fez revirar os olhos automaticamente.
Fomos andando na direção da bilheteria para comprarmos os tickets. Passei na frente do nosso pessoal e comprei. Em seguida Jéssica fez a mesma coisa.
Fui para o canto e peguei meu celular. Tinha uma mensagem de um número desconhecido.
"Você é uma garota morta, Amber."
Dei um sorriso vitorioso após ver a foto do perfil. Nunca que o Dener ia me achar aqui, e se acha que sim, só pode estar louco.
Coloquei o celular no bolso novamente, quando vejo minha melhor amiga se aproximando com a cara fechada.
- Que bicho te mordeu? - Ergui a sobrancelha.
- Fica longe da Julie, Amber. Você sabe bem como ela é estourada, e sinceramente, não quero que vocês se matem aqui.
Revirei os olhos com desgosto. Não que eu não soubesse me cuidar, né.
- Não estou fazendo nada com ela. - Disse por fim.
- Flertando com o namorado dela na cara dura? Dando pra ele pelo menos uma vez por mês? Trocando mensagens e fotos indecentes, Amber? Isso é fazer alguma coisa! - Falou indignada. - Sai dessa, você vale mais do que isso. Eu vi a forma que olhou pra ele hoje, e se um dia a Julie perceber, você tá ferrada.
Antes que eu pudesse abrir a boca para continuar, Max vem em nossa direção.
- Vamos na montanha russa primeiro. Vocês vem? - Concordamos.
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Max Mitchell