O coração de uma dama

By SrtaSmitheSmith1

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Quantas vezes palavras escritas num papel devem ser lidas? Por quanto tempo um coração pode seguir apegado às... More

Acho que isso é o prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Epílogo

Capítulo XIV

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By SrtaSmitheSmith1

Uma batida firme na porta atraiu a atenção de Lauren. Ela apurou os ouvidos a fim de tentar escutar, mas não ousou se mexer ou fazer barulho. Sabia, na verdade, temia que fosse Rud. Ela já estava acordada há muito tempo. O pouco que conseguira dormir foi um sono agitado, cheio de sonhos em que ela corria por um vasto campo tentando alcançar Rud, que se afastava antes que ela pudesse tocá-lo.

Outra batida na porta.

O nome dela.

Covardemente não respondeu. Não queria enfrentá-lo em seus aposentos, usando apenas uma camisola. A conversa inevitável aconteceria em um lugar neutro, com ela adequadamente vestida.

Conseguira livrar-se da temida conversa na noite anterior. Graças ao autoritarismo da Sra. Stone que rapidamente compreendeu o que se passava e enviara Lauren de volta aos aposentos sem aceitar questionamentos. Rud estava tão chocado que não se opôs. A raiva que minutos antes motivara seus gritos arrefecera assim que ele pôs os olhos sobre ela. Lauren não ousava arriscar o que ele estava pensando ou sentindo enquanto a encarava tão fixamente.

Não houve mais batidas na porta. Ele havia desistido.

Lauren agradeceu aos céus por aqueles instantes a mais antes do enfrentamento. Ensaiara bem suas palavras. Não permitiria que Rud os arrastasse para uma vida de remorso tão somente por obrigação.

***

Rud ergueu novamente a mão em punho para bater na porta do quarto de Lauren.

Deteve-se.

Ela não lhe abriria a porta dos aposentos, tão pouco lhe responderia. Provavelmente já planejava todo o discurso que faria para rechaçá-lo.

Não podia permitir isso. Não permitiria que seu filho não tivesse pai. Não permitiria que Lauren vivesse reclusa porque ele não soubera domar os próprios desejos.

Haveria um casamento.

Aquele bebê seria um filho legítimo.

Depois ele liberaria Lauren para viver como bem lhe aprouvesse.

O coração dele já estava irremediavelmente partido. Que ela tivesse amantes, que chorasse pelo maldito Benedict e suas cartas.

Seguiu pelo corredor em direção as escadas.

***

— Lady Lauren — Sra. Stone chamou na porta.

— Bom dia Sra. Stone.— Lauren pigarreou um pouco antes de continuar — Meus convidados já tomaram café?

— Sim, milady. Eles estão esperando pela senhora na sala de visitas.

— Esperando?

A governanta assentiu e deixou Lauren sozinha. A tentação de demorar mais um pouco era forte, contudo seria grosseiro deixá-los esperando. Tomou coragem e dirigiu-se para o andar térreo.

Os três homens ficaram de pé assim que Lauren entrou no cômodo. Na noite anterior ela só tivera olhos para Rud, agora aproveitava para olhar de fato para os dois homens que o acompanhavam e tentar entender a razão deles estarem ali.

Os dois homens eram jovens, talvez um pouco mais velhos do que Rud. Eles pareciam sinceramente constrangidos na presença dela. Isso deixou Lauren inquieta e curiosa.

— Lady Lauren, esses são os senhores Oswald e Cook. O senhor Oswald é reverendo e o senhor Cook está passando um tempo com ele, para aprendizado.

Rud fez as apresentações com calma e formalidade. Não parecia com o homem irritado que invadira a casa de Lauren.

— É um prazer, milady.

Os dois homens fizeram uma reverência que mal foi retribuída pela dama.

— Reverendo? — Lauren perguntou. Decerto havia compreendido errado.

— Sim. Para celebrar o nosso casamento. — Rud respondeu, secamente.

— O quê?

O espanto de Lauren a deixou atordoada. Rud permanecia em pé na sala. Impassível.

— Precisamos conversar. — Lauren conseguiu dizer.

— Não há o que conversar. Você está grávida e eu sou o pai da criança. Esse casamento acontecerá imediatamente. O sr. Cook pode servir de testemunha.

— Na verdade precisamos de duas testemunhas. — O reverendo esclareceu num tom baixo e receoso.

— Poderia chamar a governanta, sr. Cook?

— Claro.

O homem atendeu ao pedido de Rud sem hesitar. Lauren assistiu, com assombro, os preparativos para seu casamento imediato. A sra. Stone adentrou a sala de visitas seguida pelo sr. Cook. Ela não parecia ciente da razão de ter sido convocada e olhou para a patroa com expressão interrogativa.

Se ao menos ela soubesse...

— Pode começar, sr. Oswald. — Rud ordenou, indo para junto de Lauren.

O reverendo obedeceu prontamente, pegou um pequeno livro preto e colocou-se em posição com se estivesse diante de uma grande assembleia. Lauren poderia apostar que ele tinha medo de Rud.

Ela precisava parar aquela loucura.

Lauren fitou o semblante sério de Rud. Ele havia feito a barba mas o cabelo ainda estava comprido demais. Percebeu hematomas no rosto dele. Já estavam em tons claros de azul e verde. Quis perguntar o que havia acontecido.

— Rud, não podemos fazer isso. — Sussurrou enquanto o vigário recitava as primeiras orações.

Rud a ignorou. A frieza dele feriu ainda mais o coração já machucado de Lauren.

Aquilo era um absurdo. Eles não podiam se casar assim! Eles não podiam se casar de modo algum!

Por que Rud estava fazendo aquilo?

Fora ele quem fugira de madrugada.

Ele a abandonara!

Lágrimas impertinentes encheram seus olhos e um soluço irrompeu na garganta.

O som chamou a atenção do vigário.

— Não posso celebrar o casamento de uma noiva forçada. — O reverendo Oswald falou, encarando Rud com olhos cheios assustados.

— Ela não está sendo forçada, reverendo. Pode continuar.

O reverendo Oswald continuou a ler o livro em latim, mas sem muito entusiasmo, contudo logo parou pois Lauren começou a chorar.

— Você foi embora. — Lauren falou, entre soluços.

— O quê? — Rud perguntou, virando-se para encarar Lauren.

— Passamos a noite juntos e você partiu sem se despedir.

O reverendo pigarreou, constrangido.

Lauren tentou soltar a mão de Rud para pegar o lenço que trazia no bolso do vestido, mas ele não soltou a mão dela. A sra. Stone estendeu-lhe um pequeno lenço. A governanta e os dois homens assistiam a conversa com silencioso interesse.

— Rud. Isso é um erro.

— Não Lauren. O único erro será o meu filho não poder me chamar de pai. — A voz de Rud era dura como aço — Eu permitiria que você casasse com outro, se fosse de sua vontade. Permitiria que você desse outro pai para o meu filho, se isso te fizesse feliz. Mas Leger não está aqui! Eu irei assumir o meu filho.

Lauren parou de chorar e olhou para Rud sem compreender. Por que ele estava falando de Benedict? Por que ele falava dela casar-se com outro?

— Não quero me casar com outro homem... — Lauren sussurrou.

Se ao menos tivesse coragem bastante para dizer que o único homem com quem desejava casar-se era ele. Que não havia mais ninguém por quem o coração dela chamasse...

— É melhor nós nos retirarmos. — O reverendo Oswald falou, guardando seu pequeno livro preto no bolso.

Rud o encarou como se tivesse esquecido que ele estava ali.

O reverendo praticamente arrastou o sr. Cook e a sra. Stone para fora da sala deixando os relutantes noivos sozinhos.

— Lauren. Deixe-me fazer o que é certo. — Rud pediu, segurando as duas mãos da jovem.

— E odiar-me pelo resto de nossas vidas? — Ela perguntou com indignação e mágoa — A sombra do seu arrependimento irá pairar sobre nós todos os dias. O afeto e a amizade que tem por mim serão contaminados pelo remorso. Eu o isento de qualquer culpa e obrigação Rud e peço que não nos obrigue a viver uma união por conveniência.

Rud soltou a mão de Lauren e gentilmente tocou seu queixo, erguendo o rosto dela para encará-lo.

— Odiar você? Quem me dera. Assim eu sofreria menos ao lembrar da sua rejeição.

— Se eu o rejeito agora é pensando em sua felicidade.

—Não é desta rejeição que falo. Na noite em que estivemos juntos. Acordei e fui procurá-la. Você estava em seus aposentos, com aquelas malditas cartas! Quando soube que Leger estava casado enfim compreendi a noite que eu julgara ter sido de paixão, mas que foi apenas um momento de carência e consolo para você.

— Eu estava queimando as cartas...

— O quê?!

— Oh Rud! Eu cometi um erro enorme. Quando eu fugi para encontrar Benedict eu não medi as consequências, pensei estar agindo por amor. Todos me acusaram de ser imatura demais e estavam certos. Agi como uma criança mimada que não aceita perder algo. Minha tristeza foi verdadeira, meu coração realmente estava partido, mas havia algo muito mais ferido em mim. Meu orgulho. Eu não queria abrir mão daquele sentimento porque seria como reconhecer que todos estavam certos. Não era mais sobre mim e Benedict... E então você foi para Hampshire e eu... Algo havia mudado...

Lauren respirou fundo. Se aquela conversa decidiria o destino deles então ela teria que ser sincera.

— A noite em que invadi seu quarto e sua cama foi um ato impulsivo de minha parte Rud. Um ato do qual eu não me arrependo. Do qual não me arrependi quando percebi que você havia partido. Do qual não me arrependi quando soube que estava grávida. Naquela noite eu voltei para os meus aposentos para queimar as cartas, para deixar o passado para trás e entregar meu coração para você...

As últimas palavras foram ditas num sussurro baixo. Lauren sentia o coração acelerado, agitado pela emoção de assumir os próprios sentimentos.

Rud a olhava com assombro. A expressão de surpresa no entanto durou poucos minutos. Ele segurou o rosto dela entre as mãos e a encarou cheio de desejo. A expectativa pelo beijo não durou nenhum segundo. Logo a boca de Rud cobriu a de Lauren. O beijo foi uma explosão de saudade e desejo. Assim como na primeira vez em que se beijaram os dois abraçaram-se carinhosamente, entregando-se um ao outro como era possível naquelas circunstâncias.

— Eu te amo.

— Oh!

— Não me arrependi da noite que tivemos juntos. Quando acordei e não a encontrei fui procurá-la para seduzi-la novamente. Depois eu iria te pedir em casamento. Amo-te. Eu conheço meu coração e sei que posso amá-la por nós dois. Mostre-me seu coração, Lauren. Diga-me se pode vir a me amar um dia.

Lauren levou a mão ao rosto de Rud. Ele cobriu a mão dela com a dele.

Poderia ser tão fácil assim a felicidade?

Poderia todo o sofrimento deles ter sido fruto apenas do desencontro? (e da maldade da escritora que queria um enredo fácil?)

— Eu te amo, Ruphert Maximiliam Baine! — Lauren exclamou sorrindo.

Rud fez uma careta.

— Não era necessário citar essa atrocidade — Ele sorriu — Você se casará comigo Lauren?

— Sim.

Rud a beijou novamente. Dessa vez com calma, saboreando lentamente os lábios dela. Afastou-a gentilmente e ajoelhou-se colocando as mãos sobre a barriga proeminente.

— Um filho. — Falou, a voz embargada pela emoção. — Quando pus meus olhos sobre você ontem à noite mal pude acreditar. Senti-me tão perturbado que não reagi.

Lauren o puxou para que ele ficasse de pé.

— Você está feliz, Rud? Você está feliz com o bebê?

— Sim meu amor. — A expressão de genuína felicidade não precisava de mais palavras — Posso finalmente chamar o reverendo para celebrar esse casamento?

Lauren balançou a cabeça afirmando.

Rud foi chamar o reverendo e as testemunhas. Os três aguardavam de frente à porta da sala, fazendo-o se perguntar quanto da conversa eles teriam escutado. Não importava!

Feitas as pazes do casal, Lauren pediu que a sra. Stone chamasse os demais empregados da casa para assistirem à celebração. A governanta atendeu prontamente.

Em meio a lágrimas e sorrisos, Rud e Lauren juraram amor e respeito um ao outro pelo resto de suas vidas. Quando o reverendo perguntou pelo anel para a noiva, Rd retirou do bolso um lindo de ouro com uma única pedra, uma safira azul.

— Você trouxe um anel... — Lauren sussurrou.

— É um solitário. Eu o escolhi antes de partir de Londres. Pensei que meu coração e ela combinavam. Uma única pedra. Um único amor.

— Para sempre.

— Para sempre.



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