NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BET...

By SaikoMente

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[Concluida] No futuro os sentimentos foram exterminados após a extinção quase completa da humanidade. Sem Toq... More

PRÓLOGO (parte 1)
Tremor (Prólogo parte 2)
Ele (Prólogo parte 3)
Sono
Defeito
Incômodo
Terno
Amigo
Abraço
Nublado
Gritos
TRAILER
Singular
Genuíno
Beijo
Tempestade
Luz
Distração
Não
Você
Eles
Vazio - Final
NÓS - Epílogo

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By SaikoMente


Retorno à sala em silêncio, dessa vez não olhando para ninguém.

Foi um exagero pensar em tudo aquilo, daquela forma. Não é nenhuma salvação que ele tenha me tocado, não é nada que eu não pudesse viver sem pelo resto de minha vida, nada que devesse fazer meu coração acelerar daquela forma. Ele é exatamente igual aos outros, sendo defeituoso ou não.

Porque ninguém se importa com ninguém.

Abro minha tela, dessa vez trabalhando, e sentindo meu peito queimar, mas não de uma maneira agradável ou positiva. Quero ficar longe dele, por que minha tela têm que ser tão perto? Não vou olhar, não preciso olhar em seus olhos para ser educado ou ter boa convivência, não preciso ser o primeiro a dar bom dia.

Não preciso de nada disso.

O dia passa, e esses pensamentos apenas se repetiam sem parar desde que saí daquele banheiro. E assim que chegasse ao apartamento, tomaria a superdose, e amanhã estaria no controle novamente. Eu não quero me sentir como aquele cão, nem experimentar nada disso. Me sinto exausto, muito mais que o corriqueiro, e só quero sair dessa sala. Todos começam a se mexer, desligando suas telas, que mostravam a imagem do Olho até apagar. Sinto a presença dele ao meu lado, se movendo finalizando suas atividades. Se ele iria diretamente aos apartamentos, não quero ter que segui-lo agora.

Continuo trabalhando, sem me mover, aproximando para detalhar algumas das primeiras estrelas que salpiquei naquele espaço vazio e escuro, ainda parado no lugar.

Ouço quando ele se afasta, e todos se afastam, me deixando sozinho.

Por que ele sorri sobre o que Taehyung fala com ele, mas me diz que sou um incômodo?

Comprimo os lábios, continuando meu trabalho. Observo minha mão, deslizando o cursor pela tela.

Minha pele arrepia, quando a memória instantaneamente vem a minha mente. Ele tocando meu rosto, depois de me proteger do tremor. Encaro a tela, já não enxergando-a de fato, pensando. Olhou para a palma de minha mão, largando o cursor de lado.

A minha outra mão, deixa a barra de ferro, se aproximando da esquerda. Toco meus dedos, não como fazia com meu corpo, quando me lavava ao tomar banho, porque é como se estivesse fazendo algo absolutamente novo.

O deslizar do meu indicador no dorso da mão, é suave, e é como se uma pequena carga elétrica acompanhasse meu próprio toque na pele. Quase imperceptível.

Olho ao redor, em alerta, como se alguém me vigiasse. Mas estou sozinho. E pela primeira vez em alguns dias... De alguma forma foi um alívio saber disso. Olho pela grande janela de vidro, assistindo o entardecer chegar, escurecendo tudo, enquanto o cinza ganhava força até chegar ao breu.

Isso me leva a lembrar da tela laranja, em que Jimin está trabalhando.

|

Não me dei ao trabalho de ir à aula coletiva, porque me pareceu diferente ficar na sala onde trabalho até tarde. Tudo escurecia, e nenhuma luz acesa, enquanto estava sentado no chão. Foi simples, solitário, mas de alguma forma novo.

Volto ao apartamento, me troco para tomar banho.

_Volto logo, Síria. _comento com o Robô, fechando a porta.

Entro no banheiro devagar, verificando estar sozinho, e começo a me despir. Observo a água quente, antes de ficar debaixo, aproveitando a sensação. Se ia voltar a tomar os supressores, tudo aquilo ficaria simplório de novo.

Então devo aproveitar as últimas sensações agradáveis e bloquear as que envolvem Jimin. Encaro a parede, lembrando de seu rosto. Por mais que negasse, a memória dele ainda aquecia meu peito de uma forma agradável.

Levo minha mão ao meu rosto, devagar, no mesmo lugar onde ele tocou, me despedindo da sensação.

Volto ao elevador, para chegar ao meu andar. Quando chego, noto uma silhueta de pé, em frente a minha porta. Meu coração acelera, enquanto pondero sobre quem seria, só conseguia ver as roupas brancas. O que estavam fazendo ali? Teria algo a ver com os supressores?

Me mantive quieto, até que quem quer que fosse se afastasse, e ouvisse o barulho de uma das portas.

Entro rapidamente em meu apartamento, olhando tudo ao redor.

_Síria? Síria?

A robô aparece. _Boa noite, Jungkook.

Respiro aliviado, me abaixando a altura dela. _Boa... Boa noite. Síria, alguém esteve aqui?

Ela demorou alguns segundos a responder. _Jungkook esteve aqui, e está aqui agora.

Assinto, percebendo como ela era capaz de me responder muito mais que bom dia, boa noite, ou "tome seus supressores".

_E você também está, Síria. Você também.

Assisto a mensagem, me deito quieto, colocando a cabeça sobre o braço. Inevitavelmente, olho para a parede lisa ao lado. Ele com certeza já chegou. Está dormindo também?

Suspiro, me virando de costas para a janela.

Acordo cedo, novamente me sentindo cansado e preguiçoso, mas me levanto mesmo assim. Me troco, como, tento ler um de meus livros mas não me concentro de fato. Por isso decidi que era melhor sair logo.

Assim que abro a porta, me deparo com Jimin.

Ele estava em suas roupas claras, de braços cruzados escorado na parede. Braços cruzados? Nunca tinha visto algo assim antes, a não ser pela televisão. Era sinal de emoção, afinal.

Me recupero da surpresa, analisando seu rosto impassivo, calmo. Ele passou a me encarar também, e um silêncio se estendeu com isso. Decidi seguir meu caminho, e notei quando veio atrás de mim, ainda quieto. Entro no elevador, ele me segue. Meu coração estava acelerado, então levo calmamente a mão ao peito, massageando um pouco, na tentativa de aliviar a sensação. Por que ele estava daquele jeito, na minha porta?

Tento não pensar demais, quando as portas do elevador se abrem. Não disse nenhum "bom dia". As palavras dele, dizendo que sou um incômodo ainda estão bem vivas em minha memória.

Passo pelo caminho verde, até chegar ao prédio, andando pelos corredores brancos até a sala. Sinto a presença dele, bem atrás de mim, como uma sombra. Vejo a sala ainda vazia, indo até minha tela.

Logo Taehyung chega, com Namjoon próximo a si, e ocupam suas devidas telas.

_Bom dia, Jimini... Jimin. _Taehyung fala. Vi bem a variação no nome, mas me mantive quieto.

_Bom dia, Jimin. _Namjoon fala. _Bom dia, Jungkook.

_Bom dia, Jungkook. _Taehyung diz em seguida.

_Bom dia. _falo num tom baixo.

Ouço um barulho ao lado, como se Jimin tivesse expulsado o ar de seu corpo pelo nariz, com certa força, soprado. Não me mexo, aguardando o Olho aparecer na tela, para iniciar meu trabalho.

Começo a pintar, me concentrando ao acessar as Memórias. Meu coração aqueceu de repente, ao visualizar o céu imenso e escuro, salpicado de pontos de luz. Ardeu de forma que tive que apalpá-lo em minha mão novamente, tentando me acalmar. Era como se a memória estivesse mais viva, mais minha. Como se tivesse visto com meus próprios olhos.

Abro a boca, deixando o ar sair aos poucos, me focando ao máximo na tela. Era incrível, incrível como o cursor do pincel deslizava, pontuando e colorindo, tornando tudo na imagem mais vivo também.

Comprimi os lábios, vendo como meu trabalho parecia diferente. Meu peito ainda aquecido, me passava uma sensação de... Satisfação. Aquilo parecia tão real.

_Jungkook? _Olho em volta, tentando saber de onde veio a voz. Yugyeom me encarava, a algumas telas de distância. Neutralizo minha expressão no mesmo instante. _Algum problema?

Era sempre assim. Todos vendo todos. Eu provavelmente estava demonstrando algo, através de meu rosto. Afinal de contas, decidi não tomar os supressores, por enquanto.

Engulo com dificuldade, abrindo a boca para falar, mas antes que o fizesse a voz de Jimin ao meu lado me impede.

_Está tendo memórias com humanos novamente? _questiona, sem olhar para mim _teve semana passada também. Também fico esquisito quando tenho. _falou simplesmente. Por simples que fosse, noto que aquilo pareceu satisfazer a curiosidade de Yugyeom, que voltou a atenção a sua própria tela. Eu ainda encarava Jimin, em silêncio.

Não consigo entendê-lo. Ele quer ou não cooperar, por sermos iguais? Respiro fundo, voltando a me concentrar. Mas sinto quando ele me olha, vez ou outra.

Tenho sentido tanto, ultimamente.

É a hora de comer, todos vão deixando suas telas aos poucos, saindo da sala. Continuo pintando, quieto. Não estou com fome agora, quero experimentar mais dessa sensação.

|

O fim de tarde chega, fazendo com que o tom acinzentado se aproxime mais do escuro na sala. Todos vão deixando suas telas e saindo. Mas não quero sair. Quero continuar um pouco mais, já consigo identificar algumas constelações no meio da poeira espacial brilhante. É fascinante.

Mal noto o movimentar de alguém, mas só percebo de fato quem é quando vejo metade de uma barra essencial, estendida em minha direção. Olho a mão, com dedos um tanto quanto rechonchudos, mais curtos que os meus, levando ao braço coberto pelo uniforme branco, ombros eretos, a garganta se movendo, o rosto.

É Jimin, com seu olhar monótono, sem me olhar nos olhos. Continuo encarando seu rosto, sem falar ou fazer nada, sem conseguir entender direito.

_Pegue de uma vez. _começou, desviando o olhar para um dos lados, desdenhoso. _Não comeu hoje. Tem que se manter ativo, não quero ter que dobrar meu trabalho por conta de mal estar dos colegas.

Olho para a barra e para sua mão, me sentindo levemente irritado com isso. Não pedi nada, se sou um incômodo por que ele faria algo assim? Respiro fundo, encarando seu rosto, mas voltando a tela, em silêncio. Ele continuou parado, a um passo de mim, quieto.

_Não... Jungkook. _Fechou os olhos, como se precisasse de algum esforço para falar, respirando fundo antes. _Pega. _pareceu pedir dessa vez, com a voz num tom diferente. Diferente do tom frio que usava para dar bom dia. Como se pedisse.

Observo sua expressão. Era aquilo que eu queria ver e ouvir. Algo diferente do frio, vazio e monótono.

Seguro a barra devagar, apertando a embalagem degradável e um pouco barulhenta. Era a metade de sua refeição?

_Não consegui trazer do líquido. Mas suponho que tenha no apartamento. _Ele continua. Comprimo os lábios, encarando Jimin.

Queria dizer que não o entendo. Queria perguntar se ele é defeituoso, o que faz com os supressores. Quero perguntar qual é a verdade. Tinha que falar alguma coisa, antes que aquela agonia me consumisse.

_Pensei que eu fosse um incômodo. _murmuro. As sombras já tomam a sala, mas ainda consigo vê-lo com clareza. Sua pele lisa e viva, os olhos pequenos levemente estreitados, os lábios entreabertos.

Jimin não diz nada, pelo tempo que poderia ser segundos ou minutos. Mas não me movo.

_E é. Me tirou do meu sossego, para guardar algo pra você. _Jimin responde. Meu coração queima, meu estômago revira e parece ficar mais frio. É como se... Não, nada de se. Eu estou de fato conversando com ele.

_Mas eu não pedi nada.

Jimin me encarou. Seus olhos pareciam brilhar, refletindo a tela ligada. Pareciam ser a imagem da própria tela. Eu poderia contar constelações se estivesse perto o suficiente.

Ele franziu o cenho, mais uma vez demonstrando emoções.

_Jimin. Você... Você tem defeitos também, certo? E toma supressores pra se controlar, não é? _pergunto, com a voz pequena e incerta, embora eu tenha a certeza do que falo. Ele desvia o olhar, observando toda a sala em silêncio, antes de voltar a mim.

Vi quando engoliu em seco, abrindo os lábios novamente.

_Você me tocou também. Está evitando os supressores? _insisto, o deixando ainda mais desnorteado, cruzando os braços e trocando o peso de sua perna. Eu também estava desnorteado, apertando a barra de ferro com a mão que não segurava o alimento.

Ele não queria me responder.

Senti minha garganta aquecer, como se estivesse presa, enquanto comprimia os lábios e a ponta de meu nariz ardia. O que era aquilo? Era tão ruim...

Todos pareciam tão iguais, mais do mesmo, sem se importar, sem sentir. Era como se durante todo esse tempo meu coração estivesse sendo oprimido, e agora, sem aquelas drogas, conseguisse finalmente sentir alguma coisa. Mesmo que fosse a mediocridade de estar tão só, enquanto queria não estar. Uma faísca de vida, de algo palpável e real. Era tudo que eu queria dele. Mesmo que fosse um incômodo. Mesmo que eu fosse...

_Só me diz, p-por favor, _começo, encarando dessa vez o chão, me esforçando para falar, sentindo que engasgaria a qualquer momento, com a voz embargada e difícil de produzir. _m-me diz que e não estou sozinho-

Antes que eu terminasse de falar, senti e vi, ele colocar a palma de sua mão sobre a minha com pressa, sem apertar, apenas mantendo o toque, como se estancasse algo em mim. Abri a boca, buscando ar instantaneamente, como se de repente minha respiração normal já não fosse mais suficiente, puxando o oxigênio para dentro de mim com força.

Senti, em todos os graus da palavra, quando meu rosto inteiro se aqueceu, enquanto ele me observava, meus olhos agora também ardendo e estranhamente embaçados, não conseguiam desviar daquele contato, tão suave, mas tão real.

Os poros em meus braços se abriam, me fazendo sentir um calafrio, apesar de meu rosto permanecer quente. Engoli pesadamente, subindo o olhar até Jimin, me sentindo desesperado, quando ele apertou minha mão na dele. Ele parecia trêmulo, como naquela vez. Como eu também estava.

Eu estava quase alucinando, queria gritar de verdade. Eu sentia calor, vindo dele para mim, através de sua mão quente, tocando a minha, fria. Sentia a pressão, enviando sensações pelos impulsos nervosos, me dizendo que algo extraordinário estava acontecendo, e eu sentia isso, até o último fio de cabelo, já que até mesmo meu couro cabeludo está se eriçando e aquecendo, enquanto meu peito sobe e desce rapidamente, assim como o dele, pelo que pude notar.

Ele abriu a boca, também parecia anestesiado de alguma forma. Fora de órbita. Seus olhos encontram os meus, mais de perto. Posso finalmente contar os pontos brilhantes.

_Eu estou aqui, Jungkook.

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