Acordei com o barulho do despertador. Dessa vez coloquei o despertador para tocar meia hora antes, isso acabou me dando bastante tempo.
Abri a janela. O dia estava lindo. Passarinhos cantando e um clima maravilhoso.
Nada melhor que um bom banho quente de manhã. Entrei no banheiro e coloquei uma boa música para tocar.
Quando estava prestes a sentir a água quente cair sobre meu corpo, a cabeça da minha mãe saiu do armário fazendo eu cair no chão.
-Lory, acorda! Você já está super atrasada!
Que isso!? Por que ela está mandando eu acordar? E por que diabos ela está no armário?
- Para de falar dormindo! Acorda!
Acordei me sentando na cama rapidamente. Pisquei, atordoada.
- Lory, você está atrasada! Levanta agora. - A mulher com cabelos castanhos gritou puxando minha coberta.
- Quê? - Olhei o despertador. - Merda! - calcei minha pantufas e sai correndo para o banheiro. Ao sair do mesmo coloquei qualquer roupa, que no caso foi uma calça jeans, uma blusa branca e um casaco bordado. - Meus tênis... Mãe cadê meus tênis!?
...*...*...
Entrei de mansinho na sala. O professor não percebeu meu atraso, obrigado Deus!
- Rápido. - Sussurrou Ben. Ele agora estava sentando no canto da parede, permitindo que eu me senta-se mais facilmente sem chamar muita atenção.
- Obrigado. - Agredeci num sussurro. Coloquei minha mochila na cadeira e peguei meu material. O menino ao meu lado prestava atenção na aula.
Cadê minha caneta!? Não creio... Esqueci o estojo, merda! A única opção agora é isso. - Ei... - Falei baixo, tentando chamar atenção de Ben. - Ei! - Chamei-o num tom mais alto, parece que ele estava muito concentrado na aula. Peguei uma folha de papel, amassei a mesma, me preparei e joguei a bolinha na mesa de Ben.
- Aí! - Caiu no rosto dele, bosta. - Que merda, Lory! - Acho que joguei com força. O rapaz abriu o estojo e me deu uma caneta. - Pega. - Falou o mesmo olhando para o quadro.
- Obrigado e desculpas. - Agradeci baixinho. Como ele sabia que eu queria uma caneta?
- Vocês dois! Parem de conversar! - O professor gritou alto apontando a caneta para nós.
- Desculpas! - Pedimos ambos. Ben me olhou com reprovação. Que merda, eu só queria uma caneta.
O restante da aula foi silenciosa, Ben as vezes falava com o professor para tirar algumas dúvidas, mas foi só isso.
O sinal tocou e todos fomos para o refeitório. Usei dois reais dos cincos que tinha me sobrado de ontem, e comprei duas rosquinhas quentinhas. Me sentei numa mesa vazia.
- Delícia! - Peguei uma das rosquinhas e estava prestes a devorá-la quando alguém me interrompeu.
- Olha se não é a aluna nova. - Falou uma menina com cabelos louros e uma roupa nada descente.
- Errou... Eu sou na verdade a Lady Gaga. - Retruquei com um tom irônico enquanto enfiava a rosquinha na boca.
- Haha, você é engraçada, novata. - Diz a mesma com um sorriso forçado, essas idiotas...
- Hum. - Murmurei limpando o canto da boca. - Vocês atuam muito mal. - Admiti lambendo os dedos. Os olhos da menina se arregalaram fazendo um pequeno
sorriso sair dos meus lábios.
- Ah, do que você está falando? - Perguntou a mesma com um sorriso nervoso. Encontrei seus olhos de forma séria.
- Estou falando que esse plano não vai dar certo. Pode falar com a sua amiguinha Melanie, para ela não mexer comigo. Isso serve para você também. - Ví a menina se mexer inquieta. Me levantei da cadeira, aquela situação já estava enchendo meu saco. Olhei mais uma vez Melanie que nos observava de longe. Até parece que eu iria cair nos planinhos de uma menina fútil.
Fui para os corredores, lá tem janelas grandes. A vista era linda, dava para ver a linda floresta de Umbrella city. movidas pelo vento, as copas das árvores farfalhavam.
-Uma vista realmente linda. - Comentou uma menina com cabelos pretos e olhos azuis.
- Sim, mas o mais bonito é o movimento das folhas das árvores. - Contei a encarando. Seus olhos eram um azul brilhante e seus cabelos incrivelmente pretos.
- É verdade. O jeito que elas crescem, e como elas aguentam secas e chuvas fortes. - Continuou, olhando para as árvores de forma calma. Eu com certeza quero essa menina como amiga.
- Prazer, Lory. - Falei esticando a mão, seus olhos me encaravam por alguns segundos e logo sua mão se estendeu.
- Olá, me chamo Emily. - A menina apertou minha mão. Naquela momento, não era apenas as árvores que me passavam tranquilidade.
- Como é bom falar com alguma menina novamente. - Admiti aliviada. Nunca fui boa em falar com meninas, acho a maioria delas falsas e fúteis. Mas Emily parecia diferente, dava para ver que ela é uma pessoa calma, e está longe de ser fútil.
- Falo o mesmo, a maioria das meninas aqui são... - Ela parou. Parecia tentar encontrar uma palavra. - Como posso descreve-las...? - Perguntou pensativa. A expressão que ela estava fazendo naquele momento era engraçada. Coloquei a mão na boca tentando segurar o riso, dava para ver que ela estava realmente pensativa.
- Diferentes? - Chutei tentando ajudá-la. Um sorriso apareceu em seus lábios.
- Isso! - Concordou a mesma, com um sorriso no rosto. Sua mochila rosa dava um ar delicado para ela, diferente de seus cabelos que a davam um ar selvagem.
- Também acho. - Lembro das meninas nada sociáveis de mais cedo. Foi difícil puxar assunto.
A mochila dela estava aberta e alguns papéis caíram. Me abaixei para tentar ajudá-la. Meus olhas admiraram as belas imagens.
- Uau. - Eram lindos desenhos. O que chamou mais minha atenção foi um desenho de árvores, e no fundo tinha um lindo por do sol. - Isso está lindo! - Contei pegando os desenhos do chão. - Você que fez? - Perguntei admirando os mesmo. Os traços eram tão leves. Nunca tinha visto algo assim.
- Sim... - Admitiu com timidez. - É para uma competição que ocorre todo ano aqui na escola. Como esse é meu primeiro ano aqui, eu quero muito participar. - Ela parecia animada e para ser sincera, acho que ela tem chances de ganhar, chances altas.
- Você desenha muito bem! Com certeza iria ganhar! - Ainda admirava os belos traços leves. Ela com certeza se esforçou bastante.
- Obrigado, mas ultimamente ando sem tempo. O grêmio estudantil acaba sendo muito puxado. - Ela tinha um sorriso cansado nos lábios, que revelou uma covinha solitária. A mesma pegou os papéis da minha mão de forma sutil e os guardou na mochila. Sorri para a menina que segurava as alças da mochila com os olhos voltados para o chão.
- Então você é do grêmio? - Perguntei apoiando o queixo com a mão.
- Sim, sou a representa. É muito cansativo e puxado. Acabo não tendo tempo para fazer outras coisas. - Ela parecia triste, dava para perceber sua dedicação.
- Imagino, mas deve ser legal ser uma aluna importante. - Admiti enquanto observava as árvores. A menina fez o mesmo.
- Sim, mas é muito trabalhoso. As vezes fico até mais tarde aqui na escola. Inclusive hoje é um desses dias. - Ela abriu a mochila e olhou uns papéis. Acho que eram horários. Emily olhou um relógio que estava em seu pulso. - Tenho que ir. Depois nos falamos. - Falou a mesma virando para frente. - E aliás, nossa conversa foi muito boa. Tchau, Lory. - Declarou por fim se afastando de forma apressada.
- Realmente, foi muito boa. - Falei baixo enquanto via a mesma indo embora.
...*...*...
Eu estava voltando sozinha para casa. O tempo estava tranquilo e a brisa me passava uma sensação boa. Andava em frente de um parque, porém um cachorro de pelo preto chamou minha atenção. Meu coração estremeceu ao ver um menino brincando com o pequeno cão.
Fui até o parque, o cachorro começa balançar o rabo freneticamente ao me ver. - Mike! - Gritei o pegando no colo. O cão começou a lamber meu rosto. - Para, Mike! - Pedi afastando o mesmo do meu rosto. De relei pude ver Dilan sorrindo e se aproximando.
- É Smuff. Você sempre erra o nome dele. - Afirmou Dilan se aproximando e dando carinho debaixo do queixo do cão.
- Costume. - O cãozinho filhote parecia feliz com toda atenção. - O que faz aqui? Não foi para a escola hoje? - Perguntei vendo o olho roxo do menino. Seus olhos encontraram o meu e logo encararam o chão.
- Ah... Eu fui, mas... Acabei sendo suspenso por hoje. - Sua fala era pausada e ele parecia desconfortável.
- O que você fez? - Perguntei passando a mão com cuidado na parte machucada. Seu corpo se contorseu com meu toque.
- Relaxa, não foi nada de mais. - Declarou tirando minha mão do seu rosto. O lugar estava bem roxo e parecia estar doendo. Eu vou acabar com a raça de quem fez isso, ninguém mexe com a minha.. Quer dizer, com o meu amigo... - não precisa se preocupar. - Ele segurou minha mão de forma carinhosa e parte de mim gritou de felicidade com seu toque quente, mas a outra sabia que era errado, ele tem namorada.
- Ninguém falou que eu estou preocupada. - retruquei puxando minha mão. Um sorriso divertido apareceu em seus lábios. Meus olhos admiravam seu cabelo meio enroladinho que sempre me dava vontade de desmanchar o topete. Encontrei seus olhos, aquela mancha roxa fez uma pontada de raiva atingir meu coração. - Mas só por precaução, e melhor você usar essa pomada. - Contei abrindo a mochila e tirando uma pomada que sempre carrego comigo. O menino me observavou confuso com suas sombrancelhas negras arqueadas.
Ele permaneceu calado por alguns segundos encarando a pequena embalagem, até que sua boca abriu. -Por que você anda com pomada na mochila? - Perguntou perdido pegando a pomada. Ele estava sério e me encarava com intensidade, senti minhas bochechas queimarem... Deve ser por causa do sol... O sol que está escondido em algum lugar bem longe de Umbrella City.
- Tenho meus motivos. - Respondi com um sorriso descarado. Seus olhos me observaram de forma preocupada e logo ele coçou a cabeça pronto para me dar um esporro. Achei isso engraçado. - Relaxa eu não ando mais brigando. - Declarei olhando Smuff, o mesma estava tranquilo, quase dormindo em meus braços. Um suspiro pesado saiu dos lábios do menino de cabelos castanhos, fazendo eu olhá-lo.
- Espero... - Admitiu num suspiro mais longo ainda. Suas mãos seguraram as pontas dos meus cabelos e uma onda de vergonha me dominou. Ele umedeceu os lábios e logo em seguida voltou a falar. - Uma menina não pode andar toda roxa, como você andava antes. - Contou segurando meus fios com cuidado. Seus olhos encontraram os meus e num impulso eu tirei os fios de sua mão. Eu odeio quando perco o controle do meu coração e parece que ele vai pular num abismo que depois vai ser muito difícil de sair.
- J- Já falei que não brigo mais! E você devia fazer o mesmo! - Falei num tom alto tentando não gaguejar. Dei um tapinha em sua cabeça em forma de repreensão.
- Eu também parei. - Contou mexendo na terra com o pé. - Eu entrei numa hoje, mas teve um motivo. - Falou desanimado. Seus olhos fitavam o chão e pude sentir a aura pesada que estava ao seu redor. Algo aconteceu...
- Que motivo seria esse? - Perguntei cruzando os braços e o encarando com os olhos meio fechados. Eu o olhava esperando seus olhos encontrarem os meus. Sua cabeça se ergueu fazendo os brilhantes olhos castanhos sustentarem os meus.
- Não lembro. - Respondeu com aquele sorriso de criança sapeca de sempre.
- Ah, pod... - Estava prestes á começar a falar quando senti alguns pingos caírem em mim... Chuva. O que eram pingos rapidamente se transformaram numa chuva forte. O cachorrinho que estava dormindo, acordou latindo e pulou dos meus braços.
- Smuff! - Dilan gritou tentando chamar a atenção do cão, mas foi em vão, ele já estava muito longe. - Merda! - O mesmo pegou uma das minhas mãos e começa a me puxar. - Temos que procurar o Smuff!
"Não mexam comigo."
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