Gabriella 💖
Eu queria ter o poder de abrir a boca para dizer que a minha vida era boa, mas acho que eu não poderia mentir dessa forma.
Tenho dezenove anos, vivo em uma casa, ou melhor, em um barraco, no morro Chapadão, com meu padrasto. A minha mãe foi morta por um traficante daqui pelo fato de dever drogas.
Ela nem de perto foi a melhor mãe para mim, vivia me batendo, xingando, me machucando de todas as formas e acabou tendo esse final.
Eu sinto falta porque era minha mãe, a única presença feminina que eu ainda tinha, mas para falar a verdade, eu achava melhor assim.
Meu padastro, Roberto, tem 38 anos. Trabalha como ajudante de pedreiro e as vezes faz uns bicos pelo morro. Temos uma relação muito boa, ele nunca encostou ou levantou a mão pra mim. Nossa relação vive a base de respeito, eu ajudo ele e ele me ajuda.
O meu irmão, bom... Jonas tem 27 anos, é bandido e não olha na minha cara. O motivo? Porque quando nossa mãe morreu, ele mandou eu escolher entre ele e o Roberto.
Com certeza o Jonas é a única pessoa viva da minha família, mas eu sentia gratidão ao Roberto, ele sempre me ajudou e se eu fosse embora, ele não teria nem o que comer, pois os nossos salários se juntam.
Jonas não gosta dele e Roberto não gosta do Jonas, então não dá para os dois se ajudarem.
Eu já tinha graças a deus terminado a minha escola, porém ainda tinha o sonho de fazer faculdade, porém ainda era muito difícil, porque eu tinha que trabalhar então não teria tempo.
Eu trabalho em um lugar bastante improvável, mas é um lugar pelo menos fixo. A casa de um dos chefes, vulgo, Th.
Eu sou como uma professora de reforço do filho do chefe daqui, complexo da maré, ele me paga bem até, algumas vezes.
Esse é o único trampo fixo meu e também o que mais me salva, mas mesmo assim não paro por aí. Faço faxinas quando dá, ou qualquer outro bagulho que me oferecem.
Eu ia pra casa do chefe todas as noites, das 18h às 19h, eu ficava ensinando ao Vinícius e tirando as dúvidas e tudo dele.
Eu não era professora, nem de longe isso, porém ele estava no sexto ano e os assuntos era muito fácil de compreender, para mim mais ainda, que sempre me esforcei, ou apenas tentei.
Por mais que eu me esforçasse, minhas notas não eram lá as melhores, parecia que quanto mais eu estudava, mais burra eu ficava pra prova.
Agora, eu estava terminando de fechar os botões da minha calça, para poder ir pro meu trabalho.
Terminei de pentear meu cabelo e abri a porta, vendo meu padrasto na cozinha, fritando ovos.
Roberto: Já vai? Dá tempo para um lanche? - Falou animado e eu neguei, sorrindo.
Gabi: Faltam 15 minutos, o chefe odeia atrasos e você sabe como eu sou lesma pra andar! - Ele riu, confirmando com a cabeça.- Deixa pra próxima, mas quero saber que felicidade é essa.
Roberto: Mais pra frente você irá descobrir.- Sorri e acenei pra ele, abrindo a porta.
Como aqui as casas já eram a tal porta na rua, não tinha portão e tal, quer dizer, a maioria das casas aqui era assim, porque ninguém do morro rouba ninguém.
E se roubar, sempre será cobrado.
Fui caminhando em passos rápidos até a parte mais alta do complexo, odiava o fato de eu estar de calça jeans e ainda ser alvo de piadinhas desses machos.
Parecia que quanto mais eu me vestia, mais era alvo de piadas. Todos os dias, todas as vezes que eu subia isso, eu escutava essas merdas de cantadas.
Quando estava bem próximo da casa do chefe, pude perceber alguém atrás de mim, respirei fundo e apressei os passos, quase derrubando a porta do chefe.
Vinícius: Tia Bibi...- Falou animado, abrindo a porta e eu coloquei a mão no coração, entrando e fechando a porta.
Th: Que cara é essa? - A voz grossa e grave do sub dono do morro, me fez arrepiar, como sempre.
E não, já faziam 2 meses que eu tinha começado a ajudar o filho dele e ainda não tinha me acostumado com essa voz.
Gabi: Eu...eu acho que tinha alguém me seguindo...- Falei meio nervosa, passando a mão no cabelo.
Vinícius: Quer água? - Assenti, passando a mão no rosto e ele saiu correndo.
Manti minha cabeça baixa e dei um pulo, após escutar alguém batendo na porta, já que a mesma estava atrás de mim.
Escutei uma risada baixa e debochada e o homem foi se aproximando de mim, parando na minha frente e me encarando.
Th: Tu pode sair da frente ou quer abrir a porta? - Olhei pra ele sem entender, mas logo sorri sem graça, saindo dali.
Vinícius veio me trazendo um copo de água e eu sorri, agradecendo. Olhei pra porta e vi que era o dono do morro, o Rato.
Não gostava dele, ele me trazia medo e eu odiava isso, era um velho nojento que se achava, só por ter o poder no morro.
Ao perceber que eu olhava, ele me olhou de volta, sorrindo malicioso e eu me encolhi, virando o rosto.
O Vinícius é uma criança muito fofa, tem 10 anos e é muito inteligente, ele diz que eu sou uma das melhores amigas dele.
Eu percebo que ele é meio carente da atenção do pai, pelo pouco tempo que passo aqui, vejo ele perguntando qualquer coisa pro Th e sendo respondido com grosseria e as vezes ignorado.
Por isso, além de estudar sempre tento brincar com ele, mas o Th nunca deixa passar de 19h e eu não entendo o porquê.
Vinícius é proibido de me contar muitas coisas, pelo o que eu sei. Mas as vezes ele acaba deixando algumas coisas escaparem e eu vou juntando, por pura curiosidade.
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• mais um livro 💖
Gabriella Viana, 19 anos.
Thiago Ferreira, 30 anos.
vulgo: Th.
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Jonas Viana, 27 anos.
vulgo: Jhon